domingo, 30 de janeiro de 2022

EUA MAIS ISOLADOS QUE NUNCA NA AMÉRICA LATINA

# Publicado em português do Brasil

Emir Sader | Carta Maior

Desde a mudança radical do cenário internacional, com o fim da URSS e do campo socialista, os Estados Unidos se projetaram como a unida força hegemônica no mundo. Esse fenômeno se deu também na América Latina.

A extensão do modelo neoliberal foi a modalidade econômica dessa hegemonia. A América Latina foi a região do mundo que teve mais governos neoliberais e suas modalidades mais radicais. Foi a expressão da hegemonia mais forte dos Estados Unidos no continente.

O fôlego curto do modelo neoliberal revelou como essa hegemonia tem pernas curtas.

Rapidamente as economias mais importantes do continente – a mexicana, a brasileira, a argentina – passaram a sofrer crises econômicas, já do modelo neoliberal.

A tendência norte-americana no continente é a de estar cada vez mais isolado, com menos apoio, com mais governos adversários. Essa tendência se acentuou desde o surgimento dos governos progressistas na América Latina.

Esses governos, ao privilegiarem a superação do neoliberalismo e não sua consolidação, sempre se opuseram à proposta norte-americana para o continente. Ao optarem pelos processos de integração regional e não pelos Tratados de Livre Comércio com os EUA, se opuseram às políticas norte-americanas para o continente. Ao fortalecerem os Estados latino-americanos, opondo-se à política e centralidade do mercado dos EUA para o continente.

XIOMARA CASTRO E SEU PLANO IMEDIATO PARA RECONSTRUIR HONDURAS

# Publicado em português do Brasil 

“Seu regime foi sustentado por meio de acordos com as lideranças militares e policiais e concessões, privilégios e o aumento do orçamento de segurança sobre os orçamentos de saúde e educação, em benefício das forças da lei e da ordem. Hoje temos um país remilitarizado e várias instituições controladas por ex-militares”, disse ele.

Méndez reconheceu que outro desafio é “limpar a casa”, sacudir as instituições públicas daqueles grupos que são benfeitores do nacionalismo e resolver os conflitos provocados pelas políticas extrativistas, além da reativação urgente da economia, que atualmente está em profunda dívida.

Segundo o educador, as demandas populares sobre questões de soberania, terra, água, meio ambiente, autonomia dos povos indígenas, diversidade, juventude, mulheres, migração, camponeses, crianças, arte e cultura, com necessidades urgentes para os primeiros 100 dias de governo, são essenciais.

Por sua vez, Ricardo Salgado, escritor, analista e conselheiro do Libre, descreveu como fundamental a criação de condições para a organização da sociedade hondurenha: “passar da ficção da democracia eleitoral à participação na tomada de decisões, com uma cidadania devidamente informada”.

“Recordemos que tudo foi roubado de nós aqui: nossas raízes, nosso senso de pátria e a ideia de nação. Os símbolos nos foram tirados e fomos sugados para dentro da máquina criminosa do consumismo. Temos que reverter esta tendência desastrosa e abrir caminho para a construção de um bloco histórico e de uma mudança permanente”, argumentou o analista.

Portugal | Hackers do Lapsu$ Group roubaram informações do site do Parlamento

Site esteve em baixo durante cinco minutos, PJ está a investigar

Hackers anunciaram ter invadido e roubado informações sensíveis do site do Parlamento português. PJ ainda não sabe se é o mesmo grupo que atacou a SIC e o Expresso

Os hackers que atacaram no início do mês o Grupo Impresa dizem ter roubado informação do site do Parlamento português. Em dia de eleições legislativas, os piratas informáticos autodenominados Lapsu$ Group garantem ter invadido aquele site e roubado informações. “Hoje hackeámos o site do Parlamento e tivemos acesso a aplicações da Microsoft e a uma grande quantidade de bases de dados que contém informação sensível do Governo relacionada com informações pessoais de políticos e de partidos políticos, muitos documentos, emails, passwords…”. Escrevem ainda que o site usa “sistemas tecnológicos antigos, sem manutenção”.

O Expresso apurou que o site do Parlamento esteve em baixo durante cinco minutos. E que neste momento a Polícia Judiciária está a averiguar se houve realmente uma invasão aos sistemas informáticos do Parlamento e caso se confirme, perceber a que tipo de informação acederam os piratas informáticos e se roubaram alguns dados sensíveis. Também os serviços de informações portugueses estão a monitorizar esta possível ação ilegal.

