terça-feira, 9 de julho de 2013

A DEMOCRACIA PÕE EM CAUSA A NOSSA CREDIBILIDADE




Daniel Oliveira – Expresso, opinião

Quando Pedro Passos Coelho, Paulo Portas e Cavaco Silva entraram no Mosteiro dos Jerónimos, para a missa do novo cardeal patriarca, toda a fina flor do regime aplaudiu, entusiasmada, os salvadores da estabilidade política. Depois da mais desenvergonhada palhaçada, eles fizeram-se de novo amigos, trocaram ministros e ministérios, pequenos poderes e vaidades, e impediram a pior das tragédias: eleições. A coisa manteve-se, como se deve manter, entre pessoas civilizadas. Porque, já se sabe, eleições obrigam a eleitoralismo, o eleitoralismo leva ao populismo e o populismo leva a escolhas erradas. Ou seja, as eleições são, em qualquer democracia decente, um problema a evitar. Fazem-se, quanto muito, na data marcada para manter as aparências.

A opinião mediática condicionou, através da chantagem e do medo, qualquer decisão que pudesse levar a eleições. Tudo devia ficar como se nada tivesse acontecido. Para além da manutenção de um governo que já ninguém respeita, todas as possibilidades foram postas em cima da mesa: cozinhava-se um governo qualquer, juntavam-se os três partidos responsáveis (responsabilíssimos, como temos visto), mudava-se a liderança do PSD ou do CDS, arranjava-se alguém que estivesse disposto a governar sem o apoio da opinião pública, fazia-se um governo minoritário que estivesse em queda iminente desde do dia da tomada de posse, escolhia-se um governo de Salvação Nacional que, como é evidente, não iria salvar coisa nenhuma. Desde que se evitasse a participação da turba, sempre muito perturbadora da "estabilidade política" e dos mercados, tudo, por pior que fosse, seria aceitável. Muitos dos que o defenderam não pensaram o mesmo nas vésperas de se assinar o memorando da troika, percebendo-se que o valor da estabilidade depende, em muitos casos, de quem tenha a maioria no momento.

Os argumentos para a não realização de eleições foram três: a nossa credibilidade junto da troika, a nossa imagem junto dos mercados e a ausência de qualquer solução estável depois das eleições. Vou ignorar aqui, por decoro, o argumento do preço das eleições. Porque descer a este nível é conspurcar o debate político.

Quando à credibilidade junto da troika (da Alemanha), tenho uma novidade: nenhuma solução que não passe pelo que Vítor Gaspar fez nos dois últimos anos, com os resultados que teve para a nossa economia, tem credibilidade junto da troika. E nem isso chega. Quando tudo se mostrar inútil a troika dirá, como já começou a dizer, que Portugal não está a cumprir. Penso que o guião da Grécia é suficientemente conhecido para não termos ilusões.

A democracia nos países periféricos não tem credibilidade junto da Comissão Europeia, BCE e FMI. Se quisermos realmente agradar-lhes suspendemos todos os atos democráticos, incluindo as eleições, obrigamos os três partidos a assinar um acordo inviolável e vitalício em torno de tudo o que está decidido e extinguimos o Tribunal Constitucional e o Estado de Direito. E, mesmo assim, será dito, no fim de tudo, que fomos nós que não fizemos as coisas como deve ser. Porque, insisto no que escrevo há dois anos, o objetivo deste "resgate" não é, nunca foi, salvar Portugal. É, sempre foi, sacar o máximo possível do que devemos para depois abandonar a carcaça na beira da estrada. A Europa é, nos dias que correm, esta selva. E ser "credível" é aceitar morrer sem resistir.

Tudo o que façamos para resolver os nossos problemas enfurecerá a troika. Que, como fez na semana passada com o dinheiro que virá com a 8ª avaliação, fará a mais descarada das chantagens à mínima tentativa de restaurar a normalidade democrática no País. Ou queremos sair desta crise e vivemos com os riscos que isso implica ou aceitamos morrer calados. É a escolha que temos pela frente. Uma escolha que chegou a este limite: há quem, fora de Portugal, pense que nos pode impedir de exercer os direitos democráticos e nós achamos normal que isso seja sequer uma posição a ter em conta. Se a tivermos em conta seremos obrigados a reconhecer que a existência de Portugal, como Estado soberano, é uma anedota. E mais vale acabar de uma vez por todas com esta Nação. Porque um País que julga que a independência não comporta enormes perigos não merece essa independência.

Quanto aos mercados, respondi na última sexta-feira  e mais nada há dizer. Basta, aliás, ver como a "tragédia económica e financeira irrecuperável" que teríamos vivido a semana passada, deixou de ser assunto para especialistas, comentadores e políticos para perceber a função que realmente cumpriu a histeria que foi lançada. O aumento dos juros da nossa dívida (que não estamos a pagar) e as gigantescas perdas para as empresas portuguesas (que não aconteceram) desapareceram, de um dia para o outro, do debate público. Devemos estar a nadar em dinheiro para tamanha hecatombe já não preocupar ninguém. Ou, mais provável, a hecatombe não aconteceu.

Quanto à solução política que sairia das próximas eleições, só por humor negro, depois daquilo a que assistimos na semana passada, alguém pode falar de estabilidade e credibilidade. Não há soluções política estáveis e, em simultâneo, democráticas, na atual situação social e económica. Porque este "ajustamento" é incompatível com a democracia. Nunca houve estabilidade política com instabilidade social. É dos livros. E nenhum governo, enquanto isto durar, terá uma esperança de vida muito longa. A questão é saber se, dentro da instabilidade que é estrutural a esta crise, Portugal tem quem represente um pouco melhor (mesmo que mal) os sentimentos do País. A começar por não ter a dirigir o governo a única pessoa que ainda acredita que a loucura imposta pela troika é a saída para esta crise. A democracia é isso mesmo: garantir, o melhor possível, a representatividade da vontade popular. Não é um arranjo onde os cidadãos são um "problema" que podemos ignorar.

Podemos continuar a brincar com o fogo. Podemos continuar à procura de atalhos para adiar a clarificação política. Até as eleições chegarem, haver um terramoto eleitoral que não deixe pedra sobre pedra no nosso sistema partidário. Até poderia ser bom, mas acho que os arautos da "estabilidade política" (aqueles que, como Marques Guedes, a consideram "um valor em sim mesmo") não têm razões para se entusiasmar com este cenário. E podemos continuar eternamente a achar que se pode governar sem dar grande importância à opinião dos cidadãos, meros destinatários passivos de inevitabilidades. Até ser mais difícil encontrar um português que acredite na democracia do que um governante que junte a coragem à competência.

Que a troika se esteja nas tintas para a viabilidade da nossa economia e da nossa democracia não me espanta. Eles não vivem aqui. Não terão de conviver com o Inferno político e social que andam a alimentar. Eles não são eleitos. Não terão de pagar o preço dos seus disparates. Que políticos, comentadores e jornalistas portugueses julguem que se pode levar a degradação da democracia e das condições sociais de vida muito para lá do limite do que é sustentável é que me espanta. Julgarão que estarão a salvo das suas consequências? Não estão. Quando surgirem os populistas salvadores da Pátria, prontos para "limpar" o País e "regenerar" a política, podem esquecer a liberdade de imprensa, as eleições e a fiscalização do poder. Quando isto acontecer, estes cúmplices da destruição da democracia, que desprezam o que lhes permite exercer as suas funções em liberdade, apenas estarão a colher os frutos que semearam.

