quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Portugal: A RAPOSA NO GALINHEIRO

 


Manuel Maria Carrilho – Diário de Notícias, opinião
 
A lição da rentrée é clara: o financismo tomou de tal modo conta da linguagem comum, ele está de tal modo incrustado nas palavras quotidianos de todos, que sem nos libertarmos desse garrote não há qualquer hipótese de saída da crise, ou de visão que dê forma a um novo rumo para o País.
 
Ao fim de cinco anos de crise financeira e económica global, depois de três anos de crise do euro e da União Europeia, no termo de mais de dois anos de aguda crise nacional, o que se verifica é que o discurso dominante continua a ser o das teses, das doutrinas e das palavras que, justamente, causaram este dominó de crises.
 
Neste quadro, a rentrée mais não fez do que rebobinar com pequenas variantes o que já sabíamos e ouvimos vezes sem conta. O que levou a que o autoproclamado novo ciclo do Governo recentemente remodelado se tenha transformado, num ápice, num retro ciclo de banalidades, sem direção nem estratégia, a sobreviver agarrado a querela institucionais que mais não pretendem do que disfarçar a profunda incapacidade política e as persistentes tensões internas.
 
A crise política de julho reforçou, sobretudo pela opaca vacuidade que a caracterizou, a ideia - cada vez mais popular - de que a política não passa de um jogo de narcisos tão impotentes em relação ao interesse público, como obcecados consigo próprios.
 
Esquecendo a enorme gravidade da situação nacional, disse-se e desdisse-se então, com a maior impunidade, tudo o que se podia dizer e desdizer. Com o Presidente da República a aumentar a confusão, ao propor um "compromisso nacional" exatamente no momento em que renunciava ao seu principal poder, o de dissolução do Parlamento, poder que colocou nas mãos dos partidos!
 
O País percebeu então que precisa mesmo de outras ideias, de outra linguagem, de outros valores e de outros tribunos. Que expliquem, por exemplo, que o problema dos swaps ( em que estão em causa 335 mil milhões de euros) não é só uma consequência natural da capitulação do Estado face ao modelo empresarial financista. Também é, claro, mas o mais importante é perceber como tudo isto anuncia e antecipa o fim do próprio Estado, através da sua redução a um esqueleto institucional manietado, incapaz de representar e defender os cidadãos.
 
É por isso que, a meu ver, a nomeação da nova secretária de Estado do Tesouro, vinda como o anterior da área privada financista, repõe por inteiro o problema de fundo, que é o de se pôr a raposa a guardar o galinheiro. Ou, dito de outro modo, o da crescente incapacidade de o Estado, através de uma qualificada administração pública, enfrentar a capacidade financeira com pessoal próprio, impregnado dos seus princípios e dotado de uma estratégia autónoma, assente numa exigente defesa do interesse nacional.
 
O Estado fica assim cada vez mais a saque, à mercê dos seus adversários. É por isso que não vimos até hoje o mais pequeno vislumbre da famosa "reforma do Estado", que apontasse para um verdadeiro Estado estratega - e há bons exemplos em diversos países nórdicos, por exemplo -, capaz de falar não só em termos de interesses, mas também de valores, capaz de avançar com uma visão de futuro do Estado, da sua natureza, do seu funcionamento e das suas obrigações.
 
O único "guião" da tão falada reforma do Estado (que ninguém conhece, apesar de prometido para março) consiste em reduzi--lo, alegando que só assim se consegue criar condições de relançamento de uma economia mais forte e "competitiva". O que é extraordinário é que esta robusta economia que nos prometem nunca seja depois pensada como produzindo mais riqueza, e naturalmente mais receita fiscal, o que permitiria construir outros horizontes, mais otimistas, de futuro.
 
Não, o Governo justifica os cortes no Estado social com a debilidade da economia, mas o reforço dessa mesma economia que ele jura que virá com esses cortes não serve para reforçar o Estado social, mas apenas para o liquidar. Como se fosse mais legítimo adaptar a sociedade à economia e à finança do que estas à sociedade - mas não é.
 
E enquanto se desmunicia o Estado, multiplicam-se como cogumelos "grupos de estudo", "comissões de peritos", "comités de sábios", tudo ad hoc sem - caso único na Europa! - qualquer enquadramento institucional claro nem objetivos estratégicos precisos e escrutináveis, que apenas servem para ir rebobinando o filme de ilusões e de deceções que já todos antecipámos bem demais.
 
É tudo isto que é preciso perceber e recusar com lucidez, pois só assim será possível formular os problemas do País de outro modo. Como ainda agora se viu com o argumentário sobre a "descida dos salários", é vital recusar dados que nos são fornecidos como objetivos, naturais e evidentes, porque eles foram, em geral, manipulados de tal modo que as soluções que propõem apareçam como indiscutivelmente únicas e inevitáveis.
 
É este, afinal, o grande embuste, até hoje triunfante, do ultraliberalismo contemporâneo: pretender que, apesar de tudo, só a sua lógica pode ainda responder à devastação que ele próprio desencadeou. Parece inverosímil, mas tem sido eficaz - até quando?
 

SALÁRIOS EM PORTUGAL BAIXAM PELO SEGUNDO ANO CONSECUTIVO

 

Diário de Notícias - Lusa
 
Os salários em Portugal baixaram em 2013, pelo segundo ano consecutivo, segundo um estudo da consultora Mercer divulgado hoje, de acordo com o qual cerca de 31% das empresas congelaram os ordenados.
 
"Devido ao efeito de substituição de colaboradores contratados com níveis salariais mais baixos para as mesmas funções, verifica-se, pelo segundo ano consecutivo, uma redução real dos salários em todos os grupos funcionais", segundo o estudo Total Compensation Portugal 2013.
 
A maior descida salarial foi verificada nas funções de direção geral/administração e comerciais/vendas, com quebras de 4,94% e 1,48%, respetivamente.
 