“Estamos ainda a perceber se se trata mesmo do Lapsu$ Group. Podem ser outros hackers a usar aquele nome”, diz uma fonte da investigação. Outra fonte revela que há “incongruências” entre o modus operandi do Lapsu$ Group usado na invasão aos sistemas informáticos do Grupo Impresa e o que foi utilizado neste alegado ataque.

Ao Expresso, o brasileiro Filipe Soares, que trabalhou durante uma década como oficial na Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e fundou a Harpia Tech, empresa de inteligência cibernética, e conhece bem a atuação deste grupo de hackers, é taxativo: “Na realidade, estes hackers não parecem ter criptografado os dados. Neste caso, estão vendendo as informações – e o acesso – a quem estiver disposto a pagar”.

Portugal | A JUSTIÇA DE ONTEM… A JUSTIÇA DE HOJE

Saudação nazi, Salazar e o fascismo. É o que queremos por Ventura?

Cândida Almeida* | Jornal de Notícias | opinião

É, no mínimo, surpreendente a chamada à colação da justiça no tempo da ditadura para criticar a justiça de hoje intrinsecamente humanista, orientada na busca da verdade material e não apenas formal. É uma ousadia e uma displicência a defesa de uma justiça pobre, de cariz rural, face a uma justiça actual, de grande envergadura, complexidade e dimensão.

Nunca pensei vir a ser necessário regressar ao passado para reavivar memórias daqueles que se refugiam em frases feitas, que nada têm a ver com a realidade sombria e vergonhosa a que o povo estava sujeito no tempo do autoritarismo. Desde logo, a existência de tribunais plenários com o único objectivo de julgar o livre pensamento daqueles que não se submetiam nem se subjugavam à tirania de um Estado retrógrado, atrasado e isolado do Mundo. Quem investigava aquele tipo de crimes era uma polícia especial, a PIDE, que torturava, fabricava prova e matava impunemente. Gozava da garantia administrativa, ou seja, os seus agentes não respondiam nos tribunais comuns pelos crimes que cometiam. Grande eficácia da justiça! Nos tribunais comuns, o juiz que determinava a prisão preventiva do réu (agora arguido) dirigia a investigação, através do MP e de polícias, a instrução preparatória e presidia ao julgamento do mesmo. Era muito eficaz! Os grandes crimes praticados pelos senhores do poder não apareciam nos tribunais, ficavam no segredo dos seus pares e impunes. Os magistrados jovens eram enviados para as guerras coloniais e as vagas nos tribunais eram às dezenas. No entanto, as mulheres não podiam ser magistradas, existindo norma expressa nesse sentido. Por isso não havia investigações, nem processos por esse país fora. Os magistrados eram mal pagos e se queriam melhorar a sua vida económica teriam de se candidatar à PJ, onde se ganhava mais. Vivíamos num Estado policial. A criminalidade que restava para os tribunais era, assim, a do pequeno e médio crime, furtos, roubos, acidentes de viação, atentado ao pudor público e, esporadicamente, um crime de homicídio ou de violação. Para além da falta de magistrados, o insustentável e sistemático subdimensionamento do quadro de funcionários, em muitas comarcas, se havia lugar a um julgamento, a secretaria tinha de ser encerrada porque apenas existia um funcionário, que necessariamente estava presente nas audiências. A qualidade e a quantidade de processos a correr nos tribunais não têm qualquer semelhança, nem é possível qualquer comparação com a realidade de hoje. Os tribunais são independentes. Não há garantia administrativa para quem quer que seja, todos respondem criminalmente perante a justiça. Os crimes económico-financeiros são investigados e julgados. Não pode nem deve comparar-se o incomparável! Com erros e decisões criticáveis vivemos uma justiça democrática e é absolutamente impensável elogiar uma eficácia de justiça conseguida à custa da legalidade, objectividade e humanismo.

*Ex-diretora do DCIAP

*A autora escreve segundo a antiga ortografia

Portugal ‘covidado’ | Hoje: 45 335 novos casos e 29 mortes nas últimas 24 horas

Número mais baixo de infeções em seis dias. Internados voltam a subir

O boletim diário da Direção-Geral da Saúde indica que há mais 45 335 novos casos e 29 mortes nas últimas 24 horas. Internamentos chegam aos 2397 doentes, dos quais 160 em UCI.

Portugal registou, nas últimas 24 horas, 45 335 novos casos de covid-19, de acordo com o boletim epidemiológico da Direção-Geral da Saúde (DGS) deste sábado (29 de janeiro).

Desde a passada segunda-feira que não se registava um número tão baixo de infeções diárias. Nesse dia houve 32 758 infeções.

