sexta-feira, 9 de março de 2018

No burgo lusitano | DESINFORMAÇÃO POR OMISSÃO


Passou quase em silêncio nos media portugueses o importante discurso de 1 de Março do presidente russo . No burgo lusitano este discurso de 13500 palavras mereceu apenas umas pequenas notas nas páginas internas dos jornais corporativos. Numa delas, O Público, um jornalista simplório sugeria no título que o discurso fora feito "a pensar nas eleições" (sic) – como se Putin precisasse disso! 

Esta omissão de informação oculta deliberadamente a gravidade da presente situação mundial e o perigo da guerra nuclear. 

As ameaças de guerra por parte do imperialismo intensificam-se, não só na Síria. Na Europa a NATO aumenta orçamentos e planeia transformar o continente em campo de batalha nuclear. Na Ucrânia entrega armamento pesado aos nazis de Kiev. No Báltico, na Polónia e na Roménia instala e reforça bases militares para o cêrco à Rússia. Na Coreia sabota as conversações pacíficas entre o Norte e o Sul. 

A advertência feita agora pelo presidente Putin merece ser levada a sério e não deveria ser ocultada. Ele revela novos tipos de armas de que dispõe a Rússia e declara em termos inequívocos a doutrina militar russa: 

"A Rússia reserva-se o direito de utilizar armas nucleares unicamente em resposta a um ataque nuclear, ou a um ataque com armas de destruição em massa contra o país ou seus aliados, ou um acto de agressão contra nós com a utilização de armas convencionais que ameacem a própria existência do estado. Tudo isto é muito claro e específico. 

"Como tal, considero do meu dever anunciar o seguinte:   Qualquer utilização de armas nucleares contra a Rússia ou seus aliados, armas de curto, médio ou qualquer alcance, será considerado como um ataque nuclear a este país.   A retaliação será imediata, com todas as consequências decorrentes". 

Aqueles que muito palram acerca da "liberdade de informação" não a praticam pois escondem o que é importante e desinformam-nos com trivialidades.

Resistir.info

O que a Rússia quer na África?


Na esteira de velhos laços soviéticos, ministro russo do Exterior faz um tour pelo continente africano. Moscou está de olho sobretudo na expansão de relações comerciais. E em matérias-primas.

A primeira viagem do ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, à África começou no início da semana em Angola. Nesta quinta-feira (08/03), o diplomata visitou o Zimbábue, e o roteiro do ministro pelo continente também inclui Namíbia, Moçambique e Etiópia.

Depois de conversar na segunda-feira com o presidente de Angola, João Lourenço, e seu colega de pasta angolano, Manuel Domingos Augusto, Lavrov enfatizou em coletiva de imprensa a longa relação entre os dois países. O ministro russo disse esperar que os laços se tornem ainda mais estreitos – em áreas como educação, energia e cooperação militar.

"Nós acreditamos que os problemas africanos precisam de soluções africanas", disse o diplomata russo na capital angolana. "A comunidade internacional deve respeitar a decisão dos africanos sobre como se deve pôr fim a um conflito e proporcionar-lhes apoio moral, político e financeiro para o treinamento de pessoal de missões de paz. A Rússia tem participado ativamente desse esforço", acrescentou.

Assim, Lavrov deu o tom de sua viagem. Trata-se de um retorno da Rússia ao continente africano, afirma Evgeny Korendyasov, ex-embaixador soviético em Burkina Faso e ex-representante russo no Mali. Hoje, ele dirige o Centro de Pesquisa das Relações Russo-Africanas na Academia de Ciências de Moscou.

"A importância política e econômica da África vem aumentando", diz Korendyasov, apontando que diante de mudanças no equilíbrio global de forças surge uma disputa por novos parceiros no continente.

"Sem a África não é possível encontrar uma resposta para os problemas urgentes do novo século, como as mudanças climáticas, o terrorismo e a criminalidade transnacional", afirma.

Caminhos conhecidos

Em particular, a Rússia está interessada na expansão das relações comerciais e econômicas com a África. Nesse contexto, os recursos naturais desempenham um papel importante.

A Rússia não consegue suprir a própria demanda por matérias-primas com o que produz, aponta Korendyasov, sendo que o manganês, por exemplo, precisa ser completamente importado, assim como 80% do cromo. Os russos também não conseguem atender à sua demanda de urânio com as próprias reservas.

Portanto, não é coincidência que Lavrov esteja justamente visitando quatro países africanos ricos em matérias-primas. A Namíbia, por exemplo, está a caminho de se tornar o terceiro maior produtor de urânio do mundo. Em Moçambique, a petrolífera russa Rosneft pretende participar da exploração de petróleo offshore.

Mas a escolha dos países também segue outro padrão: Lavrov persegue caminhos conhecidos. Durante a Guerra Fria, Moscou foi um importante parceiro de muitos jovens Estados africanos. A União Soviética apoiou muitos movimentos de independência. Entre eles, a Organização dos Povos da África do Sudoeste (Swapo) na Namíbia, que é hoje o partido governista.

Durante suas visitas nesta semana, o ministro russo do Exterior não se cansa de invocar esses antigos pontos comuns. Condizente com isso – como na terça-feira na Namíbia – está o seu apoio às exigências da União Africana de um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU.

"As conquistas da era soviética não podem ser menosprezadas", afirmou Korendyazov, explicando que as experiências dessa época devem servir como base de novos desenvolvimentos. Angola, Namíbia, Moçambique, Zimbábue, Etiópia: para o especialista russo em assuntos africanos, estes são os "cinco grandes" do continente.
No fim da semana, a última estação da viagem de Lavrov será a Etiópia. O país é o parceiro mais antigo da Rússia na África. As relações diplomáticas entre os dois Estados perduram há 120 anos.

Ambos os países estão celebrando esse jubileu com uma série de eventos e visitas mútuas. Cerca de 20 mil etíopes estudaram na antiga União Soviética e na Federação Russa, estima Grum Abay, embaixador da Etiópia em Moscou. Ele disse ter muitas expectativas em torno da visita de Lavrov. Entre outros, ele espera que sejam implementados voos diretos entre os dois países

"Acreditamos que as negociações sobre o tráfego aéreo entre a Etiópia e a Rússia sejam concluídas em pouco tempo", disse o embaixador em entrevista à DW. "Então poderemos expandir o comércio de flores em grande estilo. Não somente flores, mas colocaremos no mercado russo todos os artigos de exportação etíopes."

Visita de homólogos

Desde o início, vinha causando sensação a perspectiva de uma reunião de Lavrov com seu homólogo americano, Rex Tillerson, que chegou à Etiópia nesta quarta-feira e segue para Djibouti, Quênia, Chade e Nigéria. No entanto, um encontro entre os dois diplomatas ainda não aconteceu.

Durante a sua visita à Etiópia, Tillerson alertou os países africanos para terem cuidado com as condições dos investimentos chineses no continente, chamando atenção para os termos dos acordos.

"No que diz respeito à China, como já disse em outras partes do mundo, não estamos de forma alguma tentando expulsar os investimentos chineses da África, porque são necessários", disse o secretário de Estado. "Cremos, no entanto, que é importante que os países africanos considerem com cuidado os termos desses investimentos e não renunciem à sua soberania."

No Zimbábue, Lavrov disse que não seria apropriado que Tillerson criticasse as relações entre a China e os países africanos. "Não foi apropriado criticar as relações de seus anfitriões – na condição de um convidado – com outro país."

Philipp Sandner (ca) | Deutsche Welle

Marco histórico em Bissau: Governo contribui para legislativas


O Governo guineense disponibiliza, pela primeira vez na história da sua democracia, um milhão de dólares americanos (cerca de 813 mil euros) de apoio às eleições legislativas, previstas para este ano.

O "Projeto de Apoio à Organização de Eleições Legislativas de 2018", que suporta o desembolso da verba, foi assinado esta sexta-feira (09.03) por Modibo Touré, Representante Especial do Secretário-geral da ONU no país, e João Mamadu Fadiá, ministro da Economia e Finanças em gestão.

