quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Portugal: O MITO ESCANGALHADO




Baptista-Bastos – Diário de Notícias, opinião

Tudo indica que o Grande Manitu das finanças portuguesas não passa de uma fraude. O homem, tido e havido como um génio sem par, não lhe acerta uma. De cada vez que se põe a prever, a projectar números e concepções, sai tudo errado; pior: acontece o contrário, com a consequência nefasta de afectar milhões de nós. Só agora, as indignações e os vitupérios começaram a surgir. E posta em causa a competência de Vítor Gaspar. Não se lhe exige que seja uma pitonisa de Delfos, dispondo de poderes premonitórios quase divinos. Mas pede-se-lhe, unicamente, que faça bem o seu trabalho: analise, compare, estatua as previsibilidades do mercado. A experiência ideológica aplicada a Portugal, de que ele é um obediente serventuário, conduz a um esvaziamento do próprio animus colectivo, resultado de um empreendimento de sujeição baseado no medo, na violência e na unilateralidade de pensamento.

No domingo, durante o programa Prós e Contras, de Fátima Campos Ferreira, um dos melhores que vimos, o general Loureiro dos Santos referiu que, nas Forças Armadas, um oficial superior que se enganasse tanto e tantas vezes, já tinha sido despedido. Aliás, durante a sessão, as críticas às definições e às decisões do Governo foram das mais lúcidas interpretações que tenho ouvido acerca da maneira e do modo como estamos a ser conduzidos e governados. Todo o poder encontra sempre uma resistência, sobretudo quando actua admitindo não haver possibilidade de escolha e de alternativa. As decisões são aceitas e tomadas em conjunto.

É, pois, preciso não esquecer de que a desgraça que nos atinge estende-se, na sua imperiosa e grave crueldade, à culpa de todos os membros do Executivo. Nenhum é inocente e cada um e todos terão de ser punidos, para lá do que as urnas disserem. A correlação entre acção e indulgência, que se tornou uma absurda normalidade, tem de ser interrompida, e os governantes responsabilizados. Recordo que a França, após a Libertação, criou a figura jurídica de "indignidade nacional" aplicável aos que haviam tripudiado sobre "a honra da pátria e os direitos de cidadania."

O lado "punitivo e ideológico", de que fala a eurodeputada socialista Elisa Ferreira, foi por eles criado e desenvolvido com inclemência e zelo. Resgatar a tragédia aplicando-lhes o mesmo remédio é uma tese que faz caminho, como resposta de justiça, nunca como retaliação ou vingança. Justiça, pura e simplesmente.

O que este Governo nos tem feito representa a mais grave contraconduta social, política, cultural e humana verificada em Portugal desde o salazarismo. O discurso oposicionista não pode, somente, ser "diverso" e incidir, apenas, na "actualidade" portuguesa. Os sicários deste projecto encontram-se espalhados transver- salmente por todos os sectores da actividade europeia, mas não há batalhas inúteis, nem lutas sem sofrimento.

Primeiro-ministro sai da Faculdade de Direito debaixo do protesto de estudantes


Coelho com todos... a escoltá-lo - foto António Silva
VAM – SMA - Lusa

O primeiro-ministro saiu hoje da Faculdade de Direito de Lisboa debaixo do protesto de cerca de uma centena de alunos, que gritavam palavras como "gatunos" e "demissão".

À entrada da Faculdade de Direito, onde decorria uma conferência organizada pela JSD, Pedro Passos Coelho já tinha sido recebido com protestos dos estudantes, que num gesto simbólico seguravam uma estrutura de madeira imitando uma forca de madeira com um coelho morto.

Junto à porta do auditório onde decorreu a conferência da JSD que o primeiro-ministro encerrou, mais algumas dezenas de alunos esperavam Pedro Passos Coelho, gritando frases como "povo unido jamais será vencido", "para o ensino só tostões, para a banca só milhões".

A segurança do primeiro-ministro impediu que os alunos que estavam a protestar entrassem na sala, mas ao longo dos mais de 30 minutos em que Pedro Passos Coelho discursou, continuaram a ouvir-se os gritos dos estudantes no corredor.

À saída, Pedro Passos Coelho foi novamente confrontado com um grupo de algumas dezenas de estudantes que continuava a gritar palavras como "gatunos" e "demissão".

Sempre rodeado pela sua equipa de segurança, o primeiro-ministro percorreu depois os corredores que levavam à saída do edifício.

Ao longo do percurso, ao grupo inicial de alunos que estavam a protestar foram juntando-se mais algumas dezenas de estudantes, sempre a gritar "gatunos", "demissão", entre outras palavras de protesto para com o Governo.

Passos Coelho, que desde que saiu da sala e até entrar no carro teve a seu lado o antigo líder do PSD Marcelo Rebelo de Sousa, nunca parou para falar com os estudantes.

FAMÍLIA ALEMÃ VIVE PRÁTICAMENTE SEM USAR DINHEIRO HÁ 3 ANOS




Pragmatismo Político – Reuters, com foto

Famíla alemã vive há três anos praticamente sem usar dinheiro. Este novo modo de vida vem recebendo atenção de pessoas na Europa e fomentando discussões na internet. Fellmer é tido como o líder do movimento batizado de “vida-sem-dinheiro”

Um alemão de 29 anos conseguiu desenvolver um sistema de vida ao lado de sua família, cujo gasto de dinheiro é mínimo. Raphael Fellmer sustenta sua família há três anos com alimentos encontrados em caçambas de lixo de supermercados e adquire móveis e outros utensílios através da prática do escambo.

Fellmer mora de aluguel em um pequeno apartamento no porão de uma casa em Berlim, ao lado de sua esposa Nieve e seu filho. O casal paga as despesas de aluguel com serviços domésticos como jardinagem e reparos na residência. O único uso de dinheiro é para quitar contas de luz e água.

O casal utiliza dinheiro somente quando não há escolha. Uma dessas ocasiões foi durante a gestação do menino, quando Nieve teve que fazer um plano pré-natal. Raphael, nascido em uma família de classe média alta alemã e formado em Estudos Europeus, percebeu que há coisas mais importantes na vida do que o dinheiro.