O Norte continua a ser a região com mais casos, com 19 524, seguido de Lisboa e Vale do Tejo (12 928), Centro (7158), Algarve (2039), Alentejo (1779), Açores (1143) e Madeira (764).

Há ainda a registar mais 29 mortes associadas à infeção por SARS-CoV-2 nas últimas 24 horas, É o número mais baixo de óbitos desde 13 de janeiro, quando houve 22.

A maioria das mortes declaradas no boletim deste domingo foram em Lisboa e Vale do Tejo (11), seguido pelo Norte (6) e Centro (69). No Alentejo houve quatro óbitos e no Algarve dois.

Há agora 2397 pessoas internadas devido à doença (mais 105 que no dia anterior), das quais 160 estão em unidades de cuidados intensivos (mais 7).

Há neste momento 597 879 casos ativos da doença em Portugal, sendo que foram dadas como recuperadas em Portugal 39 396 pessoas nas últimas 24 horas.

De resto, há um total de 624 599 contactos em vigilância.

NÃO É DE ADMIRAR QUE A RÚSSIA SE SINTA AMEAÇADA

# Publicado em português do Brasil

John Linnemeier* |  opinião

De acordo com uma recente pesquisa internacional da Gallup, os Estados Unidos são considerados a maior ameaça à paz mundial, com Paquistão, China, Coreia do Norte, Israel e Irã (nessa ordem) bem atrás.

As guerras do Iraque, Afeganistão e Vietnã custaram trilhões de dólares e mataram milhões de pessoas (principalmente civis). Agora nos arrependemos de iniciá-los, e nunca teríamos feito isso se tivéssemos uma compreensão básica da situação em que estávamos nos metendo.

Estamos prestes a embarcar em uma nova guerra com a Rússia, um inimigo muito mais formidável. A conflagração nuclear em grande escala não é inconcebível. Aqueles que subestimam a possibilidade de um apocalipse nuclear não analisaram cuidadosamente as inúmeras vezes em que chegamos perto no passado.

Considere o ponto de vista dos russos. Desde os dias esperançosos da Perestroika e da Glasnost, eles viram uma OTAN com armas nucleares se expandir até suas fronteiras. Alguém se lembra de como os EUA reagiram a mísseis nucleares a 70 milhas de nossa costa? Podemos culpá-los por se sentirem ameaçados? A Rússia exigiu uma garantia de que a Ucrânia não se tornaria membro da OTAN. Os negociadores americanos chamam isso de inegociável.

Estamos à beira de um horror inimaginável. Por que os americanos que anseiam por um mundo pacífico não se manifestam? Por que você não está?

*John Linnemeier, Bloomington

Em carta ao The Herald-Times 

*Publicado em Global Research

Reino Unido vai propor à NATO "grande" envio de tropas para a Ucrânia

O Reino Unido vai propor à NATO um "grande" envio de tropas, navios de guerra e aviões de combate na Europa, para responder ao aumento da "hostilidade russa" relativamente à Ucrânia, anunciou hoje o primeiro-ministro britânico.

De acordo com o gabinete do primeiro-ministro, Boris Johnson, citado pela Agência France Presse, esta proposta, que deverá ser feita numa reunião dos chefes militares da NATO na próxima semana, pode fazer com que Londres duplique o contingente britânico de cerca de 1.150 soldados atualmente destacados na Europa de Leste e forneça "armas defensivas" à Estónia.

"Este conjunto de medidas enviaria uma mensagem clara ao Kremlin - não toleraremos a sua atividade de desestabilização e estaremos sempre ao lado dos aliados da NATO face à hostilidade russa", lê-se num comunicado hoje divulgado.

"Dei ordem às nossas forças armadas para se prepararem para enviar tropas para a Europa na próxima semana, para poder dar apoio terrestre, aéreo e naval aos nossos aliados da NATO", sublinhou Boris Johnson.

Se o presidente russo, Vladimir Putin, escolhesse o caminho "do derramamento de sangue e da destruição na Ucrânia, seria uma tragédia para toda a Europa", acrescentou, considerando que "a Ucrânia deve permanecer livre para escolher o seu próprio futuro".

Conservadores acusados de 'subir de nível' para salvar o emprego de Boris Johnson

Lisa Nandy critica alegação de aumento para 20 cidades, dizendo que 'novo' fundo para áreas mais pobres é promessa de reciclagem

# Publicado em português do Brasil

Toby Helm e Mark Townsend | The Guardian

O governo foi acusado de tentar manipular anúncios de financiamento extra para partes mais pobres do Reino Unido em uma tentativa desesperada de salvar a presidência de Boris Johnson.