Segundo o documento, cerca de 31% das 300 empresas que participaram no estudo "congelaram os salários para toda a sua estrutura".
 
No que respeita ao número de trabalhadores, a maioria das empresas (65%) pretende manter o número de colaboradores este ano, mas 18% manifestaram intenção de reduzir o seu quadro de pessoal.
 
Para 2014, as estimativas da Mercer apontam para que o número de empresas que pretendem reduzir o seu quadro de pessoal baixe, passando dos 18% para cerca de 13%.
 
O estudo da consultora tem por base a análise de 114.526 postos de trabalho em 300 empresas presentes no mercado português, 56% das quais multinacionais, 43% empresas privadas e 1% públicas.
 
Os setores de atividade mais representativos são: serviços gerais (27%), bens de consumo (16%), grande distribuição (13%), serviços financeiros (9%), alta tecnologia/telecomunicações (13%) e indústrias diversificadas (5%).
 

Portugal: PAULO PORTAS, O NOVO GASPAR

 

Ana Sá Lopes – Jornal i, opinião
 
Paulo Portas é o novo Vítor Gaspar, para o bem e para o mal. Mais para o mal
 
Paulo Portas está em Bruxelas a tomar posse da sua pasta de ministro de Estado em condição de protectorado. Até aqui as coisas não correram bem. Bruxelas não se mostra receptiva a aumentar a meta do défice e por enquanto não há nada a dizer. Infelizmente, se é melhor para todos nós que esteja no cargo um ministro que, ao contrário de Vítor Gaspar, não sofre de síndrome de Estocolmo relativamente à troika, a pasta que Passos Coelho ofereceu ao CDS é o maior dos presentes envenenados que o líder da coligação poderia oferecer ao parceiro instável.
 
Desta viagem a Bruxelas em diante, as responsabilidades passaram a ser partilhadas entre PSD e CDS. Uma derrota do governo em Bruxelas será sempre uma derrota de Portas - e não só de Passos Coelho e do inefável Vítor Gaspar, personagens relativamente às quais Paulo Portas (e meio CDS) se entendia distanciar sempre que lhe convinha e com um sucesso muito razoável. Esse estado de manter um pé dentro e outra fora do governo - um verdadeiro estado de graça nos tempos que corriam - permitiu ao CDS aguentar-se nas sondagens. Enquanto isto, a popularidade de Portas permanecia em níveis estranhamente altos para quem integrava um governo de coligação. Hoje essa ficção acabou.
 
Os "sinais ténues" que o governo identifica na recuperação da economia portuguesa serão abalroados pela obrigação acordada com a troika de cortar 4,5 mil milhões de euros. E foi com este pano de fundo que o CDS "tomou conta" do governo - com Portas a liderar as negociações com a troika e Pires de Lima responsável pela recuperação da economia. Se a última remodelação foi uma vitória do CDS sobre o PSD, dificilmente se percebe o que seria uma derrota. Por incrível que pareça, Passos está hoje mais protegido que quando tinha que fazer de ama-seca de Vítor Gaspar e de Álvaro Santos Pereira, ambos vindos do outro mundo pela mão do primeiro-ministro. No dia das eleições - antecipadas ou não e se calhar já não -, os portugueses vão pedir as mesmas contas a Portas que a Passos Coelho. Mas enquanto o PSD é um partido firmemente alicerçado no regime (como o PS), o CDS tem sido ao longo dos anos uma incógnita. Não vai chegar a Paulo Portas repetir 25 mil vezes que "Portugal está numa situação de protectorado" para se poder distanciar da troika. Ele é o novo Gaspar, para o bem e para o mal. Mais para o mal: infelizmente, um novo ministro não muda uma política global, a da troika. O CDS corre o risco do desaparecimento.
 

LUTHER KING TINHA UM SONHO. OBAMA TEM UM DRONE

 


Muita gente em todas as partes do mundo se iludia com a eleição de Obama em 2008. Também pudera: depois dos anos tenebrosos com Bush, qualquer coisa seria um alívio. Obama então apresentou um cardápio sedutor de promessas que, sabia-se, eram inaplicáveis para o establishment norte-americano. E ele logo se revelou uma farsa. Por Jeferson Miola
 
Jeferson Miola* - Carta Maior
 
A cada dia se conhece com melhores detalhes a espionagem que os EUA promovem no Brasil e em outros países. Uma ação que agride as soberanias das nações e que tem antes estratégicos interesses comerciais e econômicos que qualquer preocupação com a segurança contra o terrorismo.

E a cada dia fica mais notável o quão abjeto é o papel desempenhado por Obama, somente equiparável àquele desempenhado pelos poderosos mais abomináveis da história humana.

Obama é prova do desvirtuamento do Prêmio Nobel da Paz. Ele é o Senhor das Guerras. O senhor de todas as guerras; o promotor das guerras que destroem nações, culturas, vidas e futuro. Guerras feitas em nome do domínio e da expansão do poder imperial dos EUA no mundo, mas cinicamente batizadas de “humanitárias”. A espionagem é a dimensão cibernética da guerra total que Obama promove.

A entrega do Nobel da Paz a ele é desmoralizante, feita para legitimar sua condição de gendarme do mundo. A concessão desse título não deixa de ser uma espécie de condecoração do crime. Com estilo e glamour.

Como observa o filósofo norte-americano Cornel West, “os legados de Luther King e Obama são o oposto. Um é sigilo, falsidade e drones. O outro, sonhos, verdade e justiça. Luther King disse ‘I have a dream’ [Eu tenho um sonho], enquanto Obama diz ‘I have a drone’ [Eu tenho um drone]” [Entrevista FSP, 24/08/2013].

Obama comete crimes de guerra com a prática terrorista de disparar drones [aviões não tripulados, carregados de armamento e guiados por controle remoto] contra adultos e crianças inocentes por ele consideradas “terroristas”.

