quarta-feira, 12 de novembro de 2014

ANGOLA, 39 ANOS DEPOIS, QUE INDEPENDÊNCIA?



Eugénio Costa Almeida* - Pululu

Angola celebra, hoje, 11 de Novembro, pelo Dia Nacional, o 39º aniversário da sua independência, proclamada em 1975, após 14 anos de luta armada contra o colonialismo português.

Foram, têm sido, 53 anos de duras lutas pela libertação total do domínio estrangeiro, do domínio político daqueles que acham o país, uma coutada pessoal, ou da menoridade de uma parte substancial da nossa população.

Como Roma e Pavia não se fizeram num dia, também Angola – e nós – não podemos almejar que tudo sejam rosas (de fina porcelana) sem que contribuamos, devidamente, para esse desígnio nacional que é o desenvolvimento. Social, político, económico e financeiro.

Citando a jornalista e política Ana Margoso, 39 anos depois, temos “independência, ou dependência? Neste 11 de Novembro, deveríamos nos orgulhar de quê?”

Apesar de tudo podemo-nos orgulhar de ter obrigado um certo sector político a se legitimar através do voto, mesmo que indirecto, e praticamos uma independência que não sendo total – há a globalização que torna os países um pouco dependentes das “vontades” das grandes potências – é, ainda assim, suficiente para mostramos que somos um País com projecção internacional e como um país potencialmente em ascensão.

É suficiente? Claro que não! Temos independência política mas não económica. A nossa dependência de mono-indústrias (ou quase, porque é o petróleo e os diamantes quem ainda sustenta o nosso PIB, felizmente que já com menor preponderância que há uns anos) tem de ser totalmente graduada.

Há situações sensíveis que nos obrigam a ponderar se desejamos ser unos e poderosos ou intransigentes e déspotas. É o caso – ainda – da província de Cabinda e da sua situação pouco clara a nível social, político e militar.

Recordo um recente debate, ocorrido no Voice of America (VOA), sobre Cabinda e sobre, precisamente, o aniversário que hoje comemoramos, onde diversas personalidades debatiam a actual situação na província. Algumas destas que se afastaram da ala militar da FLEC defendem uma autonomia para Cabinda e a renegociação do Memorando de Entendimento assinado entre o Governo e o chamado Forum Cabindês para o Diálogo (FCD). Entre elas, o general Zenga Mambo, que lidera um denominado, Movimento Patriótico para a Libertação de Cabinda, afirmou à VOA que o enclave deve ser uma região autónoma e não submetida a um estatuto especial que na prática não funcionou por conter o que chamou de “insuficiências jurídicas”

Tal como tenho defendido – e nem por isso admito que me considerem menos angolano – Cabinda deve ter um estatuto especial dentro da República de Angola. A sua descontinuidade geográfica e especificidade social e antropológica já ajudariam a compreender este meu proto-argumento. Só a visão curta e monolítica de alguns dos nossos políticos insiste em não ver a verdadeira realidade cabindense.

É certo que para isso, deverá haver uma alteração constitucional. Nessa altura dever-se-ia estender essa alteração a outras “obscuras zonas políticas”… Não é independência da província! É dar um estatuto especial à província.

Sem que tenha de ser estendido a outras regiões que, inopinadamente, vêm reclamando, também, de autonomia, e, na minha interpretação, sem razões histórico-políticas para tal – basta recordar o Tratado de Luanda de 1927 – Cabinda com um estatuto especial tornaria mais forte a Nação angolana.

Há muita coisa que ainda necessita de ser alterada e melhorada: a corrupção, a gasosa, a incúria, a deficiente – ou quase nula – redistribuição da renda, o saneamento básico, etc. Mas como Roma e Pavia não se fizeram num dia, também, quero acreditar que muita coisa – além da já feita, reconheça-se – será ainda feita em prole do desenvolvimento social, político e económico do país!

Viva Angola e os 39 anos de independência política nacional! Qua dependência económica seja, um dia e a curto prazo, esbatida…

(imagem NaturalMedis)

Este texto foi igualmente citado no portal do semanário Folha 8. net


*Eugénio Costa Almeida* – Pululu - Página de um lusofónico angolano-português, licenciado e mestre em Relações Internacionais e Doutorado em Ciências Sociais - ramo Relações Internacionais -; nele poderão aceder a ensaios académicos e artigos de opinião, relacionados com a actividade académica, social e associativa.

Portugal: COM A CABEÇA FORA DO CITIUS



Pedro Ivo Carvalho – Jornal de Notícias, opinião

Houve vários momentos dramáticos na trapalhada do Citius, o sistema informático que bloqueou a justiça portuguesa durante mais de 40 dias. Mas o maior foi, provavelmente, o que conduziu a uma teoria da conspiração que se cristalizou no espaço mediático. A de que a migração apressada de milhões de processos judiciais para uma plataforma digital só não acontecera por obra e graça de uma sabotagem.

A ministra da Justiça, Paula Teixeira da Cruz, agarrou-se com ambos os braços a esta boia de salvação. Pelo menos pensava ela. Na verdade, como o argumento deste filme negro foi tão elegante nos detalhes, até nos dava vontade de acreditar. Afinal, esta era a história de dois funcionários administrativos da PJ que tinham sido alcandorados à condição de mentores de uma gigantesca trama informática. Com as consequências sabidas: milhões de documentos e informações vitais suspensos numa espécie de limbo.

Semeada a dúvida, a ministra deu-lhe corda. Pediu ao Ministério Público que investigasse as suspeitas. O Citius começava finalmente a endireitar-se e havia que manter bem vivo o fantasma da cabala. Duas semanas bastaram para a estratégia ruir: a Procuradoria ilibou os dois suspeitos e arquivou o processo, por falta de indícios do crime de sabotagem informática e do crime de coação. O despacho é cristalino: o Citius revelou-se um sistema frágil e o Instituto de Gestão Financeira e Equipamentos da Justiça foi incapaz de conduzir o processo de migração "com eficácia".

Perante isto, o que diz a ministra? Que "os factos descritos no relatório não revelavam, mas não excluíam, a ocorrência de ilícito". Paula Teixeira da Cruz é uma mulher obstinada. E isso é salutar. Menos quando esse empenho se transforma em cegueira. Desista, senhora ministra. Perdeu.