As coisas vão correr bem se houver eleições? Não. Como não vão correr bem se elas não existirem. E, em qualquer um dos casos, haverá, com este ou com outro nome, um segundo "resgate". Basta olhar para os números das finanças e da economia, mesmo ignorando todo o contexto político, para o saber. A vantagem das eleições é só esta: ter no governo alguém que, governando bem ou mal (não sei que governo sairá do sufrágio popular), ainda represente algum português. Em democracia, isso faz alguma diferença. Ou não?

Portugal: Pasta entregue por Teixeira dos Santos a Vítor Gaspar sem referência a 'swap'



IM - NM – VC - Lusa

A pasta de transição do Ministério das Finanças entregue por Teixeira dos Santos a Vítor Gaspar não tinha qualquer informação sobre 'swap', segundo um documento enviado ao parlamento, apesar de o tema ter sido abordado na reunião entre os governantes.

De acordo com índice da pasta de transição entregue pelo ex-ministro Teixeira dos Santos a Vítor Gaspar, entre os 27 tópicos que lá constam não existe qualquer informação sobre os contratos 'swap' subscritos pelas empresas públicas.

Esta informação consta da resposta enviada a 01 de julho (dia da demissão de Vítor Gaspar) pelo Ministério das Finanças à Comissão de Inquérito dos 'swap', a que a Lusa teve acesso, a propósito de um requerimento do Partido Socialista que pretendia saber se foi ou não abordada o tema dos 'swap' na transição de pastas.

Segundo as Finanças, na pasta de transição "não constava um tópico, documentação ou qualquer outro tipo de informação dedicados aos contratos de derivados financeiros nas empresas públicas". A comprovar, o Ministério das Finanças junta mesmo a cópia do índice da pasta de transição como preparado por Teixeira dos Santos.

A mesma informação diz ainda que, de facto, o tema foi "inicialmente abordada na reunião de transição" por iniciativa de Vítor Gaspar.

"A pergunta foi feita com base no conhecimento público da existência destas operações, em particular no Metro do Porto, e foi motivada pela preocupação com a grandeza das responsabilidades contingentes, com efeito sobre o Orçamento do Estado", referem as Finanças, adiantando que Teixeira dos Santos remeteu a questão para "o encontro que ambos mantiveram posteriormente com os Secretários de Estado" que estavam de saída.

"Quanto à questão concreta dos contratos de derivados, o atual ministro de Estado e das Finanças [Vítor Gaspar] considera que a informação, então oralmente prestada, se limitou à referência ao apuramento de informação e procedimentos, conforme determinado pelos Memorandos assinados com a 'troika'", dizem as Finanças.

As Finanças referem ainda, na mesma resposta, que na altura da tomada de posse de Vítor Gaspar não existiam qualquer "informação acerca da quantificação das responsabilidades envolvidas" nos contratos 'swap, apesar de a equipa de Teixeira dos Santos já a ter solicitado, e que a informação existente dava apenas indicações quanto "à dimensão dos riscos orçamentais, mas nada acrescentava sobre as características dos contratos e, sobretudo, não apontava para nenhuma solução".

As Finanças dizem mesmo que a informação se "limitava", com base no despacho de 9 de junho de 2011 do Secretário de Estado do Tesouro (Costa Pina), a "obrigar" as empresas públicas a passar pelo crivo da Direção-Geral do Tesouro e Finanças, Inspeção-Geral de Finanças e IGCP - Instituto de Gestão da Tesouraria e do Crédito Público quaisquer projetos de contratação de instrumentos de gestão de risco financeiro, como são os contratos 'swap'.

"Projetos esses, aliás, que nenhuma empresa apresentou", acrescenta o Ministério das Finanças na carta enviada aos deputados.

A carta assinada pelo chefe de gabinete de Vítor Gaspar, Pedro Machado, termina a afirmar que o atual Governo, assim que tomou posse, "começou imediatamente a trabalhar numa resolução para os problemas" levantados pelos 'swap' contratados por empresas públicas a vários bancos internacionais.

A investigação aos contratos derivados de taxa de juro ['swap'] subscritos por várias empresas públicas, sobretudo da área dos transportes, detetou contratos problemáticos com elevadas perdas potenciais para o Estado.

Este caso levou à demissão de dois secretários de Estado (Juvenal Peneda e Braga Lino) e de três gestores públicos (Silva Rodrigues, Paulo Magina e João Vale Teixeira) e ainda à criação da comissão parlamentar de inquérito, que está atualmente na fase de audições.

No dia 29 de junho, Fernando Teixeira dos Santos, em declarações à Lusa, garantiu ter informado o seu sucessor, Vítor Gaspar, de “toda a informação necessária” sobre os contratos 'swap' envolvendo empresas públicas em reunião a 18 de junho de 2011.

Portugal: FOI VOCÊ QUE PEDIU ESTABILIDADE POLÍTICA?



Nicolau Santos – Expresso, opinião

Paulo Portas saiu hoje do Palácio de Belém, depois de se encontrar com Cavaco Silva e disse, com ar sério e pose de estadista: "Consideramos que o valor da estabilidade política é relevante não apenas para a governação do país, mas para a conclusão do programa de assistência financeira que Portugal assinou com a troika".

É muito difícil uma pessoa conseguir dizer uma piada e não se rir da própria piada. Nesse aspeto, Paulo Portas é do melhor que temos em Portugal. É um autêntico camaleão, que se transfigura consoante o meio onde está.

Se está entre os reposteiros de Belém, fica estadista. Se calcorreia as feiras, torna-se feirante. Se anda na lavoura, torna-se rural. Se visita um lar de idosos, torna-se na Madre Teresa. Se entra no meio artístico, mostra as suas outras artes.

Portas demitiu-se de forma irrevogável do Governo. Tinha razões legítimas para o fazer. Mas foi ele a causa da instabilidade política que abalou o Governo, levou os investidores a fugir e fez disparar os juros da dívida pública.

Vir agora dizer que considera relevante a estabilidade política não é só grotesco para ele. É tomar-nos a todos nós, espectadores da paupérrima ópera bufa que CDS e PSD tem protagonizado desde há semana e meia, como mentecaptos. E isso convenhamos que é demais. 

RUMO A UM NEO-TOTALITARISMO




Espionagem militar maciça dos EUA apoia-se na cumplicidade das corporações da internet e numa safra de filmes pró-guerra. Felizmente, agora sabemos de tudo
  
John Pilger, do NewStatesman - Tradução Resistir.Info e Cauê Ameni – Outras Palavras

No seu livro, Propaganda, publicado em 1928, Edward Bernays escreveu: “A manipulação consciente e inteligente dos hábitos organizados e das opiniões das massas é um elemento importante na sociedade democrática. Aqueles que manipulam este mecanismo ocultos da sociedade constituem um governo invisível, o qual é o verdadeiro poder dominante no nosso país”.

