segunda-feira, 22 de abril de 2013

Itália: O CREPÚSCULO DOS PARTIDOS




LA REPUBBLICA, ROMA – Presseurop – imagem Maurobiani

O bloqueio em torno da eleição do Presidente da República, que terminou, em 20 de abril, com a reeleição de Giorgio Napolitano e com a demissão do grupo dirigente do Partido Democrático, assinala o ponto culminante da crise do sistema político italiano. Para salvar o sistema, é preciso proceder a reformas imediatas, a começar pela da lei eleitoral.


A nossa República encontra-se num ponto de viragem tão importante como grave, conforme ilustra a crise da democracia parlamentar. Uma crise que acompanha e reflete a crise dos partidos, que se manifesta através da incapacidade destes últimos para combinar opiniões diferentes, tanto no interior deles próprios como em relação às outras formações. Na Alemanha, a República de Weimar caiu, em 1933, devido a esse escolho insuperável e as consequências dessa queda foram trágicas.

Na Itália de 2013, assiste-se a uma nova versão da história da ingovernabilidade do parlamento e do mau funcionamento dos seus métodos democráticos, ou seja, dos acordos e compromissos entre os partidos, bem como das decisões aprovadas por maioria. A crise, que já se fazia sentir desde que os partidos não conseguiram formar governo após as eleições de fevereiro, tornou-se flagrante com a eleição do Presidente da República.

Isso porque, com a eleição do Presidente, os partidos são obrigados a gerir diretamente o jogo político. Não podem adiar, nem contar com uma autoridade exterior à sua, como no caso da formação do governo que, nos termos da Constituição, é dirigida pelo Presidente.

Partidos estão fracos

Os partidos não conseguiram entender-se, estabelecer compromissos e tomar decisões por maioria. Falharam por diversas razões. Em primeiro lugar, as razões específicas da História recente do nosso país, que saiu de vinte anos de poder berlusconiano no qual floresceram práticas oligárquicas e corrupção, o que alimentou os sentimentos contra os partidos. Em segundo lugar, porque os novos meios de comunicação criaram uma relação direta entre, por um lado, as opiniões dos cidadãos e, por outro, os dirigentes e as instituições. Esse fenómeno leva a que se acredite que é possível reduzir o papel dos partidos e ter uma democracia parlamentar direta, isto é, sem a intermediação dos partidos.

Por todas estas razões, os partidos estão fracos e continuam a enfraquecer, assistindo-se a um desgaste da sua legitimidade e, também, das estruturas e da liderança, da sua credibilidade e da sua autoridade. Esse desgaste foi confirmado pela incapacidade para formar governo e amplificado pelo fracasso do pacto, concluído entre o Partido Democrático (PD) e o Partido da Liberdade (PdL), sobre a colocação na presidência da República de um candidato comum.

Esperanças depositadas em Napolitano

Esse acordo inoportuno mostra até que ponto aqueles que o prepararam e defenderam não compreendem realmente a Itália onde vivem, a Itália saída recentemente das urnas. Não compreenderam a crise da democracia parlamentar e, por conseguinte, comportam-se como no passado, quando os gabinetes dos partidos decidiam e os deputados davam provas de disciplina. Não compreenderam isso e cometeram um erro muito grave.

E, neste momento, depositam todas as suas esperanças em Giorgio Napolitano. A reeleição do Presidente cessante confirma a incapacidade do parlamento para sair do impasse em que se encontra e para gerir a democracia, sem ser preciso recorrer à autoridade presidencial. Assim, está prestes a dar-se, na prática, uma metamorfose da função presidencial. Não há dúvida de que precisamos de iniciar uma reflexão sobre as nossas instituições, devido à fragmentação inexorável dos partidos e à prática de democracia através da Internet, dois fenómenos que não estarão de modo algum em vias de desaparecer.

Jogo político em direto

Hoje, o jogo político decorre totalmente em direto, entre o parlamento e a rede. É o resultado da indisciplina, das oscilações de humor, da desconfiança em relação a determinados compromissos, da impossibilidade de iniciar negociações. Só os partidos dirigidos por um homem de pulso firme podem dar provas de disciplina e de unidade. Paradoxalmente, o PdL e o Movimento 5 Estrelas (M5S) são mais disciplinados e mais unidos que o PD. Entre todos os movimentos políticos, este último é aquele cujos dirigentes têm maior dificuldade em impor-se e, portanto, o mais sujeito a instabilidade.

O PD é o espelho da crise da democracia parlamentar. É difícil descortinar uma forma de superar esta fase de ausência de autoridade. Por isso, agora mais que nunca, é importante compreender o sentido deste momento crítico e agir em conformidade, isto é, iniciar de imediato uma reforma eleitoral. A atual lei eleitoral constitui um escândalo, no qual o parlamento tem esbarrado e no qual todos os futuros deputados esbarrarão, precisamente porque a lei favorece as divisões.

Contudo, é evidente que a reforma eleitoral só poderá ser posta em prática através da instauração implícita de um sistema presidencial. É desejável que aquele que detém a responsabilidade pelas instituições nacionais tenha consciência da gravidade e do caráter excecional deste momento da nossa História, que tenha capacidade para ter uma perceção correta da situação extremamente delicada que estamos a viver.

CONTEXTO

O declínio do partido democrata, o fracasso de Grilo

Segundo o Linkiesta, a primeira reeleição de um Presidente em 67 anos de existência da República simboliza “um novo deslize de uma classe política inadequada e incapaz de cumprir os mais simples deveres atribuídos pela Constituição”. Depois de não terem conseguido fazer frente à emergência financeira, em novembro de 2011, e terem necessidade de conceder plenos poderes a Mario Monti e ao seu Governo de técnicos,
incapazes de interpretar os pedidos de reestruturação exprimidos no país, o Partido Democrata e o Povo da Liberdade perdem novamente terreno – desta vez por causa de Beppe Grillo. Não é coincidência o declínio da popularidade das grandes personalidades do mundo político estar associado a uma incrível ascensão do Movimento 5 Estrelas, apoiado por milhões de votos de protesto que perturbam as clivagens tradicionais.

Stefano Folli, no Sole 24 Ore, não partilha a mesma opinião. Segundo ele, "Beppe Grillo acabou por perder uma batalha política que, horas antes, parecia garantida": “Grillo fixou-se num objetivo estratégico, que consistia em destabilizar primeiro o Partido Democrata e depois o resto do espetro político”. Para tal, contou com a candidatura do jurista Sefano Rodotà para atrair uma parte do eleitorado de esquerda. Agora, realça Folli, o que preocupa Grillo, é que a reeleição de Giorgio Napolitano acabe por dar um impulso vital a um sistema em decomposição […], que uma presidência forte possa chamar à razão os partidos, convencendo-os a realizar as reformas até agora recusadas.

