segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Moçambique: RENAMO PREPARAVA INVESTIDA QUANDO BASE DE MARINGUÉ FOI TOMADA

 


A Renamo, principal partido da oposição, estava a preparar "uma investida" quando o Exército de Moçambique atacou e tomou a base de Maríngué, na província de Sofala, anunciaram hoje as autoridades moçambicanas.
 
Confirmando a tomada da base, há uma semana nas mãos da Renamo, o diretor nacional adjunto da Política Nacional de Defesa comunicou, em conferência de imprensa, que "houve uma troca de tiros, seguida de uma perseguição até à base da Renamo em Maríngué, que foi desmantelada".
 
Manuel Mazuze adiantou que o Exército não sofreu baixas durante os confrontos, desconhecendo também a existência de vítimas entre a Renamo. "Sabemos que é hábito da Renamo arrastar os seus homens quando tombam", disse apenas, acrescentando que o Exército continua no local a desativar a base, situada no centro do país.
 
As Forças Armadas de Defesa de Moçambique assaltaram a base no quadro da operação contra a Renamo que vinham realizando desde sábado, acabando por conquistar o antigo quartel-general da Renamo, onde homens armados alegadamente provocavam incidentes na principal estrada do país.
 
O diretor nacional da Política Nacional de Defesa desmentiu a acusação, hoje reiterada pela Renamo, de que a atual ação do Exército moçambicano visa assassinar o líder do partido da oposição, Afonso Dhlakama.
 
"Se o objetivo fosse assassinar o líder da Renamo, esse objetivo teria sido cumprido", disse Manuel Mazuze, destacando ainda que Afonso Dhlakama "deve aparecer, porque o Governo já anunciou que quer continuar o diálogo" para pôr fim à crise política e militar no país.
 
Afonso Dhlakama, alguns dos seus colaboradores e a sua guarda pessoal fugiram para local incerto, depois de a base onde viviam há mais de um ano ter sido tomada pelo Exército moçambicano na semana passada.
 
Moçambique vive o momento mais tenso desde a assinatura do Acordo Geral de Paz, em 1992, na sequência de divergências entre a Renamo e o Governo da Frelimo, partido no poder, sobre a lei eleitoral.
 
Lusa
 

Portugal - Medina Carreira: “O PLANO B É SERMOS ESCORRAÇADOS DO EURO”

 


O antigo ministro das Finanças, Medina Carreira, afirmou à antena da TVI24 que se Portugal não atingir os objectivos do défice, o resultado poderá ser a saída da Euro.
 
“O ‘plano B’ é sermos escorraçados do euro. (…) Há uma corrente de opinião que defende essa solução”, afirmou o antigo responsável pela pasta das Finanças, Medina Carreira, que falava no espaço ‘Olhos nos Olhos’ da TVI24.
 
Mesmo não podendo fechar os olhos a essa possibilidade, o ex-ministro sublinha, no entanto, a necessidade premente de “’bicar’ a Merkel e os outros ‘donos’ da Europa para eles reverem as condições da integração”, salientando que Portugal precisa ser mais firme no diálogo com os mesmos.
 
“Temos que tentar negociar um prazo mais longo para fazer as coisas de forma organizada”, declarou o comentador.
 
Medina Carreira faz ainda a ressalva de que 2010, ano da “intervenção estrangeira em Portugal”, é onde está o pico da despesa pública, atingindo o patamar de 89 mil milhões de euros.
 
Sobre o facto de Portugal ter chegado à condição económica em que se encontra, o comentador, que fez uma análise detalhada sobre a dívida pública na sua intervenção, acredita que a “despesa cresceu a um ritmo que não era compatível com o crescimento da nossa economia” e foca-se nas prestações sociais como o grande causador do aumento desta mesma despesa: “em grande parte, a nossa pré-falência foi devida à política social descontrolada”.
 
Notícias ao Minuto
 

Portugal: EMPRESÁRIO HUMILDE DÁ LIÇÃO AO GOVERNO SOBRE SWAPS

 

Pedro d'Anunciação – Sol, opinião
 
Álvaro Costa, um humilde fabricante de meias de Barcelos, homem de poucas letras e de estudos limitados, deu uma lição ao Governo, ao conseguir anular em tribunal um swap que o Santander lhe vendeu nos tempos áureos desse negócio bancário, com o pretexto de ficar com juros fixos, e que depois, com a descida acentuada de juros, lhe saiu caríssimo.
 
Álvaro Costa fez o que qualquer detentor de swaps desprevenido deveria ter feito, com mais ou menos formação educativa, a começar pelo Governo, no caso de serviços ou empresas públicas. Mas o nosso Governo mostra-se apenas empenhado em cortar pensões e vencimentos da Função Pública, e direitos dos trabalhadores em geral (coisas com que os países mais adiantados conseguem subir as suas produtividades laborais, que cá só descem – o único que sobe é a dívida pública). E nem o exemplo de Álvaro Costa o estimulou a outras posições (o que não admira, tendo em conta que a actual ministra das Finanças era directora financeira de uma empresa que contratou um swap, precisamente na altura em que o swap foi contratado).
 
O caso de Álvaro Costa, por contraste com o Governo, tornou-se tão gritante, que mereceu vir na 1ª pág. do DN. Mas nem assim o Governo parece ter mudado a sua inacção nestes casos.
 

OUR GUY DID THAT. IT’S VERY DISTURBING

 

Ana Sá Lopes – jornal i, opinião
 
Afinal não havia esperança nem mudança para os Estados Unidos
 
Quando Lou Reed soube do escândalo do novo grande irmão americano, disse isto: “É tão chocante ser Obama a fazer aquela coisa... Foi o nosso homem que fez isto. E isso é muito perturbador”.

Lou Reed morreu ontem e novos dados sobre a guerra da espionagem liderada a partir da Casa Branca vieram a público. Obama sabia de tudo. De resto, era impossível um presidente dos Estados Unidos não saber.

Lou Reed tinha razão: é extremamente perturbador que seja “o nosso homem” o mentor do maior escândalo de espionagem desde o famoso “Watergate” que derrubou Richard Nixon. De resto, o escândalo “Watergate” é uma brincadeira de crianças comparado com os feitos da Autoridade para a Segurança Nacional dos Estados Unidos. Nixon tinha espiado os democratas, Obama espiou os seus principais aliados. Se depois de tudo o que se sabe sobre a espionagem a Merkel e a outros governos europeus, nada de politicamente substancial acontecer nas relações Europa-Estados Unidos temos a prova acabada de que a Europa é um ente politicamente morto.

