terça-feira, 27 de novembro de 2012

ORÇAMENTO DE LADRÕES PARA ARROTAR E BORREGAR… ATÉ À REVOLTA FINAL

 

IMAGEM ESCOLHIDA
 
Redação PG
 
Imagem escolhida, fresca, que diz imenso por ela mas que tem nas palavras do autor muito sentimento, muita desilusão, muito cansaço, muita preocupação pelo futuro para os filhos, para nós próprios (mais, ou menos, velhos). Os velhos que deram tudo a esta cambada de chulos jovens que sairam e saem das juventudes partidárias como prostitutas imberbes que para nos violarem e fornicarem nem usam “proteção” – o que para as vítimas pode ser uma vantagem se contagiarmos tais violadores com uma qualquer boa dose de “doença” da humanidade e de realismo sobre as dificuldades quotidianas dos portugueses comuns, imensos miseráveis e esfomeados. Basta de paleio; a Imagem Escolhida e o texto dizem tudo e muito mais. Quanto mais sofredores e realistas melhor entendemos. Asseguremos uma coisa, por sabedoria despretenciosa, ao autor do We Have Kaos in the Garden: nunca se deve desistir (nem podemos) da luta porque as gerações futuras dependem de nós. Avante!
 
Do We Have Kaos inthe Garden, com o título:
 
Foi dia de vergonha na A.R.
 
Molhado, com frio, um pouco desiludido com tudo isto e sem grande vontade para fazer muita coisa. Há dias em que nos pomos a pensar se realmente vale a pena o esforço. Claro que sei que vale, mais que não seja em nome dos meus filhos, mas há momentos em que nos apetece aparvalhar, como tantos outros que comodamente se sentam no sofá. Como disse nem para escrever estou com muita disposição, (já se começa a tornar um hábito), pelo que deixo o boneco que fiz para ilustrar a aprovação do orçamento. Trabalhar e pagar cada vez mais impostos, que em vez de serem utilizados onde deviam, na saúde, na educação, na segurança social, no pagamento das reformas é esbanjado a pagar uma renda aos especuladores em nome de uma dívida criada para nos escravizar. Eu não quero trabalhar para encher a mula dessa canalha nem dos sabujos que por cá lhes prestam vassalagem. Estou a ficar farto, mas mesmo farto e cada vez com mais ganas de fazer um disparate. Só ainda não sei qual.
 

Portugal: MILHARES DE PESSOAS JUNTO AO PARLAMENTO CONTRA A AUSTERIDADE

 

 
A Renascença confirmou junto da PSP que, ao lado dos operadores de televisão, estão câmaras da Polícia. O objectivo das filmagens é identificar possíveis responsáveis por crimes e actos violentos.
 
Alguns milhares de manifestantes concentram-se no exterior do Parlamento, em protesto contra a austeridade que resulta do Orçamento de Estado (OE). Até agora, não há registo de incidentes.

A Renascença confirmou junto da PSP que ao lado dos operadores de televisão estão câmaras da Polícia de Segurança Pública. O objectivo das filmagens é identificar possíveis responsáveis por crimes e actos violentos.

O director nacional da PSP autorizou, internamente, a gravação vídeo dos manifestantes concentrados junto ao Parlamento. A decisão foi comunicada ao Ministro da Administração interna e ao Ministério Publico.

Três marchas organizadas pela CGTP confluíram no largo frente à escadaria do edifício e o corpo da manifestação transbordou também para a rua de São Bento, calçada da Estrela e avenida D. Carlos I.

A mensagem nos cartazes e palavras de ordem é clara: Não ao orçamento e oposição à política do Governo.

Todo o espaço em volta da Assembleia da República está vedado com grades, colocadas pela PSP, que tem no local um dispositivo visível de dezenas de agentes, colocados quer junto às grades, quer na escadaria do parlamento.

Sindicatos, professores, movimentos sociais, agricultores, reformados e estivadores concentram-se junto à Assembleia da República para contestar o OE, que a maioria PSD-CDS/PP deve aprovar no plenário.
 

Presidente de Cabo Verde chega a Timor-Leste para reforçar "ainda mais" cooperação

 

RTP - Lusa
 
O Presidente de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca, chegou hoje a Timor-Leste para uma visita de Estado com o objetivo de reforçar "ainda mais" a cooperação política e os laços existentes entre os dois países.
 
"Trago a ideia de reforçar ainda mais a cooperação política, os laços políticos entre Cabo Verde e Timor-Leste", afirmou à agência Lusa o Presidente de Cabo Verde, momentos após ter aterrado em Díli no aeroporto internacional Nicolau Lobato.
 
Segundo o chefe de Estado cabo-verdiano, ambos os países fazem parte da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), "que criou enormes possibilidades de cooperação entre Cabo Verde e Timor-Leste desde as áreas da energia, da reforma da administração, das tecnologias de informação e comunicação, do ensino superior e da agricultura".
 
"Espero que esta visita cimente essas relações políticas, que são um pressuposto muito forte para que a cooperação possa desenvolver-se e ampliar-se a todos os níveis", acrescentou.
 
Jorge Carlos Fonseca foi recebido no aeroporto Nicolau Lobato pelo chefe da Casa Civil da Presidência timorense, Fidélis Magalhães, pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, José Luís Guterres, e pela embaixadora de Timor-Leste em Portugal, Natália Carrascalão.
 
Durante a sua estada em Timor-Leste, o Presidente de Cabo Verde vai participar quarta-feira, em Same, nas cerimónias do centenário da revolta do Manufahi e no 37º aniversário da proclamação unilateral da independência do país.
 
Na quinta-feira, início da visita de Estado, Jorge Carlos Fonseca terá um encontro com o Presidente de Timor-Leste, Taur Matan Ruak, seguido de uma conferência de imprensa.
 
Na agenda da visita, que termina sábado, consta ainda um encontro com o primeiro-ministro timorense, Xanana Gusmão, bem como com o presidente do parlamento nacional, Vicente Guterres.
 
Na primeira visita oficial de um chefe de Estado cabo-verdiano a Timor-Leste, Jorge Carlos Fonseca é acompanhado por uma pequena delegação, que integra conselheiros da Presidência da República e altos funcionários do Ministério das Relações Exteriores.
 
"Creio que tive esse privilégio de ser o primeiro chefe de Estado de Cabo Verde a fazer uma visita oficial a Timor-Leste, que é um país, que apesar de estar geograficamente a uma grande distância, é muito próximo de nós pelo passado de história, de partilha de valores e também da língua", disse.
 
Jorge Carlos Fonseca, que já tinha estado em Timor-Leste em 2000 e 2001 para participar no processo constituinte do país, disse também que a viagem é uma oportunidade para "encontrar grandes amigos".
 

ANGOLA RECUSA ENVIO DE TROPAS PARA O KIVU

 

Edna Dala – Jornal de Angola
 
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores reafirmou ontem, em Luanda, serem “especulações e mera propaganda” os rumores sobre a presença de tropas militares angolanas na República Democrática do Congo.