Para ele, o dinheiro é uma invenção do homem e seu sistema pode entrar em colapso a qualquer instante. Desta forma, Fellmer adotou o modo de vida para proteger sua família dos efeitos negativos do sistema. A inspiração ocorreu após decidir realizar uma viagem para o México ao lado de amigos sem gastar um centavo. Prestando serviços em troca de transporte em navios e contando com caronas em caminhões, o alemão percebeu que o dinheiro não é fundamental para a vida do ser humano.

Já em relação aos alimentos, o Raphael encontra tudo o que precisa nas caçambas de lixo orgânico dos mercados do país. Segundo Fellmer, grande parte dos alimentos recolhidos na rua estão em perfeito estado. De acordo com a Organização de Alimentos e Agricultura das Nações Unidas (FAO), 30% de todo alimento produzido no mundo é desperdiçado.

Este novo modo de vida vem recebendo atenção de pessoas na Europa e fomentando discussões em fóruns na internet. Fellmer é tido como o líder do movimento, batizado de “vida-sem-dinheiro”.


Itália: A EUROPA DE MERKEL DERRAPA EM ROMA




IL SOLE-24 ORE, MILÃO – Presseurop – imagem Tom Janssen

Os eleitores rejeitaram Mario Monti e a tutela de Angela Merkel, sabotando assim a estratégia da chanceler de "congelamento" da crise do euro até às eleições alemãs de setembro. Mas, para evitar que o consenso relativamente à Europa se desintegre totalmente, o processo de integração europeia tem de ser retomado com urgência.


Angela Merkel tem feito de tudo para desviar o perigo de novos surtos de instabilidade na Europa da sua eleição de setembro. Em Itália, jogou forte em Monti, sem, no entanto, ir além de repetidas declarações de estima, com medo de repetir o efeito de bumerangue que teve, no ano passado, o seu apoio explícito a Nicolas Sarkozy, em França.

Depois disso, tentou compor a situação com François Hollande. E para salvaguardar a tranquilidade dos mercados, foi mesmo ao ponto de "despenalizar" o desrespeito de Paris pelos compromissos de redução do défice, formalizando por carta da Comissão Europeia a nova linha de abrandamento da execução das normas, interiorizando os efeitos produzidos em Portugal, Grécia e Espanha.

A estratégia da chanceler não funcionou. A resposta italiana nas urnas reabriu dramaticamente a chaga da instabilidade, dentro e fora de fronteiras. Como era previsível, os mercados voltaram ao ataque. A Europa treme e sonha em colocar a Itália sob tutela, para travar os danos, na eterna ameaça de retorno ao campo dos países sob alta vigilância, onde já habitam Grécia e companhia.

Grumos vêm à superfície

Na realidade, a crise de nervos eleitoral de Itália ultrapassa em muito a dimensão do descontentamento nacional e coloca a Europa, sempre esquiva, perante um conjunto de verdades incómodas. Coloca-lhe diante do nariz os grumos voluntariamente deixados na sopa e que começam a vir à superfície.

O que pode colocar o euro novamente à prova. Não tanto devido à nova explosão da questão italiana, mas porque a Itália, a terceira maior economia do clube do euro, tem interferência em todos os problemas da moeda única que até agora tentaram consertar à pressa, ou melhor, meteram apressadamente para baixo do tapete.

A votação de domingo e segunda-feira diz muito sobre a saturação geral em relação às políticas de austeridade e aos impostos, num país prostrado pela recessão e o desemprego. Expressa sobretudo a revolta contra os mandarins de um sistema que, tendo decidido entrar no círculo da moeda única, não fizeram as escolhas necessárias para lá se manterem. Não se modernizou. Não foram introduzidas reformas. Não se liberalizou com vista a tornar a economia mais competitiva e em sintonia com os seus parceiros. Este sistema criou apenas a ilusão aos italianos de que podiam continuar a desenrascar-se como antes, perpetuando clientelismos, dos mais pequenos aos mais chorudos, sem nunca pagar o preço.

Rigor das reformas à alemã

Mas os italianos não são os únicos na Europa que não mediram as consequências da escolha da moeda única. Daí o dilema de "mais ou menos Europa", "ficar ou sair do euro". O dilema não é apenas italiano: mas é um tabu, muito mais difundido do que se pensa, entre os membros do clube do euro e os que aspiram a entrar nele.

A questão agrava-se continuamente desde há quatro anos, num contexto de crise, e o clube não parece ter outra resposta que não o dogmatismo do rigor e das reformas forçadas à alemã, sem o amortecimento do crescimento e menos ainda da solidariedade intraeuropeia. Isto para não falar da recusa em recorrer à dinâmica democrática normal, em nome de uma opção tecnocrática supostamente mais eficaz.

Entretanto, agrava-se a divisão Norte-Sul e a Europa e respetiva indústria continuam a perder pontos no mercado global. Os sacrifícios não agradam a ninguém. Muito menos àqueles que, por toda a parte, observam que "a Europa tem dinheiro para salvar os bancos, mas não para relançar o crescimento e o emprego". Os mercados, por seu turno, precisam de garantias sobre o futuro e a integridade do euro para recuperarem a calma. Basta a que lhes é oferecida pelo presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi? E até quando, agora que a Itália pode ter aberto a caixa de Pandora, expondo à vista de todos os excessivos problemas não resolvidos em torno do euro e da UE?

Momento da verdade adiado

Enquanto o consenso popular relativamente à Europa se desintegra por toda a parte, a moeda única precisa paradoxalmente de acelerar a sua integração para resistir aos problemas internos, promovendo a ratificação da tripla união – bancária, política e fiscal. Precisa de decidir, de uma vez por todas, se realmente aceita um destino partilhado a todos os níveis e seguindo o modelo alemão, agora dominante e invasivo, determinada a levá-lo até ao fim.

As eleições alemãs deste ano e as eleições europeias de 2014 congelaram temporariamente o debate e as negociações, adiando por alguns meses o momento da verdade e as escolhas entre as inúmeras contradições de que é feita a Europa. Mas as inquietações permanecem e crescem até, um pouco por toda a parte. Inclusivamente na França de François Hollande.