Lou Reed tinha evidentemente já constatado que “uma data de coisas que Bush tinha feito, Obama continuou. Como é que isto foi acontecer?”. Infelizmente para todos os seus admiradores a priori (eu incluída), Barack Obama é um sucedâneo de George Bush com o dom do discurso. O resto do edifício americano legado ficou intacto – a vergonha de Guantánamo, cujo fecho era uma das promessas do então jovem candidato a presidente.

A Europa geriu pior a crise financeira do que os Estados Unidos, mas essa gestão iniciou-se com George Bush. A economia americana está hoje melhor do que a europeia, mas não é líquido que não tivesse acontecido o mesmo se George Bush estivesse no poder. No dia em que matou Bin Laden, Barack Obama discursou como George Bush teria feito. Os valores, infelizmente, são exactamente os mesmos.

A ordem para a espionagem aos líderes europeus foi dada por George Bush, mas Barack Obama, tal como tinha feito com o resto das políticas que em nome do combate ao terrorismo servem também para a guerra comercial, renovou a licença para espiar.

É terrível pensar que “o nosso homem” é isto, sempre foi isto e mentiu ao mundo quando prometeu que seria uma coisa diferente. Não havia esperança nem mudança para os Estados Unidos – se a Europa aceitar agora o tratado de comércio livre , é porque está enlouquecida.

Leia mais em jornal i
 

A EUROPA É UM MANICÓMIO?

 

Vicente Jorge Silva – Sol, opinião
 
Na crónica anterior, referi várias organizações internacionais que, quase em simultâneo, publicaram recentemente relatórios com uma conclusão idêntica: as políticas de austeridade revelam-se cada vez mais contraproducentes e insustentáveis num mundo – e em particular numa Europa – onde florescem as desigualdades sociais e a riqueza tende a concentrar-se nas mãos de um número cada vez mais restrito de cidadãos, cujas fortunas têm vindo a crescer a um nível histórico recorde.
 
Entre as instituições que, por caminhos diversos, coincidiam nesse diagnóstico, contavam-se, como recordei, o Crédit Suisse, a Cruz Vermelha, o Banco Mundial e o já inevitável FMI. Isso permitia-me observar um sinal de alerta na reflexão e orientação, pelo menos teóricas, de organizações com irradiação global mas frequentemente ausentes do debate sobre as raízes da crise que o mundo e a Europa hoje enfrentam.
 
Não encontrei ecos desses relatórios na imprensa portuguesa – porventura, por distracção minha… –, o que me levou a retomar o tema para evocar as já intoleráveis contradições e duplicidades que organismos como o FMI vêm repetidamente manifestando sobre a política de austeridade e os efeitos terrivelmente corrosivos que provoca na coesão social e no aumento vertiginoso do desemprego.
 
Enquanto se multiplica a produção teórica do FMI sobre os malefícios da austeridade e da recessão, a prática da organização e as declarações dos seus principais responsáveis – como a directora-geral, Christine Lagarde – persistem, em geral, no sentido diametralmente oposto e ao arrepio das novas reflexões introduzidas por essa produção teórica.
 
O FMI vive em plena esquizofrenia, contrariando radicalmente na prática o que os seus teóricos preconizam em sucessivos relatórios. Coexistem na organização duas entidades distintas, de costas voltadas ostensivamente uma para a outra: o velho FMI da ortodoxia financeira neoliberal, incapaz de tirar conclusões do fracasso das políticas seguidas (designadamente no âmbito da troika), e um outro FMI que persiste em defender posições opostas àquelas que a instituição pratica. Até quando se poderá prolongar a credibilidade de uma organização que mantém dois discursos radicalmente incompatíveis?
 
O mais extraordinário é que tudo isto decorre com a maior das normalidades, aparentemente sem convulsões internas, como se o comportamento esquizofrénico se tivesse tornado uma segunda natureza do FMI. E nenhum Estado membro da organização se atreve, visivelmente, através das autoridades respectivas, a confrontá-la com esse comportamento – mesmo quando a prática política do FMI, em convergência com a troika, se traduz num desprezo ostensivo da soberania democrática e constitucional desses Estados.
 
Os episódios sucessivos de chantagem sobre o Tribunal Constitucional, em que participou Lagarde e, mais recentemente, a Comissão Europeia – servindo-se de um relatório fantasma do seu gabinete em Lisboa –, ilustram até que ponto pode chegar a degradação dos valores da democracia. Sobretudo porque tudo isto acontece com a cumplicidade descarada do Governo português.
 
Uma coisa é os cidadãos de um país formalmente soberano e os seus legítimos representantes políticos questionarem o conteúdo da sua Constituição e os respectivos artigos eventualmente anacrónicos. Outra coisa, inteiramente diferente, é sujeitar o actual Tribunal Constitucional a pressões vexatórias (internas e externas) contra o livre exercício de soberania pelos seus juízes.
 
Ora como se não bastasse vivermos num regime de protectorado e submetidos a uma política cujos resultados se têm revelado desastrosos para o país, teríamos ainda de abdicar do que nos resta de soberania formal e do primado da lei que constitui o alicerce essencial da democracia.
 
Quando se assiste a uma tomada de consciência mais ou menos generalizada por parte de várias organizações internacionais (apesar da esquizofrenia do FMI) sobre os fundamentos da crise europeia e o ambiente político na Europa pós-eleições alemãs se mostra agora mais propício a uma revisão dos chamados ‘programas de ajustamento’, mais insuportável se torna o que nos obrigam a sofrer – em nome do dogma fundamentalista que, contra todas as evidências já comprovadas de fracasso, a troika e os governos a ela submissos (ou, pior ainda, professando a sua doutrina com um integrismo de talibãs) insistem em conduzir até às últimas e ruinosas consequências.
 
Não é possível assistir, impávido e sereno, à demência que paira neste manicómio cada vez mais desgovernado em que se tornou a Europa segundo a troika.
 

EUA CAMINHA SOBRE GELO FINO NO ORIENTE MÉDIO

 


Novas e inesperadas tensões com Arábia Saudita e Turquia, maiores aliados norte-americanos no Oriente Médio, expõem desafios do governo de Barack Obama.
 
Jim Lobe* - Carta Maior
 
WASHINGTON - Novas e inesperadas tensões nas relações dos Estados Unidos com a Arábia Saudita e a Turquia, seus mais estreitos aliados no Oriente Médio, expõem os desafios do governo de Barack Obama para navegar nas águas cada vez mais turbulentas dessa região.

Neoconservadores, membros do opositor Partido Republicano e outros falcões (ala mais belicista de Washington) atribuem essa situação à tendência de Obama de se desentender da região e a sua renúncia em usar o poder militar para defender agressivamente os interesses de Washington.