Protocolo "ficou denunciado" com expulsão de magistrados portugueses de Timor - ministra




Lisboa, 12 nov (lusa) - A ministra da Justiça admitiu hoje que, com a expulsão dos magistrados portugueses, o protocolo de cooperação judiciário com Timor-Leste "ficou denunciado", mas escusou-se a revelar o teor da carta que dirigiu ao seu homólogo timorense.

"Expulsados que foram os magistrados portugueses, o protocolo ficou denunciado", declarou a ministra da Justiça, Paula Teixeira da Cruz, depois de ser confrontada com o facto de o protocolo não prever a suspensão da cooperação judiciária, mas a sua denúncia num prazo de 180 dias.

A titular da pasta da Justiça falava aos jornalistas no final do debate na especialidade do Orçamento do Estado para 2015, para a área da Justiça.

Instada a responder sobre a formalização da denúncia formal do protocolo, ter já sido ou não efetuada, a ministra da Justiça não quis adiantar pormenores, dizendo não querer "revelar o teor da carta que dirgiu ao seu homólogo" timorense, no âmbito do caso.

Paula Teixeira da Cruz apontou a "delicadeza da matéria" e limitou-se a dizer que, em breve, anunciará a data da visita oficial do ministro timorense da Justiça a Portugal.

Questionada sobre se ia tomar a mesma atitude, expulsando agentes da justiça que estão em formação em Portugal, a ministra foi perentória em assegurar que "nunca prejudicará ninguém", porque "há uma forma" que Portugal tem de "olhar para tudo isto, que é uma forma profundamente solidária".

Acerca dos problemas do Citius, a ministra disse que aguarda "até ter em mão todos os elementos referentes a essa matéria", aludindo ao inquérito disciplinar que ainda está em curso, depois de o Ministério Público ter aberto e anunciado o arquivamento do inquérito-crime, instaurado com base no relatório do Instituto de Gestão Financeira e Equipamentos da Justiça (IGFEJ).

Durante o debate parlamentar, os deputados Pita Ameixa (PS), Cecília Honório (Bloco de Esuqerda) e António Filipe (PCP) exigiram que a ministra assumisse as responsabilidades políticas pelo bloqueio do Citius no arranque do novo mapa judiciário, a 01 de setembro, tendo Paula Teixeira da Cruz replicado que, embora alguns partidos de oposição peçam a sua demissão, nem a associação de magistrados judiciais, nem o sindicato dos magistrados públicos ou Câmara dos Solicitadores pediram a sua saída do Governo.

A ministra apontou como prioridades para 2015 as obras a realizar ou a avançar nos tribunais, nos estabelecimentos prisionais e nos centros educativos para jovens delinquentes.

BE e PCP mostaram-se preocupados com a situação prisional, nomeadamente com o facto de apenas ser dispendido 3,5 euros, com a alimentação diária por recluso, o que suscita dúvidas quanto à qualidade das refeições fornecidas nas cadeias.

FC // MAG

APELO AOS JOVENS TIMORENSES FAZ SENTIDO SE HOUVER MAIS INVESTIMENTO




PR timorense apela a jovens para contribuírem para o desenvolvimento nacional

Díli, 12 nov (Lusa) - O Presidente de Timor-Leste, Taur Matan Ruak, apelou hoje aos jovens timorenses para aproveitarem a independência para estudarem e contribuírem para o desenvolvimento nacional.

"Como chefe de Estado, apelo aos jovens para que aproveitem esta independência para estudarem e aprenderem ciências, com seriedade, contribuindo assim para o nosso desenvolvimento nacional", afirmou o Presidente, numa mensagem por ocasião do 23.º aniversário do massacre de Santa Cruz.

Segundo Taur Matan Ruak, o dia que hoje se celebra é importante para todos recordarem os jovens que "demonstraram com firmeza o espírito da independência", manifestando-se contra a "ocupação ilegal" de Timor-Leste.

"Foram muitos os timorenses que pagaram um preço elevado. Muitos perderam a vida. O seu sofrimento despertou a comunidade internacional para a luta pela independência e permitiu que hoje tenhamos um país independente e soberano", salientou o chefe de Estado.

Na mensagem, Taur Matan Ruak referiu também que o país "ainda tem muitos desafios pela frente" que só podem ser superados com "pessoas qualificadas, trabalhadoras e humildes".

"Assim, lembro aos jovens que se hoje não aproveitarem o tempo para estudar, não poderão usufruir das oportunidades do futuro, porque o país pertence apenas àqueles que querem aproveitar estas oportunidades, e estudar e aprender para enriquecerem o seu conhecimento", concluiu.

A 12 de novembro de 1991 mais de duas mil pessoas reuniram-se numa marcha até ao cemitério de Santa Cruz, em Díli, para prestarem homenagem ao jovem Sebastião Gomes, morto em outubro desse ano por elementos ligados às forças indonésias.

No cemitério, militares indonésias abriram fogo sobre a multidão. Segundo números do Comité 12 de Novembro, 2.261 pessoas participaram na manifestação, 74 foram identificadas como tendo morrido no local e 127 morreram nos dias seguintes no hospital militar ou em resultado da perseguição das forças ocupantes.

A maior parte dos corpos continua em parte incerta.

MSE // VM

Organização timorense pede ao Governo mais investimento na educação dos jovens

Díli, 12 nov (Lusa) - A organização timorense Fundação Mahein pediu hoje, Dia da Juventude Timorense, ao Governo de Timor-Leste para investir mais na educação dos jovens, para os preparar para as lutas da pós-independência, nomeadamente o desenvolvimento do país.

"A Fundação Mahein considera que o Governo deve gastar recursos para assinalar um jovem caído, mas também para qualificar as novas gerações para as lutas pós-independência de Timor-Leste", refere organização, em comunicado.

Timor-Leste celebra hoje o Dia da Juventude Timorense para assinalar os 23 anos passados desde omassacre de Santa Cruz, quando mais de duas mil pessoas marcharam até àquele cemitério de Díli para prestarem homenagem ao jovem Sebastião Gomes, morto por elementos ligados às forças indonésias.

No cemitério, militares indonésios abriram fogo sobre a multidão e provocaram a morte de 74 pessoas no local. Nos dias seguintes, mais de 120 jovens morreram no hospital ou em resultado da perseguição das forças ocupantes.

"O tempo de luto já é longo e os jovens de hoje têm de enfrentar novas batalhas em Timor-Leste para a estabilidade e desenvolvimento", salienta a Fundação Mahein.

Para a organização timorense, é altura de o Governo atribuir "verbas significativas" para recursos humanos, principalmente para os jovens trabalharem em todos os setores, para fortalecer a construção da Nação.