A lutar contra um cancro, Kirsty Sword Gusmão partilha foto de aniversário com os filhos





A lutar contra um cancro da mama, Kisrty Sword Gusmão, mulher de Xanana Gusmão, celebrou no dia 19 de abril o seu 47º aniversário e partilhou, posteriormente, uma fotografia no seu facebook com o bolo de anos junto aos três filhos: Alexandre, Kay Olok, e Daniel. 

A ex primeira-dama da República Democrática de Timor-Leste, foi submetida a uma cirurgia para remoção do cancro da mama no dia 4 de janeiro, em Melbourne, na Austrália. 

Kirsty e Xanana Gusmão emitiram um comunicado, na altura, expressando «especiais agradecimentos» a todos os amigos, colegas e apoiantes de Timor-Leste, e de todo o mundo, pelas «maravilhosas mensagens de apoio».

Kirsty Sword e Xanana Gusmão conheceram-se em 1994 quando o líder da resistência timorense estava preso, em Jakarta. Kirsty, que trabalhava como professora de inglês, começou a ensinar inglês a Xanana, primeiro por correspondência, depois pessoalmente desenvolvendo-se uma relação romântica. 

Em 2000, um ano depois de Xanana ter sido libertado, casaram-se em Díli.

Angola reclama reconhecimento na procura de soluções para conflitos em África




NME – EL – APN - Lusa

Luanda, 22 abr (Lusa) - O papel de Angola na procura de soluções para conflitos em África, designadamente na Guiné-Bissau, foi hoje destacado em Luanda pelo ministro das Relações Exteriores.

Georges Chicoti, que discursava na abertura de uma palestra promovida pela Associação dos Diplomatas de Angola, destacou o papel de Angola no apaziguamento das tensões, além da Guiné-Bissau, no Mali, República Centro Africana e na região dos Grandes Lagos.

Citado pela agência Angop, Chicoti recordou a recente realização na capital angolana da cimeira tripartida entre os presidentes de Angola, África do Sul e República Democrática do Congo (RDC), em que analisaram a situação de instabilidade na RDC.

"Esta cimeira tripartida permitiu uma maior concentração sobre o processo de implementação do Acordo-Quadro para a paz, estabilidade e cooperação na RDC", assinado no passado dia 24 de fevereiro em Adis Abeba.

O chefe da diplomacia angolana salientou que os três presidentes decidiram criar um mecanismo de cooperação conjunta.

Chicoti destacou ainda o empenho de Angola para "o fim do ambiente de tensão e confrontos na África Austral, apoiando os esforços para a independência do Zimbabué, em 1980, e da Namíbia, em 1990, e o fim do regime do apartheid e o advento da maioria negra no poder na África do Sul, em 1994".

Noutra iniciativa realizada também hoje em Luanda, um seminário sobre Armas Químicas e Biológicas, que termina terça-feira, Georges Chicoti sublinhou a importância que o Governo angolano atribui ao desarmamento internacional e às convenções, resoluções e decisões adotadas pelos órgãos das Nações Unidas.

No discurso de abertura dos trabalhos do seminário, coorganizado pelo Ministério das Relações Exteriores de Angola em colaboração com a embaixada do Reino Unido, Chicoti acrescentou Angola defende a eliminação do uso total de engenhos de destruição em massa, como são os casos das armas químicas e biológicas.

OPOSIÇÃO AFIRMA QUE ENERGIA EM CABO VERDE É A MAIS CARA DO MUNDO




CLI - JSD – APN - Lusa

Cidade da Praia, 22 abr (Lusa) - O presidente do Movimento para a Democracia (MpD, oposição) defendeu hoje no Parlamento que Cabo Verde tem a energia "mais cara e ineficiente do mundo", responsabilizando o Governo de José Maria Neves pela situação.

Carlos Veiga, que discursava no debate sobre Política Energética com que a Assembleia Nacional (AN) cabo-verdiana iniciou os trabalhos da sessão de abril, acusou o executivo de "vender ilusões" no meio de uma "realidade muito mais dura".

"Andaram a vender-nos ilusões, mas a realidade é muito mais dura e já está a atingir as pessoas e as empresas. O Governo não conseguiu nenhum dos grandes objetivos que se propôs. Não aplicou um único dos instrumentos que tem na sua política energética", afirmou.

"O resultado é este: temos a energia mais cara do mundo e uma política energética das mais ineficientes do mundo. É esse o resultado da sua política energética, não esquecendo que aumentou substancialmente os impostos sobre o consumo de energia", afirmou.

Presente no plenário, o primeiro-ministro cabo-verdiano, José Maria Neves, admitiu que ainda existem problemas, mas defendeu que a situação "é bem melhor" do que a registada na década 1990, altura em que o MpD esteve no poder.

"Há melhorias substanciais e a estabilização já está garantida na ilha de Santiago. Ainda há perdas, ainda há grandes ineficiências, ainda há instabilidades, ainda temos apagões, mas a situação está longe daquele que herdamos. Fala-se na qualidade de fornecimento de energia", afirmou.

"Carlos Veiga (primeiro-ministro de 1991 a 2000) disse que, em termos de qualidade de fornecimento de energia, estamos no 135.º lugar num «ranking» de 144 países. Onde estaríamos em 1999/2000? Estamos a dar passos seguros e a avançar para a resolução do problema energético de Cabo Verde", garantiu.

A bancada do PAICV, através do deputado Júlio Correia, centrou também as suas declarações na altura da privatização da Electra, afirmando que o Governo de então aplicou mal o dinheiro do negócio, começando os problemas nessa altura.

"Carlos Veiga tinha dois caminhos a seguir com os 45 milhões de contos (408 milhões de euros) que arrecadou. Ou os depositava no Trust Fund ou os investia no setor energético. Não fez. A partir dessa má privatização, foi o Governo (do PAICV) a corrigir todas as anomalias", disse.

O ministro do Turismo, Indústria e Energia cabo-verdiano, Humberto Brito, reafirmou que, em breve, o Governo vai levar ao Parlamento uma lei contra a fraude e o roubo de energia, forma encontrada para disciplinar o setor e também para punir os prevaricadores.

