sábado, 31 de março de 2012

“PEQUIM NÃO ESTÁ SATISFEITO COM MACAU”



Sónia Nunes – Ponto Final (Macau)

A conclusão é do especialista em Ciência Política Bill Chou, que diz que a reforma eleitoral foi imposta pelo Governo Central, numa tentativa de aumentar o controlo do poder executivo. Pequim, antecipa, vai andar mais por cá.

Bill Chou dá aulas de Ciência Política na Universidade de Macau e falou ontem para uma plateia de alunos interessados em saber o que vai acontecer às políticas económicas e sociais de Hong Kong e Macau, após as reuniões magnas de Pequim, em Março. Entre uma região administrativa especial que acabou de eleger um Chefe do Executivo e outra que se prepara para rever o sistema político, o académico antecipa uma Macau em efervescência. O Governo Central terá perdido a confiança nas forças pró-Pequim locais e poderá vir a substituir em breve o director do Gabinete de Ligação. O sucessor de Chui Sai On poderá já não emergir das famílias tradicionais.

- As reuniões magnas de Pequim não trouxeram novas orientações para Macau. Este debate torna-se importante porque há uma reforma política em curso?

Bill Chou – Durante as sessões, alguns líderes nacionais transmitiram uma mensagem aos delegados de Macau e de Hong Kong. Neste período [duas primeiras semanas de Março], os candidatos a Chefe do Executivo de Hong Kong do sistema, Henry Tang e CY Leung, estavam em confronto directo, o que afectou seriamente o campo pró-Pequim. O vice-presidente Xi Jinping apelou à unidade e assistimos a uma transferência de apoios para CY Leung, que acabou por lhe garantir a vitória. Em relação a Macau podemos ver que, durante as reuniões magnas, o processo de reforma política seguia e houve uma grande mobilização da opinião pública para apoiar as ideias conservadoras propostas do Governo – que, por sua vez, diz que essas ideias representam as opiniões da maioria. É Pequim quem está a tomar conta da reforma política, ainda que não tenha essa obrigação.

- Por que diz isso?

B.C. – Esta situação pode ter que ver com uma certa insatisfação de Pequim em relação ao cenário político e ao desenvolvimento de Macau, sobretudo após a descoberta do caso Ao Man Long, em 2006. Este escândalo [de corrupção, envolvendo o ex-secretário para os Transportes e Obras Públicas] mostrou que os diferentes poderes de Macau colaboraram de uma forma tão próxima que muitas das más práticas podem ser encobertas. Acredito que Pequim espera usar a reforma política para impor um mecanismo reforçado de fiscalização do Governo de Macau.

- Se assim é, por que se avançou apenas com a proposta de aumento de quatro deputados, dois pela via directa, e dois pela indirecta? Porquê uma proposta que, citando a expressão que usa, é conservadora?

B.C. – Não me parece que tenha sido uma ideia proposta por Pequim. Estas ideias conservadoras são um produto do campo tradicional. As associações tradicionais são a principal força por detrás destas propostas.

- As eleições de Hong Kong no passado domingo vão ter algum efeito no sistema político de Macau?

B.C. – Poderão ter várias implicações. Em primeiro lugar, suspeita-se que CY Leung, o Chefe do Executivo eleito, seja membro do Partido Comunista Chinês (PCC). Segundo a política criada por Deng Xiaoping nos anos de 1980, nenhum membro do PCC ou de outros partidos políticos pode ser Chefe do Executivo. A eleição de CY Leung pode indicar que a política de Pequim mudou: os membros do PCC estão autorizados a ter mais destaque e influência na política de Hong Kong e Macau. Em segundo lugar, vimos que o Gabinete de Ligação [do Governo Central em Hong Kong] participou de forma activa nas eleições, ao mobilizar membros do Colégio Eleitoral para votarem em CY Leung. Mais, CY Leung é um profissional, não um empresário. A eleição de um profissional também pode ser um sinal de uma mudança: nos anos de 1980, Pequim estabeleceu que após a transição seriam empresários a governar as duas regiões administrativas especiais, para garantir prosperidade e estabilidade.

- Estas mudanças serão transplantadas para Macau?

B.C. – Isto significa que, talvez, a eleição do próximo Chefe do Executivo de Macau possa não ser dominada pelos empresários e pelas famílias políticas tradicionais, Chui, Ho e Ma. Provavelmente, quando Chui Sai On terminar os dois mandatos, surgirá uma pessoa, suspeita de ser do PCC e que vem de um contexto não-empresarial, a candidatar-se ao cargo do Chefe do Executivo e a ganhar as eleições.

- CY Leung negou já qualquer ligação ao partido e, no caso de Macau, será também difícil passar das alegações. Nas últimas semanas, por exemplo, especulou-se sobre a ligação de Bo Xilai ao território.

B.C. – Não sei se Bo Xilai [ex-secretário do comité provincial de Chongqing do PCC] terá ou não uma ligação próxima a Macau. Há luta política na liderança do partido, mas não é relevante para Macau e Hong Kong. O que é relevante é o conflito entre o Gabinete para os Assuntos de Macau e Hong Kong do Conselho de Estado e o Gabinete de Ligação. O Gabinete de Ligação do Governo Popular Central tem uma ligação mais próxima com as forças pró-Pequim em Hong Kong e Macau: é mais fácil para ele conseguir uma cooperação e isolar o gabinete do Conselho de Estado no que diz respeito às políticas de Hong Kong e Macau. Provavelmente, haverá mudanças. O director do Gabinete de Ligação em Macau [Bai Zhijiang] já cá está há uns dez anos – suponho que se aposentará em breve e que o Governo Central destaque outra pessoa, uma que tenha uma relação mais próxima com Pequim. Se Pequim não está satisfeito com a situação política de Macau, quererá nomear alguém que não fale cantonês, nem tenha uma ligação à população local. A confirmar-se, indica que Pequim suspeita de Macau, não confia realmente nas forças pró-Pequim e quer centralizar o controlo da política de Macau e Hong Kong. Veja-se que o ex-director do gabinete do Conselho de Estado, Liu Hui, era cantonense, nascido em Guangdong – seria mais fácil para ele colaborar ou entrar em conluio com a população local. O cargo é agora ocupado por Wang Guangya, que estava no Ministro dos Negócios Estrangeiros, que é naturalmente mais próximo de Pequim do que das duas regiões administrativas especiais.

- Essa falta de confiança de Pequim em relação a Macau que refere poderá ter também que ver com a política económica?

B.C - Pequim quer, sobretudo, reformar o sistema político de Macau. A questão é porquê? Pequim não está satisfeito com Macau. O caso Ao Man Long é uma das questões, o aceleramento da indústria de jogo é outra. Há sucessivos apelos à diversificação da economia e ao combate a problemas como lavagem de dinheiro e agiotagem. Porém, parece que o Governo de Macau não consegue resolver de forma eficaz o problema. Um dos instrumentos que Pequim quer usar para lidar com a incompetência do Governo de Macau em relação aos deveres que tem é reformar o sistema político e impor um maior escrutínio sobre o Executivo local. E, mais importante ainda, obter mais informações sobre o que está a acontecer aqui. Agora, parece que a população, forças pró-Pequim e Gabinete de Ligação estão de tal forma próximos que é difícil para Pequim conhecer a história verdadeira.

