sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Moçambique: O PROBLEMA DOS SINTOMAS




Verdade (mz) - editorial

As notícias que nos chegam de Chókwè, ainda que não possam ser generalizadas, devem deixar triste qualquer cidadão que se preze. O cenário das cheias de 2000, para desgraça dos que sofrem, repete-se. Ou seja, a desgraça virou a força motriz do enriquecimento de um punhado de pessoas. E nós, os tolos do dia, chegamos a pensar que poderia ser diferente. Mas não é e nem vai ser.

O cenário é aterrador e o roubo está institucionalizado. Há quem vai enriquecer desalmadamente desviando a ajuda que devia mitigar os efeitos de uma calamidade que de natural tem muito pouco. Como ninguém trabalhou para impedir que se dessem as condições daquele trágico episódio do passado, seria impossível reduzir o impacto das cheias.

No que toca ao roubo, acabamos por reafirmar que se repetiu a tristeza de há 13 anos, em que as cheias criaram novos ricos com o mesmo padrão de vergonha. Qualquer tentativa de explicar o fenómeno, reconduzir- -nos-ia aos mesmos pontos de partida. O que faltou fazer?

Gestão do curso das águas, políticas regionais, criação de sistemas de drenagem eficazes, eis o que vivemos dizendo, qualquer seja a conjuntura económica nacional. Como qualquer das soluções apontadas vai requer avultados investimentos, acomodamo-nos na justificação destes constrangimentos. “Construir o país leva tempo”, dizem alguns do alta da sua sapiência.

Somos, portanto, um país que se preocupa com sintomas e nunca com as causas. A discussão gira, agora, em torno dos infelizes que desviam as ajudas que foram canalizadas para Chókwè e dos responsáveis que colocaram os seus familiares nas filas.

Esquecemos os outros, aqueles que desviam camiões inteiros antes sequer de pensarem em partir para o lugar onde estão as vítimas o que é, diga-se, também um sintoma. Esquecemo-nos daqueles que pedem comissões chorudas em qualquer obra pública. Esquecemo-nos dos atrasos na reabilitação de estradas e pontes. Esquecemo-nos da má qualidade das obras públicas. Esquecemo-nos que o norte do país é excedentário em cereais.

Andamos contentes com a doação do Japão e com a concessão de seis milhões hectares de terra aos agricultores brasileiros. Eles vão, já se sabe, produzir para o mercado externo. É óbvio que estatisticamente iremos produzir mais comida, mas também é inegável que tal criará mais bolsas de fome.

Afinal qual é o problema do país? Temos de nos abstrair dos sintomas para situar o conjunto de todos os elementos que concorrem para que sejamos impotentes diante de um evento deste género.

O problema, em Chókwè, nem é o roubo em si e o aproveitamento da desgraça alheia. Aquele ladrão de Chókwè foi arrastado pela onda do pensamento estático. Portanto, refugia-se no facto de não ser o maior culpado, de constituir, na verdade, o novo-rico de um sistema que cria pobres, o incompreendido que pode enriquecer na tragédia dos semelhantes.

E não é sem motivo que assim julga, pois alguns dirigentes até são capazes de festejar um aniversário com pompa e circunstância, com direito a transmissão televisiva, num momento de pranto e ranger de dentes. Esse é o problema de atacar os sintomas...

Dirigente da Frelimo sequestrado no centro de Moçambique, Renamo nega envolvimento




AYAC – MLL - Lusa

Beira, 08 fev (Lusa) - A polícia de Marínguè, centro de Moçambique, deteve quatro supostos membros da Renamo por alegado "sequestro e tortura" do primeiro secretário local da Frelimo, no poder, mas a oposição garante que se tratou duma "retaliação popular".

Mateus Mazibe, porta-voz da Polícia da República de Moçambique em Sofala, disse à agência Lusa que os homens da Renamo, encarcerados desde quinta-feira, terão sequestrado e espancado "brutalmente", durante quase 12 horas, André Madumane, secretário da Frelimo, e que a motivação ainda está por apurar.

"O secretário foi sequestrado e espancado com recurso a paus numa machamba (horta) no meio da mata, das 19:00 de quarta-feira até às 6:30 da quinta-feira, quando foi resgatado pela polícia", disse Mazibe, assegurando estar em curso a instauração do processo que vai esclarecer as motivações.

Devido à gravidade dos ferimentos, Madumane foi, na quinta-feira, transferido do hospital rural local para os cuidados intensivos do Hospital Central da Beira. A sua situação clínica não foi divulgada.

Em declarações à Lusa, Horácio Cavalete, chefe da mobilização da Renamo em Sofala, assegurou que o sequestro e tortura do secretário da Frelimo resultou de uma "revolta e retaliação popular", que se insurgiu contra as "perseguições" do partido no poder às filiações políticas na oposição.

"A população de Gravata (Marínguè) agrediu o secretário da Frelimo depois que este amarrou o irmão do delegado político da Renamo na sua própria casa. Então, a população revoltou-se para parar o hábito das perseguições que sofria", explicou à Lusa Horácio Cavalete, negando estarem envolvidos membros do seu partido.

Uma delegação da Renamo deverá deslocar-se hoje a Marínguè para se inteirar da prisão dos seus supostos membros.

André Madumane foi um quadro sénior da Renamo em Marínguè, distrito que foi sede da base da Renamo nos últimos anos da guerra civil. Esta formação ainda mantém homens armados na sua antiga base militar.

Madumane abandonou a Renamo e filiou-se na Frelimo há sensivelmente cinco anos e, segundo escreve hoje o jornal eletrónico Mediafax, desde essa altura é considerado persona non grata pela Renamo.

QUATRO DISTRITOS EM RISCO DE INUNDAÇÃO NO CENTRO DE MOÇAMBIQUE




AYAC -  MLL - Lusa

Beira, 09 fev (Lusa) - Quatro distritos de Sofala, centro de Moçambique, estão em risco de inundação na sequência das fortes chuvas que afetam a região, tanto a nível local como a montante, agravando a situação hidrológica, disse hoje à Lusa fonte oficial.

Rui Fonseca, chefe do departamento técnico da Administração Regional de Águas do Centro (ARA-Centro), disse que a quantidade de chuva medida nas estacões da sua jurisdição pode deixar submersos os distritos de Nhamatanda e Dondo (centro) e Machanga e Buzi (sul).