Bernays, o sobrinho norte-americano de Sigmund Freud, inventou a expressão “relações públicas” como um eufemismo para propaganda de estado. Ele lembrou, porém, que os que dizem a verdade, e um público esclarecido, são uma ameça permanente ao governo invisível.

Em 1971, Daniel Ellsberg trouxe a público os documentos do governo estadunidense conhecidos como The Pentagon Papers. Revelou que a invasão do Vietnã fora baseada numa mentira sistemática. Quatro anos depois, o senador Frank Church dirigiu audiências extraordinárias no Senado dos EUA: um dos últimos lampejos da democracia americana. Estas puseram a nu a plena extensão do governo invisível: a espionagem e subversão internas e a provocação de guerra pelas agências de inteligência e “segurança”, bem como o apoio que recebiam das grandes corporações e das mídias, tanto conservadores como liberais.

Ao referir-se à Agência de Segurança Nacional (NSA), Church afirmou: “Sei que a capacidade que há para instaurar uma tirania na América. Devemos assegurar que esta agência, e todas as que possuem esta tecnologia [de espionagem] operem dentro da lei… de modo que nunca cruzemos esse abismo. Trata-se do abismo do qual não há retorno”.

Em 11 de Junho de 2013, após as revelações feitas por Edward Snowden (um ex-contratado da CIA e NSA), e publicadas por The Guardian, Daniel Ellsberg escreveu que os EUA agora escorregaram para “aquele abismo”.

A revelação de Snowden, de que Washington utilizou a Google, Facebook, Apple e outros gigantes da tecnologia para espionar quase toda a internet, é uma nova evidência da forma moderna de fascismo – esse é o “abismo”. Depois de alimentar regimes autoritários por todo o mundo – desde a América Latina à África e à Indonésia – o gene cresceu em casa. Entender isto é tão importante quanto entender o abuso criminoso da tecnologia.

Fred Branfman, que denunciou a destruição “secreta” do pequeno Laos pela aviação dos EUA, nas décadas de 1960 e 70, proporciona uma resposta para aqueles que ainda se perguntam como um presidente afro-americano, professor de direito constitucional, pode comandar tamanha ilegalidade. “Sob o Obama, os Estados Unidos ainda estão longe de ser um estado policial clássico. . . ”, escreveu ele, “Mas nenhum presidente fez mais para criar a infraestrutura para um possível futuro totalitário”. Por que? Porque Obama, tal como George W. Bush, entende que o seu papel não é satisfazer aqueles que nele votaram mas sim expandir “a mais poderosa instituição da história do mundo, uma instituição que matou e desalojou bem mais de 20 milhões de seres humanos, principalmente civis, desde 1962″.

No novo ciber-poder americano, só as portas giratórias mudaram. O diretor da Google Ideas, Jared Cohen, era conselheiro de Condaleeza Rice, a antiga secretária de Estado no governo Bush, que mentiu quando disse que Saddam Hussein podia atacar os EUA com armas nucleares. Cohen e o presidente executivo da Google, Eric Schmidt – eles encontraram-se nas ruínas do Iraque – escreveram um livro em co-autoria, The New Digital Age, aclamado como visionário pelo antigo diretor da CIA Michael Hayden e pelos criminosos de guerra Henry Kissinger e Tony Blair. Os autores não mencionam o programa de espionagem Prism , revelado por Edward Snowden, que proporciona à NSA acesso a todos os que utilizamos o Google.

Controle e dominação são as duas palavras que dão forma a esse tipo de programa. São exercidas por meio de planos políticos, econômicos e militares, entre os quais a vigilância em massa é uma parte essencial — mas também o é vasta propaganda entre a opinião  pública. Este era o ponto de Edward Bernay. As suas duas campanhas de relações publicas de maior êxito foram convencer os nort-americanos de que deveriam ir à guerra em 1917 e persuadir as mulheres a fumar em público; os cigarros eram “tochas da liberdade” que acelerariam a libertação da mulher.

É cultura popular que funciona mais eficazmente a ideia fraudulenta segundo a qual os Estados Unidos são moralmente superiores e, portanto “líderes do mundo livre”. Mas, mesmo durante os períodos mais patrioteiros de Hollywood houve filmes excepcionais (como os de Stanley Kubrick) e filmes europeus audaciosos que encontravam distribuidores nos EUA. Nestes dias, não há Kubrick, nem Strangelove e o mercado norte-americano está quase fechado a filmes estrangeiros.

Quando apresentei meu filme A Guerra na Democracia a um grande distribuidor liberal dos EUA, recebi uma lista de mudanças exigidas para “assegurar que o filme fosse aceitável”. A inesquecível concessão que ele me fez foi: “OK, talvez pudéssemos deixar Sean Penn como narrador. Isso o satisfaria?” Ultimamente, o filme de apologia da tortura Zero Dark Thirty, de Katherine Bigelow, e We Steal Secrets, um ataque a machadadas contra Julian Assange, foram feitos com o apoio generoso da Universal Studios, cuja companhia-mãe até recentemente era a General Electric. A mesma GE que fabrica armas, componentes para aviões-caça e tecnologia avançada de vigilância. A companhia também tem interesses lucrativos no Iraque “libertado”.

O poder dos contadores de verdades, como Bradley Manning, Julian Assange e Edward Snowden, é que eles refutam toda uma mitologia construída cuidadosamente pelo cinema corporativo, pela academia e pelas mídias de mercado. O WikiLeaks é especialmente perigoso porque proporciona um meio para publicar as verdades que incomodam o poder. Isto foi conseguido em Collateral Murder, o vídeo filmado a partir da cabine de um helicóptero Apache dos EUA, supostamente vazado pelo jovem soldado Bradley Manning. O impacto deste único vídeo marcou Manning e Assange para a vingança do Estado. Ali estavam pilotos dos EUA a assassinar jornalistas e mutilar crianças numa rua de Bagdad,  claramente divertindo-se, e descrevendo sua atrocidade como “nice”. No entanto, num sentido vital, eles não escaparam sem punição; somos agora testemunhas, cabe a nós denunciá-los.

GRÉCIA: REFORMAS COM SENTIDO INVERSO




TO ETHNOS, ATENAS – Presseurop – imagem Clement

A zona euro e o FMI decidiram, a 8 de julho, conceder uma nova tranche de ajuda à Grécia, como contrapartida pelo despedimento de 15 mil funcionários. É a melhor maneira de perder o apoio dos cidadãos à necessária reforma dos serviços públicos, lamenta um editorialista.


A reforma profunda da administração pública é urgente e constitui uma prioridade para o país. A avaliação das estruturas e dos indivíduos, bem como a mobilidade destes, devem ser instituídas com caráter permanente, no funcionamento do serviço público. Só assim poderemos construir um Estado moderno, produtivo e eficaz. Isto diz respeito a todas as reformas. Porque, se forem feitas em benefício do povo grego, essas reformas deverão ter uma repercussão positiva. Mas como, em alguns casos, são feitas de forma desordenada, suscitam a desconfiança do povo que deveria apoiá-las.