Do alto da arrogância imperial, diz que preside a “democracia mais antiga do mundo ocidental” [sic] e, por isso, se arvora o direito de guardião da democracia mundial que pode atacar covardemente qualquer país, mesmo com a reprovação da ONU e da população mundial. A Síria é a aventura da hora.

Muita gente em todas as partes do mundo se iludia com a eleição de Obama em 2008. Também pudera: depois dos anos tenebrosos com Bush, qualquer coisa seria um alívio. Obama então apresentou um cardápio sedutor de promessas que, sabia-se, eram inaplicáveis para o establishment norte-americano.

Ele logo se revelou uma farsa. Uma farsa que, considerada a dimensão imperial do poder que exerce, transforma o mundo e a vida humana numa tragédia. Como no teatro do absurdo, Hollywood [a indústria estadunidense da hegemonia ideológica] deu o Oscar para o filme “Argo”, que é uma apologia do heroísmo belicista norte-americano [o bem] contra o “islã” [o mal]. Glamour e simbologia abundaram: a primeira-dama Michele Obama anunciou a premiação diretamente da Casa Branca.

Obama tem o comportamento de um criminoso de guerra tão cruel, tirânico e terrorista quanto os ditadores e terroristas que diz combater. Qual a diferença entre as mortes de pessoas inocentes provocadas por ele daquelas provocadas pela Al Qaeda?

Os EUA, como a “democracia mais antiga do mundo ocidental” têm um sistema judicial próprio – Guantánamo – para empregar contra os inimigos. Eles, entretanto, não se submetem às leis, tratados e normas internacionais, e rechaçam o Tribunal Penal Internacional, para não terem suas barbaridades julgadas e condenadas.

Se os EUA aplicassem para si os mesmos princípios que adotam para os inimigos que cometem os mesmos crimes terroristas, seu Presidente e muitas autoridades do governo estariam purgando no inferno de Guantánamo.

Obama é um tipo de personagem que consegue a proeza de justificar o totalitarismo e o terrorismo de Estado em nome da democracia. Ele hoje não faz nenhuma questão de ostentar a falsa aparência política liberal da primeira campanha eleitoral. Assumiu de corpo, alma, consciência e voz, a face mais dura e dramática que o império e seu déspota na titularidade do cargo podem assumir.

*Jeferson Miola é analista político
 

TARIQ ALI: A REVOLTA DOS VASSALOS

 


Pela primeira vez em cinquenta anos, a Câmara dos Comuns do Reino Unido votou contra a participação do país numa guerra imperial. Consciente da profunda e persistente oposição no país e no aparelho militar, os deputados decidiram representar a vontade do povo. Por Tariq Ali
 
Tariq Ali – Carta Maior
 
Alegrai-vos. Alegrai-vos. A primeira corrente de vassalagem foi quebrada. Eles vão arrumá-la, sem dúvida, mas festejemos a independência enquanto dura. Pela primeira vez em cinquenta anos, a Câmara dos Comuns votou contra a participação numa guerra imperial. Consciente da profunda e persistente oposição no país e no aparelho militar, os deputados decidiram representar a vontade do povo.

Os discursos dos três líderes foram quase patéticos. Nem a emenda da oposição nem a proposta de guerra conseguiram reunir o apoio suficiente. Foi tudo o que precisávamos. Os cerca de trinta dissidentes conservadores que tornaram impossível a participação britânica, votando contra a sua liderança, merecem o nosso agradecimento. Talvez agora a BBC comece a refletir a opinião popular em vez de agir como a voz dos belicistas.

Tendo em conta o estatuto internacional britânico como comparsas de Washington no derramamento de sangue, esta votação terá um eco global. Nos próprios Estados Unidos, a votação em Londres fará crescer a inquietação, já bem evidente nos briefings off-the-record à imprensa dizendo que não existem provas sólidas que liguem o regime ao ataque com armas químicas. "O quê?", perguntarão entre si os cidadãos norte-americanos. "O nosso seguidor mais leal está a desertar nas vésperas dos ataques?"

O que significa isto, não deveríamos estar a debater o assunto? A linguagem de Obama nas entrevistas de 29/8 não foi diferente da de Bush. Ele disse mesmo que a razão para o assalto previsto era que aquelas armas químicas "poderiam ser usadas contra os Estados Unidos". Por quem? Pela Al-Qaeda, etc. Desculpem. Mas eles não estão ao seu lado neste conflito e o objetivo dos ataques não é o de fortalecer um dos lados contra o outro nesta guerra civil repulsiva?

Entretanto, também na Europa a votação do parlamento britânico repercute como uma onda de choque. A elite alemã (à exceção do seu elemento Verde) tende a ficar nervosa com as guerras. Isso deixa François Hollande no papel do único apoiador entusiasta de Washington na primeira linha da UE.

Quem é agora o cavalo de Tróia na Europa? Cameron culpou Blair e a Guerra do Iraque pelo ceticismo que predomina no país. É verdade. Mas não nos esqueçamos de que os conservadores também apoiaram solidamente essa guerra. Lembro-me de ter debatido na televisão nessa altura com Gove [atual ministro da Educação]: ele era pior que a maioria dos apologistas de Bush nos Estados Unidos.

É verdade que se lhes mentem uma vez, as pessoas ficam menos inclinadas a acreditar novamente no governo sobre esses assuntos. Cameron até fez uma imitação aceitável de Blair, mas os tempos estão a mudar. E não conseguiu convencer o seu próprio partido.

Enquanto isso, Washington está determinada a avançar sozinha com a França a reboque. É por isso que demasiados festejos são prematuros. A ‘Stop the War Coalition’ britânica não tem equivalente na Europa ou na América. Mesmo em épocas de isolamento (a invasão e bombardeio da Líbia, por exemplo), a pressão manteve-se em alta.

*Publicado em Information Clearing House. Tradução de Luís Branco, do Esquerda.net.
 