Outros consideram que as novas forças que se desataram com a invasão ao Iraque em 2003 e com a Primavera Árabe transformaram a região e estão desafiando o controle dos Estados Unidos.

“Nós, os estadunidenses, já não temos a capacidade de marcar tendências no Oriente Médio”, admitiu Chas Freeman Jr., diplomata aposentado que se desempenhou como embaixador na Arábia Saudita durante a Guerra do Golfo de 1991.

Mas “as ilusões de onipotência imperial são difíceis de dissolver”, acrescentou.

“Os atores regionais estão duplicando esforços para convocar o apoio de potências externas”, disse Freeman na terça-feira (22), na Conferência de Políticos Árabes/Estadunidenses, celebrada em Washington. “Isso poderia gerar surpreendentes realinhamentos geopolíticos”, prognosticou.

A Casa Branca recebeu uma bofetada na semana passada, quando a Arábia Saudita se recusou a sentar pela primeira vez como membro não permanente no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), alegando o fracasso deste organismo para resolver o conflito palestino-israelense e a atual crise na Síria.

O impacto foi maior na terça-feira (22), quando o The Wall Street Journal informou em sua portada que diplomatas europeus haviam se reunido em Yeda com o chefe de inteligência saudita, Bandar bin Sultan al Saud, ex-embaixador de seu país em Washington.

Nesse encontro, Bandar teria dito claramente que o boicote ao Conselho de Segurança era “uma resposta para os Estados Unidos, não para a ONU”.

Também segundo fontes do jornal, Bandar revelou que Riyadh não só considera reduzir sua cooperação com Washington no treinamento e na provisão de armas aos rebeldes sírios, mas que também explora relações militares com outras potências que sirvam mais aos interesses sauditas.

Consultado a respeito em Londres, onde participava da reunião do grupo Amigos da Síria, o secretário de Estado (chanceler) estadunidense John Kerry, comentou que havia mantido uma série de reuniões com o ministro de Relações Exteriores saudita, Saud al Faisal.

Nestes encontros, afirmou Kerry, chegaram a vários acordos sobre a Síria e outros temas. O funcionário estadunidense assegurou ter “grande confiança” em que os dois países “continuarão sendo importantes e achegados amigos e aliados que temos sido”.

Ainda que as palavras de Bandar pareçam ser, por enquanto, só uma advertência, é fácil notar que Washington e Riyadh se afastam cada vez mais nestes e outros assuntos.

O respaldo de Riyadh à repressão de movimentos opositores no Bahrein e no Egito não agrada a Casa Branca, nem sua lentidão para agir contra os sauditas que apoiam financeiramente grupos afiliados à rede radical islâmica Al Qaeda na Síria e no Iraque.

Por sua parte, a Arábia Saudita está preocupada com uma possível distensão entre os Estados Unidos e o Irã, pois teme que Teerã recupere a primazia que gozava no Oriente Médio, com apoio de Washington, antes da Revolução Islâmica de 1979.

Enquanto isso, na frente turca, o governo de Obama ficou desconcertado por uma série de acontecimentos que muito provavelmente complicarão seus vínculos com o único aliado de maioria muçulmana na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), se é que já não o fizeram.

David Ignatius, colunista do The Washington Post, informou na semana passada que o chefe de inteligência turco havia revelado a Teerã a identidade de 10 iranianos que realizavam espionagem para Israel.

Desta forma, Ankara pôs fim a uma longa história de colaboração em inteligência com o governo israelense, que começou a sair dos trilhos após a ofensiva do Estado judeu a Gaza em 2008 e 2009.

A imprensa turca informou, na terça-feira que Washington havia cancelado o envio de aviões não tripulados Predator a Ankara em represália por essa colaboração com o Irã.

Ainda que o governo do primeiro ministro turco Recep Tayyip Erdogan tenha negado o relatório de Ignatius, crescem as suspeitas de que este se encontra hoje mais próximo de Teerã que de Telavive.

Isso marcaria uma mudança na histórica rivalidade entre a Turquia e o Irã e confirmaria o fracasso dos esforços de Obama para voltar a estreitar os laços entre turcos e israelenses.

Como se fosse pouco, a Turquia anunciou surpreendentemente no mês passado que escolheu uma companhia chinesa, e não suas competidoras estadunidenses e europeias, para construir um novo sistema de defesa antimísseis. A assinatura está sujeita a sanções de Washington por ter vendido equipamento militar nada menos que ao Irã.

Além disso, o sistema chinês seria incompatível com o equipamento utilizado pelos membros da OTAN.

Inclusive os simpatizantes de Erdogan e de seu Partido da Justiça e do Desenvolvimento reconhecem que a aliança entre a Turquia e os Estados Unidos está com sérios problemas.

“Considerando o histórico da Turquia, como pode a administração de Obama continuar dizendo que é um ‘sócio modelo’ ou sequer considerá-lo um aliado?”, escreveu Steven Cook, especialista em assuntos turcos para o Independiente Council on Foreign Relations.

“Ultrapassamos a linha do desacordo razoável e chegamos a um ponto no qual a Turquia está trabalhando clara e ativamente para perturbar os objetivos estadunidenses no Oriente Médio”, acrescentou.

A mutabilidade que caracteriza hoje a região e as dificuldades dos Estados Unidos para navegar nela ficam inclusive melhor ilustradas com as cada vez mais complexas relações que, por sua vez, têm os governos da Arábia Saudita e da Turquia.

Unidos, ao menos até agora, em demanda de que Bashar al Assad abandone o poder na Síria, discrepam no caso do Egito.

Enquanto Riyadh ajuda o regime militar egípcio com milhares de milhões de dólares, Erdogan exige o regresso do derrubado presidente Mohammad Morsi e o fim da repressão contra a Irmandade Muçulmana, movimento transnacional considerado uma mortal ameaça pelas monarquias da região.

E enquanto Riyadh e sus aliados no Golfo estão cada vez mais preocupados com a distensão entre os Estados Unidos e o Irã, a Turquia parece ter a esperança de poder retomar a pleno seus laços comerciais com seu vizinho do leste.

O Oriente Médio ingressa em uma era de multipolaridade, onde a maioria das mudanças são impulsionadas por forças internas. “O simples mundo das rivalidades coloniais das superpotências se desvaneceu há tempo”, disse Freeman.

“O conceito de que se está ‘conosco ou contra nós’ perdeu toda o significado no Oriente Médio atual. Nenhum governo da região está disposto hoje a confiar seu futuro a estrangeiros, muito menos a uma única potência estrangeira”, afirmou.

