domingo, 26 de fevereiro de 2012

DILMA E OS CUBANOS PRESOS NOS EUA




Mário Augusto Jakobskind – Direto da Redação, com foto

Quando se aproxima a visita do Papa Bento XVI a Cuba, já se falando inclusive de um possível encontro entre o chefe da Igreja Católica e Fidel Castro, um tema pode entrar na pauta de discussões: os quatro cubanos presos nos Estados Unidos. O que seria o quinto foi solto, mas impedido de voltar para Cuba durante três anos.

Além de terem sido condenados sob a absurda alegação de serem espiões, os cinco foram julgados sob pressão de extremistas vinculados a grupos do exílio cubano em Miami mobilizados há anos com o objetivo de desestabilizar o governo da ilha caribenha.

O cubano solto e sem poder regressar para o seu país de origem, além de ser obrigado a usar um objeto eletrônico no tornozelo para controle de seus passos, continuará vivendo por três anos na mesma cidade onde moram os extremistas responsáveis por atentados ocorridos em Cuba e que foram denunciados exatamente pelos cinco. Trata-se de uma das maiores aberrações jurídicas no mundo nos últimos tempos.

O senador Eduardo Suplicy, do PT de São Paulo, assumiu compromisso público de sugerir que a Presidenta Dilma Rousseff peça ao Presidente dos Estados Unidos Barack Obama que faça justiça e ordene a libertação deles. É difícil, mas tentar não custa, apesar dos votos de Miami que Barack Obama quer abocanhar.

A promessa foi feita durante o o lançamento do livro de Fernando Morais, Os últimos Soldados da Guerra Fria, realizado por ocasião do Fórum Social Mundial Temático, em Porto Alegre, no Sindicato dos Bancários. A sugestão foi aplaudida pelos presentes, um deles o ex-Governador do Rio Grande do Sul Olívio Dutra.

Suplicy achou a ideia “excelente” e se comprometeu a falar com Dilma Rousseff sobre o tema, bem como fazer um pronunciamento no Senado em favor dos cinco cubanos presos nos Estados Unidos. Aguarda-se então que o parlamentar cumpra sua palavra.

Não custa nada lembrar a Suplicy da importância de Dilma Rousseff fazer a sugestão a Obama, com quem se encontrará no próximo dia 14 de abril, pois com uma canetada do Presidente da República os cinco poderão voltar para Cuba imediatamente.

Quem quiser se comunicar com o senador petista para lembrá-lo pode mandar um correio eletrônico para eduardo.suplicy@senador.gov.br ou então pelo telefone (61) 3303-3213 ou fax (61) 3303-2816.

Dilma Rousseff agora tem de mostrar que o seu governo não está sendo submetido a pressões, como alguns acreditam acontece. Tal argumento é levantado sobretudo depois do voto do Brasil na Organização das Nações Unidas ao lado dos Estados Unidos, Reino Unido, França etc culpando apenas o governo sírio pelo banho de sangue que acontece naquele país árabe, absolvendo totalmente a oposição, que segundo denúncias estaria recebendo ajuda de forças estrangeiras dos EUA a Al Qaeda, passando pelo Mossad e M-16 britânico.

Já o Ministério do Exterior russo informou, através do porta-voz Alexánder Lukashévich, que o Observatório Sírio de Direitos Humanos, que informa diariamente ao Ocidente sobre os acontecimentos na Síria, é integrado por duas pessoas, o diretor R. Abdurajmán e um tradutor. Ambos vivem em Londres e o diretor é proprietário de uma cafeteria. Fica como sugestão de pauta para os jornalões entrevistarem o “bem informado” Abdurajmán.

Outro tema que de um modo geral a mídia de mercado tem ignorado são os recentes acontecimentos na Líbia, onde o país retornou à Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas, depois de excluído nos últimos meses do governo de Muammar Khadafi.

O representante do Conselho Nacional de Transição fez um pronunciamento nesta esfera posicionando-se contra os gays, dizendo que esse grupo é pernicioso à humanidade. Na prática, o governo líbio imposto pela OTAN está reforçando a homofobia.

Como se não bastasse, notícias procedentes da Líbia dão conta que seguem as violações dos direitos humanos praticadas pelo governo títere da OTAN. Há informações segundo as quais os 35 mil habitantes da localidade de Tauerga, a maioria negros, vivem atualmente em campos de refugiados. Estão sendo vítimas das milícias de Misrata por terem apoiado Muammar Khadafi.

Os líbios de Tauerga descendem de escravos levados à Líbia no século XVIII. Eles são agradecidos a Khadafi por terem as suas condições de vida melhorada. O governo anterior possibilitou aos habitantes da cidade, que dista pouco mais de 30 quilômetros de Misrata, educação e ainda por cima tiveram integrantes nomeados para altos postos no Exército.

Durante a guerra civil combateram contra Misrata, cujas milícias agora estão cometendo atrocidades sob o beneplácito dos dirigentes líbios atuais e o silêncio da aliada Organização do Tratado do Atlântico Norte.

Outro fato que indica como está a situação no país bombardeado durante mais de oito meses pela Otan é o de uma jornalista. Hala Misrati, de 31 anos, apresentadora de TV, conhecida defensora do governo Khadafi, foi presa pelo governo do Conselho Nacional de Transição e assassinada depois de sofrer torturas e estupros, segundo relato de jornalistas.

Misrati era militante e quando da captura de Trípoli pelo CNT apareceu na TV desafiando de arma na mão os que tomavam o poder com a ajuda da OTAN. Agora, para se vingar, os democratas líbios a assassinaram. O atual governo confirmou a morte da jornalista, mas sem entrar em detalhes.

Pode-se imaginar como serão as eleições na Líbia marcadas para o segundo semestre deste ano.

Enquanto isso, Israel anunciou a aprovação da construção de 500 casas adicionais na colônia de Shilo, localizada entre as cidades palestinas de Ramallah e Nablus, na Cisjordânia.

E o governo de Benyamin Nethanyahu continua a dizer cinicamente que almeja a paz. O troglodita que comanda Israel criticou o recente acordo da Al Fatah com o Hamas e usa o pretexto como justificativa para interromper qualquer tipo de negociação.