Mário Augusto falava aos jornalistas na apresentação da conferência sobre Paz e Segurança na região do Golfo da Guiné, que decorre de hoje até quinta-feira, em Luanda.

Sobre a conferência salientou que um dos pontos mais altos é determinar o estado da segurança marítima e a sua importância no desenvolvimento da região e arquitectar potenciais políticas e acções para a sua consecução.

Mário Augusto referiu que os países-membros da comissão regional, ao compreenderem que sem segurança não há desenvolvimento, estabeleceram como meta central da organização a transformação da região em zona de paz e de segurança.

Angola, como presidente da comissão, em parceria com o secretariado executivo da Comissão do Golfo da Guiné decidiu organizar a conferência internacional para debater, de forma íntegra e multidisciplinar, a questão da paz e segurança na região.

Como membro e presidente, declarou, Angola pretende também estabelecer critérios científicos de análise que sustentem de forma precisa os processos de decisão dos Estados africanos envolvidos.

O Executivo, afiançou, vai continuar a prestar atenção especial à organização, de forma a impulsionar acções políticas e diplomáticas e assegurar a adesão de outros países na garantia da estabilidade e segurança da região.

Além de Angola, são signatários do Tratado da Comissão do Golfo da Guiné os Camarões, República do Congo, República Democrática do Congo, Gabão, Guiné Equatorial, Nigéria e São Tomé e Príncipe.

Paz e estabilidade

A conferência está dividida em painéis temáticos moderados pelos ministros representantes dos Estados-membros da Comissão do Golfo da Guiné. “Golfo da Guiné, zona de paz, segurança” é o tema central da conferência.

No segundo painel, que analisa a influência da paz e da segurança na região para a estabilidade e desenvolvimento do continente, o orador é um representante do Conselho de paz e Segurança e o moderador, Miguel Trovoada, secretário da Comissão.

Os participantes apreciam o enquadramento da Comissão na arquitectura de paz e segurança definida no protocolo sobre o Conselho de Paz e Segurança, nos termos da “política comum africana de defesa e segurança”.

O terceiro painel, que debate a extensão da plataforma continental, tem como orador o representante da Comissão de Limites da Nigéria e moderador, o ministro da República do Congo.

O Estado e as consequências da imigração ilegal para a paz e segurança no Golfo da Guiné é outro assunto em debate. Os oradores são Laura Lungarotti, da Organização Mundial das Migrações, e José Van der Kelen, do Serviço de Emigração e Fronteiras de Portugal. Em destaque estão igualmente a contribuição do mecanismo de manutenção da paz e segurança na África Central e a região do Golfo da Guiné na rede de produção e comércio internacional de droga.No total, são dez painéis sobre os mais diversos assuntos relacionados com a paz e estabilidade na região.

Os oradores são representantes do Conselho de Paz e Segurança da União Africana, do Conselho de Mediação e Segurança dos Estados da África Ocidental, do Conselho de Paz e Segurança da África Central, da União Europeia, da Organização Mundial das Migrações, da Comissão de Limites da Plataforma Continental da Nigéria, da Agência Marítima Internacional e da Agência de Administração Marítima e Segurança da Nigéria.

Também intervêm especialistas do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade Técnica de Lisboa (Centro de Estudos Africanos e Brasileiros), do Centro de Inteligência contra o Crime Organizado de Espanha, do Centro de Estudos Africanos da Universidade Autónoma de Lisboa, do Centro de Estudos do Ambiente da Faculdade Nova de Lisboa e da Polícia Federal do Brasil.

Angola, na qualidade de país organizador e presidente em exercício da Comissão do Golfo da Guiné, convidou a ONU, União Africana, União Europeia, CEDEAO, SADC e os governos dos EUA, Portugal, Grã-Bretanha, Brasil, França, China, Rússia, Espanha, Togo, Benin, Namíbia, Índia e África do Sul.

Portugal: O DIA EM QUE O CDS VENDE A ALMA AO DIABO

 


Henrique Monteiro – Expresso, opinião, em Blogues
 
Hoje, na votação final do Orçamento, consuma-se o colossal, enorme, despropositado e abusivo aumento de impostos. Com a participação ativa do PSD, do CDS, mas também e indiretamente, de todos os partidos, de todos os sindicatos e de todas as corporações que contribuíram para a dívida e para um Estado devorador dos rendimentos e energias dos portugueses.
 
Ou seja quase toda a gente tem a sua parte na culpa. Como na cena da mulher adúltera, aquele que não exigiu mais isto e aquilo do Estado, do Governo, das autarquias; os que nunca pediram isenção de portagens nas autoestradas, os que nunca fugiram a um imposto, os que nunca utilizaram mal ou indevidamente um recurso comum atirem a primeira pedra.
 
Esta constatação não santifica, obviamente, este Orçamento. Ele é mau, não só por aumentar os impostos desproporcionalmente. Ele é também mau, porque é inexequível, porque não vai servir os interesses do país. O Governo sabe-o, o PSD também e, sobretudo, o CDS - que se arvorava em partido dos contribuintes - não pode deixar de o saber. Mas hoje é o dia em que o CDS vende oficialmente a alma ao diabo. De facto, há muito estava vendida, mas a partir de hoje já nem pode disfarçar.
 
Os contribuintes não têm quem os defenda ou os represente; o Estado, como se vê, sempre que necessita de emendar um erro, de pagar uma fatura, de salvar uns amigos é ao seu bolso que recorre.
 

Portugal: MANIFESTAÇÃO “OBRIGA” DEPUTADOS A CHEGAR MAIS CEDO AO PARLAMENTO

 


Ana Paula Correia e Paulo Lourenço – Jornal de Notícias
 
A sessão parlamentar para a aprovação global do Orçamento de Estado para 2013 foi aberta 12 minutos após as 10 horas, mas os deputados chegaram à Assembleia da República bem mais cedo o que o habitual, devido à manifestação que a CGTP organizou em frente ao Parlamento. A chegada da chuva está a condicionar o protesto popular.
 
Os deputados justificaram a chegada à Assembleia da República mais cedo com o receio de os acessos ao Palácio de S. Bento serem cortados pelas forças policiais muito antes da hora marcada para o início da discussão e votação final do Orçamento do Estado (OE)para 2013.
 
À hora do início dos trabalhos, começavam a juntar-se grupos de trabalhadores em frente às escadarias da Assembleia, enquanto nas galerias do hemiciclo só os representantes dos militares marcavam presença.
 
Chuva atrapalha manifestação
 
Na rua, a chuva veio atrapalhar as centenas de pessoas que, na manhã desta terça-feira, estão concentradas junto à Assembleia da República.
 
Após um discurso inflamado de uma agricultora de Viseu, a chuva começou a cair com alguma intensidade, levando muitos a refugiarem-se em toldos, varandas e lojas nas ruas junto à escadaria de S. Bento.
 