A iniciativa do Governo de Bissau marca o início de uma nova era, que visa reduzir os esforços da comunidade internacional no processo, assegurou o ministro no momento da assinatura do documento. "Este é um contributo em nome do povo. É um virar de página, queremos dar esse sinal, que aliás vem na sequência de outros esforços feitos através do Orçamento Geral do Estado.” Fadiá acrescentou ainda que, se houver condições, o Estado guineense não deixará de assumir a sua responsabilidade, pois "quem deve organizar e sustentar todo o processo eleitoral devem ser as autoridades do país", explica.

Modibo Touré, da parte da ONU, realçou a importância desta ação do Governo para a realização das eleições e reconheceu que o montante representa um passo relevante para assegurar a transparência e credibilidade do processo eleitoral. "Hoje marcamos uma outra etapa importante na preparação das eleições legislativas do ano 2018, com a oficialização de um instrumento que vai permitir a coordenação em conjunto dos esforços do Governo da Guiné-Bissau, do órgão de gestão do processo eleitoral e dos seus parceiros aqui presentes para umas eleições justas, credíveis, consensuais, inclusivas e transparentes”.

De acordo com fontes oficiais, o orçamento para eleições legislativas na Guiné-Bissau ronda os oito milhões de dólares americanos.

A verba vai ser gerida pelo Programa das Nações Unidas, PNUD, entidade responsável pela gestão do fundo eleitoral na Guiné-Bissau. O PNUD visa registar os eleitores para as legislativas e garantir "eleições transparentes e credíveis, de acordo com a legislação nacional e os padrões internacionais".

Victor Madeira dos Santos, Delegado da União Europeia em Bissau, salientou que a contribuição do Governo guineense abre o caminho para ações similares de outros parceiros: "A partir de agora há um fundo, para o qual teremos que contribuir. E nós vamos incentivar todos a fazê-lo."

Legislativas ainda em dúvida

Este anúncio de contribuição por parte do Governo guineense surge numa altura em que se encontra em Bissau uma missão de Especialistas Eleitorais do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. As reuniões com as autoridades nacionais para discutir os preparativos técnicos, materiais e financeiros, de forma a cumprir o calendário eleitoral no país iniciaram-se esta sexta-feira.

De acordo com o Gabinete Integrado das Nações Unidas para a Consolidação da Paz na Guiné-Bissau, a missão designada Força Tarefa Eleitoral do PNUD chegou a Bissau para atender a um pedido formulado pelo Governo guineense feito em 2017, que visava a preparação das eleições legislativas em 2018 e das presidenciais em 2019.

Apesar destes esforços, alguns observadores na capital guineense consideram que a data para a realização do pleito eleitoral ainda este ano, será difícil de cumprir. Entidades responsáveis para a condução do processo eleitoral, como a Comissão Nacional de Eleições (CNE) e o Gabinete de Apoio ao Processo Eleitoral (GETAP), descartaram já a possibilidade de realização das legislativas, que estavam previstas para maio deste ano.

Fátima Tchumá Camará (Bissau) | Deutsche Welle

ANGOLA | Recados e reclamações


Caetano Júnior | Jornal de Angola | opinião

As chuvas que caem sobre a província de Luanda e os danos (físicos,  emocionais e materiais) delas consequentes a muita gente já não assombram. A este agregado, a notícia de mortes, o desaparecimento de pessoas, o alagamento e desabamento de residências, a abertura de crateras, o isolamento de famílias ou a transformação destas em grupos de desabrigados há muitos anos que passou a constituir  “evento normal”, de tão repetitivo.

Também para este conjunto de indivíduos, visitas às zonas mais afectadas pelas enxurradas, reuniões com técnicos, para levantamento da situação e posterior busca de soluções, promessas de apoio às vítimas e outros expedientes não passam de exercícios sem resultados práticos, como se tem comprovado. Afinal, jornadas de campo juntam hoje milhares de quilómetros e são comuns às autoridades que ao longo dos anos governaram a província, assim como semelhantes são os efeitos dessas incursões sobre a realidade quotidiana do vulgar cidadão.

Ao longo de muitos anos, sempre que a chuva fustiga Luanda, os resultados são tão previsíveis que aquele que mais sofre com as consequências aperfeiçoou a providência. Tem, por exemplo, botas de borracha para calçar e sacos de plástico para envolver os pés, para quando a necessidade o obrigar a atravessar a rua, que, de repente, quer fazer concorrência ao rio Kwanza. Se, entretanto, lhe faltarem os “apetrechos” para os pés, deve  dispor dos recursos mínimos para alugar as costas de um assalariado a quem a chuva ofereceu a oportunidade de abrir um pequeno “negócio”.

De tão conhecido o quadro que as chuvas desenham, sempre que descem sobre a província de Luanda, visionários preparam fios, que instalam ao longo de percursos enlameados, para que neles transeuntes se apoiem e façam a travessia. Há ainda quem tenha à disposição baldes com água, que usa para limpar os pés daquele que chegou do outro lado da lagoa. Portanto, embora seja, neste exacto contexto, fonte, sobretudo, de desgraça, a chuva transformou-se, também, num meio pelo qual os mais engenhosos conseguem dinheiro.

Assim, quem reconhece na chuva fenómeno natural ofensivo rodeia-se de cuidados, protegendo-se de perigos que a sua passagem pode potenciar. Aquele que, por seu lado, a vê como fonte de rendimento mune-se dos “apetrechos” indispensáveis aos serviços que deve prestar a quem deles se vir necessitado. Só as autoridades parecem, entretanto, colocar-se a leste das várias situações, entre as quais as tragédias anunciadas, no rescaldo das enxurradas.

De outro modo, não há como encaixar que, ano após ano, as autoridades da província continuem por criar, pelo menos, medidas preventivas, que, em tempos de quase calamidade, seriam accionadas para atender pessoas em dificuldades e zonas sob risco. “Pelo menos” porque, ao tempo que já duram o desconforto e os males maiores que vêm com a chuva, as acções de quem dirige deviam ir para lá de preventivas.  

Os problemas que Luanda vive, sempre que sofre a acção da chuva, são velhos e recorrentes e não se circunscrevem aos bairros mais antigos. Por exemplo, sofre com alagamentos aquele que habita o Cazenga ou a Samba, como o morador de uma centralidade ou de um condomínio em Talatona, erguidos nestes tempos de demanda tecnológica. O quadro é de uma tal gravidade, que acções preventivas estariam já desajustadas da realidade em que se transformou a maior parte dos bairros, embora possam ainda servir de recurso, em contextos como o actual, de emergência e de dificuldades financeiras. Contudo, e em respeito ao rigor, intervenções paliativas, tendentes a aliviar situações eventualmente mais graves num determinado lugar, nunca deviam ter sido encorajadas, sobretudo, quando o país acreditava ser, além de petróleo, produtor de dinheiro.

Por isso, a visita a locais afectados pelas chuvas nem sempre é vista como um gesto genuíno de quem está, realmente, preocupado com o bem-estar da população. Mais ainda quando feitas por autoridades metidas em fatos e sapatos reluzentes.  As pessoas falam, lamentam, queixam-se, resmungam. Jornalistas têm sido, em determinadas circunstâncias, o recurso do cidadão para passar recados ou expedir reclamações. Há quem avalie essas jornadas como redundantes e cíclicos compromissos de agenda, porque cumpridas a cada ano, automaticamente, sem que dele o cidadão saboreie qualquer vantagem prática. Levada a avaliação ao extremo, estas romarias chegam até a desgastar mais do que a arejar a imagem de figuras da governação da província.

A menos que delas nasçam vantagens concretas. É, pois, nesta perspectiva que as autoridades do novo tempo devem trabalhar.

MOÇAMBIQUE | Apoio da UE ao combate à corrupção é alvo de questionamento


Plano estratégico de combate à corrupção lançado nesta quarta-feira (07.03.) não convence Venâncio Mondlane. O analista considera que solução passa mais por operacionalizações e vontade política do que por estratégias.