Trata-se de sofisma, porque na prática com a construção de novos assentamentos, Israel demonstra que não quer mesmo nenhum tipo de acordo. Muito pelo contrário, quer levar adiante o projeto bíblico da Grande Israel. E quem sofre com isso são os palestinos, um povo que há anos tenta em vão ter uma pátria livre e soberana.

E além do mais, setores da ultra direita de Israel, cujo representante mais notório é o atual Ministro do Exterior, Avigdor Lieberman, defendem um ataque ao Irã, É possível que estejam informados que o Hezbollah, segundo o professor Luis Alberto Moniz Bandeira, possui 10 mil mísseis escondidos em residências particulares apontadas para Israel.

Como desprezam a vida humana, pode ser que queriam mesmo correr o risco.

* É correspondente no Brasil do semanário uruguaio Brecha. Foi colaborador do Pasquim, repórter da Folha de São Paulo e editor internacional da Tribuna da Imprensa. Integra o Conselho Editorial do seminário Brasil de Fato. É autor, entre outros livros, de América que não está na mídia, Dossiê Tim Lopes - Fantástico/IBOPE

Brasil: Indígenas ocupam fazendas na Bahia e pressionam STF a votar demarcações




Correio do Brasil, com foto - com Agência Brasil - de Brasília, ontem

Cerca de 500 índios da etnia Pataxó Hã-Hã-Hãe ocuparam 46 fazendas próximas ao município de Itaju de Colônia, no sul da Bahia. O objetivo é pressionar o Supremo Tribunal Federal (STF) a julgar a demarcação da Terra Indígena (TI) de Caramuru-Paraguaçu, área que abrange todas as fazendas.

Segundo a Polícia Federal (PF), os conflitos começaram no dia 15, na quarta-feira anterior ao carnaval. “No começo, foram invadidas sete fazendas e, no momento, esse número aumentou para 46”, disse à Agência Brasil o delegado da PF Fábio Marques. De acordo com os índios, todas as fazendas estão dentro das áreas previstas para a demarcação da TI, acrescentou o delegado.

A Fundação Nacional do Índio (Funai) diz que a área em questão foi demarcada em 1937 pela Diretoria de Serviço Geográfico do Exército e que, desse modo, os invasores seriam os fazendeiros. A Funai informou ainda que, em 1982, entrou com ação de nulidade de títulos das fazendas, mas ressaltou que, até o momento, nada foi julgado pelo Supremo.

Em meio à confusão instalada na região, um índio passou mal e morreu, supostamente em decorrência de ataque cardíaco. “Antes do carnaval, o funcionário de uma das fazendas foi baleado e está internado. Posteriormente, um índio passou mal, provavelmente do coração. Os índios alegam que não puderam levá-lo para atendimento médico porque foram cercados pelos fazendeiros, que, por sua vez, negam o ocorrido”, disse Marques.

O índio acabou morrendo no local. De acordo com o delegado, o corpo foi retirado por uma funerária e encaminhado a Itabuna, onde serão feitos exames de corpo de delito.

Em nota, o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) informa que o índio falecido é José Muniz de Andrade, de 40 anos, um dos líderes do grupo. Ele estava em área “recentemente retomada” na região das Alegrias, quando começou a sentir dores no peito e no estômago, diz a nota. “Um carro foi enviado para prestar socorro, mas impedido de acessar a área retomada para prestar socorro”, acrescenta o Cimi. ”Tudo indica que tenha sido enfarte a causa da morte. No entanto, está claro que os jagunços impediram a passagem para o atendimento médico”, afirma o chefe da Coordenação Técnica da Funai no município de Pau Brasil, Wilson Jesus, na nota do Cimi.

O conselho denuncia a presença de jagunços contratados pelos fazendeiros na região, mas a PF não confirma. “Fizemos diligências e não confirmamos nem índios, nem pistoleiros armados na região. As duas partes têm nos informado sobre a ocorrência de conflitos mas (além desses dois casos, envolvendo o funcionário baleado e o líder indígena supostamente enfartado) nada foi confirmado. Provavelmente não passam de boatos”, disse o delegado.

Segundo ele, ontem ocorreram boatos de que os índios estariam se preparando para invadir a cidade de Colônia e saquear o comércio, a fim de adquirir mantimentos. “Isso já foi desmentido nas conversas que tivemos com as lideranças e com representantes da Funai”.

Apesar de evitar o envio de policiais militares a terras indígenas, o governo da Bahia acabou acionando efetivos da Polícia Militar para garantir a segurança na cidade. A chefe da Delegacia da Polícia Federal de Ilhéus, Denise Dias de Oliveira Cavalcanti, vai pedir reforços à Superintendência da PF em Salvador. A unidade de Ilhéus conta apenas com dez policiais federais. “Não é a primeira vez que os índios fazem manifestações desse tipo na véspera do carnaval. Em 2009, houve, no mesmo período, uma ação parecida. Mas, com a chegada dos reforços, a situação se acalmou. Agora vamos aguardar a decisão judicial de reintegração de posse. Eventuais crimes cometidos durante a invasão serão investigados”, disse o delegado Marques.

MUKANDA PARA RAFAEL MASSANGA SAVIMBI




Orlando Castro*, jornalista – Alto Hama*

Rafael Massanga Savimbi reivindica um funeral condigno para o seu pai. Tem todo o direito. Pena é que Angola, país pelo qual o pai deu a vida, não seja um Estado de Direito.

Caro Rafael, se dezenas de anos depois da independência, uma das quais proclamada pelo teu pai, dez anos depois da paz total, Angola continua a ter 68% do seu povo de barriga vazia, continua a ser (re)construída à imagem e semelhança do MPLA, como se fosse um regime de partido único, não vão permitir que se honre (sem esquecer os muitos erros) a memória do teu pai.

Se o MPLA é Angola e Angola é o MPLA, herói nacional há só um, Agostinho Neto e mais nenhum. Quando o MPLA for apenas um dos partidos do país e Angola for um verdadeiro Estado de Direito, então haverá outros heróis. Então o teu pai terá o reconhecimento que merece.

Até lá, os angolanos continuarão sujeitos à lavagem do cérebro de modo a que julguem que António Agostinho Neto primeiro e depois Eduardo dos Santos são os únicos que deram um contributo na luta armada contra o colonialismo português e na conquista da independência nacional.