Um abrandamento do rigor por parte de Angela Merkel bastará para acalmar os mercados e aguentar até setembro, sem grandes problemas? A Itália fez soar o alarme, um alarme estridente. É perigoso ignorá-lo. Para a Europa e para todos.

VISTO DA ALEMANHA

Mario Monti, vítima de Angela Merkel

Será que Angela Merkel também perdeu as eleições italianas?

Na imprensa alemã, a constatação do “caos político na Itália” associa-se ao fracasso político da austeridade defendida pela chanceler.

Süddeutsche Zeitung realça, portanto, que o realismo frio com que Berlim insiste nas reformas e marca a UE é visto como uma exigência hostil. Monti e Bersani – bem como Berlim e Bruxelas – não conseguiram transmitir aos italianos que é necessário um remédio drástico para ficarem curados.

Mais vale portanto recusar seguir Merkel na sua política económica,recomenda o jornalista Eric Bonse no Cicero. Nicolas Sarkozy em França, Mark Rutte na Holanda e agora Mario Monti demonstraram que “aprender com Angie significa... aprender a perder!”.

Resta saber por que motivo Merkel arrecada com todas as culpas. Esta deixa rastos de terra queimada. Que ninguém diga que não tem a ver com a sua política...

É, no entanto, o que explica o Frankfurter Allgemeine Zeitung. O diário conservador denuncia os “partidos políticos descontrolados que continuam desta forma a roubar” a Itália:

Este paradigma da destabilização da nação e da União Europeia só foi possível com o método de escrutínio revoltante dos políticos manhosos – sob o Governo de Berlusconi –, que o adaptaram às suas necessidades. [...] O número 357, valor histórico destas eleições, representa a soma da idade dos quatro candidatos e do Presidente. Para os milhões de jovens italianos que, neste paraíso de deputados corruptos, não encontram trabalho, formação, universidades com as devidas condições, nem reformas, nada mudará após estas eleições.

CINCO ESTRELAS: O MOVIMENTO QUE QUER “LIMPAR” A ITÁLIA




Para além da ideologia pura, todos parecem compartilhar o mesmo princípio de ação: mudar a Itália limpando sua casta política. Nesta entrevista exclusiva à Carta Maior, Alessandro Di Battista, membro do movimento 5 Estrelas, de Beppe Grillo, e hoje deputado por Roma, explica o que este partido fará agora que chega ao parlamento: 25,5% dos votos na Câmara de Deputados e 23,7% no Senado. A reportagem é de Eduardo Febbro, direto de Roma.

Eduardo Febbro - Carta Maior

Roma – A juventude e a força que emanam de Alessandro di Battista é proporcional ao resultado que o movimento contestatório Cinco Estrelas obteve nas urnas ao final das eleições legislativas e regionais que deixaram a Itália às portas da ingovernabilidade: 25,5% dos votos na Câmara de Deputados e 23,7% no Senado. 

Cinco Estrelas é um fenômeno particular: nem realmente de esquerda, nem realmente de direita, populista e cidadão, com matizes nacionalistas, articulado e construído em torno da ideia de rede, seja a da internet, seja a formada entre cidadãos na própria rua, o movimento do comediante genovês Beppe Grillo introduziu uma variável curiosa na política europeia. 

Está contra as elites e o euro sem por isso esgrimir um discurso de cunho esquerdista. Ao mesmo tampo, ao denunciar a corrupção e os abusos do sistema político nacional, Cinco Estrelas atraiu eleitores jovens e menos jovens, uma certa parcela da esquerda e também da direita.

Para além da ideologia pura, todos parecem compartilhar o mesmo princípio de ação: mudar a Itália limpando sua casta política. Nesta entrevista exclusiva à Carta Maior, Alessandro Di Battista, membro do movimento 5 Estrelas de Beppe Grillo e hoje deputado por Roma, explica o que este partido fará agora que tem o poder nas mãos.

Carta Maior – Depois de Grécia e França, a Itália entra no clube dos países que contam com movimentos dissidentes que ganham sua legitimidade nas urnas com muita folga.

Alessandro Di Battista – Para nós é muito prazeroso porque demonstramos a todos os partidos corruptos da Itália que somos cidadãos bem organizados, informados e preparados. Graças a uma rede de internet entramos agora no Parlamento para mudar por fim este país. A Itália é um país muito bom, belíssimo, mas nos últimos anos foi violada por um sistema criminoso e mafioso representados pelos partidos.

CM – O Cinco Estrelas chegou ao estrelato mediante o contato com as pessoas e a internet. Passaram longe da televisão. É, a sua maneira, o primeiro partido completamente digital.

AB – Não só com a internet, mas também com uma rede de cidadãos que utilizou a rede internet e os contatos no território fazendo campanha eleitoral nos mercados, nos bairros populares, na rua e nas praças. Demonstramos que para colocar as instituições de pé não necessitamos de dinheiro público. Demonstramos que nós, cidadãos, podemos tomar nosso país. Isso nos dá uma satisfação imensa.

CM – A imprensa mundial define Cinco Estrelas como um movimento “anti-sistema”. Essa definição é correta?

AB – Você acha que é anti-sistema dizer que os condenados não têm direito de estar dentro do Parlamento? Para nós não é anti-sistema, mas algo perfeitamente lógico. O problema está em que o sistema é corrupto e permite a pessoas que violaram a lei entrar no Parlamento e decidir em meu lugar aproveitando-se das instituições. Isso não pode ser assim e não vai ocorrer mais. Nós somos como um desinfetante. Entramos, abrimos o parlamento como se fosse uma lata de atum e ensinamos a todo o povo da Itália que ele tem sentir orgulho de ser italiano. Caralho! Nós não somos em nada uma organização de esquerda. Pensamos que as ideias devem ser logicas e não ideológicas. Aqui no Cinco Estrelas há pessoas que vêm da esquerda, outras da direita, mas são sobretudo cidadãos lindos e honestos.