"A se concretizar a previsão meteorológica, a quantidade de chuva poderá inundar os distritos", disse Rui Fonseca, apelando às entidades públicas e privadas, autoridades locais, agentes económicos e população para tomarem medidas de precaução e evitarem a travessia dos leitos dos rios e riachos.

Chuvas acima dos 30 milímetros têm vindo a ocorrer nas últimas 24 horas, a nível nacional e no vizinho Zimbabué, com consequências na subida das bacias hidrográficas de Buzi, Save e Púngue, o que está a agravar a situação hidrológica nestas bacias, com realce nas zonas baixas.

Em comunicado, a ARA-Centro indica que foram registados nos postos pluviométricos chuvas acima do normal: Púngue Sul (45.9 mm); Púngue Fronteira (35.9 mm); Révue (32.0 mm) e Localidade de Púngue (12.0 mm).

Contudo, na bacia do rio Púngue, na estacão de Mafambisse, medido hoje, o nível do rio está 90 centímetros acima do nível de alerta (6.00 m), mas estacionário e com tendência a baixar ligeiramente, segundo o documento.

A albufeira de Chicamba continua a efetuar descargas na ordem dos 32,7 metros cúbicos por segundo, enquanto na albufeira de Muda Nhaurire regista-se o incremento de armazenamento - atualmente está a 20 por cento do volume de encaixe.

Timor-Leste doa 550 mil euros para ajudar vítimas das cheias em Moçambique




MSE – MLL - Lusa

Díli, 08 fev (Lusa) - O Governo de Timor-Leste anunciou hoje a doação de 550 mil euros para ajudar as vítimas das cheias em Moçambique, que desde outubro já provocaram a morte a 90 pessoas.

"Na sequência das inundações que atingiram o sul de Moçambique, provocando dezenas de mortos e mais de 150 desalojados, o Conselho de Ministros aprovou a doação de 750 mil dólares americanos (cerca de 550 mil euros) para fins de assistência humanitária à população afetada", refere o Governo em comunicado hoje divulgado.

A decisão foi tomada na reunião de Conselho de Ministros do passado dia 30.

As cheias que, desde outubro, assolam Moçambique, causaram 91 mortos e afetaram 200 mil pessoas, segundo o Instituto Nacional de Gestão de Calamidades moçambicano, órgão governamental.

Moçambique acolheu durante a luta pela restauração da independência de Timor-Leste elementos da frente diplomática da resistência timorense, entre os quais se destacam o ex-primeiro-ministro Mari Alkatiri, secretário-geral da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin), e a atual Procuradora-geral da República, Ana Pessoa.

O ex-Presidente timorense e Prémio Nobel da Paz José Ramos-Horta também esteve exilado em Moçambique.

*Também publicado em TIMOR LOROSAE NAÇÃO.

Outros títulos acerca de Timor-Leste:

Ministério Público angolano instaurou processo-crime a líder e responsáveis da IURD




NME – PJA - Lusa

Luanda, 08 fev (Lusa) - A Procuradoria-Geral da República de Angola instaurou um processo-crime contra o líder e responsáveis da Igreja Universal do Reino de Deus, na sequência da morte de 16 pessoas por asfixia e esmagamento, a 31 de dezembro passado em Luanda.

Em comunicado de imprensa, a PGR refere que o processo-crime foi aberto depois de ter sido concluído um inquérito, instaurado a 02 de janeiro pelo presidente angolano, José Eduardo dos Santos.

No documento é referido que o processo decorre sob a alçada da Direção Nacional de Investigação e Ação Penal (DNIAP) da PGR. As atividades da IURD foram suspensas por um período de 60 dias, segundo as conclusões da Comissão de Inquérito (CI) nomeada pela Presidência da República.

A agência Lusa tem repetidamente tentado obter da IURD em Angola um comentário sobre a suspensão decidida pelas autoridades angolanas e agora sobre este processo-crime da PGR mas, até agora, nenhum dirigente daquela confissão se mostrou disponível para falar.

Em causa está uma cerimónia, denominada "Vigília do Dia do Fim", que concentrou dezenas de milhares de pessoas que ultrapassaram, em muito, a lotação autorizada do Estádio da Cidadela.

A CI concluiu ainda que as mortes se deveram à superlotação no interior e exterior do Estádio da Cidadela, causada por "publicidade enganosa".

Dias antes da cerimónia, a IURD espalhou por Luanda publicidade ao evento, que designou de "Dia do Fim", na qual convidava todos a "dar um fim a todos os problemas", designadamente "doença, miséria, desemprego, feitiçaria, inveja, problemas na família, separação e dívidas".

Para a CI, esta publicidade criou, no seio dos fiéis, "uma enorme expectativa de verem resolvidos os seus problemas" e, socorrendo-se da legislação em vigor, classifica a difusão do evento como "criminosa e enganosa".

O facto da IURD não ter suspendido a cerimónia, mesmo depois de ter conhecimento da existência de vítimas mortais é outra das matérias que foi contestada pela CI.

Paralelamente ao anúncio da suspensão de atividades da IURD, a CI anunciou a proibição de quaisquer ações por parte de outras seis igrejas evangélicas, por não estarem legalizadas em Angola.

As seis confissões proibidas de levarem a cabo qualquer tipo de atividade são as Igrejas Mundial do Poder de Deus, Mundial do Reino de Deus, Mundial Internacional, Mundial da Promessa de Deus, Mundial Renovada e Igreja Evangélica Pentecostal Nova Jerusalém.

Vídeo de agressão a duas mulheres em Luanda suscita condenação e PGR abre inquérito



EL – PJA - Lusa

Luanda, 08 fev (Lusa) - Um vídeo que mostra duas mulheres a serem barbaramente espancadas num armazém em Luanda está a suscitar generalizada condenação, e em comunicado enviado hoje à Lusa, a Procuradoria Geral da República (PGR) informa estar já em curso um inquérito.

No comunicado, a PGR refere ter tomado conhecimento da existência do vídeo no passado dia 06, "mostrando cenas macabras, retratando um caso de justiça privada" em Luanda.

As duas mulheres acusadas de terem roubado uma garrafa de champanhe e um sabonete, para posterior venda, surgem no filme a serem espancadas por vários homens e mulheres, armados com uma catana, bastões e mangueiras, deixando as vítimas em estado de exaustão e desfalecimento.

Os agressores, cujas caras são facilmente identificáveis, riem-se e gritam enquanto alguns filmam com telemóveis ou câmaras portáteis o que se está a passar.