Em março último, o presidente da Electra, Alexandre Fortes, disse à agência Lusa que as falhas técnicas e roubos são responsáveis por 37 por cento de perda de produção de energia elétrica em Cabo Verde, um valor mensal de 200/300 mil contos (1,8/2,7 milhões de euros), valor "incomportável para a sustentabilidade" da empresa.

Segundo Alexandre Fortes, as perdas técnicas representam 13 por cento da produção total, enquanto os roubos (ligações ilegais) ascendem a 24 por cento.

Recuperadas 2.700 crianças órfãs e malnutridas no centro de Moçambique




AYAC – MLL - Lusa

Chimoio, Moçambique, 22 abr (Lusa) - A organização cristã África 180º recuperou 2.700 crianças, órfãs ou de mães seropositivas, malnutridas, oriundas de famílias pobres do distrito de Gondola, em Manica, centro de Moçambique, disse à Lusa fonte daquela estrutura.

Através da iniciativa "Bebés de Fora", que decorre desde 2005, crianças com problemas de nutrição e debilitadas, geralmente por razões sócio-culturais e económicas, recebem leite e suplementos com micronutrientes para a sua reabilitação, além de um acompanhamento clínico na organização.

"Denominámos África 180º porque acreditamos na viragem do continente. Incidimos na reabilitação nutricional porque muitas crianças morriam por falta de suplementos, pois muitas delas são órfãs e desprovidas de recursos", disse à Lusa o norte-americano Francisco João, diretor da África 180º.

O programa proporciona triagem nutricional, consultas e exames médicos a crianças e mães portadoras de VIH/Sida, pela organização, que funciona com fundos doados por países ocidentais.

"Chegámos a receber, em média, 45 crianças diárias para consultas externas e parte destas são conduzidas para a reabilitação nutricional. Agora temos 635 crianças órfãs de mães seropositivas e algumas com deficiência no programa de reabilitação", precisou Francisco João.

A desnutrição crónica entre crianças menores de cinco anos em Moçambique ronda os 41 por cento e problemas nutricionais são uma causa adicional de metade das mortes de crianças no país.

O quadro epidemiológico de Moçambique indica que a malária, as doenças diarreicas, o VIH/SIDA, as infeções pulmonares e o sarampo formam "o leque das doenças que agravam o estado nutricional das crianças", tanto como a desnutrição.

Dados do Instituto Nacional de Saúde e da Associação para Nutrição e Segurança Alimentar (ANSA) indicam que uma média de 41% das crianças moçambicanas padece de desnutrição crónica, existindo províncias com cifras de desnutrição que vão até mais de 55%, neste grupo populacional. Em geral, a taxa de desnutrição varia de 20% a 55,6% a nível nacional.

Governo diz que policiais cabo-verdianos participaram na prisão de Bubo Na Tchuto





O Governo de transição da Guiné-Bissau disse esta segunda-feira, ter provas de que o antigo chefe da marinha Bubo Na Tchuto, atualmente detido nos Estados Unidos, foi preso em território guineense e com a participação de polícias cabo-verdianos.

O porta-voz do Governo de transição Fernando Vaz, disse ainda ter “ficado “surpreendidos com mais este insólito e provocatório comportamento do Governo cabo-verdiano, quando usa dois pesos e duas medidas na sua contribuição no combate à criminalidade na sub-região”.

É que, disse Fernando Vaz, Cabo Verde foi cúmplice “na passagem pelo seu território de armas e medicamentos destinados aos combatentes do MFDC” (independentistas de Casamansa, no sul do Senegal), e o Governo de transição tem provas disso.

Numa conferência de imprensa em Bissau, o porta-voz do Governo de transição e o ministro dos Negócios Estrangeiros, Faustino Imbali, disseram que as autoridades de transição pediram à Procuradoria Geral da República para que solicite informações oficiais aos Estados Unidos sobre os casos de militares acusados de tráfico de droga e armas, que, se for o caso, quer ver julgados no país.

O Governo, disse Fernando Vaz, pede também a “colaboração judiciária dos Estados Unidos em todos os casos de natureza criminal que envolvam cidadãos nacionais em ilícitos comprovados de narcotráfico, tráfico de armas e terrorismo, para que sejam julgados à luz das leis guineenses, e posteriormente, se for caso disso, remetidos a outros tribunais internacionais”.

O julgamento de Bubo Na Tchuto na Guiné-Bissau, e eventualmente de outros cidadãos nacionais, incluindo o chefe do Estado Maior General das Forças Armadas (acusado pelos Estados Unidos de tráfico de armas e de droga), é, de acordo com o Governo, “um direito constitucional”.

O caso, a prisão de Bubo Na Tchuto e a acusação a António Indjai, está a causar um “efeito nefasto” na Guiné-Bissau, devido a boatos e “receios” das populações. De acordo com Fernando Vaz, no entanto, não está em causa o Governo de transição, que “não é uma instituição militar nem os militares estão no Governo”.

Para o Governo de transição, tendo em conta que as autoridades judiciárias guineenses foram ignoradas e os canais diplomáticos não funcionaram, “esta acusação, segundo a qual alguns destacados oficiais” das Forças Armadas “teriam participado em tráfico de armas contra os interesses dos Estados Unidos é simplesmente inaceitável e inadmissível”.

“O Governo assegura que tudo fará para a clarificação judiciária cabal e independente destas suspeições, em colaboração com a comunidade internacional”, disse Fernando Vaz, advertindo que ainda que se trate da “primeira potência do mundo” os Estados Unidos devem “respeitar o princípio do direito internacional” e “a soberania, a integridade territorial e direitos dos cidadãos”.

Por isso é “urgente” que se “faça justiça” sobre essa matéria, para que o Governo avance, se for caso disso, “para esclarecimentos judiciais contra todos os que invadiram e violaram a integridade nacional”.

O porta-voz lembrou que na Guiné-Bissau não existe pena de morte ou de prisão perpétua e reiterou que o Governo quer esclarecimentos cabais sobre as circunstâncias que levaram à prisão de Bubo Na Tchuto, já que “há factos novos” que indicam que a prisão do antigo militar ocorreu em território guineense e foi “realizada por agentes policiais cabo-verdianos”.

O Governo “não pretende caucionar a impunidade sobre este ou qualquer outro caso dito de polícia”, disse Fernando Vaz.