Por isso nos interessa muito o que ocorre na América Latina. Pensamos que temos que copiar muitas ideias alternativas que a América Latina tem desenvolvido nos últimos anos. Precisamos ver o que pode funcionar aqui dessas coisas que estão sendo feitas lá, para que a Itália volte a ser um país normal. Felizmente, o povo italiano não é como a classe dirigente que vem administrando o país nos últimos anos. Somos muito melhores. Os movimentos populares latino-americanos conseguem validar seus direitos. Queremos o mesmo para a Itália. Nós somos os pioneiros nesta corrente. Sempre que falam da Itália, se referem à máfia, à bunga bunga, a Berlusconi, que é uma vergonha nacional. Mas agora se começará a falar da Itália de outra maneira graças ao movimento Cinco Estrelas.

CM – Da rua e dos mercados ao poder. O que farão agora? Oposição sistemática, destruir, pactuar com os demais partidos?

AB – Somos um grupo de cidadãos organizados que pode governar melhor que os políticos profissionais. Não vamos bombardear um país que não nos fez nada, mas sim vamos obstruir com toda nossa força. Somos um movimento que está contra a guerra, as armas e os exércitos. Mas se as propostas que um futuro governo apresentar forem boas, estamos dispostos a sentar e discutir. O que nos interessa, acima de tudo, é o bem da coletividade. Nós somos uma comunidade, cada pessoa vale por uma e dá o que tem, mas se somos uma rede vamos valer tanto como o infinito.

CM – O que os une realmente se se trata de lógica e não de ideologia? O ódio à classe política, o desprezo, o cansaço...

AB – Nada disso, O que nos une é a vontade de mudar esse país e fazer da Itália uma nação mais democrática. É claro que a classe de dirigentes que nos governou até agora nos dá nojo. Tem que ir para suas casas. Que se vão todos! Nas próximas eleições vamos limpar o parlamento de uma vez por todas.

Tradução: Marco Aurélio Weissheimer

Portugal: AI NÃO AGUENTAM, NÃO AGUENTAM MESMO




Ana Sá Lopes – Jornal i, opinião – foto Tony Gentile/Reuters

A cantiga é uma arma, mas o voto é a arma suprema e decisiva da democracia

O resultado das eleições italianas foi um terrível balde de água fria para o mainstream europeu. O adorado Monti (uff, ainda existe agora algum candidato ao cargo de Monti português?) naufragou – depois de ter utilizado em campanha, além de outros bons argumentos, o facto de ser o candidato que mais agradava a Berlim. Tratava-se de uma verdade inconveniente que, sabe Deus como, Monti decidiu utilizar como arma eleitoral. Saiu-lhe tudo ao contrário.

Um cómico anti-sistema, anti-partidos, anti-políticos e com eurodúvidas é agora uma espécie de fiel da balança; um Berlusconi acossado por escândalos renasce das cinzas com uma única palavra de ordem – contra a ditadura da Alemanha, marchar, marchar; o programa contra a austeridade de Bersani lidera as duas câmaras mas sem maioria absoluta. Os italianos chumbaram ontem, em primeiro lugar, a política europeia fundada na austeridade, humilhando o tecnocrata enviado de Berlim para a chefia do governo. Mas, ainda mais significativo e inesperado, mostraram uma entusiástica adesão ao partido anti-sistema de Beppe Grillo. A coligação de esquerda de Bersani está em apuros para conseguir cumprir um programa aceitável em Bruxelas – de um lado tem o cada vez mais anti-germânico Berlusconi, do outro o humorista que admite a saída do euro.

Como o socialista, ex-candidato presidencial, Manuel Alegre afirma nesta edição do i, o que se passou em Itália demonstra “a implosão do sistema político tal como ele existe”. O risco da emergência dos populismos na Europa na sequência da “ditadura do défice” e da imposição de políticas violentas nas costas das populações já tinha sido pré-anunciado por muitos. A ascensão do cómico – que foi desprezado durante a campanha pelos jornalistas italianos como se fosse apenas um episódio folclórico – respondeu a estas dúvidas. A ressurreição de Berlusconi com um programa anti-europeu também.

Era este o momento para Bruxelas e Berlim perceberem finalmente o que se está a passar, já que não aprenderam nada com as eleições gregas. Infelizmente, começa a ser demasiado tarde para uma mudança substancial nas políticas europeias a tempo de travar a catástrofe social e aquilo que vão considerar uma catástrofe política: os vetos nacionais à austeridade e os populismos anti-europeus. Itália mostrou que, ao contrário da máxima do banqueiro Ulrich, as pessoas não aguentam. E que se a cantiga é uma arma, o voto é a arma suprema.

Áudio-Vídeo: A cantiga é uma arma

Manifestação. Reformados e Pensionistas juntam-se sábado contra os cortes nas pensões




Jornal i - Lusa

A Associação de Aposentados, Pensionistas e Reformados (APRe!) vai juntar-se à manifestação de 02 de março por estar contra os cortes nas pensões e entende que o Estado não tem legitimidade para mexer nas reformas.

Em declarações à agência Lusa, um dos membros da APRe! explicou que esta é uma organização que nasceu em finais de outubro de 2012 em consequência direta das medidas anunciadas na primeira proposta do Orçamento do Estado (OE) para 2013 porque entenderam que havia medidas penalizadoras para os reformados.

De acordo com Vitor Ferreira, desde o nascimento da associação que a adesão ao movimento tem sido crescente, com os associados a “pressionarem” a associação para a organização de uma manifestação de reformados, de modo a poderem protestar contras as medidas anunciadas no OE.

Daí até à adesão à manifestação do dia 02 de março, promovida pelo movimento “Que se lixe a Troika” para pedir “o fim” da austeridade e do empobrecimento do país e se replica em mais de 40 cidades do país, foi um passo.

Para a APRe!, o Estado não tem legitimidade para cortar nas pensões, já que está apenas a devolver aquilo que todos os pensionistas entregaram ao longo das suas carreiras contributivas.

“O que temos são reformados e pensionistas com longuíssimas carreiras contributivas e essas pessoas entendem que fizeram uma transferência para o Estado de um determinado montante ao longo das suas carreiras, valor esse que foi capitalizado e que foi em cúmulo com aquilo que era a quota dos nossos patrões e entendemos que esse dinheiro é propriedade nossa, logo o Estado só está como fiel gestor desse dinheiro”, explicou Vítor Ferreira.

De acordo com o membro da associação, os pensionistas e reformados não se veem como uma despesa para o Estado e estão determinados em reclamar aquilo que entendem ser seu por direito.