- E, no meio disso tudo, como fica a autonomia de Macau?

B.C. – Não vemos que o Governo Central exerça influência nos assuntos internos de Macau. Mas devido à crescente impaciência em relação às práticas erradas do Governo e a outras questões (como os efeitos do desenvolvimento acelerado da indústria do jogo), Pequim, terá, provavelmente uma influência mais notória nos assuntos internos de Macau, o que afectará a autonomia de Macau. É bom ou mau? É difícil dizer. Do ponto de vista da política ‘um pais, dois sistemas’, não é bom. Mas não é uma questão tão controversa quanto em Hong Kong: há estudos que indicam que as pessoas de Macau têm mais confiança no Governo Central do que no Governo de Macau. Talvez uma maior influência de Pequim seja bem-vinda.

- Mesmo por parte das elites? A harmonia social não ficará destabilizada?

B.C. – Não, as elites não. A harmonia social envolve vários factores e o primeiro tem que ver com a distribuição da riqueza – se uma influência de Pequim trouxer menos desigualdade, a harmonia social sai reforçada. As pessoas de Macau não se importam muito com o ‘alto grau de autonomia de Macau’, em parte porque não têm uma identificação forte com esta cidade. A maior parte não nasceu cá. Por outro lado, a educação local nunca ensinou como pertencer a Macau, o como pertencer à China é muito enfatizado, quer nos currículos, quer nas actividades extracurriculares. Defender a autonomia de Macau parece ser das últimas prioridades de muitos locais, especialmente chineses.

Brasil 1964/2012: 'É TEMPO DE MURICI, CADA UM CUIDE DE SI'




Saul Leblon – Carta Maior, em Blog das Frases

O site do jornal O Globo alterna manchetes garrafais que antecipam o funeral político de Demóstenes Torres, até há bem pouco tempo um parceiro, digamos assim, do jornalismo imparcial chancelado pelos Marinhos. A revista Veja, cuja afinidade de propósitos com Demóstenes, segundo consta, poderá ser aferida pela intensa troca de telefonemas entre a alta direção de sua sucursal, em Brasília, e o senador dublê de bicheiro,trata agora o amigo como um defunto contagioso, cujo enterro não pode tardar (leia nesta página: Carta Maior pede ao STF acesso às investigações sobre Demóstenes & seus interlocutores associados).

O Estadão, para arrematar, refere-se a 1964 --que ajudou a eclodir-- como 'o golpe' de 64. Sintomático, a renovação do vocabulário se dá justamente na cobertura do cerco promovido por estudantes a integrantes da ditadura que comemoravam o golpe no Clube Militar, no Rio (leia nesta pág. o blog de Emir Sader).

Tempos interessantes. Se vivo, possivelmente o coronel Tamarindo, protagonista da Guerra dos Canudos (1896-1897), repetiria aqui a frase famosa: 'É tempo de murici (*uma fruta da caatinga), que cada um cuide de si'. O bordão símbolo da debandada teria sido proferido pelo coronel Pedro Nunes Tamarindo ao constatar a desarticulação total das tropas no ataque a Canudos, após a morte do comandante Moreira César.

Decorridos 48 anos do golpe militar de 1964, o conservadorismo brasileiro vive, sem dúvida, uma deriva decorrente da implosão da ordem neoliberal no plano externo e de três derrotas presidenciais sucessivas para o PT. Não tem projeto, não tem lideranças --Demóstenes pretendia ser o candidato em 2014; Serra é contestado entre seus próprios pares, como se viu na prévia do PSDB, em SP. É tempo de murici.

De volta, e afiado, Lula sintetizou bem esse período, personificando-o no declínio do eterno candidato tucano: 'Serra é o político de ontem; com idéias de anteontem'. Mas as safras passam. Cabe ao governo, e às forças progressistas, ocupar o vazio com respostas que não sejam apenas a mitigação daquilo que os derrotados fariam, se não estivessem cada qual cuidando de si. (Leia o Especial deste fim de semana, 'O desenvolvimentismo em debate', nesta pág. E ainda,a entrevista exclusiva de Jean-Luc Mélenchon, candidato da inspiradora síntese realizada pela Frente de Esquerda, que emergiu do descrédito para se tornar a força decisiva no 2º turno das eleições presidenciais francesas,com uma plataforma de rejeição ao neoliberalismo.)

Depois de torturadores, apoiadores da ditadura são alvos de protesto em São Paulo



Carta Maior

Os organizadores escolheram o 1º de abril, Dia da Mentira e aniversário de 48 anos do golpe, para discutir a questão "de modo bem-humorado e radical". Passando por jornais, empresas e lugares simbólicos do apoio civil à ditadura, o Cordão da Mentira irá desfilar pelo centro da cidade de São Paulo para apontar quais foram os atores civis que se uniram aos militares durante os anos de chumbo. Concentração para o ato deste domingo inicia às 11h30min, em frente ao cemitério da Consolação.

Depois dos assassinos e torturadores, agora é a vez dos apoiadores do golpe civil-militar de 1964 serem alvos de protestos. Passando por jornais, empresas e lugares simbólicos do apoio civil à ditadura, o Cordão da Mentira irá desfilar pelo centro da cidade de São Paulo para apontar quais foram os atores civis que se uniram aos militares durante os anos de chumbo.

Os organizadores - coletivos políticos, grupos de teatro e sambistas da capital - afirmam ter escolhido o 1º de abril, Dia da Mentira e aniversário de 48 anos do golpe, para discutir a questão "de modo bem-humorado e radical".

Ao longo do trajeto, os manifestantes cantarão sambas e marchinhas de autoria própria e realizarão intervenções artísticas que, segundo eles, pretendem colocar a pergunta: “Quando vai acabar a ditadura civil-militar?”.

TRAJETO (confira resumo, no fim do texto)

A concentração acontecerá às 11h30, em frente ao cemitério da Consolação.

Em seguida, o cordão passará pela rua Maria Antônia, onde estudantes da Universidade Mackenzie, dentre eles integrantes do CCC (Comando de Caça aos Comunistas), entraram em confronto com alunos da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP. Um estudante secundarista morreu.

Dali, os foliões-manifestantes seguem para a sede da TFP (Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade), uma das organizadoras da “Marcha da Família com Deus, pela Liberdade”, que 13 dias antes do golpe convocava o exército para se levantar “contra a desordem, a subversão, a anarquia e o comunismo”.

Depois de passar pelo Elevado Costa e Silva - que leva o nome do presidente em cujo governo foi editado o AI-5, o mais duro dos Atos Institucionais da ditadura - o bloco seguirá pela alameda Barão de Limeira, onde está a sede do jornal Folha de S.Paulo. Segundo Beatriz Kushnir, doutora em história social pela Unicamp, a Folha ficou conhecida nos anos 70 como o jornal de “maior tiragem” do Brasil, por contar em sua redação com o maior número de “tiras”, agentes da repressão.

A ação da polícia na Cracolândia, símbolo da continuidade das políticas repressivas no período pós-ditadura, bem como o Projeto Nova Luz, realizado pela Prefeitura de São Paulo, serão alvos dos protestos durante a passagem do cordão pela rua Helvétia.

Finalmente, será na antiga sede do Dops (Departamento de Ordem Política e Social), na rua General Osório, que o Cordão da Mentira morrerá.

