domingo, 26 de agosto de 2012

DA EUFORIA À DEPRESSÃO CAPITALISTA

 

Emir Sader – Carta Maior, em Blog do Emir
 
A euforia capitalista dos anos 1990 levou à teoria da “new economics”. O capitalismo, marcado por suas crises cíclicas, deixaria de sofrê-las, para passar a uma fase sem crises.

Os novos desenvolvimentos tecnológicos impulsionariam um ciclo contínuo de desenvolvimento econômico, com a computação tendo o duplo papel de puxar uma demanda que se igualaria a do automóvel no século passado – incluindo um modelo novo anual -, ao mesmo tempo que permitiria prever antecipadamente os gargalos que permitiriam prever e solucionar preventivamente as crises.

A própria possibilidade de quaisquer garotos abrirem uma empresa na garagem de casa e a transformarem em uma empresa de sucesso mundial, quase sem capital inicial, seria a demonstração da pujança econômica do capitalismo e do caráter de “sociedades abertas” das sociedades capitalistas.

Essa festança acabou logo, com a crise de 2000, que desmentiu as teses e fez com que os teóricos da “new economics” partissem para outra moda, também de curta duração. As crises voltaram, com ela as recessões, até que se desembocou na prolongada e profunda crise atual, iniciada em 2007.

Tal como a bomba de tempo da febre de internet, desta vez a bolha de consumo girou em torno do setor imobiliário. Para tentar suprir, pelo menos temporariamente, o desequilíbrio entre produção e consumo, o sistema bancário foi ampliando os créditos, sabendo que nao correspondiam a capacidade real de pagamento por parte dos que os contratavam. Até que a pirâmide explodiu, todo o sistema imobiliário, ruiu, com milhões de pessoas sem conseguir pagar suas hipotecas, devolvendo os imóveis aos bancos, perdendo tudo, mas preferindo isso a continuar aumentando suas dividas.

As ruas da Califórnia se encheram de famílias morando nos seus carros, os bancos ficaram abarrotados de imóveis devolvidos, o sistema bancário chegou à beira do colapso, a recessão, através deste se propagou para o conjunto da economia. Os governos correram a salvar os bancos, com a ilusão de que os bancos salvariam os países. Os bancos se salvaram e no segundo ciclo da crise, a partir de 2011, os que quebraram foram os países.

A crise segue, sem horizonte de término, levando praticamente toda a economia europeia à recessão, enquanto países como os EUA e o Japäo permanecem entre crescimento zero e recessão.

Mas quando o capitalismo escancara suas contradições, seus limites, seu esgotamento, não surge no mundo ainda um modelo que o supere. A América Latina é a região que expressamente resiste – na maioria dos seus países – à hegemonia neoliberal, com Estados ativos que induzem o crescimento econômico e seguem ampliando suas políticas sociais, baseados em alianças regionais e com o Sul do mundo. Mas não tem o continente força própria para desenvolver um modelo alternativo ao neoliberalismo em escala mundial. Resiste, o que faz da América Latina a região de resistência ao polo neoliberal que ainda domina o centro do sistema.

Vivemos por isso um tempo de turbulências, mais ou menos prolongadas, até que um modelo e forças alternativas – que certamente terão a América Latina como um de seus protagonistas essenciais – possam conseguir construir uma alternativa ao capitalismo decadente.
 

IMPASSES JURÍDICOS MARCAM CASO ASSANGE, diz advogada

 


Em entrevista à Carta Maior, a advogada Rebecca Niblock, do escritório Kingsley Napley, analisa as opções legais e diplomáticas envolvendo a asituação do fundador do Wikileaks e aponta vários impasses. Para ela, o governo britânico não tem opções legais para obrigar o Equador a lhe entregar Assange, mas o Equador tem poucas chances de conseguir tirá-lo da embaixada mediante um recurso à Corte Internacional de Justiça. "Este caso já teve guinadas surpreendentes. A saída pode vir por uma via que ninguém pode prever". A reportagem é de Marcelo Justo, direto de Londres.
 
Marcelo Justo, Londres - Carta Maior
 
Londres - Nove dias depois de o governo de Rafael Correa ter concedido asilo diplomático a Julian Assange, seu destino é tão incerto como quando decidiu, há dois meses, ingressar na embaixada equatoriana. O governo britânico e o equatoriano manifestaram-se abertos ao diálogo, mas é difícil vislumbrar um meio termo entre as posições de ambas as partes. A Carta Maior conversou com uma especialista em extradição, a advogada Rebecca Niblock, do escritório Kingsley Napley, para analisar as opções legais e diplomáticas que se abrem para uma solução.

O Equador pode forçar legalmente o Reino Unido a conceder um salvo conduto para Julian Assange?

O Equador pode iniciar uma ação na Corte Internacional de Justiça. Legalmente só um país pode fazê-lo: um indivíduo, neste caso Assange, não pode iniciar uma demanda neste nível. Mas não creio que o Equador possa ter êxito em uma iniciativa como esta por duas razões. Primeiro porque não se pode definir Assange como um refugiado, pois, segundo a convenção que rege esse tema, refugiado é alguém que está fora de seu país e que é perseguido por sua própria nação. Seria preciso demonstrar que a Austrália não o protege e que, na verdade, o persegue. A segunda razão é que há um artigo da convenção, o 1F, que estipula que alguém que cometeu um delito grave não político fora do país no qual solicita refúgio não está coberto pela convenção.

Que opções legais tem o Reino Unido para que o Equador lhe entregue Assange?

Não tem opções reais. O governo mencionou uma lei de 1987, o Diplomatic and Consular Premises Act, que permite revogar o status diplomático de um edifício, mas é extremamente improvável que se atreva a usar essa lei pelo precedente que criaria e também porque a lei diz que o chanceler tem que levar em consideração a Convenção de Viena sobre relações diplomáticas. Esta convenção não só estipula que uma embaixada é inviolável, como também que o Estado tem o dever de custodiar e garantir a sua segurança contra o perigo da invasão ou danificação.

É necessária a autorização de um juiz para revogar a imunidade diplomática da embaixada?

Não, não é necessário. O governo pode buscá-la para demonstrar que está agindo de acordo com a lei, mas não há nenhuma previsão específica que estipule que deve pedir a autorização a um juiz. Segundo a lei, há três elementos que podem levar à revogação do status diplomático de um edifício, sempre que isso não violar a Convenção de Viena: A segurança da população, a segurança nacional e temas de planejamento urbanístico. Este último se refere ao fato de que, em 1987, havia edifícios diplomáticos que tinham sido praticamente abandonados, como a embaixada do Camboja, na época de Pol Pot.