Lembrou, por outro lado, que pensionistas e reformados, nunca reclamaram as alterações feitas à lei de bases da segurança social.

“Aquilo que legitimamente o Estado determinou, que era o contrato que fez connosco, nós entendemos que o Estado o deve cumprir e reclamamo-nos credores do Estado desse valor”, acrescentou.

Vitor Ferreira disse que têm atualmente um gabinete jurídico a estudar e avaliar a possibilidade da associação poder interpor ações contra o Estado.

De acordo com o membro da APRe!, a associação vai estar representada nas manifestações de sábado marcadas para Lisboa, Porto, Coimbra, Leiria e Faro.

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Manifestantes com coelho enforcado esperavam Passos Coelho na Faculdade de direito




Liliana Valente - Jornal i

O primeiro-ministro foi esta tarde recebido por protestos na Faculdade de Direito de Lisboa onde participa num debate organizado pelo JSD sobre a reforma do Estado.

À entrada alguns alunos organizados esperavam o primeiro-ministro com um coelho enforcado e com cartazes de protesto onde pediam: “Queremos o nosso país de volta”.

Passos Coelho passou sem incidentes, mas à entrada do auditório tudo se complicou. Atrás do primeiro-ministro seguiam jovens da JSD que aplaudiram o primeiro-ministro assim que este encontrou dezenas de estudantes à porta do auditório que gritavam palavra de ordem como: “Bolsas sim, propinas não. Este governo não tem educação” e “gatuno”.

As portas do auditório tiveram de ser fechada e Passos discursa agora, mas lá fora os estudantes continuam a protestar.

OLÁ, O MEU NOME É VITOR GASPAR E TENHO UM PROBLEMA




Tiago Mesquita – Expresso, opinião

"Olá, o meu nome é Vítor Gaspar e estou limpo há quatro dias, sem alterar previsões financeiras. O meu problema orçamental começou há quase dois anos. O objectivo inicial era ter um défice de 2,3% em 2014. Delírios. A partir daí, entrei numa espiral recessiva e nunca mais consegui controlar-me. Nem a mim, nem ao défice. Entrei em negação. Em Setembro do ano passado já derrapava por todos os lados - o objectivo saltou de 3% para 4,5%.Viciado em previsões, injetava fantasias nos portugueses.

Seis meses passados, a ressacar, ando de mão estendida a pedir ao dealer mais um ano para tentar reequilibrar a minha vida e deixar o défice abaixo dos 3%, mesmo sabendo que mais depressa se demite o meu colega Relvas. Tentei várias vezes iludir-me, iludir a família política, a oposição e os cidadãos. Nunca consegui combater o problema. Os amigos e aliados começaram a afastar-se. E é por isso que decidi juntar-me a este grupo de cidadãos com problemas de défice anónimos. Sinto-me só.

Sei que o meu descontrolo financeiro afecta milhões de pessoas. Prometi reduzir o défice e, quando vi que não conseguia, comecei a dar nas receitas extraordinárias como um maluco. Andava desorientado.Todas as metas que tracei foram um desastre total. Sinto-me frustrado. As expectativas foram goradas. A recessão prevista de 1%  para 2013 foi outra situação complicada. Tenho de enfrentar a realidade, a recessão de 2% está aí, depois da quebra no PIB de 3,2% em 2012. Tudo isto deitou-me ainda mais abaixo, as minhas olheiras alastram, a minha voz arrasta-se. A dívida pública, comigo, já passou a barreira dos 120% do PIB. Não sei o que fazer. Neste momento, já não distingo um ficheiro Excel de um Powerpoint.

Durante este processo, recorri a algumas entidades estrangeiras especializadas para me ajudarem a ultrapassar o problema, mas até as previsões definidas conjuntamente, com as quais me comprometi, falharam totalmente. Sinto-me a surfar uma onda de trinta metros, como aquele rapaz da Nazaré, com a diferença de que não percebo puto de surf. Sei perfeitamente que, não tarda muito, vou levar com o vagalhão na nuca. Perdi completamente o controlo da situação e gostava que me ajudassem a recuperar a capacidade de acreditar nas minha próprias fantasias."

Uma salva de palmas para o Vítor, que teve a coragem de partilhar a sua história connosco. 

Portugal: CRIANÇAS FALTAM À ESCOLA PARA PEDIR ESMOLA




Margarida Davim - Sol

As novas regras do Rendimentos Social de Inserção (RSI) estão a levar crianças a faltar às aulas para pedir nas ruas. «O número de faltas tem disparado, e eu já vi (e outros professores também) que os alunos faltam para andarem pelas ruas a mendigar». O relato está num e-mail enviado por uma docente ao director de uma escola do Norte, que não quis ser identificado.

O director explica que o problema está nos cortes do RSI. «Como muitas pessoas perderam os apoios e só podem voltar a candidatar-se daqui a um ano, a escola fica sem argumentos para os convencer a trazer os filhos», explica, admitindo que «muitos só estavam na escola para garantir que recebiam o RSI ou o abono de família».

No e-mail, a professora que junta uma lista de alunos do 1.º ciclo que deixaram de ir às aulas, relata o encontro que teve com uma das meninas: «Estava com a mãe e perguntei-lhe por que estava a faltar. Disse-me que não tinham nada para comer e tinham de andar a pedir».

O caso já foi relatado à Comissão de Protecção de Crianças e Jovens (CPCJ). O director da escola teme que a resposta tarde: «Nós reportamos tudo, mas a lei está desequilibrada para o lado das famílias porque a CPCJ só pode actuar se houver consentimento dos pais e os casos acabam por se arrastar porque têm de ir para o Tribunal de Menores».

Os dados da Comissão Nacional de Protecção de Menores não estão, porém, suficientemente actualizados para perceber se há um aumento da mendicidade com crianças. Os números mais recentes são do primeiro semestre de 2012, altura em que foram reportados 56 casos. Em 2011, tinham sido contabilizados 255.