Vejamos o caso do processo de mudança iniciado na função pública. A principal finalidade, por exemplo, é o despedimento de 15 mil funcionários. Para não melindrar a opinião pública, fala-se de avaliação, de mobilidade; em resumo, tudo para atingir um objetivo já fixado: os despedimentos! Isto é redutor para a instituição, gera desconfianças e cria um clima político e social negativo, num momento em que é preciso modernizar.

Obsessões ideológicas da troika

Tanto mais que o “procedimento de urgência” foi iniciado, sem que dele resulte qualquer benefício estrutural. Por conseguinte, na realidade, prejudica-se um procedimento muito sério, apenas porque a troika continua a fazer pressão com as suas estranhas obsessões ideológicas. Acontece que um tal procedimento pode pôr em perigo o funcionamento dos municípios, das escolas, dos hospitais e de outros serviços públicos. A gestão das reformas a realizar é um fator que conta para o sucesso dessas mesmas reformas. É difícil fazer reformas, quando quase toda a gente está contra. Bem se viu a má gestão do encerramento da radiotelevisão pública. Agora, os membros do Governo tentam, sem o conseguir, reparar os erros cometidos.

Infelizmente, ao longo dos últimos três anos e meio, ouvimos o discurso da “reforma” nos mais variados tons e o facto é que o funcionamento do serviço público vai de mal a pior e quem paga, bem caro, por isso são os cidadãos. O que os deixa ainda mais desconfiados...

VISTO DE MADRID

“Uma sequência perversa”

O acordo sobre o desbloqueamento de mais €6,8 mil milhões para a Grécia é praticamente uma “espiral de reincidência”,escreve o jornal El País. Para este diário espanhol, segue a sequência Grécia-UE: incumprimentos, novos compromissos e pagamento de ajuda. Este guião repetido inclui três passos. O primeiro é a troika concluir que houve incumprimento das condições negociadas com o Governo do país onde se deu a intervenção. Segue-se o compromisso desse Governo de compensar as tarefas não concluídas, com outras medidas – cortes, reformas ou as duas coisas – ou com a alteração do calendário, com o objetivo de facilitar a entrega da ajuda da UE. [...] Mas não se deve esconder a realidade subjacente a esta sequência perversa: os países resgatados são submetidos a uma pressão que agrava a sua tendência para não cumprir (Grécia) e/ou provoca explosões nos governos que aplicam os cortes (Portugal). Tudo isto se conjuga com uma grave incoerência da parte daqueles que prestam as ajudas: por um lado, insistem na austeridade exigida aos resgatados […] e, por outro, concluem, como fez o FMI, que a austeridade requerida só vem agravar os problemas.

“Originais de Bárcenas incluem o pagamento de prémios a Rajoy quando era ministro”




El Mundo - Presseurop

A 8 de julho, o diretor do diário El Mundo, Pedro J. Ramírez, entregou à Procuradoria-geral os documentos originais escritos por Luis Bárcenas, o ex-tesoureiro do Partido Popular (PP, conservador, no poder), atualmente preso, que revelam a existência de uma dupla contabilidade dentro do partido durante vários anos.

Segundo o jornal conservador, esses documentos provam que o primeiro-ministro Mariano Rajoy recebeu prémios irregulares, que iam até €42 mil por ano, entre 1997 e 1999, enquanto era ministro do Governo de Aznar.

Se o juiz encarregue do caso provar a autenticidade dos documentos explica El Mundo,

as consequências para o PP e para Rajoy serão sobretudo políticas, porque o primeiro-ministro deu a sua palavra e negou a existência de financiamento ilegal dentro do partido e declarou que ele próprio não tinha recebido um cêntimo.

EDWARD SNOWDEN ACEITA ASILO NA VENEZUELA




O ex-agente dos serviços secretos estadunidenses Edward Snowden aceitou em 09 de julho a proposta das autoridades da Venezuela de se mudar para este país e obter asilo político, informou no Twitter Alexei Pushkov, presidente do comitê dos assuntos internacionais da Duma de Estado russa.

“Como era de esperar, Snowden aceitou a proposta de Nicolás Maduro de conceder-lhe asilo político. Dá impressão que Snowden qualificou essa variante como a mais segura”, escreveu o deputado. Ele não indicou, contudo, as fontes dessa informação e mais tarde eliminou-a do microblogue.

PORTAS AUTORIZOU QUE AVIÃO DE MORALES SOBREVOASSE ESPAÇO AÉREO PORTUGUÊS



Jornal i - Lusa

"Portugal autorizou o sobrevoo do Falcon do Presidente Morales no território nacional"

O ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas, assegurou hoje que o Governo português autorizou "atempadamente" o sobrevoo em território nacional do Presidente da Bolívia e não colocou em risco a vida de Evo Morales e da sua comitiva.

Paulo Portas participou hoje, ainda na qualidade de ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, numa audição na Comissão de Negócios Estrangeiros e Comunidades Portuguesas, dominada na primeira parte por uma agendamento protestativo do PCP relacionado com o sobrevoo e autorização de aterragem em Portugal do avião do Presidente da Bolívia, Evo Morales, por suspeita de levar a bordo o ex-espião Edward Snowden.

"Portugal autorizou o sobrevoo do Falcon do Presidente Morales no território nacional. Não só autorizou como na verdade o avião do Presidente Morales passou no espaço aéreo português, entrou na zona do Alentejo, até ao espaço aéreo de Porto Santo", referiu Paulo Portas, que em simultâneo apresentou um mapa com o trajeto aéreo do avião presidencial boliviano.

Na introdução prévia, o deputado do PCP Bernardino Soares, considerou que a questão "justificaria um pedido de demissão, não tivesse o senhor ministro já tomado esse decisão", e colocou uma questão que considerou decisiva: "Quem deu a ordem para o avião não aterrar?".

Na resposta, Paulo Portas optou por separar as duas questões "de substância" e pronunciar-se de início sobre a denúncia de escutas e vigilâncias por parte dos serviços de informações dos Estados Unidos (EUA) a missões diplomáticas da UE ou Estados da EU, "que tanto mais é tanto mais preocupante quando acontece entre aliados".

O chefe da diplomacia garantiu que recorreu às informações hoje publicadas em diversos ?media', que excluem a ausência de escutas às representações diplomáticas portuguesas, mas revelou que o Governo convocou o representante diplomático norte-americano.

"O embaixador dos EUA foi convocado ao ministério na semana passada para manifestar a nossa desconformidade inequívoca com tais práticas e que acompanhamos a posição europeia relativamente a solicitar explicações de Washington e deixar claro que escutas no edifício que é o coração da UE em Bruxelas ou em qualquer missão da UE no mundo são preocupação direta do Estado português", referiu.

Numa alusão ao incidente com o avião onde viajava em direção a La Paz o Presidente boliviano, proveniente de Moscovo e forçado a uma escala de 13 horas em Viena, Paulo Portas reafirmou que o sobrevoo foi autorizado, e de acordo com as regras aéreas internacionais e no respeito pela soberania dos dois países.

"Em nenhuma circunstância o Governo português colocou em risco a vida ou a segurança de quem quer que fosse que estava nesse avião", sublinhou.