*O blog de Jim Lobe, em inglês, sobre política exterior dos Estados Unidos pode ser lido em Lobelog.com.
Créditos da foto: frontpagemag
 

ESPANHA CLASSIFICA ESPIONAGEM DA NSA COMO “INACEITÁVEL”

 

Deutsche Welle
 
Em menos de um mês, mais de 60 milhões de dados telefônicos de espanhóis teriam sido coletados pela inteligência americana. Embaixada dos EUA em Madri defende programa de vigilância.
 
Após Alemanha, Brasil e França, foi a vez de o governo da Espanha demonstar sua insatisfação com as denúncias sobre o sistema de espionagem americano. Nesta segunda-feira (28/10), o jornal El Mundo revelou que a Agência de Segurança Nacional (NSA) dos Estados Unidos monitorou comunicações também dos espanhóis.
 
Segundo informações fornecidas pelo jornalista americano Glenn Greenwald, só entre 10 de dezembro de 2012 e 8 de janeiro de 2013, o serviço secreto teria armazenado os números e locais de 60,5 milhões de chamadas telefônicas na Espanha. Não há confirmação, porém, que o conteúdo das comunicações tenha sido interceptado.
 
Além disso, a NSA também haveria coletado dados pessoais de usuários espanhóis de e-mail, Facebook e Twitter. Como fonte das revelações, o jornalista cita documentos do ex-colaborador da NSA Edward Snowden, atualmente em asilo temporário na Rússia.
 
Em visita à Polônia, o ministro espanhol das Relações Exteriores, José Manuel García-Margallo, comentou à imprensa que, caso se confirme a espionagem pelos EUA, "isso poderia significar uma ruptura no clima de confiança que tem tradicionalmente reinado nas relações entre os dois países".
 
Embaixador é convocado
 
O chanceler espanhol também convocou o embaixador americano em Madri, James Costos, para comunicar-lhe seu mal-estar quanto à presumível espionagem em massa pela NSA, que o Ministério das Relações Exteriores qualificou como "imprópria e inaceitável entre parceiros".
 
Durante um encontro de 40 minutos, o secretário de Estado espanhol para a União Europeia, Íñigo Méndez de Vigo, sublinhou a Costos a importância de "preservar o clima de confiança que rege as relações bilaterais" entre a Espanha e os EUA. O diplomata se comprometeu a transmitir a mensagem, afirmando que Washington "dispersará as dúvidas" que envolvem o caso.
 
Ainda na última sexta-feira, o presidente do governo (primeiro-ministro), Mariano Rajoy, havia assegurado não dispor de provas de que o serviço secreto dos EUA houvesse praticado espionagem em seu país.
 
Em comunicado emitido nesta segunda-feira, a embaixada americana na Espanha alegou que a atividade da NSA faria parte de programas de segurança nacional que têm desempenhado "um papel fundamental" na proteção dos cidadãos dos EUA e na "coordenação com seus aliados".
 
O órgão lembrou também que o presidente americano, Barack Obama, ordenou uma "revisão interna", para assegurar que a informação obtida "não é toda a inteligência que os Estados Unidos são capazes de coletar, mas sim a inteligência que deve e tem que ser coletada".
 
"Vamos seguir nos consultando com nossos aliados, entre os quais a Espanha, através dos canais diplomáticos regulares, para fazer frente às preocupações que têm se apresentado", disse a embaixada dos EUA em Madri.
 
AV/dpa/rtr/afp/ap
 
Na foto: Embaixador dos EUA James Costos (c)convocado por governo espanhol
 

UE-Estados Unidos: A VERDADEIRA CRISE DE CONFIANÇA TRANSATLÂNTICA

 


Il Sole-24 Ore, Milão – Presseurop – imagem Tjeerd
 
Na perspetiva da Europa, o escândalo de espionagem da NSA está a desgastar a credibilidade e a posição dos Estados Unidos. Mas, do outro lado do Atlântico, é a persistente incapacidade da UE de solucionar a crise que está a preocupar os decisores norte-americanos.
 
 
O coro de protestos europeus provocado pelo caso das escutas norte-americanas é embaraçoso para Washington. No entanto, em Nova Iorque, onde a linha de separação entre pragmatismo e cinismo é extremamente ténue, os ecos da crise diplomática esbarram contra as paredes de Wall Street: entre os corretores e gestores de bancos de investimento, muitos dos quais estudaram em West Point, foram marines ou trabalharam nos serviços secretos norte-americanos antes de entrarem para o setor financeiro, a nova polémica contra os Estados Unidos é considerada “fútil” (não há nenhum Governo no mundo que não tente espiar os seus vizinhos) e, também, como sendo a enésima deturpação dos verdadeiros problemas da Europa.
 
“De que é que os alemães têm medo?”, perguntava ontem um corretor de uma empresa de corretagem internacional. “Será que receiam que, depois de ouvir [a chanceler alemã Angela] Merkel ao telefone, o Ministério das Finanças dos EUA nos mande vender imediatamente as obrigações do Estado?” Claro que se trata apenas de uma piada. Mas, por trás deste cinismo, está uma realidade objetiva que – do nosso ponto de vista – deveria suscitar tanta preocupação como o caso de espionagem dos EUA. Entre os gestores de grandes carteiras do setor financeiro norte-americano, entre os especuladores e, também, entre os economistas e os analistas de Wall Street reina a convicção crescente de que a Europa está novamente a perder o rumo, de que a zona euro perdeu a sua anterior tendência no sentido da união política e de que os ventos das reformas estruturais, que permitiram que os países periféricos iniciassem a modernização económica e institucional, estão a perder a força por falta de interesse.
 
Mais fracos pagam a fatura
 
Os termos da equação são conhecidos: quando existem problemas de governação, os rendimentos potenciais são sempre mais elevados. O problema é que aqueles que pagam a fatura são sempre os mais fracos. Nesta situação, uma das grandes questões é que, neste jogo, que é jogado à custa dos governos e dos aforradores da Europa, não há um júri que estabeleça as regras nem um árbitro que as faça cumprir. Ao contrário do mercado norte-americano, o mercado europeu assemelha-se hoje a uma espécie de terra de ninguém, onde impera a regra da sobrevivência do mais forte. Veja-se o caso da taxa Tobin: apenas onze países da zona euro, entre os quais a Itália, decidiram aprovar um imposto sobre as transações financeiras, cavando um novo fosso, em termos de competitividade, num mercado financeiro que, no papel, funciona como mercado único.
 