O vídeo foi colocado há dois dias nas redes sociais e teve já mais de 8 mil visualizações no canal do semanário privado angolano Folha 8 no Youtube.

Na sequência de uma busca autorizada judicialmente, o Ministério Público apreendeu no da 07, no local, os instrumentos de tortura que surgem no vídeo.

A PGR anuncia ainda ter interpelado algumas pessoas presentes no local onde ocorreram os espancamentos.

Também em comunicado enviado hoje à Lusa, o Grupo de Mulheres Parlamentares angolanas exige a condenação dos autores do crime.

No comunicado enviado à Lusa, assinado por Cândida Celeste da Silva, deputada do partido no poder, MPLA, e antiga ministra da Família e Promoção da Mulher, o Grupo das Mulheres Parlamentares felicita os cidadãos que denunciaram o crime, considerando-o um atentado aos Direitos Humanos.

Portugal: FRANQUELIM ALVES ESQUECEU-SE QUE AFINAL ERA UM HERÓI




Daniel Oliveira – Expresso, opinião

E, de um dia para o outro, o spin governamental tentou transformar Franquelim Alves num herói. Afinal, foi este administrador da SLN que desmascarou a fraude a que ali se assistia, diz o governo que tem como principal conselheiro oficioso Dias Loureiro.

Posso ter estado distraído. É possível que o incómodo de Nuno Melo, que foi, com João Semedo e Honório Novo, um dos mais ativos deputados na Comissão Parlamentar de Inquérito ao BPN, com esta nomeação, também resulte de alguma distração. Mas lembro-me, lembram-se todos, que foi o mesmo Franquelim Alves que disse, nas mesmíssima comissão, que não denunciou gravíssimos factos, que constituíam crime, às autoridades competentes. E que estava arrependido da sua omissão cúmplice.

O ministro Álvaro veio informar, depois de ter passado a mesma informação para os jornais, que Franquelim Alves enviou uma carta ao Banco de Portugal, a 2 de Junho de 2008, em que denunciava a existência do Banco Insular. "Quando se começaram a detectar irregularidades, Franquelim Alves foi das pessoas que dentro da SLN ajudaram a desmascarar a fraude", disse o ministro da Economia, acrescentando: "Se não fossem pessoas como Franquelim Alves, que estavam dentro da SLN, não seria possível ter identificado de uma forma tão eficaz aquilo que se passou".

Estranhamente, tal a sua humildade e espirítio de sacrfício, não lhe ocorreu gabar-se disso na comissão de inquérito. Mas, afinal, tal carta foi enviada por Abdul Vakil. E não passava de uma resposta tardia ao Banco de Portugal. Ou seja, Franquelim Alves tinha razão quando confessou no Parlamento que não tinha denunciado coisa nenhuma.

O desnorte do governo e o desespero por o País ainda não estar completamente a dormir, levaram a esta coisa extraordinária: inventar o herói, atribuir-lhe uma coragem que não teve, não hesitando mesmo em inventar factos e neles desmentir o próprio visado. O governo entrou na fase terminal da sua mitomania.

BE e PCP insistem que Franquelim não tem condições éticas para exercer funções públicas




ATF – PGF - Lusa

O BE e o PCP voltaram hoje a exigir a demissão de Franquelim Alves do cargo de secretário de Estado, defendendo que o seu passado como administrador do BPN não garante condições éticas para exercer cargos públicos.

"Eu peço imensa desculpa, mas isto não é uma perseguição pessoal, o que o BE tem dito é que é necessário ter condições de idoneidade e de comportamento ético para o desempenho de funções governativas, que o Governo não compreenda que esta seriedade é essencial ao desempenho de funções governativas é que é muitíssimo preocupante", afirmou a bloquista Ana Drago.

A deputada do BE, que falava aos jornalistas no Parlamento, considerou que "perante todos os dados disponíveis" e "pelo adiar sucessivamente de esclarecimentos em relação ao buraco do BPN", Franquelim Alves "não tem condições políticas de idoneidade e de ética republicana para desempenhar funções".

"Que o senhor ministro da Economia não consiga compreender que tem de haver patamares de exigência nesse desempenho de cargos políticos é que nos leva também a entender que o senhor ministro da Economia não sabe o que é governar um país num momento tão difícil como o que os portugueses atravessam", criticou Ana Drago.

Também o deputado comunista Honório Novo insistiu nas críticas à nomeação de Franquelim Alves como secretário de Estado e acusou-o de não ter comunicado ao Banco de Portugal (BdP) "falcatruas" de centenas de milhões de euros enquanto foi administrador do BPN, mostrando um documento interno do banco de 2008.

"O que o doutor Franquelim Alves se esqueceu de dizer é que neste documento do estado da Nação, um documento que faz parte do espólio da comissão de inquérito ao BPN, estão inventariados prejuízos de 500 milhões de euros com as contas de investimento e de 585 milhões de euros com o Banco Insular, resultantes de falcatrua, de irregularidades, de ilegalidades e de fraude", afirmou.

Honório Novo frisou que Franquelim Alves "era obrigado por funções que exercia a comunicar ao BdP no minuto seguinte" e que essa "é a primeira obrigação de um administrador financeiro perante o BdP".

"Não o fazendo, quebrou com um elemento central das suas obrigações deontológicas, éticas e de idoneidade, é somente isto que está em jogo, não está em jogo nenhum critério de competência, não está em jogo nenhum critério de acusação ao doutor Franquelim Alves por ser responsável por isto", sustentou.

"O doutor Franquelim Alves pode dizer tudo o que disser, o doutor Álvaro Santos Pereira pode dizer tudo o que disser, o doutor Miguel Relvas pode dizer tudo o que disser, o doutor Passos Coelho pode dizer tudo o que disser, mas o doutor Franquelim Alves não tem condições de idoneidade, nem de seriedade, nem de cumprimento de obrigações, que o aconselhem para o exercício de um cargo político", concluiu.

Numa entrevista à RTP1, na quinta-feira à noite, o novo secretário de Estado do Empreendedorismo, Competitividade e Inovação, Franquelim Alves, garantiu que no currículo que entregou ao Governo constava a sua passagem pelo grupo SLN, que foi dono do BPN.

Portugal: Franquelim Alves não consegue explicar o que sucedeu ao seu currículo





Secretário de Estado diz que contribuiu para denunciar "o buraco" do BPN e recusa demitir-se.