"Além disso, o Governo deve investir de forma inteligente e profundamente na educação, tanto formal como informal, para preparar os jovens para o futuro. Com investimento de qualidade, o sistema educativo pode produzir uma geração de jovens timorenses disciplinados e qualificados para liderarem o caminho", sublinha a organização.

Segundo a Fundação Mahein, a população jovem timorense é a que menos atenção recebe do Governo, o que provoca marginalização, desemprego, educação incompleta e pobreza.

"O resultado combinado destas forças é o conflito, o que compromete o sacrifício histórico dos companheiros do massacre de Santa Cruz", refere a organização, sublinhando que as comemorações devem servir para fazer uma perspetiva profunda sobre o passado, presente e futuro do novo Timor-Leste.

MSE // ARA

Título PG

GOVERNO DE MACAU “ABERTO” À CRIAÇÃO DE UMA LEI SINDICAL




Macau, China, 12 nov (Lusa) - O Governo de Macau manifestou-se hoje "aberto" à criação de uma lei sindical na Região Administrativa Especial, mas justificou a ausência de trabalhos nesse sentido com a sensibilidade do tema que, diz, gera "controvérsias" na sociedade.

"A nossa posição é aberta. Já discutimos várias vezes na Assembleia Legislativa e houve muitos deputados a questionar sobre este aspeto e a apresentar projetos. A posição do Governo é sempre aberta", disse Wong Chi Hong, diretor dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL), à margem de uma reunião do Conselho Permanente de Concertação Social.

A Lei Básica de Macau garante a liberdade sindical e negociação coletiva, no entanto esse direito nunca foi regulamentado. Os direitos dos trabalhadores são defendidos pelas associações laborais que não podem, por exemplo, representar trabalhadores em tribunal, nem estes têm, na prática, direito à greve.

O deputado Pereira Coutinho apresentou cinco vezes projetos de lei sindical na Assembleia Legislativa mas foram sempre chumbados.

"Há muitas controvérsias [em torno da] lei e não conseguimos avançar. Só depois de ouvirmos todas as opiniões é que podemos tomar uma decisão", justificou Wong Chi Hong.

O diretor da DSAL garantiu, no entanto, que mesmo sem esta legislação os conflitos laborais têm sido resolvidos de forma satisfatória, "através de conciliação, negociação ou intervenção das associações de trabalhadores".

O representante dos trabalhadores no Conselho Permanente de Concertação Social, Lei Chan U, vice-presidente da direção da Federação das Associações de Operários de Macau, lamentou que a lei não tenha ainda avançado.

"Já sugerimos muitas vezes que precisamos de uma lei sindical. Exigimos ao Governo e aos deputados que o façam o mais cedo possível. Tem que ver com os nossos direitos, o Governo de Macau precisa de prestar mais atenção", instou.

Segundo Lei Chan U, o Executivo já deu sinais de "estar de acordo com a negociação coletiva, mas até agora não há qualquer plano concreto sobre este aspeto".

ISG // JMR

MANIFESTANTES EM HONG KONG PLANEIAM OCUPAR ZONA DO CONSULADO BRITÂNICO




Hong Kong, China, 12 nov (Lusa) -- Manifestantes em Hong Kong planeiam ocupar as vias junto ao consulado britânico, pela alegada falta de apoio de Londres ao movimento pró-democracia, noticia a AFP.

O governo de Hong Kong instou, na terça-feira, os manifestantes -- a maioria estudantes -- a abandonarem os locais de protesto que ainda ocupam algumas das principais vias da cidade, mais de seis semanas depois do início das manifestações pelo sufrágio universal.

A 'número dois' do Executivo local, Carrie Lam, disse não haver "mais espaço para negociação" com os estudantes, depois de, na segunda-feira, a polícia ter sido autorizada a apoiar os oficiais de justiça para fazerem cumprir ordens judiciais com vista à retirada das barricadas das estradas.

Não foram adiantados detalhes nem datas sobre as eventuais ações levadas a cabo pelas autoridades de Hong Kong.

Fontes citadas pela Rádio e Televisão Pública de Hong Kong (RTHK) referem, no entanto, que cerca de 7.000 polícias podem ser destacados para uma operação de larga escala para ajudar os oficiais de justiça a aplicarem as ordens do tribunal em várias vias ocupadas pelos manifestantes, nomeadamente junto à sede do Governo, em Admiralty, e em Mong Kok, na Península de Kowloon.

Numa aparente indiferença aos avisos do governo, ativistas colocaram cartazes nos locais de protesto a anunciar a ocupação das imediações do consulado britânico para o próximo dia 21 e criaram o evento numa página do Facebook que esta manhã já tinha mais de 700 'likes', segundo a AFP.

Os organizadores da iniciativa querem mostrar o seu descontentamento para com a Grã-Bretanha por não erguer a voz contra a China no que consideram ser "violações" do acordo estabelecido entre os dois países, ao abrigo do qual Hong Kong foi devolvida à China pela Grã-Bretanha em 1997.

"Estamos zangados com a forma como o governo britânico tem, há vários anos, negado que a China viola a Declaração Conjunta ao interferir na política de Hong Kong", disse à AFP Anna-Kate Choi, coordenadora do grupo "Occupy British Consulate".

"Eles têm a responsabilidade de garantir que a Declaração Conjunta foi bem implementada e que a democracia e o elevado grau de autonomia de Hong Kong estão protegidos", afirmou Anna-Kate Choi, mencionando a necessidade de proteger o modo de vida da antiga colónia britânica.

O consulado britânico em Hong Kong não fez comentários sobre o assunto.

A antiga colónia britânica vive a mais grave crise política desde a transição de soberania para Pequim, em 1997.

Pequim aprovou o princípio "uma voz, um voto", mas reserva a um comité eleitoral, maioritariamente favorável ao Partido Comunista chinês a pré-seleção dos candidatos a chefe do Executivo em 2017, condições consideradas inaceitáveis pelo movimento pró-democracia.

FV // JCS

MERITOCRACIA, TRAPAÇA E DEPRESSÃO




Psicanalista belga relaciona competição selvagem, que marca capitalismo pós-moderno, com comportamentos antiéticos dos “vencedores” e frustração da imensa maioria. “Sejamos desgarrados”, ele sugere

George Manbiot – Outras Palavras - Tradução Eduardo Sukys - Imagem: John Bellany

Estar em paz com um mundo atormentado: não é uma meta sensata. Ela pode ser conquistada apenas negando tudo aquilo que cerca você. Estar em paz com você mesmo dentro de um mundo atormentado: essa é, ao contrário, uma aspiração nobre. Este texto é para as pessoas que estão em conflito com a vida. Ele faz um apelo para você não se envergonhar disso.