Rússia poderá atacar a Arábia Saudita caso Ocidente inicie bombardeio à Síria

 

O País (ao)
 
Um memorando classificado como urgente, segundo fontes militares russas, foi expedido pelo escritório do presidente Vladmir Putin, nesta quarta-feira, e ordena um ataque massivo da Rússia contra a Arábia Saudita caso as forças da Organização do Tratado Atlântico Norte (Otan, na sigla em inglês) ataquem a Síria. A informação, não foi confirmada oficialmente pelo governo russo, conteria instruções semelhantes a uma ordem de guerra, expedida há cerca de um mês por Riad, na qual o governo muçulmano teria declarado que, caso a Rússia não aceitasse a derrota de Bashar Al Assad, os sauditas iriam arregimentar militantes na Chechênia para “aterrorizar” os XXII Jogos Olímpicos de Inverno que a Rússia realizará na cidade de Sóchi.
 
Fontes militares russas também informaram, nesta manhã, que uma flotilha, liderada pelo contra-torpedeiro Almirante Chabanenko, aproxima-se do porto sírio de Tartús. Segundo informes lidos pela rádio militar israelense Debka, desde o último sábado o exército russo está em estado de alerta frente a um possível ataque dos EUA, Grã-Bretanha e França contra a Síria. Segundo a agência russa de notícias RNA, além da Rússia, outros países aliados dos sírios recusam-se a colaborar com os planos bélicos do Ocidente.
 
Em Nova York, nesta tarde, ocorria uma reunião fechada dos membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (Rússia, Reino Unido, China, França e EUA) sobre a situação na Síria. A reunião foi convocada por iniciativa dos Estados Unidos. Sabe-se também que a lista de participantes ainda poderá ser expandida nas próximas horas e o centro da discussão é um projeto de resolução britânico sobre o possível uso da força contra Damasco. Mais cedo, o vice-ministro do Exterior russo, Guennadi Gatilov, declarou que, se qualquer país usar a força contra a Síria, contornando o Conselho de Segurança da ONU, isso poderá ser considerado como uma flagrante violação do direito internacional.
 
‘Passeio no inferno’
 
Mas o possível bombardeio dos EUA e demais potências ocidentais, que poderá ocorrer dentro de mais algumas horas, não será uma atividade turística no Oriente Médio. Ao contrário do que ocorreu com Gaddafi, na Líbia, o governo de Damasco não está isolado. Potências nucleares como Rússia e China podem transformar a ação bélica norte-americana em “um passeio no inferno”, segundo aquelas fontes militares russas. Na ONU, ambas as nações asiáticas já vetaram qualquer ataque ou manobra militar contra os sírios. Depois, o Irã, maior potência militar do Oriente Médio, com um exército regular de dois milhões de militares efetivos e mais um milhão de guerreiros muçulmanos mobilizados, fundamenta sua sobrevivência regional na existência do regime de Damasco.
 
Em terceiro lugar, ainda segundo a RNA, Israel, o terceiro braço da Otan na região, encontra-se cercado por forças do Hezbolah, aliados de Síria e Irã, por um lado, e por mísseis e forças em terra do Hamas, na Faixa de Gaza; além do exército sírio, com aviões e mísseis de médio alcance. Mesmo o Iraque, com um governo xiita, é aliado preferencial do Irã e já negou seu espaço aéreo a qualquer incursão militar contra a Síria.
 
“Em quarto lugar, qualquer intervenção militar estrangeira na Síria desataria uma ação dos curdos contra a Turquia, aliado das forças ocidentais”, segue a agência russa de notícias, em análise divulgada nesta quarta-feira. E, por último, o Egito, hoje controlado por militares aliados dos EUA e Israel, poderá mergulhar em uma divisão anárquica, protagonizada por diferentes grupos islâmicos fundamentalistas, ainda dispersos por uma coalizão de forças que mantém o país unificado. Ao menor sinal de distúrbios na Síria, o Irã também poderá bloquear o Estreito de Ormuz, por onde escoam cerca de 40% de todo o petróleo consumido nos EUA e Europa.
 
Provas em contrário
 
Ao contrário do que afirmam a Casa Branca, em Washington, e o número 10 da Downing Street, em Londres, não há provas contundentes de que a ordem para o ataque com armas químicas à região ocupada por rebeldes, na Síria, tenha partido de Damasco. Nesta quarta-feira, segundo o especialista militar Joseph Watson, do Infowar, um sítio na internet especializado em estratégias militares, o panorama ficou ainda mais embaçado com o vazamento de um telefonema interceptado pela inteligência israelense. Segundo o serviço de inteligência de Jerusalém, a ordem para um ataque com armamento químico não teria partido do Ministério da Defesa de Assad, pois o ministro Moshe Ya’alon, em pessoa, teria telefonado, em pânico, para a unidade de armas químicas do exército sírio em busca de notícias sobre o uso de gás de nervos, em uma ação que teria matado cerca de mil pessoas, apenas uma hora depois de veiculada a notícia pelas agências internacionais.
 
“Por que o ministro sírio da Defesa faria um telefonema desesperado, no qual ‘exigia respostas imediatas’ para o ataque com armas químicas se fosse ele quem o ordenou”, questiona o informe da inteligência de Israel, publicado no Infowar. “O fato de que o alto comando do governo sírio aparentemente não sabia do ataque sugere, fortemente, que eles não deram a ordem para tanto, em um cenário no qual a liberação do agente químico teria sido realizado pelos próprios rebeldes ou por ‘oficiais sírios que agiram por conta própria, acima das ordens de seus superiores”, acrescentou o especialista do site Foreign Policy Noah Shachtman.
 
