segunda-feira, 30 de julho de 2012

A AMPLA CIDADE



Rui Peralta

Desde que os USA lançaram duas bombas atómicas sobre o Japão, em 1945, existiram múltiplas tentativas de furar o monopólio nuclear militar norte-americano. Quatro anos depois, em 1949, A URSS anuncia ao mundo a quebra desse monopólio ao apresentar as suas armas nucleares, facto que levou á chamada “coexistência pacífica”. Mas o clube não ficou por muito tempo a dois. A Grã-Bretanha foi convidada a entrar, pelos USA e apesar de todas as pressões e pedidos, a França e a China foram os próximos membros. Foi assim que na década de 70 do século passado os 5 membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU eram potências atómicas.

Foi então quando os 5, sob proposta dos USA, decidiram encerrar o clube a outros candidatos e promoveram um Tratado de näo-Proliferaçäo de Armas Nucleares (NNPT), um tratado que em troca de ser assinado, ou seja se todos os que não pertenciam ao clube renunciassem definitivamente a vir a pertencer, oferecia duas coisas: o direito a desenvolver a energia nuclear para fins pacíficos e a promessa de que os 5 negociariam uma redução dos arsenais nucleares, quiçá até ao nível zero. Todos os países, excepto Israel, India e Paquistão, assinaram o NNPT. Como resultado primeiro em breve o clube dos 5 já era de 8, pelo menos de facto. O resultado segundo foi que nem os 5 – e muito menos os 3 que não assinaram o tratado – reduziram os respectivos arsenais nucleares. O resultado terceiro foi um problema técnico, que põe em causa a figura dos fins pacíficos.

O desenvolvimento nuclear implica elevados níveis tecnológicos e científicos que os deixa numa zona cinzenta entre o pacifico e o militar. Os que assinaram o tratado, ao desenvolverem as tecnologias nucleares para uso civil (centrais nucleares, por exemplo), acabaram por chegar a um ponto em que, tirando as suas declarações, o uso a atribuir ou o passo a dar, deixa-os com acesso ao clube dos 5 + 3. E esse direito näo lhes pode ser negado pois, ao fazê-lo, estariam a negar o tratado. Esta é a questão que está em debate com o Irão. O argumento dos USA (o primeiro dos cinco que propuseram o NNPT) e de Israel (um dos três que näo assinaram o NNPT), morre por terra neste aspecto. Näo se pode acusar o Irão de estar a desenvolver o nuclear militar, até porque pode estar a fazê-lo, para fins pacíficos. A única barreira é a palavra do Irão, que continua a afirmar que é para fins pacíficos. O que os USA e Israel estão a fazer é apenas uma suposição: o Irão pode fazer armas nucleares. Mas essa suposição é válida para todos os que assinaram o tratado, pois chega a um ponto de desenvolvimento em que as fronteiras entre a tecnologia civil e a militar são demasiado ténues e a questão dos fins pacíficos passa a ser meramente especulativa.

A Coreia do Norte decidiu assumir o seu direito e rompeu com o NNPT e pode considerar-se a nona potência nuclear declarada. Mas há o Brasil, a África do Sul (o que deixaria os Brics como um clube do nuclear), a Argentina e a Austrália, todos entre o ter e não ter que os coloca no dilema shakespeariano do ser ou näo ser, para além do Irão e de alguns daqueles países da Ásia Central (ex-repúblicas Soviéticas).

No fundo o mundo move-se no sentido de uma proliferação generalizada e pouco há a fazer em relação a isso. É ingénuo pensar que um acordo tácito (como o que existiu entre USA / URSS e India / Paquistão) seja suficiente para evitar os problemas decorrentes da proliferação. É que esta é uma consequência das dinâmicas da crise sistémica global e vai gerar dinâmicas intrínsecas ao processo de proliferação e suas implicações geoestratégicas e geopolíticas. Ou seja no actual quadro näo há solução e como ainda näo existe outro quadro, as coisas vão andar por si, até todos os elementos do problema assentarem, um pouco como se faz com as poeiras nucleares. Até um dia…

Longe destas questões atómicas andam os afegãos. Com um elemento tão destrutivo como o átomo para fins militares: a luta antiterrorista que os USA implantaram no Afeganistão. O presidente afegão Hamid Karzai decidiu que já chegava de ataques aéreos a destruírem lares no seu país e protestou indignado, no dia 12 de Junho deste ano: “Todos os dias há acçöes policiais nos USA…Mas näo usam aviões para bombardear os sítios (…) ”. Claro que os seus protestos e a sua indignação são como os risos das hienas e as lágrimas dos crocodilos. É um pouco como a história do incendiário que chama pelos bombeiros porque a casa está a arder. Karzai é tão responsável como as tropas invasoras pelo que sucede no seu país.

São milhares de casos que desde a invasão norte-americana já causaram a morte a milhares de civis. Ainda no passado mês de Junho, pouco depois das declarações do presidente Karzai, aconteceu um desses milhares de casos que já se tornaram quotidianos no Afeganistão. Parece que um grupo de Talibans foi detectado numa aldeia da Província de Logar, a sul de Cabul. Nessa aldeia decorria uma cerimónia nupcial e o grupo Taliban refugiou-se na casa onde decorria a cerimónia, fazendo reféns as famílias que lá se encontravam. As forças norte-americana e afegãs cercaram a casa e quando o tiroteio se iniciou pediram suporte aéreo que, de forma pronta, acudiu ao local e fez desaparecer a residência, os taliban e…os reféns, entre eles 9 crianças. Näo se tratou de um erro, nem de um caso isolado. É uma constante do quotidiano dos afegãos.

O primeiro caso documentado consta num relatório de Dezembro de 2001. Um B-52 e dois B-1B, bombardeiros, usaram bombas guiadas, de precisão, eliminando 110 dos 112 aldeões de uma pequena localidade afegã. Dai para cá, o poder aéreo norte-americano, pilotado ou versão drone, tem eliminado Afegãos, Paquistaneses e Iraquianos, numa sinistra moda comportamental e sempre com o mesmo padrão: residências, festas, cerimónias, encontros religiosos e comunitários, etc.