Por que o governo britânico ameaçou o Equador com a aplicação desta lei?

Creio que os britânicos foram surpreendidos pelo fato de o Equador ter divulgado essa informação que fazia parte das negociações. Ao meu juízo, não foi um movimento muito inteligente da chancelaria britânica, mas penso que, mais do que uma ameaça real, era um blefe, uma tentativa de convencer o Equador a não conceder o asilo diplomático a Assange.

Qual a saída para essa situação?

Não sei. Minha impressão é que este caso já teve tantas guinadas inesperadas e surpreendentes, que seguramente a saída virá por uma via que ninguém pode prever. Não vejo Assange permanecendo 15 anos na embaixada equatoriana como ocorreu como o cardeal Jozesf Mindszenty, na Hungria.

Uma coisa que não se entende é por que a Suécia não o interroga por vídeo link ou pessoalmente no Reino Unido. Afinal de contas, a Suécia não o acusou de nada: só quer interrogá-lo.

A Justiça sueca funciona de uma maneira diferente da britânica. Geralmente se formulam acusações ao final de todo o processo. Mas a polícia sueca não quer só interrogá-lo, mas quer fazê-lo porque ele foi acusado de um delito grave. Na Europa o tema da extradição foi muito agilizado com a lei de ordem de prisão europeia, aprovada em 2003, após os atentados de 11 de setembro. Esta lei procura facilitar a extradição entre países europeus reconhecendo que, se é verdade que os sistemas judiciais podem ter diferenças, todos funcionam respeitando os princípios básicos da justiça. Na Europa, isso faz com que o processo seja mais uma rendição ou entrega de um país para outro do que uma extradição.

Qual a sua avaliação sobre esse caso em particular?

Desde um ponto de vista legal, é um caso muito interessante. Por um lado, não gostaria de ser extraditada aos Estados Unidos e há muitas razões para que Assange pense que os EUA buscarão sua extradição, caso ele seja extraditado para a Suécia. Por outro lado, ele está sendo acusado de um delito muito grave. Creio que não foi dada a devida importância a este último fator.

Tradução: Katarina Peixoto
 

“QUEREM VENCER ASSANGE PELO CANSAÇO”

 


Para Noam Chomsky, chances de julgamento justo nos EUA são “virtualmente zero”; e invasão da embaixada não deve ser descartada
 
By Noam Chomsky - Entrevista a José Maria León, do Gkillcity - Tradução: Cauê Ameni – Outras Palavras
 
Aos 83 anos, o linguista e sociólogo Noam Chomsky permanece ativo e irreverente. Uma vasta agenda, na qual pedidos de entrevistas às vezes aguardam por meses, não o impediu de responder por e-mail, em 19 de agosto, a perguntas enviadas por José Maria León, do site equatoriano GkillCity. Os editores são de Guayaquil – cidade mais populosa de seu país (3,5 milhões), praieira, musical e noturna.
 
“Porque nada temos, tudo faremos”, anuncia o slogan de GkillCity, que se dedica à cultura, à política e à defesa da liberdade na internet. Sua intrépida equipe pode ser conhecida aqui. José Maria, que enviou a Chomsky quatro perguntas por e-mail, é uma espécie de editor e mantém um blog em que comenta cada nova leva de textos. Apesar de também satírico (ou exatamente por isso…), o site propõe-se a debater o Equador e o mundo travas. A entrevista a seguir o demonstra. (A.M.)

O governo norte-americano emitiu nota em que declara que este assunto Julian Assange é um problema de britânicos, equatorianos e suecos. Você acha esse argumento honesto? Os EUA estão interessados no destino do criador do Wikileaks?
 
A declaração não pode ser levada a sério. A sombra que paira sobre todo este assunto é a expectativa de que a Suécia envie rapidamente Assange para os EUA, onde as chances de ele receber um julgamento justo são virtualmente zero. Tudo isso é evidente a partir do tratamento brutal e ilegal dado a Bradley Manning [o soldado norte-americano acusado de ter vazado as informações mais importantes que o Wikileaks publicou], e a histeria geral com que o governo e a mídia vê tratando o caso. Além disso, do ponto de vista de quem acredita no direito dos cidadãos a saber o que seus governos planejam e fazem – ou seja, de quem tem afeto pela pela democracia – Assange não deveria receber um julgamento, mas uma medalha de honra.
 
Numa entrevista com Amy Goodman para o Democracy Now!, você afirmou que a principal razão para os segredos mantidos pelos Estados é se proteger de sua própria população. É a primeira vez na história em que o mundo enxerga as verdadeiras cores da diplomacia?
 
Qualquer um que estuda documentos cujo prazo de sigilo expirou, percebe que o segredo é, em grande parte, um esforço para proteger os políticos de seus próprios cidadãos – e não o pais de seus inimigos. Sem duvida o segredo é por vezes justificado, mas é raro – e no caso dos documentos exposto pelo Wikileaks, eu não vi um único exemplo disto.
 
Esta não é – de maneira nenhuma – a primeira vez que as verdadeiras “cores da diplomacia” foram expostas por documentos divulgados. Os Pentagon papers são um caso famoso. Mas a questão é que se trata de um tema recorrente. As informações contidas inclusive nos documentos desclassificados oficialmente são, em geral, muito impressionantes. Porém, muito raramente estas informações tornam-se conhecidas pelo público – e até pela maior parte dos acadêmicos.
 
Sobre o asilo oferecido pelo Equador para Assange, aponta-se uma ambiguidade na atitude do governo de Rafael Correa. Por um lado, manteria confronto retórico constante com a mídia (estando em disputa judicial com o diário El Universo e o jornalista Juan Carlos Calderón e Christian Zurita, autores do livro Big Brother). Por outro, defende Julian Assange. Você também vê uma contradição nisso?
 
Pessoalmente, acho que só em circunstancias extremas o poder do Estado deveria limitar a liberdade de imprensa – não importando, a esse respeito, quão vergonhoso e corrupto seja o comportamento da mídia. Não há dúvida que houve vários graves abusos – por exemplo, quando as leis de difamação inglesa, foram usadas por uma grande empresa midiática para destruir um pequeno jornal dissidente, que publicou uma critica a uma de suas matérias sobre um escândalo internacional. Ocorreu há alguns anos, e não despertou praticamente nenhuma critica. O caso do Equador tem de ser analisando em seus próprios méritos, mas qualquer que seja a conclusão, não há qualquer influência em dar asilo ao Assange; assim como a supressão vergonhosa da liberdade de imprensa, no caso que mencionei, não deveria pesar, se a Grã-Bretanha de concedesse o direito de asilo a alguém que teme perseguição estatal. Nem ninguém afirmaria o contrário, no caso de um poderoso Estado ocidental.
 