Um oficial de inteligência dos Estados Unidos também disse ao Foreign Policy que todos no Pentágono estão querendo, até agora, entender exatamente o que houve mas, seja lá quem ordenou o ataque, “fez uma coisa realmente estúpida”. Se, mesmo sem saber exatamente o que houve de verdade, porque o ataque aconteceu e quem o ordenou, sem que os técnicos das Nações Unidas investiguem o incidente, os EUA lançarem um ataque de mísseis contra a Síria, “potencialmente inflamará toda a região”, acrescenta Shachtman.
 
Para deixar a situação ainda mais confusa, há evidência prévias que sugerem a participação de rebeldes, com o apoio norte-americano, no preparo e uso de armas químicas em numerosas ocasiões, completamente esquecidas devido ao rumo dos acontecimentos. Na última vez que a ONU investigou evidências de uso de armas químicas na Síria, os inspetores concluíram que parecia obra dos rebeldes e não das forças regulares do regime de Assad.
 
“Em adendo, conversas telefônicas vazadas entre integrantes do (exército rebelde) Free Syrian Army revelaram detalhes de um plano para a liberação de armas químicas em um ataque capaz de impactar uma área de cerca de um quilômetro”, acrescenta o Infowar.
 
O vice-chanceler sírio, Faisal Maqdad, também disse, nesta quarta-feira, que Estados Unidos, Grã-Bretanha e França ajudaram “terroristas” a usar armas químicas na Síria, e que os mesmos grupos vão em breve atacar a Europa com essas armas. Falando a repórteres do lado de fora do hotel Four Seasons em Damasco, Maqdad disse que apresentou provas aos inspetores de armas químicas da ONU de que “grupos terroristas armados” usaram gás sarin em todos os locais dos supostos ataques.
 
“Nós repetimos que grupos terroristas são aqueles que usaram (armas químicas) com a ajuda dos Estados Unidos, Reino Unido e França, e isso tem que parar. Isso significa que essas armas químicas serão usadas em breve pelos mesmos grupos contra o povo da Europa”, acrescentou.
 
Ainda assim, os navios da Marinha de Guerra dos EUA e da Frota Real do Reino Unido que estão no leste do Mediterrâneo, possivelmente, efetuarão um ataque aéreo contra alvos na Síria já na noite de quinta para sexta-feira, logo depois da votação no parlamento britânico em apoio da operação militar contra o regime sírio, informa a imprensa e televisão norte-americanas. Pressupõe-se que o ataque pode durar várias horas, entre objetivos principais citam unidades do Exército da Síria que podem potencialmente usar armas químicas, bem como os Estados-Maiores, centros de comunicação e complexos de lançamento de mísseis, afirma a mídia, se referindo a uma fonte anónima no Pentágono.
 

AS LUZES CONTRA O COLONIALISMO

 

Thierry Meyssan*
 
Os acontecimentos que estamos a viver desde 21 de Agosto – o anúncio de bombardeio aliado contra a Síria e a sua rejeição pela Câmara dos Comuns britânica – não são uma competição entre as grandes potências coloniais, mas sim a ilustração da rebelião dos povos ocidentais contra os seus dirigentes. Para Thierry Meyssan, os ocidentais enfrentam agora as suas próprias contradições : explorar o resto do mundo impondo-lhe a sua lei, ou tratar de viver em paz sob o império da Razão.
 
Como numa tragédia grega, os ocidentais que anunciavam as suas intenções de bombardeio iminente da Síria não fizeram nada e agora digladiam-se entre si. Como dizia Eurípides : « Os deuses enlouquecem primeiro, aqueles que querem destruir ».
 
De um lado, os líderes dos Estados membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU : Barack Obama, David Cameron e François Hollande ; do outro lado, os seus próprios povos. De um lado, a hubris (ὕϐρις), a desmesura das últimas potências coloniais ; do outro lado as Luzes da Razão. Face a eles, os sírios, silenciosos e resilientes… e os seus aliados, russos e iranianos, à espera.
 
O drama que se está a desenrolar não é um enésimo episódio da luta pelo controlo do mundo, mas sim um momento crucial como não se viu igual na História desde 1956, e a vitória de Nasser na questão do Canal de Suez. Na altura, o Reino Unido, França e Israel tiveram que renunciar ao seu sonho colonial. É certo que viriam depois as guerras da Argélia e do Vietname e o fim do apartheid na África do Sul, mas, já se tinha esvaído o impulso que tinha levado o Ocidente a dominar o mundo.
 
Este sonho recobrou força quando George W. Bush empreendeu a conquista do Iraque. Ante a queda da sua própria economia, e crendo no desaparecimento próximo do crude oil (petróleo em bruto-ndT), as multinacionais americanas utilizaram os exércitos aliados para recolonizar o Oriente. Durante um ano, uma empresa privada, a Autoridade Provisória da Coligação, governou e pilhou o Iraque. Este sonho devia prosseguir com a Líbia, a Síria e o Líbano, e depois seria a vez da Somália e do Sudão, antes de culminar com o Irão, como o revelou o general Wesley Clark, excomandante em chefe da OTAN.
 
Todavia, a experiência Iraquiana demonstrou que, mesmo exangue após anos de guerra contra o Irão e de largos anos de sanções, não é possível colonizar um povo educado. A diferença de estatuto entre os ocidentais – capazes de ler e escrever e controlando o uso da pólvora – e o resto do mundo desapareceu. E, até os povos mais ignorantes vêm agora televisão e reflectem em termos de relações internacionais.
 
Este paradigma tem um corolário : os povos ocidentais não estão sedentos de sangue. Eles partiram seguros da sua superioridade ao assalto do mundo e voltaram estropiados. Hoje eles recusam retomar essa aventura criminosa para beneficio exclusivo dos seus magnatas da indústria. É esse o sentido do voto da Câmara dos Comuns rejeitando a moção de ataque à Síria, submetida por David Cameron.
 