Ainda assim, cumpriu-se um minuto de silêncio pelo país. No final, a oradora disse aos presentes que consegue "governar melhor" a sua casa do que o Governo o país. "E não é preciso ter tantos estudos", garantiu, arrancando muitos aplausos.
 
IVA da restauração inflama debate na AR
 
Antes da sessão final de aprovação do OE, os deputados estão ainda a discutir em plenário alguns artigos que foram avocados para plenário pela Oposição. É o caso da reintrodução do pequeno-almoço nas escolas e o IVA na restauração.
 
O Orçamento do Estado para 2013 levado à votação final global na Assembleia da República e deverá ser aprovado pela maioria PSD/CDS-PP e receber os votos contra de toda a oposição.
 
A 31 de outubro, o Orçamento para o próximo ano foi aprovado na generalidade com os votos favoráveis do PSD e do CDS-PP - exceto o deputado centrista Rui Barreto -, enquanto a totalidade da oposição, PS, PCP, Bloco de Esquerda e "Os Verdes" votou contra.

Nota Página Global: À hora a que publicamos esta notícia (12:00 horas) as referidas centenas de manifestantes que protestam contra o OE junto à Assembleia da República passaram a milhares, muitos milhares.
 
Mais Política
 

Recessão em Portugal em 2013 vai ser mais grave e prolongada do que espera Governo

 

Jornal i – Lusa
 
A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) prevê que a economia portuguesa se contraia 1,8% em 2013, quase o dobro do que esperam o Governo e a 'troika' (1%).
 
A OCDE também prevê que o crescimento económico só regresse "no final de 2013", enquanto o Governo e a 'troika' (Fundo Monetário Internacional, Comissão Europeia e Banco Central Europeu) esperam que já no segundo trimestre do próximo ano a economia volte a crescer.
 
Estes dados constam de um documento de previsões económicas hoje divulgado pela OCDE.
 
A OCDE prevê, tal como o Governo, que o desemprego atinja um máximo histórico no próximo ano. A previsão da OCDE é, contudo, ainda mais gravosa: uma taxa de 16,9%, mais ainda que os 16,4% avançados pelo Governo.
 
Ao contrário do Executivo, a OCDE já avança previsões para 2014: uma ligeira recuperação de 0,9%, impulsionada pelas exportações e pelo investimento, com o consumo privado a permanecer retraído. O desemprego deverá reduzir-se apenas de forma muito ligeira (para 16,4%).
 
Como tem sido sistemático nos documentos de previsão das instituições internacionais, estes dados implicam uma revisão em baixa das perspetivas para Portugal relativamente aos números avançados pela OCDE em julho.
 
E mesmo este cenário poderá voltar a agravar-se. A OCDE alerta para os “riscos” que subsistem, visto que a economia portuguesa “continuará sensível a novas deteriorações nas condições de crédito e das economias de outros países do euro”.
 

Brasil: Retirantes fogem da especulação imobiliária e das obras da copa de 2014

 


Um escândalo e um ataque aos pobres estão ocorrendo na região do Campo Belo e Águas Espraiadas, em São Paulo. Nesta região, o Metrô está construindo a linha 17 - Ouro do Monotrilho, que ligará o Aeroporto de Congonhas ao Morumbi. O Metrô terceirizou para CDHU as ameaças contra as famílias das favelas. No Buraco Quente e Comando, restam poucas famílias, outras já deixaram os locais com medo de nada receber. O artigo é de Benedito Roberto Barbosa.
 
Benedito Roberto Barbosa (*) - Carta Maior
 
Na sexta feira, dia 23 de novembro de 2012, participei de uma manifestação em frente ao escritório da CDHU no Campo Belo, realizada pelos moradores das Comunidades do Buraco Quente, Comando. Um escândalo e um verdadeiro ataque aos pobres estão ocorrendo naquela região do Campo Belo e Águas Espraiadas.

Nesta região, o Metrô de São Paulo está construindo a linha 17 - Ouro do Monotrilho, que ligará o Aeroporto de Congonhas ao Morumbi. A região é cercada por grandes e nada nobres luxuosos edifícios, supermercados, hotéis e outros serviços. De forma estranha a linha do Monotrilho está passando literalmente sobre a cabeça dos moradores de seis Comunidades: Comando, Buté, Palmares, Zoião, Buraco Quente e Piolho.

A obra do Monotrilho da Linha 17 - Ouro faz parte da tal matriz de responsabilidade da Copa do Mundo de 2014, e vai interligar na sua primeira etapa o aeroporto de Congonhas com a estação Morumbi da linha 9 da CPTM, atendendo especialmente a concentração de hotéis das regiões das Avenida Berrini e Nações Unidas. Óbvio, uma obra a serviço dos ricos.

Na região próxima ao aeroporto, a especulação imobiliária avança rapidamente, com grandes e modernas torres de luxo, as favelas estão sendo pressionadas de um lado pela ação do mercado imobiliário e de outro pelas obras do Monotrilho. O Metrô terceirizou para CDHU a violência e as ameaças contra as famílias das favelas. No Buraco Quente e Comando, restam poucas famílias, outras já deixaram os locais com medo de nada receber.

Somente um pequeno grupo tenta resistir e se mobilizar de alguma forma. Foram ao Ministério Publico, pediram apoio à Defensoria Pública, participam do Comitê Popular da Copa, tentam de todas as formas organizar as famílias para que resistam às obras do metrô. Possuem carta aberta que circula nas redes sociais e uma página no facebook denominada Rede Comunidades Espraiada.

Assustadas, pressionadas e revoltadas com a sua situação, as famílias estão recebendo uma mísera “indenização”. Ou ainda podem esperar, com uma “bolsa aluguel”, as torres que a CDHU promete construir na região. No entanto, com a alta valorização do custo de vida na região, as famílias não acreditam que conseguirão viver mais no local, e preferem, na sua grande maioria, ir embora. São Retirantes urbanos ameaçados pela especulação imobiliária e pelas obras da copa de 2014.

A CDHU não dialoga com a Comissão de Moradores local, toda a relação e a negociação são individuais, os valores das “indenizações” dividem ainda mais os moradores. Há pessoas que construíram suas casas em “condomínio familiar”, com casais de uma mesma família vivendo no mesmo quintal, porém, a CDHU indeniza apenas um representante da família, gerando angústia e desolação para os demais que não conseguem receber. Diz a CDHU, que estes não têm direito à nada. A CDHU também não indeniza os pequenos comércios, as pessoas choram e ficam deprimidas.

As pessoas pegam o que podem e tentam comprar uma casa em outra favela, na periferia como na região do Grajaú, Cidade Dutra, na zona sul de São Paulo, ou no interior do Estado. Muitas pessoas dizem que não têm como lutar e resistir. Perderam a esperança. Muitos moram nestas Comunidades há mais de 30, 40, ou 50 anos. As pessoas vão saindo e a CDHU vai perfurando e demolindo as casas, transformando o local num “campo de guerra em escombros” para pressionar os outros a deixarem mais rápido local. Quando as casas são semi demolidas, aumenta a quantidade de lixo, ratos, baratas, moscas e outros insetos.