Franquelim Alves, o secretário de Estado debaixo de fogo por causa de incogruências do seu currículo, afirmou nesta quinta-feira à noite que o convite para integrar o executivo lhe foi feito pelo ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira, a quem entregou um currículo que incluía o exercício de funções de administrador da SLN, holding proprietária do BPN.

“No currículo que entreguei ao senhor ministro estava claramente expresso [que trabalhei na SLN]”, disse em entrevista à RTP. O recém-empossado secretário de Estado do Empreendedorismo, Competitividade e Inovação acrescentou que ficou surpreendido com a ausência dessa informação no primeiro currículo divulgado pelo Governo e que não deu “ordens desse tipo”.

“É um tema que eu não consigo explicar”, insistiu.

Mas, logo de seguida, justificou a situação com ”uma preocupação de síntese”, já que esteve apenas dez meses, em 43 de carreira, ligado ao “monstro” do BPN. O governante desmontou a ideia de que alguma vez tenha sido sua intenção ocultar parte do currículo, até porque não haveria “nada a esconder sobre a matéria”.

Em “perfeitas condições” para desempenhar o cargo, Franquelim Alves afastou o cenário de uma demissão provocada pelo que apelidou de “poluição” e “chicana” à volta do caso. “Eu não sou responsável pelo buraco [do BPN], eu contribuí para denunciar o buraco”, O governante admitiu que que só ponderará abandonar o ministério se a “perturbação” for “permanente”: “Dá a impressão, em larga medida, que o grande crime é eu estar no Governo por ter passado pela SLN nem por um ano”, disse.

Nesta quinta-feira, o PÚBLICO tentou contactar o Ministério da Economia para averiguar outro desacerto na biografia do secretário de Estado, mas não obteve resposta até ao momento. O PÚBLICO confirmou que Franquelim Alves entrou na Ernst & Young com 16 anos, idade em que admite ter começado a sua carreira como “auditor e consultor”. A empresa, porém, adiantou que o novo colaborador de Álvaro Santos Pereira tinha começado por exercer funções não qualificadas e diferentes das enunciadas no currículo oficial. 

A empresa consultora tinha então outro nome, que só viria a ser alterado para Ernst & Young depois da fusão entre sócios da empresa, em 1989. Este percurso foi confirmado ao PÚBLICO e ter-se-á desenrolado ao longo de 17 anos dentro da consultora. Mas já depois desta informação, a Ernst & Young Portugal emitiu um comunicado de imprensa que refere que Franquelim Alves iniciou carreira como “júnior auditor” na Barton Mayhew & Cia, uma das empresas que daria origem à actual Ernst & Young.

O ministro Miguel Relvas comentou na quarta-feira o início de carreira do novo secretário de Estado: “Não o conheço desde essa idade, conheço-o há alguns anos, mas não o conheço desde os 16 anos.” Miguel Relvas acrescentou a tese de uma “cabala política” contra o governante, à semelhança do que também fizera Álvaro Santos Pereira, ao criticar o “linchamento público” de Franquelim Alves.

Sobre o caso BPN, Franquelim Alves alegou que os três meses que separaram o seu conhecimento de irregularidades no banco, em Março de 2008, e a comunicação ao Banco de Portugal, se justificam com um “puzzle” do qual não sabia sequer onde encontrar as peças. A informação só poderia ser dada ao Banco de Portugal com informação “concreta, detalhada”. O governante insistiu ainda na ideia de que existia em 2008 a noção de que a falência do BPN poderia colocar em causa todo o sistema bancário português.

Portugal: MENTIR BEM AJUDA, MAS NÃO CHEGA




Jorge Fiel – Jornal de Notícias, opinião

É muito raro eu mentir. Mas aviso desde já que isso nada tem a ver com preconceitos éticos ou morais, até porque sei perfeitamente que há mentiras muito convenientes e até piedosas. Não. Apenas evito mentir por saber que nessa matéria sou um zero à esquerda.

Tenho a certeza de que, por muito que me esforçasse, não conseguiria enganar ninguém. A minha cara é um livro aberto. Para me apanhar não era preciso ser um detetor de mentiras humano, como o dr. Cal Lightman, da série "Lie to me".

Esta minha incompetência inata nas artes de fingir e mentir não me deixa orgulhoso, porque me cortou logo à partida qualquer hipótese de fazer carreira como ator ou político. Desde Maquiavel que sabemos que apenas um mentiroso ousado e muito capaz pode aspirar a singrar na política e garantir o poder.

Mas não fiquem a pensar que eu sou um anjinho. Nem tanto. Não minto, mas nem sempre conto toda a verdade. Ou seja, omito as coisas que acho me prejudicariam se fossem divulgadas.

A partir de Tiago 4:17 ("Comete pecado aquele que sabe fazer o bem e não faz"), os especialistas na Bíblia condenam por igual o pecado da comissão (exemplo: roubar) e o da omissão (ex.: não trabalhar).

Para além da hipocrisia (outro dos atributos essenciais a um bom político), as omissões são o que mais abunda no episódio em cartaz da polémica da nomeação de Franquelim Alves para secretário de Estado.

É, no mínimo, hipócrita questionar a idoneidade de Franquelim para ser membro do Governo quando ninguém levantou a voz ou esboçou crítica quando ele foi nomeado para distribuir os milhões do Compete, um programa do QREN.

As omissões são o que mais me incomoda quando olho para este caso. Para começar, a omissão no seu curriculum dos 11 meses (novembro 07-outubro 08) em que foi administrador da SLN - onde cometeu o pecado da omissão ao abster-se de comunicar às autoridades as irregularidades que testemunhou e ao não informar Miguel Cadilhe (que assumiu a presidência do grupo em junho 08) da verdadeira dimensão dos buracos que teria de enfrentar.

Para se ser um bom político, não basta ser hipócrita competente e bom mentiroso. Também é preciso ter sensibilidade e bom senso. E a nomeação do secretário de Estado do Empreendedorismo revela que Passos não está na plena posse destas duas últimas qualidades.

Não basta dizer que Franquelim não está a contas com a Justiça. Também Ricardo Salgado não está, mas, apesar da sua competência, espero que não passe pela cabeça do primeiro-ministro nomear para ministro das Finanças um banqueiro que corrigiu por três vezes a declaração do IRS de 2011, sendo que na última os rendimentos declarados eram 8,5 milhões de euros superiores à primeira.