"Agimos com total cautela, a informação de que Portugal autorizava o sobrevoo foi confirmada diplomaticamente e por escrito com quase 24 horas de antecedência. Portugal respeitou o plano de voo aprovado, respeitou a legalidade internacional", frisou ainda.

Numa nova referência à "questão Snowden", o MNE assinalou que o Executivo "respeita em absoluto a posição de qualquer Governo legítimo, de qualquer Estado soberano, sobre Snowden, o seu trânsito e eventual asilo".

Nesta sentido, assegurou que "a nossa opção foi não pedir informações à República da Bolívia sobre quem vinha ou quem não vinha no avião. Não exigimos informações nem garantias".

Na ronda de perguntas dos deputados, Paulo Portas foi confrontado com as questões colocadas pela oposição, com a deputada do BE Helena Pinto a insistir "na questão de fundo, que foi não autorizar a aterragem", Bernardino Soares a insistir nos reflexos deste incidente nos acordos comerciais entre Portugal e diversos países da América Latina, ou a deputada do PS, Maria de Belém, a "concluir" que "afinal não aconteceu nada".

"Não aconteceu nada, afinal. Estamos a falar de uma ficção e isso é altamente preocupante. De acordo com as explicações que o senhor ministro deu, não houve violação do direito internacional, foi tudo avisado com antecedência, o avião sobrevoo o espaço aéreo", afirmou Maria de Belém Roseira.

A deputada socialista afirmou que, então, "alguma coisa terá que ser feita para evitar que uma não ocorrência" tenha impacto nas relações de Portugal com a América Latina e a Bolívia.

Helena Pinto, do BE, insistiu que Paulo Portas não respondeu à pergunta sobre quais foram "as considerações técnicas" que impediram a aterragem do avião de Evo Morales.

Já Bernardino Soares disse que as explicações do ministro mostram que "a consideração técnica não era verdadeira".

"Assumam isso", afirmou, sublinhando que o motivo avançado por Paulo Portas foi "Portugal não importar" um problema que não é seu, numa referência ao caso Snowden, acusando Portas de contribuir para "o cerco" feito pelos Estados Unidos ao antigo espião.

Paulo Portas voltou a remeter para a sua intervenção inicial, e reafirmou que Portugal não fechou o espaço aéreo ao líder boliviano.

"Não julgo o que fizeram outros Estados, mas Portugal não fechou".

E sublinhou, de novo: "Não pedi garantias ao Presidente da Bolívia sobre quem viajava no seu avião, respeito o que cada Estado soberano pensa sobre Snowden e o seu destino. O problema Snowden não é um problema do Estado português, a soberania de Portugal e da Bolívia foram inteiramente respeitadas".

UM TERRAMOTO CHAMADO SNOWDEN




Se houvesse uma escala para efeitos de denúncias internacionais, como há a Richter para os terremotos, o caso Snowden estaria no topo. De certo modo, as revelações do ex-espião norte-americano são mais impactantes do que as feitas tempos atrás por Julian Assange, com o auxílio de Bradley Manning.

Flávio Aguiar – Carta Maior

No fim de semana passado, a Der Spiegel publicou uma entrevista com Eduard Snowden, feita ainda em junho em Hong Kong por Jacob Appelbaum com a ajuda de Laura Poitras. Na segunda-feira (8), foi a vez do The Guardian publicar mais uma fatia da entrevista feita por Glenn Greenwald (com Poitras na câmera e ajuda de Ewen MacAskill), também em junho e em Hong Kong antes de que as denúncias viessem a público. A primeira fatia fora publicada em 09/06. Ambas as fatias estão disponíveis no site do The Guardian; a entrevista da Spiegel está disponível em alemão e em inglês nos sites da revista, além de extensa análise de como opera a espionagem norte-americana em território alemão.

Juntando os dois segmentos do Guardian com o da Spiegel, é possível agora obter um quadro mais completo da situação e das revelações, conforme os itens abaixo descritos.

1) Existe uma rede praticamente única e fechada entre serviços de informação de cinco países: os EUA, o Reino Unido, a Austrália, a Nova Zelândia e o Canadá. A França aparentemente opera um sistema lateral, embora não desconectado daquele, que Snowden chama de “Five Eye Partners”. O serviço secreto alemão, através do Bundesnachrichtdienst (BND) é uma espécie de “irmão menor” do “Big Brother” norte-americano.

2) Apesar das sucessivas negativas por parte do governo alemão e dos pedidos de explicação da chanceler Angela Merkel ao presidente Barack Obama, é certamente impossível que as operações de espionagem norte-americanas em toda a Europa (na verdade em todo o mundo) e na Alemanha, em particular, fossem desconhecidas pelas autoridades de Berlim. O SPD, os Verdes e a Linke estão cobrando explicações. Mesmo o FDP, parceiro da CDU/CSU no governo, manifestou seu desconforto com as revelações das entrevistas. 78% do público alemão também exige explicações.

3) Frankfurt é um local estratégico para as comunicações e para a espionagem. É nesta cidade – capital financeira da Europa – que os cabos de fibra ótica da Ásia, do Oriente Médio e do antigo Leste europeu se conectam com os do Ocidente. Ali operam a alemã Deutsche Telekom e a norte-americana Level 3, que se jactam de filtrarem 1/3 das comunicaçòes mundiais de internet. É impossível desenvolver a espionagem denunciada por Snowden sem a cooperação destas empresas e de outras em Frankfurt, ou de agentes nela infiltrados, para dizer o mínimo.

4) Uma grande parte das informações armazenadas pelo sistema de espionagem (Snowden declara que o sistema tem capacidade para armazenar tudo o que capta pelo menos por três dias, mas isto está sendo “aprimorado”) parte do que é chamado de “metadata”. “Metada” é, em princípio, o conjunto de listas que todas as companhias telefônicas devem entregar a seus governos, contendo as informações sobre quem chamou quem e quando. Os “metadata” não contém o conteúdo de uma conversação, mas assim mesmo, segundo Snowden e outros pesquisadores da área, eles normalmente são o ponto de partida para detectar quando uma investigação deve ser aprofundada. Diz Snowden e os outros especialistas da área (entre eles o próprio Appelbaum) que as informações “metadata” são suficientes para traçar quase que na totalidade o perfil de um usuário. O sistema está sendo ampliado para a internet. A partir do manejo dos “metadata” e das informações suplementares obtiodas e armazenadas, torna-se fácil, por exemplo, “construir” um perfil de “inimigo” e colá-lo em quem quer que seja.

5) Além das prováveis operações em Frankfurt, a NSA (National Security Agency) certamente ainda opera um centro de espionagem na cidade de Bad Aibling, na Baviera, em cooperação com o BND. Este centro – do tempo da Guerra Fria – será desativado quando o Exército norte-americano concluir a construção de uma unidade na cidade vizinha de Wiesbaden. Tudo desta futura unidade vem dos Estados Unidos, dos tijolos às antenas parabólicas.

6) As entrevistas providenciam uma série de informações colaterais. Por exemplo, Snowden confirma que a NSA e o serviço secreto israelense construíram o vírus Stuxnet, usado para atacar o sistema de computação do programa nuclear iraniano.

