sábado, 1 de julho de 2023

Arquivos expõem papel britânico nos exércitos terroristas Gladio da OTAN

Arquivos britânicos recém-desclassificados lançam uma luz perturbadora sobre as origens e o funcionamento interno da Operação Gladio, um complô secreto da OTAN que implanta milícias terroristas fascistas em toda a Itália. Os espiões em Londres aplicaram essas lições na Ucrânia?

Kit Klarenberg* | The Grayzone | # Traduzido em português do Brasil

Arquivos recém-desclassificados do Ministério das Relações Exteriores britânico adicionaram detalhes perturbadores à história da Operação Gladio. A operação secreta foi descoberta em 1990, quando o público soube que a CIA, o MI6 e a OTAN treinaram e dirigiram um exército subterrâneo de unidades paramilitares fascistas em toda a Europa, mobilizando seus recursos para minar oponentes políticos, inclusive por meio de ataques terroristas de bandeira falsa.

Entre eles estava o jovem Silvio Berlusconi, oligarca da mídia que foi primeiro-ministro italiano em quatro governos distintos entre 1994 e 2011. Listado como membro do P2, a cabala secreta das elites políticas da época da Guerra Fria dedicada aos objetivos de Gladio, Berlusconi sem dúvida levou alguns segredos de peso para o túmulo quando morreu em 12 de junho.

É quase impossível acreditar que verdades inconvenientes não tenham sido retiradas do registro documental britânico sobre a Operação Gladio antes da desclassificação. No entanto, o material lançado recentemente é altamente esclarecedor. Cobrindo um período tenso de doze meses após a primeira revelação pública da existência de Gladio, os documentos ilustram como o aparato de inteligência estrangeira de Londres manteve um olhar atento sobre o continente à medida que os eventos se desenrolavam.

Os documentos não apenas lançam uma nova luz sobre a conspiração, mas também destacam a relevância de Gladio à medida que a inteligência britânica se junta a seus homólogos americanos em tramas contemporâneas envolvendo forças partidárias secretas da Síria à Ucrânia.

Várias passagens espalhadas pela parcela sugerem fortemente que os britânicos sabiam muito mais do que admitiram publicamente sobre atos criminosos flagrantes, incluindo a tentativa de derrubada de um governo italiano aliado e o sequestro e assassinato de seu líder.

GOVERNOS DOS EUA E DO REINO UNIDO COLABORARAM COM NAZIS NA UCRÂNIA

COMO ESPECIALISTAS EM PROPAGANDA DO GOVERNO DOS EUA E DO REINO UNIDO COLABORARAM COM NAZIS NA UCRÂNIA

Uma investigação da MintPress descobriu que uma série de funcionários do governo ocidental, agentes de inteligência e ativos estão diretamente envolvidos em colaboração íntima com grupos e indivíduos nazistas desde pelo menos 2014. Isso incluiu o envolvimento na criação e operação da lista de mortes administrada pelos nazistas na Ucrânia, que a MintPress revelou recentemente.

David Monteiro* | Mint Press News | # Traduzido em português do Brasil

Embora a mídia ocidental tenha sido forçada tardiamente a admitir que há influências nazistas na Ucrânia, muitos jornalistas insistiram que os adesivos fascistas visíveis nos uniformes estão lá apenas para trollar os russos e que eles são insignificantes e um presente para a propaganda russa. Ainda assim, outros jornalistas admitem pedir aos militares ucranianos que encobrissem seus símbolos nazistas. No entanto, como veremos, essa colaboração vai muito além.

Talvez um bom lugar para começar seja com o papel contínuo de um importante funcionário ligado à inteligência que assumiu um papel de propaganda em nome da Ucrânia desde o lançamento, em fevereiro de 2022, do que o governo russo chama de "Operação Militar Especial". Conheça Cormac Smith, membro da primeira equipe irlandesa de bobsleigh a se classificar para os Jogos Olímpicos de Inverno em 1992. Ele apareceu em dezenas de reportagens que transmitiam pontos de propaganda ocidental sobre o papel da Rússia na Ucrânia. Mas para quem Smith está trabalhando?

