sexta-feira, 11 de agosto de 2023

CHINA, O FASCINANTE VOO DO DRAGÃO

Como a emergência de um país que rejeita dogmas neoliberais, e está construindo o Comum, pode sacudir um Ocidente às voltas com desigualdade, estancamento econômico, devastação ambiental e fascismo. Crônica de uma viagem

Antonio Martins* | Outras Palavras

Cravada a 2,4 mil quilômetros de Pequim, mas a apenas duzentos da fronteira com o Vietnã, a estação ferroviária de Nanning é um das joias de infraestrutura que povoam a paisagem chinesa. Inaugurada em 1951, dois anos após o revolução liderada por Mao Zedong, ela foi reconstruída por inteiro em 2013. A área de seu saguão principal equivale à de seis campos de futebol, com pé direito de 48 metros. Agora, por lá passam também algumas das linhas da maior rede de trens de alta velocidade do mundo, que tem 35 mil quilômetros é e duas vezes mais extensa que todas as outras somadas.

Mas o gigantismo não ofusca a delicadeza. Os passageiros aguardam os trens em poltronas confortáveis – boa parte delas com massageador. O acesso às composições, que partem do andar subterrâneo, se dá por meio de portões de embarque semelhantes aos dos aeroportos, porém silenciosos. Há restaurantes e lojas, mas nenhum painel publicitário. A arquitetura inspira-se nas varandas da região de Guangxi. O ar é ameno. Apesar do imenso volume da estrutura, os verões indóceis da cidade (a temperatura pode chegar a 39ºC e a umidade produz sensação permanente de estufa) são suavizados por um sistema que combina ar condicionado e cortinas eletrônicas de vento. Duas linhas de metrô ligam a estação à cidade. A energia é fornecida por painéis fotovoltaicos.

Também fora da estação, tudo parece novo em Nanning: os prédios – alguns muito altos – de apartamentos ou escritórios, o transporte público, os sistemas que mantêm limpas as águas do largo rio Yong, o asfalto das ruas e até parte das árvores, escoradas por estacas que indicam plantio recente. A reurbanização da cidade – tinha 1 milhão de habitantes em 2002 e atingiu 8,5 milhões no ano passado – é uma pequena parte do movimento que livrou da pobreza, nas últimas três décadas, o equivalente a três Brasis.

A ação tornou-se intensa a partir de 2015. Vizinha à próspera Guangdong – fulcro da grande abertura da economia chinesa, em 1992 – a província de Guangxi havia ficado para trás. Lá, 32% da população é de origem zhuang (a maior minoria étnica do país) e 44% viviam na zona rural. Seu PIB per capita equivalia a apenas 60% da média nacional; 10,5% (ou 6,4 milhões de pessoas) viviam na pobreza. À época, Xi Jinping enunciava o objetivo de “prosperidade comum”, que revia, ao menos em parte, o padrão de desenvolvimento até então vigente.

A base para o resgate de Guangxi foi o investimento público maciço, que se estendeu muito além da transformação urbana. O Estado lançou um esforço meticuloso para identificar os focos e causas de pobreza rural – muitas vezes oculta em rincões remotos – e um movimento peculiar para superá-la, que examinaremos em detalhe mais tarde. Preservou-se a pequena propriedade camponesa. Estimulou-se entre outras atividades, em Guangxi, o processamento do chá, de ervas da medicina chinesa e de frutas. Cinco anos mais tarde, o processo estava concluído em todo o país.

Portugal | OS CARDEAIS


Henrique Monteiro | HenriCartoon

Portugal | NÃO HÁ HERÓIS DO MAR

Manuel Molinos* | Jornal de Notícias | opinião

Não há nadadores-salvadores suficientes. A frase é antiga e repete-se todos os verões. Este ano, a solução foi recrutar profissionais do Brasil.

Os anos passam e o país quase se habitua às notícias de mortes em meio aquático - só no ano passado foram 88. Ouvimos lamentos, promessas, propostas, mas, na verdade, governantes e partidos políticos nunca encararam a segurança balnear como uma prioridade.