7) Uma pequena declaração de Snowden no vídeo divulgado pelo Guardian em 08/07 chama a atenção para um outro aspecto – à primeira vista um pequeno detalhe, mas de fundamental importância. Greenwald pergunta como e por quê ele tomou a decisão de se tornar um “whistleblower”. Ao lado dos problemas de consciência levantados, ele declara que, como agente e analista de espionagem, ele tinha acesso a “informações verdadeiras” (true information), “antes que elas fossem transformadas em propaganda pela mídia”. Ou seja, uma parte do esforço da NSA se concentra em formar a opinião pública, e para tanto a cooperação da mídia – proposital ou não – é fundamental, como atesta o caso da guerra do Iraque.

8) Além da divulgação das informações, as entrevistas de Snowden permitem algumas conclusões relevantes. De fato, a segurança e até a vida dele correm perigo. Por isto, o asilo que ele busca – concedido previamente por três países, Bolívia, Nicarágua e Venezuela – é fundamental. O Brasil deveria no mínimo apoiar estas concessões de asilo, como fez Cuba, senão conceder ele mesmo o asilo. Também deveria fazer parte da ação do governo brasileiro a busca de uma alternativa viável para Snowden deixar Moscou, se for esta sua vontade, em direção ao país em que deseje se asilar. A espionagem e o governo norte-americanos vão caçá-lo por onde passe, e provavelmente com a ajuda subserviente dos governos europeus, como ficou evidente no caso do avião presidencial boliviano.

9) Henrique Capriles, líder da oposição venezuelana de direita, condenou a adecisão do presidente Nicolás Maduro, concedendo o asilo. O gesto é um índice da disposição das direitas do continente diante deste caso. Uma outra consideração importante: parte da nossa mídia conservadora vem tratando Snowden como um “delator”. É fato que a palavra é uma das traduções dicionarizadas para “whistleblower”. Mas seria melhor tratá-lo como “denunciante”. “Delator” tem uma conotação muito negativa no Brasil. Afinal “delator” em nossa história foi Joaquim Silvério dos Reis, que “delatou” a conspiração mineira.

10) Last, but not least, perguntado sobre seu maior medo, Snowden respondeu que era o temor de que, a partir de suas denúncias, nada acontecesse.

Fotos: The Guardian

EM TOM DE AMEAÇA, CASA BRANCA DIZ QUE SNOWDEN SÓ DEVE VIAJAR PARA OS EUA




Opera Mundi – Agência Brasil, Brasília

Governo dos EUA não quer que nenhum país autorize asilo diplomático a ex-agente da CIA

A Casa Branca advertiu nesta terça-feira (08/07) que Edward Snowden não deve ser autorizado a viajar para outro país que não seja os Estados Unidos, em resposta a ofertas de asilo feitas pela Nicarágua, Venezuela e Bolívia.

Os Estados Unidos estão em contato, por meio de canais diplomáticos apropriados, com todos os países que podem ser "passagem ou destino final" de Snowden, disse o porta-voz da Casa Branca, Jay Carney, na sua conferência de imprensa diária.

O porta-voz insistiu que o caso contra Snowden por espionagem "é sólido" e por isso o ex-consultor dos serviços secretos norte-americanos "deve regressar aos Estados Unidos".

Snowden revelou aos jornais The Guardian e The Washington Post um programa de vigilância global norte-americano a comunicações telefônicas e na internet e de espionagem a instituições e embaixadas europeias.

O norte-americano está desde 23 de junho na zona de trânsito do Aeroporto de Sheremetyevo, em Moscou, à espera de uma solução diplomática que evite a sua. 

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Portugal: O APLAUSO




Miguel Gaspar – Público, opinião

“Temível, a linguagem dos gestos falou mais alto do que os silêncios. As câmaras de televisão e dos fotojornalistas revelaram como o inferno está no coração da coligação, que se afirma a si própria como sólida, confiável e pronta a durar.”

Tudo na cerimónia dos Jerónimos soava a falsa inocência e a um falso desejo de redenção. Como se todos tivessem ido pedir a Deus que fizesse desaparecer a última semana.

Quando descem à terra, os governantes já estão habituados a ouvir vaias e apupos.

Mas domingo, na casa de Deus, o aplauso substituiu a vaia. Para conforto do Presidente da República, Cavaco Silva, e do primeiro-ministro, Passos Coelho. Mas não do apontado vice-primeiro-ministro, Paulo Portas. Para ele, apenas silêncio.

Sendo que silêncio foi tudo o que os elementos da trindade que nos governa tiveram para dar aos tristes que governam à saída da Entrada Solene do novo Patriarca de Lisboa, domingo, no Mosteiro dos Jerónimos.

Nem uma palavrinha de consolo para a caixa das esmolas dos repórteres. Mesmo depois do reconfortante e vigoroso aplauso ouvido sob a abóbada do mosteiro onde os pares da república marcaram presença para ouvir D. Manuel Clemente.

Parecia que Deus tinha decidido dar refúgio aos desembestados governantes que tinham passado a semana anterior em sonoras e pueris dissensões, bem como ao Presidente que depois de atraiçoado pelos ditos governantes os forçou a manterem-se juntos.

E o agora D. Manuel III dedicou à crise esta sentença: “A concórdia começa nos corações, quando ninguém desiste de ninguém, seja em que campo for.”

Mas, como dizia o poeta inglês John Milton, “É melhor reinar no Inferno do que servir no Céu”.

E os passos e os gestos dos homens do poder nas naves da igreja de Santa Maria de Belém denunciavam que o inferno da semana que passou estava mais presente nos corações de Cavaco Silva, Passos Coelho e Paulo Portas do que a concórdia que estava nas palavras de D. Manuel III.

Deus não aplacou o inferno da crise política nem os homens que a provocaram se livraram da culpa por comparecerem, servis e submissos, na primeira missa solene do novo patriarca.

Não, não foi a Igreja nem D. Manuel Clemente quem se serviu dos políticos, domingo, nos Jerónimos. Foram os políticos que, pelo exagero e pela forma ostensiva com que se apresentaram quiseram fazer constar que Deus estava com eles – e por isso as chagas da crise iam passar.

Parafraseando São Paulo e a epístola aos romanos, terão perguntado: Se Deus está connosco, quem estará contra nós?

Temível, a linguagem dos gestos falou mais alto do que os silêncios. As câmaras de televisão e dos fotojornalistas revelaram como o inferno está no coração da coligação, que se afirma a si própria como sólida, confiável e pronta a durar.

Veja-se a imagem de Passos Coelho dentro da igreja, depois da ovação. Cumprimenta efusivamente alguns convidados (entre os quais Maria Barroso) sem olhar para o homem que designou vice-primeiro-ministro. É Paulo Portas quem faz um ligeiro gesto e só então recebe um cumprimento seco do primeiro-ministro.

No sábado, no momento do anúncio do novo acordo de governo, o cenário fora o mesmo. Nem um aperto de mão selou a renovada concórdia. Nem um olhar. Apenas um toque de Portas em Passos, ao qual este mal reage. Durante a leitura do documento conjunto, mal se olham.