Uma briga extraordinária explodiu depois que o Departamento de Nivelamento, Habitação e Comunidades de Michael Gove divulgou um comunicado à imprensa – antes da publicação de um white paper sobre nivelamento nesta semana – dizendo que 20 cidades se beneficiariam de um “novo fundo brownfield de £ 1,5 bilhão”. O comunicado, que nomeou apenas Sheffield e Wolverhampton como destinatários, disse que as 20 áreas “se beneficiarão de empreendimentos que combinam habitação, lazer e negócios em novos bairros sustentáveis ​​e bonitos”.

Gove acrescentou que o “novo programa radical de regeneração” provaria ser transformador e cumpriria a principal política do governo para criar um país mais igualitário . “Este enorme investimento em infraestrutura e regeneração espalhará as oportunidades de forma mais uniforme e ajudará a reverter as desigualdades geográficas que ainda existem no Reino Unido.”

Mas depois que o Observer entrou em contato com fontes importantes do Tesouro para perguntar se seus ministros haviam assinado o prometido 1,5 bilhão de libras, o departamento de Gove voltou atrás e confessou que o “novo” fundo não era dinheiro novo, mas seria composto de fundos niveladores. fundos que haviam sido anunciados pelo chanceler, Rishi Sunak , em sua revisão de gastos no outono passado.

LEGISLATIVAS 2022: PORTUGAL VAI A VOTOS "SEM INCIDENTES"

Portugal vai a votos com mais de um milhão de cidadãos em confinamento. Urnas estão abertas das 8h às 19h e do resultado nascerá a próxima solução de governo do país. Acompanhe aqui todas as notícias sobre eleições, com atualização permanente

Jerónimo de Sousa será no futuro “o que o partido entender”

A “saúde periclitante” obrigou o secretário-geral comunista a perder parte da campanha eleitoral e Jerónimo de Sousa, cabeça de lista da CDU por Lisboa, garante não ter saudades do hospital. Emocionado por manifestações de solidariedade “do mais alto nível institucional ao cidadão comum”, o antigo operário fabril garante que “a vida não pára” e que o espera “um mundo de tarefas”.

Em declarações aos jornalistas após ter votado, não quis falar do seu destino pessoal, que deixa nas mãos do partido. Revela apenas a agenda do dia: almoçar com a família e depois ir para a sede do PCP. Deixa ainda o apelo: como o tempo está bom, todos devem ir votar, seguindo as regras de segurança “com tranquilidade”.

Inês de Sousa Real não quer “fantasma da abstenção” a vencer eleições

A líder do Pessoas-Animais-Natureza (PAN) votou em Lisboa, destacando a importância das legislativas deste domingo face aos fundos europeus que o país terá de gerir. Inês de Sousa Real usava máscara de tecido, contrariando a orientação da CNE de usar máscara cirúrgica ou FP2. Explicou que foi por oção, já que considera as máscaras de tecido tão seguras como as outras e mais apropriadas à “crise ecológica” que o mundo vive, a par da crise sanitária.

Sousa Real irá passar o dia com a família. Quanto à noite, não faz prognósticos, preferindo frisar o dia “importantíssimo” para a democracia. Admite que o anúncio “tardio” das regras para confinados e infetados votarem possa prejudicar a participação eleitoral.

Portugal | QUAL O MELHOR VOTO NO DOMINGO?

Pedro Tadeu* | Diário de Notícias | opinião

Apesar de 60% ou 70% do eleitorado não abstencionista votar nos dois maiores partidos portugueses, PS e PSD, os tempos políticos demonstram que a vitória numas legislativas de cada um deles, por si só, não serve para formar um governo.

Como tanto os socialistas como os sociais-democratas parecem incapazes de obter uma maioria absoluta, a formação de um governo viável após as eleições de dia 30 depende de acordos ou de cedências no parlamento, como aconteceu em 2015 e em 2019.

É por isso que, para mim, a notícia que várias sondagens dos últimos dias nos dão não é a aproximação do PSD ao PS permitir a Rui Rio sonhar com a possibilidade de vir a ser primeiro-ministro. A notícia está noutro resultado: os partidos à direita somam, juntos, quase tantas intenções de voto quanto os partidos à esquerda e podem ter uma maioria.

A disputa eleitoral que pode decidir o perfil do próximo governo não é, portanto, entre António Costa e Rui Rio que se arriscam a, literalmente, empatarem.