Já que estamos falando de ambiguidade, haveria um duplo padrão na aplicação das leis pelos britânicos, já que no caso de Pinochet o pedido de extradição solicitado por Baltazar Garzón foi negado?
 
O padrão reinante é subordinado aos interesses de poder. Raramente há uma exceção.
 
Qual é, na sua opinião, o futuro imediato no caso Assange? A polícia britânica invadirá a embaixada equatoriana? Assange será capaz de deixar a Inglaterra? Mais tarde, estará em perigo, mesmo recebido pelo Equador?
 
Não há praticamente nenhuma possibilidade de Assange sair do Reino Unido, ou da embaixada. Duvido bastante que a Inglaterra invada o território, uma violação radical do direito internacional – mas esta hipótese não pode ser descartada. Vale lembrar o ataque contra a embaixada do Vaticano, por forças norte-americanas, depois da invasão no Panamá, em 1989. As grandes potências normalmente consideram-se imunes à lei internacional; e as classes próximas ao poder costumam proteger essa postura. Ao meu ver, a Inglaterra tentará vencer Assange pelo cansaço, esperando que ele não consiga suportar o confinamento em um pequeno quarto na embaixada.
 
Em um aspecto mais amplo, Slavoj Zizek disse que não estamos destruindo o capitalismo, mas apenas testemunhando como o sistema destrói a si mesmo. Seriam os movimentos do Occupy, a crise financeira na Europa e nos EUA, a ascensão da América Latina e outros países marginais ou o caso Wikileaks sinais, sinais deste desmoronamento?
 
Longe disso. A crise financeira na Europa poderia ser resolvida, mas esta sendo usada como uma alavanca para minar o contrato social europeu. É basicamente um caso de guerra de classes. A atuação do banco central dos EUA (o Federal Reserve) é melhor do que a do europeu, mas é muito limitada. Outras medidas poderiam aliviar a grave crise no EUA, principalmente o desemprego. Para a maior parte da população, o desemprego é a principal preocupação, mas para as instituições financeiras, que dominam a economia e o sistema político, o interesse esta em limitar o déficit, para permitir que prossiga o pagamento de juros. Em geral, há um enorme abismo entre a vontade pública e política. Este é apenas um caso. A ascensão da América Latina é um fenômeno de grande significado histórico, mas está longe de estremecer o sistema capitalista. Embora o Wikileaks e os movimentos Occupy sejam irritantes para os que estão no poder – e um grande apoio para o bem publico –, não são uma ameaça para os poderes dominantes.
 

Moçambique: GUEBUZA REÚNE-SE COM MUÇULMANOS, HINDUS E ISMAELITAS

 

Cancelada "greve"prevista para amanhã
 
Verdade (mz)
 
Representantes da Comunidade muçulmana, hindu e ismaelita em Maputo reuniram-se, na tarde deste domingo (26), com o presidente da República, Armando Guebuza.
 
Em cima da mesa estiveram os protestos anunciados por esta comunidade, tais como uma greve do sector empresarial e manifestações nas 11 capitais provinciais de Moçambique a 1 de Setembro.
 
Armando Guebuza deu garantias aos elementos presentes na reunião de "comprometimento pessoal" para resolver a problemática dos sequestros que têm vindo a assolar a comunidade muçulmana moçambicana.
 
Depois do encontro a Comunidade muçulmana, hindu e ismaelita decidiu suspender a "greve" comercial prevista para segunda-feira, mas mantêm a realização das manifestações no primeiro dia do próximo mês.
 

Moçambique: CC apoia recandidatura de Armando Guebuza a presidente do partido

 

MMT – Lusa, com foto
 
Maputo, 26 ago (Lusa) - O presidente da Frelimo, Armando Guebuza, vai apresentar a sua proposta de recandidatura à liderança do partido no poder em Moçambique no X Congresso desta força política, em setembro, decidiu hoje a sétima sessão do comité central.
 
No último dia da reunião do órgão, o Comité Central aprovou por "unanimidade e aclamação" uma resolução de apoio a recandidatura de Armando Guebuza ao cargo de presidente do partido no X Congresso, que se realizará entre 23 e 28 de setembro em Pemba, província de Cabo Delgado, no norte do país.
 
O comité central da Frelimo justificou a decisão de apoio à recandidatura com os "bons resultados" que a organização tem vindo a registar, sob liderança de Armando Guebuza, nomeadamente, no incremento de número de militantes e na boa governação do país.
 
Desde quinta-feira, o comité central da Frelimo avaliou a situação sociopolítica e económica do país, um balanço visando aferir o grau de cumprimento do programa aprovado no IX Congresso e preparar o X Congresso de 2012.
 
Falando no final do encontro, Armando Guebuza considerou que "a vida dos moçambicanos mudou para melhor desde 2006" e que a Frelimo "cresceu e prestigiou-se muito desde o IX Congreso".
 
O comité central da Frelimo analisou também a proposta do regimento do X Congresso, instrumento que vai regular a organização, procedimentos da reunião e todo o processo de participação, intervenções, trabalhos, sistema de uso da palavra e de eleição dos órgãos centrais.
 

Seguro desafia primeiro-ministro a explicar porque falhou e os portugueses cumpriram

 

EC – Lusa, com foto
 
Funchal, 26 ago (Lusa) - O secretário-geral do PS, António José Seguro, desafiou hoje o primeiro-ministro a revelar quais as medidas vai tomar para cumprir a meta do défice de 4,5 por cento em 2012 e a explicar o que falhou.
 
António José Seguro lançou este desafio quando intervinha na Festa da Liberdade promovida anualmente pelo PS-M na fonte do Bispo, na Calheta.
 
"Desde a Madeira, desafio o primeiro-ministro a explicar o que falhou, a dizer aos portugueses que medidas vai tomar para honrar o compromisso e a mudar a política do que custe o que custar que não está a resolver nenhum dos nossos problemas", disse.
 
Ao referir que a execução orçamental nos sete primeiros meses do ano registou uma quebra de receitas fiscais na ordem dos 3,5 por cento comparativamente ao período homólogo de 2011, António José Seguro declarou que "o primeiro-ministro não pode passar os primeiros meses deste ano a dizer que os portugueses têm de honrar o memorando da 'troika' e, depois de tantos sacrifícios pedidos, é o primeiro a falhar no cumprimento desses objetivos e desse Memorando".
 
Por isso, o secretário-geral do PS considerou que Pedro Passos Coelho deve uma explicação aos portugueses: "o Governo falhou e os portugueses cumpriram, a responsabilidade é do primeiro-ministro e do Governo que ele lidera no nosso país".
 