De acordo com seu próprio relato, ele é um "cidadão privado" que apoia a "Ucrânia/liberdade global". No entanto, até dezembro de 2018, ele era o vice-diretor de comunicações do Gabinete do Reino Unido – órgão oficial responsável por apoiar o primeiro-ministro. Ele também foi anteriormente ligado ao Ministério das Relações Exteriores do Reino Unido como assessor de comunicações estratégicas do ministro das Relações Exteriores da Ucrânia.

Em maio passado, o jornal The Irish Independent afirmou que Smith é "um ator chave improvável na guerra da informação", que "estima ter dado cerca de 100 entrevistas de TV, rádio e mídia impressa com a mídia internacional nos últimos meses para contar o lado de Kiev da história". Smith tem uma linha simpática em jogadas de propaganda ultrajantes, alegando que os russos são os verdadeiros nazistas e que eles assassinam, estupram e saqueiam, incluindo o estupro de crianças.

Como se vê, a fonte de muitas das alegações de estupro – incluindo vários supostos casos de estupro até a morte de crianças – foi a comissária parlamentar ucraniana para os direitos humanos, Lyudmila Denisova. Alegava-se que as suas provas eram uma linha de apoio criada para denunciar alegações de abusos dos direitos humanos. Suas histórias eram demais até mesmo para o governo ucraniano, que a demitiu no final de maio de 2022.

No ano passado, ficou demonstrado de forma abrangente que suas histórias tinham pouca base probatória. No entanto, mesmo antes disso, ela já havia admitido "promover notícias falsas para persuadir os países ocidentais a enviar mais armas e ajuda". Smith, no entanto, continuou fazendo alegações vagas de estupro (incluindo de crianças) por meses depois. Naturalmente, nenhuma evidência foi citada. Ele repetiu a acusação de estupro quase mensalmente entre abril de 2022 e janeiro de 2023. (Em 2022: maio, agostosetembrooutubronovembro e em 2023: janeiroabrilmaio).

Em abril de 2022, ele concluiu um tuíte sobre os supostos estupros de "2 milhões de mulheres de todas as idades" com a frase: "Os russos são animais foda, não há outra Rússia, eles devem ser derrotados".

BCE: UM INSTRUMENTO DE CLASSE DA UNIÃO EUROPEIA

O BCE reconhece lucros extraordinários. Sabe que há uma transferência histórica de rendimentos do trabalho para o capital, mas quer manter os trabalhadores na miséria. É uma política de classe, para uma classe e levada a cabo por essa classe. 

AbrilAbril | editorial

A culpa para a inflação tem vindo a ser colocada nos trabalhadores. Esta é a única leitura possível das recentes declarações de Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu que esteve esta semana em Portugal, numa clara postura de prepotência. Lagarde procurou ver a seus pés um país submetido às suas ordens, procurou humilhar quem trabalha e, tal como nas séries medievais, procurou juras de obediência juntos das instituições portuguesas. O Governo português finge mostrar discordâncias, mas praticamente tudo acata e o Banco de Portugal comporta-se como uma sucursal.

Não deixa de ser interessante analisar as declarações de Lagarde, a sua vontade e a sua opção vincada, e ao mesmo tempo analisar os dados que vão sendo revelados pelo próprio BCE. No largo rol de citações que se retirou de Lagarde esta semana, pudemos ver que o ónus da culpa para eventuais subidas da inflação e consequente aumento de taxas de juro está nos trabalhadores que, ao verem-se a empobrecer, exigem aumentos salariais. A presidente do BCE não tem pejo em reconhecer que efectivamente os trabalhadores viram uma desvalorização dos salários reais e não tem problema em admitir que as margens de lucros das empresas aumentaram com a inflação, mas por mera opção de classe, ameaça os trabalhadores que se sentem roubados, injustiçados e revoltados.

Veja-se que num relatório do BCE publicado em Março, foram divulgados dois quadros com a evolução setorial dos salários e dos lucros em dois períodos temporais distintos para efeito de comparação. Um primeiro período que compreende o quarto trimestre de 2019 até ao primeiro trimestre de 2022, e um segundo período que compreende o primeiro trimestre de 2022 e vai até ao quarto trimestre do mesmo ano.