Mas pode também falar-se do euro: por um lado, o setor financeiro norte-americano considera que o euro pode vir a registar uma nova derrapagem no próximo verão; por outro, a operação coordenada pela Reserva Federal e pelo Ministério das Finanças dos EUA, em apoio do dólar fraco, permite que os operadores do mercado de divisas especulem, com expectativas razoáveis de lucro, apostando num euro forte, cujo valor é mantido artificialmente alto pela situação da economia europeia e pelas análises que apresentam a Europa como estando mergulhada numa profunda crise política.
 
Em geral, quando um sistema está à beira do colapso, a moeda (ou a dívida) sofre uma desvalorização: neste caso, a ordem natural das coisas foi invertida. A tendência das obrigações norte-americanas reflete esta situação: quanto mais se falava de incumprimento dos Estados Unidos, mais as obrigações norte-americanas saíam reforçadas, como se o risco de insolvência não as afetasse.
 
Falta de fiabilidade da Europa
 
Com este cenário visível nos ecrãs dos nossos computadores, não é de espantar que os mercados europeus – e, em especial, os mercados frágeis como o de Itália – se tenham tornado locais de negócio para investidores menos escrupulosos. Contudo, o facto mais interessante é que todos estes acontecimentos financeiros se misturam com factos políticos e diplomáticos e são depois apresentados à opinião pública norte-americana: enquanto as primeiras páginas dos jornais europeus atacam os Estados Unidos por causa das revelações sobre a espionagem sistemática da CIA, as primeiras páginas dos jornais norte-americanos – a começar pelo Wall Street Journal – concedem mais espaço às análises sobre o regresso da crise do euro, sobre o fim do projeto de união política e, por último, sobre a falta de fiabilidade da Europa como parceiro político e financeiro das maiores economias mundiais.
 
Esta nova fratura de governação tem consequências políticas e financeiras: a interrupção da vigilância da atividade bancária na Alemanha, que se verificou na véspera dos novos stress tests [avaliações da resistência de um conjunto de bancos] na Europa, foi imediatamente legitimada pelo alarido dos analistas de Wall Street sobre a saúde precária do crédito europeu.
 
Torna-se agora evidente que estamos a movimentar-nos num cenário no qual a globalização impede a adoção de medidas unilaterais, e no qual a existência de interesses contraditórios nos condena à paralisia. O antigo sistema de regras e certezas está a desmoronar-se e ninguém é capaz de, nem quer, criar um novo sistema, porque tudo está interligado com a crise e com a ameaça de deterioração da situação financeira e económica.
 
Toda a gente vive um dia de cada vez – operadores, governos, instituições transnacionais – e tem medo de planear o futuro. Parece que está a propagar-se pelo mundo uma nova doença, que nós pensávamos ser apenas italiana: correr atrás do presente e tornarmo-nos prisioneiros dele.
 
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Visto dos Estados Unidos
 
Os líderes europeus devem educar a opinião pública
 
A indignação em torno das alegações segundo as quais a Agência de Segurança Nacional (NSA) colocou sob escuta o telefone de Angela Merkel não reflete mais do que “um ressentimento europeu”, escreve o chefe de redação adjunto do Wall Street Journal, Sohrab Ahmari.
 
Apesar de toda a retórica, Merkel sabe perfeitamente como funcionam os serviços secretos e deve portanto arranjar um equilíbrio que reflete a indignação alemã e europeia sem, no entanto, comprometer definitivamente a sua relação com os Estados Unidos – o aliado mais importante de Berlim, escreve ele, acrescentando que
 
a chanceler e os seus homólogos não precisam que lhes expliquem como funciona a diplomacia, mas devem acalmar os gritos nacionais de indignação contra os Estados Unidos. O que ficou esquecido em tudo isto foi a obrigação dos líderes políticos de educar a opinião pública, nem que seja de uma forma geral, sobre a realidade que envolve os serviços secretos e a importância da segurança nacional num mundo perigoso.
 

Serviços de Educação de Macau garantem apoio ao ensino da língua portuguesa

 


Macau, China, 28 out (Lusa) - Os Serviços de Educação e Juventude indicaram hoje, em comunicado, não existirem escolas em Macau que não ensinem português por falta de docentes e classificaram de "mal-entendido" uma notícia que dava conta do fim do apoio a uma escola.
 
A nota oficial, divulgada através do Gabinete de Comunicação Social, refere que uma notícia recente dava conta que os serviços iriam deixar de enviar docentes para uma escola, não identificada, situação que está esclarecida e não passou de um mal-entendido.
 
Recordando que há escolas que contratam os seus próprios docentes e que estes cooperam com os professores disponibilizados pelos Serviços de Educação, o comunicado sublinha que as "escolas são parceiras importantes na implementação da aprendizagem da língua portuguesa.
 
Por isso, acrescenta a nota, os Serviços de Educação irão, no futuro, apoiar de diferentes formas as "escolas no desenvolvimento de cursos de português da própria escola e planos para a sua aprendizagem, aperfeiçoando, de forma contínua, o ambiente de aprendizagem desta língua, garantindo o desenvolvimento sustentável de Macau".
 
Além do envio de nove professores a 17 escolas que ministram o ensino do português a 1.658 alunos, os Serviços de Educação salientam ainda que outros quatro estabelecimentos ministram os cursos por si próprias a 915 alunos e outras cinco foram apoiadas na organização de planos de aprendizagem beneficiando 2.778.
 
Este ano, 130 alunos receberam já apoio para os exames de avaliação de conhecimentos em língua portuguesa, num plano que inclui também visitas a Portugal para reforço do domínio da língua.
 
"Para aumentar o interesse de aprendizagem da língua portuguesa entre os alunos, melhorar a sua capacidade linguística e reforçar o seu conhecimento sobre a cultura portuguesa, a Direção dos Serviços de Educação e Juventude solicita, anualmente, às instituições do ensino superior de Portugal para realizarem, durante as férias de verão, o 'Curso de Verão de Língua e Cultura - Viagem de estudo a Portugal', além de promover em Macau outros cursos para os alunos das escolas locais", conclui a nota.
 
JCS // VM - Lusa
 

Timor-Leste: Primeira-dama incentiva jovens a ocuparem as suas férias

 

28 de Outubro de 2013, 15:36
 
500 Jovens provenientes de todos os distritos aproveitam as suas férias para estudarem Inglês e realizarem atividades úteis no Centro de Formação da ONG SOLS 24/7, em Becora, Díli, segundo comunicado do gabinete da Primeira-dama.
 
Na semana passada a Primeira-dama já havia incentivado os jovens, nos Bairros de Mascarenhas, Akadiru-Hun e Becora, para aproveitarem as férias escolares e ajudarem outros jovens em iniciativas de interesse social e público. Como por exemplo pintar escolas.