CARTA À DILMA PARA ANUNCIAR O DESCOBRIMENTO DE BRASÍLIA




"Cinco séculos depois, autonomeado que fui escrivão dos povos originários, escrevo na primeira pessoal do plural para informar-lhe que nós, 600 índios de 73 etnias, transportados por ônibus, desembarcamos na Câmara dos Deputados, em 16 de abril de 2013 e 'descobrimos' Brasília, uma terra em que se mamando, tudo dá. Não recebemos, porém, tratamento festivo, embora buscássemos contato pacífico com a tribo local dos deputados, formada exclusivamente por caciques que não caçam, não pescam, não plantam, mas comem em excesso. Glutões, seus hábitos alimentares e sua ociosidade fazem com que acumulem gordura no abdômen. São gordos, roliços e enxundiosos, com barriga flácida e proeminente. Apesar do intenso calor, cobrem suas vergonhas com tecidos quase sempre escuros, usam tira de pano apertada no pescoço e escondem o chulé dentro de mini-canoa de couro, uma em cada pé. Eles acham que tal aparência lhes dá respeitabilidade." - 20/04/2013

José Ribamar Bessa Freire, do Blog Taqui Pra Ti – Brasil de Fato

À Dilma Rousseff, presidenta da República

Senhora,

Posto que os caciques e outros dos nossos não encontraram Vossa Excelência no Palácio do Planalto quando ali foram pessoalmente dar-lhe notícia do achamento desta terra nova, não deixarei eu de contar-lhe como melhor puder, ainda que para o bem contar e falar seja eu o pior de todos indicado. Tome, porém, minha ignorância por boa vontade e creia por certo que, para aformosear ou afear, não escreverei aqui mais do que aquilo que me pareceu e o que vi nos telejornais, na mídia e nas redes sociais.

Senhora, há cinco séculos, o escrivão da frota Pero Vaz de Caminha, em carta ao rei de Portugal, D. Manuel, o Venturoso, noticiou que portugueses, navegando em caravelas, "descobriram" o Brasil em 22 de abril de 1500. "Foram recebidos com muito prazer e festa" pelos habitantes locais, "muitos deles dançando e folgando, uns diante dos outros".

Cinco séculos depois, autonomeado que fui escrivão dos povos originários, escrevo na primeira pessoal do plural para informar-lheque nós, 600 índios de 73 etnias, transportados por ônibus, desembarcamos na Câmara dos Deputados, em 16 de abril de 2013 e "descobrimos" Brasília, uma terra em que se mamando, tudo dá. Não recebemos, porém, tratamento festivo, embora buscássemos contato pacífico com a tribo local dos deputados, formada exclusivamente por caciques que não caçam, não pescam, não plantam, mas comem em excesso. Glutões, seus hábitos alimentares e sua ociosidade fazem com que acumulem gordura no abdômen. São gordos, roliços e enxundiosos, com barriga flácida e proeminente. Apesar do intenso calor, cobrem suas vergonhas com tecidos quase sempre escuros, usam tira de pano apertada no pescoço e escondem o chulé dentro de mini-canoa de couro, uma em cada pé.

Brado retumbante

Eles acham que tal aparência lhes dá respeitabilidade. Têm a cabeça raspada até por cima das orelhas. Quem não é careca usa nos cabelos tintura castanho-avermelhada de acaju ou tinta preta como as penas do jacamim, o que lhes dá um brilho metálico e, aos nossos olhos, uma aparência decrépita. Acontece que um deles, Francisco Escórcio Lima (PMDB/MA vixe, vixe) registrou nossa chegada não como "descobrimento", mas como "invasão". As imagens da TV Câmara gravaram seu brado retumbante:

- Os índios estão ali forçando para invadir o plenário. É uma situação em que todo mundo está com medo – gritava da tribuna, ofegante, Chiquinho Escórcio, pálido, encagaçado, se borrando todo, semeando o pânico. E olhe, Senhora, que a situação devia estar mesmo periquitomena, pois Chiquinho Escórcio, um empresário de 65 anos, ex-PFL e ex-PP (vixe²), é um parlamentar aguerrido que não foge do pau. Ele está acostumado, no pequeno expediente, a fazer discursos eloquentes sobre temas de transcendental importância para os destinos do país, conforme as atas da Câmara, que registram tudo com palavras desenhadas no papel, já que aqueles oradores têm o pensamento cheio de esquecimento.

Consultamos o penúltimo discurso (27/04/2013), quando Chiquinho demonstrou coragem desassombrada e usou sua convincente oratória para anunciar ao Brasil e quiçá ao mundo a presença naquele momento, no plenário, da prefeita do município de Chapadinha (MA), Ducilene Belezinha.

Mas não ficou aí. Foi muito mais longe. O site da Câmara reproduz discurso anterior (05/11/2012) no qual, sem medo à represália, Chiquinho demonstra insatisfação com o desempenho do Vasco da Gama no Campeonato Brasileiro de Futebol. Copiamos da página dele no site da Câmara um breve trecho da sua fala esclarecedora e patriótica:

"O SR. FRANCISCO ESCÓRCIO (PMDB-MA. Sem revisão do orador): – O que está havendo com o nosso Vasco da Gama, Deputado Onofre? Nós temos que ajeitar isso. Não é possível! Temos que chamar Roberto Dinamite aqui e perguntar: "Roberto, o que está acontecendo?" Depois que lhe fizemos aquela homenagem toda, o Vasco da Gama caiu pelas tabelas. Vamos dar uma ajeitada naquele time, porque é o time de coração de quase todos nós que somos brasileiros".

Senhora, juramos que não estamos a inventar, queremos ver nossa mãe mortinha no inferno se mentimos. Nem sabemos quem é Onofre, nem Ducilene Belezinha no jogo do bicho. Sabemos que torcedores invejosos do Flamengo são incapazes de avaliar a relevância de tal discurso, assim como não dimensionam o valor de outra peça de oratória de Chiquinho em homenagem ao Dia do Dentista (22/10/2012). A retórica dele mataria de inveja o padre Antônio Vieira.

Vale a pena pagar um salário de deputado ao Chiquinho, um puta orador, cujo verbo inflamado está a serviço das grandes causas. São discursos históricos que deveriam ser impressos em cartilhas e ensinados nas escolas. Por isso, Chiquinho está cheio de comendas: medalhas da Câmara Municipal de Chapadinha, da Ordem dos Timbiras e do Mérito Sarney "for important services rendered to the Brazilian people", conforme anunciou o The Chapadinha Times, que destaca a contribuição por ele dada ao conceito de heroicidade.

Se gritar pega deputado

Quando nós, índios, entramos no plenário, o discurso de Chiquinho provocou debandada geral, corre-corre, fuga em massa, como quando os apaches, nos filmes americanos, atacam a cavalaria. Bastou gritar "pega deputado", não ficou um, meu irmão! Foi um Deus-nos-acuda, um pega-pra-capar, um barata-voa, que não foi sequer dificultado pela pança untuosa e obscena dos fugitivos. As imagens da TV Câmara correram mundo e nos foram enviadas por uma amiga equatoriana lá de Quito, sugerindo que escrevêssemos esta carta.