E o facto de Godinho Lopes ter sido ilibado no caso da vigarice com o aluguer dos paquetes para a Expo 98 não faz dele uma pessoa elegível para substituir o Álvaro no Ministério da Economia, pois não?

Portugal: Parlamento recomenda ao Governo redução até 50% os carros do Estado





A Assembleia da República aprovou esta sexta-feira um projeto de resolução do CDS-PP que recomenda a redução entre 33 e 50% dos carros ao serviço dos titulares de cargos políticos, de altos cargos públicos e de dirigentes da administração pública.

A iniciativa foi aprovada na generalidade dos seus pontos com os votos favoráveis do PSD, CDS-PP, PCP, BE e PEV e abstenção do PS.

Foram votadas à parte duas alíneas de um dos números do projeto de resolução, incluindo a que estabelecia que se tratava de reduzir, "entre 33 a 50%, da frota automóvel ao serviço dos titulares de cargos políticos, de altos cargos públicos e de cargos dirigentes da administração pública".

Esta alínea foi aprovada com os votos favoráveis do PSD e CDS-PP e a abstenção do PS, PCP, BE e PEV.

A votação foi ainda distinta para a alínea em que se estabelece a "redução do número de motoristas ao serviço dos titulares de cargos políticos, de altos cargos públicos e de cargos dirigentes da administração pública".

PSD e CDS-PP votaram a favor, PCP, BE e PEV votaram contra e o PS absteve-se.

O projeto de resolução recomenda ao executivo a "redução do número de titulares de cargos políticos, de altos cargos públicos e de cargos dirigentes da administração pública com atribuição de viatura oficial" e a "partilha das viaturas entre os cargos dirigentes da administração pública e os serviços gerais".

O CDS recomenda o estabelecimento de "novos tetos máximos, inferiores aos atuais, para a aquisição, no futuro, de novos veículos" e a redução do número de motoristas ao serviço dos titulares de cargos políticos, de altos cargos públicos e de cargos dirigentes da administração pública.

As viaturas das forças de segurança pública ou defesa estão excluídas do âmbito desta iniciativa.

A metodologia proposta começa pela identificação e comunicação ao parlamento, no prazo de três meses, o número de viaturas atribuídas a titulares de cargos políticos, de altos cargos públicos e de cargos dirigentes da administração pública, o número de dirigentes e funcionários em autocondução, e o número de motoristas ao serviço.

Em seis meses, devem ser identificados e comunicados à Assembleia da República o número de viaturas de serviços gerais e a lista das respetivas regras de utilização seguidas até ao momento, nomeadamente com identificação das regras relativas a quilometragem.

Após reunidos os elementos pelo Governo, é estabelecido um prazo de seis meses para reavaliar "o atual modelo de utilização e atribuição de viaturas do parque automóvel do Estado".

Portugal: MAÇÃS PODRES




Fernanda Câncio – Diário de Notícias, opinião

"Se fosse comigo, não teria dúvidas em afastar-me se me visse envolvido numa situação destas". Isto era Nuno Melo em 2009, a falar de Dias Loureiro, ex-administrador da SLN (que detinha o BPN) e então conselheiro de Estado do presidente Cavaco. Declarações nas quais o deputado centrista era acompanhado pelo então cabeça de lista do PSD às europeias, Paulo Rangel, e pelo - hoje ministro - Pedro Mota Soares, que, quando a demissão ocorreu, afirmou: "O doutor Dias Loureiro fez finalmente aquilo que já devia ter feito e que o CDS já tinha pedido."

Então, como hoje, o presidente do CDS era Paulo Portas (também agora ministro), que não se ensaiou em aconselhar Loureiro a "evidentemente sair e facilitar a vida ao Chefe do Estado". O motivo, para Portas, era claríssimo: "O que aconteceu no BPN é de tal maneira grave que é preciso tirar consequências. O BPN é de tal maneira uma organização criminosa que abusou da confiança dos outros que é preciso cortar as maçãs podres."

Menos vigorosos na vituperação, vários dirigentes do PSD, incluindo Rui Rio e António Capucho, aplaudiram a demissão do correligionário; até Luís Filipe Menezes (que abandonara a direção do PSD em 2008) tinha já apelado a ela. E Passos Coelho, então candidato derrotado à liderança do PSD e líder da oposição interna, não se eximiu de dizer (em novembro de 2008) de sua justiça: "Há um conjunto de polémicas que apontam para que alguém não está a falar verdade e isso é, de facto, um incómodo para a Presidência." Atacando a orientação da então líder Manuela Ferreira Leite, defendeu que o partido deveria "ter tomado a iniciativa de viabilizar uma comissão de inquérito". Para, viperino, prosseguir: "Ao não fazê-lo pode dar a ideia errada que protege alguma informação."

Dias Loureiro, frise-se, não fora ainda, à altura da demissão, constituído arguido no caso BPN - e até hoje de nada foi acusado formalmente. Alegou aliás ter-se limitado a assinar as contas da SLN que lhe punham à frente, "confiando" em Oliveira Costa. E jura que correu a informar o Banco de Portugal mal lhe surgiram suspeitas sobre o funcionamento do banco (o BdP nega). Não se lembrou, o pobre, de alegar que soubera das irregularidades e até assinara as contas sabendo disso - às tantas achou que tal seria confessar um crime -, mas "por prudência" esperara que alguém as denunciasse em vez dele e (o que é contraditório) que tinha enviado uma carta ao BdP a denunciar a marosca. Se calhar achou que teria de mostrar a carta ou assim - que parvo. Tivesse sido essa a sua defesa e, tudo leva a crer, em vez de apontado por Passos como proverbial mentiroso e por Portas como maçã podre e membro de uma organização criminosa, seria por eles convidado a fazer parte do mesmo governo.

Poderia até sonhar ouvir, na mesma assembleia onde foi questionado como membro de quadrilha, um pungente ministro descrevê-lo como vítima de "linchamento político".