Na Comunidade do Piolho a situação não é menos aterradora, vítimas de um incêndio no início de setembro deste ano, abandonadas pela Prefeitura e pelo Estado, as famílias estão vivendo em barracas e reconstruindo suas casas com tudo que podem.Sobre uma parte da Comunidade será construída uma das estações do Monotrilho, algumas famílias também já deixaram o local. A obra avança atingindo as Comunidades do lado direito, no sentido Aeroporto-Morumbi, as comunidades do lado esquerdo, do Zoião e do Buté, e outras, sabem que logo a sua hora pode chegar. E se tudo continuar desta forma, parece que terão o mesmo destino.

(*) Dirigente da Central de Movimentos Populares, advogado da UMM e do Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos.
 

Brasil: "O dia que durou 21 anos" remonta a participação dos EUA no golpe de 64

 


O documentário "O dia que durou 21 anos", dirigido por Camilo Tavares, explicita a participação ativa dos EUA no golpe de 1964 com uma contundência inédita no Brasil. O trabalho de pesquisa de três anos rendeu aos organizadores do filme materiais secretos da CIA, telegramas e até gravações telefônicas entre o embaixador norte-americano no Brasil e os presidentes dos EUA John Kennedy e Lyndon Johnson.
 
Fábio Nassif – Carta Maior
 
São Paulo - Que os Estados Unidos da América contribuíram com o golpe militar de 1964 no Brasil todos sabem. Mas o documentário O dia que durou 21 anos, dirigido por Camilo Tavares, explicita isso com uma contundência inédita no Brasil. O trabalho de pesquisa de três anos rendeu aos organizadores do filme materiais secretos da CIA, telegramas e até gravações telefônicas entre o embaixador norte-americano no Brasil e os presidentes dos EUA John Kennedy e Lyndon Johnson. As conversas mostram o passo a passo do golpe e o reconhecimento dele.

O documentário introduz o contexto vivido no Brasil desde João Goulart e suas tentativas de aplicação das chamadas Reformas de Base, até a reação estadunidense ao encaixá-lo como um comunista semelhante a Fidel Castro. Com forte participação dos embaixadores no Brasil, de institutos – como o Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais (IPES) e Instituto Brasileiro de Ação Democrática (IBAD) – o golpe é tratado no filme de maneira direta, expondo os interesses econômicos dos EUA no Brasil e o investimento financeiro aplicado para, por exemplo, comprar parlamentares brasileiros.

Historiadores e personalidades conduzem a narrativa, com ajuda de fotos da época animadas, áudios, imagens de documentos e filmagens do período. Um trabalho de fôlego, que preenche a 7a Mostra de Cinema e Direitos Humanos na América do Sul com conteúdo, contribuindo para a construção das história do país. O documentário buscará a distribuição comercial para abril de 2013.

Veja a entrevista que Camilo concedeu à Carta Maior e confira a programação da Mostra no site (www.cinedireitoshumanos.org.br):

Por que escolheu dar o enfoque do documentário na atuação norte americana no golpe de 64?

Camilo Tavares: A riqueza do material encontrado nos levou a esta opção. Tanto os telegramas da CIA, como as conversas da Casa Branca, assim como os incríveis programas de TV produzidos pela CBS (em 1961) para convencer a opinião pública dos EUA.

Acredita que no Brasil há uma percepção comum dessa participação ativa dos presidentes norte-americanos no golpe?

Camilo Tavares: Há muito pouco conhecimento do assunto. Este foi um dos objetivos do filme. Nossa meta é que o filme que teve patrocínio do Ministério da Cultura e da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, via Eletrobras, Sabesp e Cesp, seja distribuído na rede de ensino público com foco no público jovem que precisa conhecer melhor nossa história. E também do público adulto em geral que viveu a ditadura militar mas não conhece a dimensão dos interesses dos EUA em nosso país.

O documentário traz uma série de documentos secretos do governo dos EUA e da CIA, além de gravações entre embaixadores e os presidentes dos EUA. Como foi o processo de pesquisa? Quanto tempo durou, como foram adquiridos esses materiais e como foi organizado? A divulgação desse material é considerada inédita no Brasil?

Sim é inédita no sentido do volume de informações. Tivemos apoio de historiadores muito antenados como Carlos Fico (UFRJ) que pesquisou os arquivos e publicou dois livros sobre o assunto, Peter Kornbluh (NARA_Washington) e da jornalista e escritora Denise Assis que fez a pesquisa do IPES e IBAD. A Pequi Filmes , minha produtora, arcou um árduo e custoso trabalho de 3 anos para levantar todo o material de arquivo. Aliás temos um rico material suficiente para novas series de TV ou filmes longa-metragem das relações Brasil, EUA e América Latina.

O documentário traz também dois aspectos interessantes: a insistência do interesse financeiro dos governos norte-americanos em apoiar o golpe militar e a suposta falta de controle de pessoas que apoiaram o golpe mas não concordavam com torturas, prisões e outras medidas autoritárias. Acredita que os objetivos norte-americanos foram atingidos ou em algum momento houve um descompasso com os interesses dos militares brasileiros?

Os militares brasileiros fizeram exatamente o que os americanos queriam. Entregaram nosso mercado para os EUA e adotaram o modelo de desenvolvimento financiado pelas empresas americanas, que hoje são as grandes empresas do Brasil nos setores estratégicos da economia. A primeira medida do Presidente Castelo Branco ao assumir foi acabar com a lei que limitava a remessa de lucros excessivos das empresas americanas ao EUA. Ou seja abriu as portas , como diz a música do Raul Seixas: " a solução é alugar o Brasil". E alias como será que está esta lei de remessa de lucros atualmente?

Foram colhidos depoimentos de militares. Com que objetivo buscou isso?

Este foi o grande desafio ouvir a voz dos militares como o Ministro Jarbas Passarinho, General Newton Cruz, Almirante Bierrenbach e também dos militares que apoiavam João Goulart, como Capitão Ivan Proença e o Brigadeiro Rui Moreira Lima.

Qual papel o documentário em si e o cinema em geral podem ter para a promoção dos direitos humanos no Brasil?

Considero essencial.

Fotos: JFK Library
 

EM BUSCA DA PÁTRIA DO FUTURO PARA A HUMANIDADE!

 
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Martinho Júnior, Luanda
 
1 – A Revolução Cubana, pelo seu exemplo de coragem, de dignidade e de clarividência, tem historicamente um valor muito para além das fronteiras da ilha de Cuba!
 
Cuba enveredou por uma democracia participativa e cidadã bem conseguida, por que experimentada década após década na confrontação com as dificuldades inerentes à tomada das opções socialistas nas condições dum feroz bloqueio movido pelo poderoso vizinho, Estados Unidos da América!
 