Sem dinheiro para o passe

No Agrupamento de Escolas do Cerco, no Porto, as novas regras dos apoios sociais também já estão a ter consequências. «Dois alunos deixaram de vir às aulas porque os pais perderam o RSI e não têm dinheiro para o passe», conta Manuel Oliveira, o director que quase todos os dias detecta situações que reporta à CPCJ. «No meu agrupamento, cerca de 70% dos alunos recebe apoios sociais. Temos de estar muito atentos». A comunicação com a CPCJ é constante, mas nem por isso a actuação é tão rápida como seria desejável «Os processos são muito morosos porque não há capacidade de resposta», lamenta Manuel Oliveira, explicando que, apesar de dirigir uma TEIP (Território Educativo de Intervenção Prioritária), tem apenas um psicólogo do quadro, duas assistentes sociais e uma educadora social para 2.250 alunos. «É complicado».

O mesmo problema tem Luís Sottomaior Braga, director do Agrupamento de Escolas de Darque, uma TEIP em Viana do Castelo. «Tenho ‘meia’ psicóloga porque a partilho com o agrupamento do lado».

O responsável defende, aliás, mais meios para as CPCJ. «É preciso saber se têm carros para se deslocarem e se têm telemóveis», diz, lembrando que estas estruturas «dependem da boa vontade e da capacidade de cada concelho, não há uma rede nacional a funcionar toda da mesma maneira». O director acredita que a falta de meios está a fazer com muitos casos de menores em risco sejam conhecidos demasiado tarde. «Mais de 90% dos casos sinalizados são de alunos do 2.º e 3.º ciclo e isso é porque, nestes anos de escolaridade, o facto de haver vários professores e um director de turma ajuda a detectar situações de risco. Estou convencido de que há uma cifra negra de casos que as escolas não reportam no 1.º ciclo».

4.553 sinalizados por escolas

Teresa Paula, subdirectora do Agrupamento de Maximinos, em Braga, diz ter «uma relação bastante boa com a CPCJ», mas admite que o tratamento dos casos «nem sempre é tão célere quanto devia». Garante que, «nos casos de maior perigo para o menor» a actuação é muito rápida, o problema é quando o risco não é tão evidente e «as situações arrastam-se por falta de meios e burocracia».

A professora de Braga diz, de resto, que a crise está a fazer multiplicar os casos de emergência social nas escolas. E isso vê-se nos números: 28% dos 4.533 casos de perigo comunicados às CPCJ no primeiro semestre de 2012 tiveram origem em estabelecimentos de ensino.

"Maré da Educação" junta-se à manifestação "Que se Lixe a Troika, o Povo é Quem Mais Ordena"




AH – GC - Lusa

Professores, funcionários não docentes, pais e alunos em defesa do ensino público vão juntar-se na “Maré da Educação” que se apresenta hoje em frente ao ministério, em Lisboa, para anunciar a participação na manifestação de sábado.

O apelo é para que toda a comunidade educativa se manifeste no sábado durante o protesto organizado pelo movimento “Que se Lixe a Troika”, sob o lema “O Povo é Quem Mais Ordena”.

A “Maré da Educação” vai juntar-se aos restantes setores da sociedade na praça Marquês de Pombal, no centro da capital, para protestar contra a política do Governo, em desfile até ao Terreiro do Paço.

Entre os apoiantes deste movimento estão estudantes e professores, alguns deles desempregados.

Os manifestantes alegam que sem educação de qualidade “não há país que resista à crise” e que não foram os alunos, nem as famílias, nem os professores os responsáveis por uma dívida que aumenta todos os dias, sob juros anuais que superam o orçamento da educação.

“Só 32 por cento da população portuguesa tem o ensino secundário, contra 72 por cento no conjunto dos países da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE)”, lê-se no texto divulgado esta semana.

Na convocatória recorda-se ainda que a taxa de licenciados continua muito baixa e que Portugal é dos países com as propinas mais elevadas da Europa.

“Investir nas pessoas é investir no país de forma responsável, mas tudo está a ser feito ao contrário”, dizem.

Maputo: POLÍCIA DISPERSA MANIFESTAÇÃO DE VETERANOS




William Mapote – Voz da América

A intervenção policial paralisou temporariamente a baixa de Maputo e nem mesmo jornalistas escaparam à actividade policial.

Em Moçambique, a polícia recorreu hoje ao  gás lacrimogénio e a jactos de água para dispersar  ex-combatentes que estavam concentrados juntos ao gabinete do primeiro-ministro.

A intervenção policial paralisou temporariamente a baixa de Maputo e nem mesmo jornalistas escaparam à actividade policial.

A manifestação, que se pretendia pacífica, para exigir o pagamento de pensões referentes ao tempo em que estiveram ao serviço da guerra civil terminada em 1992, teve uma resposta de força por parte das autoridades governamentais que estavam dispostas a tudo fazer para dispersar os desmobilizados.

Eram 11 horas da manhã quando um contingente policial, composto por cerca de duas dezenas de elementos, fortemente armados, chegou ao local com avisos de evacuação, principalmente para os jornalistas que cobriam a concentração dos ex-combatentes.

A manifestação desta terça-feira foi dirigida pelo porta-voz dos desmobilizados, Constantino Wiliamo. Até ao fecho da nossa edição, desconhecia-se o seu paredeiro.

O vice-ministro do Interior, José Mandra, defendeu entretanto a operação policial, não obstante contrariar o direito à manifestação que é um direito constitucional.

Os ex-combatentes prometem não desarmar e dizem que voltarão a protestar nos próximos dias seja qual for o custo que isso vier a ter.

AINDA NÃO HÁ TRANSPARÊNCIA NAS CONTAS DO PETRÓLEO DE ANGOLA, diz ONG




Manuel José – Voz da América

Open Society diz que há mais informação mas que esta ainda não é fiável

As contas do petróleo em Angola ainda não são transparentes e por isso não merecem confiança, concluíram dois relatórios sobre as operações petrolíferas do país da organização não-governamental Open Society.

Os dois relatórios  são titulados "Operações da Industria petrolífera em Angola" e “Receitas Petrolíferas em Angola, muita informação mas sem transparência suficiente".

Os dois documentos diferem mas um completa  disse a Directora de programas da Open Society, Sizaltina Cutaia.

"Os dois relatórios são destintos mas complementam-se," disse ela.

