O
chefe de Estado-Maior do exército do Burkina Faso, o general Honoré Traoré,
assegura agora as funções de chefe de Estado após a demissão do presidente
Blaise Compaoré.
Blaise
Compaoré que esteve no poder desde 1987 declarou que se retirava da presidência
do Burkina Faso devido à amplitude das manifestações que nos últimos dias
exigiam o seu abandono do poder.
O
anúncio da demissão de Blaise Compaoré foi acolhido com muita alegria e júbilo
pelos milhares de manifestantes que esta sexta-feira (31.10) se reuniram, pelo
segundo dia consecutivo, no centro de Ouagadougou, a capital do Burkina.
Logo
após Blaise Compaoré ter deixado o poder o General Honoré Traoré proclamou-se
chefe de Estado.
O novo “homem forte” do país justificou a ocupação do poder em nome da
preservação das conquistas democráticas, bem como da paz social.
Por outro lado, o general Honoré Traoré anunciou num comunicado que permanecerá
no poder, transitóriamente, até à realização de eleições livres e transparentes
num prazo máximo de 90 dias.
Segundo várias fontes em Ouagadougou, o general Traoré faz parte dos oficiais
de alta patente que “deve práticamente tudo a Blaise Compaoré” e portanto é um
homem de Compaoré. “O problema agora é saber se o general Traoré será capaz de
conduzir uma transição neste quadro excecional que o Burkina Faso está a
viver”, interrogam-se várias pessoas em Ouagadougou.
Para
os analistas a transição na verdade não será uma tarefa fácil. Mas o
“importante é que os termos desta transição não sejam definidos pelo exército,
mas sim pelas forças sociais que obrigaram Blaise Compaoré a abandonar o poder”
disse à DW África, Gille Yabi, especialista independente da Africa ocidental.
Entretanto,
o balanço dos tumultos dos últimos dias permanece por enquanto desconhecido,
embora alguns membros da oposição tenham dito aos jornalistas em Ouagadougou
que morreram cerca de 30 pessoas e mais de cem ficaram feridas.
O recolher obrigatório, decretado na noite de quarta-feira (29.10), continua em
vigor e globalmente respeitado nomeadamente na capital do país, Ouagadougou.
No estrangeiro, a situação no Burkina Faso está a ser seguida, há alguns dias,
com muita atenção. Daí que o secretário-geral das Nações Unidas (ONU), Ban
Ki-moon, tenha decidido, antes mesmo da demissão de Compaoré, enviar a
Ouagadougou um emissário para tentar solucionar a crise.
O representante especial e chefe da representação da ONU para a África
Ocidental, Mohamed Ibn Chambas, chegou esta sexta-feira (31.10) ao país.
Frejus
Quenum / António Rocha – Deutsche Welle
Manifestações
em Burkina Faso
pedem saída de militares do poder
Centenas
vão às ruas exigir que poder volte às mãos dos civis, depois que o
tenente-coronel Yacouba Isaac Zida foi nomeado presidente do país pelo
Exército. ONU pede que eleições sejam realizadas o mais rápido possível.
Cerca
de mil pessoas protestaram neste domingo (02/11) numa praça no centro de
Uagadugu, capital de Burkina Faso, para pedir a participação da sociedade civil
na transição comandanda pelo Exército. Para os manifestantes, a transição
"pertence ao povo" e não pode ser "confiscada" pelos
militares.
De
acordo com testemunhas, a manifestação na Praça da Nação – o epicentro dos
grandes protestos contrários à extensão do mandato do ex-presidente Blaise
Compaoré – não reuniu tantas pessoas como era esperado. Para alguns
representantes da oposição e da sociedade civil não há necessidade de realizar
protestos antes de discutir o processo de transição com o Exército.
De
acordo com a agência de notícia AFP, o Exército assumiu o controle da emissora
de rádio e TV nacional de Burkina Faso. Soldados da Guarda Presidencial
dispararam para o ar no pátio de entrada do edifício, para dispersar os
manifestantes antes de assumirem o controle das instalações.
Autoridades
das Nações Unidas apoiam o rechaço de EUA e União Africana ao governo militar,
mas expressaram um moderado otimismo perante a possibilidade do poder voltar às
mãos de um civil. Eles desejam que eleições livres e justas sejam realizadas o
mais rápido possível.
"Esperamos
uma transição liderada pelos civis em linha com a Constituição", disse
Mohammed Chambas, chefe do Departamento da ONU para a África Ocidental.
A
Alemanha também condenou a tomada do poder no país pelos militares e pediu que
eles o devolvam às autoridades constitucionais. O país europeu aconselhou,
ainda, que cidadãos alemães evitem viajar à nação africana. No comunicado, o
governo em Berlim pede que todas as partes ajam com prudência e
responsabilidade política.
Escolhido
pelos militares
Até
o momento, o subchefe da Guarda Presidencial de Burkina Faso, tenente-coronel
Yacouba Isaac Zida, foi escolhido pelos militares para liderar o processo de
transição no país. O chefe do Estado-Maior, general Nabéré Honoré Traoré, que
se proclamou presidente num primeiro momento, deu respaldo a Zida. O
tenente-coronel foi eleito por unanimidade pela alta hierarquia militar do
país.
O
número dois na hierarquia da Guarda Presidencial tem mais respaldo de setores
da sociedade civil do país do que o general Traoré, que é considerado muito
próximo do ex-presidente Blaise Compaoré.
Depois
de ficar 27 anos no poder, ao qual chegou depois de ter protagonizado um golpe
de Estado, Compaoré apresentou a sua demissão do cargo após três dias de
manifestações que pediam a sua saída. Na quinta-feira, os manifestantes
invadiram o prédio do Parlamento, onde seria votada uma alteração constitucional
que permitiria a Compaoré concorrer a mais um mandato de cinco anos.
FC/afp/dpa/rtr/lusa/ap
– Deutsche Welle