Senti o ímpeto de escrevê-la ao ler um livro notável de Paul Verhaeghe, um professor belga de psicanálise. What About Me? The Struggle for Identity in a Market-Based Society [E quanto a mim? A luta por identidade em uma sociedade baseada no mercado,sem tradução em português] é uma dessas obras que, ao fazer conexões entre fenômenos aparentemente distintos, fomenta novos insights sobre o que está acontecendo conosco e porquê.

Somos animais sociais, argumenta Verhaeghe, e nossas identidades são formadas pelas normas e valores que absorvemos de outras pessoas. Toda sociedade define e molda sua própria normalidade e sua própria anormalidade, de acordo com narrativas dominantes, e busca fazer com que as pessoas obedeçam — caso contrário as exclui.

Hoje, a narrativa dominante é do fundamentalismo de mercado, amplamente conhecido na como neoliberalismo. O conto é que o mercado pode resolver quase todos os problemas sociais, econômicos e políticos. Quanto menos o Estado nos controlar e taxar, melhor será nossa condição. Os serviços públicos devem ser privatizados, os gastos públicos devem ser reduzidos e os negócios devem ser liberados do controle social. Em países como o Reino Unido e os EUA, essa história molda as normas e valores há cerca de 35 anos: desde que Thatcher e Reagan chegaram ao poder. E rapidamente está colonizando o restante do planeta.

Verhaeghe indica que o neoliberalismo se apoia na ideia grega de que nossa ética é inata (e regida por um estado de natureza que chama de mercado) e na ideia cristã de que a humanidade é inerentemente egoísta e gananciosa. Em vez de tentar suprimir essas características, o neoliberalismo as exalta: essa doutrina afirma que a competição irrestrita, guiada pelo interesse próprio, conduz à inovação e ao crescimento econômico, melhorando o bem estar de todos.

Toda essa história gira em torno da noção de mérito. A competição irrestrita recompensaria as pessoas talentosas, que trabalham duro e inovam. Ela rompe com as hierarquias e cria um mundo de oportunidades e mobilidade.

Mas a realidade é bem diferente. Mesmo no início do processo, quando os mercados foram desregulamentados pela primeira vez, não começamos com oportunidades iguais. Algumas pessoas já estavam bem à frente antes de ser dada a largada. Foi assim que as oligarquias russas conseguiram acumular tanta riqueza quando a União Soviética chegou ao fim. Eles não eram, em sua maioria, os mais talentosos, trabalhadores ou inovadores, mas sim os menos escrupulosos, os mais grosseiros e com os melhores contatos, frequentemente na polícia secreta — a KGB.

Mesmo quando os resultados resultam de talento e trabalho duro, a lógica não se mantém por muito tempo. Assim que a primeira geração de empresários liberados conquista seu dinheiro, a meritocracia inicial é substituída por uma nova elite, que isola seus filhos da competição por meio da herança e da melhor educação que o dinheiro pode comprar. Nos locais onde o fundamentalismo de mercado foi aplicado com mais vigor, em países como os EUA e o Reino Unido, a mobilidade social diminui bastante.

Se o neoliberalismo não fosse uma trapaça egoísta, e se seus gurus e thinktanks não fossem financiados desde o início por algumas das pessoas mais ricas do mundo (os multimilionários americanos Coors, Olin, Scaife e Pew, entre outros), seus apóstolos teriam exigido, como precondição para uma sociedade baseada no mérito, que ninguém deveria começar a vida com uma vantagem injusta — seja riqueza herdada ou educação determinada economicamente. Porém, eles nunca acreditaram em sua própria doutrina. O empreendimento, como resultado, rapidamente deu lugar à renda.

Tudo isso é ignorado, e o sucesso ou a falha da economia de mercado são atribuídos unicamente aos esforços do indivíduo. Segundo esta crença, os ricos são os novos justos; os pobres são os novos desviados, que fracassaram econômica e moralmente e hoje são classificados como parasitas sociais.

O mercado deveria nos libertar, oferecendo autonomia e liberdade. Em vez disso, entregou atomização e solidão.

O local de trabalho foi envolvido por uma estrutura louca, kafkiana, de monitoramento, medição, vigilância e auditorias, orientada centralmente, planejada de forma rígida e cujo objetivo é recompensar os vencedores e punir os perdedores. Ela destrói a autonomia, o empreendimento, a inovação e a lealdade e gera frustração, inveja e medo. Por meio de um paradoxo incrível, ela nos levou até o renascimento de uma antiga tradição soviética conhecida na Rússia como tufta. Ela significa falsificação de estatísticas com o objetivo de atender aos ditames do poder irresponsável.

As mesmas forças afetam aqueles que não conseguem encontrar trabalho. Agora, eles precisam disputar, além de sofrer as outras humilhações do desemprego, com um nível totalmente novo de vigilância e monitoramento. Tudo isso, de acordo com Verhaeghe, é fundamental para o modelo neoliberal, que sempre insiste na comparação, avaliação e quantificação. Somos tecnicamente livres, mas incapacitados. Quer seja no trabalho ou fora dele, devemos viver com base nas mesmas regras ou perecer. Todos os principais partidos políticos as promovem — então não temos poder político também. Em nome da autonomia e da liberdade, acabamos controlados por uma burocracia esmagadora e anônima.

Verhaeghe escreve que essas mudanças vieram acompanhadas de um aumento espetacular em certas condições psiquiátricas: automutilação, distúrbios de alimentação, depressão e distúrbios de personalidade.

Dentre os distúrbios de personalidade, os mais comuns são ansiedade por desempenho e fobia social: ambos refletem um medo da outra pessoa, que é percebida tanto como avaliadora quanto como competidora, as únicas funções que o fundamentalismo de mercado admite para a sociedade. Somos atormentados pela depressão e pela solidão.

Os ditames infantilizadores do local de trabalho destroem nosso respeito próprio. Aqueles que terminam no fim da fila são acometidos por culpa e vergonha. A falácia da autoatribuição tem dois lados: assim como nos regozijamos por nosso sucesso, nos culpamos por nosso fracasso, mesmo se não tivermos qualquer responsabilidade por isso.