O FEDERALISMO A DEMOCRACIA E AS ALTERNATIVAS




Jorge Bateira* – Jornal i, opinião – foto Thomas Peter/Reuters

Ao contrário do que habitualmente se pensa, desde o início que o caminho para o federalismo europeu foi determinado pela cultura alemã

O líder do Partido Socialista reivindicou esta semana “Uma Europa federal, onde cada Estado e cada pessoa estejam em pé de igualdade”. E especificou que precisamos de “um governo económico e político para que possa haver instrumentos eficazes para contrariar a crise que atravessamos”. Mas não há notícia de que tenha defendido um referendo sobre a escolha desse caminho. Nisso é fiel à história da “construção europeia”, a de evitar tanto quanto possível que o povo seja consultado e, quando o resultado não convém, repetir a consulta após pressões, negociações e pequenas cedências. Na lógica de Jean Monet, aproveita-se cada crise para avançar por “pequenos passos”. Acontece que o método está esgotado. Vejamos porquê.

A estratégia inicial de lançar processos de federalização política, económica e monetária em simultâneo, defendida em 1947 pelo economista Maurice Allais num congresso da União Europeia dos Federalistas, foi bem acolhida. Mas com o tempo foi substituída pela estratégia de unificação por etapas, que já era defendida em 1943 por um europeísta alemão que conspirou contra Hitler, Carl Friedrich Goerdeler: “Será imediatamente criada uma união económica europeia, com um conselho económico permanente. A unificação política não precederá, antes seguirá, a união económica.” Ao contrário do que habitualmente se pensa, desde o início que o caminho para o federalismo europeu foi determinado pela cultura alemã. Por isso o sonho de Delors de uma união orçamental com impostos federais e transferências entre estados, a par da união monetária, não era politicamente viável.

Chegados aqui, os europeus confrontam-se com escolhas decisivas sobre a concretização do sonho europeu. Uma das opções é a saída da crise através do federalismo: emissão de dívida supranacional; financiamento directo dos estados-membros pelo BCE; orçamento supranacional alimentado por impostos europeus, mas também responsável pelo pagamento de um conjunto de prestações sociais; um parlamento federal com duas câmaras, a dos deputados eleitos em sufrágio europeu e a dos representantes dos estados. Como sabemos, esta opção não encaixa na visão que os alemães têm de si próprios e do seu lugar no mundo. Mais ainda, a presente crise reduziu substancialmente o apoio eleitoral em vários países ricos a tudo o que signifique menos soberania nacional. Pior, o sonho federalista cria a expectativa de que a Alemanha ainda poderá aceitar, em tempo útil, uma solução supranacional para a crise. Por isso retira credibilidade e força negocial às forças políticas que nas periferias se opõem ao desastre social.

Aceitar o caminho imposto pela Alemanha também é uma opção. À política monetária única junta-se uma instância intergovernamental (governo económico) que exercerá a tutela dos orçamentos e das políticas económicas dos estados tendo em vista eliminar a respectiva política orçamental e vinculá-los ao modelo do ordoliberalismo germânico, se necessário com a ajuda do Tribunal de Justiça. Como está à vista, esta opção não só elimina a possibilidade de qualquer estado-membro adoptar políticas de promoção do crescimento económico pelo lado da procura, como lança na recessão a própria zona euro. Mais ainda, para se furtarem ao juízo democrático, os poderes supranacionais travam a realização de referendos (caso da Grécia) e exigem aos países em crise governos chefiados por políticos neoliberais, de preferência com currículo no mundo da finança. No mínimo, social-liberais respeitadores dos tratados. A evolução do desemprego, o clamor da rua e os resultados eleitorais acabarão por pôr em causa esta opção.

*Economista, co-autor do blogue Ladrões de Bicicletas

Escreve quinzenalmente à quinta-feira

Reino Unido: UE com menos peso no ensino ao revelar “preconceitos de integração”




The Daily Telegraph - 8 fevereiro 2013 - Presseurop

“UE retirada dos programas nacionais pelo receio de as aulas, na realidade, revelarem preconceitos em relação à integração europeia”, clama o Daily Telegraph na primeira página, no seguimento da notícia da eliminação, no ensino de Geografia no Reino Unido, de todas as referências à união política e económica. 

Este documento substitui o programa criado pelo anterior Governo trabalhista, no qual se exigia que os alunos, até ao secundário, estudassem a União Europeia. O diário refere que os funcionários do Governo consideram que a União Europeia é um bloco político e económico e que, por isso, não deve ser mencionada nas aulas de Geografia.

As novas matérias de História e Cidadania fazem referência à relação do Reino Unido com a Europa, mas omitem qualquer referência à União Europeia. É provável que estas notícias agradem aos conservadores eurocéticos poucas semanas depois de David Cameron ter prometido um referendo sobre a permanência na UE se os Tories ganharem as próximas eleições gerais.

URÂNIO: O NOME DO INTERESSE DA FRANÇA NA ÁFRICA




Há um mês, o presidente socialista repete que a França não tem interesses no Mali. A principal riqueza deste país da África é o ouro, que representa mais de 70% de suas exportações. No entanto, a França tem sim interesses muito perto do Mali, a saber, em Níger, quarto produtor mundial de urânio. Cerca de 75% da energia que se consome na França é de origem nuclear. E 30% do urânio que o país consome vem do Níger. A análise é de Eduardo Febbro, em Paris, para a Carta Maior

Eduardo Febbro - Carta Maior

Paris - A França começará a reduzir o contingente militar deslocado até o Mali a partir do próximo mês de março. O ministro francês de Relações Exteriores, Laurent Fabius, deu esta informação e esclareceu que esse calendário será respeitado “se tudo ocorrer como está previsto”. Nada, porém, é seguro. A operação Serval que a França lançou no dia 11 de janeiro com o objetivo de bloquear a ofensiva na direção do sul do Mali dos grupos armados islâmicos está cheia de incógnitas. Desde que a França entrou no jogo as grandes cidades do norte do Mali, como Gao ou Tombuctú, foram recuperadas. Com isso se colocou fim ao controle que os jihadistas ligados a Al Qaeda exerciam sobre o Azawad, o vasto território do norte do Mali que os grupos armados tem sob seu controle há quase dez meses. 

Em uma entrevista publicada pelo diário gratuito Metro, o chefe da diplomacia francesa declarou que “a França não tem por vocação ficar permanentemente no Mali. (...) São os africanos e a população do Mali que devem ser os garantidores da segurança, da integridade territorial e da soberania do país”.

O cenário mais plausível indica que a França conserve forças no Mali, enquanto se completa o deslocamento da Misma, a missão militar africana composta por 6 mil soldados, 2 mil dos quais já estão operando no terreno. No entanto, mesmo assim a aposta de “garantir a segurança e a integridade territorial” parece inalcançável. Em primeiro lugar, o exército do Mali encontra-se em um estado de ruína absoluta. Sua força aérea conta com apenas três helicópteros fabricados na Ucrânia em condições de voar. 