Para os padrões militares yankees o valor de uma vida afegã é nulo. Actualmente os afegãos (e os paquistaneses das áreas tribais fronteiriças) conhecem as regras da guerra americana: näo há ritos sagrados públicos ou privados. Näo há funerais, nem cerimónias de casamento, nem aniversários. Parece ser a única forma de os mortos serem enterrados em paz, os novos casarem-se e os aniversariantes fazerem anos durante mais vezes nas suas vidas. Para trás ficam as tradições tribais. É mais seguro a tribo viver sem os cerimoniais tradicionais. Este fenómeno antropológico que alterou os etnemas da região é revelador do número de mortos causados nesta guerra.

A estes crimes há que juntar a morte dos 24 soldados paquistaneses, em Novembro do ano passado, devido a bombardeamentos aéreos norte-americanos na fronteira, ou as imagens que revelam soldados norte-americanos urinando sobre os cadáveres de talibans, a queimarem exemplares do Alcorão e mulheres violadas por soldados norte-americanos. Näo é por isso de admirar a crescente ocorrência de ataques de soldados e policias afegãos a forças militares dos USA.

Uma certeza há: quando os USA abandonarem a região näo deixarão atrás de si apenas terra queimada. Para trás ficarão também as aldeias vazias, as mulheres violadas e as crianças de olhar vazio. E toda a região virá assinalada nas cartas geográficas do Purgatório.

Estamos todos, ao fim e ao cabo, numa situação algo idêntica ao que estavam os ingleses, quando em 1215 impuseram á monarquia britânica um documento de liberdade que estabelecia os seus direitos civis: a Magna Carta. Quase 8 séculos depois a Magna Carta continua a ser um documento de referência na Historia da humanidade, embora apenas uma pequena parcela dessa humanidade tenha alguma vez usufruído alguns dos direitos consignados nesse documento. Em 1759 publicou-se a primeira edição académica da Magna Carta, pela mão de William Blackstone, que assim a tornou numa das fontes da Constituição dos USA.

Hoje são os ocupantes da Casa Branca os primeiros que desmantelam essa preciosa fonte do seu direito constitucional. A Carta das liberdades, o primeiro dos documentos da Magna Carta, é o alicerce dos direitos fundamentais dos povos de língua inglesa. No seculo XVII a carta foi enriquecida pela lei do habeas corpus. A fobia com a segurança, a militarização, a volatilidade dos mercados estão a dar cabo do velho sonho cartista e o habeas corpus fica muitas vezes na gaveta, assim como uma figura em vias de desaparecer: a presunção da inocência.

O segundo documento da Magna Carta é a Carta do Bosque. Os bosques eram terras nutridas, mantidas em comum, com riquezas disponíveis para todos, preservado para as gerações futuras, também elas, usufruírem dessas riquezas. O bosque fornecia alimento, combustível, materiais de construção. No seculo XVII a Carta do Bosque sofreu o primeiro golpe com a prática depredatória do capitalismo. Dai para cá é como se nunca tivesse existido tal documento. As multinacionais do sector mineiro, petrolífero, agronegócios, turismo, tornam-se proprietárias de todas as fontes comuns de riqueza. Aquilo que é de todos torna-se pertença de muitos poucos e todos os outros têm de pagar para usufruir. Os que näo têm dinheiro para pagar näo usufruem. Era exactamente isso que a Carta do Bosque pretendia evitar e que na sua época conseguiu travar com êxito. Um excelente exemplo de continuidade foi dado pela Bolívia, quando organizou uma cimeira de povos, com 35 mil participantes de 140 países, de onde saiu uma Carta dos Bosques: a Declaração de Direitos da Terra Mãe, um documento chave das comunidades indígenas do mundo.

Direitos, liberdades e garantias. Terminologia que näo faz parte dos actuais Estados de Direito, que deixam de ser estados-nação e transformam-se em estados-mercado. Estado, nação, mercado e Direito. O Estado é sempre uma máquina repressiva. Pode ter (e tem) outras funções, como a coordenação, a função social e outras que lhe queiram arranjar (e que com certeza cumpre) mas é sempre, onde quer que seja uma máquina de repressão. Essa é a sua condição de existência. Um Estado Social é uma máquina repressiva que utiliza a política social como centro da sua actividade. O Estado Liberal, é uma máquina repressiva que utiliza o mercado como sua actividade central e por aí fora. As nações são espaços territoriais, podem ser fontes de cultura, razão da nossa alma e são tudo isso, mas primordialmente são espaços territoriais, delimitados, dentro do qual nos movimentamos, exercemos a nossa actividade, interagimos, etc. Dos mercados e do Direito é como o comer e sermos bem comportados. Se não pertencemos ao mercado não comemos (só comemos se formos mercadorias) e as leis se não as cumprirmos vamos presos, ou sofremos outra pena, ou até servem os nossos interesses, hoje, mas já não servem amanhã, servem para me defender do outro ou dos outros, mas também serve para o outro ou os outros se defenderem de mim. No meio disto tudo estão os direitos (sem serem o Direito) as liberdades e as garantias. Para usufruirmos.

Um dos direitos que ultimamente querem que deixemos de usufruir é o de viajar. Após o 11 de Setembro surgiu uma nova instituição: a Tirania Aeroportuária. Depois as burocracias aumentaram e vieram os lobbys das empresas de segurança a venderem produtos ao estado e a pagarem chorudas comissões aos decisores para as aplicarem e lixarem-nos a vida. A todos. E assim os aeroportos tornaram-se imensos campos de observação de prisioneiros. Todos os que näo entram nas salas VIP são potenciais terroristas.

Os obstáculos para viajar são mais do que muitos. Temos de andar perdidos nos consulados, autênticos espaços de tortura e atentados á inteligência. E temos de pagar. Pagamos os vistos, (um roubo), os bilhetes de passagem (o que é logico) se formos de avião pagamos umas taxas mal explicadas, cobradas pelas companhias, porque os estados cobram a elas (um roubo) e depois de pagarmos tudo isto e sermos roubados nos vistos e nas taxas incluídas nos preços dos bilhetes, lá vamos para os campos de tortura aeroportuária, onde nos transformam em terroristas da pior espécie. O curioso é que chamam a isto a livre movimentação de pessoas e bens. Se näo pagamos ficamos. Se pagamos vamos mas sujeitos ao tratamento que se aplica aos objectos, pois passamos a um estado de näo-pessoa. A näo ser que possamos viajar VIP onde a coisa é mais leve.