Ao assumir desde a primeira hora da tomada do poder a prioridade para a atenção que merece o homem e a natureza, com êxitos imediatos na educação, na saúde e nas acções desencadeadas em algumas das mais difíceis regiões de Cuba como a “ciénaga” de Zapata, a resistência ao império foi assumida precisamente na “pedra angular” onde esse império jamais terá êxito: a construção de sociedades mais equilibradas, mais justas, mais solidárias, inteligentes e capazes de, mesmo que tenham de enfrentar imensos obstáculos e riscos, encontrar soluções alternativas de resgate sobre o subdesenvolvimento que advém dum passado histórico de séculos, dos tempos da escravatura humana que marcou o alvor da lógica do capitalismo!
 
Os Estados Unidos desse modo procuram criar condições no sentido de provocar o caos social e introduzir as alterações sócio-políticas da conveniência da aristocracia financeira mundial no âmbito do seu projecto elitista de globalização e império.
 
Os Estados Unidos que caucionavam o governo títere de Fulgêncio Baptista, um garante para os interesses e conveniências da aristocracia financeira mundial, demonstraram desde a eclosão da revolução cubana a falta de ética e de moral que move os seus propósitos em relação à maior das Antilhas e com isso a falta de respeito para com todo o continente americano e para com todo o espaço global, à medida que crescia como potência económica e militar.
 
A “indigestão cubana” levou os Estados Unidos a enveredarem por políticas que contradizem frontalmente o seu enunciado de guardião e paradigma da democracia e dos direitos humanos.
 
De facto a “democracia representativa” garante os direitos dos poderosos à custa da imensa maioria e os direitos humanos tornam-se apenas mais um pretexto para as ingerências e manipulações na profundidade de cada uma das sociedades, em especial as mais resistentes ou insubmissas.
 
O bloqueio é um dos recursos que visam tornar Cuba o “laboratório” sócio-político que os Estados Unidos precisam para refinar métodos que são aplicados não só em Cuba, mas um pouco por todo o universo, sustentando a aplicação dos conceitos neo liberais forjados na “escola de Chicago”!
 
2 – Países situados às mais diversas latitudes e longitudes e entre eles os componentes dos Não Alinhados, estão sujeitos a essas experiências que visam multiplicar os impactos das medidas de ingerência e manipulação, até por que Cuba é um dos mais activos membros do muito heterogéneo grupo e, por razões geográficas, está “à mão de semear”!
 
O Não Alinhamento activo demonstrado por exemplo em Angola por parte de Cuba, nas horas mais difíceis da luta contra o colonialismo, na luta contra o “apartheid” e agora na hora do desencadear dos importantes resgates que se impõem no quadro da luta contra o subdesenvolvimento crónico e histórico em que vivem substratos importantes do povo angolano, são o sinal da lógica com sentido de vida que toca profundamente os mais deserdados da Terra e é alternativa viável para a humanidade e para o planeta!
 
Cuba fá-lo em Angola tendo como referência o movimento de libertação em África, mas fá-lo também noutras partes do mundo, em especial naquelas nações surgidas das torrentes do tráfico negreiro!
 
Não o faz de agora mas, é preciso sublinhá-lo, mesmo nos tempos em que o socialismo real propiciava alianças a todas as forças progressistas!
 
Cito dois exemplos ocorridos em Angola em anos distintos: à revelia da URSS, Cuba em 1975 decidiu-se à Operação Carlota e em 1988 à decisão do seu tempo de entrada em combate, com estratégia própria, na batalha do Cuito Cuanavale!
 
Desse modo internacionalista, Cuba tem vencido na educação, na saúde e marca uma posição activa noutros sectores de actividade: luta pela liberdade humana, respeita cada vez mais a Mãe Terra e liberta-se do bloqueio e dos métodos típicos do “laboratório experimental” que a procuram “asfixiar”!
 
Aqueles que são pelos resgates históricos que há que realizar, em especial as nações emanadas da antiga rota dos escravos africanos e as nações que advogam o Não Alinhamento activo, ao reconhecer o enorme mérito do internacionalismo e da solidariedade cubana, têm forçosamente de ir muito mais além do voto de cada ano na Assembleia Geral da ONU, contra o bloqueio que os Estados Unidos movem contra Cuba: devem tornar-se parte cada vez mais activa dum irreversível desbloqueamento!
 
Cuba é a busca da Pátria do futuro para a Humanidade, a vivência solidária, digna e respeitadora do planeta na nossa cada vez mais sensível “casa comum”!
 
Gravura: Síntese estatística dos votos a favor de Cuba na Assembleia Geral da ONU nos últimos 20 anos!
 

UE: CLUBE DOS RICOS ROMPE PRINCÍPIO DA SOLIDARIEDADE NA EUROPA

 
Os quatro governos mais ricos da UE são conservadores e levantam a bandeira da austeridade tanto em seu país como na cambaleante eurozona. Seu triunfo na sexta-feira significou a derrota do clube dos “pobres” e dos “atribulados” no complexo mundo das 27 nações que conformam a UE. Com 27 membros e uma arteriosclerose institucional, a crise econômica está desnudando algo muito mais sério no coração do projeto europeu. Um princípio fundante do projeto – a solidariedade – está sendo questionado. O artigo é de Marcelo Justo, direto de Londres.
 
Marcelo Justo, Direto de Londres – Carta Maior
 
Londres - Em um comparecimento especial na Câmara dos Comuns, o primeiro ministro britânico reivindicou a posição do chamado clube dos ricos da Europa – Inglaterra, Alemanha, Holanda e Suécia – que impediu um acordo sobre o novo orçamento europeu, na sexta-feira passada. “Nosso governo, junto com outros, rechaçou uma proposta que aumentava o orçamento anual europeu. Como contribuintes desse orçamento, nossa mensagem foi clara. Não vamos ser duros com nossos orçamentos em nível nacional e aprovar grandes aumentos na Europa”, assinalou Cameron.

Os quatro governos mais ricos da União Europeia são conservadores e levantaram a bandeira da austeridade tanto em seu país como na cambaleante zona do euro. Seu triunfo na sexta-feira significou a derrota do clube dos “pobres” e dos “atribulados” neste vasto e complexo mundo que são as 27 nações que conformam a UE. Os primeiros, principais beneficiários dos fundos para o desenvolvimento, tem entre seus membros os ex-países comunistas da Europa do Leste. Entre os “atribulados”, desesperados por fundos que ajudem a equilibrar suas contas fiscais no futuro, se encontram os PIIGS (Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha) de uma eurozona ameaçada pelo fantasma da moratória.

O orçamento europeu é financiado com uma complexa fórmula que diferencia contribuintes líquidos (nove nações que aportam mais do que recebem) e receptores (os outros 18 que recebem mais do que aportam). A luta entre as duas partes é um clássico do folclore da UE que esconde uma negociação muito mais complexa do que uma simples dicotomia branco e preto. Como o orçamento tem como princípio dirigente a busca de uma homogeneização econômica das distintas regiões da UE, entre os receptores de ajuda se encontram zonas de países que são grandes contribuintes. Um deles, a França, costuma tecer alianças com os receptores porque é o grande beneficiário da Política Comum Agrícola que consome cerca de 38% dos gastos.