"Que assuma as suas responsabilidades e que preste contas aos portugueses", concluiu.
 
Relativamente à política regional, António José Seguro sublinhou que "o melhor contributo que se pode dar para a autonomia não é andar com a autonomia na boca, não é andar com a autonomia nos discursos de circunstancia, é, através dela, gerir melhor os dinheiros públicos, servir melhor as pessoas, lutar para tirar as pessoas da pobreza e não canalizar os recursos públicos para os amigos mas pô-los ao serviço da população".
 
"Esta não é altura para referendos e muito menos sobre a autonomia porque em Portugal não há nenhuma questão autonómica, a autonomia na Madeira e nos Açores está estabilizada, aquilo que é uma questão em Portugal é a incompetência do presidente do Governo Regional da Madeira e do da PSD-M na gestão dos dinheiros públicos", lembrou.
 
O presidente do PS-M, Vítor Freitas, disse, por seu lado, não admitir o fecho do centro regional da RTP-M, nem a sua passagem para o Governo Regional para não ser "o Jornal da Madeira televisionado".
 
Avisou ainda que os socialistas não vão aceitar a revisão da Lei das Finanças Regionais nas costas da Assembleia Legislativa e lembrou que, em 2013, há eleições autárquicas e que os madeirenses não devem voltar a votar naqueles que lançaram a região "para o poço".
 
O presidente do Grupo Parlamentar do PS-M, Carlos Pereira, salientou que a situação de crise e sacrifícios na Madeira resultavam da "falta de democracia" porque o parlamento não exerce a sua competência fiscalizadora por responsabilidade da maioria PSD-M.
 
Orlando Fernandes, líder da JS-M, condenou também a política do Governo Regional e anunciou a sua recandidatura a mais um mandato na liderança dos jovens socialistas.
 

Portugal: DEPOIS LOGO SE VÊ

 


Pedro Marques Lopes – Diário de Notícias, opinião
 
De muitas coisas se pode acusar este Governo, mas não de falta de criatividade ou de capacidade para surpreender.
 
Desta feita tivemos a novidade de assistir a um consultor do Governo a dar uma entrevista a um canal de televisão, em horário nobre, para nos explicar em que pé andam as privatizações. Ou seja, sobre um assunto importantíssimo para o País, convenhamos que as privatizações da TAP, ANA ou RTP não são propriamente temas de lana caprina, em vez de termos um ministro ou mesmo o próprio primeiro-ministro a informar os portugueses (e, já agora, o CDS) dos respectivos processos, aparece António Borges. Mas, tentemos compreender, até se entende a ida de António Borges à TVI para informar os cidadãos sobre os dossiers em causa: o ministro da Economia não sabe e o ministro para a Comunicação Social não pode.
 
Santos Pereira anda perdido num ministério ingovernável e só aceitou ser ministro de semelhante monstro por não ter o mínimo de experiência governativa ou empresarial. Como a sua gritante falta de capacidade para um cargo destes ficou logo à vista de toda a gente, Passos Coelho tratou de lhe tirar as suas atribuições espalhando-as por este ou aquele ministro e por um sem-numero de comissões e comités. Pode lá ele falar sobre a TAP ou privatizações e ser levado a sério por quem quer que seja.
 
Miguel Relvas não pode aparecer sem que não lhe façam perguntas incómodas sobre licenciaturas, serviços secretos, mentiras em inquéritos parlamentares e tudo mais. A sua popularidade e credibilidade junto do cidadão comum faz com que qualquer proposta vinda da sua boca seja imediatamente repudiada. Relvas é um zombie político. Pode ser essencial para Passos Coelho, e, como muito boa gente diz, o único ministro que não tem medo de tomar decisões, mas politicamente acabou. Não podia ser ele a apresentar o que quer que fosse sobre a RTP.
 
Mas, seja como for, o Governo demonstrou uma falta de respeito gritante pelos portugueses quando enviou um consultor falar sobre o destino a dar a empresas tão importantes como a RTP e a TAP. Além disso, como se fosse pouco, mostrou outro mal bem mais profundo que este Executivo vem amiúde revelando: não havia planos nenhuns para assuntos vitais da governação e foi preciso arranjar uns senhores muito inteligentes para dizer o que fazer. Havia assim umas ideias coladas a cuspo, decoradas à pressa e sem o mínimo de reflexão.
 
Não, longe disso, não é o facto de os dois ministros teoricamente responsáveis pelos dossiers não poderem aparecer e terem de mandar um consultor que, na ignorância deles, pensam ser mais credível, é sobretudo nós percebermos que afinal não havia nenhuma ideia para a privatização da TAP, ou que ninguém tinha pensado verdadeiramente o que fazer com a RTP.
 
O caso da RTP é chocante: aquela patética comissão, as notícias plantadas nos jornais sobre possíveis compradores, fica com este canal, vende o outro ou fica com este e vende o outro, e agora esta coisa que Borges conseguiu apresentar aparentemente sem um pingo de vergonha. Uma revolucionária solução em que o Estado cede uma estação de televisão e garante um lucro chorudo ao feliz contemplado que é pago com os impostos de todos nós. Genial. Não, não é bem uma PPP, é, para o investidor privado, muito melhor. Este fica com uma companhia com mais de cinquenta anos de vida, com um enorme prestígio, com um património tangível e intangível único e ainda lhe garantem uma rentabilidade que fará roer as unhas de inveja um qualquer concessionário de auto- -estradas.
 
É evidente que esta vergonha cairá no caixote do lixo das ideias, junto do fim da TSU e outras, que o Governo manda "cá para fora" para serem testadas. A comunidade ainda não está suficientemente adormecida para deixar passar uma coisa destas. Todo este processo é dum experimentalismo bacoco, duma falta de sentido de Estado, duma evidente impreparação, que assusta o mais crente nas qualidades deste Governo. Onde estão afinal as milhares de páginas de planos? As contribuições dos diversos grupos de trabalho? As ideias sólidas sobre o que fazer com a televisão pública? Eram precisos consultores para mostrar que a privatização da RTP não valia um chavo?
 
António Borges prestou-se, mais uma vez, a um triste papel: o de mostrar que afinal Passos Coelho e a sua equipa não sabiam o que fazer em questões fulcrais e mentiram dizendo que sabiam. O drama é que ainda não sabem e não é só, infelizmente, no caso da RTP.
 

GOVERNO FAZ DOS PORTUGUESES UMAS BESTAS!