Moçambique perdeu seis pontos, entre 2015 e 2017, no Índice de Perceção de Corrupção compilado pela organização Transparência Internacional, apresentado há duas semanas. O índice de 2017 cresceu e abrange 183 países, com Moçambique a ocupar o 157.º lugar. E a União Europeia vai ajudar o país no combate à corrupção com 9,7 milhões de euros. O seu representante em Moçambique, Stergios Varvaroussis, disse que o valor será usada no setor da Justiça, envolvendo as associações profissionais, sistema da justiça, sociedade civil e a comunicação social. O representante explica que "o programa prevê intervir nas escolas, reforçando o mecanismo de prevenção, os chamados ´grupos anticorrupção`, que o Gabinete Central de Combate à Corrupção está a implementar com o Ministério de Educação". Conversamos com o analista político e deputado do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), segunda maior força da oposição, Venâncio Mondlane sobre a situação da corrupção no país.

DW África: A estratégia ora aprovada reveste-se de algum simbolismo, se tomarmos em conta a crise financeira em que o país se encontra supostamente também por causa da corrupção...

Venâncio Mondlane (VM): Em termos de quadro legal o país nunca foi deficitário, o que o país tem em falta é um quadro institucional, falta de pessoal qualificado e sobretudo podemos falar de vontade política para que do quadro legal que temos fazer-se um pouco mais para o combate à corrupção. Sob o ponto de vista prático um plano estratégico é um conjunto de linhas de intenções a médio e longo prazo. O plano estratégico por si só não operacionaliza o combate à corrupção.

DW África: Os discursos de combate à corrupção têm aumentado por parte do Governo, em especial por parte do Presidente Filipe Nyusi, e já há algumas ações em relação a isso com julgamentos de altos funcionários do Estado. Mas ainda não há um processo em relação ao caso mais controverso que o país vive que são as dívidas ocultas. Parece que há uma tendência de se andar a volta do caso, mas não se vai adentro...

VM: A grande questão que temos, é que os poucos casos são usados como exemplo de combate à corrupção é aquilo que na linguagem corrente se pode chamar de "peixe miúdo". E penso que um sinal que o Governo e os sistema de Justiça de um  combate à corrupção sério seria justamente naqueles casos que nós sabemos que tiveram maior impacto, sobretudo na nossa economia nacional. Estamos a atravessar uma crise económica e financeira, o país está mergulhado numa profunda crise relacionada com casos de corrupção e não há uma resposta de um sistema de Justiça em relação à isso de uma forma transversal vamos dizer que o nosso sistema de Justiça está de tal maneira comprometido e não tem muita margem de manobra se não houver uma reforma total e completa para poder funcionar.

DW África: A União Europeia vai apoiar o combate à corrupção com 9,7 milhões de euros. Isso abre espaço para que essa organização possa interferir ou influenciar em assuntos nacionais, como por exemplo casos envolvendo altos funcionários do Estado?

VM: Não sou muito a favor que questões que tem a ver com a estratégia interna de combate ao crime seja dependente do financiamento exterior, porque são questões tão cruciais para a vida pública e nacional e [por isso] devíamos ter uma orçamento próprio, devia ser o Orçamento Geral do Estado a financiar uma estratégia nacional de combate à corrupção. Isso demonstraria um comprometimento nacional efetivo para se combater a corrupção. O que acontece é que, normalmente quando o financiamento é do exterior um combate à corrupção acaba resvalando naquilo que se diz na gíria, "só para o inglês ver". Não é hipótese de se fazer um combate efetivo quando apenas se vai fazendo estratégias e planos para apenas responder a uma pressão exterior. Penso que tem de haver uma pressão mais interna, e este é um chamamento a todos os moçambicanos, é que a pressão interna é muito mais importante que a pressão externa. Olhe para o caso de Angola, não precisam de grandes planos, estão a dar sinais muito evidentes em menos de sete ou oito meses de governação [com João Lourenço na Presidência], estão a dar passos que não deram nas últimas décadas. A vontade política, o brio profissional de quem está a frente do processo, a independência, a autonomia dos juízes e procuradores é muito mais importante que esse amontoado de papéis.

Nádia Issufo | Deutsche Welle

Governo timorense preocupado com gestão de projetos escolares com Portugal

Díli, 09 mar (Lusa) - O Governo timorense está preocupado com a forma como é coordenado o projeto das escolas CAFE, o maior da cooperação luso-timorense, e pelos atrasos que anualmente se repetem na chegada dos professores, disseram à Lusa fontes do executivo.

Em causa, explicaram as fontes, estão problemas com o projeto dos Centros de Aprendizagem e Formação Escolar (CAFE) que "por várias vezes" foram já levantados pelas autoridades timorenses junto do Ministério da Educação português, "sem que nada tenha sido corrigido".

"Já por várias vezes se falou do assunto tanto diretamente com o Ministério como com a Embaixada. Os problemas continuam e, surpreendentemente e apesar das repetidas queixas e problemas, nada foi feito a nível da coordenação que continua a mesma", disse à Lusa um dirigente do Ministério da Educação timorense.

Critérios pouco claros na avaliação dos docentes e na decisão sobre a sua renovação, bem como pouca clareza sobre a forma como são mudados de centros de ensino - com "claro impacto na continuidade pedagógica" - são "alguns dos problemas" detetados.

Há ainda questões sobre diferenças de tratamento no critério financeiro, de centro para centro e repetidas queixas de dezenas de docentes que relataram ser vítimas de ameaças e intimidação quando tentam denunciar os problemas que afetam o projeto, refere a mesma fonte.

Um dos problemas que ocorre, anualmente, tem a ver com o atraso na chegada dos docentes, devido à demora na preparação e assinatura dos contratos e aos problemas na gestão de docentes que trabalham com um calendário escolar que em Timor-Leste é diferente do português - o ano escolar começa normalmente em meados de janeiro.

Como exemplo, responsáveis ministeriais timorenses citam a situação deste ano em que os professores voltaram a chegar a Timor-Leste com "bastante atraso", com o primeiro grupo de cerca de 80 a chegar apenas no inicio de março, mais de um mês e meio depois do inicio das aulas. O segundo grupo, de cerca de 40, só sai de Portugal a 10 de março.

Ministros timorenses visitaram esta semana dois dos CAFE, em Same e Ermera onde, dois meses após o arranque do ano escolar, "continua a não haver professores portugueses".

A situação deste ano tornou-se "ainda mais caricata", disse fonte timorense, porque as coordenadoras do projeto decidiram colocar os docentes nos distritos onde estavam o ano passado, mas explicando-lhes que em menos de um mês, na Páscoa, os iriam mudar de distrito.

"Ou seja, os professores chegam atrasadíssimos e depois vão para um centro um mês e são mudados. Que tipo de continuidade pedagógica é que isso garante? Que impacto é que estas mudanças têm nos alunos", questionou um responsável educativo timorense.

Não é a primeira vez que o projeto, cofinanciado pelos dois países, tem sido apontado por vários problemas, que incluem longos atrasos no pagamento de componentes salariais por parte de Timor-Leste.

A burocracia timorense exige, por exemplo, os contratos dos docentes para lhes pagar o seu componente de ajudas de custo em Timor-Leste, mas os documentos chegam a demorar vários meses para chegar de Lisboa, explica fonte do Ministério da Educação timorense.

Responsáveis educativos timorenses queixam-se que as avaliações que são feitas ao projeto são "parciais", com os avaliadores "direcionados para escolas e docentes específicos" de forma a "esconder os problemas".

Referem, por exemplo, que a coordenação central do projeto em Díli, marcou a avaliação do ano passado na semana mais complicada para o sistema educativo timorense, quando decorriam os exames nacionais e muitos dos responsáveis estavam ocupados com esse processo.