Portanto, se você não se encaixa ou se sente um estranho no mundo, se sua identidade está perturbada ou rompida, se você se sente perdido e envergonhado, talvez seja porque você manteve os valores humanos que deveria ter descartado. Você é um desgarrado. Orgulhe-se.

Leia mais em Outras Palavras 
Como se desperta o pior que há em nós - Sociedades meritocráticas de mercado corroem autoestima. Estimulam, como defesa, superficialidade, oportunismo e mesquinhez. Tornam-nos “livres” porém impotentes. Saberemos reagir?

MÍDIA EUROPEIA É PRÓ-EUA POR PRESSÕES DA CIA




"Publiquei artigos da autoria de agentes da CIA e outros serviços de inteligência como se tivessem sido escritos por mim"

RT.com - Carta Maior

O jornalista e editor alemão Udo Ulfkotte declarou que foi forçado a publicar — como de sua autoria — trabalho de agentes de inteligência, sob o risco de ser demitido se não cumprisse tais ordens. Ulfkotte fez tais revelaçãos durante entrevistas ao RT e ao Russia Insider.

“Eu acabei publicando artigos da autoria de agentes da CIA e outros serviços de inteligência, especialmente o serviço secreto alemão, como se tivessem sido escritos por mim,” declarou ao Russia Insider. Ele fez comentários como esse ao RT em uma entrevista exclusiva no começo de outubro.

“Um dia a BND (agência de inteligência estrangeira alemã) veio a meu escritório noFrankfurter Allgemeine em Frankfurt. Eles queriam que eu escrevesse um artigo sobre a Líbia e Muammar Gaddafi… Eles me deram várias informações secretas e queriam que eu escrevesse um artigo com meu nome,” contou à RT.

“Este artigo era sobre como Gaddafi havia tentado secretamente construir uma fábrica de gás venenoso. Foi uma história impressa no mundo todo dois dias mais tarde.”

Ulfkotte revela tudo isso e mais em seu livro ‘Jornalismo Comprado,’ onde ele menciona que se sente envergonhado pelo que fez no passado.

"Não é certo o que fiz no passado. Manipular as pessoas, fazer propaganda. E não é certo o que meus colegas fazem e fizeram, pois foram subornados para trair as pessoas não somente da Alemanha, mas de toda a Europa,” declarou. “Fui jornalista por 25 anos e fui educado para mentir, para trair, para não dizer a verdade ao público.”

“Fui subornado pelos americanos para não relatar exatamente a verdade… fui convidado pelo German Marshall Fund of United States para viajar aos EUA. Eles pagaram todas as minhas despesas e me colocaram em contato com americanos que eles gostariam que eu conhecesse,” declarou.

“Me tornei cidadão honorário do estado de Oklahoma nos EUA somente porque escrevi a favor dos EUA. Fui apoiado pela CIA. Os ajudei em várias situações e me sinto envergonhado por tê-lo feito.”

Muitos outros jornalistas estão envolvidos na mesma prática, completou.

“A maior parte dos jornalistas que você vê em países estrangeiros, eles se dizem jornalistas e podem até ser. Mas muitos deles, como eu no passado, são chamados ‘cobertura não-oficial.’ Isso significa que trabalham para uma agência de inteligência, que a ajudam se elas pedem. Mas elas nunca dirão que te conhecem.”

Os jornalistas escolhidos para estes tipos de trabalho são de grandes grupos midiáticos. O relacionamento com o serviço secreto começa como uma amizade.

“Eles trabalham com seu ego, te fazem se sentir importante. E um dia um deles perguntará 'você poderia me fazer um favor?'”

Tradução de Roberto Brilhante

ALARMADA, ANISTIA PEDE FIM DA MATANÇA DE JOVENS NEGROS NO BRASIL



Afropress, com informações das Agências

Rio - Dos 30 mil jovens, em idade entre 15 e 29 anos, que são vítimas de homicídios por ano no Brasil, 77% são negros. Os altos índices de violência atingindo a juventude negra fizeram com que a Anistia Internacional lançasse nesse domingo (09/11), no Aterro do Flamengo, no Rio, uma campanha intitulada “Jovem Negro Vivo”. 

“Apesar dos altíssimos índices de homicídio de jovens negros, o tema é em geral tratado com indiferença na agenda pública nacional. As consequências do preconceito e dos estereótipos negativos associados a estes jovens e aos territórios das favelas e das periferias devem ser amplamente debatidas e repudiadas”, afirmou a Anistia no Comunicado em que lançou a campanha neste mês da Consciência Negra.

“É razoável que lidemos com normalidade com a execução de adolescentes? Não se trata de apontar o dedo para a imprensa. Apontemos para nós todos. Convivemos com normalidade com esses fatos. Convivemos com normalidade com a morte de 1 milhão de brasileiros em pouco mais de duas décadas. É a maior tragédia da nossa história desde a escravidão”, escreveu o diretor executivo da Anistia Internacional Brasil, Atila Roque. 

O vídeo da campanha, que busca colher assinaturas e apoios em favor de políticas públicas para a juventude negra brasileira, contou com a colaboração do rapper Criolo, que cedeu a música "Duas de cinco" para ilustrar o tema.

A altíssima mortalidade dos jovens negros vem sendo constatada em vários estudos e levantamentos, inclusive, no Mapa da Violência. Recentemente pesquisadores da Universidade Federal de S. Carlos (UFSCar), coordenados pela professora Jacqueline Signoretto, constataram que, em S. Paulo, por exemplo, a Polícia Militar mata três vezes mais negros do que brancos, o que segundo o levantamento caracteriza “racismo institucional”. 


Brasil: ANALISANDO O PROFESSOR RACISTA DA UFES



Walter Aquino - Afropress

Ele não é só um preconceituoso, tem toda uma teoria para justificar o seu racismo. Nesse sentido ele se aproxima dos racista cientifico, como é o caso do Demétrios, da Faculdade de Medicina da UFBA que, inclusive, já deu entrevista e foi muito elogiado por Jorge Portugal a um tempo atrás no programa da TV Bahia Aprovado, fundamentando e justificando a desigualdade com teorias supostamente científicas da biologia.

O que me incomoda não e só a posição de pessoas como essas que sabemos que são idiotas suficientes para dar a cara para bater; mas o fato dessa ser uma compreensão dos que historicamente fazem parte da casta da inteligência branca que dirige e mantém os privilégios nas universidades e que muitas vazes agem de forma mais dissimuladas quando fazem as seleções para definir que vai acessar, por exemplo, os cursos de pós-graduação ou para ser professor da universidade.