Até ao fim da Primeira Guerra Mundial, um décimo do que passamos hoje para viajar era considerado próprio dos estados “bárbaros” (Império Russo, Império Otomano, etc.). Passaportes e coisas parecidas apareceram mais tarde, mas nem sempre exigidos. A Sociedade das Nações em 1920 regulou sobre a estandardização dos passaportes e a coisa foi andando devagarinho. A II Guerra Mundial trouxe consigo mais papelada, acompanhada do conto que era só para o período de guerra. A guerra acabou e a papelada ficou.

Os nazis, os fascistas e os estalinistas deixaram por aqui as suas marcas, as “democracias” do ocidente deixaram essas marcas e acrescentaram mais umas patifarias para ganhar uns cobres (quanto mais näo fosse para pagar o salário do pessoal dos consulados) e em 1980 a Organização Internacional para a Aviação Civil (uma agencia “especializada” da ONU) estandardizou os passaportes a nível mundial. Burocratizado, institucionalizado e estandardizado. É o passaporte. O documento que nos permite sair de um espaço limitado por fronteiras, para entrar noutro espaço limitado por fronteiras. E aos poucos vão sendo acrescentados elementos aos passaportes, como por exemplo os dados biométricos.

E aquilo que a monarquia britânica no seculo XIII teve de aceitar como documento regulador é agora completamente esfrangalhado e deitado ao cesto dos papéis. Em muitos casos com o ar idiotamente conformado de todos nós. Sem dúvida…Urge uma nova Magna Carta!

Fontes
Immanuel Wallerstein; Armamento nuclear: hipocresías escandalosas; http://www.jornada.unam.mx
Tom Engelhardt; Till Death Do Us Part; http://www.tomdispatch.com
Tom Engelhardt; Alien visitations; http://www.tomdispatch.com
Tom Engelhardt; The wedding crashers; http://www.tomdispatch.com
Tom Engelhardt; Are afghan lives worth anything; http://www.tomdispatch.com
Tom Engelhardt; Top gun no more; http://www.tomdispatch.com
Noam Chomsky; La Carta Magna es el destino, nuestro destino; http://www.jornada.unam.mx
William Jackson; Another Lost Freedom: The Freedom To Move; http://www.textbookcheck.com
New York Times, 11/06/ 2012; 13/06/2012; 24/06/2012; 27/06/2012; 29/06/2012; 04/07/2012; 11/07/2012; 17/07/2012
The Guardian. 07/06/2012; 11/06/2012;
Washington Post; 11/06/2012;

O PRÉDIO DOS ANGOLANOS NO ESTORIL SOL




Rafael Marques de Morais – Maka Angola

Nos últimos anos, o novo-riquismo angolano tornou-se lendário em Portugal. Dirigentes angolanos, suas famílias e associados de negócios têm estado a adquirir, nesta parte da península ibérica, alguns dos principais símbolos da opulência local.

Caso paradigmático é o do complexo residencial de luxo Estoril Sol Residence, que comporta três edifícios de uma arquitectura singular e controversa, em Estoril, na orla marítima de Lisboa. O complexo tem dos apartamentos mais caros de Portugal, que variam do milhão a cerca de cinco milhões de euros por unidade. O complexo é bem conhecido como o “prédio dos angolanos”, por serem estes os principais clientes do referido projecto imobiliário, inaugurado há dois anos, com a titularidade de perto de 30 apartamentos.

Numa breve investigação, Maka Angola apurou quem são os ricos angolanos com propriedades no Estoril Sol Residence.

O actual ministro da Administração Pública, Emprego e Segurança Social, António Domingos Pitra Costa Neto, é dono de cinco apartamentos na Torre Baía, no 3º, 5º, 7º, 9º e 14º andares, estando os primeiros quatro em nome da sua filha Katila Pitra da Costa, estudante. Pitra Neto deverá ser o próximo presidente da Assembleia Nacional, depois das eleições de 31 de Agosto próximo, conforme cogitações emanadas da presidência de José Eduardo dos Santos.

Tanto no 9º como no 14º andar, o ministro Pitra Neto tem como vizinhos o casal Kopelipa. Fátima Geovetty, a esposa do ministro de Estado e chefe da Casa Militar, general Manuel Hélder Vieira Dias “Kopelipa”, adquiriu dois apartamentos. O fiel escudeiro do general Kopelipa nos seus negócios privados, Domingos Manuel Inglês, fica a meio, no 12º andar. Na torre ao lado, Cascais, o principal gestor de negócios um tanto obscuros do general, o português Ismênio Coelho Macedo, desfruta da grande vista para o mar, com um apartamento no 4º andar.

Outro comprador extraordinário é o ex-ministro das Finanças, José Pedro de Morais, com quatro apartamentos, também na Torre Baía, no 1º, 2º, 4º e 5º pisos.

Por sua vez, o brasileiro Valdomiro Minoro Dondo, também portador de nacionalidade angolana, tem um apartamento no 11º andar da Torre Estoril. Valdomiro Minoro Dondo tem cruzado negócios com o general Kopelipa, José Pedro de Morais, Pitra Neto, a família presidencial e outros influentes membros do regime. A sua formidável capacidade para o tráfico de influências conferiu-lhe o interessante título de “estrangeiro mais rico de Angola”. Por sua vez, outro brasileiro, associado a Minoro Dondo e a dirigentes angolanos, Gerson António de Sousa Nascimento é dono de um duplex, na Torre Estoril, no 6º e 7º andares.

O sócio e representante legal de alguns negócios de Welwitchia “Tchizé” dos Santos, Walter Virgínio Rodrigues, demonstrou que os negócios lhe têm corrido de feição e comprou um apartmento no 8º andar da Torre Estoril. Como celebração do contrato multimilionário realizado entre o Ministério da Comunicação Social e a empresa Westside Investments para a gestão privada do Canal 2 da Televisão Pública de Angola (TPA), a sócia maioritária, “Tchizé” dos Santos, agraciou-o com um bónus de US $500 mil, enquanto a filha do presidente atribuiu-se, a si própria, com fundos do erário público, um prémio de um milhão e meio de dólares.

Outro angolano que faz parte do selecto grupo de proprietários do Estoril Sol Residence é o antigo director da Endiama, Noé Baltazar.