 


Orlando Castro*, jornalista – Alto Hama*
 
A propósito da venda ao desbarato da RTP, o ministro português da Defesa, José Pedro Aguiar Branco, diz que o Governo, o seu Governo, “cumpre as promessas que faz”.
 
Pelos vistos terá também prometido, seja no caso da RTP, do BPN ou de outros, pagar para que alguém compre com esse dinheiro o que o Governo quer vender.
 
Mas, por agora, importa mesmo perguntar se Aguiar Branco quando diz que o Governo “cumpre as promessas que faz” está, por acaso, a incluir o primeiro-ministro.
 
Isto porque Passos Coelho desde há muito que adoptou a técnica de José Sócrates, que tanto criticou, de dizer às segundas, quartas e sextas e uma coisa, e às terças, quintas e sábados outra. Sendo que ao domingo, como convém, vai à missa tomar a hóstia que tira todos os pecados do mundo.
 
“Aqueles que são responsáveis pelo resvalar da despesa têm de ser civil e criminalmente responsáveis pelos seus actos”, prometeu em tempos, num pontal qualquer do pântano português, Passos Coelho. Quando será que “cumpre as promessas que faz”?
 
Ao que parece, apesar de todos os antecedentes, ainda há quem dê o benefício da dúvida ao primeiro-ministro. A ingenuidade e a falta de memória têm altos custos. É caso para perguntar a Passos Coelho o que ele perguntou aos portugueses sobre José Sócrates: “Como é possível manter um governo em que um primeiro-ministro mente?”
 
Mentir é, aliás, uma forma de vida de Passos Coelho. Em tempos ele afirmou: “Estas medidas põem o país a pão e água. Não se põe um país a pão e água por precaução”. Resultado? Pôs os portugueses a água mas cada vez mais sem pão.
 
Foi ele quem disse: “Estamos disponíveis para soluções positivas, não para penhorar futuro tapando com impostos o que não se corta na despesa”. Resultado? Pôs os portugueses a pagar mais impostos, penhorando até o futuro dos filhos e netos.
 
Foi Passos Coelho quem disse: “Aceitarei reduções nas deduções no dia em que o Governo anunciar que vai reduzir a carga fiscal às famílias”. Resultado? Acabou com as deduções e aumentou a carga fiscal das famílias.
 
Foi ele quem disse: “Aqueles que são responsáveis pelo resvalar da despesa têm de ser civil e criminalmente responsáveis pelos seus actos”. Resultado? As despesas resvalaram e de que maneira mas, como dono do país, mandou às malvas essa ideia de os autores serem civil e criminalmente responsabilizados.
 
Foi Passos Coelho quem disse: “Ninguém nos verá impor sacrifícios aos que mais precisam. Os que têm mais terão que ajudar os que têm menos”. Resultado? Continua a trabalhar em prol dos poucos que têm milhões, esquecendo totalmente os milhões que, por sua culpa, têm pouco ou nada.
 
Quando será que “cumpre as promessas que fez”?
 
Também foi ele quem disse: “Queremos transferir parte dos sacrifícios que se exigem às famílias e às empresas para o Estado. Já estamos fartos de um Governo que nunca sabe o que diz e nunca sabe o que assina em nome de Portugal”. Resultado? O Estado transferiu os sacrifícios que lhe deviam caber para as famílias e para as empresas.
 
Foi Passos Coelho quem disse: “Para salvaguardar a coesão social prefiro onerar escalões mais elevados de IRS de modo a desonerar a classe média e baixa”. Resultado? Pura e simplesmente acabou com a classe média, atirando-a para o nível do lixo.
 
Foi igualmente o actual primeiro-ministro quem disse: “Se formos Governo, posso garantir que não será necessário despedir pessoas nem cortar mais salários para sanear o sistema português”. Resultado? Despedimentos nunca vistos, desemprego em níveis históricos, cortes nos salários e nos subsídios.
 
Foi a mesma criatura quem disse: “A ideia que se foi gerando de que o PSD vai aumentar o IVA não tem fundamento. A pior coisa é ter um Governo fraco. Um Governo mais forte imporá menos sacrifícios aos contribuintes e aos cidadãos”. Resultado? Aumentos brutais do IVA, imposição de terríveis sacrifícios aos cidadãos.
 
O mesmo Passos Coelho também disse: “Não aceitaremos chantagens de estabilidade, não aceitamos o clima emocional de que quem não está caladinho não é patriota”. Resultado? Chantagens e mais chantagens. Pressões e mais pressões. Institucionalização do princípio de que até prova em contrário todos são culpados.
 
Passos Coelho foi ainda quem afirmou: “Já ouvi o primeiro-ministro dizer que o PSD quer acabar com o 13º mês, mas nós nunca falámos disso e é um disparate”. Resultado? Que cada um olhe para o que se passa consigo. Basta isso.
 
Então como é? Quando será que o Governo “cumpre as promessas que faz”? Aguiar Branco não responderá seguramente a estas questões. E como amanhã é domingo, vai com certeza acompanhar Passos Coelho à missa e tomar a hóstia que tira todos os pecados do mundo.
 
Tira os pecados do mundo e faz dos portugueses umas bestas.
 
* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.
 
 

Fim dos descontos nos passes dos estudantes leva transportadoras a reduzir serviços

 

CSJ - Lusa
 
Lisboa, 26 ago (Lusa) - O fim do desconto de 25 por cento nos passes dos estudantes entre os quatro e os 23 anos levará a uma redução dos serviços prestados pelos operadores privados e acentuará a quebra na procura, disse o presidente da ANTROP.
 
No próximo ano letivo, os estudantes entre os quatro e os 23 anos vão perder a redução de 25 por cento nos passes, passando o desconto a ser feito de acordo com os rendimentos do agregado familiar, disse à Lusa, a 11 de julho, o secretário de Estado das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, Sérgio Monteiro.
 
Para a Associação Nacional de Transportadores Rodoviários de Passageiros (ANTROP), esta medida terá como consequência a redução dos serviços prestados pelas transportadoras rodoviárias.
 
"Em alguns casos, face à redução da procura e ao aumento dos custos, as empresas vão ter de reduzir os serviços para poderem sobreviver", afirmou à Lusa o presidente da ANTROP, que representa 120 empresas de transporte rodoviário de passageiros.
 
De acordo com os dados da ANTROP, nos primeiros seis meses deste ano, o número de passageiros transportados caiu 11,3 por cento nas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto, em comparação com o mesmo período de 2011.
 
Fora das áreas metropolitanas e no mesmo período, o número de passageiros transportados pelas empresas associadas da ANTROP recuou 6,2 por cento.
 