Instada a comentar as questões, Lurdes Bessa, vice-ministra da Educação, escusou-se a comentar problemas específicos, reiterando apenas o "empenho e vontade" no "fortalecimento e expansão" deste projeto.

Bessa confirmou que o Governo tem intenções de aumentar o número de centros CAFE e que continua "empenhado em garantir que o projeto funciona da melhor forma possível".

Presente nas capitais dos 13 municípios timorenses, envolvendo cerca de 80 docentes estagiários de Timor-Leste, 130 professores portugueses e mais de sete mil alunos, o projeto das escolas de referência (CAFE) é o elemento mais importante do programa de apoio ao ensino do português em Timor-Leste.

ASP // PJA

Diretor de programação do festival literário de Macau anuncia demissão

Macau, China, 09 mar (Lusa) - O diretor de programação do Festival Literário de Macau anunciou hoje que vai abandonar o cargo a 26 de março próximo, "imediatamente após o fim da sétima edição" do evento.

Em comunicado, Hélder Beja considerou não ter "condições para continuar", na sequência do cancelamento da presença no festival de três autores.

"Considero que na presente conjuntura não tenho condições para continuar (...) cessarei funções no festival a 26 de março de 2018, imediatamente após o final da sétima edição", indicou o co-fundador e membro da direção do Rota das Letras.

Na segunda-feira, a organização anunciou ter cancelado os convites feitos a três escritores por temer que fossem barrados à entrada.

"Fomos informados oficiosamente de que não era oportuna a vinda de três escritores convidados ao território, não estando assegurada a sua entrada em Macau", afirmou o diretor de programação do festival, em contacto telefónico.

Confrontadas com estas declarações, as autoridades de segurança pública de Macau disseram à Lusa: "Desconhecemos essa informação".

"Nestas condições, não quisemos colocar os escritores na situação de não conseguirem entrar em Macau e decidimos cancelar o convite", disse, na segunda-feira à Lusa, Hélder Beja, numa referência ao antigo agente dos serviços secretos norte-americanos (CIA) James Church, à sino-britânica Jung Chang e à coreana-norte-americana Suki Kim.

Jung Chang é a autora de "Cisnes Selvagens-Três filhas da China", traduzido em mais de 40 idiomas, Suki Kim passou seis meses infiltrada na Coreia do Norte, e James Church é escritor de romances policiais.

Além destes três escritores, também a dissidente e ativista dos direitos humanos norte-coreana Hyeonseo Lee, que fugiu da Coreia do Norte em 1997, com 17 anos, cancelou a presença no Festival Literário de Macau Rota das Letras, "por motivos de ordem pessoal", de acordo com a organização.

O Festival Literário de Macau foi fundado em 2012 pelo jornal em língua portuguesa Ponto Final.

EJ // PMC

Fim do limite de mandatos é "chave para modernizar sistema chinês" -- PR da China

Pequim, 08 mar (Lusa) - O Presidente chinês, Xi Jinping, qualificou a emenda constitucional que abolirá o limite de dois mandatos para o cargo que ocupa como uma "medida chave para modernizar o sistema chinês", informou hoje a imprensa estatal.

Segundo a agência noticiosa oficial Xinhua, Xi mostrou, durante um painel de discussão com delegados do legislativo chinês, "apoio total" à proposta do Partido Comunista (PCC), que abarca ainda a inclusão da sua teoria política na Constituição do país.

A limitação de mandatos vigora na política chinesa desde os anos 1980, visando prevenir os desastres causados pelo totalitarismo de Mao Zedong (governou entre 1949 e 1976).

Xi destacou que a proposta do PCC foi "plenamente democrática", feita "após uma recolha de opiniões a partir de diferentes setores" e que "ilustra o desejo comum do Partido e do povo".

O líder chinês referiu ainda que a emenda constitucional permitirá "modernizar a capacidade de governação do país".

A Xinhua escreve que os outros seis membros do Comité Permanente do PCC, incluindo o primeiro-ministro, Li Keqiang, deram também o seu apoio à emenda da Constituição, que será votada no domingo na Assembleia Nacional Popular, o órgão máximo legislativo chinês.

A proposta da emenda constitucional possibilita que o atual Presidente chinês, Xi Jinping, o mais forte líder das últimas décadas, prolongue a sua liderança para além de 2023, quando termina o seu segundo mandato.

A medida, que abrange ainda o cargo de vice-presidente, surge numa altura em que Xi executa uma vasta agenda, que inclui tornar o setor estatal mais competitivo, desenvolver a indústria de alta tecnologia, reduzir a pobreza e combater a poluição, visando converter a China numa "potência global" e um "Estado socialista moderno" até meados deste século.

A nível interno, Xi afastou já os principais rivais políticos, enquanto legitimou a sua liderança aos olhos da população, através da mais ampla e persistente campanha anticorrupção de que há memória na China, que puniu já mais de 1,5 milhões de membros do PCC, incluindo 400 altos quadros do regime.

JPI // VM

ONU diz que presidente das Filipinas deve fazer testes psiquiátricos


Duterte ameaçou, no ano passado, “esbofetear” a relatora espacial das Nações Unidas sobre execuções extrajudiciais

Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Zeid Ra'ad Hussein, disse esta sexta-feira que o presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, precisa de ser submetido a "testes psiquiátricos".

"Os comentários do presidente das Filipinas em relação à relatora espacial das Nações Unidas sobre execuções extrajudiciais, Agnes Callamard, são inaceitáveis. Leva-me a pensar que o presidente Duterte necessita de ser submetido a testes psiquiátricos", disse Zeid em conferência de imprensa, em Genebra.

Duterte ameaçou, no ano passado, "esbofetear" Agnes Callamard por ter afirmado que nas Filipinas tinham sido cometidas execuções extrajudiciais no contexto da campanha governamental contra estupefacientes e que resultaram em mais de sete mil mortes, de acordo com números divulgados por organizações não-governamentais.

Lusa | em Expresso

Foto: Noel Celis/Getty

PORTUGAL | O Presidente popular


Paulo Baldaia* | Diário de Notícias | opinião

A eleição de Marcelo Rebelo de Sousa não foi surpresa, o seu mandato está a ser. Não pelo estilo, mas pelo impacto da sua popularidade. Por causa de Marcelo, por causa do seu estilo, por causa da sua popularidade, muitos portugueses reconciliaram-se com a política. Fora da corte de Lisboa, onde gasto parte significativa do meu tempo, o que me dizem os portugueses com quem contacto é que em Marcelo acreditam, em Marcelo confiam, em Marcelo depositam o seu destino coletivo.

Mesmo nos seus tiques populistas, como num 10 de Junho em que se atira às elites em defesa do povo, Marcelo cumpre a tarefa de impedir o avanço de populismos perigosos contra os políticos, contra os partidos, contra as instituições. O Presidente fala em nome do povo, percebe o povo e defende os seus interesses.

Dois anos depois da posse, recordo o momento em que o encontrei na rua, a pé, dirigindo-se à Assembleia da República para assumir em definitivo o seu papel de Presidente: "Sorriso aberto, feliz e disponível para quem o interpelava. Condutores, passageiros dos autocarros, trabalhadores de uma carrinha de construção, gente a circular nos passeios, gente feliz por ver o Presidente na rua e poder cumprimentá-lo."

Marcelo manteve-se igual a si próprio para poder fazer diferente. É certo que tira partido da sua popularidade para a fazer crescer, mas também é verdade que assume as suas responsabilidades enfrentando as claques partidárias para dizer em cada momento o que entende ser melhor para o país.

Tive a oportunidade e a felicidade de lhe fazer uma grande entrevista depois dos incêndios de Pedrógão e do assalto ao quartel de Tancos. Numa altura em que o seu eleitorado natural o acusava de levar o governo ao colo, Marcelo não esteve de modas: "Alguns eleitores de centro--direita desejaram a dissolução e desiludiram." Não poupou o governo e sobre os incêndios exigiu: " Se há responsabilidades, tem de haver responsáveis." Temos Presidente!