CORDÃO DA MENTIRA

Quando: Domingo, 1º de abril de 2012, a partir das 11h30
Onde: concentração no Cemitério da Consolação

TRAJETO

R. Maria Antônia – Guerra da Maria Antônia
Av. Higienópolis – sede da TFP
R. Martim Francisco
R. Jaguaribe
R. Fortunato
R. Frederico Abranches
Parada no Largo da Santa Cecília
R. Ana Cintra – Elevado Costa e Silva
R. Barão de Campinas
R. Glete
R. Barão de Limeira – jornal Folha de S.Paulo
R. Duque de Caxias – Cracolândia/Projeto Nova Luz
R. Mauá
Dispersão: R. Mauá com a R. General Osório – antigo prédio do Dops

Angola: Líder da UNITA no Kwanza Norte muda para CASA de Chivukuvuku




Isaías Soares, Malanje – VOA, com foto

Ausência de democracia interna, atropelos aos estatutos e falta de verbas foram as justificações apresentadas

O secretário provincial da UNITA no Kwanza-Norte, António Francisco Hebo abandonou esta semana, aquele partido e aderiu a Convergência Ampla de Salvação Nacional (CASA), de Abel Chivukuvuku.

O político que se demarcou em companhia de outros 1499 ex-militantes do galo negro, do MPLA e de outras organizações políticas da afirmou esta sexta-feira, em Malanje que a liderança de Isaías Samakuva nunca soube respeitar os quadros que diz apostar para vencer o pleito eleitoral deste ano no país.

António Francisco Hebo justificou a saída, dizendo que “nunca fui tido nem achado, também pude aperceber que a direcção da UNITA não tem responsabilidade, por que é difícil alguém que tenha objectivos de ganhar as eleições colocar a pessoa que vai ser o veículo da implementação do seu programa sem condições de trabalho”.

O aposento que compartilha com um sobrinho, “aí mesmo onde estava a mesa de presidium aquele anexo de adobe é onde eu durmo e, só para vos dizer que há muito é que fui pedindo apoios no sentido, de facto, também refastelar um pouco de dignidade que estamos a lutar. Então, começa dentro de nós e infelizmente o presidente da UNITA, doutor Isaías Samakuva foi fugindo das suas responsabilidades”, clarificou.

Há cerca de quatro anos a frente dos destinos da UNITA no Kwanza-Norte António Hebo precisou que não possuía uma casa própria, nem estrutura física digna para funcionamento do secretariado provincial.

A ausência de democracia interna e os atropelos aos pressupostos dos estatutos convergiram para o arrumar das botas e alinhar para a Convergência Ampla de Salvação Nacional de Abel Chivukuvuku.

“A falta de liberdade porque foi o Kwanza-Norte, a única província das 18 que defendeu na altura que pudéssemos realizar o 11º congresso e, o facto de nós termos defendido que realizássemos o congresso, então, fomos conotados de que estávamos a defender a saída do presidente Samakuva”.

“Que também já tinham alterado um artigo dos estatutos, porque no 10º congresso nós defendemos e aprovamos que o mandato do presidente que fosse de dois em dois anos consecutivos e um ano intercalado, portanto três anos. Esta ideia depois de ser aprovada no congresso, quando foram estruturar os estatutos retiraram isso, que também é uma aberração”, desabafou.

O salário do secretário provincial do Kwanza-Norte avaliado em 114 mil Kwanzas era pago de três em três meses, assim como os 200 mil para garantir toda actividade do partido, esclareceu o responsável.

Guiné-Bissau: OPOSIÇÃO QUER ACABAR COM MISSÃO MILITAR ANGOLANA



Lassana Cassamá, Bissau - VOA

Alguns sectores da oposição da Guiné-Bissau estão a exigir a partida da missão angolana de apoio à reforma nos sectores da defesa e segurança.

As pressões nesse sentido surgem depois de Angola ter apelado às autoridades guineenses e a todos os intervenientes no processo político na Guiné-Bissau para "observarem o respeito pela constituição, instituições democráticas, legalidade e estabilidade do país".

O apelo foi na abertura da VII Reunião de Ministros da Educação da CPLP em Luanda e segue-se à crise motivada pela recusa do segundo candidato mais votado nas eleições presidenciais guineenses de participar na segunda volta das mesmas.

É nesse contexto que se espera a deslocação a Bissau de um enviado especial do presidente angolano, José Eduardo dos Santos.

O emissário irá transmitir às autoridades guineenses a preocupação de Luanda face ao momento que se vive na Guiné-Bissau, isto numa altura em que alguns sectores da chefia militar e políticos defendem a retirada da missão angolana .

Como argumento, invocam que a MISSANG está a extravasar o propósito da sua missão, acusando-a de possuir armamentos que não devia. Uma alegação que merece a desconfiança de fontes independentes, segundo as quais Bissau está a ser alvo de uma guerra de influência geopolítica entre alguns países africanos e europeus, com implicações imprevisíveis.

Alguns observadores questionam mesmo, porque é que só agora que se acentuou a discussão sobre a presença da missão angolana no país, sobretudo neste momento da crispação eleitoral.

E no mesmo âmbito, o do processo eleitoral, marcado pela contestação de resultados por parte de alguns candidatos, chega amanha à capital guineense uma missão mista da CEDEAO, União Africana e das Nações Unidas, tudo na respectiva de acompanhar, ajudar e encontrar uma saída plausível da contenda eleitoral.

Objectivo que resultou, alias, na criação da Comissão de Facilitadores do Diálogo entre os actores políticos. Uma comissão saída da reunião ontem presidida pelo Presidente da Republica Interino, Raimundo Pereira, e que juntou todos os candidatos presidenciais, chefias militares e membros da sociedade civil, entre os lideres religiosos.

Esta comissão deve encontrar-se em separado com as figuras políticas directamente envolvidas no processo, devendo na segunda-feira apresentar relatórios dos contactos efectuados.

Boatos de golpe levam governo da China a censurar páginas da internet



Deutsche Welle

Rumores sobre suposto golpe começaram a ser espalhados na internet após demissão de um importante político chinês. Pequim bloqueou 16 websites e seis pessoas foram presas.

O governo da China bloqueou 16 páginas na internet, prendeu seis pessoas e puniu os dois microblogs mais populares no país – Sina.com e Tencent – com a não publicação de comentários de seus usuários até a próxima terça-feira (03/04) após a divulgação, via internet, de rumores de um golpe de Estado no país, possivelmente ligado a um escândalo que derrubou um importante político chinês.

Segundo a agência estatal de notícias Xinhua, os websites espalharam o boato de que veículos militares haviam entrado em Pequim e que "havia algo de estranho" ocorrendo na capital chinesa. Até mesmo aviões militares estariam sobrevoado a cidade, de acordo com as informações. O golpe estaria sendo liderado pelo chefe de segurança Zhou Yongkang após a demissão, neste mês, do político em ascensão Bo Xilai.

Demitido do comando do partido na metrópole Chongquing depois de seu chefe de polícia ter passado a noite no consulado dos Estados Unidos, onde teria pedido asilo político, Bo tinha grandes chances de faturar um posto nacional durante o congresso do partido este ano. No entanto, ele já havia sido criticado pelo chefe do governo, Wen Jiabao, por suas atitudes antirreformistas.