"Se quisermos dar uma ideia mais objetiva do número global de passageiros de que estamos a falar, podemos adiantar que, por ano, estaremos a perder cerca de 35 milhões de passageiros", acrescentou o presidente da ANTROP, Luís Cabaço Martins.
 
O responsável explicou que a redução do apoio do Estado vai induzir uma redução da procura nas áreas metropolitanas que não deverá ser invertida.
 
Já fora das áreas metropolitanas, existe o regime jurídico do transporte escolar, que funciona através da canalização de verbas do Ministério da Educação para as câmaras municipais e que pode funcionar como um apoio às transportadoras.
 
"Há o mecanismo do transporte escolar, mas para que ele funcione as câmaras têm de ter dinheiro. Se isto não acontecer, as empresas podem fechar", afirmou Luís Cabaço Martins, recordando que a dívida das autarquias às empresas de transportes totaliza cerca de 60 milhões de euros.
 
Em fevereiro, o Governo reduziu de 50 para 25 por cento o desconto feito aos titulares dos passes para estudantes e seniores.
 
O passe 4_18@escola.tp destina-se a todos os alunos entre os quatro e os 18 anos de idade e está disponível desde setembro de 2008. O passe sub23@superior.tp, por sua vez, é destinado aos estudantes do ensino superior - público ou privado - até aos 23 anos de idade.
 

Modelo de privatização da RTP é um negócio "pró menino e prá menina - Louçã

 

JPC - Lusa
 
Portimão, 25 ago (Lusa) - O coordenador do Bloco de Esquerda, Francisco Louçã, criticou hoje o modelo divulgado para a privatização da RTP, frisando que só um Governo "com tanta imaginação" é que poderia chegar a uma conclusão deste tipo.
 
"É um negócio pró menino e prá menina. Vai ser a primeira privatização na história de Portugal, em que a empresa que fica com o que é público não só não paga nada como vai receber", disse Louçã durante a sua intervenção num comício em Portimão.
 
Para Francisco Louçã, o cenário da concessão da RTP1 a privados e de encerramento da RTP2, divulgado pelo consultor do Governo António Borges, na quinta-feira, "é de facto uma privatização".
 

Portugal: Quando o PS for governo voltará a existir serviço público de televisão - Seguro

 

EC/CC - Lusa
 
Santa Cruz, Funchal, 26 ago (Lusa) - O secretário-geral do PS disse hoje, na Madeira, que quando o PS for governo voltará a existir um serviço público de televisão, considerando que a intenção de concessionar a televisão "serve alguns interesses, mas não serve o pais".
 
No final de uma visita às zonas que sofreram incêndios na freguesia de Gaula, em Santa Cruz, António José Seguro, referiu que a proposta do Governo de concessionar a RTP1 a privados e encerrar a RTP2 "pode servir alguns interesses, mas não serve o país nem o interesse nacional".
 
"Eu quero ser muito claro: quando o PS for Governo voltará a existir um serviço público que se seja prestado por uma televisão pública com uma gestão rigorosa e que sirva os interesses nacionais", disse.
 
António José Seguro manifestou ainda ter esperança que "esta proposta do Governo não passe no crivo do Presidente da República".
 
"Mas, se passar, quando o PS for governo, voltará a existir um serviço público de televisão", insistiu.
 

Angola: EDUARDO DOS SANTOS - 69 ANOS DE IDADE E 33 DE PODER ABSOLUTO

 


Eduardo dos Santos consolidou ideia de nação mas não soube retirar-se -- analista
 
26 de Agosto de 2012, 09:29
 
Luanda, 26 ago (Lusa) -- O analista Fernando Pacheco, coordenador do Observatório Político e Social de Angola, considera que José Eduardo dos Santos consolidou, nos 32 anos na Presidência angolana, a ideia de nação mas não soube abandonar o poder.
 
Como fator positivo do exercício de mais de três décadas na presidência angolana de José Eduardo dos Santos, que completa 70 anos na próxima terça-feira, Fernando Pacheco destaca "todo o processo de resistência ao 'apartheid'".
 
Isso permitiu, segundo disse à Lusa o coordenador do Observatório, "consolidar, e de que maneira, um sentimento de unidade nacional muito forte, mesmo tendo em atenção a relação que a UNITA tinha com a África do Sul".
 
A continuidade da guerra, prosseguiu, "permitiu essa consciência de nação de uma forma muito mais profunda do que noutros países africanos".
 
Em contrapartida, o Presidente angolano "não soube retirar-se [do poder] na altura em que Angola entrou em paz", o que, afirma Pacheco, "teria vantagens para o país e para ele", uma vez que evitaria que o seu "o prestígio ficasse abalado".
 
O analista entende também que José Eduardo dos Santos "não respeitou o Estado de Direito", permitindo que a lei seja "frequentemente desprezada", nem cumpriu "a promessa que tocou fundo aos angolanos de luta contra a corrupção".
 
Este assunto, lembra, tem estado ausente do discurso do partido no poder na campanha para as eleições gerais de 31 de agosto e, quatro anos depois das legislativas, "isso pode alterar o voto de muita gente".
 
Fernando Pacheco, ex-militante do partido no poder, MPLA, mas que há muito se inclinou para o campo cívico, foi fundador da Associação de Desenvolvimento Rural e Ambiente e é atualmente coordenador do espaço de reflexão Observatório Político e Social de Angola, criado no pós-guerra, em 2004.
 
"Nunca estive tentado em exercer o poder, mas preocupo-me que o poder seja usado de determinada forma", declara, considerando que um dos maiores problemas de Angola está no artigo 1.º da Constituição.
 
"O artigo número um da Constituição da República diz 'Angola é uma República'. Não, neste momento Angola comporta-se como as monarquias de há uns séculos -- há um rei, há uma rainha, os príncipes, os duques...", descreve.
 
Este quadro resulta da ausência das elites, no sentido amplo, dos assuntos essenciais do país, e da falta de consolidação das instituições.
 
"Não podemos construir um país bom sem boas instituições públicas ou privadas", argumenta.
 
Fernando Pacheco, engenheiro agrónomo de formação, sente-se "triste, mas não frustrado" por não ver realizada a Angola que imaginava na adolescência e por não encontrar nas propostas de nenhuma das forças partidárias que vão a votos no dia 31 "alternativas a um projeto de sociedade" que corresponda às suas questões de fundo.
 
"Vi todos os tempos de antena e sinto que não há preocupação de se levantar questões estruturantes da sociedade", que incluem também uma justiça independente e uma boa educação. "Sem isso, não se faz um bom país".
 
Mas a experiência que leva de décadas de observador atento da evolução de Angola leva-o evitar quadros de "bem e do mal, de preto e do branco, porque também há o cinzento e, dentro deste, o escuro e o claro".
 