Regresso aos Jerónimos e à fotografia de Nuno Ferreira Santos, capa do PÚBLICO: aí sobressai o sorriso de Portas para Passos, com o sorriso de quem tem um brinquedo novo (o brinquedo é a política económica, as relações com atroika e a reforma do Estado) enquanto Cavaco, o Presidente, está em primeiro plano, mas desfocado, a aplaudir.

Ao lado de passos, Assunção Esteves, presidente da Assembleia da República, contempla a cena. Durante a cerimónia será filmada a trocar impressões com o primeiro-ministro, que lhe responde com uma expressão de alívio.

Voltando a Paulo (a São Paulo) e à Epístola aos Romanos: Se Deus está por nós, quem estará contra nós?

Não sendo certo de que lado está Deus, parece certo que quem está contra o governo é o próprio governo.

E o aplauso? Porquê o aplauso que, como num circo romano, designou como vencedores do dia o Presidente e o primeiro-ministro e o omitiu o suposto vice-primeiro-ministro, que os analistas e comentadores dão como vencedor desta contenda?

Afinal de contas, quem estava por eles? Por que aplaudiram?

Talvez por estarem dominados pelo medo. Pelo medo do colapso. E por terem visto neles os homens que “salvaram” a coligação e com isso evitaram uma catástrofe. Terão demonizado, por omissão, o Paulo Portas que, solícito, beijava a mão do novo patriarca.

Foi como um aplauso de fim de regime. De regime a quem já só resta o medo do fim e a ilusão de o evitar. Talvez seja um medo exagerado. Ou talvez o medo exagerado precipite o salto para o vazio.

Tudo na cerimónia dos Jerónimos soava a falsa inocência e a um falso desejo de redenção. Como se todos tivessem ido pedir a Deus que fizesse desaparecer a última semana. O beijo de Maria a Cavaco, que o Presidente recebe com surpresa, os apertos de mão forçados, os sorrisos, os olhares que se desviam, os guiões da cerimónia transformados em abanicos…

Um teatro do absurdo com uma missa em pano de fundo e as paredes grossas de um mosteiro que não deixaram entrar o calor mas conservaram a realidade do lado de fora.
Ali um regime e um governo tiveram a ilusão de existir. E, como noutros tempos, foram pedir a Deus a legitimação que perderam.

Um aplauso fez-se ouvir. Mas não era Deus. Era o medo.

*Destaque de parágrafo inicial em itálico é do texto mas com alteração PG

Portugal: O PROGRAMA CAUTELAR – com opinião PG





Onde é que eu já vi este filme. Para muitos um segundo resgate já era inevitável o que inevitavelmente iria trazer mais austeridade mas também a queda deste governo. O enredo é sempre o mesmo. Começámos por justificar fazer sacrifícios e estar sob a pata da Troika com soberania limitada  por estarmos sob um resgate. Afinal parece que um segundo resgate seria necessário e a pata da Troika, a austeridade e a perda de soberania continuariam, mas vindo do nada o segundo resgate transforma-se em Programa Cautelar. Ai que suspiro de alivio que se ouve quando nos vêm dizer que é outra coisa diferente. O que ainda não dizem é que seja resgate ou programa cautelar o que se vai manter é austeridade, pata dos mercados e perda de soberania. Na realidade é a mesma coisa com outro nome e assim salva-se o governo de eleições e engana-se o pagode. 

O SEGUNDO RESGATE E OS GOLPISTAS – opinião PG

Torna-se irresistível não acrescentar mais opinião à que suplementa a fotomontagem do We Have Kaos in the Garden. No texto acima está tudo claro, apesar de muito sucintamente. Mas é o suficiente para qualquer português entender o significado do denominado Programa Cautelar-Segundo Resgate-Mais Austeridade Desbragada-Mais Roubo. Mais privilégios somente reservados à banca, a banqueiros amigos de Cavaco, de Passos e até de Portas. E a grandes empresários da mesma clique. Fora aquilo que é roubado aos portugueses por especuladores internacionais.

Os portugueses devem começar a pensar melhor e a somarem dois mais dois. Afinal não é só Cavaco, os do governo Arrasa Portugal e seus cúmplices que sabem fazer contas e que sabem admitir o golpe devidamente pensado e pesado que calculadamente Cavaco, Gaspar, Passos, Portas, Durão Barroso e outros parece terem arquitetado com a invenção desta chamada crise no governo. Ela foi premeditada com o objetivo de aterrorizarem os portugueses com blufes e chantagens para manterem esta governança terrorista e conseguirem impor mais roubos, mais austeridade. Tudo foi devidamente pensado em Portugal e na UE, talvez que principalmente na Alemanha. Portugal e a maioria dos países europeus já são colónias alemãs. Não acontece por acaso o governo alemão e os terroristas da UE pronunciarem-se sobre o facto consumado da boa remodelação do governo com este acordo PSD-CDS. Facilitando a vida a Cavaco Silva, que certamente irá justificar aos portugueses porque decide continuar a apoiar (ser mentor) o seu governo (este). É que “até na UE aceitam e estão satisfeitos” – dirá. 

Isto foi um golpe muito sujo (algo aconteceu mal e escapou mas foi logo corrigido), os portugueses já nem no presidente da República podem confiar (os que alguma vez nele confiaram). Aliás, quase nenhum destes adeptos do terrorismo que está a submeter Portugal e os portugueses à perda de dignidade e soberania é de fiar. São autênticos Miguel de Vasconcelos, agentes da Traição a que vimos assistindo. Terríveis e maquiavélicos golpistas. (PG-CT)

Portugal: UMA SEMANA QUE DESACREDITOU O PAÍS





1- Toda a gente pensava - e dizia, com mais ou menos razão - que o Governo estava moribundo e que a política de austeridade, além de ser uma desgraça para Portugal, nos levaria de mal a pior. Assim tem sido, como se tem visto.

Entretanto, veio a bomba da demissão de Vítor Gaspar, com uma carta para o primeiro-ministro, especialmente bem escrita, a dizer que tinha errado, sem remédio, sem o apoio necessário do primeiro-ministro. A carta, note-se, foi divulgada pelo seu autor.

Seria que a política financeira e económica, mal conhecida pelos portugueses, ia mudar? Não! Visto que o primeiro-ministro nomeou como ministra das Finanças a antiga secretária de Estado de Gaspar, Maria Luís Albuquerque, extremamente próxima do anterior ministro. Quer dizer: com a demissão de Gaspar nada iria mudar, não obstante a nova ministra ser uma pessoa polémica, dado que tinha mentido, mais de uma vez, no Parlamento.

Passos Coelho não perdeu tempo e pediu ao seu amigo e aliado (de agora, note-se), o Presidente Cavaco Silva, para lhe dar posse imediata - o que aconteceu, estando pouca gente, o que faz pensar que nem todo o Governo foi posto ao corrente.

Ao que parece, ainda a cerimónia não tinha acabado quando rebentou outra bomba: o discurso, completamente inesperado, de Paulo Portas a demitir-se. Também não avisou ninguém nem sequer os seus companheiros mais próximos do partido e membros do Governo. Um discurso bem estruturado, dito pelo autor como irrevogável, que deixou o País entusiasmado. Porque representava o fim de um Governo moribundo, há semanas completamente paralisado.