*Paulo Baldaia é diretor do Diário de Notícias

PASSOS COELHO, A EXCLUSIVIDADE DE SÓ SER AMIGO DELE PRÓPRIO


Em publicação de ontem podem ler no PG, extraído do Diário de Notícias, acerca de Passos Coelho e o despoletamento do abaixo-assinado dos alunos do ISCSP (também de professores) contra a entrada de Passos como professor daquela instituição universitária, para onde Passos foi alegadamente convidado na qualidade de professor catedrático – coisa que nunca foi nem lhe é reconhecido tal mérito. É o nepotismo puro e duro de uns quantos PSD e CDS em posição privilegiada no ISCSP. O desagrado por tal decisão em admitir Passos está em crescendo na instituição, o abaixo-assinado contra tal professor também vê os aderentes crescerem nas assinaturas.

A polémica instalou-se e revitalizou buscas de quem é Passos Coelho. Em tempo uma amiga de Passos referia-o como um narcisista perigoso, um calculista que se fazia “amigo” daqueles que eventualmente pudessem influir em vantagens e lucros que pretendia. Disse-o sem pejo. Em carta que foi tornada pública brindava Passos com “descascas” que deixaram muitos estupefactos. Em alguns que o conheceram era comum terem a ideia de que Passos Coelho possuía a exclusividade de ser só amigo dele próprio.

Sendo mais assim ou menos, como o descrevem, optamos por reportar-nos a um trabalho de 2014 publicado na Visão, sobre Passos Coelho. Cada um é como cada qual e tem a liberdade de ler e interpretar como quiser. Nós republicamos esse trabalho da Visão de há quatro anos atrás. É que com tanto narcisismo na bagagem, como dizem, e outras facetas nada abonatórias, decerto que Passos não mudou. Há inclusive os que temem que ele regresse à ribalta política por instintos de vingança, mostrando assim o quanto de mal pensam dele.

Passemos ao trabalho da Visão, em 2014. Ali nem sequer vimos coisas tão terríficas quanto muitos vêem e opinam do ex-primeiro-ministro e líder do PSD. Por nós, no PG, sempre o achámos indivíduo sem mérito que ascende posições num enganoso jogo de espelhos. Um grande oportunista. A vossa interpretação pessoal fica para os que lerem a seguir e juntem o que sentem, assim como o que viram das suas atuações públicas, políticas ou outras. (PG)

A vida "esquecida" de Passos Coelho


Como presidente do Centro Português Para a Cooperação, Passos Coelho viu amigos serem contemplados com automóveis topo de gama para uso pessoal, viajou em executiva e, sobretudo, mostrou que, aos 32 anos, já detinha uma agenda de contactos impressionante. Conheça a história de bastidores do caso que agora incomoda o primeiro-ministro

A empatia foi imediata. No primeiro almoço entre Fernando Madeira, fundador e patrão da Tecnoforma, e o então deputado do PSD Pedro Passos Coelho, no início de 1996 (peixe grelhado degustado num restaurante à beira-Tejo), um inesperado e agradável assunto de conversa surgiu, antes de irem ao que interessava. Ambos descobriram que tinham lido O Fenómeno Humano, do filósofo francês e padre jesuíta Theilhard de Chardin (1881/1955), que exultava o "estofo" do Homem.

Theilhard de Chardin era um otimista incorrigível, a ponto de acreditar que o Vaticano aceitaria a equiparação que defendia entre a Razão material e o dogma da Fé - tese que lhe valeu uma longa proscrição. Mas fiquemo-nos só pelo otimismo, para agarrar a história de Fernando Madeira, alentejano de Evoramonte, com curso interrompido de engenheiro no Instituto Superior Técnico, em Lisboa. Em fins dos anos 1970, é formador profissional na Lisnave, que agonizava. Não hesitou um minuto, pois, quando, em 1980, recebeu um convite para se tornar supervisor de formação da Cabinda Gulf Oil, detida pela petrolífera americana Chevron, em Angola. Dois anos depois, numa pequena sala alugada num prédio da Av. da República, no centro de Lisboa, já trabalha sozinho na sua firma, a Ergoform, que fatura à Cabinda Gulf Oil manuais, slides e outro material didático para os formandos da companhia. Em 1984, arranca com a Tecnoforma e, em 1986, instala uma offshore na ilha de Jersey (Inglaterra), a Form Overseas, Ltd., que se transforma na placa giratória dos fluxos financeiros faturados à Cabinda Gulf Oil, 5 a 6 milhões de dólares por ano, na década de 1990, "nivelando por baixo", corrige fonte conhecedora.

Foi este homem, com 52 anos em 1996, que o jovem deputado Passos Coelho, 20 anos mais novo, muito impressionou, quando Fernando Madeira quis criar uma Organização Não Governamental para o Desenvolvimento (ONGD), de que a Tecnoforma seria o mecenas. Ao aceitar ser presidente do Centro Português Para a Cooperação (CPPC), afinal o objetivo do almoço em que Theilhard de Chardin foi falado, Passos Coelho começou de imediato a elencar as pessoas certas para o conselho de fundadores. Formulou os convites, todos bem sucedidos, e explicou-os a Fernando Madeira: alguém próximo do então PR, Jorge Sampaio (seria Júlio Castro Caldas, à época bastonário da Ordem dos Advogados), do Governo de António Guterres (o deputado do PS Fernando de Sousa), da oposição (Marques Mendes, líder parlamentar do PSD), da Comunicação Social (Eva Cabral, na altura jornalista do Diário de Notícias e hoje assessora política do primeiro-ministro) e até um dirigente maçónico (coronel Oliveira Marques). Vasco Rato, atual presidente da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento, que tem sido mencionado como outro dos fundadores, não consta do documento constitutivo, mas participava em refeições de trabalho, sobretudo jantares, convidado por Passos Coelho.

De resto, vê-se agora que Passos Coelho se socorreu, igualmente, de gente da sua confiança para a lista do CPPC, como o gestor Luís Flores de Carvalho (hoje presidente da Parque Escolar) ou o médico Jorge Penedo (atualmente assessor técnico do ministro Paulo Macedo e membro da direção clínica do Centro Hospitalar de Lisboa Central). Juntaram-se-lhes os juristas João Luís Gonçalves e Filipe Fraústo da Silva, secretário-geral e presidente do Conselho de Jurisdição da JSD, respetivamente, quando Passos Coelho dirigiu esta estrutura do PSD (1990/1995).

Foi, aliás, numa sala da sociedade de advogados em que Fraústo da Silva trabalhava, na Av. da Liberdade, em Lisboa, que a ?11 de outubro de 1996 ocorreu a constituição notarial do CPPC. Ângelo Correia era suposto ser também um dos fundadores, mas, relatam testemunhas, esteve ali poucos minutos: contou uma anedota sobre Guterres (um pastor que, em vez de conduzir o rebanho, se colocava no meio das ovelhas) e saiu, sem apor a sua assinatura no documento.

Sabe-se, de fontes fidedignas, que João Luís Gonçalves, escolhido para diretor do CPPC, para coadjuvar Fernando Madeira, viu ser-lhe atribuído um Audi de serviço, ?adquirido pela Tecnoforma em regime de leasing. Também ao deputado do PS Fernando de Sousa, eleito presidente da Assembleia Geral da ONGD, foi entregue um automóvel para seu uso, no caso um BMW, comprado nas mesmas condições. Já o presidente, Passos Coelho, afirmou e reafirmou ao Parlamento, recentemente, que trabalhou pro bono, a propósito da controvérsia acerca do seu pedido de subsídio de reintegração (cerca de €60 mil), concedido em 2000 pelo então presidente da AR, Almeida Santos, após o atual primeiro-ministro ter declarado que, entre 1991 e 1999, desempenhou em regime de exclusividade as funções de deputado.