Repara, por exemplo (e, por favor, não deixes de ter memória) que o dia 17 de Setembro, instituído feriado nacional em 1980 pela então Assembleia do Povo, um ano após o falecimento de Agostinho Neto, em 10 de Setembro de 1979 na antiga União das Republicas Socialistas Soviéticas, deve-se, segundo a cartilha do MPLA, ao reconhecimento do seu empenho na libertação de Angola, em particular, e do continente africano.

Não te admires, meu caro Rafael, que um dia destes ainda venham dizer que ele, ou a Eduardo dos Santos, deu um decisivo contributo para a libertação da Europa...

Fruto da entrega de Agostinho Neto à causa libertadora dos povos, o Zimbabwé e a Namíbia ascenderam igualmente à independência, assim como contribuiu para o fim do Apartheid na África do Sul, esclarecem os donos do poder em Angola.

Pelos vistos, desde 1961 e até agora que só existe Agostinho Neto. Se calhar até é verdade. Aliás, bem vistas as coisas, tanto Holden Roberto como o teu pai, tanto a FNLA como a UNITA, nunca existiram e são apenas resultado da imaginação de uns tantos lunáticos.

Agostinho Neto foi também, segundo uma cartilha herdada do regime de partido único (hoje em termos práticos assim continua), “um esclarecido homem de cultura para quem as manifestações culturais tinham de ser antes de mais a expressão viva das aspirações dos oprimidos, arma para a denúncia dos opressores, instrumentos para a reconstrução da nova vida”.

Cá para mim quem tem razão é José Eduardo Agualusa quando diz que “uma pessoa que ache que o Agostinho Neto, por exemplo, foi um extraordinário poeta é porque não conhece rigorosamente nada de poesia. Agostinho Neto foi um poeta medíocre”.

Continuemos, contudo, a ver a lavagem cerebral – bem visível hoje em todo o país - que o regime do MPLA pretende levar a cabo: “Dotado de um invulgar dinamismo e capacidade de trabalho, Agostinho Neto, até à hora do seu desaparecimento físico, foi incansável na sua participação pessoal para resolução de todos os problemas relacionados com a vida do partido, do povo e do Estado”.

Numa coisa a cartilha do MPLA tem toda a razão e actualidade: “como o marxistas-leninista convicto, Agostinho Neto reafirmou constantemente o papel dirigente do partido, a necessidade da sua estrutura orgânica e o fortalecimento ideológico, garantia segura para a criação e consolidação dos órgãos do poder popular, forma institucional da gestão dos destinos da Nação pelos operários e camponeses”.

Como sabes, os destinos da Nação estão entregues desde 11 de Novembro de 1975 a um tipo de operários e camponeses contra os quais o teu pai lutou e deu a vida. Ou seja, contra os poucos que têm cada vez mais milhões. Ao teu pai se interessaram mais os milhões que tinham pouco ou nada.

Em reconhecimento da figura do (suposto único) fundador da Nação angolana, estão erguidas em vários pontos do país estátuas, que simbolizam os seus feitos e legados, marcado pelas suas máximas “De Cabinda ao Cunene um só povo e uma só nação” e “O mais importante é resolver os problemas do povo”.

Pois! Nem Cabinda é Angola nem os problemas do povo foram resolvidos. Mas as estátuas aí estão para serem vistas por um povo que continua a ser gerado com fome, a nascer com fome e a morrer pouco depois com... fome.

Mas, acredita, é esse povo que ainda hoje é gerado com fome, que nasce com fome e morre pouco depois com fome que se orgulhou de – mesmo só comento mandioca – trazer um Galo Negro ao peito. É esse povo que, mesmo calado, continua a ver no teu pai o que ele merece e que um dia será reconhecido. Ou seja, ser um dos heróis de Angola.

* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.

Título anterior do autor, compilado em Página Global: DÊEM UMA CONDECORAÇÃO AO HOMEM!

Angola: Pagamento de bónus ao Governo suscita petição aos EUA


Arão Ndipa, Luanda - VOA

Sociedade civil quer que os Estados Unidos pressionem multinacionais petrolíferas a revelar quanto pagam ao governo angolano.

O governo angolano está a ser acusado pelas organizações da sociedade civil de não disponibilizar informações que assegurem aos angolanos que está a fazer uma gestão transparente e responsável dos recursos naturais do país.

Esta semana a sociedade civil produziu um abaixo-assinado que será submetido à comissão de segurança cambial dos Estados Unidos pedindo a essa entidade que pressione as multinacionais petrolíferas a operar em Angola a revelar quanto pagam em bónus ao governo angolano.

Segundo a organização “Open Society”, “ os cidadãos e as organizações da sociedade civil angolana agradecem a oportunidade que lhes é dada de submeterem a petição sobre a proposta de regulamento na divulgação dos pagamentos efectuados pelas empresas da indústria extractiva.Remetemos estes comentários em total apoio ao rigoroso regulamento que providenciará aos cidadãos angolanos acesso adequado e propício às informações que asseguram uma gestão transparente e responsável das receitas dos recursos naturais do país”.

Em Angola, a indústria petrolífera é o pilar principal da economia, produzindo mais de 80% das receitas do estado e contribui cerca de 60% do PIB. Contudo, estas receitas não beneficiam a maioria dos angolanos e cerca de dois terços da população sobrevive com menos de 2 dólares por dia.

A “Open Society” salienta que: “Angola é considerada um dos países mais corruptos do mundo e existe uma preocupação generalizada e evidências que apontam que o fluxo das receitas que deveriam apoiar o desenvolvimento sustentável, justo e equitativo do país, não está a chegar ao tesouro nacional e está sendo mal gerido”.

Aquela organização refere ainda que: “Embora nos últimos anos, o governo Angolano tenha introduzido algumas reformas importantes de transparência no sector petrolífero, as mesmas continuam muito opacas e obscuras para a maioria dos Angolanos entenderem como o dinheiro é utilizado e responsabilizar o governo pelas suas acções”.

Este o tema de debate sobre questões angolanos conduzido pelo repórter Arão Ndipa tendo como convidados o activista cívico, Raul Tati e o professor universitário de lei constitucional Fernando Macedo que também subscreveram o documento.

Angola: Atraso no combate ao VIH/SIDA e à malária para cumprir Objetivos do Milénio - ONU



NME - Lusa

Luanda, 26 fev (Lusa) - O combate ao VIH/SIDA, à malária e outras doenças e a garantia de sustentabilidade ambiental são dois Objetivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM) em que Angola ainda regista atrasos no seu cumprimento, segundo um relatório das Nações Unidas.