As negociações para o último orçamento que a UE conseguiu aprovar começaram em maio de 2005 e só se resolveram em dezembro daquele ano, após várias rodadas de estrondosos fracassos. Mas o orçamento não é nem de longe o problema mais grave que a Europa enfrenta hoje. Em primeiro lugar, porque ele valerá a partir de 2014 e, em segundo lugar, porque há mecanismos institucionais para que a UE siga funcionando mesmo que não haja acordo.

Com 27 membros e uma certa arteriosclerose institucional, a crise econômica está desnudando algo muito mais sério no coração do projeto pan-europeu. Um princípio fundante do projeto – a solidariedade – foi claramente questionado pelo vendaval financeiro desatado em 2008. Essa solidariedade permitiu a incorporação nos anos 80 de nações menos desenvolvidas da Europa, como Espanha e Portugal, que deram um grande salto econômico devido, em grande medida, às ajudas europeias.

A quebra de solidariedade se percebe também no interior da união monetária – a eurozona – como se viu desde o estouro da crise da dívida soberana com a Grécia no início de 2010. Liderado pela chanceler alemã Angela Merkel e um ideário neoliberal, com a inestimável aliança do Fundo Monetário Internacional (FMI) , o clube dos ricos impôs a fórmula da austeridade extrema e o resgate no último momento (dias antes da moratória). O resultado está à vista. A crise, que começou com um país que constituía 2,3% do PIB da eurozona – Grécia – se estendeu a outras três nações que tiveram que ser resgatadas – Portugal, Irlanda e Chipre. Nos últimos meses, ameaçou a Espanha e já apontou a próxima da lista: a Itália.

O projeto pan-europeu foi idealizado por estadistas da estatura de Jean Monet e Robert Schuman com as cinzas da Segunda Guerra Mundial. Essa ideia embrionária, que começou com uma comunidade econômica de carvão e aço em 1951, foi se aprofundando graças à visão de políticos de distintas cores mas similar convicção. O eixo franco-germano, coluna vertebral da União Europeia, driblou sem dificuldade as dificuldades ideológicas dos mandatários de plantão. O mandatário socialista Willi Brandt e o conservador francês George Pompidou consolidaram o projeto pan-europeu nos anos 70 com a mesma firmeza que caracterizou François Miterrand e o conservador alemão Helmut Khol nos anos 80 e 90.

Nada disso se percebe nos atuais mandatários, muito mais preocupados com seus problemas internos do que com a solidez do modelo econômico social europeu.

Tradução: Katarina Peixoto
 

UE - DO FEDERALISMO: O SOL NA EIRA E A CHUVA NO NABAL

 

Renato Epifânio
 
Causou, uma vez mais, brado a enésima declaração das autoridades alemãs, segundo as quais “a Alemanha não aceita mais financiamento a países sem fortes condições e perda de soberania”.
 
É extraordinário que mesmo algumas vozes assumidamente “federalistas” reajam com tanta indignação com a perspectiva de mais “perda de soberania”. Extraordinário mas não surpreendente – é, de resto, por isso, que em Portugal é impossível qualquer debate público claro e consequente. Qualquer debate se transforma, mais cedo ou mais tarde, num jogo de sombras…
 
O debate em torno do federalismo europeu é um excelente exemplo disso. Grande parte da nossa classe mediática (ou seja, da nossa classe política e jornalística) assume-se, cada vez mais, como “federalista”. O argumentário, qual mantra, é sempre o mesmo: “só o federalismo pode salvar a Europa e Portugal”.
 
Não vamos agora discutir essa posição – já por várias vezes defendemos que, mesmo admitindo que o federalismo fosse desejável, ele não é de todo possível. A Europa é demasiado diversa para ter um futuro político unificado a esse ponto. Essa diversidade é, de resto, a nosso ver, a nossa maior riqueza. Talvez na Idade Média – em que, para além de tudo o mais, havia uma mesma língua dominante e uma mesma religião hegemónica – isso tivesse sido possível. No século XXI, não vale a pena alimentar mais essa ilusão.
 
Mas para quem ainda a alimenta, exige-se o mínimo de coerência. Não se pode defender ao mesmo tempo o federalismo e ser contra as consequências necessárias de todo o processo federalista. Há, decerto, muitos modelos – mas não há nenhum em que não ocorra “perda de soberania”. Por mais que se deseje sol na eira e chuva no nabal, não há milagres. É pois tempo de falarmos de forma clara e consequente. Até porque esse eventual passo só será possível com um Referendo: o tal Referendo sobre a Europa tantas vezes prometido.
 
 

União Europeia: ESQUEÇAM O ORÇAMENTO, TEMOS PROBLEMAS MAIS URGENTES

 

Financial Times, Londres – Presseurop – imagem Len
 
A incapacidade dos líderes da UE em chegarem a acordo sobre o orçamento é, em grande parte, simbólica numa altura em que as negociações dizem respeito apenas a uma parte muito pequena da riqueza da União Europeia. Mais importante para o futuro da UE é a eficiência do mercado interno e das relações entre os países, dentro e fora da zona de moeda.
 
 
Uma das coisas curiosas sobre a UE é a previsível relação inversa entre a quantidade de dinheiro em jogo e o tempo gasto nas negociações. Nada ilustra isso tão bem como o terrível espetáculo das negociações do orçamento da UE.
 
Não nos deixemos enganar pelo montante de um bilião de euros. Esse dinheiro será gasto ao longo de sete anos, durante os quais a previsão de produto interno bruto da UE é de cerca de 100 biliões. A disputa não é sobre o orçamento em si mas apenas sobre 3% do orçamento. Medido em termos de produto interno bruto da UE, as somas em disputa traduzem-se em cerca de 0,03 por cento. Seria um ato de temeridade aritmética atribuir-lhe qualquer significado macroeconómico.
 
Por outro lado, resolver a crise da zona euro custará muito dinheiro e terá verdadeiro significado na economia. Era isso que os líderes da UE deviam estar a discutir, não o orçamento da UE.
 
Mercado único estagnado
 
A singular importância das negociações orçamentais, e da insistência do primeiro-ministro britânico, David Cameron, num congelamento do orçamento da UE, está no que elas revelam sobre o futuro da própria União Europeia. Um orçamento congelado significa que a UE ficará presa ao que ele permite. Esqueçamos a Agenda 2020 ou qualquer outra pretensão de políticas de crescimento. O principal projeto da UE continua a ser um mercado único paralisado.
 
O mercado único tem sido um programa exagerado e, sobretudo, dececionante, sem qualquer impacto mensurável no PIB. Não abrange a maior parte dos serviços, nem grande parte da economia. Durante a crise, os governos têm feito regredir o mercado único na área da finança. A energia também é tratada pelos Estados-membros como um assunto interno. As aquisições da Defesa nunca fizeram parte desse mercado. Sempre achei que a função mais útil do mercado único era servir para ser elogiado nos discursos após os jantares oficiais.
 