'OURO NEGRO' A FUGIR ENTRE OS DEDOS

Fernando Madeira e a sua equipa trabalharam no duro, para rapidamente cumprirem uma exigência do Governo de Eduardo dos Santos - a "angolanização" dos quadros básicos e intermédios das multinacionais petrolíferas que exploravam o ouro negro no país. E a Cabinda Gulf Oil não podia ter ficado mais satisfeita. "Em 1986, todos os operadores de produção já eram angolanos", conta um daqueles elementos.

Como prémio, a participada da Chevron libertou a Tecnoforma da "exclusividade" a que estava amarrada, sem deixar de colaborar com a Cabinda Gulf Oil. Ou seja, a empresa de Fernando Madeira podia trabalhar, em Angola, com outras petrolíferas. ?O empresário costuma dizer que, por essa altura, a Cabinda Gulf Oil lhe "impôs" a criação de uma offshore, vantajosa para todos. E, ainda em 1986, nasceu a já referida Form Overseas, Ltd., em Jersey, e com conta no Barclays. A offshore transforma-se na placa giratória dos fluxos financeiros da Tecnoforma - que passa a prestar serviços à Form Overseas e é paga por isso. Milhões de dólares são anualmente faturados à Cabinda Gulf Oil/Chevron pela Form Overseas, que faz chegar o dinheiro à Tecnoforma.

Os benefícios eram evidentes. Com o ?outsourcing, a Cabinda Gulf Oil retirava da sua folha de salários duas dezenas de funcionários estrangeiros ("angolanização" oblige); esses formadores recebiam, em Portugal, os seus ordenados em dólares (e limpos), provenientes da offshore, quando, na altura, as empresas do País estavam proibidas de pagar aos trabalhadores em divisas estrangeiras; e a Tecnoforma tinha uma carga fiscal mínima.

Até 1994, a empresa carburou ao máximo. No Instituto Nacional de Petróleos (INP) de Angola, conseguiu chutar uma subsidiária da multinacional italiana ENI e tomar-lhe o lugar na formação profissional. Prestava serviços, além da Chevron, à ELF e BP. Para consolidar o "bom nome", fazia quase de borla cursos administrativos, de inglês e informática, no gabinete da Presidência da República, e nos Ministérios da Agricultura e da Defesa.

Mas um dos grandes orgulhos de Fernando Madeira, diz-se, foi a realização de uma conferência de dois dias (14 e 15 de julho de 1993), em Luanda, sobre Formação e Gestão em Angola, no 10.º aniversário do INP. Estiveram presentes os embaixadores português, americano e francês, e a então ministra angolana do Petróleo, Albina Assis.

Na sede da Tecnoforma no Pragal, Almada, geriam-se, mediante o pagamento de uma comissão, bolsas de estudo a angolanos enviados pela Sonangol (a empresa estatal de petróleo em Angola) ou por multinacionais como a ELF, para ingressarem no ensino superior em Lisboa e Coimbra. A empresa tratava-lhes da instalação, de assuntos vários e da gestão das verbas.

Era a "angolanização" em curso, que muito dinheiro deu a ganhar à Tecnoforma, mas que passa a ser uma ameaça. Em 1995, aqueles e outros estudantes começaram a regressar e, de canudo na mão, ocupavam ?lugares-chave nas petrolíferas - incluindo a formação profissional. Fernando Madeira apercebeu-se de que o vento estava a virar e a empresa precisava de mudar de agulha. Havia duas experiências anteriores promissoras. Em 1992, logo após o fim da guerra civil em Moçambique, a Tecnoforma concretizou naquele país, com financiamento do Instituto da Cooperação Portuguesa, um programa de reintegração na vida civil de ex-militares do Exército e de ex-guerrilheiros da Renamo. Em Angola, em 1994, com verbas do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento e da Organização Internacional do Trabalho, fez um levantamento nacional das condições de formação para o emprego.

Mas aquele começava a ser o tempo das ONGD, com estatuto de utilidade pública, isenção de IRC e acesso ao mecenato. ?E Fernando Madeira foi aconselhado a criar uma estrutura dessas, que se candidatasse a fundos comunitários e do Banco Mundial. É aqui que nasce o CPPC e, pouco depois, Passos Coelho atravessou-se-lhe no caminho.

O 'SALVADOR' PASSOS COELHO

Fernando Madeira diz a um dos seus diretores, Sérgio Porfírio, que é preciso constituir uma ONGD. Por mero acaso, Sérgio Porfírio conhece João Luís Gonçalves, que fora secretário-geral da JSD, quando Passos Coelho dirigia a Jota do PSD. Diz-lhe que está envolvido na montagem de uma ONGD e que necessita de um "político credível" para presidente. João Luís Gonçalves sugere Passos Coelho. Sérgio Porfírio leva o nome ao patrão da Tecnoforma, que o aprova. O que se passou logo a seguir está atrás relatado.

Oficialmente, "o CPPC procurava dar resposta a necessidades detetadas pela Tecnoforma em Angola, Cabo Verde e Moçambique, para as quais a fórmula mais adequada seria uma ONGD". No Pragal, na sede da empresa, o n.º 13 era o da Tecnoforma e o?n.º 9 o do CPPC, mas, no interior das instalações, uma porta ligava os corredores de uma e do outro.

Em março de 1997, Passos Coelho voltou a impressionar Fernando Madeira quando lhe telefonou a dizer: "Prepare-se que vamos a Bruxelas. O João de Deus Pinheiro vai receber-nos." Voaram em executiva, no dia 10, e o então comissário europeu deu-lhes uma indicação importante - havia verbas do Fundo Social Europeu disponíveis para cursos de Função Pública em Cabo Verde e nos outros PALOP.

De seguida, Fernando Madeira e João Luís Gonçalves puseram-se a caminho de Gaia, de carro, ao encontro do professor Luís Mota de Castro, um contacto intermediado pelo deputado do PS Fernando de Sousa. Mota de Castro havia sido docente na Universidade Eduardo Mondlane, em Maputo, e podia fornecer um input relevante para o projeto de Cabo Verde, dado o conhecimento que tinha da realidade africana. E assim aconteceu, através de um documento que entregou ao CPPC.

A 1 de novembro de 1997, Passos Coelho e Fernando Madeira voltaram a voar em executiva, agora com destino à Cidade da Praia, capital cabo-verdiana. Esta diligência, porém, revelar-se-ia um desastre. As autoridades pareceram não estar avisadas da visita, que pretendia apresentar o projeto de um Instituto Superior de Formação em Gestão e Administração Pública. O ministro cabo-verdiano da Educação encontrava-se em Lisboa. Algo descortês, Passos Coelho deixou Fernando Madeira sozinho, durante dias, e foi arejar para outras paragens da ilha de Santiago. Só foi possível marcar uma reunião com o diretor-geral da Educação para a manhã do dia 4 - o que parece ter resultado de um telefonema de Passos Coelho para o ausente ministro cabo-verdiano. Mas Passos não acompanhou Madeira naquele encontro com o dirigente cabo-verdiano.?O diretor-geral chumbaria o projeto do CPPC - queria uma universidade e não um instituto de formação intermédia.

Um projeto para Angola, de promoção de "emprego para o desenvolvimento", seria também chumbado. Porém, Passos Coelho voltou a estar à altura do que Fernando Madeira dele esperava quando foi preciso obter de Isaltino de Morais, presidente da Câmara de Oeiras, uma "carta de interesse" por um curso de costura (que começou em março de 1998), no então bairro de barracas da Pedreira dos Húngaros, sobretudo habitado por cabo-verdianos, e subsidiado pelo Fundo Social Europeu (FSE). Aquela "carta de interesse" de Isaltino, aliás, até chegou ao CPPC antes mesmo de o autarca receber em audiência formal a ONGD, representada por Passos e Madeira. Já a verba canalizada pelo FSE é, na verdade, desconhecida. ?O Instituto do Emprego e Formação Profissional, após insistentes pedidos de consulta da VISÃO, acabou por responder que não encontrava o processo respetivo.