Portugal – UE | COVEIROS DA DEMOCRACIA

Carvalho da Silva* | Jornal de Notícias | opinião

Christine Lagarde e o seu séquito do Banco Central Europeu lá vieram fazer o fórum anual à serra de Sintra, lugar paradisíaco em tempos de calmarias e perturbações. Mas, nem a frescura e os encantos desta linda serra, nem a evidência das baixas condições de vida do povo português - a quem não falta História, nem tempos de provações - abalaram as crenças desta espécie de “seita”. A realidade já várias vezes demonstrou quão injustas e perigosas são as suas receitas, mas Christine clama dos banqueiros que não haja “espíritos vacilantes” e ameaça os cidadãos: os juros elevados serão mantidos, “enquanto for necessário”. Necessário para quem e para quê?

Muitos descontentamentos que alimentam o cavalgar das forças ultraconservadoras e fascistas na Europa emergem dos duros impactos do fundamentalismo monetarista defendido por esta gente. Esse enorme problema político pode vir a provocar um grave recuo nas liberdades, na cidadania e na dignidade do trabalho, estilhaçando a democracia, mas isso não os incomoda. Prosseguem na sua linguagem hermética para o comum dos cidadãos, ignoram os falhanços das suas receitas como forma de manter os dogmas e não mudarem de agulha. Repetem a crença inabalável de que quaisquer outras políticas seriam sempre piores e prosseguem na adoração ao “deus” mercado.

O discurso de Lagarde, na abertura do fórum, ordena bem as suas preocupações. Em primeiro lugar está a proteção do sistema financeiro, deixando-lhe liberdade para todo o oportunismo especulativo. Em segundo, vêm os interesses das grandes companhias empresariais que, mais ou menos produtivas, funcionam como plataformas financeiras. Em terceiro lugar, surge a articulação com as estratégias dos países poderosos. As preocupações com as condições de vida e os direitos dos cidadãos não têm espaço, nem sequer para serem enunciadas.

Não lhes importa a realidade de cada país. As afirmações do presidente da República Portuguesa e do primeiro-ministro dizendo que os portugueses estão em dificuldade perante o impacto que as elevadas taxas de juros têm, nomeadamente nos custos da habitação, tornam-se quase ridículas. Lagarde já tinha dado a resposta antecipada ao defender a vantagem de as famílias optarem por “empréstimos hipotecários de juro fixo”. Como é que isso se pode fazer em Portugal?

Os salários, em Portugal como na generalidade dos países, não são os responsáveis pela espiral inflacionista que temos vivido, e têm perdido muito valor real. Para esta seita, essas provas - que eles próprios reconhecem - não valem nada: os salários são sempre os grandes suspeitos. Assim avançam (num exercício de bruxaria) com a tese de que é preciso precauções porque “os salários crescerão mais 14% até ao final de 2025”, recuperando “o valor real que tinham antes da pandemia”.

Entretanto, para tornarem os seus argumentos mais verosímeis invocam a perda de produtividade em alguns setores e tratam-na como se fosse um dado absoluto. E quase lamentam que não esteja a haver mais desemprego. Tudo isto está plasmado no discurso de Lagarde. Além disso, é execrável a comparação que faz entre a “ganância inflacionista” dos grandes grupos empresariais que aproveitaram a inflação para ampliarem escandalosamente as suas margens de lucro, com a “ganância” dos trabalhadores ao quererem recuperar e melhorar os salários.

Precisamos de políticas sérias e governos que tratem dos problemas das pessoas, não desta sabedoria tão especializada e focada na exploração dos povos e na ampliação das desigualdades.

*Investigador e professor universitário

Racismo | Em França, os portugueses “só estão protegidos pelo pára-raios magrebino”

França voltou a ser palco de protestos violentos, após um jovem ter sido morto pela polícia. O PÚBLICO falou com Carlos Pereira, jornalista que acompanha a comunidade portuguesa no país. Carros queimados, montras partidas, polícias e civis feridos. Várias cidades francesas voltaram a ser assoladas por protestos violentos, após a morte, na terça-feira, de um jovem de 17 anos baleado por um agente da polícia.

Em França, os portugueses “só estão protegidos pelo pára-raios magrebino”
Nahel, residente em Nanterre, nos subúrbios de Paris, e de ascendência magrebina, foi mandado parar numa operação policial sob suspeita de infrações de trânsito, mas tentou abandonar o local. Acabou morto a tiro. O momento foi filmado, o vídeo foi divulgado nas redes sociais, e reacendeu o debate sobre racismo e violência policial em França, levando dezenas de milhares de manifestantes para as ruas.