A queda de Bo, entendida como uma tentativa de barrar o avanço de uma linha mais à esquerda do Partico Comunista, acabou gerando uma divisão na legenda pouco antes de sua troca de comando. A demissão recebera uma cobertura bastante superficial por parte da imprensa estatal, duramente controlada.

Controle rígido

Uma amostra do rígido controle exercido pelas autoridades sobre o que circula na rede mundial de computadores no país é a prisão, desde o dia 14 de fevereiro, de 1.065 pessoas, segundo a agência Xinhua, em uma operação desencadeada em Pequim para combater crimes como tráfico de armas, drogas e materiais tóxicos, além do tráfico de órgãos humanos e de informações pessoais via online. Mais de 3 mil websites já receberam advertências.

A governo chinês afirma que vem fazendo esforços para "limpar" a rede, atitude que vem sendo encarada como restrição à liberdade virtual no país, onde vários websites como Twitter, Facebook e YouTube são bloqueados. A China tem cerca de 500 milhões de usuários de internet.

"Mudança política é boato, reforma política também é boato", postou no Twitter o artista chinês Ai Weiwei, dissidente, neste sábado, comentando a suspensão dos cometários nos microblogs.

Weiwei estaria supostamente referindo-se às observações de Wen Jibao, que criticou Bo Xilai um dia antes do anúncio de sua queda e afirmou que o partido do governo precisa realizar uma "reforma política" ou corre o risco de retornar ao "caos" da Revolução Cultural (1966-76)

Em seu editorial nesta edição de sábado, o jornal oficial do partido chinês, People's Daily, prometeu que o governo vai punir os responsáveis pelas "mentiras e especulações". "Boatos online enfraquecem a moral pública e, se fora de controle, vão perturbar a ordem pública e afetar a estabilidade social", disse o jornal ao pedir que a população "ignore ruídos externos", fofocas e boatos.

MSB/afp/dpa

PAÍSES SE ARMAM PARA DEFENDER TERRITÓRIO NO ÁRTICO



Deutsche Welle

Estudo revela como as nações que clamam território no Ártico estão se equipando para manter controle da zona gelada. Corrida é alimentada pelas riquezas escondidas debaixo da paisagem branca.

A defesa do território gelado e inóspito do Ártico entrou na lista dos gastos militares dos países com área costeira na região. Um estudo publicado pelo Instituto de Pesquisa sobre a Paz de Estocolmo (Sipri, na sigla em inglês), revela como Canadá, Dinamarca, Noruega, Rússia e Estados Unidos estão investindo para não perder o controle das zonas onde clamam soberania.

A alteração do foco não é por acaso: as mudanças do clima estão deixando o Ártico – e todos os recursos naturais escondidos sob a paisagem branca – mais acessíveis. "No passado, o Ártico era somente gelo e neve, e ninguém queria ir até lá. Mas hoje é preciso manter a atenção", disse Siemon Wezeman, autor do estudo, em conversa com a DW Brasil.

A cobertura de gelo no Oceano Ártico retraiu cerca de 30% desde 1970, lembra o Conselho Nórdico. Cientistas da NOAA – agência meteorológica ligada aos Estados Unidos – que estudam a vasta área que envolve o Círculo Polar Ártico apontam um aumento das temperaturas durante a primavera no Alasca e no norte da Europa, além da mudança da vegetação de tundra para pântano em zonas da Sibéria, Canadá e Alasca.

Canadá, Dinamarca e Rússia se destacam com uma política internacional de defesa do território, com aumento da presença militar na região. A Noruega transferiu parte das suas operações para o norte – os Estados Unidos, por outro lado, são os que menos dão importância ao Ártico.

No campo político, há o consenso de que a região precisa de mais vigilância. "É uma questão de tempo até que a passagem da parte norte do Oceano Atlântico até a Rússia seja aberta. A partir desse momento, teremos que ter algum tipo mais severo de vigilância", adiantou o cenário Kimmo Sasi, presidente do Conselho Nórdico.

Fundado em 1952, o conselho, que reúne os cinco grandes países do norte da Europa (Dinamarca, Finlândia, Islândia, Noruega, Suécia) e representantes das regiões autônomas dinamarquesas Groenlândia e ilhas Faroer, e do arquipélago Aland, da Finlândia, já discute os próximos passos. "A Otan deve assumir a tarefa (de vigilância), Finlândia e Suécia podem cooperar de forma independente", completou Sasi.

Força militar no gelo

O Canadá priorizou a defesa do Ártico numa nova estratégia de investimento nas forças armadas. Os 18 aviões equipados com sistema antissubmarinos serão substituídos por novas aeronaves até 2020, e veículos aéreos não tripulados estão na lista de compra. Em terra, a força paralimitar na região deve aumentar de 4.100 para 5 mil até o final do ano e a patrulha marítima será reforçada com seis a oito navios, além de um novo quebra-gelo militar, com custo estimado em 720 milhões de dólares canadenses.

O governo dinamarquês planeja criar uma força especial para operar na Groenlândia e em outras regiões do Ártico, sendo que o número de fragatas passará de três para cinco. Até 2017, um terceiro quebra-gelo será reunido aos dois navios que fazem patrulhamento.

A Noruega, por outro lado, mantém uma política fortemente focada na Rússia, mas o país nórdico se voltou, mais recentemente, para a questão dos potenciais conflitos no Ártico. Um exemplo é a compra, em 2011, de embarcações da classe Fridtjof Nansen, mais aptas a operar na região.

Já a Rússia expõe claramente sua posição: o Ártico deve ter a importância de uma das principais fontes de recursos naturais até 2020. O país prevê conflitos de interesses na região, com outras nações clamando exploração econômica exclusiva em algumas zonas do Oceano Ártico. A frota russa inclui submarinos nucleares com lançador de míssil balístico. As operações dessas embarcações na região do Ártico se intensificaram em 2009, diz o estudo.

A defesa do Ártico, por enquanto, não parece estar na lista de prioridade dos Estados Unidos, aponta a pesquisa. Apesar de as atividades comerciais serem crescentes no local, o governo ainda não anunciou uma estratégia especifica de segurança.

Muitos interesses e potencial de conflitos

Apesar de os países estarem se armando especificamente para vigilância do Ártico, Siemon Wezeman ressalta que os governos em questão estão engajados em resolver qualquer futuro problema de maneira diplomática. "O maior problema que vemos é que, pelo fato de terem mais armas e mais operações na região, há chance de que as unidades militares se encontrem e, com as coisas não muito esclarecidas, eles comecem a apontar armas uns para os outros. Ou qualquer comportamento dúbio pode provocar incidentes que tenham um efeito maior do que o esperado", apontou Wezeman.

O cenário provoca desconfiança, mas Kimmo Sasi garante que a situação política no Ártico é calma. "Não há tensões exacerbadas. Todos os países estão analisando como escavar e usar os recursos naturais da região. E os países nórdicos estão muito conscientes de que isso será feito de maneira ecológica", garantiu.

Estima-se que o Ártico armazene a maior reserva de petróleo inexplorado do mundo. Segundo uma análise do governo norte-americano, a região armazena 13% das reservas de petróleo e 30% das de gás natural ainda não descobertas.