Nós conseguimos uma vitória ao instituir as cotas para acesso à universidade, mas depois desse processo ser definitivamente instituído com definição de sua constitucionalidade pelo Supremo, nós, simplesmente, entramos em um processo de acomodação.

A verdade é que para podermos avançar nessa luta, precisamos propor, tanto politicas de ações-afirmativas para todos os curso de doutorado e mestrado, bem como para a seleção de professores.

A partir disso poderíamos começar descolonizar a Universidade e mesmo assim, ainda vamos ter que esperar algum tempo para formar escolas com nossa cosmovisão de mundo.


“EL PAÍS”: PORTUGAL, À VENDA




Queda do Espírito Santo e venda da operadora PT colocam em questão poder econômico do país


Um artigo do El País publicado nesta segunda-feira (10/11) fala sobre as dificuldades enfrentadas pela economia portuguesa. “Portugal não pode ser desarmado. Os órgãos da soberania devem interpretar fielmente a busca do bem comum que é propriedade da Nação”. Ainda que pareça, Portugal não está sendo agredido belicamente, mas, ao que parece, desarmado economicamente. Hoje é a Portugal Telecom, um pilar do país, transformada em moeda de troca da brasileira OI, ontem os hospitais, anteontem a rede elétrica e a rede de água”, alerta a matéria de Javier Martín.

Políticos, economistas, acadêmicos, da direita do país (CDS) até a esquerda (Bloco de Esquerda), assinaram um manifesto para deter a desertificação empresarial. “A gravidade da situação da PT é incompatível com silêncios e omissões”, continua o Apelo para o Resgate da PT. “Está em jogo o interesse nacional em sua mais genuína interpretação. Está em jogo a busca do bem comum e a defesa estratégica da soberania nacional. Por isso exigimos das autoridades políticas e públicas uma atuação intensamente ativa”.

A PT é o último caso de perda de tecido industrial, acelerada nos últimos anos com o programa de privatizações exigido pela troika, e nos últimos meses com a derrubada do Banco Espírito Santo (BES), que não se pode imputar ao FMI, nem ao Banco Central Europeu, nem a Bruxelas. Agora Portugal está à venda.

“Detesto os investimentos chineses”, exclamou Alexandre Soares dos Santos, um dos ícones empresariais nacionais, no fórum Exame de Portugal. “Não trazem know how, não trazem gestão, não trazem nada”. O grande empresário dos supermercados Pingo Doce esqueceu de citar o que a China está trazendo para Portugal: dinheiro.

Portugal não tem dinheiro; as empresas não têm dinheiro, as pessoas não têm dinheiro (a alta taxa de poupança de 14% significa medo, embora o desemprego tenha caído para 13,1%). “Neste país, as empresas não são criadas com o dinheiro do empresário, são criadas com crédito”, sempre lembra António Costa, diretor do Diário Econômico. Se há benefícios, eles vão para fora; se a empresa fracassa, fica com o banco e, agora, quem vai à falência é o banco que os abrigava, o BES.

A presidente do Conselho de Finanças Públicas, Teodora Cardoso, confirmava recentemente o mal: “A falta de capital das empresas é um problema crônico. O problema da dívida portuguesa não é apenas do Estado, é também das empresas.”

“A falta de capital é um drama”, explicava no mesmo fórum de empresários, o presidente da construtora Mota-Engil, Gonçalo de Moura. “As empresas não podem crescer só com financiamento bancário.”

Salvador de Mello, que dirige o grupo de saúde privado José de Mello Saúde, é o mais otimista. “Acho que é possível crescer ao redor de 3% anuais”, embora nem o próprio Governo acredite nisso, ao prever 1,5% para 2015 (a CE aposta em 1,3%). Para De Mello, a fórmula passa por reduzir o gasto público e o peso do Estado. “Temos que abandonar de uma vez o conceito de Estado-empresário em favor do Estado-regulador.” O executivo coincidia, em parte, com a crítica de Soares de Santos ao dinheiro que está entrando. “Gostaria que fosse produtivo e não apenas transferência de propriedade, como está ocorrendo.”

O ex-ministro das Finanças, Medina Carreira, é mais pessimista sobre o futuro de Portugal. “Neste panorama europeu, com a incapacidade para atrair investimento e a incapacidade para reduzir gasto público, estamos a caminho de uma grande crise financeira pública. É muito provável que em um prazo relativamente curto, Portugal tenha que pedir ajuda internacional a seus credores.”

“Depois de três anos de vigilância, a troika foi embora de Portugal em maio. Na semana passada, voltou para ver como estava o país sem eles. Seu informe, publicado na quarta-feira, não deixa lugar a dúvidas: “(...) o esforço para reduzir o déficit estrutural orçamentário diminuiu claramente. O empenho nas reformas estruturais ficou debilitado.”

O ex-ministro lembra que o ajuste devia ser feito, segundo o compromisso contraído com a troika, 2/3 pela via da redução de gasto público e outro 1/3 pelo aumento da arrecadação. A realidade é que o corte de gastos, em lugar de ser 66% do ajuste, só significa 22%, por isso o peso dos impostos subiu de 33% para 78% do ajuste, com o consequente estrangulamento do consumo das pessoas, que precisam pagar 2,85 euros (9 reais) para subir no trem ou 15 euros (47,88 reais) para ser atendido em emergências.

Não é estranho, por isso, que esta semana os auditórios portugueses tenham lotado para ouvir Patxi Andion cantar ‘vão nos mandar a conta e você terá que pagar, e eu, terei que pagar também; será preciso pagar’.”, conclui o artigo do El País.

Portugal: SEM RESPOSTAS QUATRO ANOS DEPOIS



Carlos Moreno – jornal i, opinião

Os contribuintes pagam muito mais impostos, mas não têm visibilidade de que os gastos públicos supérfluos, os desperdícios, a má despesa pública desapareceram

Numa entrevista há dias um jornalista perguntou-me porque é que tinha criticado tanto o poder anterior e continuava a fazer o mesmo com o actual, especialmente em matéria de finanças públicas.

Doeu-me a questão, porque gosto de ser positivo e construtivo e fiquei com a sensação amarga de que me tinha tornado num velho rezingão, a protestar em permanência para provar continuar vivo.

Fui ver.