"Poderá não convergir a curto prazo com o que desejamos mas é nossa obrigação lançar a semente para que o fruto apareça um dia", afirma, afastando a ideia de revoluções, porque o mais importante "é construir a República".
 
HB
 
Sucessão presidencial ausente dos assuntos de campanha
 
26 de Agosto de 2012, 09:29
 
Lisboa, 26 ago (Lusa) - O favoritismo atribuído ao MPLA nas eleições gerais da próxima sexta-feira em Angola deixa em aberto a questão, que a campanha eleitoral não deu resposta, de saber quem sucederá, e sobretudo quando, José Eduardo dos Santos no poder.
 
Depois de ultrapassar resistências dos históricos do partido, o líder do MPLA apontou para número dois da lista às eleições gerais de 31 de agosto o empresário Manuel Vicente, ex-administrador da petrolífera Sonangol e atual coordenador da política económica do governo angolano, para onde entrou na remodelação governamental de fevereiro passado.
 
Se a ascensão dentro do partido foi rápida, tendo em conta que somente em abril de 2011 passou a integrar o órgão de direção mais importante do MPLA, o Bureau Político, a entrada no Governo foi triunfal e de molde a não abrir qualquer debate interno.
 
José Eduardo dos Santos deu-lhe a coordenação económica do executivo, a na dependência da Presidência, e, sobretudo, reservou-lhe o estatuto de ministro de Estado.
 
Nesta escolha pessoal, José Eduardo dos Santos sinalizou o nome de Manuel Vicente como o mais provável para a sucessão na chefia do Estado, mas não deu qualquer pista sobre o momento para uma eventual transferência de poderes.
 
Segundo o texto constitucional, aprovado em 2010, o Presidente e o vice-Presidente da República são nomeados a partir dos nomes do número um e número dois do círculo nacional da lista do partido mais votado nas eleições gerais.
 
Eduardo dos Santos e Vicente encabeça a lista do MPLA, que relegou para lugares secundários grande parte dos históricos do partido.
 
Analistas ouvidos pela agência Lusa nos primeiros dias da campanha eleitoral reconhecem que as incógnitas persistem.
 
Alex Vines, diretor do Programa África do Chatham House, instituto britânico de investigação em relações internacionais classifica as intenções de José Eduardo dos Santos como "a grande incerteza" destas eleições gerais.
 
Já Belarmino Van-Dúnem, analista político com uma coluna de opinião regular no estatal Jornal de Angola, considera a questão da sucessão "pertinente" e "em aberto".
 
Compreendendo que as pessoas estejam "na expectativa de saber" o futuro da liderança do país e do partido, o professor universitário angolano considera que o MPLA deu "um sinal" ao nomear um vice-Presidente "aceite por consenso".
 
"Qualquer angolano cai na tentação de ver aqui a probabilidade" de sucessão a José Eduardo dos Santos, diz Van-Dúnem, frisando, porém, que, até ao próximo congresso do MPLA, tudo é "especular".
 
O significado da escolha de Vicente divide os analistas. Enquanto Van-Dúnem afirma que "o partido está unido" em torno deste nome, Vines recorda que "o partido não esteve originalmente coeso em relação à ideia" e, por isso, não se sabe "em que medida o acolherá no futuro", até porque o escrutínio não revelará a sua popularidade, "porque as eleições não são diretas".
 
A importância do tema não encontrou, todavia, eco nas campanhas eleitorais do partido no poder e da oposição.
 
Numa parte da sua intervenção no comício realizado na quinta-feira no Lubango, a segunda praça eleitoral do país, José Eduardo dos Santos apelou ao voto no MPLA para um novo mandato para concretizar políticas sociais de combate à pobreza.
 
"Queremos continuar a ser Governo para acabar aquilo que iniciámos", afirmou, para acrescentar: "Executar estas políticas no próximo mandato é o compromisso que assumo", disse ainda José Eduardo dos Santos, sem deixar claro se tenciona cumprir os próximos cinco anos na liderança do país.
 
O Presidente angolano completa 70 anos dentro de dois dias e se há quem lhe anteveja uma eventual retirada de cena algures durante os cinco anos de mandato presidencial, também há quem considere que esta é a oportunidade de finalmente ser eleito num escrutínio com princípio, meio e fim, razão pela qual dispensará um segundo mandato.
 
Aí poderá ser a vez de Manuel Vicente, 56 anos, se tornar o personagem principal.
 
EL (SBR).
 
*O título nos Compactos de Notícias são de autoria PG
 

Percurso de Eduardo dos Santos lembrado na celebração dos seus 69 anos de vida

 


Aniversário - 28 de Agosto de 2011, Eduardo dos Santos chega à respeitável idade de 69 anos
 
 
De novo, as celebrações terão o perfil de outros aniversários: um programa público, oficial, preenchido pelo intercâmbio de ideias sobre a figura de Estado, o político, o Presidente, mas também o líder do partido que detém as rédeas do poder em Angola, o MPLA, este por isso mesmo, aliás, o ponto de partida principal das iniciativas que marcam a data; por outro lado, o ritual mais reservado, a celebração em família, com os amigos, o direito sagrado ao espaço pessoal que cargo algum, por mais alto que se mostre, deve obstruir.
 
O elemento novo das comemorações será, quiçá, o clima de précampanha que não pode deixar de estar naturalmente desenhado no panorama político da nação, embora não tenham sido ainda formalmente convocadas as próximas eleições.
 
Basta, contudo, o saber-se que em 2012 acontece a consulta popular que abre a hipótese da conservação do poder ou a alternância, a filosofia basilar do exercício da governação em sociedades democráticas.
 
Sendo esse o momento que se adensa no horizonte, torna-se implícito e inevitável que as celebrações do aniversário do cidadão que representa, afinal, a incógnita maior e mais debatida de qualquer disputa eleitoral, terão sempre uma grande carga política a marcá-las. À direita e à esquerda, o mesmo é dizer, no seio da sua família política, o MPLA, que trabalha obviamente pela manutenção do status quo repetindo o triunfo de há quatro anos nas urnas, e nas hostes também dos seus adversários políticos, a Oposição organizada e todos os que, por opção ou modismo, entendem colocar-se em rota contrária à dos ideais do Presidente da República. A comemoração acontece, pois, a duas vozes.
 
É líquido, porém, que a quota mais visível e de maior expressão, corresponde à dos que se juntam em grande estilo aos festejos, não à da ala da contestação, esta sempre confinada ao seu peso real no meio em que disputam espaço e notoriedade: uns disparos verbais aqui e ali, umas presenças críticas no circuito editorial, uma ruidosa onda de ataque nos canais do ciberespaço e pouco mais.
 