Não é preciso ser um especialista na matéria. A formação dos nadadores-salvadores em Portugal é quase uma brincadeira, a atividade é pouco mais de que uma forma dos mais novos ganharem algum dinheiro extra, alguns materiais são obsoletos, outros comprados pelos próprios.

O país tem mais turistas, tem mais praias, tem mais tecnologia, tem, fruto das alterações climáticas, uma época balnear mais longa do que o que foi estipulado no papel. Mas não tem menos mortes.

Entretanto, não se pode ouvir música alta na praia, só se pode jogar à bola em áreas afetas a esse fim. E há multas para quem pescar entre o nascer e o pôr do sol, para quem passear o cão ou para quem levar búzios para casa. Temos leis a mais. Bom senso a menos.

Há ano e meio que a nova Lei de Bases da Prevenção do Afogamento está em processo de revisão. Ano e meio! O processo ainda está na fase dos contributos de todas as partes interessadas, o que quer dizer que talvez em meados do próximo ano a legislação esteja em vigor.

Se a atividade de nadador-salvador passar a ser considerada uma carreira profissional, a espera terá valido a pena. Caso contrário, a segurança nas praias continuará dependente de quem faz um curso numa piscina durante um mês.

* Diretor-adjunto

Ler em Jornal de Notícias:

Zero alerta para agravamento da qualidade da água nas praias nesta época balnear

Suspeito do incêndio de Ourém foi condenado pelos fogos na Caranguejeira

Prestadores de saúde não podem exigir identificação a quem pede livro de reclamações

Portugal | Todos, todos, todos, os abusados(as) sexualmente pela igreja católica

Visita do papa aumenta número de queixas de abusos sexuais na Igreja Católica

A coordenadora do grupo Vita antecipa também um aumento das participações às autoridades.

A visita do papa Francisco a Portugal fez aumentar o número de queixas de abusos sexuais na Igreja Católica. A coordenadora do grupo Vita, que substituiu a Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais cometidos por padres, revelou ao semanário Expresso que na última semana houve um aumento dos pedidos de ajuda.

"Nesta última semana, com a vinda do papa a Portugal, sentimos um aumento dos pedidos de ajuda por parte das vítimas, que se sentiram encorajadas com as palavras de Francisco e com o facto de o tema ter sido muito mediatizado", contou Rute Agulhas.

A psicóloga antecipa também um aumento das participações às autoridades.

Desde fevereiro foram enviadas cerca de 50 queixas ao Ministério Público. A maioria pelo Grupo Vita, mas também pelas comissões diocesanas. Estas 50 queixas vêm juntar-se às 25 que tinham sido entregues no início do ano pela comissão independente liderada pelo pedopsiquiatra Pedro Stretch.

Esta comissão iniciou o seu trabalho no dia 11 de janeiro de 2022 e apresentou resultados em fevereiro deste ano, anunciou a validação de 512 testemunhos de alegados casos de abuso em Portugal, apontando, por extrapolação, para pelo menos 4815 vítimas.

Os testemunhos referem-se a casos ocorridos entre 1950 e 2022, o espaço temporal abrangido pelo trabalho da comissão. No relatório, aquela comissão alertou que os dados recolhidos nos arquivos eclesiásticos sobre a incidência dos abusos sexuais "devem ser entendidos como a ponta do iceberg" deste fenómeno.

Na sequência destes resultados, algumas dioceses afastaram cautelarmente sacerdotes do ministério.

Cristina Lai Men com Cátia Carmo | em TSF

Imagem: © Paulo Spranger/Global Imagens

Relacionados em TSF:

Novo patriarca de Lisboa lembra vítimas de abusos na primeira mensagem à diocese

"Expectável num evento de larga escala." APAV continua a receber pedidos de apoio após JMJ

CNE diz que Câmara de Oeiras "não tem competência" para retirar cartaz sobre abusos

Mais lidas da semana