Num livro que publiquei em Outubro de 2010, com sete edições em poucos meses, tinha apresentado várias propostas para melhorar a gestão dos dinheiros públicos. Recordo quatro delas - exemplo permanente de austeridade pública perceptível pelo cidadão médio; obrigatoriedade de o Estado justificar o dispêndio público, para além da legalidade, segundo critérios da boa gestão financeira; avaliação imediata da utilidade social dos serviços e empresas dos sectores públicos; funcionamento sistemático do mercado e da concorrência em todas as aquisições de bens e serviços por entidades públicas.

Que tinha eu em mente em 2010?

Resumidamente, que o Estado deve demonstrar em permanência aos cidadãos que o gasto público está concentrado nas necessidades essenciais da vida colectiva e saber que um só exemplo de gasto sumptuário ou supérfluo, de desperdício, de despesismo ou de má despesa pública tem o significado de pecado social grave. Que não basta ao sector público, quando gasta dinheiro dos contribuintes, alegar que cumpriu todas as leis que, aliás, ele próprio elaborou; mais importante é provar que o fez respeitando os critérios da economia, da eficiência e da eficácia, numa palavra, que satisfez uma necessidade social prioritária e que o fez com impacto positivo, isto é, com benefício evidente para as populações, mediante escolha dos meios menos onerosos mas com as qualidades indispensáveis aos seus fins e deles retirando o máximo rendimento. Que antes de pedir novos sacrifícios aos cidadãos o poder deve avaliar a utilidade social dos serviços e empresas de todo o sector público, isto é, a qualidade e o valor acrescentado para as populações dos bens e serviços que aqueles prestam, a respectiva relação de custo-benefício, a eficiência e eficácia das suas organizações e as duplicações que existam. Que toda a aquisição de bens e serviços pelo sector público deve ser feita em regra por concurso público em vez de sistemático ajuste directo, mesmo suportado em lei, porque a concorrência fomenta o aperfeiçoamento tecnológico e estimula a produtividade e nos negócios do Estado é ainda fonte de indispensável transparência, publicidade, igualdade, imparcialidade e boa-fé.

Que vejo eu quatro anos depois?

Não encontro respostas positivas. No essencial, nada mudou. Os contribuintes pagam muito mais impostos, mas não é visível que os gastos públicos supérfluos, os desperdícios, a má despesa pública tenham desaparecido. Não dispõem de garantia de que os critérios da economia, da eficiência e da eficácia passaram a comandar o dispêndio público. Notam que o ajuste directo no Estado continua impávido e sereno a dominar. E que a reforma do Estado que devia ter medido a utilidade social dos serviços públicos continua à espera de melhores dias. A par desta inércia na gestão dos dinheiros públicos dizem-nos hoje organismos estatais que existem em crescendo perto de 2,8 milhões de pobres e que dois terços dos cerca de 900 mil desempregados não recebem subsídio público. Para mim, são mais de 3 milhões de portugueses excluídos da democracia substancial.

Não me vejo pois como um crítico profissional de governos. Em matéria de finanças públicas sinto-me mais próximo de outra realidade - a de, com a devida modéstia, ser olhado como uma espécie de farol por governos na oposição e como o seu azedo incómodo depois de chegados ao poder.

Juiz conselheiro jubilado do Tribunal de Contas - Escreve quinzenalmente à quarta-feira

Portugal - Investigação i. Saiba tudo sobre a auditoria do Banco de Portugal ao BES



Luís Rosa e Sílvia Caneco – jornal i

Ricardo Salgado e Amílcar Morais Pires são considerados suspeitos de práticas contra-ordenacionais. Ex-líder do BES arrisca-se a não poder ser banqueiro durante dez anos

Desde 12 de Agosto que uma equipa de 50 pessoas da Deloitte, sete membros do Banco de Portugal (BdP) e elementos da CMVM (Comissão de Mercado de Valores Mobiliários) estão concentrados em analisar os actos de gestão e olhar para a contabilidade do Banco Espírito Santo (BES). Foram recolhidos milhares de documentos, ouvidas dezenas de pessoas e endereçadas cartas-convite a todos os elementos da comissão executiva do BES para que prestem esclarecimentos até à próxima sexta-feira.

Até ao momento já foram concluídas quatro das cinco linhas de investigação. A auditoria confirma muitas das desconfianças que já eram públicas e traz também revelações. Em causa estão suspeitas de quatro ilícitos contra-ordenacionais especialmente graves, não só em Portugal, como no Panamá, Suíça, Luxemburgo e Angola.

Ricardo Salgado arrisca-se à pena máxima de inibição de funções no sector bancário durante dez anos. Os trabalhos até agora desenvolvidos na auditoria apontam para indícios de que alguns dos elementos da anterior comissão executiva do BES, liderada por Salgado, terá praticado actos dolosos de gestão ruinosa, em detrimento de depositantes, investidores e demais credores; falsificado a contabilidade; desobedecido a determinações do Banco de Portugal (BdP) e prestado informações falsas ou incompletas ao supervisor. Todas são infracções especialmente graves, previstas no Regime Geral das Instituições de Crédito e Sociedades Financeiras. Ao que o i apurou, os auditores da Deloitte recolheram fortes indícios contra Ricardo Salgado e o seu número dois, Amílcar Morais Pires.

No exercício que ficou conhecido como auditoria forense – apesar de na verdade se chamar auditoria especial para apuramento de irregularidades –, já foram concluídas as investigações sobre a alegada utilização da Eurofin para descapitalizar o banco nas últimas semanas do mandato da anterior administração, a violação das determinações do Banco de Portugal, a colocação de dívida do Grupo Espírito Santo (GES) nos clientes do BES e nos clientes ESAF, e a relação entre o BES e o BES Angola (BESA), nomeadamente a nível do apuramento de responsabilidades dos administradores do BES.

A sociedade suíça Eurofin Securities está no centro de um esquema que, como o i explicou em Outubro, terá permitido tirar pelo menos 800 milhões de euros do BES numa altura em que os Espírito Santo já tinham todas as indicações de que iriam ser afastados do banco. Quatro sociedades-veículo criadas pela Eurofin – mas que se suspeita serem controladas pelo BES – terão sido usadas para pagar dívida do grupo mas há também a convicção de que parte do dinheiro retirado ao banco nas últimas semanas não foi parar ao grupo, mas a parte incerta.

Como a “SIC” adiantou este domingo, milhares de euros terão saído para contas cujos beneficiários são ainda desconhecidos: só a cooperação internacional, numa primeira fase com os supervisores bancários de outros países, permitirá responder à pergunta: para onde foi este dinheiro?