Apesar dos preços, os angolanos, regra geral, compram vários apartamentos, de forma ostensiva. Algumas das aquisições levantaram suspeitas junto das autoridades judiciais portuguesas que, para o efeito, abriram inquéritos. Um dos inquiridos, por suspeita de branqueamento de capitais, foi o presidente do Banco Espírito Santo Angola (BESA), Álvaro Sobrinho. A 2 de Setembro de 2010, Álvaro Sobrinho adquiriu seis apartamentos no referido complexo tendo inicialmente pago o valor de 9.5 milhões de euros, segundo investigações do Diário de Notícias. Os seus irmãos Sílvio e Emanuel Madaleno também são detentores de mais três apartamentos no Estoril Sol.

Há ainda os angolanos que optaram por usar testas de ferro mais discretos na aquisição de propriedades.

Entre o investimento legítimo e o branqueamento de capitais, Portugal continua a ser o destino preferido dos ricos angolanos e a sua melhor lavandaria financeira.

Investimentos privados passaram fasquia dos mil milhões de dólares no primeiro semestre



EL - Lusa

Luanda, 30 jul (Lusa) - Os contratos de investimentos privados em Angola atingiram, no primeiro semestre deste ano, os mil milhões de dólares, noticiou hoje a agência Angop, que cita a presidente da Agência Nacional de Investimentos Privados (Anip).

Maria Luísa Abrantes, que falava no final de uma sessão de assinatura de cinco contratos de investimentos privados, referiu que naquele período foram registados investimentos provenientes de Portugal, China, Espanha e Alemanha.

O valor alcançado foi de 1,016 mil milhões de dólares (829,7 mil milhões de euros) e a maioria dos investimentos visa as áreas da indústria, obras e construção civil.

Cabo Verde: O ESTADO DA NAÇÃO EM TRÊS ACTOS



Carlos Monteiro – Liberal (cv), opinião

o PAICV não está minimamente interessado num debate sério, por saber não ter argumentos, e só lembra as lutas de boxe onde um dos contendores ao se sentir incapacitado para lutar, agarra-se ao adversário para não o deixar lutar

PRIMEIRO ACTO

Vem o Sr. Primeiro-ministro, José Maria Pereira Neves, “aparentemente” alienado pelos graves problemas nacionais: grave desemprego, grave insegurança, grave problema energético e de água, grave problema habitacional com mais de 5000 tetos a cair só na capital, promessas incumpridas (13º e salário mínimo) e pinta o país de cor-de-rosa.

SEGUNDO ACTO

Vem o Dr. Carlos Veiga, líder da oposição, de forma categórica, com números e dados, com educação e elevação, esclarecer a sociedade da real e preocupante situação.

TERCEIRO E ÚLTIMO ACTO

Vem o Primeiro-ministro de forma ultrajante e baixo nível, atacar pessoalmente na sua reputação e honra, o líder da oposição, não dando qualquer cavaco à Nação quanto aos assuntos em questão, desvirtuando completamente o debate encaminhando-o para a baixaria. Posto isto, o controle é perdido e passa a imperar a irracionalidade.

Este é o filme fidedigno do debate do Estado da Nação em pelo menos os últimos que venho assistindo.

Mostra claramente que o PAICV não está minimamente interessado num debate sério, por saber não ter argumentos, e só lembra as lutas de boxe onde um dos contendores ao se sentir incapacitado para lutar, agarra-se ao adversário para não o deixar lutar.

A Nação merece outra consideração de um líder e de um partido aos quais o povo “escolheu” para conduzir os seus destinos.

Cabo Verde: BEM-VINDO, CAMARADA SEGURO!



Liberal (cv) - editorial

Em nome da tradicional morabeza cabo-verdiana, exigimos que o camarada Seguro assuma o compromisso público de convencer o camarada Raposo a voltar atrás, invertendo uma situação que coloca em risco imediato 83 famílias do Bairro de Santa Filomena, compostas por 280 pessoas, entre as quais 104 crianças, que ficarão sem tecto.

António José Seguro, o líder do Partido Socialista (PS) português, encontra-se em Cabo Verde para participar numa reunião da Internacional Socialista (IS). Queremos saudá-lo com a natural morabeza cabo-verdiana e desejar-lhe uma boa estadia.

E fazemo-lo esperando que retribua, nomeadamente, conversando, no regresso a Portugal, com o seu camarada Joaquim Raposo, o presidente da Câmara Municipal da Amadora que tem desumanamente despejado dezenas de cabo-verdianos do Bairro de Santa Filomena, deitando-lhes as casas abaixo e colocando-os sem tecto.

Mais, ainda, em nome da tradicional morabeza cabo-verdiana, exigimos que o camarada Seguro assuma o compromisso público de convencer o camarada Raposo a voltar atrás, invertendo uma situação que coloca em risco imediato 83 famílias do Bairro de Santa Filomena, compostas por 280 pessoas, entre as quais 104 crianças, que ficarão sem tecto.

Famílias essas que apenas usufruem um rendimento mensal entre 250 e 300 euros, depois de anos de trabalho sem direitos para que Portugal ostente hoje infraestruturas e grandes obras públicas. Foram elas, sim, camarada Seguro, que construíram com as suas mãos, o seu suor e, não raras vezes, com sangue e a própria vida, boa parte do Portugal moderno que hoje conhecemos. E foram elas também, camarada Seguro, que deram já várias vitórias eleitorais ao seu camarada Raposo e ao Partido Socialista.

Em nome da amizade secular que une cabo-verdianos e portugueses, não entenderíamos que o camarada não desse um sinal claro de demover o camarada Raposo, de o fazer pensar e agir com humanidade, de não esquecer que foi essa mão-de-obra crioula e mal paga que, desde os anos setenta do século passado, constituiu a força braçal que incrementou a construção civil no concelho da Amadora e construiu a cidade moderna que hoje é.

Foram esses homens de mãos calosos e morabeza que, com o seu esforço, edificaram prédios e rasgaram estradas; foram essas mulheres valorosas, heroínas anónimas, que limparam milhares de casas e escritórios dos seus compatriotas. Nunca se esqueça, camarada Seguro, porque o senhor parece ser a única esperança dessas mais de oito dezenas de famílias, de mais de cem crianças.

Esperança sim, porque do seu camarada José Maria Neves nada mais há a esperar. Nem ele, nem o seu Governo, tão pouco a embaixada em Lisboa, tomaram uma iniciativa que fosse em defesa dos nossos irmãos. E não tomaram porque o seu camarada Neves e o seu Governo limitam-se a lamber as botas aos “ilustres convidados estrangeiros” e, de mão estendida, quais pedintes, aguardam a próxima esmola que lhes permita continuar a viver no luxo, a enriquecer à custa dos dinheiros públicos, enquanto o nosso povo vive em casas miseráveis, urinando e defecando nas ruas, sem água nas torneiras, sem luz, e com os bandidos a tomar conta das nossas cidades.