Costa, que pretendia uma maioria suficientemente grande que lhe permitisse ganhar capital político para formar governo sozinho ou apenas com apoio do PAN e/ou do Livre, parece já não ter essa possibilidade e terá de negociar com muito mais gente. Rui Rio, por seu lado, se ganhar ou se encontrar uma maioria de direita no parlamento, também terá de o fazer.

Se Catarina Martins, Jerónimo de Sousa e Rui Tavares somarem mais deputados do que André Ventura, Cotrim de Figueiredo e Francisco Rodrigues dos Santos, o próximo governo será liderado por António Costa, desde que o PS tenha mais um voto do que o PSD.

Se acontecer o contrário e os partidos mais pequenos da direita parlamentar tiverem maioria, Rui Rio pode formar governo, mesmo se não ganhar as eleições: 2015 e a "geringonça" ensinaram-nos isso.

O PAN, que diz que dá para os dois lados, terá, teoricamente, mais facilidade em impor as suas reivindicações programáticas nos partidos à esquerda do que nos partidos à direita, mas pode acontecer vir a ser um fiel da balança e ser ostensivamente namorado por todo o parlamento para viabilizar um governo.

Mas há algumas dificuldades adicionais.

Portugal | O PAÍS QUE VAI A VOTOS É MESMO ABSTENCIONISTA?

Artur Cassiano | Diário de Notícias

Os portugueses elegem hoje, pela 17ª. vez, os deputados na Nação. Onde se vota mais e menos? Que círculos mais deputados colocam no parlamento? Quanto vale um voto? Qual é o perfil-tipo dos eleitos e quanto tempo ficam no parlamento? Somos mesmo um país de abstencionistas ou as contas estão mal feitas? As respostas no DN, no dia de (quase) todas as decisões.

Para que país devemos olhar, quando olhamos para a abstenção? Para o do território nacional que teve 45,5% de não votantes ou para o que inclui os emigrantes e que faz subir a abstenção [a mais alta de sempre em legislativas] para os 51,43%?

Faz sentido analisar o comportamento eleitoral como um todo - "o comportamento cívico dos portugueses" - quando, por exemplo, em 2019 só 10,79% [percentagem que desde 2009 poucas alterações sofreu] dos emigrantes votou?

Para que país devemos olhar quando mais de um milhão de "eleitores-fantasma" distorcem a abstenção em 10%, para a abstenção que fica nos 35,5% do território nacional ou para os 41,43% com os emigrantes?

Paula do Espírito Santo, professora auxiliar, no ISCSP, com agregação nas áreas de sociologia política, sociedade civil e cultura política e métodos de investigação, defende que se deve "olhar para os valores da abstenção tendo em conta o contexto demográfico, territorial e cultural da sociedade Portuguesa, um país de emigração, de diáspora e transculturalmente unido. Ou seja, quando se focam os valores da abstenção, estes devem ser lidos, não apenas, em termos globais, mas tendo em conta (também) a territorialidade, sabendo-se que uma parte significativa da população eleitora portuguesa está no estrangeiro (em torno de um milhão e meio de eleitores) e que desta parte de eleitores (os emigrantes portugueses) apenas uma parte residual vota (ex. nas eleições legislativas de 2015 e 2019, com valores de participação eleitoral em torno dos 10%, mesmo quando se multiplicou este numero de inscritos de 242852 inscritos, em 2015, para 1468754 inscritos).

A investigadora do ISCSP, avisa, por isso, que "quando se focam os valores da abstenção eleitoral, as leituras interpretativas quanto a causas da mesma devem ser mais contidas ao encontrarem-se respostas na falta de interesse pelo voto por parte dos eleitores portugueses. A suposta 'falta de interesse' no voto não explica a abstenção".

"As causas da abstenção", explica, "devem ser encontradas nos mecanismos de acesso ao voto por parte da fatia de eleitores que precisamente mais se abstém (e de que forma se abstém, se considerarmos cerca de 90% de abstenção nas eleições legislativas de 2015 e 2019)".

Ou seja, considera Paula do Espírito Santo, "o voto tem dimensões de territorialidade que o explicam e tornam desigual, e que vistas em valores globais, pode ser falimente mal interpretada com respostas e causas que encontram na desmobilização dos eleitores, como um todo, a resposta mais imediata e aparente. Ora, isto é errado: as explicações superficiais sobre a relação entre desmobilização e abstenção continuarão a promover a incapacidade de se resolver este problema, simplesmente porque o problema da abstenção eleitoral que afeta a nossa democracia está mal diagnosticado".

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