Outros recursos, como carvão, urânio e diamante, são explorados no território gelado e a prospecção de minérios aumentou consideravelmente. "Muitas minas serão abertas na região, já existem algumas sendo operadas. Quanto ao transporte desses bens, os países nórdicos deverão tomar essa decisão conjuntamente para a construção de ferrovias ou abertura de novas rotas da Finlândia e Suécia para a Noruega", afirmou Sasi.

Autora: Nádia Pontes - Revisão: Roselaine Wandscheer

QUE RAIO DE PARTIDO SOCIALISTA É ESTE?




Baptista-Bastos – Jornal de Negócios, opinião

O Partido Socialista teve, anteontem, na Assembleia da República, uma excelente ocasião para se redimir das evasivas políticas, das ambiguidades e dos desvios que têm caracterizado a sua trajectória. Porém, ao abster-se de combater a nova lei laboral, acentuou o retrato ideológico e moral da sua triste existência. A ideia de que António José Seguro é um "homem de Esquerda" caiu pela base. Ao claudicar perante um documento daquela natureza, o PS desacreditou-se definitivamente.

Fica por saber, mas adivinha-se, as manobras de bastidores encetadas entre as direcções socialista e social-democrata, a fim de se atingir aquele vergonhoso resultado. Aliás, a "concertação" social, tão afamada pelos trompetistas da Direita, foi subscrita por João Proença, figura de relevo do PS. Convém não esquecer, para memória futura.

Mas a história do chamado "socialismo democrático" está pejada de traições (porque de traições se trata) desta e de índole semelhante. Não é preciso ler Tony Judt, embora seja importante frequentá-lo, para sermos informados das claudicações dos partidos "socialistas" na Europa, que levaram ao total descalabro. A ameaça do comunismo serviu de pretexto para as maiores abjurações. Ao juntar-se aos partidos de Direita (caso português), o PS alterou a fisionomia do que de ele se esperava, desde o 25 de Abril.

Claro que o sectarismo do PCP, na altura, e a existência da União Soviética, como poder omnipresente, também não ajudaram a convergência de esforços. Mas, como escreveu, na altura, o jornalista alemão Kurt Dreyer, "tudo seria o mesmo, pois os partidos socialistas procedem de ambições pequeno-burguesas."

A queda do Muro de Berlim "não salvou ninguém de coisa nenhuma" [Gunther Grass] e apenas forneceu ao capitalismo outra força e outro desiderato, porventura mais cegos e desvigiados. O resultado está à vista. No fundo, não se desejava que o PS fosse além do que dizia. Apenas se exigia que cumprisse as razões da "social-democracia."

Os portugueses ainda se recordam dos gritos e dos estribilhos dos anos da brasa. "Partido Socialista, Partido Marxista!" E o punho erguido, vertical e incisivo, depois alterado para a rosa. "Uma rosa sem cheiro", na rotunda expressão de Fernando Piteira Santos. Aliás, há uma história dessa época que se conta ainda. Parece que um dia Mário Soares dirigiu-se a Piteira Santos e inquiriu: "Porque é que você não se inscreve no Partido Socialista?" Piteira, velho resistente, cujo sarcasmo nunca media distâncias, respondeu-lhe; "Porque sou socialista."

Podemos confiar no PS? Se a questão é penosa, a resposta poderá ser cruel. Há muitos anos que o PS abandonou as regras d'oiro da Esquerda. Ao menos que, nos problemas sociais, tivesse uma resposta e uma actuação que não fossem tão humilhantes. Nada disso. Não votaram em Francisco Assis, para secretário-geral, porque estava muito ligado a José Sócrates, e, também, porque Seguro oferecia mais garantias "de Esquerda." É o que se tem visto. Encostado, cada vez mais declaradamente, aos propósitos e objectivos da Direita, o PS de António José Seguro queda-se numa retórica absurda, sem direcção nem sentido, espécie de baratinha tonta com fato e gravata.

Depois da abstenção de quarta-feira que vão Seguro e os seus dizer às pessoas? O seu comportamento, a sua ubiquidade, a sua falta de carácter e de ideologia roçam a indignidade ética. Mas será que alguma vez a tiveram? Perguntar não ofende. O que ofende a consciência dos homens livres são as constantes tranquibérnias de um partido cada vez mais ligado aos interesses e aos malabarismos do rotativismo.

APOSTILA - Para governo e conceito dos meus Dilectos, e para honra da verdade, nunca fui redactor do "Diário de Notícias", apenas seu colunista, de há cinco anos a esta parte, e a convite expresso de João Marcelino, meu amigo. Acrescento que me insurgi contra os saneamentos de 1975, e que fui camarada fraterno de João Coito, grande jornalista, homem digno e honrado, fiel às suas convicções até ao remate final dos dias. Adianto que nos protegemos um ao outro, o que deixava os dele e os meus correligionários completamente fora de si. Depois, quem quiser corresponder-se comigo, sem a máscara vil do anonimato, o meu endereço electrónico está a seguir. Chega?

Portugal: Passos diz que "infelizmente" haverá "agravamento do desemprego"



Jornal de Notícias

O primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, afirmou, esta sexta-feira, que "infelizmente" haverá um "agravamento do desemprego em Portugal" este ano, acrescentando que o Orçamento Retificativo já revê em alta as estimativas do governo.

O Governo viu as suas previsões contidas no Orçamento do Estado para 2012 ultrapassadas relativamente à matéria do desemprego", disse o primeiro-ministro, durante o debate quinzenal no Parlamento.

"Por essa razão, quando fizemos o terceiro reexame regular da 'troika' [da ajuda externa], tivemos oportunidade de atualizar essas previsões e elas constarão justamente do Orçamento do Estado retificativo que será apresentado a esta câmara na próxima semana. E dentro dessas previsões nós ajustamos em alta, infelizmente, a previsão para o desemprego. Não será, por isso, infelizmente, novidade que assistiremos ainda ao agravamento do desemprego em Portugal este ano", acrescentou.

Passos Coelho respondia a uma questão do líder do PCP, Jerónimo de Sousa, que questionou o primeiro-ministro sobre os números do desemprego.

Jerónimo de Sousa referiu que, na quarta-feira, o Governo esteve no Parlamento para "defender as malfeitorias das alterações contidas no Código do Trabalho" com o argumento de são "necessárias para aumentar a competitividade, o crescimento económico, para criar mais emprego".

"Um dia depois veio o Banco de Portugal, no seu relatório da Primavera dizer que afinal vamos assistir em 2013 a uma estagnação da economia e a uma liquidação, entre este ano e 2013, de 207 mil postos de trabalho", acrescentou o secretário-geral do PCP, considerando a seguir que "alguém está a enganar alguém", para perguntar a Passos Coelho se é uma atitude "inconsciente ou mentira pensada".

Na resposta, Passos Coelho afirmou que o Governo está "justamente a trabalhar para atenuar esses efeitos [do desemprego], desde logo apostando em políticas ativas de emprego e, em segundo lugar, trabalhando estruturalmente para garantir o futuro" das empresas portuguesas, para que "possam ser mais competitivas".

"Não faz parte exclusiva desse quadro de competitividade a questão do código laboral. O código laboral não é a única peça relevante para a competitividade das empresas, mas é uma peça relevante", acrescentou o primeiro-ministro, sublinhando ainda que estas alterações na legislação do trabalho integram o acordo da ajuda externa e respeitam o acordo conseguido em sede de concertação social.