Camarada Seguro, aguardamos, pois, um compromisso claro da sua parte. Vai, ou não, colocar a sua influência e a sua voz em defesa dos nossos irmãos?

Relacionado

Cabo Verde: População quer equilíbrio no exercício do poder - Presidente PAICV



CLI - Lusa

Cidade da Praia, 29 jul (Lusa) - O presidente do PAICV considerou hoje que a vitória do partido na Assembleia Municipal de Santa Catarina, confirmada pelo Supremo Tribunal de Justiça, demonstra que a população quer equilíbrio no exercício do poder em Cabo Verde.

José Maria Neves, que falava à margem da reunião do Conselho Nacional do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV, no poder), disse que agora os partidos têm de acatar a vontade dos eleitores e ter a melhor coabitação possivel entre a câmara e assembleia municipal.

"Neste momento, o mais importante é apreendermos a mensagem que os cidadãos querem transmitir aos políticos. Acho que todos devem respeitar as decisões dos cidadãos e dos tribunais e agir em consequência, deve haver a melhor coabitação entre a assembleia e a câmara, para que todos trabalhem para o desenvolvimento de Santa Catarina", afirmou.

Para o líder do PAICV e primeiro-ministro de Cabo Verde, os eleitores de Santa Catarina quiseram dizer aos políticos para terem "humildade e muita tolerância" no exercício do poder e uma "entrega à causa do bem comum".

"As pessoas querem equilíbrio no exercício do poder, querem que haja diálogo e compromissos. E por isso temos que encarar o poder com humildade e é isso que os partidos políticos devem fazer. As pessoas de Santa Catarina mostraram que estão à frente dos políticos e dos partidos políticos. Enquanto uns brigam, os eleitores querem soluções positivas para os seus problemas", avançou.

Questionado se o seu partido estaria na disponibilidade de viabilizar a gestão camarária, José Maria Neves disse que a tolerância e o diálogo são fundamentais para a viabilização da governação local.

"Os eleitos devem trabalhar para o bem comum, para que Santa Catarina continue a crescer e a desenvolver-se. Todos os instrumentos de gestão deverão ser devidamente analisados, deverá haver a necessária cooperação politica entre a assembleia e câmara. É esta a mensagem dos santa-catarinenses e acho que os partidos políticos não devem defraudar os eleitores", afirmou.

O Supremo Tribunal de Justiça (STJ) confirmou a vitória da candidatura do PAICV à Assembleia Municipal de Santa Catarina por dois votos, tal como deliberou na terça-feira, a assembleia de apuramento geral da repetição das eleições realizada a 22 de julho em duas mesas (Boa Entrada e Cruz Grande), devido a irregularidades verificadas a 01 de julho.

O STJ julgou improcedente o recurso interposto pelo Movimento para a Democracia (MpD).

Com o desfecho, um dos 22 concelhos de Cabo Verde vai viver, pela primeira vez, com uma coabitação inédita, com o presidente da câmara de um partido (MpD) e um da assembleia municipal de outro (PAICV).

Escritório da FAO é inaugurado hoje em Lisboa para ajudar a combater pobreza e fome




TQ (CFF) - Lusa

Lisboa, 30 jul (Lusa) - O escritório da FAO junto do Secretariado Executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) é inaugurado hoje em Lisboa, para ajudar a combater a pobreza e a fome nos países lusófonos.

A cerimónia será copresidida pelo secretário-executivo da CPLP, Domingos Simões Pereira, e pelo diretor-geral da Organização da ONU para a Agricultura e a Alimentação (FAO), o brasileiro José Graziano da Silva, que vai ser distinguido com um doutoramento 'honoris causa' pela Universidade Técnica de Lisboa.

A pobreza e a fome afetam 28 milhões de pessoas nos países lusófonos, indica uma declaração aprovada no dia 20 deste mês, em Maputo, na cimeira de chefes de estado e de governo da CPLP.

Durante o encontro, o diretor-geral da FAO, José Graziano da Silva, considerou que o investimento da organização nos estados-membros da CPLP é insuficiente para responder aos desafios de combate à fome e segurança alimentar nos países lusófonos.

"Hoje, a FAO executa projetos na ordem dos 200 milhões de dólares (163 milhões de euros ao câmbio atual) nos países da CPLP. À primeira vista pode parecer uma cifra alta, mas representa menos de um dólar por cada um dos 250 milhões de habitantes dessa comunidade", disse o responsável da FAO.

A Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO, na sigla em inglês) tem como objetivo aumentar a capacidade da comunidade internacional para promover em todo o mundo o suporte para a segurança alimentar e a nutrição.

Na sua passagem por Portugal, o diretor-geral da FAO vai ser distinguido hoje com um doutoramento 'honoris causa' pela Universidade Técnica de Lisboa (UTL).

Engenheiro agrónomo e professor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas, Brasil, desde 1977 que José Graziano da Silva se dedica a questões relacionadas com o desenvolvimento rural e a luta contra a fome.

Desde 2011 é diretor-geral da FAO, sendo o primeiro latino-americano a ocupar o cargo.

PARA SER ALTERNATIVA, MUDA DE VIDA!



Daniel Oliveira – Expresso, opinião, em Blogues

Portugal vive um momento único. Daqueles momentos fundadores de um novo tempo. O que ele será, nenhum de nós sabe. O provável é que sejamos surpreendidos e contrariados em todas as nossas previsões. A crise económica, a iminente, mas não certa, saída do euro e a segura degradação social e política produzirão os seus efeitos. Certo é que a minha geração e as gerações que a ela se seguem - as que não viveram ativamente os anos imediatamente posteriores ao nascimento da nossa democracia - estão a viver o período politicamente mais relevante das suas vidas. E é neste cenário que os vários atores políticos e sociais que se opõe ao saque do País vão ter de decidir que papel terão no futuro.

Por enquanto, todos parecem continuar a fazer tudo como antes. Como se nada de novo estivesse a acontecer. Como sempre, em todos os tempos e em todas as Nações, o País político e institucional rege-se pela inércia e pelo hábito. Mas alguma coisa acabará por ter de mudar.