O que está a acontecer em França?
Os jovens estão a reagir a uma postura da polícia que consideram demasiado agressiva em relação a quem vive nos subúrbios das grandes cidades — neste caso, de Paris. As redes sociais transmitiram o vídeo de uma morte quase em directo e o impacto foi enorme.

Nanterre é uma grande cidade junto à capital, onde o presidente da câmara [Patrick Jarry, do Partido Comunista Francês] valoriza muito a interculturalidade e tem estado na linha da frente a manifestar o seu apoio e solidariedade à família de Nahel. Mas também tem apelado aos jovens para que mantenham a calma.

A morte de Nahel é sinal de racismo e xenofobia em França, como denunciam os manifestantes?
O assunto é complexo. Há outra vertente muito importante a ter em conta: a bipolarização do debate político. De um lado, a direita e a extrema-direita afirmam que os polícias estão a defender a segurança do país, e se recorrem à força é porque é necessária. Do outro, a esquerda e a esquerda radical dizem que os polícias matam. E o discurso da população é reflexo dos discursos da classe política. Já o sindicato dos agentes das forças de segurança defende que há uma pressão enorme sobre os polícias, que não têm formação suficiente e que são poucos.

Mas viver em certos subúrbios de Paris, como este onde tudo aconteceu, pode ser, por si só, uma forma de discriminação. Há bairros degradados, sem os serviços necessários, e demolir esses prédios não resolve problemas.

REVOLTA FRANCESA

Paolo Lombardi, Itália | Cartoon Movement

Hungria | "Uma coisa é certa: nós, húngaros, não vamos dar mais dinheiro à Ucrânia..."

“Como levaram a União Europeia à beira da falência?”: Viktor Orbán exige saber o destino de 70 mil milhões de euros de fundos europeus

Viktor Orbán, primeiro-ministro da Hungria, indicou esta sexta-feira que a União Europeia está à beira da bancarrota – a Comissão Europeia pediu aos Estados-membros, na passada terça-feira, novas contribuições nacionais para o orçamento da UE no valor de 65,8 mil milhões de euros até 2027, para financiar prioridades como apoio à Ucrânia, gestão da migração e tecnologias limpas.

Nas redes sociais, o responsável político deixou a questão: “A única pergunta que todos fazem aqui em Bruxelas é: para onde foi o dinheiro?” Orbán está atualmente a participar na cimeira de dois dias dos líderes da União Europeia, em Bruxelas, e um dos temas mais controversos é a questão de saber para onde foi o dinheiro do orçamento da UE. “Surge a pergunta: como surgiu esta situação e como levaram a União Europeia à beira da falência?” perguntou Orbán.

Orbán observou ainda que a UE está a exigir mais dinheiro dos Estados-membros, embora esteja apenas no segundo ano do seu orçamento de sete anos – ou seja, o dinheiro que foi aprovado para ser gasto para próximos cinco anos já foi gasto.

“Querem receber 50 mil milhões de euros dos Estados-membros para doar à Ucrânia, enquanto não podem nem prestar contas do dinheiro que lhes demos até agora. Querem mais dinheiro dos Estados-membros para poderem pagar os juros dos empréstimos da União Europeia que contraíram anteriormente. São empréstimos dos quais a Polónia e a Hungria não viram um único cêntimo até agora”, acusou Orbán.

“A posição húngara é clara”, frisou. “Primeiro, queremos saber em que foi gasta a enorme quantidade de dinheiro que demos até agora. Depois, queremos saber quem é o responsável pelo facto de a União Europeia estar à beira da falência”.

Em entrevista à rádio estatal húngara, à margem do Conselho Europeu, em Bruxelas, Viktor Orbán sustentou a mensagem.

“Uma coisa é certa: nós, húngaros, não vamos dar mais dinheiro à Ucrânia enquanto não disserem para onde foram os cerca de 70 mil milhões de euros de fundos anteriores”, referiu. “E achamos absolutamente ridículo e absurdo que devamos contribuir com mais dinheiro para financiar os custos do serviço da dívida de um empréstimo do qual ainda não recebemos os fundos a que temos direito”, acrescentou.