Outra responsável da ONG, Albertina Delgado deixou claro que que as informações sobre o sector do petróleo não garantem confiança.

A ONG reconhece que aumentou a quantidade de informações, pecando apenas na falta de transparência destes dados.

"Há mais informações mas é necessário que haja maior transparência destas informações," disse

"Com base na informação que tivemos acesso podemos afirmar que os dados não são confiáveis nem fiáveis," acrescentou.

A consultora da  Open Society, Maria Lya Ramos, diz que sem transparência no sector de petróleo  muito dificilmente o país vai erradicar a pobreza extrema.

Existe em Angola, segundo Lya Ramos, uma extrema relação entre a pobreza e a falta de transparência no sector petrolífero.

"O problema do desemprego, da água potável, das casas condignas, o problema do acesso a saúde publica, que são dificuldades da maioria dos angolanos tem uma ligação directa com o sector petrolífero angolano," disse.

O deputado da UNITA Adalberto Júnior disse que é preciso haver uma maior fiscalização da Assembleia Nacional, para acabar com os descaminhos dos fundos petrolíferos.

JORNAL DE ANGOLA DEFENDE FIM DOS INVESTIMENTOS ANGOLANOS EM PORTUGAL




EL – MLL – Lusa, com foto

Luanda, 27 fev (Lusa) - O editorial da edição de hoje do diário estatal Jornal de Angola defende o fim dos investimentos angolanos em Portugal, considerando que ao contrário de outros, o investidor angolano não é bem-vindo.

Sob o título "Alvos seletivos", o editorial do único diário que se publica em Angola defende ainda que Portugal "não é de confiança".

"Todos os investidores estrangeiros são bons para Portugal, menos os angolanos. Não há qualquer desconfiança dos que compram aeroportos, portos, companhias de aviação, de eletricidade, posições maioritárias em bancos", alega o editorial.

"Mas se algum angolano anunciar que vai investir num determinado setor, uma matilha ruidosa de comentadores avençados lança logo calúnias sobre o comprador e envenena os possíveis negócios com intrigas e desconfianças inaceitáveis", acrescenta.

Partindo do princípio de que as "elites portuguesas corruptas decididamente não querem nada com os investidores angolanos", o Jornal de Angola defende a retaliação.

"Vai sendo tempo de responderemos na mesma moeda. E quem já investiu, que leia os jornais, oiça as rádios e televisões (...) Um país que valoriza lixo humano como se fosse oiro de lei não tem condições para receber um euro sequer de investimento. Quem promove bandidos a heróis não é de confiança", acentua.

O "lixo humano" a que se refere o Jornal de Angola são o que o diário angolano cita como "heróis dos portugueses" que seguem "os caminhos da insídia e da traição em Angola".

"Qualquer pobre diabo que soletre umas palavras contra o Executivo de Angola ganha em Lisboa o estatuto de ativista dos direitos humanos e tem todo o espaço nos órgãos de comunicação social. Angolano que em Lisboa insulte os titulares dos órgãos de soberania de Angola é um herói para os portugueses. É assim desde o 25 de Abril e tem-se agravado desde que os angolanos começaram a investir em Portugal", argumenta.

O editorial de hoje segue-se ao que foi publicado no passado domingo, assinado por José Ribeiro, diretor do diário angolano, e replicam a notícia avançada na última edição do semanário Expresso, segundo a qual o Procurador-Geral da República de Angola, João Maria de Sousa, está a ser investigado em Portugal pelo Ministério Público por "suspeita de fraude e branqueamento de capitais".

No texto de domingo, José Ribeiro "desconfia" da boa-fé de Portugal nas relações com Angola, referindo haver "perseguições" aos interesses angolanos.

Na sequência deste texto, João Maria de Sousa reagiu, num comunicado enviado segunda-feira à agência Lusa em Luanda, em que classifica como "despudorada" e "desavergonhada" a forma como o segredo de justiça é "sistematicamente violado" em Portugal em casos relativos a "honrados" cidadãos angolanos.

No texto da edição de hoje do estatal Jornal de Angola, considera-se que a notícia do semanário Expresso, apresentado como "jornal oficial do PSD", partido que lidera a coligação governamental em Portugal, constituiu um "assassínio de caráter".

"Este episódio que envolve magistrados do Ministério Público e o jornal oficial do PSD não é o primeiro. Mas os legítimos representantes do Povo Angolano têm de fazer tudo para que seja o último. Afinal estamos todos a ser ofendidos por aqueles que sempre tratamos com respeito e consideração", conclui o editorial de hoje.

Itália: “UMA SEVERA ADVERTÊNCIA PARA A EUROPA”




Süddeutsche Zeitung, De Volkskrant, I Kathimerini & 3 outros – Presseurop – imagem Matirena

A vitória, por escassa margem, da coligação de centro-esquerda nas eleições de 24 e 25 de fevereiro, não permite destacar uma maioria clara. A imprensa europeia tenta perceber e preocupa-se com as consequências que os resultados eleitorais poderão ter para a Europa.

O resultado das eleições legislativas e senatoriais italianas surge como uma rejeição das políticas de austeridade do primeiro-ministro cessante, Mario Monti, o grande perdedor da votação. É o que atestam o sucesso do comediante e populista assumido Beppe Grillo e o regresso em força de Silvio Berlusconi, que, no entanto, é considerado responsável pela crise que o país atravessa.

"O populismo, o alvoroço e as mentiras dominam", comenta o Süddeutsche Zeitung, na sequência das eleições legislativas e senatoriais em Itália. Sem Mario Monti, o grande perdedor, a Itália nunca teria sobrevivido à crise, sublinha este diário de Munique, segundo o qual o escrutínio italiano é uma lição especial para todos os envolvidos na crise da UE: quem hesita perde; quem gagueja será castigado, porque as coisas feitas pela metade não contam. Os eleitores italianos deixaram nas urnas uma mensagem muito clara: ‘não estamos a perceber nada’. Não podemos invetivá-los por isso, porque vivem num clima político que favorece as meias verdades e que eleva a sátira à categoria de razão de Estado. Os dois comediantes que se apresentaram ao eleitorado foram recompensados pelas suas afirmações quase difamatórias: Silvio Berlusconi e Beppe Grillo.