Apesar do atraso, o documento revela que Angola "continua a ter uma das prevalências (de VIH/SIDA) mais baixas, comparativamente a outros países da África Austral".

O documento, preparado pela Representação da ONU em Angola e divulgado a propósito da visita de 36 horas a Angola do Secretário Geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, destaca que "em 2010, a prevalência era de 2,4 por cento, registando-se um ligeiro aumento na população dos 15 aos 49 anos, que antes era de 2,1 por cento".

Relativamente à malária, apesar da incidência ter aumentado de 16 por cento em 2001 para 23 por cento em 2003, a mortalidade devido à essa doença baixou de 13.000 em 2005 para 11.000 em 2009.

No campo da sustentabilidade ambiental, o país tem cerca de 10 por cento do seu território sob proteção ambiental, segundo o documento, "um pouco acima da média das áreas ambientais protegidas noutras partes do continente africano".

Todavia, o relatório indica que "a percentagem da população com acesso à água potável está enviesada a favor da população urbana. A média nacional é de 41 por cento, mas apenas 21 por cento da população tem acesso à água potável nas zonas rurais, comparativamente a 59 por cento nas zonas urbanas".

O relatório aponta que Angola registou também alguns avanços em alguns dos oito ODM, um compromisso adotado por 189 nações e assinado por 147 chefes de Estado e de Governo durante a última cimeira do Milénio das Nações Unidas, em setembro de 2000.

Os avanços foram registados no ensino primário universal e na promoção da igualdade entre sexos e a capacitação de mulheres.

De acordo com o documento, "de todos os ODM, foi no ensino primário universal onde Angola fez progressos mais significativos, passando de 56 por cento em 2005 para 76,3 por cento em 2009, sendo a paridade entre os géneros de 97,7 por cento".

Entretanto, as disparidades entre as zonas urbanas e rurais continuam altas - 85 por cento nas zonas urbanas e 65 por cento nas zonas rurais.

No plano da igualdade de género, o documento salienta que o país tem vindo a conseguir aumentar a frequência escolar das raparigas, sublinhando ainda que "Angola está entre os dez países com maior participação de mulheres nos processos de tomada de decisão".

O documento avança que o país tem possibilidades de alcançar os ODM referentes à erradicação da pobreza, à redução da mortalidade infantil, à melhoria da saúde materna e ao estabelecimento de parcerias globais para o desenvolvimento.

"As taxas de mortalidade infantil continuam elevadas, mas têm vindo a decrescer", aponta o documento, informando que a taxa de mortalidade antes do primeiro ano de vida é de 115.7 mortes por mil nados-vivos, enquanto a taxa de mortalidade antes dos cinco anos é de 193,5 por mil.

O fraco acompanhamento na gravidez, melhor alimentação, melhorias na higiene, cuidado para o acesso à água potável, melhor educação e mais acesso à informação, estão na base destes resultados, segundo o documento.

Angola continua entre os países com a taxa de mortalidade materna mais altas do mundo, por isso a ONU alerta que o país "tem de fazer um grande esforço para a reduzir a níveis aceitáveis".

"Em 2000, o rácio da mortalidade materna era de 1.800 mortes por 100 mil nados-vivos, tendo reduzido um pouco para 1.400 mortes por 100 mil nados-vivos em 2006", frisa o documento.

Angola: O PAÍS DO ENTENDIMENTO




José Ribeiro – Jornal de Angola, opinião, em A Palavra ao Diretor

A história de Angola é atravessada por guerras, conflitos, violência. No nosso imaginário e no universo das ideias dos angolanos ficou plantada a mentalidade errada de que é a contradição pura e dura e a ruptura que comandam o desenvolvimento.

O mundo das ideias não pára, e o que ontem era válido como verdade pode estar hoje ultrapassado. Verdades absolutas adoptadas no passado são hoje postas em causa ou estão caducas. Toda a vida é feita de mudança e as ideias, mais do que os aspectos materiais, correm e nem sempre conseguimos estudá-las ou segui-las.

O conflito e a violência nunca foram a fonte do desenvolvimento, e a Humanidade passa muito bem sem elas. A realidade dos dias que vivemos em Angola mostra de uma forma muito evidente que a mola real do desenvolvimento, a pedra de toque da felicidade, é o diálogo e o entendimento. As contradições e a crítica pela crítica, sem diálogo e sem o seu sucedâneo natural, o entendimento, conduzem ao desrespeito mútuo e ao conflito. É evidente que as sociedades têm pólos diferentes, e até têm a ganhar se existirem divergências dentro delas, mas nenhum conflito e nenhuma violência é verdadeiramente fonte de progresso.

Os exemplos no campo político são imensos. A independência de Angola foi conquistada quando portugueses e angolanos se entenderam em Alvor. Tinham sido evitadas muitas mortes se o sistema colonial e fascista português tivesse aceitado a via do diálogo como solução. A paz e reconciliação em Angola só foi conseguida quando se assinou o Memorando de Entendimento do Luena. Muitas vidas se tinham poupado se esse entendimento fosse conseguido muito antes, por exemplo, em Lusaka. O caminho para a paz em Cabinda foi aberto com a assinatura do Memorando de Entendimento do Namibe. Depois do regresso à paz, os entendimentos de cooperação com outros países tornaram-se o prato de cada dia, o que vale dizer que de nada serve estar a criar conflitos entre Nações, só interessa que elas se entendam. A mola real impulsionadora do progresso e da reconciliação angolana e da entrada em força de Angola na cena internacional, foi a sua infinita capacidade de entendimento e cooperação com os outros.

Foi quando os angolanos foram capazes de se entender que se calaram as armas e acabaram as agressões. Foi quando as diferenças se agudizavam no conflito que veio a clarificação e o entendimento salvou milhares de vidas humanas, devolveu a milhões de angolanos a paz, deu aos refugiados a possibilidade de regressarem a casa. Ao Estado, abriu o caminho para investir a riqueza nacional nas estradas, na habitação, na saúde, na educação, na cultura e nas famílias, numa dimensão inigualável em qualquer época e em qualquer parte do mundo. À iniciativa privada e ao empreendedorismo, Angola abriu as portas da liberdade de comércio de tal modo que as nossas zungueiras até já descobriram que ganham mais dinheiro se venderem durante a noite e a madrugada pelas ruas de Luanda.