Têm os povos consciência exacta do seus actos ? Claro que não. Raros são os ocidentais, europeus e americanos, que entenderam como a OTAN provocou a secessão de Bengazi e a disfarçou de revolução contra Muammar el-Kadhafi, antes de arrasar o país com um dilúvio de bombas. Raros são os que reconheceram a bandeira do Exército Sírio Livre – verde, branca e negra– a bandeira da época da colonização francesa. Ora, no entanto todos sabem que é disso que se trata.
 
A estratégia de comunicação de Downing Street, e da Casa Branca, espanta pela assombrosa arrogância. Na sua nota sobre a legalidade da guerra, o gabinete do primeiro-ministro britânico afirma que o Reino Unido pode intervir sem mandato do Conselho de Segurança da ONU para impedir que se cometa um crime, na condição que a sua intervenção se realize, exclusivamente, com esse objetivo, e que seja proporcional à ameaça. Mas como impedir que um exército utilize armas químicas ? Bombardeando o país ?
 
A Casa Branca, pela sua parte, divulgou uma nota dos serviços de inteligência assegurando ter a « certeza » sobre o uso de armas químicas por parte da Síria. Seria preciso gastar mais de 50 biliões de dólares para parir uma teoria de conspiração carente da menor prova tangível ? Em 2001 e 2003, a acusação convertia-se em lei. Colin Powell podia dar-se ao luxo de atacar o Afeganistão em troca de uma simples promessa, de apresentação posterior de provas da participação dos talibãs nos atentados do 11 de Setembro, e nunca as apresentar ao Conselho de Segurança. Podia pô-lo a ouvir falsas gravações telefónicas supostamente interceptadas e agitar uma cápsula com algo que ele dizia que era antráx antes de ir arrasar o Iraque, e apresentar depois as suas desculpas pessoais por tais mentiras. Mas hoje em dia, o Ocidente vêse diante das suas próprias contradições, entre partidários da colonização e defensores da Razão.
 
O que está em jogo hoje na Síria, é nada menos que o futuro do mundo. Os dirigentes dos Estados ocidentais, sempre em busca de lucro e poder, uma vez que não conseguem explorar mais os seus próprios povos, dirigem as suas ambições para o exterior. Mas são contrariados pelos representantes dos diferentes povos. O voto dos franceses seria, sem dúvida, igual ao dos britânicos, se a Assembleia Nacional da França fosse chamada a pronunciar-se. E será, talvez, o dos Estados Unidos, quando o Congresso for consultado.
 
No entretanto, em vez de resolverem os seus problemas económicos internos, Washington, Londres e Paris rivalizam em declarações grandiloquentes e belicistas, devorando-se entre si sobre as ruínas das suas glórias passadas.
 
Thierry Meyssan – Voltaire net - Tradução Alva
 
Na foto: Voltaire e Rousseau. Os dois filósofos, representantes das aspirações de classes sociais diferentes que puseram em causa a ordem do mundo. À dominação do homem branco e sua religião, eles preferiam a Razão.

*Intelectual francês, presidente fundador da Rede Voltaire e da conferência Axis for Peace. Publica análises de política estrangeira na imprensa árabe, latino-americana e russa. Último livro publicado: L’Effroyable imposture : Tome 2, Manipulations et désinformations (éd. JP Bertand, 2007).
 

HOLLANDE – HOMENZITO EM BICOS DE PÉS

 

 
O homenzito chama-se Hollande. Está “desfavorecido” na foto. Com ar de idiota. A verdade é que Hollande é um idiota pernicioso. A AFP censurou esta fotografia. Hollande é presidente da República Francesa. Anda desesperado e a caminhar em bicos dos pés e aos pulos, para que o vejam sem que se apercebam da sua insignificância. França merecia muito melhor. O homenzito quer protagonizar ou ao menos participar numa aventura na Síria. Quer guerra. Mas não será o cobardolas insignificante que irá para a guerra. Não. Isso está reservado aos plebeus e aos filhos dos plebeus. “Para morrerem ou regressarem da guerra estropiados estão destinados os plebeus”, dizem os cobardes da política. Os ricos nem têm de pagar crises que arquitetam nem têm de ir para a guerra. Muito menos um PR da França da liberté, egalité, fraternité et solidarité porque todos esses principios já foram ultrapassados. Agora e cada vez mais a França já não se interessa por liberdade a não ser para os políticos, para os banqueiros, para a nata dos vermes da finança global. Nem por igualdade a não ser para os atrás citados. A fraternidade e a solidariedade entre os franceses também é somente um slogan porque na prática o objetivo e principios estão extintos. Em vez disso a França dá cambalhotas e entra em transe com arriscados golpes de rins para esconder a crise em dimensões enormes que o seu PR sabe que existe. E outros mais sabem. Mas Hollande aguarda um milagre em vez de pôr em prática aquilo que prometeu nas eleições não muito distantes. Hollande é uma fraude que toma maiores dimensões porque se disse socialista mas não o é. Tal qual em Portugal António José Seguro, também dito socialista que se sabe ser um grande “xuxalista”. O mesmo que Passos Coelho, dito social-democrata, ou Cavaco Silva. Um par que se assemelha aos que abrem as portas ao fascismo sem pudor mas lhes chamam liberais. Individuos com perfis ditatoriais que passam a vida a tropeçar e despedaçar a democracia. E assim é Hollande. Nunca a França esteve tão pior de PR. Por isso ele quer a todo o transe uma guerra que desvie as atenções dos franceses da realidade do país e da sua pessoal insignificancia. Acredita ele que assim escapa à realidade de ser o pior presidente de França, com indices em sondagens nunca antes tão baixos. Hollande, uma baixaria que agora quer matar Sírios em nome do velho “salve-se quem puder”. E ele quer poder salvar-se, mesmo conspurcando França e os franceses ao dar as mãos aos EUA, a Obama. A França tem de se livrar desta água suja do banho de Hollande e de Obama para readquirir o seu perfil de grande nação, de um grande povo que canta o hino mais lindo do mundo. Limpinho.
 