Nós, índios, que descobrimos Brasília, desarmados, portando apenas maracás, queríamos tão somente solicitar ao presidente da Câmara, Henrique Alves (PMDB/RN, vixe vixe) a não instalação da comissão que pretende travar, no Congresso, a demarcação das terras indígenas através da proposta de emenda constitucional. Temos consciência de que não podemos disputar com temas de vital importância como a crise do Vasco da Gama ou o desfile heróico da Ducilene Belezinha.

No entanto, como não existe nenhum índio deputado, nós fomos lá exercer democraticamente um direito de pressão. Com um cocar azul, uma das nossas, Sônia Guajajara, exigiu a revogação da proposta de emenda constitucional:

- Nós, povos indígenas, não vamos permitir que uma minoria da sociedade brasileira – esses ruralistas e grandes empresários – seja maior do que nossos territórios. Vamos lutar até o fim" – disse Sônia.

Com o auxílio de um tradutor, Raoni Metuktire, líder caiapó, soltou o verbo:

- Nunca vou aceitar desmatamento nas terras indígena, nunca vou aceitar a construção de usina na área indígena, nunca vou aceitar mineração dentro de nossas terras".

Obtivemos êxito momentâneo: a medida foi suspensa por seis meses. Resta perguntar: de quem fugiam os deputados?

- Na correria, alguns parlamentares tinham mais medo de suas consciências do que dos manifestantes "armados" com penas e maracás – escreveu a nossa ex-senadora Marina Silva, que presenciou as "cenas cômicas e tristes" e a reação à "invasão" indígena. Depois que os trabalhos foram suspensos, o deputado Alberto Lupion (DEM/PR – vixe²), agropecuarista e empresário, denunciou à TV Câmara:

- Nunca vi um desrespeito à democracia como vi hoje.

Embora tenha 61 anos, o deputado Lupion parece não ter visto o golpe militar de 1964, nem tomado conhecimento das torturas e assassinatos cometidos durante vinte anos no Brasil. Fundador e presidente da UDR no Paraná, em 1987, condecorado pelas Polícias Militares de vários estados como Alagoas, Rio de Janeiro e Brasília, Lupion, ele considera como legítimo o lobby do agronegócio, mas considera "desrespeito à democracia" pressões pacíficas de índios e trabalhadores rurais. Ignora que – a frase não é nossa – "todos brasileiros têm sangue índio. Os pobres, nas veias; os ricos, nas mãos".

Senhora, posto que a Certidão de Nascimento do Brasil, que foi a carta de   Caminha, termina solicitando a transferência do genro do autor da Ilha de São Tomé, queremos reafirmar esse lado sarney do caráter nacional. Assim, comunicamos que um sobrinho nosso conhecido pela alcunha de Pão Molhado trabalha como analista do Seguro Social na Agência da Previdência Social de Maués (AM). O filho dele, de três aninhos, o Biscoitinho Molhado, vive em Manaus, longe do pai, de cuja atenção carece. Peço, portanto, a V. Exa., que desloque o Pão Molhado para Manaus.

E se alonguei essa carta, me perdoe, porque o desejo que tinha de vos dizer tudo, me fez por assim pelo miúdo. Embora o Governo Dilma tenha sido implacável com nós, índios, engavetando processos de demarcação para agradar a bancada ruralista, beijamos as mãos de Vossa Excelência na esperança de que elas assinem documentos que garantam o usufruto de nossas terras como manda a Constituição. Do contrário, advertimos que já descobrimos Brasília e o Palácio do Planalto. O referido é verdade e dou fé. Assinado: Taquiprati Vais No Caminho, autonomeado escrivão dos índios.

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Brasil – UMA COLABORAÇÃO NOSSA PARA COMBATER A CRISE: A EUROPEIA




O aumento da taxa juros estabelece, portanto, uma solidariedade objetiva da economia brasileira com as políticas recessivas anti-crise da União Européia, conseguida através de uma articulação política do sistema financeiro global: o aumento da taxa de juros transfere um adicional de recursos, que será diretamente manipulado pelo sistema, para ajudá-lo a gerir a crise européia nos mesmos moldes em que a mesma vem sendo enfrentada. O preço da crise européia, sobre nós, é a taxa de juros para melhorar a perfomance dos grandes bancos encalacrados na crise. O artigo é de Tarso Genro.

Tarso Genro (*) - Carta Maior

O esforço feito pelas agências financeiras privadas para promover o aumento dos juros, através do controle seletivo da informação - via colunistas financeiros, editorialistas convictos ou devidamente convencidos, cronistas políticos que repetem a “voz do dono”, para lembrar o velho selo da RCA Victor - configurou-se como uma profecia autorealizada. O medo comum da inflação e a constatação da demora, na retomada de taxas de crescimento mais altas - proveniente das pessoas de boa fé - também ajudou a criar o clima para a realização da “profecia”.

Quero arriscar um palpite sobre porque as taxas de juro subiram e assim geraram um novo crescimento da dívida pública que, de uma parte, agradou as “agências de risco” e o sistema financeiro privado, em geral, e, de outra, brindou a oposição neoliberal com argumentos contra a gestão financeira do Governo da Presidenta Dilma, embora a decisão fosse de responsabilidade exclusiva do Banco Central.

Como é sabido, na crise infernal em que está metida a União Européia, os “socorros” em curso, de bilhões e bilhões de euros, estão sendo dirigidos não para recuperar as empresas antes produtivas, que empregavam milhões de trabalhadores, mas para recapitalizar os bancos. Os recurso também estão sendo repassados aos governos, mas para eles pagarem os bancos, não para investimentos do Estado. Esta política anti-crise está combinada com as demissões de servidores públicos, extinção de direitos, redução drástica da proteção social e sucateamento de médias e pequenas empresas. Na Espanha, 400 mil delas já foram fechadas ou informalizadas.

O sistema financeiro privado europeu, em consequência, não vai utilizar o dinheiro novo, é obvio, para dotar os Estados europeus mais débeis de meios para investir em programas de desenvolvimento econômico e social. Nem vai usar os recursos novos para financiar a retomada da indústria em crise, porque bancos não emprestam sem garantias plenas de retorno. Qual o destino, então, do dinheiro “novo”? A resposta parece óbvia: financiamento da dívida dos países mais sadios, economicamente, - em crescimento ou em vias de retomar o crescimento - que precisam rolar suas dívidas de maneira serena, para não desestabilizar a confiança dos investidores externos e internos. Especulação.