Em democracia, força catalizadora do diálogo no tecido social, temos, antes de tudo, que fazer um esforço para compreender e respeitar os outros, para aceitá-los e para reconhecermos neles uma extensão de nós próprios, em vez de os vermos apenas como alvos preferidos da nossa crítica. Mais do que o diálogo, muito mais, o que arrancou Angola dos escombros da guerra nos últimos dez anos foi verdadeiramente o entendimento. Foi a compreensão fraterna das deficiências e insuficiências dos outros. Foi o braço estendido a quem só via morte e destruição à sua frente. Foi abraçar quem ofendeu e agrediu.

É este país do entendimento que o secretário-geral das Nações Unidas Ban Ki-moon vai encontrar quando chegar hoje a Angola. Um país pacificado e reconciliado e que fez o seu “Plano Marshall”. Um país que acabou com a fome, que afectava em 2002 quatro milhões de seres humanos. Um país democrático com poderes legitimados pelo voto popular que garante para o terceiro trimestre deste ano as mais justas e transparentes eleições de sempre. Um país com o poder judicial independente e com a Justiça a estender-se aos municípios. Um país com uma imprensa pluralista e livre – apesar de não ter contado nunca com as ajudas da ONU – e uma sociedade civil construtiva emergente. Um país que preside de maneira brilhante à Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC) e à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).

Este é o país do entendimento que serve de exemplo ao mundo inteiro. O entendimento é o caminho da paz, da reconciliação e do desenvolvimento. A mão pura que se estendeu à mão armada e que levou ao Entendimento do Luena dá a experiência de Angola e da África Austral, para que ninguém mais pense nos dias de guerra, morte e destruição.

Mas há hoje no nosso planeta quem teimosamente se afaste do diálogo e do entendimento e aposte abertamente na violência e desenterre o machado doloroso do conflito e da guerra. A esses, a democracia angolana, que é filha do entendimento e está cada vez mais forte, só tem para lhes oferecer as suas pombas brancas.

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SG da ONU, Ban Ki-moon, chegou a Luanda para visita oficial de 36 horas



EL (PDF) - Lusa

Luanda, 26 fev (Lusa) - O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, chegou hoje a Luanda para uma visita oficial de 36 horas, tendo recebido cumprimentos à chegada do chefe da diplomacia angolana Georges Chicoti.

Sem declarações à imprensa à chegada a Luanda, esta é a primeira visita que Ban Ki-moon efetua a um país africano de língua portuguesa e a segunda de um secretário-geral da ONU a Angola, tendo o primeiro sido Kofi Annan, em 1996, no âmbito da aplicação do Protocolo de Lusaca.

Nesta deslocação a Angola, que coincide com o período em que se completam 10 anos sobre o fim da guerra civil angolana, Ban Ki-moon tem agendados encontros com o Presidente José Eduardo dos Santos, com o presidente do parlamento, Paulo Kassoma, e com o ministro das Relações Exteriores, Georges Chicoti.

Durante a estada em Angola, Ban Ki-moon lançará oficialmente a campanha de vacinação contra a paralisia infantil, que será feita segunda-feira de manhã numa escola do município de Viana, arredores de Luanda, numa cerimónia em que estará também presente o ministro da Saúde, José Van-Dúnem.

Antes de regressar segunda-feira à noite a Nova Iorque, o secretário-geral da ONU dará uma conferência de imprensa no Aeroporto 4 de Fevereiro, em Luanda.

Ban Ki-moon termina em Angola um périplo que o levou antes a Londres, onde participou numa conferência sobre a Somália, e à Zâmbia.

Antes do início deste périplo, Martin Nesirky, porta-voz de Ban Ki-moon, disse à Lusa em Nova Iorque que o secretário-geral das Nações Unidas visita Angola no período em que passam dez anos sobre o fim da guerra civil e o país se prepara para eleições, para "reconhecer o progresso na pacificação e em alcançar a reconciliação".

Outro objetivo, adiantou, é "fortalecer a parceria entre Angola e as Nações Unidas".

Moçambique: Governo quer que mulheres deixem de ter os filhos em casa




André Catueira, da Agência Lusa

Chimoio, Moçambique, 26 fev (Lusa) - Berta Mussa, 36 anos, vira-se com frequência na cama da maternidade do centro de saúde de Monequera, em Manica, centro de Moçambique, e, gentilmente, pede a mão da parteira, uma ajuda que tem pela primeira vez.

"Sou mãe de duas filhas, todas elas nasceram em casa. Este será o meu primeiro parto numa maternidade. Apesar de transpirar confiança, sinto-me trémula e ansiosa, espero que corra tudo bem", disse à Lusa Berta Mussa, enquanto limpa o suor na cara com uma capulana.

Esta é a primeira parturiente após a inauguração oficial, na quarta-feira, do centro de saúde de Monequera, a 78 quilómetros do hospital de referência ao nível do distrito de Gondola. Antes, o centro de saúde mais próximo da casa de Mussa ficava a 28 quilómetros de distância, daí que as outras duas filhas tenham nascido em casa.

Várias mulheres em Manica, como um pouco por todo o pais, perdem a vida e ou os seus bebés por darem à luz a caminho do hospital, na sequência das distâncias que percorrem para alcançar a unidade sanitária mais próxima.

"Iniciámos os atendimentos em setembro de 2011, mas agora estamos a inaugurar oficialmente. No primeiro mês, tivemos cinco partos e o número veio subindo e agora mensalmente atingimos até 10 partos", explicou à Lusa Rute Albano, única enfermeira afeta ao centro, que vai atender 7.347 habitantes da região.

Entretanto, a governadora de Manica, Ana Comoana, disse que as longas distâncias percorridas pelas parturientes em busca de maternidades serão reduzidas gradualmente com a expansão da rede sanitária para lugares mais recônditos da província, além de iniciativas para socializar os partos.

"Com este centro de saúde, pretendemos reduzir as distâncias que as parturientes percorriam para alcançar uma maternidade e encorajar os partos institucionais, para o bem-estar das mulheres e bebés", disse Ana Comoana, durante a inauguração do centro.

A responsável reconheceu o aumento, nos últimos anos, de partos institucionais ao nível do distrito de Gondola, graças ao alargamento da rede para 14 unidades para atender 310.424 habitantes, mas apelou à sensibilização das parturientes para uma maior adesão ao serviço.