AUTORIA DO SUPOSTO ATAQUE QUÍMICO NA SÍRIA AINDA É CONTROVERSA

 

Deutsche Welle
 
Apesar da certeza de Washington e Paris de que regime Assad usou gás venenoso, ainda não há provas concretas. Inspetores da ONU não concluíram relatório, e analistas veem pouca credibilidade nas evidências já mostradas.
 
O incidente do dia 21 de agosto originou imagens que chocaram. Dezenas de corpos imóveis em estações improvisadas de atendimento médico. Pessoas tremendo e com os olhos arregalados, com dificuldade de respirar. Os registros das vítimas de um suposto ataque com armas químicas foram colocados na internet por ativistas da oposição síria e reproduzidos em portais de notícias, emissoras de TV e jornais em todo o mundo.
 
Mas até agora ainda existe controvérsia sobre o que realmente aconteceu naquela noite. Os governos dos EUA e da França têm certeza de que se tratou de um ataque com armas químicas. Berlim tem opinião similar. "Não pode haver dúvida de que houve uma violação flagrante do direito internacional pelo uso cruel de armas químicas", afirmou na terça-feira (03/09) a chanceler federal Angela Merkel, em discurso no Parlamento alemão.
 
À espera da ONU
 
Apesar da certeza que alguns governos ocidentais afirmam ter, os inspetores de armas químicas da ONU ainda não concluíram seu relatório e continuam analisando as amostras coletadas em Damasco.
 
"Isso leva tempo", diz Ralf Trapp, especialista em armas químicas e funcionário de longa data da Organização para a Proibição de Armas Químicas. Ele acredita que a análise levará ainda duas a três semanas. "Ela não pode ser feita em dois ou três dias. Os requisitos de qualidade são consideráveis. Pequenos erros podem inutilizar todo o trabalho."
 
Jan van Aken, ex-inspetor de armas biológicas e integrante do partido alemão A Esquerda, considera, por isso, ainda muito cedo para se tirar conclusões.
 
"Minha intuição me diz que foi, provavelmente, um ataque com gás venenoso. Mas falta a prova final." Ele é a favor de que o Ocidente espere a divulgação do relatório dos inspetores da ONU. "A coisa mais importante em relação à ONU é que ela tem uma cadeia fechada que inclui desde o recolhimento da amostra até o laboratório.
 
"Esta cadeia pode ser monitorada por todos os interessados", ressalta o especialista. "Isso quer dizer que teremos um resultado no final passível de crédito por todas as partes. Se esse controle completo não for garantido, então, eu não confiaria em uma amostra."
 
Jan van Aken observa que, no caso das amostras apresentadas pelos Estados Unidos como uma evidência, não está claro de onde e por quem elas foram coletadas. "Por isso, não podemos descartar manipulações", conclui.
 
Ações de espionagem
 
Mesmo assim, EUA e França não só dizem ter certeza do ataque com armas químicas, como acreditam que ele foi obra do ditador Bashar al-Assad. "Há evidências claras e conclusivas", argumentou o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, acrescentando que as agências de inteligência dos EUA analisaram extensivamente todos os fatos e que têm certeza do curso dos acontecimentos. Segundo Washington, o ataque matou 1.429 pessoas, incluindo pelo menos 426 crianças.

As provas do governo americano se baseiam em dados obtidos por técnicas de espionagem, como reconhecimento aéreo e ações de escuta. Além disso, Washington aponta que há relatos de profissionais de saúde, testemunhas e organizações não governamentais "de alta credibilidade".
 
Jan van Aken ressalta que no relatório de Kerry não foi apresentada uma evidência concreta sequer. "É a coisa mais rala que já vi até agora", critica, classificando o apresentado pelo secretário de Estado dos EUA como "uma coleção de suposições e alegações".
 
Van Aken destaca, por exemplo, que a suposta gravação de uma conversa em que um alto funcionário de Assad teria admitido o ataque com gás venenoso não é acessível. "O conteúdo do tal registro não pode, assim, ser avaliado", sublinha o perito.
 
Ele também considera insustentável a tese dos Estados Unidos e da França de que apenas as tropas de Assad teriam condições de lançar um ataque de gás venenoso. "Havia desertores do Exército sírio, que poderiam ter roubado armas químicas. Bases militares e arsenais foram invadidos pelos rebeldes. Eles tiveram todas as oportunidades do mundo para ter acesso a essas armas", conclui.
 
Do ponto de vista logístico, o especialista explica que o uso dessas armas não é problema. "Há projéteis de artilharia para isso, que você só carrega num lança-granada e dispara."
 
Inteligência alemã vê indício
 
O Serviço Federal de Inteligência (BND, sigla em alemão), órgão de inteligência exterior da Alemanha, aparentemente também crê que Assad esteja por trás do suposto ataque com gás venenoso, segundo reportagem do portal de notícias Spiegel Online.
 
O presidente do BND, Gerhard Schindler, disse a deputados selecionados do Bundestag que falta de evidências claras mas que, após uma análise minuciosa das evidências, seus agentes acham mais plausível que o regime Assad seja autor do ataque.
 
O BND teria interceptado um telefonema de um integrante da liderança do Hisbolá libanês com a embaixada iraniana. Na conversa, o membro do Hisbolá, que apoia Assad, teria mencionado ter havido uma ordem do regime para o ataque com gás venenoso.
 
Jan van Aken argumenta que esta informação também não o convence: "Porque um integrante do Hisbolá saberia algo sobre um ataque de gás venenoso na Síria? Provavelmente ele só especulou durante o telefonema."
 
Van Aken, entretanto, não descarta que Assad esteja por trás do atentado. "Só estou dizendo que também é possível que os rebeldes tenham executado o ataque." Ele ressalta ser a favor da punição para quem faz uso de armas químicas. "Mas é necessário encontrar os verdadeiros culpados e levá-los a julgamento. Se isso durar 15 anos, que dure 15 anos. Crimes de guerra não podem ser punidos durante uma guerra. Isso ocorre somente depois."
 