Como a grande massa deste dinheiro “novo” vem para este financiamento, o aumento da taxa de juros torna os nossos papéis, no mercado financeiro global, mais rentáveis e atraentes (para os bancos que os comprarem), o que resulta em repassar mais recursos do nosso país para o sistema financeiro utilizar, a seu gosto, na crise européia. Como conseqüência, o “temor da inflação” - meticulosamente alardeado a partir da síndrome do tomate - pelo aumento da taxa de juros, desdobra-se numa drenagem de mais recursos nacionais para o sistema financeiro manobrar, na Europa capitalista em crise.

É fácil constatar que ocorreu um movimento político, apoiado pelos meios de comunicação dominantes na mídia nacional, para forçar uma situação de apreensão com o processo inflacionário e assim estimular o aumento da taxa de juros, remédio preferido de dez, entre dez economistas “liberais”, que são ouvidos como “especialistas” em dar conselhos a governos quando estão na oposição, mas foram um fracasso rotundo quando tiveram algum tipo de influência em decisões econômicas governamentais. Nove, entre dez deles, hoje, são executivos de grandes bancos ou trabalham para agências financeiras privadas, como consultores ou gerentes.

Os recursos que se vão, com o aumento dos juros, sequer são para mitigar a situação de desespero dos gregos, espanhóis, cipriotas, portugueses ou trabalhadores dos países atingidos pela crise, mas passam a integrar a engrenagem da rentabilidade dos bancos, que comandam - junto com a sra. Merkel - as desastradas políticas anti-crise da UE. É a engrenagem da derrota final da social-democracia sem fundos, que entregou a gestão do Estado ao capital financeiro credor.

O aumento da taxa juros estabelece, portanto, uma solidariedade objetiva da economia brasileira com as políticas recessivas anti-crise da União Européia, conseguida através de uma articulação política do sistema financeiro global: o aumento da taxa de juros transfere um adicional de recursos, que será diretamente manipulado pelo sistema, para ajudá-lo a gerir a crise européia nos mesmos moldes em que a mesma vem sendo enfrentada.

Fomos colocados, portanto, sob a mesma orientação dos países "pressionados" (ou tutelados) - tutela que o Banco Central incorporou - pela gloriosa “Tróika”, que gerencia as reformas que devastam as condições de vida das classes trabalhadoras e das classes médias na Europa. O aumento da taxa de juros, que aparentemente é uma forma de proteger o país da inflação, como inclusive acreditam algumas pessoas de boa fé, pode gerar um novo ciclo de apreensão inflacionária no país, que não revertido, sacrificará novamente as nossas taxas de crescimento, o que já nos custou demasiadamente caro numa outra era.

O Brasil tem reservas para enfrentar os ataques que ainda virão, contra a nossa moeda. O componente principal da globalização financeira é a socialização dos prejuízos, que ataca tanto os direitos das camadas mais débeis dos países em crise, como os países em ascenção econômica e social como o nosso que se tornam, assim, territórios econômicos a serem extorquidos. O preço da crise européia, sobre nós, é a taxa de juros para melhorar a perfomance dos grandes bancos encalacrados na crise. O preço do projeto de uma nação mais justa, mais democrática e mais igual, para nós, é ter maestria para resistir e crescer, distribuindo renda e criando empregos de qualidade.

(*) Governador do Estado do Rio Grande do Sul 

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A VENEZUELA DIVIDIDA (II)




O cerco e a pressão do exterior foram sensivelmente suavizados pelo apoio contundente dos presidentes da Unasul a Nicolás Maduro, inclusive do olombiano Juan Manuel Santos. Claro que Washington continuará fustigando, claro que a Espanha continuará seguindo seus passos. Mas os problemas estão mesmo concentrados é dentro da Venezuela. Por Eric Nepomuceno

Eric Nepomuceno - Carta Maior

A ação rápida da Unasul, com Cristina Kirchner e Dilma Rousseff conduzindo o jogo, surtiu efeito. E até mesmo o colombiano Juan Manuel Santos acabou contribuindo, na medida em que, junto com Dilma Rousseff, ajudou a convencer Nicolás Maduro a aceitar uma recontagem de 46% dos votos (os outros 54% já haviam sido auditados, de acordo com o que estabelece a legislação venezuelana). 

O resultado dessa dupla ação já se fez sentir: o derrotado Henrique Capriles sossegou um pouco sua fúria, deixou de incitar manifestações nas ruas, e a Venezuela enfim começa a encarar o inevitável: o vazio deixado pela morte de Hugo Chávez é irreversível. E é assim que os venezuelanos terão de construir seu futuro. 

Cheia de valentia pela metade dos votos conseguidos nas urnas, a oposição está disposta a não dar sossego, mas bem menos furibunda que num primeiro instante que se seguiu às eleições. Nicolás Maduro terá, muito mais cedo que tarde, de adotar medidas impopulares, com todo o risco que isso significa em tempos de turbulência. 

Passada a tensão dos primeiros momentos, os militares parecem ter encontrado a acomodação necessária para dar a Maduro o apoio necessário, sem se exceder. Diosdado Cabello, presidente da Assembléia Nacional, militar influente, deixou claro que não se deve mexer em onça com vara curta: “Ele era o muro de contenção dessas idéias loucas que temos de vez em quanto”, vociferou em reação a Chávez quando a oposição estava no auge de seu frívolo e arriscado assanhamento. Surtiu efeito. E, ao mesmo tempo, sossegou a ala mais radical do chavismo, incomodada com a aparente falta de rumo de Maduro, sua falta de liderança e com a facilidade com que a oposição atuava nas ruas.

O rio que ameaçava transbordar parece ter voltado ao seu leito. E é no meio dessa tensa calma – a calma que costuma anteceder os temporais – que o país se prepara para o longo dia-a-dia que tem pela frente. E o que tem pela frente é complicado.

O risco de que a inflação escape do controle é evidente, e é muito alto. Fala-se em risco de recessão. Há problemas de abastecimento de alimentos e de vários outros produtos, que vão se reposição de peças para automóveis a eletrodomésticos. O país importa 70% dos alimentos que consome. Há uma crise indisfarçável no setor de energia elétrica. Apesar das exportações de petróleo, há falta de dólares, e a iniciativa privada se ressente disso. Além do mais, sob a cômoda desculpa de falta de segurança jurídica, os investimentos mínguam cada vez mais. É muito mais lucrativo especular do que investir e esperar pelos resultados, que costumam demorar.