Em 2010, o distrito de Gondola registou 8.273 partos contra 9.121 de 2011 em todas as unidades de saúde, um rácio não distante do que se regista noutros distritos da província de Manica, onde as parturientes ainda optam por partos em casa.

Uma iniciativa governamental tem instalado casas de "mãe espera" em todas as unidades, onde as mulheres grávidas se instalam nas vésperas do parto, para não percorrerem longas distâncias com dores.

Paralelamente, as autoridades de saúde estão a socializar os partos, aos quais o marido ou qualquer parente possam assistir, mobilizando assim os familiares a aderirem aos partos nas maternidades.

Apesar de acabar de ser inaugurado, já há queixas do serviço. As mulheres de Monequera pediram o reforço da enfermeira por o número de partos estar a crescer a cada dia.

"Estamos a pedir o reforço de mais enfermeiros. Essa (enfermeira) trabalha com muita vontade, mas o número de pessoas tem superado as suas capacidades", disse uma residente local.

No centro também não há água nem energia elétrica. Os partos no período noturno são feitos à luz das velas e a comunidade local leva água em baldes.

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Leia em SEPARATAS TEMPORÁRIAS (barra lateral junto a arquivo): Moçambique: Fecalismo a céu aberto - Uma realidade nos bairros periféricos de Nampula

Comando da Polícia em Cabo Delgado mendiga em nome do 10º congresso da Frelimo




O comando Provincial da Policia da República de Moçambique (PRM) na província de Cabo Delgado tem vindo nos últimos dias a enviar cartas peditórios a várias instituições privadas, sedeadas naquela parte do pais, solicitando financiamentos para a reabilitação das suas instalações, que se encontra num estado deploráveis, tudo na perspectiva de acomodar altos dirigentes do Estado que ali são esperados por ocasião do X congresso do partido Frelimo, agendado para o mês de setembro próximo.

Aliás na carta que tivemos acesso daquela instituição solicitando apoio a Confederação das Associações de Cabo Delegado assinada pela número um da PRM, Dora Manuel Manjate, adjunto Comissário da Polícia e datada de 20 de Fevereiro do presente ano de 2012, refere que: “estando previsto a realização do X congresso do partido Frelimo no mês de setembro do ano em curso, altura em que a cidade de Pemba será um palco de concentração de altas individualidades do Estado, bem como personalidades de diversas nacionalidades e organizações e pelo facto de o comando acima estar em condições extremamente deploráveis no que concerne nos aspectos externo e interno, para a garantia de uma aparência digna de um comando Provincial, viemos por este meio deste, rogar a V.excia o apoio do seguinte material”.

Portanto, tal como se pode ler na mesma carta que temos vindo a citar, a policia solicita 880 litros de tintas entre de óleo e plástica com as cores que caracterizam os comandos espalhados pelo pais, nomeadamente branca e cinzenta, assim como materiais, como pincéis de 2, 3 e 4 polegadas e trinchas.

Esta atitude os dirigentes de varios sectores do estado tem vindo a copiar do seu partido mãe a Frelimo que começou com os peditórios em todos os sectores de actividades ate aos cidadãos pacatos e sem meios de sobrevivência são apertados pela Frelimo para darem algum donativos a favor do X congresso.

Algumas figuras entendidas na matéria chegaram de afirmar que os pedidos que a Frelimo tem vindo a realizar chegam a ser classificados de burla, pois chegam algumas vezes a obrigar as suas vítimas em pagar os valores através de desconto dos seus salários como tem vindo a acontecer nalguns distrito da província de Nampula com destaque para o de Murrupula, onde professores quebraram o gelo ao revelar aos orgãos de informação sobre as alegadas burlas.

Este não é um caos isolado pois muitas direcções provinciais tem vindo a pedir algumas instituições ao nível da província de Cabo Delgado tem vindo a usar a capa da realização do X Congresso para ludibriar alguns empresários e organizações não governamentais sediadas naquele ponto do país.

Um outro ponto que faz com qe as instituições seguem a ideia é que mesmo o primeiro ministro da República quando vai as províncias tem vindo a fazer cobranças coercivas aos empresários e membros do partido para fazerem contribuições para o X congresso.

Um dos exemplos foi no distrito de Nacala-Porto e Murrupula onde os empresários e beneficiários dos famosos sete milhões eram obrigados a contribuírem para a realização condigna do referido congresso.

Cabo Verde: PR ainda sem posição concreta sobre adesão da Guiné Equatorial à CPLP




Expresso das Ilhas – Inforpress (cv)

O Presidente da República (PR), Jorge Carlos Fonseca, afirmou esta quinta-feira (23) que, enquanto chefe de Estado, não deve ter ainda uma "posição pública concreta" sobre a entrada da Guiné Equatorial na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).

Jorge Carlos Fonseca falava em exclusivo à Inforpress, à margem da sua primeira visita oficial ao município de São Domingos, interior de Santiago.

O chefe de Estado espera "estar habilitado" para tomar uma posição em nome de Cabo Verde, se se colocar a questão da entrada ou não da Guiné Equatorial na CPLP, já que, segundo ele, "muito provavelmente" representará Cabo Verde na próxima cimeira da Comunidade a realizar-se em Maputo.

"Há vários factores a ter-se em conta. Eu tenho que dialogar com o Governo porque em matéria de política externa tem que haver, sempre que possível, uma voz única e sintonizada sobre este problema", realçou o Presidente da República, a propósito da admissão ou não do país de Teodoro Obiang no grupo dos países que têm o português como língua oficial.

Jorge Carlos Fonseca avançou à Inforpress que ainda não discutiu o assunto com o Governo de José Maria Neves.

Além do executivo, pretende também ouvir os cidadãos, a sociedade civil, os partidos políticos e os deputados sobre o que pensam em relação ao ingresso da Guiné Equatorial na CPLP.

Em seu entender, há várias coisas a serem levadas em linha de conta, nomeadamente os princípios estatutários da CPLP, mas há também os "interesses de Cabo Verde". Lembrou que o arquipélago é um Estado de Direito Democrático.

"Nós temos que ouvir a posição dos outros países que compõem a CPLP", assegurou o PR, para quem o que interessará é haver uma "posição consensual" de todos os Estados membros da comunidade.