A este propósito, o primeiro-ministro destacou ainda que a UGT, num parecer sobre o Código do Trabalho, considerou que "nas novas regras a incluir no código laboral não há nenhuma que seja mais gravosa do que as previstas no memorando de entendimento".

O líder comunista acusou a seguir Passos Coelho de ver no acordo da ajuda externa uma "bíblia" e "uma vaca sagrada", quando o "primeiro compromisso de um Governo da República deve ser com o seu povo" e não com instâncias internacionais.

Jerónimo de Sousa considerou que o "pacto de agressão" se traduz num "ataque às condições de vida" de muitos portugueses" e perguntou ao primeiro-ministro onde está a "equidade nos sacrifícios" de que fala o Governo.

Para os comunistas, a austeridade pedida à generalidade dos portugueses e às pequenas empresas não se aplica da mesma forma aos "grandes grupos económicos" e aos "grandes acionistas", bastando olhar para os "lucros fabulosos dos grandes distribuidores, das EDP, das PT" para chegar a essa conclusão.

Passos Coelho respondeu que "não é verdade", apontando que "a lei fiscal é para todos" e houve um agravamento do IRC para as empresas com "lucros mais significativos", permitindo novas receitas para o plano de emergência social.

Por outro lado, disse, as pessoas singulares com maiores rendimentos pagarão este ano mais impostos do que em 2011 e também os rendimentos de capital terão um agravamento fiscal em 2012.

Portugal: FACILITAR DESPEDIMENTOS PARA CRIAR EMPREGO? É SIMPLES…




Manuel Esteves – Jornal de Negócios, opinião

Se a proposta de revisão do Código do Trabalho for aprovada no Parlamento, todos os trabalhadores que exerçam cargos de "complexidade técnica" poderão ser despedidos sempre que a respectiva entidade patronal alegue que não cumpriram os objectivos fixados.

Se a proposta de revisão do Código do Trabalho for aprovada no Parlamento, todos os trabalhadores que exerçam cargos de "complexidade técnica" poderão ser despedidos sempre que a respectiva entidade patronal alegue que não cumpriram os objectivos fixados. Em entrevista ao Negócios, o secretário de Estado do Emprego explica que "esta alteração vai dar mais confiança aos empresários para que contratem sem termo".

O Governo tem vindo a facilitar a contratação a termo porque diz que é preferível que as empresas contratem a prazo do que não contratem. Agora facilita os despedimentos porque isso promove a contratação. O raciocínio é simples, demasiado simples: se as empresas souberem que é fácil despedir, então terão menos medo em contratar.

Mas será assim tão difícil despedir no sector privado? É verdade que os estudos internacionais demonstram que as normas portuguesas relativas ao despedimento individual são das mais restritivas. Mas é preciso ver a efectividade da lei. Em Portugal, as leis laborais merecem o mesmo respeito que as leis de trânsito e os desastres que a violação de ambas motivam estão à vista de todos.

Por outro lado, se o despedimento individual é rígido, tal já não sucede com o colectivo, que é dos mais flexíveis da Europa. Acresce que há mil e uma formas de levar um trabalhador a aceitar uma rescisão amigável sob pena de passar a ter uma vida na empresa muito pouco amigável – nos últimos cinco meses, houve 14 mil rescisões por mútuo acordo, o dobro face ao período homólogo.

Basta olhar para a elasticidade do desemprego face à conjuntura económica para perceber como é fácil despedir em Portugal. Desde o início de 2008, quando a crise rebentou, a taxa de desemprego quase duplicou para os 14%. E na crise anterior, de 2002/2003, os efeitos foram idênticos. A taxa de desemprego quase duplicou, para cerca de 7%.

E será por causa da rigidez da lei laboral que a economia não cria emprego? As estatísticas não mostram isso. Entre 1995 e 2000, quando a economia portuguesa crescia a um ritmo saudável, foram criados, em termos líquidos 500 mil empregos. Isto aconteceu com a tal legislação laboral espartana, antes das duas últimas revisões do código de trabalho – a de Bagão Félix, em 2003, e a de Vieira da Silva, em 2009 – que visaram reduzir a rigidez do mercado laboral. Na década de 90 – antes dessas alterações à lei –, a taxa de desemprego média foi 5,5%. Nos últimos anos, esta taxa esteve sempre acima dos 10%.

O que explica os diferentes níveis de emprego é o crescimento da economia. Claro que as normas laborais são relevantes e interferem na competitividade das empresas. Mas também interferem na dignidade das pessoas e na sua qualidade de vida, aspectos que conviria que os nossos governantes não desprezassem.

Editor de Economia

A OPACIDADE DAS AGÊNCIAS EUROPEIAS




Oliver Grimm - Die Presse, Viena - Presseurop

Opacas, gastadoras, propensas a conflitos de interesses: a independência das cerca de vinte agências especializadas da UE levanta problemas, tanto em termos financeiros como de controlo democrático, denuncia Die Presse.

São precisamente 6157 euros: é quanto custa uma reunião do Conselho de Administração da AESA, a Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos. Por pessoa. Não se sabe se os quinze membros do conselho foram levados até Parma [sede da AESA] em liteiras, nem se comeram ovos de codorniz escalfados enquanto percorriam a ordem de trabalhos.

O que se sabe, de fonte segura – graças à incansável Monica Macovei, deputada europeia romena especializada na luta contra a corrupção –, é a conceção que essas pessoas têm da sua função. Só em 2010, a AESA gastou 49 milhões de euros em contratos externos "de comunicação e gestão".

Governos europeus são os maiores responsáveis

Não é a única anomalia constatada em agências europeias, que hoje totalizam 24. Nella Frewen, lobista durante vários anos do fabricante norte-americano de sementes Monsanto, em Bruxelas, e hoje responsável pelo lóbi da indústria agroalimentar, está, por sua vez, prestes a integrar o conselho de administração da AESA.

Já o antigo responsável pela Agência Europeia de Medicamentos, sedeada em Londres, Thomas Lonngren, aceitou com a maior naturalidade, ou quase, entrar para a indústria farmacêutica, no início deste ano.

As próprias organizações não-governamentais (ONG) também já não sabem distinguir entre o que é aceitável e o que não é: a diretora da Agência Europeia do Ambiente em Copenhaga deslocou-se durante o seu horário de trabalho às Antilhas, com um punhado de colaboradores. Para estudarem a biodiversidade. Em prol da organização de proteção ambiental "Earth Watch" – mas a expensas do contribuinte. A "Earth Watch" apresentou uma fatura de dois mil euros pela viagem de cada participante. Isto não aparenta ser um subsídio encapotado. É mesmo.

Como são possíveis tais ocorrências? É muito simples: ninguém assume responsabilidades. Quando se pergunta à Comissão Europeia o que tenciona fazer para remediar os disfuncionamentos dessas agências, obtém-se invariavelmente a mesma resposta: estamos de mãos atadas, o regulamento interno das agências não permite qualquer direito de ingerência, e já há muitos anos que sugerimos uma reforma do processo de controlo.

Os governos europeus são manifestamente os maiores responsáveis por esta situação. Há muitos anos que a criação de agências é objeto de uma competição indecorosa entre os países-membros.

Cada um quer ter pelo menos uma. Surpreendentemente, quando se dá um dos costumeiros bloqueios numa cimeira europeia, o facto de propor a abertura de um novo organismo produz logo milagres e permite atingir consensos sobre outras matérias.