A direita que não se sente representada pelo fanatismo ideológico que nos governa terá de fazer um corte com o deslumbramento de recém-estrangeirado e com uma cultura de subjugação ao poder financeiro, dando lugar a um pragmatismo patriótico que não a leve na enxurrada do descontentamento que virá. Apesar de uma direita mais autoritária não ter, desde o 25 de Abril, tradição no nosso País, não está escrito nas estrelas que sempre assim será. Se a direita conservadora com preocupações sociais e éticas não cumprir o seu papel, gente mais perigosa o fará.

O Partido Socialista, com a provável assinatura de um novo memorando, terá de abandonar a sua estratégia de sempre, quando está na oposição (já para não falar da que usa quando está no governo): a de basear o seu comportamento numa imagem de responsabilidade sem qualquer conteúdo político, que lhe retira qualquer utilidade como verdadeira alternativa. Já não basta arranjar um líder com mais carisma, apresentar-se como um mal menor e sacar à sua direita e à sua esquerda uns nomes que componham o ramalhete e criem uma "dinâmica de vitória". Não é só a esquerda fora do "arco de poder" que não tem sabido apresentar-se como alternativa credível. O PS há muito que não desempenha esse papel.

O PCP terá de compreender que, num tempo absolutamente novo, com uma realidade laboral e social completamente diferente, já não chega preservar uma memória de luta que o honra - e honra. Poderá, por falta de alternativas, manter intacta a sua fortaleza. Mas ela contará cada vez menos na luta social e política. Devemos aos comunistas coisas boas e coisas más. Soube representar um país de excluídos, enquadrado numa mundividência cada vez mais anacrónica. Um país social e uma memória que, se não fosse o PCP, estariam fora da representação institucional e política. Mas um país que conta cada vez menos nos conflitos sociais relevantes. Até porque, enconchado na sua própria autopreservação institucional e ideológica, essa mais-valia vive isolada dos outros, temendo ser contagiada por culturas e modos de agir diferentes.

O Bloco de Esquerda terá de sair da encruzilhada em que se encontra. O estado de graça que a novidade naturalmente lhe garantiu acabou. E construir uma alternativa depende da capacidade de, à esquerda, saber fazer todas as pontes, tendo na recusa do sectarismo a sua principal marca identitária. Aceitando o que muito dificilmente qualquer partido aceita: que, em tempos tão dramáticos, ele é muito curto para a construção de uma alternativa. E que a acumulação de forças, por via do descontentamento crescente, nem é provável, nem, mesmo que acontecesse, seria suficiente para que tivesse um papel útil no cenário que nos espera. Um partido que nasceu para desbloquear a esquerda portuguesa não pode transformar-se em mais um factor de bloqueamento, regressando à velha cultura de seita que condenou a esquerda redical portuguesa. Até porque, tendo em conta a juventude do BE e a natureza da sua base social, dificilmente, ao contrário de outros, sobreviverá ao seu próprio autismo.

Os empresários do sector produtivo têm de perceber que, neste momento específico, o capitalismo financeiro, que vive da especulação à custa da produção, é seu inimigo. E que, por isso, também são diferentes os seus aliados. Aceitarem manter-se reféns de quem nada produz é aceitarem o fim do seu próprio poder. Posso não me rever nas suas aspirações de sempre. Mas também posso aceitar que, vivendo momentos dramáticos, há interesses circunstanciais que nos são comuns. Mas para que isso seja possível é fundamental abandonarem a cultura rentista, que vive do tráfico de influências no Estado. Até porque, neste novo mundo, ela apenas beneficiará os novos senhores do dinheiro. E eles não são os barões da indústria. É a banca que, aos poucos, suga os recursos toda a atividade produtiva das Nações. Entre a ética do capitalista tradicional e a ética do especulador apenas a legitimidade do lucro lhes é comum. Tudo o resto os afasta.

Os sindicatos terão de reaprender quase tudo. Adaptar-se a uma nova realidade laboral, onde a maioria da população ativa ou está desempregada ou tem vínculos laborais ultra-precários. Isto não significa abandonar a defesa dos direitos dos que ainda têm contrato. Cada direito que aí se perde não é um direito que os precários e os desempregados ganham. Pelo contrário, é uma vitória de quem quer que o trabalho volte a ser tratado como uma mera mercadoria. Conseguir representar dois mundos - o das relações laborais que a democracia social nos garantiu e o da semi-escravatura em que a esmagadora maioria dos jovens vive - não é nada fácil. Mas é a única forma de impedir que se alimente um confronto geracional que apenas serve a quem quer dividir para reinar. Em Portugal, o primeiro desafio ao movimento sindical - o único movimento social realmente estruturado no País - é mais prosaico: libertar-se das tutelas partidárias que limitam a sua força e a sua representatividade.

Os pequenos movimentos sociais dispersos têm de ultrapassar a fase mais ou menos espontânea ou de tribo em que vivem e saber dar conteúdo político à manifestação da indignação e frustração das pessoas. Têm de ambicionar ganhar representação maioritária e, para isso, abandonar as tradicionais formas de participação, que apenas podem incluir os mesmos de sempre. Isto, sem embarcar na ingenuidade de pensarem que estão, a cada momento, a inventar a roda. Não desprezado os movimentos sociais e políticos tradicionais, como os sindicatos e os partidos. Na história, nunca se começa do zero.

Termino como acabei: vivemos tempos únicos. Quase tudo tem de ser reaprendido. Mas nada começa sem um passado. Os atores políticos e sociais que existem, e é com o que existe que se faz política, terão de se adaptar para combater o saque deste País. Começando por repensar a sua política de alianças, que podem ter de ser bem mais amplas do que alguma vez imaginaram. Quem não perceba que vivemos um momento de emergência nacional, e continue a tratar de si próprio, estará condenado à inutilidade.

Claro que aqui quase só disse o que não pode continuar a ser. Não sou diferente, nos meus vícios e defeitos, dos que critico. Também eu não sei bem o que nos espera. Também eu aprendi a fazer política num tempo diferente deste. Também estou, como todos os que querem travar a destruição do Estado Social, confuso e a tatear caminhos. Mas saber da urgência é um bom ponto de partida para querer mudar de vida.

Portugal: ASAE NÃO FISCALIZA ALIMENTOS HÁ MAIS DE TRÊS MESES



Expresso - ontem

A Autoridade de Segurança Alimentar e Económica não está a receber ordens para fiscalizar a qualidade de vários alimentos, colocando em perigo a saúde pública.