"Os eleitores lançam a Itália no caos", lamenta De Volkskrant, que considera que "a Europa é o grande perdedor destas eleições", devido à derrota eleitoral de Mario Monti:

Em Bruxelas e na maior parte das capitais europeias, existia a esperança de que Monti, que entrou em funções em 2011 para salvar a Itália da ruína financeira, pudesse prosseguir a sua política de reformas, formando uma coligação com Pier Luigi Bersani [...]. A ascensão de Silvio Berlusconi e do partido contestatário de [Beppe] Grillo devem inquietar os dirigentes europeus, tanto mais que a mistura perigosa de cólera perante a austeridade e de corrupção também se faz sentir em Espanha.

Em Atenas, o Kathimerini mostra-se preocupado com o "risco de anarquia em Itália". Cerca de um ano depois das eleições na Grécia, que conduziram a um bloqueio político e a um novo escrutínio, este diário estabelece uma analogia entre os dois países:

Na Grécia, os Indignados distribuíram-se, eleitoralmente, em três direções: o partido da esquerda radical SYRIZA, já com assento no parlamento, o partido populista Gregos Independentes e os neonazis do Aurora Dourada. Em Itália, o conjunto da população foi subjugado pela posição antissistema do não fascista Grillo, que apostou na comédia, e, em menor grau, pelo veterano da política [Silvio] Berlusconi e pelos seus gestos teatrais. Além do populismo, uma das características que, a um nível diferente, aproximam Grillo e Berlusconi é a sua resistência à hegemonia da Alemanha e o despertar do orgulho nacional.

"Tudo indica que o novo primeiro-ministro [Pier Luigi] Bersani irá ficar de mãos atadas, uma vez que a forte oposição de direita o impedirá de dar seguimento às reformas iniciadas por Mario Monti", escreve, em Varsóvia, oRzeczpospolita. Segundo este diário conservador, será de considerar vários cenários. Possivelmente, será preciso realizar novas eleições. Contudo, o problema é que, para evitar a repetição da situação atual, a lei eleitoral teria de ser alterada. Mas como fazer isso, num parlamento dividido? Eleger um novo parlamento apenas para uma lei? A Itália está presa numa armadilha.

Por seu turno, Le Monde refere que "a Itália antiausteridade assusta a Europa". No seu editorial, este diário francês considera que o impasse político em que a Itália se encontra depois das eleições reflete o "Basta Così!" [Já chega!] dos eleitores italianos, uma palavra de ordem "preocupante para a Península e assustadora para a Europa":

O impasse italiano é também uma séria advertência dirigida à Europa. Acontece que, neste país signatário do Tratado de Roma, em 1957, e cujo compromisso europeu era sólido, mais de metade dos eleitores apoiaram candidatos que fizeram toda a campanha com base no ‘não’ à ‘Europa alemã’ (Berlusconi) ou no ‘não’ à Europa, sem mais, ao euro e aos constrangimentos que este impõe (Grillo). É para Bruxelas, Berlim e Paris que a questão é agora remetida: até quando será possível impor políticas de austeridade a opiniões [públicas] que cada vez mais as rejeitam, em Itália, e também em Espanha, na Grécia e em Portugal? Até quando será isso possível, sem tornar ainda mais profunda a preocupante fratura democrática? Até quando será sustentável essa contradição, sem ameaçar, no futuro, a própria unidade da União Europeia? Os responsáveis europeus não podem continuar a evitar dar resposta a estas perguntas.

"A Europa tropeça em Berlusconi", diz, em Madrid, o título do ABC, segundo o qual a União Europeia "se confronta com o populismo". Face ao triunfo do antigo primeiro-ministro e de Beppe Grillo, a derrota de Mario Monti parece ser a derrota da "ortodoxia reformista europeia". "A UE e os dirigentes que prepararam a ‘operação Monti’ devem refletir sobre as razões desta confusão", comenta o mesmo diário. Por seu turno, o editorialista Ignacio Camacho pergunta-se se o sucesso do Movimento 5 Estrelas de Grillo poderá propagar-se a outras partes da Europa, designadamente ao Sul:

A sua forte irrupção revela uma patologia social comum à região mediterrânica que, no marasmo político de Itália, encontrou a sua via de expressão numa fobia antissistema. As tentativas de imitação serão fáceis em países que, como a Espanha, vivem uma forte perda de prestígio das suas elites.

“A ITÁLIA ESTÁ NO FUNDO DO POÇO E DESESPERADA”





“A classe política da Itália nunca foi bem considerada pelos italianos. A sabedoria popular dizia que nas boas famílias o primogênito ia para os negócios, o segundo seria padre e o terceiro ia ser político em Roma, já que ninguém sabia o que fazer com ele. A Itália já viu passar tantos líderes e tantos regimes – reis, imperadores, papas, ditadores e até presidentes do Conselho legitimamente eleitos – que aprendeu a se virar sem os políticos. Uma das características das empresas, dos comerciantes, dos profissionais liberais, dos trabalhadores e até das máfias é não dar a mínima para os governos que se sucedem na capital. A Itália funciona sem e muitas vezes contra a política.

Mas desta vez até essa proverbial capacidade a ignorar a politicagem romana não basta mais. A Itália está no fundo do poço e desesperada. O país está falido e parado, submetido a uma cura de austeridade que pode matar o paciente antes de curá-lo. Raramente a nação precisou tanto de um bom governo. Só que o resultado das eleições parlamentares acaba de demonstrar, mais uma vez, que os italianos, não tem a mínima confiança nos partidos e figurões da política nacional. Se alguém ganhou esse pleito foi o voto de protesto e até de escracho. As grandes coalizões tradicionais de centro-esquerda e centro-direita estão pau a pau com o partido do cômico Beppe Grillo, cujoo único programa explícito era varrer todos os políticos da vida pública. Pior ainda, o antigo presidente do Conselho, Silvio Berlusconi, completamente desmoralizado no mundo inteiro e mais conhecido pelas suas orgias sexuais, que ele próprio chamava de “bunga-bunga”, conseguiu uma votação surpreendente a ponto de aparecer como o maior partido do Senado, com capacidade de bloquear o funcionamento do Poder Legislativo.”

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