Confrontado com a posição já assumida pelo Governo de Cabo Verde que diz apoiar a entrada da Guiné Equatorial para a referida organização intercontinental, desde que esse país cumpra as orientações saídas da conferência de Luanda, Jorge Carlos Fonseca limitou-se a dizer que a cimeira do Maputo vai avaliar se o roteiro e os requisitos "estão sendo cumpridos pelo Governo da Guiné Equatorial".

"Neste momento, creio, é prematuro que o Presidente esteja a tomar uma posição se apoia ou não", salientou Jorge Carlos Fonseca, acrescentando que da parte dele deve haver "mais cautela" antes de uma posição definitiva sobre o dossier relacionado com a adesão da Guiné Equatorial na CPLP.

Recordou que o Presidente da República tem também competências no domínio da política externa, as quais não lhe são exclusivas, pelo que é mais ajuizado ouvir, dialogar e ponderar para evitar "posições precipitadas" em relação a uma questão que é fundamental para uma instituição como a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.

Perguntado se não há o risco de Cabo Verde falar a duas vozes na cimeira do Maputo, caso não haja um entendimento entre o Palácio da Várzea e o da Presidência sobre o dossiê Guiné Equatorial, o chefe de Estado afiançou que tudo fará para que "não haja divergência nem falta de sintonia" entre os órgãos de soberania sobre esta questão.

Quanto à carta aberta que lhe foi dirigida pelo cidadão cabo-verdiano Óscar Ribeiro, apelando-o a opor-se à entrada da Guiné Equatorial na referida organização, revelou à Inforpress que é sempre bem-vindo os cidadãos se pronunciarem sobre temas atinentes às relações externas do país.

Na missiva, publicada em alguns órgãos de comunicação social nacionais, Ribeiro insurge contra a adesão da Guiné Equatorial à CPLP, alegando que o país não preenche os requisitos para o efeito.

Para este cidadão, está-se perante um dos países "mais corruptos do mundo", além de ser um regime "autoritário, sanguinário, repressivo e anti-democrático".

"Senhor, Presidente, pelo que julgo conhecer de si, presumo que não engole esta situação com agrado, ânimo leve e consciência tranquila", termina, assim, Óscar Ribeiro a carta remetida a Jorge Carlos Fonseca.

A entrada da Guiné Equatorial na CPLP tem encontrado alguma oposição por parte de Portugal e Moçambique, mas que, ultimamente, têm sido mais moderados.

Em declarações à Rádio de Cabo Verde, esta segunda-feira, o primeiro-ministro, José Maria Neves, garantiu que Cabo Verde apoia a entrada da Guiné Equatorial na CPLP, desde que este país cumpra os pressupostos estatutários da organização.

Para o chefe do Governo, a integração desse país como membro de pleno direito na CPLP pode ser benéfico, já que permite a organização intercontinental exercer um "papel positivo" nas mudanças e transformações políticas e económicas que estão a ser realizadas por este país, que já adoptou o português como língua oficial, sendo esta uma das recomendações saídas da última conferência de chefes de Estado e do Governo da CPLP realizada em Luanda, capital angolana.

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Visita de Cavaco Silva à escola António Arroio foi cancelada devido a conselho da polícia


Cavaco Calimero Silva
RTP - ontem

A polícia terá aconselhado Cavaco Silva a cancelar a visita à escola António Arroio, em Lisboa, na semana passada. O semanário Expresso escreve na edição deste Sábado que a visita foi abortada porque a polícia receou um possível ataque ou agressão ao Presidente da República.

O jornal acrescenta que 4 agentes do Corpo de Segurança Pessoal da PSP chegaram à escola minutos antes da hora prevista para a chegada de Cavaco Silva e, perante a concentração de alunos à porta da escola, suspeitaram que o chefe de estado fosse atingido com o arremesso de ovos. A polícia entendeu que não havia tempo de preparar um esquema de segurança e que não estavam reunidas as condições mínimas para se realizar a visita, pelo que aconselhou o regresso imediato a Belém.

Recorde-se que, ontem, quando confrontado pelos jornalistas sobre os motivos do cancelamento dessa visita, Cavaco reiterou que houve um "impedimento de última hora" e lembrou a "experiência" que acumulou ao longo dos anos em que desempenhou cargos públicos.

Portugal – Impostos: A ESPIRAL DOS IDIOTAS




Daniel Oliveira – Expresso, opinião, em Blogues

Só em Janeiro deste ano o Estado recolheu menos 222 milhões de euros em impostos. Quase menos 8% do que em Janeiro de 2011. Perdeu em IRS (4,5%) e em IRC (61,3%). A segunda perda deve-se, em parte, à antecipação da distribuição de dividendos. Se retirarmos estes casos, temos uma perda global de 4,8%. Isto quando houve umaumento generalizado da carga fiscal. As receitas do IVA (mais 5,7%) e dos impostos sobre bebidas, tabaco e circulação aumentaram. Não fossem elas e as perdas seriam ainda maiores. Mas quando a crise se fizer sentir ainda mais, é previsível que haja quedas no primeiro. Até porque a economia paralela tenderá a crescer. Em produtos mais dispensáveis, como a compra de carro, as receitas já caíram 43,8%.

Na segurança social passa-se o mesmo. Em Janeiro, menos 20,6 milhões (uma perda de 1,6%) de quotizações. Isto quando, apesar das reduções dos subsídios, aumentaram em 56,6 milhões as despesas em prestações sociais. O saldo caiu 26,2%.

É o b-á-bá da política orçamental. Ao contrário do que dizem as contas de merceeiro, o aumento de impostos associado a políticas de austeridade põe em causa o saneamento das contas públicas. Já aqui o tinha escrito e não fui, longe disso, o único. Mais fuga ao fisco, menos consumo, menos receitas, mais desemprego, mais despesas sociais. É uma espiral sem fim que, em nome da saúde das contas públicas, destrói a economia e as contas públicas. Quando é que óbvio vai entrar pelos olhos de quem governa?

Portugal: 303 MIL DESEMPREGADOS JÁ NÃO RECEBEM SUBSÍDIO



Lucília Tiago – Dinheiro Vivo

Há cada vez mais desempregados a esgotar os tempos máximos de atribuição dos subsídios de desemprego (inicial, subsequente e social).

Em janeiro, o número de pessoas sem trabalho e sem direito a estes apoios ascendia já já 303.478, o que traduz uma realidade nunca antes registada.