Passos ainda daria jeito ao "patrão" da Tecnoforma na escrita do último relatório de atividades do CPPC, relativo a 1998 e com uma projeção de orçamento para 1999. Fernando Madeira pediu socorro ao deputado e presidente da ONGD, porque não sabia mesmo como arrancar com o texto. Só o projeto da Pedreira dos Húngaros fora concretizado, era muito pouco. Num ápice, Passos Coelho escreveu os dois primeiros parágrafos do relatório. "O ano de 1998 não foi particularmente feliz à concretização das atividades inicialmente projetadas", começava, para depois destacar que, "independentemente de tais factos, não podemos deixar de realçar os ensinamentos recolhidos da experiência adquirida". Conta quem sabe: "Não se atrapalhou nada - num instante deu a volta àquilo."

Fontes ligadas ao processo  estimam que a Tecnoforma injetou no CPPC cerca de €225 mil, no conjunto de três anos - 1997, 1998 e 1999. É um montante muito acima das verbas inscritas nos mapas contabilísticos da ONGD, arquivados no Instituto Camões e subscritos por um técnico oficial de contas, José Duro, que faleceu em 2004. Em teoria, o chamado Balancete Analítico é suposto ser mais pormenorizado e assertivo, mas parece que, até ver, ninguém sabe onde tal documento se encontra.

Nas conversas mais distendidas, à imagem daquela sobre Theilhard de Chardin, houve quem se apercebesse, à época, que Passos Coelho falhara a leitura de O Príncipe, de Maquiavel. Uma lacuna grave, dir-se-ia, em alguém que aspirava a altos voos políticos.

D&K… MAS O QUE É QUE É ISSO?


O Expresso Curto de hoje está quase sem os preâmbulos, considerações e opiniões do PG. Vai ser assim, e pronto. O maioral dos EUA vai encontrar-se com o seu homólogo norte-coreano. Porreiro, pá. Esta é a abertura  e refere D&K. Mas o que é que é isso? Ficaremos a saber? Talvez... Achamos que deve ler – se não o leu no original. Até amanhã, noutro Curto, provavelmente. (PG)

Bom dia este é o seu Expresso Curto

Ricardo Marques | Expresso

D&K não é uma marca

Vês, humanidade? Não há nada que uns Jogos Olímpicos não curem. Duas semanas aos saltos e a deslizar na neve e no gelo, com coreografias impecáveis e mais uns caixotes de medalhas, e estamos à beira da paz nuclear. É isto, não é?

A notícia D&K é fresca e, um pouco por todo o lado, ainda está a ser digerida. Será um sinal? Vamos a ela

Versão primeira:

O presidente dos Estados Unidos da América (EUA) e o 'presidente' da República Popular Democrática da Coreia(RPDC) vão encontrar-se em maio, em local ainda não revelado, após meses de tensão entre os dois países, com ameaças de ataques nucleares de parte a parte e acusações e insultos. O anúncio foi feito esta madrugada por um responsável sul-coreano, que entregou ao presidente dos EUA uma carta do líder da Coreia do Norte a convidá-lo para a cimeira.

Em declarações aos jornalistas, Chung Eui-yong, o conselheiro sul-coreano, afirmou que o presidente da RPDC ter-se-á comprometido a não realizar mais testes nucleares ou de misseis, uma decisão que, explicou, prova o seu empenho na desnuclearização da península coreana.

Como lembra o The New York Times nunca houve qualquer encontro entre líderes em funções dos dois países e, até há pouco tempo, nada faria prever que essa situação mudasse. O presidente norte-americano garantira que não haveria qualquer diálogo até existirem sinais efetivos de que a Coreia do Norte estava empenhada em abandonar o seu projeto nuclear.

O Guardian alerta para os "riscos épicos" de um encontro histórico em que os dois homens acham que são vencedores.

O que nos leva à segunda versão da mesma notícia, no dia em que arrancam os Jogos Paraolímpicos na Coreia do Sul: O Donald e o Kim juntos na mesma sala? D&K? A sério?

OUTRAS NOTÍCIAS

Marcelo Rebelo de Sousa assinala dois anos na Presidência da República e, hoje e apenas hoje, é provável que esteja em todas as televisões e rádios a todas as horas e minutos, sendo assim um dos personagens da chamada jornada informativa. Da qual fazem parte outros assuntos.

Com o temporal que aí vem - e com tantos avisos para quem anda na rua sujeito a levar com um sino de doze toneladas ou a ser levado por uma onda ou por uma rajada de vento - há que prestar homenagem a três ministros que não ficam no gabinete e andam por esse Portugal fora nesta sexta-feira de intempérie: Adalberto Campos Fernandes, João Pedro Matos Fernandes e Tiago Brandão Rodrigues. Andam aí.

A jornada mais dura é, claramente, a do ministro da Saúde. Campos Fernandes - que a Ordem dos Médicos diz estar refém das Finanças - começa o dia às dez da manhã, em Castelo Branco, com uma visita ao serviço de gastroenterologia do Hospital Amaro Lusitano, com um salto à Urgência para ver as obras. Às 11h30 já está na Covilhã e, segundo o programa, vai dar uma volta completa ao Hospital Pero da Covilhã. Antes de partir ainda faz uma intervenção no auditório.

Pelas três da tarde, em Seia, o ministro assiste à apresentação do projeto de requalificação do centro de saúde - coisa rápida porque, às 15h45, é esperado no Hospital Nossa Senhora da Assunção para assistir a assinatura de um protocolo. Às cinco, em Oliveira do Hospital, descerra uma placa e faz um discurso – que não se sabe se será improvisado ou lido.

Se o ministro da Educação estiver a ler estas linhas é provável que não consiga chegar ao fim. Tiago Brandão Rodrigues é a figura maior do dia de encerramento da semana da leitura e daqui a quinze minutos, pelas nove da manhã, quem o quiser ver ao vivo basta dar um salto a Nelas, ao ELOS, a Festa Literária, cujo tema é "Terra Queimada, Palavra Semeada". A autarquia esclarece que o ministro vai "escrever, numa folha especial com sementes, uma mensagem literária semeando assim um compromisso comunitário de cuidar e tratar das palavras semeadas".

Já dá para ver onde vamos parar... Isso mesmo. O ministro do Ambiente, ministro de todas as coisas semeadas menos aquelas que são do ministro da Agricultura, vai estar presente e discursar na abertura de uma conferência organizada pela Ordem dos Engenheiros. O tema? "2018 – Ano OE e das alterações climáticas".

Nem de propósito. É que também há chuva na Riviera Mayadas praias de areia branca e mar azul. Que o diga Ana Paula Vitorino, a ministra do Mar, que está no México a participarna V Cimeira Mundial do Oceano.

O congresso do CDS está marcado para este fim de semana, em Lamego, a discussão vai ser sobre o rumo que o partido de Assunção Cristas vai seguir. Ontem, Adolfo Mesquita Nunes, vice-presidente do partido, garantiu que esse caminho não passa por entendimentos com o PS . Hoje, no Parlamento, o partido apresenta um projeto de lei que visa 'deserdar' os descendentes condenados por violência doméstica. Uma iniciativa que, por certo, seria um dos destaques no novo canal de televisão que o partido vai ter no Youtube.

Os deputados discutem também alterações aos limites de algumas freguesias. Se mora em Bertiandos ou Santa Comba, no concelho de Ponte Lima, ou ainda em Palmela ou União de Freguesias de Poceirão e Marateca é possível que, ao final do dia, a sua terra seja diferente: territorial ou administrativamente.

No PSD, Rui Rio encontrou-se com os deputados e não é claro se está tudo na mesma ou se está tudo diferente. O Público assegura que a reunião foi "tensa" e com muitas críticas à "estratégia de aproximação" ao PS – e escreve em manchete "Rui Rio quer rever Constituição para mudar Justiça a sério".

Ainda no Parlamento, estará em discussão o estado do Forte de Santo António da Barra, em Cascais. Em dezembro, o Expresso mostrou as condições em que se encontra o monumento.