Até os políticos austríacos, que tanto gostam de dizer mal dos "funcionários de Bruxelas", se apressam a dar o seu acordo. Quando a Agência dos Direitos Fundamentais surgiu em Viena, em 1 de março de 2007, os membros do Governo rivalizaram em entusiasmo nas suas declarações, apesar de ser preciso lê-las duas vezes para ter certeza de que não era uma paródia.

Fechar as agências supérfluas

A ministra dos Negócios Estrangeiros, Ursula Plassnik, chegou ao ponto de declarar que a criação da Agência dos Direitos Fundamentais ia "reforçar ainda mais a posição de Viena como sede de organizações internacionais de primeira linha”. O chanceler federal Alfred Gusenbauer falou de um "sinal enviado pela UE aos homens e mulheres”.

Diga-se de passagem que a referida Agência foi confrontada com uma única onda de agitação em cinco anos, quando Viviane Reding, comissária para os Direitos Humanos, se indignou com o projeto de transposição para verso da Carta dos Direitos Fundamentais da UE.

O deputado europeu Martin Ehrenhauser tem razão: era preciso fechar a agência de Viena e não colocar nada no seu lugar. Especialmente porque duplica – e a preços muito altos – o Conselho da Europa.

Ironicamente, a partir de 1 de abril, os europeus podem lançar uma iniciativa cidadã, se forem mais de um milhão. Mais democracia, mais participação, mais transparência, nas palavras do momento.

Entretanto, as autorizações relativas aos nossos medicamentos e a avaliação de riscos decorrentes de alimentos que consumimos são dadas na sombra, aproveitando uma lacuna legal.

A situação é inaceitável. Os governos deviam aproveitar as negociações do quadro financeiro da UE para 2014-2020 para fechar as agências supérfluas e reforçar a supervisão das restantes. Caso contrário, essas agências-sombra poderão, em breve, ganhar asas e não haver recuo possível.

Itália: EM NÁPOLES AS CRIANÇAS VOLTAM AO TRABALHO




Cécile Allegra - Le Monde, Paris – Presseurop, foto Mário Spada/prospekt - Le Monde

Nesta cidade, que está entre as mais pobres da Europa, milhares de crianças deixam a escola para ajudarem os pais a fazerem face às despesas. Fazem pequenos trabalhos não declarados ou são recrutados para os trabalhos sujos da máfia. Um fenómeno que a crise acentuou. Excertos.

Sete horas da manhã, San Lorenzo, no coração de Nápoles. Um miúdo corre pelo labirinto de ruelas húmidas, com uma pesada caixa de conservas debaixo do braço. Casaco acinzentado, capuz na cabeça e sapatos de ténis muito usados, o pequeno Gennaro começa o seu dia de trabalho.

Ninguém se espanta de o ver a labutar tão cedo. Em setembro de 2011, Gennaro foi contratado por uma mercearia. Seis dias por semana, dez horas por dia, arruma prateleiras, descarrega caixas e entrega compras no bairro.

Gennaro sonhava ser informático, mas é moço de recados numa loja, a profissão mais comum entre as crianças trabalhadoras de Nápoles. Trabalha ilegalmente, por menos de um euro à hora, e ganha, no máximo, 50 euros por semana. Gennaro acaba de fazer 14 anos.

Paola Rescigno, a mãe de Gennaro, nunca imaginou que um dia tivesse de o privar da escola. Durante 20 anos viveu com o marido numa casinha de 35 metros quadrados, num pátio do bairro de San Lorenzo, o mais sombrio do centro da cidade.

Depois, o marido morreu, vítima de um cancro fulminante. Agora, Paola Rescigno vive de biscates. Organizou uma míni empresa de limpeza de imóveis e partilha o trabalho com as outras desempregadas do bairro. Ganha 45 cêntimos de euro por hora, 35 euros por semana, menos do que o salário do filho.

Aos 10 anos, as crianças trabalham dez horas por dia

É ela quem, todos os dias, muito cedo, acorda Gennaro para que o rapaz chegue a horas à mercearia. A filha mais nova tem seis anos, por isso, teve de escolher: “Não tinha dinheiro para pagar os livros dos dois. Por isso, ou era um, ou outro.” Em cima da mesa da cozinha está um “pão de oito dias”, uma bola de centeio com três quilos, que se conserva durante muito tempo e custa apenas cinco euros. Um bem com grande sucesso nos anos da fome do pós-guerra italiano.

Em Nápoles, foram postas a trabalhar milhares de crianças como Gennaro. Segundo um relatório alarmante, publicado em 2011 pela autarquia, entre 2005 e 2009, 45 mil crianças em toda a Campânia, a região de Nápoles, abandonaram o sistema de ensino; 38% tinham menos de 13 anos.

Moços de recados em lojas, empregados de café, entregadores de compras, aprendizes de cabeleireiro, ajudantes nas fábricas de curtumes do interior e nas marroquinarias das grandes marcas, “paus para a toda a colher” nos mercados, estão por todo o lado, visíveis, a trabalhar à luz do dia, perante uma indiferença quase geral.

“É verdade que sempre fomos a região mais pobre de Itália. Mas desde o fim da II Guerra Mundial que não se via uma coisa assim”, diz Sergio d'Angelo, adjunto do município de Nápoles. “Aos dez anos, estes miúdos já trabalham doze horas por dia, uma verdadeira negação do seu direito a crescerem.” Os pais vivem na ilegalidade e, a qualquer momento, os serviços sociais podem retirar-lhes a criança e coloca-la numa família de acolhimento.

A crise italiana passa por aqui. Desde 2008, sucessivas leis de finanças impuseram planos de redução de custos drásticos. Em junho de 2010 a Campânia suprimiu o subsídio equivalente ao rendimento de solidariedade ativa francês [rendimento mínimo garantido pelo Estado às famílias com baixos rendimentos], mergulhando na miséria mais de 130 mil famílias que estavam abrangidas.

Nessa altura, o rendimento médio da região era de 633 euros por habitante: atualmente, metade dos habitantes afirma que a sua situação se degradou. “Os jovens pagam, sozinhos, o preço da mais grave crise económica do pós-guerra”, diz Sergio d’Angelo.

"O Estado que abandona as suas crianças"

Em Nápoles, os filhos das famílias pobres não têm outro remédio senão agarrarem-se aos estudos ou começarem a trabalhar ilegalmente. Uma terceira opção é juntarem-se aos grupos da Camorra, a máfia napolitana.

É contra esta escolha brutal que luta Giovanni Savino, 33 anos, professor especializado. O seu território é um dos piores bairros de Nápoles: Barra, verdadeiro supermercado de droga, uma zona escura, cheia de prédios a desabar sob a influência dos clãs da Camorra.

Todas as semanas, Giovanni Savino vai ao colégio Rodino, uma escola da zona, plantada no coração dos bairros de habitação social. Aqui, o tráfico está no auge, e uma em cada duas crianças falta à escola cem dias por ano.

Segundo a lei, depois de faltarem sessenta dias, deveriam ser expulsos. A diretora da escola, Annunziata Martire, e o professor, lutam contra o relógio: uma vez por semana, ela entrega-lhe a lista dos faltosos. Giovanni Savino tem dez dias para encontrar uma solução, antes da intervenção dos serviços sociais.