A mesma pede aos jovens que tentem equilibrar o seu direito de brincar com os deveres de um bom filho e ajudar os pais em casa e nas suas hortas.

Em Lebutún, as crianças ajudam os pais nas suas hortas comunitárias.

SAPO TL

Renamo boicota negociações com o Governo moçambicano e exige “observadores”

 


A Renamo boicotou hoje as conversações com o Governo moçambicano, mas garantiu que "continua aberta ao diálogo" mediante a presença de observadores, considerando que o executivo usa "estratégia dupla: diálogo na mesa e o plano militar ativado no terreno".
 
Há uma semana, as Forças de Defesa e Segurança de Moçambique (FADM) anunciaram um ataque e ocupação do local onde Afonso Dhlakama viveu durante um ano, e, segundo a imprensa moçambicana, houve pilhagens de bens do líder da oposição.
 
Desde que foi desalojado do acampamento em que vivia em Sandjudjira, na província de Sofala, centro de Moçambique, pela ofensiva do exército moçambicano, Afonso Dhlakama é dado pela imprensa local como "fugitivo", mas desconhece-se se pesa sobre ele um mandado judicial.
 
O chefe da delegação da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) nas conversações com o executivo moçambicano, Saimone Macuiane, disse hoje aos jornalistas que o principal partido da oposição moçambicana e o seu líder "continuam a defender a negociação ou diálogo como solução única para ultrapassar a crise política que se vive no país".
 
Contudo, Saimone Macuiane acusou o Governo de recusar a presença de personalidades, Lourenço do Rosário, reitor da Universidade A Politécnica, Dinis Sengulane, bispo da Igreja Anglicana em Moçambique, escolhidas pela Renamo para mediarem o conflito.
 
Desde início do ano, as autoridades governamentais e a Renamo discutem a paridade nos órgãos eleitorais, mas, por falta de entendimento, o maior partido da oposição do país ameaça não participar e impedir a realização das eleições municipais de 20 de novembro em 53 autarquias, para as quais não se inscreveu.
 
Hoje, as duas delegações não realizaram o habitual encontro das segundas-feiras porque a Renamo enviou um ofício ao executivo moçambicano, condicionando a presença de facilitadores, mas até à hora para o início da discussão não obteve resposta da delegação governamental.
 
"Para a Renamo, a presença de facilitadores e observadores são indispensáveis para o processo negocial", disse Saimone Macuiane.
 
Moçambique atravessa a sua pior tensão política e militar desde a assinatura do Acordo Geral de Paz em 1992.
 
MMT // VM – Lusa – foto André Catueira
 

Exército moçambicano volta a controlar Maringué e toma sede da Renamo no centro do país

 


O exército governamental recuperou o controlo da sede da vila de Maringué, Sofala, centro de Moçambique, e tomou de assalto a sede da Renamo, onde estavam aquartelados os guerrilheiros, disse esta segunda-feira à Lusa fonte militar.
 
"Acabámos de ocupar a sede do partido (Renamo), em defesa da população, pois os militares da Renamo já passeavam armados sem o mínimo de respeito" disse por telefone à Lusa um militar do exército, falando sob anonimato.
 
Elementos da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), maior partido da oposição, controlavam a sede do distrito de Maringué há sensivelmente uma semana, após confrontos, tendo encontrado resistência da Polícia.
 
O ataque da Renamo a Maringué, o quartel-general do movimento durante a guerra civil, foi justificado pela ofensiva do exército, na ocupação da base de Sadjundjira, onde o líder Afonso Dhlakama, vivia há um ano, até que fugiu para um lugar incerto na semana passada.
 
Para já, desconhece-se se houve vítimas dos confrontos desta segunda-feira.
 
A região centro de Moçambique tem sido palco de confrontos entre o movimento e as forças de defesa e segurança, em “demonstração de musculatura” da guarda da Renamo, que domina a guerrilha, e o exército, que mobilizou armamento pesado para a zona.
 
Moçambique vive a pior tensão desde a assinatura do acordo geral de paz, em 1992.
 
AYAC // VM – Lusa – foto António Silva
 

Min. Finanças Cabo Verde em Bruxelas para esclarecer “equívocos e incompreensões”

 


A ministra das Finanças cabo-verdiana estará entre terça e quinta-feira em Bruxelas para explicar os "equívocos" e "incompreensões" da Comissão Europeia (CE) em relação à política económica de Cabo Verde.
 
Citada hoje pela Rádio de Cabo Verde (RCV), Cristina Duarte salientou não entender as dúvidas europeias, uma vez que, garantiu, o Governo cabo-verdiano, em diversas sedes, já explicou os porquês do nível de endividamento e do défice do país provocado pela política de investimentos públicos, que prosseguirá em 2014.
 
"Tem havido, não escondo, alguns equívocos por parte da União Europeia (UE) quanto à nossa política económica. Apesar de o Governo, em sede do Grupo de Ajuda Orçamental (GAO), ter dado, por mais de uma vez, todas as explicações inerentes à política económica, continua a haver algumas incompreensões e alguns equívocos", disse.
 
"A minha deslocação a Bruxelas é essencialmente para levar mais informações e explicações, tentar defender o nosso ponto de vista e provar, o que não é difícil, que o que está por trás da dívida, do défice é a agenda de transformação e que, para o fazer, precisávamos de implementar um forte programa de infraestruturação. Sem esse programa, não haveria agenda de transformação", explicou Cristina Duarte.
 
Em setembro, o presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, anunciou um aumento de 52 para 55 milhões de euros a ajuda a Cabo Verde no âmbito do 11.º FED (Fundo Europeu de Desenvolvimento) para o período 2014-2019.
 
"Tendo em conta o que Cabo Verde tem feito uma utilização ótima dos recursos disponibilizados pela UE, temos sido objeto de várias avaliações positivas, neste 11.º FED, apesar da graduação de Cabo Verde (a país de rendimento médio), a UE manteve o apoio financeiro a Cabo Verde, o que foi uma grande conquista da diplomacia externa cabo-verdiana", sublinhou Cristina Duarte.
 
"Grande parte dos 55 milhões de euros da UE, que faz parte do GAO, é sob a forma de ajuda orçamental, o que significa que a UE continua a dar um forte voto de confiança à governação em Cabo Verde, ao aceitar desembolsá-lo numa lógica de gestão com base em resultados", salientou.
 
A 25 deste mês, em declarações à Lusa, Cristina Duarte indicou que a deslocação a Bruxelas destina-se, também, a pedir nove milhões de euros (ME) em ajuda para colmatar o défice de 82 ME no Orçamento do Estado (OE) para 2014 - despesas de 404 ME e receitas de 322 ME -, montante que disse estar quase coberto.
 