Ao que o i averiguou, o dolo da comissão executiva do BES está em risco de ser especialmente agravado porque se suspeita que a engenharia financeira que passava pela sociedade suíça especializada em investimentos financeiros já tinha sido usada por altos quadros do BES e não apenas em 2014, numa manobra alegadamente controlada pelo administrador Amílcar Morais Pires e pela directora financeira Isabel Almeida, do Departamento Financeiro de Mercados e Estudos do BES.

O esquema da Eurofin cruza-se ainda com a suspeita da colocação de dívida do GES nos clientes do BES. Como estava proibido de emitir dívida directamente junto dos clientes, no âmbito do chamado plano de “ring fencing” imposto pelo Banco de Portugal em Dezembro de 2013 (o BES não podia ser contaminado pelos problemas financeiros do GES), o grupo terá recorrido à Eurofin, a quatro sociedades-offshore (entre elas a EG Premium, com sede nas ilhas virgens britânicas) e a outras instituições financeiras para colocar dívida em clientes do banco com gestão discricionária de carteiras, disfarçando a sua origem.

As relações entre o BES, o GES e a Eurofin determinaram um registo de perdas nas contas do banco no valor total de 1249 milhões de euros. Este é um dos pontos em que se suspeita ter havido violação directa das determinações do Banco de Portugal. Há ainda outra operação que obrigou ao reconhecimento de perdas nas contas semestrais do banco no valor de 267 milhões de euros e que terá sido feito à revelia do supervisor: a emissão de duas cartas-conforto, que funcionavam como garantias a investidores institucionais venezuelanos que terão investido em papel comercial de holdings do ramo não financeiro do GES.

A relação entre o BES e o BES Angola foi também passada a pente fino pelos auditores da Deloitte. Em causa está uma avaliação sobre se existiu exposição directa ou indirecta do grupo financeiro e dos seus clientes ao banco angolano e quais os eventuais delitos que a administração do BES terá cometido na sua relação com a subsidiária.

O que acontecerá agora? A data de 14 de Novembro nunca esteve em cima da mesa para apresentação das conclusões e ainda não há uma data prevista para o desfecho. A fase de recolha de prova está terminada mas falta produzir os relatórios. Quando forem encerrados, os relatórios da Deloitte irão integrar os processos de contraordenação que estão a decorrer no BdP e as suspeitas de práticas criminais – que irão ser desenvolvidas no último capítulo de cada relatório – serão enviadas para o Ministério Público.

A necessidade de cooperação internacional para averiguar eventuais práticas ilícitas que passaram pelo Luxemburgo, Suíça, Panamá e Angola é agora o maior entrave às investigações, sendo expectável que a Suíça e o Luxemburgo sejam os países mais cooperantes por também precisarem de informações para as investigações que já dirigem contra holdings do Grupo Espírito Santo. 

Foto: António Pedro Santos

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Catalunha. Mas na mira do Ministério Público e Rajoy na de dirigentes do PP



António Ribeiro Ferreira – jornal i

Ministério Público da Catalunha pode abrir um processo ao presidente da Generalitat e ala conservadora do PP ataca Rajoy por não ter impedido consulta de domingo

A consulta de 9 de Novembro na Catalunha sobre a independência não acalmou nenhumas das parte envolvidas. A guerra continua e até subiu de tom durante o dia de ontem com ameaças de processos judiciais Artur Mas, presidente da Generalitat, e críticas violentas da ala conservadora do partido Popular e de movimentos cívicos a Mariano Rajoy por não ter impedido a consulta de domingo. Ontem, Alicia Sánchez-Camachom, presidente do Partido Popular catalão, adiantou que o Ministério Público está a ultimar uma acusação contra Artur Mas, mas o procurador-geral da República, também na corda bamba por não ter actuado contra a Generalitat antes da consulta, veio ontem também pôr água na fervura e rejeitar as críticas de que está a ser alvo em diversos sectores da sociedade espanhola.

MINISTÉRIO PÚBLICO DEFENDE-SE 

Eduardo Torres-Dulce recusou as críticas de inacção e adiantou que o Ministério Público começou a trabalhar no caso no sábado e tem feito desde então diversas diligências. O procurador recusou fazer mais comentários mas foi adiantando que, sem precipitações, o Ministério Público actuará sempre no cumprimento da legalidade.

Torres-Dulce, citado pelo "El País", afirmou também que o Ministério Público da Catalunha está a analisar tudo o que envolveu a consulta de domingo para determinar que delitos foram cometidos e só depois actuará contra as pessoas responsáveis. Mas Torres-Dulce adiantou que até ao momento não há nada de concreto. Mas quando houver, clarificou Torres-Dulce, o Ministério Público avançará com as acções penais e informará os cidadãos sobre todos os factos. "Os tempos do Ministério Público e da justiça não são os tempos políticos ou mediáticos", avisou ainda Torres-Dulce. Não se actua nem antes nem depois, actua-se quando se considera que os acontecimentos são matéria para um processo penal ou são para arquivar", finalizou o procurador-geral da República.

DEMISSÃO DE RAJOY 

Mas se Artur Mas pode estar na mira do Ministério Público, Rajoy está na mira dos sectores mais conservadores do PP e de movimentos cívicos, como a plataforma Livres e Iguais, um grupo de intelectuais, como Mario Vargas Llosa, jornalistas, ex-políticos e políticos no activo, como a deputada do PP Cayetana Álvarez Toledo. Este grupo emitiu ontem um violento comunicado contra a passividade de Rajoy, em que afirmam que o presidente do governo de Madrid deve pedir a demissão e abandonar a Moncloa.

MAS AMEAÇA MADRID 

Ontem também, Artur Mas fez um balanço da consulta e revelou que escreveu uma carta a Rajoy onde pede ao chefe de governo não só diálogo político como a autorização expressa para a realização de um referendo vinculativo sobre a independência da Catalunha. Se a resposta de Madrid for negativa, como se espera, então o presidente da Generalitat admite convocar eleições antecipadas plebiscitarias seguidas de uma consulta vinculativa sobre a independência.

As guerras judiciais e políticas avançam a todo o vapor e o processo está praticamente a entrar num perigoso caminho sem retorno. Mas não tem margem de manobra para recuar e Mariano Rajoy fica com a cabeça a prémio dentro e fora do Partido Popular se não actuar com todos os meios à sua disposição contra a revolta catalã.

Foto: Gustau Nacarino/Reuters

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