Fontes militares francesas citadas pelo Le Monde asseguram que menos de 1.500 homens participam na reconquista do território. Um testemunho de um militar do Mali citado pelo mesmo diário reflete o abismo da situação: “há meses, graças a fotos de satélites, sabíamos que a menos de 15 quilômetros de nossas posições havia uma base da Al Qaeda no Magreb islâmico, mas o poder político não fez nada: preferiu discutir com eles a liberação dos reféns ocidentais e cobrar uma porcentagem dos resgates. Logo depois do golpe de estado de março de 2012, Mali ficou sem presidente e com um sistema político à deriva.

Em segundo lugar, a famosa força da missão militar africana também é uma aposta incerta. Os quase 6 mil soldados da Misma provém da Comunidade Econômica dos Estados da África do Oeste (Cedao). A quase totalidade desses exércitos são oriundos de países extremamente pobres, mal armados, e muitos estão, além disso, comprometidos com o narcotráfico e a corrupção. A missão africana está sob o comando do general nigeriano Shehu Abdulkadi, um homem em quem os ocidentais não têm muita confiança. A este quadro sombrio se soma um temor legítimo: o comportamento desses soldados. Desde os anos 70, as intervenções de coalizões militares africanas deixaram uma trilha de violações, saques e abusos de todo tipo (Chade, Libéria, Serra Leoa).

As autoridades francesas fizeram esta semana pela primeira vez um balanço das vítimas dos bombardeios e combates. Sem adiantar uma cifra precisa, o Ministério francês da Defesa falou da morte de “várias centenas” de combatentes islâmicos. A nebulosa que cobre a operação Serval é densa. Desconhece-se o real custo econômico, a duração concreta da operação e seu objetivo completo. O governo socialista tem sido muito cuidadoso e evitou mostrar imagens dos combates ou dos bombardeios. Há um mês, o presidente socialista repete que a França não tem interesses no Mali. A principal riqueza deste país da África é o ouro, que representa mais de 70% de suas exportações e em cuja participação o Estado tem uma participação mínima de 20%. O resto está em mãos de empresas sul-africanas, australianas e canadenses. 

No entanto, a França tem sim interesses muito perto do Mali, a saber, em Níger. Este país, que é o quarto produtor mundial de urânio, já sofreu os ataques dos militantes islâmicos. No final de janeiro, Paris enviou tropas especiais ao Níger para proteger as mias de urânio de Arlit, exploradas pela multinacional nuclear francesa Areva. Há mais de dois anos cinco técnicos franceses foram sequestrados nessa planta por um comando da Al Qaeda. A instabilidade no Mali, com quem Níger compartilha mais de 800 quilômetros de fronteira, é uma ameaça para o fornecimento de urânio que a França precisa para o funcionamento de suas 58 centrais nucleares. Cerca de 75% da energia que se consome na França é de origem nuclear. E 30% do urânio que o país consome vem do Níger, onde, através de Areva, a França explora as duas principais minas: a de Arlit e a de Akokan.

Níger é o quarto produtor mundial de urânio e um dos países mais pobres do mundo: figura no 170º lugar na lista de 192 países elaborada pelas Nações Unidas. Limpando o norte do Mali da presença dos grupos armados islâmicos, Paris põe um cadeado em Níger e protege a exploração de urânio.

Tradução: Katarina Peixoto

54 PAÍSES, TORTURA & CIA ILIMITADA




Relatório da Open Society Foundations, ligada ao arquimilionário George Soros, traz 216 páginas em que se reúnem casos de 136 “cidadãos do mundo” sequestrados a mando da CIA norte-americana, em diferentes países, levados para diferentes países, neles eventualmente torturados, alguns terminando a trajetória na infame Guantánamo. Para isso, 54 governos colaboraram com a CIA e os EUA. O artigo é de Flávio Aguiar, de Berlim, para a Carta Maior

Flávio Aguiar - Carta Maior

Berlim - O relatório, divulgado esta semana, é devastador. São 216 páginas reunindo os casos de 136 “cidadãos do mundo” sequestrados a mando da CIA norte-americana, em diferentes países, levados para diferentes países, neles eventualmente torturados, alguns terminando a trajetória na infame Guantánamo, ainda não fechada. São 54 países nomeados, que colaboraram com a CIA e os EUA neste trajeto hediondo de crimes contra a humanidade e contra as normas dos direitos nacionais e do direito internacional. O relatório pode ser encontrado aqui:


Em tempo: a Open Society Foundations é uma rede de fundações de direito privado, fundada pelo arquimilionário George Soros. Sei que diante disso muitos torcerão o nariz – mas antes que virem o rosto para o outro lado, prestem atenção nas informações.

Muitas delas já circulavam na mídia e na internet. Mas é a primeira vez que aparecem em conjunto e sistematizadas dessa forma. Seu nome é “Open Society Justice Initiative – Globalizing Torture”, e sua operação conceitual é demonstrar que a luta antiterrorista, baseada na tortura e na violação do conceito mesmo de direito, iniciada pelom governo Bush é inócua, a não ser do ponto de vista de corroer instituições governamentais e a credibilidade dos Estados Unidos por onde passe.

O relatório abre com uma citação do então vice-presidente dos Estados Unidos, Dick Chaney, feita em 2001:

“We also have to work, through, sort of the dark side, if you will.
We’ve got to spend time in the shadows in the intelligence world.
A lot of what needs to be done here will have to be done quietly, without any
discussion, using sources and methods that are available to our intelligence
agencies, if we’re going to be successful. That’s the world these folks operate
in, and so it’s going to be vital for us to use any means at
our disposal, basically, to achieve our objective.”
U .S. Vice President Dick Cheney, September 16, 2001.

Ou seja:

“Nós também temos de trabalhar através, digamos, desse lado trevoso, se vocês quiserem. Nós temos de passar algum tempo nas trevas do mundo dos serviços de inteligência. Muito do que deverá ser feito aqui deverá ser feito em silêncio, sem muita discussão, utilizando fontes e métodos que estão disponíveis para nossas agências de inteligência, se nós quisermos ter sucesso. Este é o mundo em que essa gente opera, e assim será vital para nós o uso de quaisquer meios ao nosso alcance para atingirmos nosso objetivo”.