Direi que esta segunda bomba foi maior do que a primeira. Porque sem os votos do CDS-PP, o Governo perderia a maioria, o que implicava a sua queda automática.

Contudo, o discurso de Paulo Portas foi feito sem dizer nada aos seus companheiros do partido, nem sequer os informou. Souberam tudo pela televisão e pela rádio. Estranha posição de um líder que ignora os seus pares e que talvez julgue que só o que ele diz é o que conta. Enganou-se redondamente, porque os protestos dos membros do CDS-PP não se fizeram esperar... Mesmo dos mais próximos e sobretudo dos dois membros do Governo: Assunção Cristas e Mota Soares.

Perante esta invulgar situação, completamente absurda, o primeiro-ministro, Passos Coelho, não perdeu tempo. E começou por dizer que não aceitava a demissão de Portas, como se alguém, em democracia, pudesse dizer não a um ministro que se demite.

E assim começou a "ópera bufa", como lhes chamaram, das conversas mais ou menos clandestinas entre os três protagonistas principais: Portas, Passos Coelho e Cavaco Silva, este último em silêncio, como de costume, ouvindo e calando.

Até que veio a notícia, depois de muitos boatos e rumores, de que, afinal, Portas aceitava ficar no Governo. Foi na sexta-feira ao fim da tarde. Mas onde, em que pasta e porquê? Ter-se-á arrependido do discurso que fez por estar embriagado ou qualquer outra razão singular?

A verdade é que as conversações entre Passos Coelho e Paulo Portas se prolongaram durante dois ou três dias e finalmente, depois de o primeiro-ministro ouvir várias vezes o Presidente, Cavaco Silva, chegou-se a acordo: Paulo Portas deu o dito pelo não dito e afinal deixou cair o que era irrevogável. Ficou no Governo, ao que diz oDiário de Notícias, como "vice" de Passos Coelho, entrando mais membros do CDS-PP para o Governo.

No entanto, os mercados pronunciaram-se, as bolsas caíram a pique, os juros aumentaram e as agências de rating perceberam finalmente que o Governo português não tinha consistência política e social nenhuma. E é incapaz de ter alguma ideia de mudança.

O Presidente, Cavaco Silva, parece ter gostado da solução, embora tenha continuado em silêncio. A legitimar este Governo, apesar de totalmente desacreditado pela imprensa internacional e pelos portugueses, porque o Presidente não quer é que lhe ponham "o menino nos braços" (ou seja o Governo)...

No sábado passado foi vaiado outra vez pelas duas centrais sindicais em conjunto e por representantes de diversos partidos, mas de janelas fechadas no seu palácio, não deve ter ouvido as vaias, como de costume. E depois de ter falado na Europa, não parece ter dado conta das vaias que lhe fizeram e que se transmitem cada vez mais aos portugueses desempregados e mesmo com emprego, que o detestam. Nunca se viu, desde o 25 de Abril, um Presidente tão impopular.

Entretanto, alguém desapareceu: a jovem ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, que se retirou para parte incerta. Ainda é ministra ou já não, devido ao novo aparelho governamental que está a ser fabricado por Passos Coelho e Paulo Portas? Ninguém sabe responder, se calhar nem a própria...

Nestes poucos dias, o atual Governo perdeu completamente o crédito. A imprensa internacional assim o escreveu. E a troika está já a fazê-lo sentir. Assim não! Não há qualquer base social de apoio. Acontece que a verdade vem sempre à tona de água. Será que Cavaco Silva continua a pensar no pós-troika, daqui a vários anos, e não pensa no descrédito total de um Governo que, ao contrário do que julga, vai de mal a pior e em pouco tempo tudo lhe vai cair em cima, sem remédio? Alguém com um mínimo de senso acredita que o Governo que aí vem, mais desprestigiado do que nunca, com ou sem Portas, não terá ficado totalmente desacreditado nos últimos dias?

Que gente mais incompetente, desacreditada e incapaz! Esperem pelo que aí vem. Porque os portugueses estão fartos e começam a pensar que sem alguma violência as coisas irão sempre de mal a pior. O Presidente que se cuide também... Com este Governo pobre e incapaz, de que ninguém gosta e que nesta semana ficou completamente desfeito, sobretudo no contexto internacional.

Realmente, como é que os mercados podem acreditar num Governo que não tem qualquer base social de apoio e os partidos da coligação, como se tem visto, não têm qualquer impacte na população, sendo que o partido maioritário, o PSD, na sua esmagadora maioria, não se revê no seu partido e que os candidatos às próximas eleições autárquicas se dizem "independentes" para as poderem ganhar...

A composição do Governo refeito não é ainda conhecida, mas parece ter mais representantes do CDS-PP do que sociais-democratas. Tirando a ministra das Finanças, que tendo desaparecido fica agora dependente do seu antagonista, Paulo Portas. Que interessante composição... Ninguém pode esperar nada de uma tal equipa, morta antes de nascer.

2 - TEMOS ESPERANÇA NO NOVO PATRIARCA?

No último domingo, realizou-se a primeira missa de D. Manuel Clemente, atual patriarca, no Mosteiro dos Jerónimos. Havia a esperança de ser um novo impulso para a Igreja portuguesa, muito mais aberta do que a espanhola e mais próxima do pensamento do novo Papa Francisco.

Mas não foi. A missa, instrumentalizada pelo Governo moribundo que temos, tornou-se uma vergonha inaceitável. A presença do Presidente da República, nada discreta, de Passos Coelho e de Paulo Portas e mais a claque dos capangas que lá puseram para bater palmas aos políticos presentes resultou num escândalo. Nenhum católico verdadeiro pode aceitar uma tal humilhação a que sujeitaram o patriarca, que, julgo, não a merecia. Mas a verdade é que não reagiu e pelo contrário parecia satisfeito, como se viu na televisão.

Se a Igreja não deve intrometer-se na política, a verdade é que os políticos também não devem aproveitar-se da Igreja para fazerem propaganda. Teremos voltado ao tempo triste do fascismo?

Foi o que aconteceu, sem que o senhor patriarca tivesse reagido minimamente. Começou muito mal com a sua primeira missa. Direi mesmo que foi uma vergonha que infelizmente o vai marcar negativamente perante os católicos sinceros e progressistas, sem falar dos leigos, como eu, que se lembram bem dos tempos em que o fascismo utilizava a religião...

Não sei agora como é que o senhor patriarca vai falar dos desempregados e dos pobres, quando deixou que os responsáveis por essa desgraça nacional fossem aplaudidos nessa primeira missa, obviamente organizada pelos políticos, como está à vista, quando são vaiados sempre que se atrevem a aparecer na rua.

É óbvio que uma Igreja como o Mosteiro dos Jerónimos é um local sagrado. Não se compreende assim que o novo patriarca, que é uma pessoa culta e experiente, deixasse que os políticos presentes fossem aplaudidos sem que ele, patriarca, lhes lembrasse que a Igreja onde estavam é um lugar sagrado, não é um lugar próprio para esse tipo de manifestações políticas. Começou mal, muito mal, as suas novas funções, como o povo católico mais humilde vai compreender.

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