A maior parte das vezes, é ele que se encarrega de os fazer passar ao estatuto de alunos livres, para evitar que sejam retirados aos pais e colocados em famílias de acolhimento.

Os funcionários do município já não se atrevem a aproximar-se dos prédios de habitação social e são poucos os professores capazes de entrarem na Barra, como faz Giovanni Savino.

A sua associação chama-se Il Tappeto di Iqbal, o “Tapete de Iqbal”, inspirado no nome de uma criança-escrava paquistanesa que se revoltou e foi assassinada.

Giovanni Savino é um homem furioso, contra os mafiosos, contra uma educação falhada, e contra o Estado, “que abandona as suas crianças”. Em Itália, não existem gabinetes de apoio social. O apoio aos jovens e às famílias depende da energia de 150 associações que vivem exclusivamente dos subsídios atribuídos pelo município. Com a crise, os fundos de apoio social foram reduzidos em 87%. Há dois anos que os vinte mil professores da Campânia não recebem salário e têm de se endividar para trabalharem. Sem financiamento, o “Tapete de Iqbal” fechará as suas portas.

"Não digas à minha mãe que eu tenho uma faca"

No entanto, Giovanni Savino já arrancou dezenas de miúdos da Barra das garras de empregadores sem escrúpulos ou dos grupos mafiosos que ali vão recrutar os seus futuros soldados.

Carlo é um dos seus primeiros resgatados. Aos 13 anos, criança-assassino já tatuado, extorquia, roubava e esfaqueava às ordens do clã Aprea. Quatro anos depois, Carlo tornou-se o braço direito de Giovanni Savino, a quem devota absoluta lealdade: “Giovanni não se limita só a arranjar-te a licença para passares a aluno livre. Não te larga. Salvou-me a vida.”

Depois de Carlo, houve Marco, cocainómano aos 12 anos e especialista em roubos de carteiras. E Ciro, aluno brilhante, que se tornou empregado de mesa para salvar a família, que tinha caído nas mãos dos usurários mafiosos.

Do último, Pasquale, de 11 anos, Giovanni Savino diz que é o seu maior desafio. Quando o pôs sob a sua asa, já lá vão nove meses, Pasquale tinha deixado a escola e passava fome.

Para ajudar a família, este rapazinho de 1,30 metros, com a cara semeada de sardas, descarregava caixas num supermercado. À noite, ia roubar cobre para as lixeiras e para os armazéns de Trenitalia. “Pegas no fio, queimas assim, depois cortas para fazer uma bola”, explica ele, todo vaidoso.

Mostra-se um pouco preocupado: “Sobretudo, não digas à minha mãe que eu tenho uma faca, hein!”. No bairro da Barra, o cobre e o alumínio são negociados na candonga a 20 euros o quilo. E o tráfico é o negócio das crianças. Quando se lhe pergunta o que quer fazer quando for grande, Pasquale, de repente, fica mudo. Depois choraminga: “Vou fazer o que puder”.

ISRAEL, SEUS FANTASMAS E O PERIGO REAL




Immanuel Wallerstein - Tradução: Daniela Frabasile – Outras Palavras, com foto

Hipótese de ataque nuclear iraniano é delirante. Mas Telaviv e Washington estão prestes a sofrer derrota séria no Oriente Médio

O primeiro ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, visitou os Estados Unidos no começo de março. Veio para dizer, mais uma vez, que um Irã nuclear representaria ameaça a Israel, e que Telaviv reserva-se o direito de tomar ação imediata para se opor a isso. O presidente Obama afirmou energeticamente que sim, um Irã nuclear colocaria uma ameaça a Israel; e que os Estados Unidos não poderiam aprovar isso – mas que o momento não era o melhor para isso. As opções não-militares contra Teerã deveriam ser esgotadas, antes de se cogitar outras ações.

Vamos examinar as premissas. Por que um Irã nuclear representaria ameaça existencial a Israel? Ou seja: quem acredita que, se tivessem armas nucleares, as autoridades iranianas as usariam para bombardear Israel? Na realidade, e apesar de declarações em contrário, ninguém nenhuma posição de responsabilidade – seja em Israel, nos Estados Unidos ou em outro lugar do mundo – acredita nisso.

Vamos começar com os argumentos explícitos. Governantes israelenses apontam o fato de o presidente Ahmadinejad e outros terem afirmado que desejam “limpar” Israel (ou algo parecido com isso). Muitos especialistas já argumentaram que a tradução está incorreta. Mas, mesmo que fosse certa, ela iria além de que repetir antigo posicionamento de um grande número de pessoas no Oriente Médio – que se opõem ao conceito de um estado judeu e sugerem outras alternativas para uma disputa de longa data?

Por que motivo no mundo os governantes iranianos bombardeariam Israel? Eles matariam pelo menos o mesmo número de árabes e israelenses. Estariam sujeitos a retaliação imediata de Israel, que possui um grande arsenal nuclear. O bombardeio de Israel pelo Irã é uma fantasia na qual nenhum líder responsável acredita.

Mas se eles não acreditam nesta hipótese, por que eles a suscitam? A resposta me parece clara. Se o Irã finalmente tivesse algumas armas nucleares, isso ira de fato mudar algo. Modificaria o equilíbrio geopolítico no Oriente Médio e enfraqueceria politicamente a posição de Israel. Provavelmente, também levaria à rápida aquisição de armamento nuclear por outros países. Penso na Arábia Saudita, Egito e Turquia, para começar.

Se os Estados Unidos ou Israel bombardeassem o Irã preventivamente, haveriam consequências políticas enormes e imediatas. Primeiro, é quase certo que o ato seria relativamente ineficaz, para interromper o projeto iraniano. E depois, enfraqueceria politicamente a posição tanto de Israel quanto dos EUA em todo o mundo. Essas duas razões juntas explicam por que o exército e os serviços de inteligência dos dois países se opõem tanto à opção militar. Eles temem que o discurso se popularize e permita que algum líder político, que não controla atualmente os governos de Israel ou dos Estados Unidos, seja tolo o suficiente para começar a guerra.

Os Estados Unidos e Israel estão atolados numa situação em que qualquer saída é negativa. Não importa o que façam, irão perder politicamente. Acredito que estão cientes disso; e que nem Netanyahu, nem Obama sabem o que fazer realmente, ou como defender seus próprios interesses políticos internamente. Por isso, gastam o tempo culpando e chantageando um ao outro. Enquanto isso, a liderança iraniana usa o discurso para levantar a bandeira patriótica e fortalecer sua posição interna, que esteve sob sério ataque não muito tempo atrás.

Enquanto isso, voltemos à Palestina, que continua a ser o problema real para Israel, e não uma questão fantasiosa. O Hamas tomou a decisão de ligar sua estratégia ao Egito e à Irmandade Muçulmana, que parece estar prestes a controlar o governo egípcio. O Fatah claramente teme, não sem motivo, a perda de controle da Cisjordânia para o Hamas. Preso entre o Hamas e o governo dos Estados Unidos, o presidente Abbas, da Autoridade Palestina também está em uma posição na qual perderá algo; e também não sabe o que fazer. Ele hesita, o que não parece ser a melhor tática de sobrevivência.

O futuro está com as ruas da Palestina. Simplesmente não acredito que poderão manter-se silenciosas. Poderá Israel chegar a algum acordo com elas? Logo saberemos.

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