Chaney está abrindo as portas – legalmente, porque antes elas já estavam abertas – do inferno, não para que as almas de lá saiam, como fez Cristo na História Sagrada, mas para que lá os suspeitos e acusados entrem, o inferno dos sequestros, das torturas clandestinas, novamente, como no tempo do nazismo, da “barbárie” descoberta no coração da “civilização”. Com base em documentos, o relatório afirma que 54 países colaboraram, de uma ou outra maneira, com as operações decorrentes, seja permitindo os sequestros, os executando, sendo cúmplices neles, permitndo o tráfego (tráfico?) oculto das vítimas, mantendo prisões clandestinas, praticando torturas, ou as estimulando através de auxílio nos interrogatórios:

Afeganistão, África do Sul, Albania, Argélia, Austrália, Áustria, Alemanha, Arábia Saudita, Azerbaijão, Belgica, Bosnia-Herzegovina, Canadá, Croacia, Chipre, República Tcheca, Dinamarca, Djibouti, Egito, Emirados Árabes, Espanha, Etiópia, Finlândia, Gâmbia, Georgia, Grécia, Hong Kong, Islândia, Indonésia, Irã, Irlanda, Itália, Jordânia, Kenya, Libia, Lituania, Macedonia, Malawi, Malasia, Mauritânia, Marrocos, Paquistão, Polônia, Portugal, Reino Unido, Romênia, Somália, Sri Lanka, Suécia, Síria, Tailândia, Turquia, Uzbequistão, Yemen, Zimbábue.

Algumas (várias) observações:

1) A esmagadora maioria das operações se refere ao governo de George Bush Filho.

2) Em muitos desses países os governos que colaboraram com a política dos EUA/CIA foram substituídos por outros.

3) Causa espanto ver alguns dos países listados. Por exemplo: a Líbia listada era a de Muammar Ghadaffi, depois deposto e assassinado – melhor, linchado, com a cooperação pró-ativa do Ocidente. A Síria listada é a Síria de Bashar al-Assad, hoje hostilizado por esse mesmo Ocidente e com o governo (não sei se a cabeça) posto a prêmio em nível internacional.

4) Que faz o Irã nesse meio? 

5) Não há (felizmente) nenhum país latino-americano listado, nem mesmo aqueles que mais se alinhavam ou se alinham com a política norte-americana, como México, Colômbia, Chile, Peru. 

6) O relatório critica o governo de Barack Obama por ter se limitado a exigir, por via diplomática, garantias de que os centros de tortura e prisão não estariam mais sendo utilizados. Diz o relatório que seria necessária uma atitude mais vigorosa, investigando se essas práticas deixaram de fato de acontecer e os centros foram fechados. Mas como, até agora, os EUA sequer fecharam Guantánamo, talvez seja demais pedir tanto...

7) O relatório aponta suspeitas de que a CIA (coibida por uma proibição do governo atual), ainda que diminuindo o ritmo de tais práticas, tornando-as ocasionais, continue a exercê-las secretamente na Somália, no Afeganistão e até a bordo de navios da Marinha Norte-Americana.

8) O relatório assinala alguns (poucos) pontos positivos. A) A Itália foi até agora o único país a condenar agentes por tais práticas. B) O Canadá foi o único país a pedir desculpas oficialmente a um detido nestas circunstâncias, no caso, Maher Arar. C) O Canadá, a Suécia, a Austrália e o Reino Unido foram os únicos países a dar compensações às vítimas, ainda que nos dois últimos casos mediante desistência de ações legais por parte delas. O relatório destaca o papel negativo do Judiciário norte-americano, dispensando o exame de casos que “poderiam prejudicar a segurança nacional”, e o papel positivo da Corte Européia de Direitos Humanos, que vem aceitando o exame de casos apresentados pelas vítimas.

Portugal: ATÉ QUANDO VÃO OS BANQUEIROS GOZAR CONNOSCO?




Tiago Mesquita – Expresso, opinião

Os banqueiros da nossa praça aparecem incessantemente na televisão a carpir mágoas. Fernando Ulrich chega a dizer que "aquela situação (sem-abrigo) eu também posso vir a passar ou a minha família". A crise é, para estes senhores, uma espécie de febre dos fenos, um vírus para o qual não contribuiriam em nada em termos de propagação e, como bons doutores que são, limitam-se a dar sugestões e orientações ao governo de possíveis tratamentos. Sempre a bem do país - obviamente. Nada por eles, tudo pela Nação.

Já os governos, são o mordomo acéfalo que obedece cegamente aos senhores da banca. Marionetas financeiras. Ricardo Salgado, o verdadeiro primeiro-ministro, Ulrich, entre outros banqueiros da praça, 'fazem' e 'desfazem' sucessivos executivos, conforme as conveniências. Independentemente das orientações políticas, fazem destes o que bem entendem. E obtêm, sempre e sem exceção, o que pretendem.

É preciso salvar o BPN ou morremos todos à fome. Nacionalize-se. Resultado? Sete mil milhões de euros dos contribuintes para pagar as avarias de meia dúzia de criminosos. CORRUPTOS. O BPN deveria ter falido, ponto final.  É preciso salvar o Banif? Mais 1,100 milhões euros. Recapitalizar o BPI e a CGD? Tomem lá 3 mil milhões e dividam. Para estes senhores há sempre dinheiro. Com ou sem crise. Com boa ou miserável gestão, estão sempre safos.

"O Santander, presidido por António Vieira Monteiro, registou de 2011 para 2012 um aumento superior a 200% de 63,9 milhões para 250 milhões de euros."

"O BPI registou lucros consolidados de 249,1 milhões de euros em 2012, em comparação com prejuízos de 284,9 milhões no ano anterior".

"O BES atingiu no total de 2012 um lucro de 96,1 milhões de euros, invertendo os prejuízos de 108,8 milhões de euros de 2011."

Tendo em conta o cenário económico dantesco de recessão que atravessamos, com níveis de desemprego e de falência absolutamente recordes, expliquem-me como é possível apresentarem estes resultados e, não satisfeitos, ainda terem o desplante de falar em "austeridade necessária"?

São estas pessoas, que despedem centenas de funcionários no mesmo ano em que pedem dinheiro ao ESTADO e apresentam lucros milionários, no pior ano de austeridade de que há memória, que nos dão lições de moral? Até quando vão estes senhores continuar a gozar connosco?

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