Desde abril que a Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) não fiscaliza a qualidade dos alimentos, escreve hoje o "Jornal de Notícias".

Em causa estão produtos como a carne, leite, ovos, mel e peixe de aquacultura, constituindo um "risco para a saúde pública", como alerta a DECO.

Segundo o jornal, nos dos primeiros meses do ano a ASAE não recolheu qualquer amostra para avaliar a qualidade dos alimentos e, em março, efetuou apenas 600 recolhas no centro e sul do país.

Desde abril, ou seja há mais de três meses, que a Autoridade de Segurança Alimentar já não fiscaliza a qualidade dos produtos, uma vez que a Direção Geral de Veterinária deixou de dar ordens nesse sentido, alegadamente por razões económicas.

Não há controlo...

"Desde então para cá estamos entregues à nossa sorte. É o que Deus quiser. Não há qualquer controlo. Ninguém pode garantir se o que andamos a comer está ou não contaminado por, por exemplo, medicamento proibidos ou produtos de crescimento rápido, (...) prejudiciais para a saúde humana", disse fonte da ASAE.

O diretor-geral de Alimentação e Veterinária, Nuno Vieira Brito, admitiu que de facto há menos fiscalização dos produtos alimentares pela ASAE, mas sublinhou que essa é apenas uma parte do controlo alimentar e que  continua a vigilância aos produtos vendidos diretamente ao público.

"É verdade de facto que a ASAE reduziu um pouco as suas recolhas, mas a própria Direção-Geral de Alimentação e Veterinária está e tem estado a proceder à recolha de alimentos, enquadrados naquilo que é o próprio plano nacional de controlo de resíduos em si", explicou Nuno Vieira Brito à Rádio Renascença.

O Expresso está a tentar contactar o Ministério da Agricultura, Mar, Ambiente e Ordenamento do Território, que tutela a ASAE, mas até agora sem sucesso.

CONSTITUIÇÃO A PEDIDO




Manuel António Pina – Jornal de Notícias, opinião

O presidente do BPI, Fernando Ulrich, já classificara a decisão do TC que confirmou a inconstitucionalidade dos confiscos dos subsídios de férias e Natal a funcionários públicos e pensionistas de "negativa", "perigosa" e "inaceitável". Agora é o presidente do BCP, Nuno Amado, a clamar que foi "uma decisão muitíssimo infeliz".

A banca (falta conhecer a opinião de Ricardo Salgado, do omnipresente BES, para o ramalhete ficar completo) não só tem enormes responsabilidades na crise como tem sido beneficiária da maior parte dos sacrifícios que, a pretexto dela, vêm sendo impostos aos portugueses. Mas a banca quer mais do que o seu financiamento com a "ajuda" que a 'troika' cobra ao país em desemprego, fome e miséria ou do que a destruição do SNS que alimenta os seus negócios na Saúde, a banca quer também uma Constituição "sua", já que a Constituição da República se revela, pelos vistos, "negativa", "perigosa", "inaceitável" e "muitíssimo infeliz" para os seus interesses.

Nem Ulrich nem Amado o escondem: "É premente alguma revisão da Constituição" (Amado), e a decisão do TC pode "justificar a discussão de uma revisão constitucional, o que até seria positivo" (Ulrich).

Numa democracia que cumprisse os serviços mínimos, os desejos de dois banqueiros valeriam apenas dois votos. Não tardará que vejamos quanto valem num regime do género "que se lixem as eleições".

Portugal: A geração dos políticos profissionais chegou ao poder e isso tem riscos




Ricardo Vieira Soares, Henrique Figueiredo - Público

Carreiras baseadas em cargos de nomeação política, pouca experiência profissional e fraca autonomia face aos partidos são perversos, dizem os analistas. Mas as “jotas” também têm virtudes.

Portugal está a assistir às primeiras gerações de políticos profissionais no poder, oriundos das juventudes partidárias e com reduzida experiência profissional fora da política. José Sócrates, anterior primeiro-ministro socialista, Paulo Portas, ministro dos Negócios Estrangeiros e líder do CDS-PP, e Passos Coelho, actual chefe de governo, todos iniciaram a vida política na Juventude Social-Democrata (JSD). A JS serviu como alavanca para António José Seguro, actual secretário-geral do PS, ou António Costa, presidente da Câmara de Lisboa. Elogiadas por uns e diabolizadas por outros, as “jotas” são a grande escola dos políticos profissionais, importantes para o rejuvenescimento dos quadros dos partidos, mas fonte de carreiras focadas exclusivamente na política, como as descrevem os analistas ouvidos pelo PÚBLICO. Já os líderes das juventudes reconhecem que existem casos de carreirismo político, mas defendem o seu contributo para o debate político.

André Freire, investigador do Centro de Investigação e Estudos Sociológicos do ISCTE, e António Costa Pinto, investigador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, estão de acordo num ponto: a profissionalização dos políticos é uma faca de dois gumes. Freire explica que as ‘“jotas” são “um canal para atrair os jovens para a participação política e os socializar nos valores da democracia”, mas, por outro lado, alerta para os perigos do carreirismo político, que Costa Pinto considera contribuir para “uma profissionalização acéfala e dependente das direcções dos partidos”.

A história da democracia portuguesa está temporalmente desfasada da de países europeus com maior historial democrático, explica Costa Pinto. As primeiras gerações de políticos pós-25 de Abril viveram a juventude em ditadura, com a participação política marcada pela clandestinidade. Com a democracia, as juventudes partidárias são uma realidade e torna-se natural a filiação dos jovens. Assim se explica que muitos dos actuais políticos tenham construído o seu currículo a partir delas. “É uma inevitabilidade do decurso do tempo”, comenta Pedro Alves, secretário-geral da JS.

André Freire é da opinião que, “em percursos exclusivamente feitos na política, os traços negativos tendem a sobressair”, salientando que os políticos de carreira desenvolvem um “autismo” relativamente aos problemas da sociedade. “As pessoas sem experiência profissional revelam um handicap de conhecimento da sociedade e não podem funcionar como um elo de ligação entre esta, a decisão política e o Estado”, frisa.