O que as tensas negociações sobre o orçamento nos dizem é que o processo de integração europeia – a nível da UE – está em grande parte concluído. Nesse sentido, pouco importa, por exemplo, se o Reino Unido fica dentro ou fora. Saindo formalmente da UE, o Reino Unido não precisaria de abrir mão dos direitos existentes, incluindo o direito a trabalhar e viver na UE e, evidentemente, o acesso ao mercado único – seja lá o que for que isso valha. Os termos da saída da UE são livremente negociáveis. Mesmo agora, para além da temperatura, não há grande diferença entre o Reino Unido, membro da UE, e a Noruega, que não é membro da UE.
 
Enquadramento legal
 
À UE de hoje faltam duas funções importantes. Alguns leitores acharam a minha lista chocantemente curta. A primeira é a que provê as instituições e o enquadramento legal da zona euro com soluções para sair da crise. Não estou a dizer que a zona euro atingirá necessariamente esse objetivo. Há uma grande probabilidade de o não atingir.
 
Mas se isso acontecer, acabará por usurpar o mercado único e muito provavelmente irá transformá-lo em qualquer coisa útil.
 
A união bancária poderá ser um primeiro passo para um mercado único financeiro na zona euro. Em última análise, também espero que haja um mercado de trabalho e serviços, a nível da zona euro. Se houver uma união financeira, o seu orçamento será muito maior do que o da UE, mas também será diferente na sua composição – para cumprir o propósito macroeconómico da estabilização.
 
A segunda importante função da UE é servir de sala de espera para os Estados-membros que ainda não estão na zona euro, mas que, num futuro mais ou menos distante, querem entrar. A verdadeira linha divisória dentro da UE não é entre os 17 membros da zona euro e os dez não membros, mas entre o grupo dos de “dentro” e “pré-dentro” e o grupo dos de “fora”. O Reino Unido está, claramente, neste último grupo, tal como a República Checa. A Dinamarca e a Suécia também, embora um pouco mais perto da zona de fronteira.
 
Divórcio inevitável
 
No final, pouco importará se os de “fora” deixam formalmente a UE, se ficam complacentemente à margem ou se é a zona euro que os deixa. A dada altura, provavelmente daqui a uns anos, terá de haver um divórcio atribulado. Poderá ter várias formas. Uma separação formal é apenas uma das muitas possibilidades. Mas não é sustentável que um grupo de permanentes “outsiders” goze de direitos permanentes de codecisão, apesar da UE se mostrar infinitamente paciente quando se trata de aceitar soluções transitórias. A realidade é que não há uma biosfera sustentável fora da zona euro mas dentro da UE.
 
A marginalização da UE à custa da zona euro também tem implicações para outras políticas, como as políticas externa e de segurança, e também para o alargamento da UE. Ao insistir no congelamento do orçamento da UE, em última análise, Cameron está a fazer um favor à zona euro. Ao minar a UE, está a dar mais incentivos à zona euro para atingir o seu objetivo coletivo. Tem o meu apoio.
 
Traduzido do inglês por Maria João Vieira
 
Instituições europeias
 
Funcionários públicos exigentes
 
Nas negociações do orçamento da UE, os estados-membros não são os únicos a defender os seus interesses particulares. O Frankfurter Allgemeine Zeitung denuncia “o egocentrismo das instituições”, que reclamam um aumento dos recursos próprios e exigem cortes orçamentais nos países membros. 6% do orçamento europeu para 2014-2020 será pois consagrado à administração comunitária. O diário alemão considera que, num prolongado período de austeridade, não se justifica poupar o pessoal da UE aos anos de experiência dos funcionários e dos assalariados nacionais por toda a Europa. [...] Em Bruxelas, é de bom-tom vociferar contra os governos nacionais e igualar os interesses próprios e o bem comum europeu. Este egocentrismo representa o verdadeiro défice democrático da UE.
 

UE: OUTRA CIMEIRA INÚTIL

 

Mário Soares – Diário de Notícias, opinião
 
1 Os 27 Estados da União Europeia resolveram, a pedido do Presidente Van Rompuy, realizar um novo encontro, em Bruxelas, para debater o Orçamento da União para o período de 2014-2020. Na véspera tinham-se encontrado os representantes dos Estados da zona euro sem se ter dado nenhum passo em frente. E no dia seguinte, no encontro dos líderes, os diversos Estados da União também não se entenderam. Ou melhor: entenderam-se para dizer não, protelando para fevereiro de 2013 a nova Cimeira. Quer dizer, as Cimeiras vão-se sucedendo e a situação europeia vai-se agravando perigosamente, sem remédio. Se assim continuarmos, cairemos no abismo, como avisaram Schmidt e Delors.
 
O primeiro-ministro inglês, David Cameron, manifestou-se contra o texto apresentado por Rompuy. Era de esperar. A Inglaterra foi sempre contra a União, desde o tempo de Churchill. Mas então os tempos eram outros e o Reino Unido tinha acabado de sair vitorioso, da II Grande Guerra. Os tempos mudaram desde então. A CEE transformou-se em União Europeia: o mais original projeto político e social, de liberdade, de paz e de bem-estar das populações que já houve, desde sempre. Um projeto de paz e de solidariedade que, infelizmente, deixou de avançar, desde que a crise financeira e económica, que veio dos Estados Unidos, nos contaminou em 2008. Tornando-se depois crise económica, política, social, ambiental e de civilização.
 
Começou com a Grécia, a Irlanda e Portugal - os três primeiros Estados vítimas dos mercados usurários. A Alemanha e alguns Estados mais ricos do Norte, podiam ter evitado essa crise facilmente. Não o fizeram, por falta de visão, relativamente ao futuro. E também por causa dos respetivos lideres nacionais e dos dirigentes das instâncias europeias, sem qualquer visão do futuro. Depois, juntaram-se aos Estados vítimas mais: Chipre, a Espanha e a Itália. E, como a opinião europeia já começou a compreender, vão juntar-se aos Estados vítimas talvez: a França, a Bélgica, a Holanda e vários outros Estados, em situação crítica, vindos do antigo Leste.
 
A pergunta que se põe hoje às populações europeias é simples: como vamos sair - sem cair no abismo, pela desagregação da Europa - deste colossal imbróglio, que só beneficia os magnates que dominam os mercados usurários? A resposta não é difícil: mudando a política europeia e a chamada austeridade, que nos tem sido imposta pelos que dela beneficiam.
 