"Tendo o BM validado o nosso quadro fiscal de médio prazo, acredito que a UE também estará em condições de desembolsar a ajuda orçamental", defendeu.
 
Outra das razões para o défice, apontou, é a "não entrada da ajuda orçamental" nas contas finais, o que tem "prejudicado" a execução do orçamento, situação que Cristina Duarte disse "não compreender".
 
"É algo que não entendemos e uma atitude dos nossos parceiros com a qual não concordamos. Já tive oportunidade de o dizer ao GAO, a Washington, à UE, mesmo depois de se ter em conta a governação que fez e a clara demonstração da vontade política em implementar reformas, o cumprir todos os ‘triggers' da matriz da ajuda orçamental", sustentou.
 
Cristina Duarte admitiu, porém, que cabe a Cabo Verde aumentar as receitas próprias, tanto mais que a ajuda pública ao desenvolvimento está a diminuir e ainda não se conseguiu recuperar o nível do Investimento Direto Estrangeiro (IDE) de 2007.
 
"Estamos perante um dilema, que é aritmético e não económico. Temos de aumentar a capacidade de receitas e o cidadão tem de chegar à conclusão que, se até à data temos vivido com os recursos de outros países, chegou o momento de os cabo-verdianos começarem a financiar também o seu desenvolvimento", concluiu.
 
JSD // VM – Lusa – foto João Relvas
 

Brasil: VIOLÊNCIAS INVISIVEIS

 


A pesquisadora Luciane Lucas dos Santos fala sobre como o atual modelo de desenvolvimento e a sociedade de consumo se relacionam com as formas de violência presentes em nosso cotidiano
 
Ieda Estergilda de Abreu – Revista Forum
 
Como o atual modelo de desenvolvimento, adotado não apenas no Brasil, mas também em outros em países, afeta a dignidade humana? A questão do modelo neoextrativista de desenvolvimento, a violência intrínseca a ele, o consumo e a questão indígena brasileira, temas entrelaçados, são estudados e discutidos pela professora e pesquisadora em Sociologia do Consumo Luciane Lucas dos Santos. Carioca com doutorado em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ela hoje é pesquisadora pós-doc no Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra, em Portugal, e em junho esteve em São Paulo, onde conduziu o 105º Fórum do Comitê de Cultura de Paz, parceria Unesco-associação Palas Athena.
 
Na entrevista abaixo, Luciane aborda as inúmeras formas de violência presentes no nosso cotidiano e como a sociedade de consumo e o modelo de desenvolvimento nutrem a invisibilidade desses fenômenos.
 
Fórum – Como se manifesta a violência hoje, na sua avaliação?
 
Luciane Lucas dos Santos – Muitos imaginam a violência como sendo apenas algo que tem a ver com o mal que um vai causar ao outro, com o contexto da guerra, da limpeza étnica, da violência das cidades. Há muitas formas de violência. Caminhões com ameixas apodrecendo ao sol, que não chegam ao território palestino, é, por exemplo, uma forma de violência. Pode-se pensar também na humilhação social e na invisibilidade de algumas minorias – caso dos moradores de rua – como uma forma agressiva e silenciosa de violência. É comum pensarmos que morador de rua quer vida fácil, não faz nada, não gosta de trabalhar. Não é verdade. Estive com alguns numa feira de trocas embaixo do Viaduto do Glicério [região central de São Paulo] e aprendi muito. Muitos estão diretamente envolvidos na organização da feira de trocas do Glicério. Trabalham montando e desmontando as barracas, na limpeza dos banheiros, no apoio às tarefas da cozinha. Recebem mirucas (moeda social) por este trabalho e, com elas, obtêm aquilo de que necessitam – alimento, roupas, produtos de higiene pessoal. Nós temos uma concepção equivocada sobre a população em situação de rua. Muitos trabalham. Tem gente que veio de outros estados, da construção civil, perderam o emprego, não tiveram como voltar e ficaram por aqui. Muitos não voltam para casa, para sua terra, por vergonha. A razão para se estar na rua também pode ser diversa: o abandono e a desagregação familiar, assim como o desemprego, estão entre os motivos. A droga e o álcool chegam, às vezes, depois. A invisibilidade social a que eles são muitas vezes relegados é, sem dúvida, uma forma de violência.
 
Fórum – A senhora diz que o modelo de desenvolvimento de um país pode vir a ser, paradoxalmente, um vetor de violência. Como é isso?
 
Luciane – As ideias de progresso e desenvolvimento não raro transformam-se em desrespeito às diversidades e às diferentes temporalidades que marcam as múltiplas formas de organização da vida. O Brasil faz parte de um grupo de países que têm apostado no neoextrativismo – ou seja, trata-se de uma aposta nos hidrocarbonetos, na mineração, no alargamento dos latifúndios. As correlações, no entanto, nos escapam. O hidrocarboneto pode estar no batom; quanto mais você compra, mais petróleo é necessário; quanto mais renova o celular, mais é necessário o coltan. Muita gente não sabe que por trás da sede de novidades tecnológicas (laptops, celulares, pads), existe uma demanda crescente por este minério – o coltan (columbita-tantalita) – e que, muitas vezes, a demanda de coltan no mercado internacional implicará o acirramento da guerra civil em países como a República Democrática do Congo, onde há uma grande quantidade desse minério. Não se trata de não ter celular, mas de discutir a violência invisível que habita os produtos, serviços e tudo mais que está no nosso cotidiano.
 
Fórum – Qual o papel do consumo nesse contexto?
 
Luciane – A maneira como eu me visto, onde eu como, que lugares eu frequento, tudo isto diz algo sobre mim. Os hábitos de consumo estão diretamente relacionados à questão da identidade. Há um mito, aqui, que precisa ser desfeito: o de que o consumo seja um ato individual. Embora ele pareça ancorar-se na escolha do indivíduo, o repertório que sustenta e valida o consumo é social. Isto quer dizer que, embora os indivíduos re-signifiquem, a todo momento, os conteúdos que recebem eles estão sempre presos a uma teia de significados validada socialmente. Outra questão a considerar é que, no mundo contemporâneo, os nossos afetos têm sido mediados pelo mundo dos bens. Há riscos nisto. Uma mãe atarefada que leva o filho, no fim do dia, para comer numa destas grandes lojas de fast food está tentando propiciar à criança uma experiência de bem-estar instantânea. Ela pode pensar: “meu filho, não temos muito tempo para estarmos juntos…. quero que esta experiência seja alegre pra você… se você gosta tanto de ficar aqui, então vambora”.
 