Nesse maremoto da economia Nicolás Maduro terá de agir de maneira rápida e contundente. E depende, basicamente, do apoio das Forças Armadas e de sua capacidade de evitar manifestações populares multitudinárias. 

Já desde os tempos de Hugo Chávez as Forças Armadas funcionavam como uma espécie de árbitro no equilíbrio de forças que disputavam espaço e poder no bolivarianismo. Acontece que Chávez estava vivo e, além disso, era militar – para não mencionar seu formidável apoio popular.

Na Venezuela herdada por Maduro, as Forças Armadas controlam, além, é claro, de todo o esquema de inteligência e segurança, as missões sociais, esteio de parte importantíssima do apoio popular, várias instituições estatais, parte central do sistema de abastecimento, e têm influência determinante em empresas estatais. Como se tudo isso fosse pouco, são militares os governadores de doze dos 23 estados venezuelanos, da mesma forma que são militares destacados dirigentes do próprio Partido Socialista Unido da Venezuela, o PSUV.

Até agora, e principalmente a partir do fracassado golpe de 2002, as Forças Armadas têm atuado de maneira coesa e rigorosa em defesa da revolução bolivariana. Para que o processo iniciado por Chávez seja levado adiante, é essencial que continuem assim. Se ganharem força própria os movimentos, dentro do próprio chavismo, que criticam o novo presidente pela sua falta de liderança, o caldo pode entornar de maneira extremamente perigosa.

De momento, tudo parece bem encaminhado. O cerco e a pressão do exterior foram sensivelmente suavizados pelo apoio contundente da Unasul. Claro que Washington continuará fustigando, claro que a Espanha continuará seguindo seus passos. Mas os problemas estão mesmo concentrados é dentro da Venezuela. 

Dentro de um país dividido, tendo de conviver com um vazio sem precedentes na história contemporânea dos venezuelanos: o vazio deixado pelo comandante de um processo peculiar, complexo, que devolveu dignidade aos marginalizados de sempre, que mudou a cara não apenas da Venezuela, mas também do seu povo.

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Durão Barroso insurge-se contra "preconceitos" e garante que portugueses são...




... "extremamente trabalhadores”

ACC – MLL - Lusa

O presidente da Comissão Europeia criticou hoje os “preconceitos” que estão a emergir na Europa, afirmando que aqueles que pensam que os povos do sul são “preguiçosos” estão enganados e que, por exemplo, “os portugueses são extremamente trabalhadores”.

José Manuel Durão Barroso, que falava, em Bruxelas, num debate organizado por diversos “think tanks” (grupos de reflexões) sobre o Estado da União Europeia, disse que um dos principais problemas de hoje é “a polarização, que está a ameaçar tornar-se o resultado final da crise”, e lamentou que “os preconceitos que estão a emergir”, e que classificou como “inaceitáveis”, ameaçam dividir a Europa e delinear um risco entre norte e sul da Europa.

Afirmando-se “muito preocupado” com este fenómeno, o presidente do executivo admitiu que a grande falha da União Europeia na resposta à crise foi precisamente não conseguir explicar aos cidadãos “o que estava em jogo”, contribuindo para que as políticas de austeridade, que insistiu terem sido necessárias para corrigir os desequilíbrios criados pelos próprios Estados-membros, não tivessem aceitabilidade política e social, conduzindo a tensões.

“É aqui que acho que não fizemos tudo certo. Não fomos capazes, coletivamente - instituições europeias e Estados-membros -, de explicar o que estava em jogo e construir o apoio necessário”, o que, assumiu, contribuiu também para que se desenvolvessem “preconceitos inaceitáveis”, quer de um lado, quer do outro.

Segundo Durão Barroso, há a tendência, em alguns Estados-membros, em “simplificar”, com os países da periferia, por um lado, a considerarem que “os problemas que têm não foram criados por si, mas por alguém, regra geral Berlim ou as instituições europeias ou o Fundo Monetário Internacional”, o que, disse, não corresponde à verdade.

Pelo outro lado, sublinhou, há “a ideia que existe nos países do centro, ou nos países mais prósperos, de que houve alguma espécie de inabilidade dos povos da periferia ou do sul, de que alguns destes povos são, por definição, preguiçosos ou incompetentes”.

“Este é um problema profundo, que eu considero moralmente intolerável e inaceitável. Vindo eu próprio de um destes países, posso dizer-lhes que o povo português é extremamente trabalhador”, declarou.

O presidente da Comissão apontou ainda que “é verdade que há, de facto, diferentes níveis de produtividade e competitividade na Europa, mas nem todos estes problemas são devidos às qualidades dos povos ou das nações”, como o mostra a História.

“Não é preciso recuar muito” para ver como os países mudam em termos de histórias de sucesso ou insucesso em termos económicos, afirmou.

MERKEL GARANTE QUE A ALEMANHA “NÃO PROCURA HEGEMONIA”




Lusa

A chanceler alemã, Angela Merkel, rejeitou hoje a ideia de que a Alemanha procura “hegemonia” na União Europeia e apelou à busca de consenso entre os parceiros.

Merkel disse que a Alemanha procura sempre tomar decisões conjuntas com a França assim como com os outros 27 membros da União Europeia.

“A Alemanha (…) desempenha por vezes um papel complicado porque nós somos a maior economia – não somos a mais rica mas somos a maior”, disse Merkel durante a apresentação de um livro em Berlim em que esteve presente Donal Tusk, primeiro-ministro polaco.

Merkel sublinhou que a “Alemanha atua sempre em conjunto com os outros” e que é completamente “alheia à hegemonia”.

A chanceler alemã disse também que a Europa precisa de uma cooperação mais estreita para enfrentar a “dura competição global” e evitar o “declínio”, referindo-se à experiência que viveu na antiga Alemanha de Leste.

Foto: STEFFEN KUGLER / HO/FEDERAL PRESS OFFICE

Portugal: “BURACOS” SÃO SUPERIORES A 3 MIL MILHÕES – REMODELAÇÃO AOS SOLAVANCOS




Buraco nas empresas públicas superior a três mil milhões

João Silvestre - Expresso

Além do Metro do Porto, que motivou saída de dois secretários de Estado, outras empresas têm perdas potencialmente ruinosas. O Metro de Lisboa é o pior.

As perdas potenciais das empresas públicas com contratos financeiros derivados (swaps) rondavam três mil milhões de euros no final do ano passado.