Duarte Marques, líder da JSD, reconhece que há casos de “carreirismo político” nas “jotas”, mas prefere valorizar a formação política que ali é feita, uma vez que “os ratos de biblioteca não têm sucesso imediato na vida política e pública, porque não lidam com pessoas, expectativas e emoções”. Ao invés, António Costa Pinto alerta para o perigo de quadros políticos profissionais formados nas juventudes. Este processo “afasta a decisão política da realidade da sociedade civil”, ressalva o investigador, que sublinha a diferença entre as realidades nacional e internacional: “A falta de instrução e formação dos políticos portugueses face ao panorama internacional, como em França ou na Alemanha.”

Falta de autonomia

A escassa experiência profissional demonstrada por alguns políticos assume contornos alarmantes, quando “só serve para enfeitar o currículo”, nas palavras de Costa Pinto. Para Freire, isto desemboca numa “falta de conhecimento do terreno”. Pedro Alves não discorda, mas explica o fenómeno com “menor exigência em assegurar que uma pessoa tem de ter uma vida profissional”. Para o líder da JS, “não se pode dispensar uma fatia da população, para mais a que nos governa, de ter essa experiência profissional”. Porque, sublinha, “não basta ser bom militante, bom dirigente e bom ministro”.

André Freire insiste nos perigos da profissionalização dos políticos a partir das juventudes. As nomeações para gabinetes ministeriais e para empresas da administração local são os casos mais comuns no preenchimento do currículo dos militantes das “jotas”. Com a agravante de que a dependência da vida política “gera um problema de autonomia e independência face aos partidos”. Uma das explicações para nomeações de quadros das “jotas” para cargos públicos prende-se, de acordo com Miguel Pires da Silva, líder da Juventude Popular, com a necessidade de nomear pessoas de confiança política. “É natural que lugares de preponderância política sejam ocupados por pessoas de confiança dos governantes”, afirma, ao mesmo tempo que rejeita o favorecimento injustificado nas nomeações. O jovem centrista sublinha, no entanto, que “não se deve olhar para os políticos como seres extraterrestres que têm de ter uma legislação própria e uma conduta própria”.

Pedro Alves, que além de líder da JS é deputado, aponta a limitação de mandatos como forma de restringir o carreirismo político, já que “obriga a uma renovação e que as pessoas não fiquem dependentes da vida pública e política para sobreviverem”. Já o líder da JSD Duarte Marques é apologista de “medidas para endurecer a responsabilidade política e criminal dos decisores públicos”, colocando entraves ao aproveitamento dos cargos públicos para benefício próprio.

Mas a tendência para fazer carreira política a partir das juventudes não é exclusiva dos partidos de poder. Costa Pinto refere que os militantes dos outros partidos parlamentares também iniciam a formação dos quadros desde tenra idade.

André Luz, da direcção nacional da Juventude Comunista Portuguesa (JCP), admite que uma das finalidades deste órgão é o “rejuvenescimento dos quadros do PCP”, rejeitando, contudo, a existência de boys no partido. “Os deputados do PCP não recebem o salário de deputado, mantêm aquele que recebiam nas funções que desempenhavam antes de serem eleitos”, recorda.

O BE é o único partido com assento parlamentar sem juventude partidária. Leonor Figueiredo, membro da coordenação dos jovens estudantes do BE, explica a opção: “Os jovens estão integrados no partido, somos militantes como todos os outros e estamos presentes em todos os processos de discussão.” Para a bloquista, “no BE vê-se a política como uma forma de activismo e não para promover carreiras políticas”, acrescentando que “não há qualquer imposição por parte do partido, não havendo um comité central”.

Militância nas associações de estudantes põe em causa a independência?

O ensino superior é um dos temas mais próximos das “jotas” e a militância partidária e em alguns momentos penetrou intensamente nas associações de estudantes. Pedro Alves, da JS, conta que nos anos 80 as associações “assumiam que eram controladas por determinado partido”. Mas hoje defende que “as juventudes partidárias não se devem intrometer no associativismo estudantil”. No sentido inverso, Leonor Figueiredo, do BE, denuncia que “as ideologias partidárias são levadas para dentro do associativismo”, acusando os dirigentes de serem “entraves” ao seu desenvolvimento. Pedro Alves reconhece que uma parte considerável dos estudantes que integram as associações militam nas “jotas”, mas desvaloriza a situação. “O bichinho da participação política tem uma dimensão viral”, justifica. Opinião partilhada por Miguel Pires da Silva, da JP. O centrista refere ainda que “o único interesse que a JP tem nas associações é ajudá-las, servi-las e dar-lhes voz junto do poder político”.

Duarte Marques, da JSD, contraria o cenário descrito pela bloquista. “As principais academias de estudantes conseguem manter uma relação de independência no que toca ao desempenho das suas funções, mantendo na mesma direcção membros do BE, JCP, JS, JSD e JP”, diz o social-democrata. Acrescenta que o associativismo “põe o interesse dos estudantes à frente da cor partidária”. O comunista André Luz reconhece que “o PCP continua a ter muitos camaradas a participarem em associações do ensino superior”, mas garante que a pluralidade e independência na representação dos estudantes estão asseguradas.

Emigração: Mais de mil portugueses mudam-se para a Suíça todos os meses



Ana Cristina Pereira - Público

Propagam-se por toda a Confederação Helvética, em particular pelos cantões de Vaud, Genebra, Valais e Zurique. Os homens já não têm de abrir caminho. Gonçalo seguiu a namorada e muitos outros tentam ali a sua sorte. Partem aos milhares.

Já lá vão quase 50 anos desde que os suíços puseram os portugueses na lista de trabalhadores de "áreas distantes", demasiado diferentes para se habituarem aos seus usos e costumes. Nos últimos anos, os portugueses até parecem estar a tomar a Confederação Helvética de assalto. Desembarcam, em média, mil por mês. Só os alemães os superam. Quem sabe por quanto tempo? A vizinhança alemã - de Baviera e de Baden-Württemberg - está quase com pleno emprego.

Nem meio milhar havia há 40 anos, altura do desembarque de Manuel Beja, conselheiro das comunidades portuguesas. Era desmedido o poder de atracção de França e desencorajador o estigma na Suíça, só revisto na sequência da entrada de Portugal na Comunidade Económica Europeia, em 1986. No final do ano passado, já havia 224.171, com maior incidência em Vaud, Genebra, Valais e Zurique.

Leia mais no PÚBLICO desta segunda-feira e na edição online exclusiva para assinantes

Mais lidas da semana