Os que dão a cara, com a candeia do MPLA sempre à frente para iluminar duas vezes, procuram os lugares mais nobres, os espaços mais valiosos, os horários mais funcionais e as pessoas de maior relevo social para fazerem do aniversário do seu líder um acontecimento abrangente, com a transversalidade que garante os ganhos políticos tão preciosos em tempos de disputa democrática do poder.
 
Luís Fernando - 26 de Agosto de 2011
 

Moçambique: GOVERNO E RAPTOS NA IRA DE MUÇULMANOS, ZIMBABUÉ COM FOME

 


Comunidade muçulmana anuncia protestos perante onda de raptos
 
26 de Agosto de 2012, 10:09
 
Maputo, 26 ago (Lusa) - Organizações muçulmanas de Moçambique anunciaram a realização de protestos, envolvendo o encerramento do comércio e manifestações em todo o país, acusando o governo de Maputo de ineficácia face à onda de raptos dirigida à comunidade.
 
Num comunicado divulgado na noite de sábado, após uma reunião com o governo de Maputo, a Islam Moz anunciou o encerramento na segunda-feira dos estabelecimentos comerciais da comunidade e convocou para 01 de setembro a realização de manifestações nas 11 capitais provinciais de Moçambique.
 
Mas mensagens divulgados através de telefones móveis estão a apelar ao alargamento da paralisação comercial para terça-feira e quarta-feira.
 
"O que sentirias se chegasses a casa e descobrisses que a tua filha foi raptada? Se te ligassem no trabalho dizendo que o teu irmão foi assassinado?", diz a mensagem, que apela a três dias de paralisação.
 
Mesmo uma cedência do governo da Frelimo, que permitiu na última semana o uso permanente de véu islâmico pelas estudantes muçulmanas em escolas públicas - quando, antes, estava proibido - não acalmou os protestos da comunidade que, desde o início do ano, é alvo de raptos selectivos.
 
As organizações da comunidade têm jogado a "carta eleitoral", ameaçando votar na oposição nas próximas eleições autárquicas, em 2013, e nas gerais, em 2014.
 
A Frelimo, que perdeu para o terceiro partido da oposição, MDM, as importantes câmaras da Beira e de Quelimane, receia uma derrota em Nampula, capital da província com o mesmo nome, a mais populosa e de predominância muçulmana.
 
Minoritária no país, mas forte no norte de Moçambique, a comunidade muçulmana, grande parte da qual constituída por moçambicanos de origem asiática, é a mais próspera economicamente e domina o setor do comércio.
 
LAS.
 
Zimbabueanos continuam a atravessar a fronteira à procura de comida
 
26 de Agosto de 2012, 10:16
 
André Catueira, da Agência Lusa
 
Chimoio, Moçambique, 26 ago (Lusa) - Apressado e carregado, Mazhai Puch, 34 anos, ajeita a bagagem na cabeça, na fila para carimbar o passaporte, de regresso ao Zimbabué, na fronteira de Machipanda, em Manica, no centro de Moçambique.
 
"Quando chegar em Mutare (Zimbabué) devo apanhar outro transporte para ir à zona onde vivo e o sol já vai deitar. Levo comigo arroz, massas, óleo e bolachas, parte do produto ainda deve servir para o jantar" disse à Lusa Mazhai Puch, que respira de alívio por conseguir chegar a tempo à fronteira que divide os dois países.
 
Milhares de zimbabueanos continuam a atravessar a fronteira de Machipanda, à procura de produtos de primeira necessidade em Manica, como sabão, óleo, arroz, pão e 'chips' (batatas fritas), para consumo ou revenda, apesar da "economia local estar a sair de coma".
 
"A economia zimbabueana tem tentado recuperar, mas a população ainda atravessa a fronteira à procura de alimentos básicos e melhores condições de vida. Os números não são tão piores como há três anos" explicou à Lusa José Marizane, chefe do posto fronteiriço de Machipanda.
 
Estatísticas migratórias naquele posto indicam que em 2011, das 269.592 pessoas que atravessaram a fronteira, 198.983 foram de nacionalidade zimbabueana, basicamente motivadas pela procura de comida e troca comercial.
 
Entre janeiro e junho deste ano, o movimento migratório aponta para 81.276 zimbabueanos que atravessaram a fronteira, do global de 124.384 pessoas que passaram do posto fronteiriço de Machipanda.
 
Um relatório do Programa Alimentar Mundial (PAM) prevê dias negros para o Zimbabué, ao estimar que cerca de 1,6 milhões de pessoas vão necessitar de ajuda alimentar durante a próxima estação seca, de janeiro a março de 2013, face à fraca produção agrária, a mais baixa desde 2009, quando o colapso atingiu o pico.
 
Segundo o relatório, divulgado na semana passada, a produção cerealífera deste ano caiu para 1.760.722 toneladas, ou seja, um terço menos do que em 2011. Contudo, o número de pessoas necessitadas aumentou 60 por cento relativamente ao milhão que necessitavam de ajuda alimentar na última estação seca.
 
"Nas zonas rurais, as pessoas estão a passar fome de verdade, uma situação crítica nunca antes vista, com celeiros vazios e sem a que recorrer. As pessoas estão a ficar pálidas e os que têm gado estão a vender para adquirir comida", disse à Lusa um residente da região de Manicaland, uma zona atingida pelas carências alimentares.
 
Em declarações à Lusa, Kudha Kwache, residente em Masvingo, uma região que dpode vir a ser afetada pela fome, previu que "pode ser a pior catástrofe" dos últimos anos, se não houver uma reação das organizações humanitárias que atuam no país.
 
"Alguns só restaram com gado, mas se a fome se arrastar por muito tempo, este recurso pode esgotar. Aí é que ficaremos de mão estendida mesmo" precisou Kudha Kwache.
 
De acordo com o relatório, para responder às crescentes necessidades alimentares, sobretudo nas regiões mais críticas (Masvingo, Matabeleland Norte e Matabeleland Sul, e Mashonaland, Midlands e Manicaland), o PAM e os seus parceiros vão iniciar distribuições de alimentos, com cereais comprados na região, em como com óleo vegetal e legumes importados.
 
Moçambique e Zimbabué assinaram, em 2008, um acordo de supressão de vistos de entrada e comércio livre, quando o Zimbabué estava no pico da crise política e económica, gerado pela controversa reforma agrária de Robert Mugabe, mas o acordo não impediu que muitos continuassem a violar a fronteira à procura bens alimentares.
 
AYAC.
 
*O título nos Compactos de Notícias são de autoria PG
 

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