Um estudante português desapareceu há quatro meses no Báltico, durante a travessia entre Helsínquia e Estocolmo. Sem respostas por parte das autoridades locais, a família decidiu apresentar queixa às Nações Unidas. Uma história que fez a manchete de ontem do Expresso Diário.

Pedro Dias, o homem que matou três pessoas em Aguiar da Beira, ouviu em silêncio e à distância - por videoconferência na cadeia de Monsanto, em Lisboa - a decisão do Tribunal da Guarda: 25 anos de cadeia em cúmulojurídico. O Correio da Manhã puxa o assunto para a manchete: "Pedro Dias livre em 19 anos". Esta tarde, a partir das 14h00, prossegue um outro julgamento em que é arguido. Em Tondela,Pedro Dias responde pelo furto de aves aquáticas de um centro de reprodução.

No Bugio aguarda-se a chegada de um rebocador capaz de puxar para alto mar o cargueiro espanhol que está encalhado há três dias num banco de areia. E, a crer nas notícias desta manhã, a seguir será preciso esperar por um dia de mar mais calmo. A tripulação foi resgatada ontem pela Força Aérea e, em declarações à SIC, a comandante do Betanzos mostrou-se confiante de que será possível seguir viagem em breve. Falta explicar por que razão ia um navio carregado de areia a caminho de Marrocos...

Não faltam locais para contemplar o cargueiro encalhado, e quem passa na Ponte 25 de Abril tem uma perspetiva privilegiada. Claro que, por estes dias, a preocupação é outra. As autoridades garantem que a estrutura é segura, que não há risco e que, por isso, não vale a pena o alarme. O Diário de Notícias garante na primeira página que "Fissuras na Ponte 25 de Abril estão identificadas há oito anos". Ainda assim, quase todos os partidos políticos já anunciaram que vão chamar ao Parlamento os responsáveis com intervenção nesta PP - Polémica da Ponte. As obras, que estavam pedidas e também não estavam, começam para o ano.

Sabe que, num ano, as toupeiras podem ter duas ninhadas? Se é fã destes pequenos animais de pelo escuro, que vivem em complexos túneis e se alimentam de insetos, nada como espreitar a entrada da Encyclopaedia Britannica. Se preferea espécie de fato de treino que se move pelos caminhos subterrâneos do futebol português, e que alegadamente se alimenta de bilhetes para jogos do Benfica, pode ver mais alguns pormenores do caso do momento aqui e aqui. De acordo com o Jornal de Notícias de hoje, estão a ser investigadas mais "duas toupeiras": "PJ suspeita de infiltrados na zona centro".

O Sporting saiu na frente, com uma vitória por 2-0 frente ao Viktoria Plzen. A Liga Europa segue dentro de uma semana, na República Checa.

Duas indicações breves: não falta muito para que seja uma realidade a Ordem dos Assistentes Sociais e em Lisboa estão marcados protestos do Grupo de Lesados Papel Comercial e Lesados Emigrantes do Novo Banco: das 11h00/15h00, em frente à sede do Partido Socialista, no Largo do Rato, e à porta da CMVM, na Rua Laura Alves.

Indiferente a protestos, Donald Trump abriu ontem a guerra do aço e do alumínio, ao confirmar que vai mesmo carregar nos impostos para metais importados – ainda que admita alguns descontos para alguns países. Outros, que aparentemente não vão ter desconto, já estão a preparar uma resposta e a resposta, conjunta, a ser preparada por 11 países e a Comissão Europeia não está contente.

A propósito da visita do príncipe herdeiro da Arábia Saudita ao Reino Unido, vale a pena ler este artigo de análise sobre o que está em jogo na região do Golfo.

Na Colômbia, o candidato das FARC às presidenciais de maio, que surgia nas sondagens com 1% dos votos, saiu da corrida por motivos de saúde. Domingo realizam-se as eleições legislativas.

A líder birmanesa Aung San Suu Kyi saiu da lista de vencedores do Prémio Elie Wiesel, atribuído pelo Museu do Holocausto dos Estados Unidos da América.

Pais negligentes ou apenas pais pobres? O debate está em curso na Califórnia, por causa desta história.

Se há quem tenha ficado assustado com a possibilidade de lhe cair um sino da cabeça, então é melhor não saber que está a caminho da Terra, sem local certo para 'aterrar', o que resta de uma estação espacial chinesa.

O QUE ANDO A LER

Um artigo e um livro.

Quem gosta tanto de ler obituários como algumas pessoas gostam de toupeiras vai perder-se aqui. Vem com um dia de atraso, mas vale a pena gastar uns minutos valentes do fim de semana a ler no The New York Times a história de 15 mulheres notáveis.

O livro chama-se "Ao Encontro da História - O Culto do Património Cultural" (Trajetos Portugueses) e é uma edição ligada ao Ano Europeu do Património Cultural, que se assinala em 2018. Assina-o Guilherme d' Oliveira Martins, ensaísta e administrador executivo da Fundação Calouste Gulbenkian – que é também o coordenador em Portugal da iniciativa europeia. Confesso que me 'atirei' rapidamente às histórias do primeiro capítulo ("A Magia das Viagens") e não consegui parar. Oliveira Martins recorda as viagens que fez ao encontro dessa marca portuguesa, da India à Etiópia. Tenho agora pela frenteo resto da viagem.

Para si, que tem pela frente uma sexta-feira de chuva, temos Expresso Diário à seis da tarde e informação atualizada no sitea qualquer hora. Amanhã há jornal na banca.

Desejo-lhe, como já vem sendo hábito, um bom dia de mau tempo.

Portugal na zona de maior risco de impacto dos detritos de estação espacial chinesa


Avaliação feita pela Aerospace Corporation aponta duas linhas amarelas onde é mais provável que caiam detritos quando a Tiangong-1 se despenhar já nas próximas semanas

O laboratório espacial chinês Tiangong-1, também conhecido por "Palácio Celestial", está fora de controlo desde 2016 e poderá reentrar na atmosfera nas próximas semanas. E Portugal, mais concretamente o Norte e Centro do país, está dentro de uma das duas linhas amarelas, calculadas por especialistas da Aerospace Corporation, que assinalam os pontos do planeta onde é mais provável que se despenhem eventuais detritos da estação orbital.

De acordo com o Centro para o Estudo de Detritos Orbitais e na Reentrada da Aeroespace Corporation, financiada pelos Estados Unidos, a data mais provável de reentrada na atmosfera é o dia 3 de abril, com uma margem de erro de uma semana. A Agência Espacial Europeia aponta para uma janela entre 29 de março e 9 de abril e limita-se a referir que os locais em latitudes acima dos 43º, nos dois hemisférios, estão a salvo. As previsões da Aeroespace Corporation, por outro lado, estabelecem uma faixa nas latitudes médias, onde a probabilidade é ligeiramente maior.

Mas os portugueses - e restantes cidadãos dos países na lista de eventuais destinos do que restar da estação espacial - podem ficar relativamente tranquilos com a estimativa, pela Aeroespace Corporation, de que o risco de um indivíduo ser atingido por material proveniente da Tiangong-1 é um milhão de vezes inferior à probabilidade de ganhar o jackpot do Powerball, uma espécie de Euromilhões dos Estados Unidos - que é de um em 292 milhões. A isto acresce a elevada probabilidade de toda a estação espacial ser consumida pelas chamas durante a reentrada na atmosfera.

Lançado em 2011, o laboratório espacial de 8,5 toneladas foi concebido como uma estação espacial modular, com um design semelhante ao dos conceitos desenvolvidos pela Rússia. Ainda recebeu três visitas, duas delas por naves tripuladas. Incluindo, em junho de 2012, a missão Shenzhou 9, que contava com Liu Yang, a primeira chinesa a chegar ao espaço.

Em 2016, as autoridades de Pequim reconheceram que já não conseguiam controlar a estação orbital, tendo no mesmo ano lançado a muito semelhante Tiangong-2.

Pedro Sousa Tavares | Diário de Notícias

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