Em apenas um mês, a fileira dos desempregados sem direito a receber subsídio de desemprego ficou com mais 15.500, segundo indicam os mais recentes dados da Segurança social e do Instituto do Emprego e da Formação Profissional.

Ainda assim, a relação entre os que recebem e deixaram de receber manteve-se inalterada nos 47,6% já observados em dezembro.

A crise continua a empurrar cada vez mais pessoas para o desemprego. Em Janeiro, o número de desempregados inscritos nos Centros de Emprego totalizava 637.662, traduzindo uma subida de 5,3% em relação ao mês anterior.

Neste mesmo período, subiu também, mas de forma menos significativa (2,5%), os beneficiários de prestações de desemprego, com a Segurança Social a registar um total de 317.118 pessoas, o que representa uma subida de mais 7700).

Este desequilíbrio no ritmo de crescimento entre o número de desempregados inscritos e os que recebem aquele apoio social faz com que seja cada vez maior o grupo dos que ficam de fora do subsídio de desemprego.

Um cenário que está diretamente ligado com o fato de as pessoas se manterem por períodos mais longos sem conseguir regressar ao mercado de trabalho, acabando por esgotar os prazos do subsídio de desemprego, e também pelo facto de desde o final de 2010 a atribuição do subsídio social de desemprego estar dependente da prova de condição de recursos, na qual são tidos em conta todos os rendimentos não apenas do agregado (incluindo contas bancárias ou certificados), mas de todas as pessoas que residem na mesma morada. Ou seja, no limite, a reforma de uma tia-avó que partilhe a casa do desempregado, também é contabilizada na condição de recursos.

Já no que diz respeito ao valor médio pago a cada beneficiário do subsídio de desemprego, não há diferenças a assinalar entre o final de 2011 e o início de 2012. Em média, cada desempregado recebe 533 euros de subsídio de desemprego.

No social, o valor também se manteve inalterado nos 346 euros.

A escalada do desemprego (que no final de 2011 atingia já 771 mil pessoas, segundo o INE) é também visível no número cada vez mais elevado de pedidos de subsídio que chegam à Segurança Social. Em janeiro, estes serviços deferiram 25.840 requerimentos, mais dois mil do que em dezembro.

ATRÁS DA GRÉCIA MARCHAR?




Carvalho da Silva – Jornal de Notícias, opinião

Por muito que os nossos governantes gritem "nós não somos gregos", as suas políticas conduzem-nos, infelizmente, à mesma situação que a Grécia está a viver. Temos de desconstruir o slogan e de agir contra o desastre, e não nos iludirmos pelo facto de a estratégia de humilhação seguida pela Alemanha ser - também por razões históricas e de geoestratégia - mais ofensiva contra o "mau exemplo" grego.

Confirmam-se os efeitos desastrosos dos sucessivos pacotes de austeridade.

O desemprego e o subemprego atingem diretamente mais de 1 160 000 trabalhadores (mais de 20% da população ativa), sendo que apenas 1 em cada 3 tem acesso ao subsídio de desemprego. Há uma faixa etária jovem, com formação escolar significativa, em que a soma dos desempregados com os que emigraram atinge 50% do total dessa população, significando forte fator de empobrecimento do país.

O Governo tenta, em propaganda, dar sinal de preocupação face ao imenso desemprego, anunciando a intenção de criar 3000 empregos por mês. Mas o aumento do desemprego traduziu-se, só no último trimestre, em 81 mil novos desempregados. As medidas que vêm sendo tomadas no plano nacional, ou até na Alemanha, no que diz respeito à criação de emprego jovem, são de cada vez mais dura precariedade, com imposição de salários miseráveis que os jovens vão ter de recusar em defesa da sua dignidade e do futuro dos seus países. Estamos perante uma preocupante degradação da qualidade do emprego e aumento da pobreza. Inevitavelmente aumentarão a insegurança e a criminalidade.

A redução do emprego atinge todos os sectores, mas é mais intensa na indústria. Isso significa que continua a destruir-se o sector produtivo, o que nos coloca em situação de maior dificuldade para se encetar a necessária recuperação económica.

A diminuição das condições de acesso a direitos sociais fundamentais na saúde, na educação na proteção social e na mobilidade das pessoas está a processar-se a toda a velocidade, sendo tremenda para centenas de milhares de portugueses.

As receitas fiscais estão em queda acentuada. A meta estabelecida para o défice está comprometida e surgirão mais apertos sobre a despesa, ou seja, cortes duros no Estado Social e novos ataques às condições de trabalho e de vida dos trabalhadores, bem como ao emprego público, mesmo que sob a forma de imposição de mobilidades insuportáveis.

O primeiro-ministro, o Governo e o presidente da República desdobram-se em discursos e atitudes de aparente partilha de preocupações com o povo, e de incentivos morais ao "empreendedorismo" e à criatividade, num claro exercício de quadratura do círculo carregado de hipocrisia, pois, objetivamente, seguem as políticas da Senhora Merkel e seus aliados.

Nos últimos dias, as previsões da União Europeia para 2012 mostram-nos a economia grega a cair 4,4% e a portuguesa logo a seguir na queda, com 3,3%.

Entretanto, os decisores políticos que fazem esta constatação vão persistir nas políticas de desastre. Para eles, a responsabilidade dos resultados desastrosos é sempre dos executores, nunca dos autores dos planos. Os planos são sempre muito bons, os executores - governantes mais ou menos tecnocratas com eles sintonizados - é que, por vezes, não têm a "coragem" necessária para os impor, e às vítimas (ao povo) falta o estoicismo do "custe o que custar" para aceitarem o desemprego, o trabalho quase escravo, a pobreza e a fome, falta a capacidade para o necessário "sofrimento regenerador".

Vimos, nesta semana, uma sondagem (Universidade Católica) que nos apresenta 62% dos portugueses a considerarem o desempenho do Governo como mau ou muito mau. É a expressão de um sentimento coletivo de necessidade de mudança.

É verdade que, nessa mesma sondagem, os portugueses não reconhecem alternativas de Governo no quadro das forças políticas existentes. Mas, a perceção coletiva do fracasso do caminho seguido é já um primeiro passo que, sustentado numa ação de esclarecimento e mobilização social e política, há de preparar e concretizar as mudanças necessárias, única via que nos pode desviar do rumo da Grécia.


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