Autoria: Nils Naumann (md) – Edição: Rafael Plaisant
 

OBAMA RECEBE APOIO DE COMISSÃO DO SENADO PARA ATACAR SÍRIA

 


O presidente americano, Barack Obama, deu nesta quarta-feira um passo em direção ao seu objetivo de punir o regime do presidente sírio, Bashar al-Assad, após obter o apoio de uma comissão do Senado para atacar a Síria, enquanto Damasco indicou que não se renderá.
 
A Comissão de Relações Exteriores do Senado americano aprovou nesta quarta um projeto do presidente Barack Obama para uma operação militar contra o regime sírio, abrindo a porta para que os senadores debatam a medida na segunda-feira.
 
Os membros da comissão deram o seu apoio a uma "intervenção limitada" na Síria, com dez votos a favor e sete contra. Essa ação teria uma duração máxima de 60 dias, com a possibilidade de ser ampliada para 90, sem a mobilização de tropas.
 
Um grupo de democratas e republicanos se opôs.
 
Construindo uma coalizão
 
Enquanto isso, o secretário de Estado americano, John Kerry, assegurava à Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Representantes que Washington está construindo uma coalizão internacional para uma intervenção militar.
 
"Estamos construindo (uma coalizão) com outros países, entre eles a Liga Árabe", declarou. Alguns países "expressaram sua vontade de agir", disse o chefe da diplomacia americana, citando "Arábia Saudita, Emirados (Árabes Unidos), os catarianos, os turcos e os franceses", acrescentou.
 
Kerry disse ainda que os países árabes se ofereceram para ajudar nos custos de uma intervenção americana.
 
"Sobre se os países árabes ofereceram arcar com os custos e ajudar (na intervenção), a resposta categórica é 'sim', elas ofereceram. Essa oferta está sobre a mesa".
 
Síria responderá
 
Na capital síria, o vice-ministro das Relações Exteriores, Faiçal Moqdad, afirmou que "o regime sírio não se curvará às ameaças de um ataque de Ocidente, mesmo se houver uma Terceira Guerra Mundial".
 
Moqdad assegurou que "a Síria tomou todas as medidas para responder a uma agressão" e que havia "mobilizado seus aliados", como Rússia e Irã.
 
Ele também aproveitou para ameaçar a França, que se compromete a apoiar uma ofensiva americana.
 
"Se a França quiser apoiar a Al-Qaeda e a Irmandade Muçulmana, como apoiou no Egito e em outras regiões do mundo, fracassará na Síria", frisou.
 
Obama pede que mundo não se cale diante da "barbárie"
 
Em visita a Estocolmo, Obama voltou a manifestar sua confiança no apoio do Congresso. Ele se reunirá na quinta e na sexta-feira com seus homólogos de França e China e com o primeiro-ministro japonês em São Petersburgo, onde participará da cúpula do G20.
 
"A comunidade internacional não pode ficar calada" diante da "barbárie" da Síria, afirmou Obama.
 
Ele prometeu que na Síria não se repetirão os erros cometidos no Iraque. "Sou alguém que se opôs à guerra no Iraque. E não estou interessado em repetir o erro de basear as decisões em relatórios de inteligência errados".
 
"Certamente, nós discutimos a respeito da violência intolerável que é infligida aos sírios pelo regime de Assad, incluindo o terrível recurso a armas químicas há duas semanas", declarou Obama em coletiva de imprensa com o chefe de Governo sueco, Fredrik Reinfeldt.
 
Ao ser perguntado sobre a "linha vermelha" à qual havia se referido em agosto de 2012 ao falar sobre os ataques químicos, Obama disse que "o mundo todo" havia fixado esse limite.
 
"Não é a minha credibilidade que está em jogo. A credibilidade da comunidade internacional está em jogo, e a credibilidade dos Estados Unidos e do Congresso está em jogo", insistiu o presidente.
 
Putin pede ação dentro do Conselho de Segurança
 
Aliado do presidente Assad, o presidente russo, Vladimir Putin, considerou que, se o Congresso americano autorizar ataques, os Estados Unidos "estarão permitindo uma agressão, porque tudo que está fora do marco do Conselho de Segurança das Nações Unidas é uma agressão, a menos que seja em legítima defesa".
 
Ele já havia exigido "provas convincentes" do uso de armas químicas, mas adotando um discurso mais conciliador na véspera da abertura da cúpula do G20 na Rússia.
 
Putin também confirmou que a Rússia tinha enviado alguns elementos do sistema de mísseis S300 para a Síria, mas esclareceu que, no momento, as entregas estão suspensas.
 
A pertinência de uma intervenção, defendida pelo presidente francês, François Hollande, está sendo discutida nesta quarta-feira no Parlamento francês.
 
"Não reagir" militarmente na Síria seria como "fechar a porta para uma solução política ao conflito", declarou o primeiro-ministro francês Jean-Marc Ayrault na abertura dos debates.
 
O conflito não dá trégua
 
Enquanto isso, no terreno, os combates prosseguem. Rebeldes islamitas se apoderaram nesta quarta-feira de um posto militar na entrada da cidade cristã de Malula (norte), enquanto quase toda a Síria ficou privada sem elétrica depois de um ataque contra uma linha de alta tensão no centro do país.
 
A Coalizão contra as Bombas de Fragmentação, que reúne 350 organizações da sociedade civil de 90 países, denunciou nesta quarta-feira em um relatório o uso "massivo" de armas desse tipo por parte do regime de Assad.
 
O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) calcula que o número de refugiados sírios já supere dois milhões de pessoas, duas vezes mais do que há um ano. Se forem incluídos os deslocados internos, chega-se a um total de seis milhões de pessoas.
 
AFP
 

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