Mas de todas as coisas que precisamos repensar acerca do consumo, uma me parece urgente: o reconhecimento de que o consumo constitui um sistema de classificação social. Este modelo de consumo que hoje alimentamos contribui para que se naturalize uma hierarquia entre diferenças. Hierarquia entre gêneros, etnias e classes sociais. Mas, também, entre saberes, entre temporalidades, entre modos de estar no mundo e organizar a reprodução material da vida.
 
Fórum – O que o carro significa nesse contexto?
 
Luciane – Tem tudo a ver, estamos falando da violência estrutural, cotidiana e que tem muito da nossa aceitação. E aí entram as relações de trabalho. Falemos do combustível que alimenta nossos carros – carros que associamos ao conforto. Um trabalhador, no canavial, corta 12 toneladas diárias de cana. Ele anda quase nove quilômetros para cortar essas toneladas, segundo uma pesquisa da Embrapa. Faz cerca de 800 trajetos diários, dá 133 mil golpes de podão por dia. É uma violência silenciosa de que não temos notícia. Ainda assim, queremos que aumente o valor do etanol no mercado internacional porque significa que o Brasil vai crescer. De que modelo de desenvolvimento estamos falando, afinal?
 
Fórum – E sobre os impactos sociais e culturais por trás do nosso consumo?
 
Luciane – Vamos ao caso dos megaeventos, tendo em vista o “consumo” da cidade. Veja o que se passa no Rio de Janeiro. Bairros inteiros estão sendo afetados para facilitar o tráfego entre o Galeão e a Barra. Em São Paulo são organizadas visitas a Paraisópolis, que fica ao lado do Morumbi, por R$ 300. Você sai da Vila Olímpia, por exemplo, e vai até Paraisópolis fazer um city tour. Os pobres viram, simplesmente, objeto de consumo. De repente, torna-se in subir o bondinho do Alemão ou ir aos restaurantes bacanas que agora estão dentro das favelas. Usando um termo empregado por Boaventura de Sousa Santos, estamos diante de uma relação de “apropriação e violência”. A favela tem sido espetacularizada. Não estou dizendo que tudo o que esteja acontecendo em função da Copa seja ruim, que as pessoas não estejam se reorganizando e criando oportunidades, mas quando transformamos a favela noutra coisa, estabelecemos com ela uma relação de violência.
 
Fórum – A questão indígena é outro tema de sua pesquisa. Como encaixaria no contexto da violência?
 
Luciane – Vou dar alguns exemplos do que tem acontecido com os povos indígenas para mostrar a situação de insegurança jurídica e fundiária. Inúmeros documentos – entre projetos de lei, decretos etc – tratam de questões candentes sob uma perspetiva claramente anti-indígena. A PEC 215 e a PEC 38 são bons exemplos. A PEC 215 propõe que seja do Congresso Nacional a responsabilidade pela demarcação das terras indígenas e quilombolas (já a PEC 38 propõe que seja o Senado a fazê-lo). Isto significa, todos sabemos, uma barreira política aos processos de demarcação. A Portaria 303, por sua vez, em consonância com o Código Florestal, separa os povos originários dos recursos que estão em suas terras. Ou seja, restringe o usufruto dos bens e recursos por parte destas populações, ainda que tais bens e recursos se encontrem em terras indígenas. Se o Código Florestal abre o caminho ao retrocesso em relação aos direitos coletivos, a Portaria 303 pavimenta a estrada que confirma o grande latifúndio. Mas a questão não pára aí: a partir da Portaria 303, as demarcações já estabelecidas podem ser revistas e reconsideradas.
 
Outro exemplo é o projeto de lei 1610/96, bem como seu texto substitutivo, que complementam o cenário de retrocesso. Versam, ambos, sobre a exploração de recursos minerais em terras indígenas – sempre, é claro, com a alegação do interesse nacional. Segundo este Projeto de Lei, alcunhado de PL da Mineração, a consulta pública passa a ser um ato mais simbólico do que deliberativo e não interfere na continuidade do processo de exploração mineral.
 
Fórum – O que fazer?
 
Luciane – Primeiro, precisamos entender que dentro da diferença existem diferenças, para podermos perceber a dignidade de forma mais ampla. Na luta das mulheres, por exemplo, é comum acharmos que o movimento feminista é um só, que vai reunir todas as lutas numa luta única. Há também violência quando as mulheres são tratadas como se falassem em uníssono, como se seus mundos fossem de uma única cor ou matiz. Os problemas das mulheres não são sempre os mesmos; tampouco elas têm uma essência platônica a compartilhar. Cair nesta cilada epistemológica é desconsiderar que os problemas vividos por estas mulheres podem ser ampliados diante de outras questões vividas na própria carne, como, por exemplo, o racismo, a intolerância religiosa, o preconceito com a opção sexual e as diferenciações de classe que abatem ainda mais o corpo da mulher pobre. Já ouvi de uma mulher da periferia de São Paulo dizendo: “Quero saber como é que vocês podem me apoiar no final de semana, que é quando o bicho pega.” É uma pergunta interessante. As condições de resposta de uma mulher de classe média à situação de violência doméstica não são as mesmas de uma mulher que vive na periferia. Assim, não dá para, em nome dos direitos humanos, acharmos que a luta é a mesma para todo mundo; não necessariamente ela será.
 
Fórum – A senhora diz também que precisamos repensar a paz.
 
Luciane – Sim, fala-se muito na cultura de paz, mas acho importante pensarmos de que paz estamos falando e como ela é possível. Evocar a paz implica, primeiro, não esquecer a diferença dentro das diferenças e perceber que não é possível evocar a paz, a dignidade, passando por cima de desigualdades e dívidas históricas. Não estou dizendo que a paz não é possível, quero deixar claro. Contudo, é importante ter em conta que esta paz branca que tudo dilui – inclusive a história – é também violenta. A cultura de paz só poderá efetivamente acontecer mediante efetivos processos de tradução intercultural e, portanto, de respeito às diferenças. A tradução intercultural, nos termos propostos por Boaventura de Sousa Santos, configura-se como um antídoto poderoso contra o esgarçamento do tecido social, constituindo também uma forma preciosa de articulação política das minorias silenciadas. Queremos a paz, sim, mas uma paz justa, que não seja construída em cima do silenciamento e da diluição da diferença. F
 
Na foto: Morador de rua em São Paulo: uma forma de violência não identificada pela sociedade em geral (Valter Campanato / ABr)
 
Esta matéria faz parte da edição 125 da revista Fórum. Compre aqui.
 

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