Mas é isso possível? Claro que é, se houver vontade política para o fazer. O Governo alemão deve compreender que se continuar a deixar degradar a União Europeia, vai ser a principal próxima vítima, com a descida da sua economia, em 2013. Já há hoje um manifesto sinal de que assim será. A Inglaterra, que sempre teve um pé na Europa e outro na América, também não pode continuar a ameaçar a União de abandono. Desaparecido o império e com os Estados Unidos voltados para a Ásia emergente - e sobretudo para a China, com graves problemas sociais de corrupção a resolver -, o que será o Reino Unido, sem a Europa? É uma pergunta que deve pensar David Cameron e o velho Partido Trabalhista, de Wilson e de Callaghan, se quiser voltar ao poder.
 
O mundo está em mudança. E a União Europeia, se quiser sobreviver, como tal, também tem de mudar para evitar a desagregação e a queda do euro. Os grandes Estados europeus, a Alemanha, a França e o Reino Unido, sem esquecer a Itália e a Espanha, que também se devem considerar grandes, sem a União Europeia não são nada, em termos mundiais. É nisso que os grandes Estados europeus devem refletir. Mudando de política, voltando a uma Europa solidária, com um Governo próprio, que terá de eliminar a burocracia de Bruxelas, que, para manter os chorudos lugares, só tem servido para paralisar a política europeia.
 
2 A PENÍNSULA IBÉRICA EM DIFICULDADES
 
Os dois Estados ibéricos, Portugal e Espanha, estão em graves dificuldades, ao mesmo tempo. Mas por razões diferentes: Portugal envolvido pela troika e dada a subserviência do seu Governo, em relação à chanceler Merkel, adepta por enquanto da austeridade que nos está a conduzir à ruína, a vender por quase nada o melhor do nosso património e a pôr em estado de desespero a esmagadora maioria da nossa população.
 
A Espanha, que impediu a troika de se intrometer nas questões internas espanholas, com grandes dificuldades financeiras - e o desemprego mais elevado da Europa -, com problemas altamente difíceis de resolver, como o das eleições na Catalunha, contrárias ao centralismo de Madrid. No momento em que escrevo ainda não tenho conhecimento dos resultados dessas eleições. Mas não serão, seguramente, bons.
 
Curiosamente os dois chefes de Governo - Mariano Rajoy e Pedro Passos Coelho - pertencem ao mesmo partido europeu (o PP), mas têm conceções diferentes para atacar a crise: cada vez mais austeridade, em obediência à troika, no caso de Passos Coelho; e menos austeridade, sem esquecer a recessão económica (o que implica algum crescimento) e reduzindo o mais que for possível o desemprego, um flagelo intolerável, Mariano Rajoy.
 
O diálogo entre ambos não tem sido fácil, ao que parece. Mas encontraram-se no sábado passado na Cimeira de Bruxelas, e tiveram um breve tête-à-tête, que a televisão registou, sem se saber o que disseram. O silêncio, em Portugal, é a regra deste Governo, que faz o que quer, mas diz apenas o que deseja e explica o menos que pode daquilo que faz...
 
Rajoy encontrou-se com François Hollande e também com Monti, numa linha de opinião mais ou menos concertada e a caminho de uma Europa diferente; e Passos Coelho, não precisava de falar muito com a Senhora Merkel, porque é, reconhecidamente, o seu discípulo dileto. Assim estamos, quando era tão importante que a Península, no seu conjunto, desse um murro na mesa dos burocratas de Bruxelas...
 
3 E A SITUAÇÃO PORTUGUESA?
 
Não vai mal. Vai péssima. Piora, dia a dia, semana a semana, mês a mês, ano a ano. Desde que o atual Governo está no poder. Vejam-se as estatísticas (que ainda vão aparecendo) e não os números confusos de que nos fala o ministro das Finanças - não para as pessoas - que por mais que queiram, não são capazes de o entender (eu incluo-me infelizmente, nesse número, seguramente, muito elevado)...
 
Mas há que pensar também que o Governo, entre si, não se entende. O ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas, está com o desejo evidente de abandonar este Governo, cuja política não assume, porque é contrária ao que sempre anunciou ao seu eleitorado. Porquê? Pela pressão que sobre ele é feita. Poderia agora ir visitar as feiras e dar beijinhos às peixeiras? Resposta: ele que se atreva...
 
O PSD, se não me engano, são hoje dois Partidos: o que aprova a política do Governo (muito minoritário) e o que a desaprova totalmente, embora por razões diferentes (maioritário). Esta cisão foi-se aprofundando por múltiplas razões e também à medida que os militantes do PSD, responsáveis pelas autarquias (municípios e freguesias) foram percebendo a impopularidade que cairia sobre eles com a proximidade das eleições autárquicas. E desde que se começou a falar da chamada reforma autárquica, inventada pelo ministro Relvas.
 
Mas no seio do Governo começa também a haver ministros a dar sinal de dissidência. Cito o caso do ministro Álvaro Pereira - que é valente, visto ter sido até agora o único que afrontou as vaias, saindo do carro que estava a ser batido e, sem medo, enfrentou os populares. É significativo, porque voltou agora a ter a coragem de dizer que era necessário "menos austeridade, e mais crescimento e emprego". Quer dizer, boa parte do Governo Passos Coelho não se entende entre si.
 
Será que o Governo e o seu chefe, Passos Coelho, que raramente comunica com o povo, tem consciência do que a esmagadora maioria dos portugueses pensa do seu Governo e dele próprio? Se a tivesse, seguramente que há muito teria tido a honradez de se demitir.
 
Veremos como vai correr a votação do Orçamento para 2013. Tendo em conta que o medo impera hoje nas pessoas, mesmo com lugares importantes. E muitos outros estão desorientados sem saber o que fazer ou para onde podemos ir. Veremos o que faz o Presidente da República, que teima em estar calado, quando mais seria preciso que falasse. Veremos o que faz o Tribunal Constitucional. De qualquer maneira, como escrevi há dias, o Governo está cada vez mais impopular (se é possível). E se teimar em continuar como tem estado, vai acabar muito mal. O desespero leva à violência, como a história nos ensina.
 
4 DOIS LIVROS CUJA LEITURA RECOMENDO
 
Na semana passada foram lançados vários livros - nunca os editores portugueses estiveram tão ativos -, entre os quais me permito distinguir dois que nos interessam especialmente no difícil momento que atravessamos: um de Manuel Carvalho da Silva intitulado Vencer o Medo e o outro do académico Fernando Rosas, Salazar e o Poder. São livros que se completam: um sobre o ditador Salazar, que governou pela censura e pela polícia política, durante 48 tristes longos anos. E o outro, Vencer o medo, que põe a descoberto um fenómeno trazido pela atual crise que nos afeta de novo, após a Revolução dos Cravos: o medo do que vem aí e que procura paralisar muitas pessoas interessadas pela política, mas que têm medo de criticar o Governo - e de reclamar a sua demissão - apenas com medo do que lhes pode acontecer.
 
Quem tal diria, depois de quase quarenta anos de Democracia, Liberdade e Direitos Humanos? Carvalho da Silva fala de ideias para vencer a crise, a começar pela queda necessária deste Governo, de que ninguém gosta.
 

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