Francisco Laranjeira | Sapo

França-Racismo | Mais de 1.300 pessoas detidas na quarta noite de distúrbios

Segundo o Ministério do Interior do país, 1.311 pessoas foram detidas durante a última noite, em comparação com 875 na noite anterior. Os distúrbios estão a ser considerados os piores a nível de violência desde os protestos dos Coletes Amarelos.

Ainda assim, "a violência cometida durante esta noite foi de menor intensidade em comparação com a noite anterior", escreveu o Ministério no Twitter este sábado.

Prédios e veículos foram incendiados e lojas pilhadas nos tumultos que se espalharam por todo o país, incluindo em cidades como Marselha, Lyon, Toulouse, Estrasburgo e Lille.

Segundo o Ministério do Interior, "79 polícias e gendarmes ficaram feridos", cerca de 1.350 veículos foram incendiados, 234 edifícios foram queimados ou danificados e cerca de 2.560 incêndios foram registados na via pública.

Os protestos e os tumultos urbanos foram desencadeados terça-feira após a morte, abatido a tiro pela polícia, de um jovem de 17 anos que não respeitou uma "operação stop".

UMA ALTERNATIVA À PARALISIA DA ALEMANHA

– Expulsa recentemente do partido A Esquerda, Sahra Wagenknecht prepara-se para fundar uma nova formação diferente do sistema atlantista e do populismo de direita.

Eduardo J. Vior [*]

Ao expulsar a líder histórica da corrente marxista de A Esquerda (Die Linke), a direção do partido fez-lhe mais um favor do que um dano. O grande mal, pelo contrário, foi infligido a si própria e, paradoxalmente, ao seu equivalente no outro extremo do sistema político alemão, a Alternativa pela Alemanha (AfD). Rompendo todos os diques do esclerótico sistema político alemão, o discurso pacifista, socialista e popular de Sahra Wagenknecht granjeou-lhe a simpatia tanto dos eleitores de esquerda como dos conservadores. Se agora construir uma força transversal, desencadeará uma torrente que poderá destruir o Estado liberal e ameaçar o domínio dos EUA na Alemanha.

O partido A Esquerda (Die Linke) apelou no sábado, dia 10, à sua antiga líder, Sahra Wagenknecht, para que renuncie ao seu mandato no Bundestag (câmara baixa do parlamento alemão). Wagenknecht e outros esquerdistas não citados nominalmente devem devolver os seus mandatos, afirma um comunicado da presidência federal do partido. De acordo com a Lei Fundamental, Sahra Wagenknecht não é obrigada a devolver o seu mandato, mas está desvinculada do partido.

Sahra Wagenknecht, de 54 anos, filha de um iraniano (daí o nome “Sahra”) e de uma alemã, foi membro da Juventude Socialista da Alemanha de Leste e, após a reunificação, aderiu ao Partido da Democracia Socialista (PDS), sucessor do antigo Partido da Unidade Socialista (SED) da extinta República Democrática Alemã (RDA). Na nova estrutura, presidiu à Plataforma Comunista, uma corrente interna ortodoxamente marxista, durante vinte anos. Em diferentes alturas, foi também membro da Presidência do Partido Federal e é deputada no Bundestag desde 2009. Durante a sua carreira, teve muitos confrontos com a maioria da direção do partido, que considerava “demasiado adaptada” à democracia liberal.

No entanto, foi depois das eleições legislativas de 2021, em que a esquerda perdeu metade dos seus votos, que a coexistência se tornou quase impossível. Enquanto a corrente dominante, seguindo a deriva identitária da esquerda europeia, prossegue uma agenda centrada nas políticas de género, no ambientalismo, no europeísmo, na abertura das fronteiras e no antirracismo, a minoria de esquerda acentuou a sua luta pelos direitos sociais, o pacifismo, a boa vizinhança com a Rússia e a integração dos imigrantes. Após a eclosão da guerra na Ucrânia, as diferenças acentuaram-se, porque a maioria adoptou o rumo anti-russo de grande parte do sistema político e a esquerda manifesta-se pela procura imediata de negociações com a Rússia, ao mesmo tempo que denuncia os EUA como o instigador da conflagração na Europa de Leste.

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