Não existem ainda dados oficiais para dezembro mas, pelas contas do Expresso a partir do buraco em setembro de 2,6 mil milhões de euros e da evolução das taxas de juro, o agravamento terá rondado 500 milhões de euros nos últimos três meses do ano.

O caso do Metro do Porto é o segundo mais grave, com uma perda potencial de 832 milhões de euros no final do terceiro trimestre do ano passado e que se agravou até dezembro. Terá sido isso que motivou a saída de dois secretários de Estado tornada pública este fim de semana, por terem estado ligados aos contratos assinados com a banca, numa altura em que a Inspeção-Geral de Finanças está a investigar.

Mas várias outras empresas públicas fizeram este tipo de contratos para cobertura do risco de variação da taxa de juro. Desde logo o Metro de Lisboa, o caso mais grave, em que as perdas em setembro eram já de 1,1 mil milhões de euros. Empresas como a CP, a Refer ou a STCP também entraram neste tipo de contratos.

Remodelação do Governo não pára

Ângela Silva – Expresso

Afinal, sai mais um secretário de Estado, o dos Negócios Estrangeiros, que será substituido por Francisco Almeida Leite, ex-jornalista. A remodelação dura há uma semana. A posse é hoje às 19h.

Subiu para cinco o número de secretários de Estado que hoje tomará posse, em Belém, pelas 19h. Brites Pereira vai deixar os Negócios Estrangeiros e Cooperação e para secretário de Estado de Paulo Portas irá Francisco Almeida Leite, ex-jornalista do DN e actual administrador do Instituto Camões

Fernando Alexandre será o novo secretário de Estado da Administração Interna. Independente, foi co-autor de um estudo que em setembro de 2012 avaliou de forma muito negativa a baixa da TSU.

Atualmente, integra a direção Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho. Vai substituir Juvenal da Silva Peneda, que sai do Governo por estar envolvido, como o seu colega da Defesa, Paulo Braga Lino, em operações de "swaps" (compra de produtos financeiros de alto risco), enquanto administrador do Metro do Porto.

Silva Penda e Braga Lino saem depois das Finanças terem detetado eventuais irregularidades, tendo a secretária de Estado do Tesouro admitido enviar o caso para o Ministério Público. Para o lugar de Braga Lino, na Secretaria de Estado da Defesa, vai Berta Cabral, ex-líder do PSD/Açores.

A estes dois novos membros do Governo somam-se mais dois secretários de Estado que irão integrar a equipa de Miguel Maduro, o ministro adjunto empossado na semana passada. São eles, Castro Almeida, que será secretário de Estado do Desenvolvimento Regional, e António Leitão Amaro, que ocupará a pasta de secretário de Estado do Poder Local.

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FASCISMO ECONÓMICO RELEGA PORTUGAL PARA A CAUDA DO CRESCIMENTO




Susana Charrua

FUTEBOL & COMPANHIA

Ontem houve dérbi lisboeta. Benfica vs Sporting ocupou a cidade-capital e praticamente todo o país. O Benfica venceu. Somou e segue rumo a campeão. Uns quantos viram penaltis onde não existiram. Histéricos põem as mãos no fogo sobre uma “sociedade” que haverá entre o árbitro do dérbi e o Benfica. É o costume: quando não se sabe dançar até o argumento de que o salão de baile está torto serve de pretexto. Principalmente o segundo golo do Benfica foi de antologia. De realçar que o Sporting fez um bom jogo  Está em alta e ainda bem. Lisboa precisa e merece ter um Sporting em crescimento, já que o país sabe que o seu crescimento diminui e vai diminuir tanto que vai ser par dos piores países do terceiro mundo. A previsão é do FMI – o tal que tudo faz para estrangular as economias dos países usando autênticos traidores de países onde intervem. Traidores, como é o caso de Cavaco Silva, de Passos Coelho, de Vítor Gaspar e também de Paulo Portas, entre outros que olham para os seus umbigos e para os umbigos dos corporativismos de que são elementos preponderantes e beneficiários

CAVACO VERGONHOSO

José Sócrates teve ontem o seu tempo de antena na RTP, como é costume ao domingo à noite. Falou de bons, maus e vilões. Disse, de sua opinião, com justiça e sem ela. Ter opinião é isso mesmo. Não se pode acertar em tudo nem arrebanhar a concordância de todos. Sobre o vilão Cavaco Silva Sócrates usou um termo muito pouco aplicado no português corrente: “envergonhante”. Comummente diz-se vergonhoso. Referia-se Sócrates a Cavaco Silva que na sua visita estéril e passeante à Colômbia foi à Feira Internacional do Livro, em Bogotá, e não fez referência ao Nobel da Literatura, português, José Saramago. Disse Sócrates que por isso Cavaco Silva foi "humilhante", "envergonhante", que teve um gesto "imperdoável", argumentando que Cavaco Silva não pode, enquanto Chefe do Estado, ter "ódios de estimação" ou deixar-se condicionar pelos seus "gostos literários" pessoais. Teve e tem toda a razão quem assim opina. Mas de um presidente da República vergonhoso o que é que se deve esperar? Pior que isso é o facto de Portugal estar na posse de uma pandilha que está a instalar no país o fascismo económico com a bênção de Cavaco e o manuseamento de uns quantos do seu clã alaranjado e, talvez, futuramente, com uma suástica em substituição da seta PSD. Vergonhoso, preocupante, motivo de derrube deste regime. De revolução.

BURACOS QUE VALEM MUITOS MILHÕES

A quadriga principal que desgoverna Portugal (Cavaco-Passos-Gaspar_Portas) vai fazendo remodelações a bochechos. Quero dizer que aquela seita está em fase de apodrecimento e está caindo aos bocados. Anunciou a remodelação de uns secretários de estado (nem importam os nomes). É que aqueles são responsáveis por uns quantos “buracos” de milhões de euros no Metro do Porto e mais onde estiveram engordando as suas contas bancárias à custa do povo faminto. No Porto a soma aproxima-se de mil milhões de euros… É fartar vilanagem. Isto é resultado daquilo que não conseguem calar. Quantos milhares de milhões é que estão nos segredos dos deuses deste fascismo económico? Pelo que se sente e pressente Portugal está todo esburacado.

ANTÓNIO COSTA QUER MATAR OS LISBOETAS?

Já agora, a propósito de buracos. A Câmara Municipal de Lisboa anda a fazer o possível por mostrar serviço e “alindar” a cidade-capital. Vai daí opta por asfaltar umas quantas ruas lisboetas. Até aqui tudo bem. O que está mal é Costa não ser sensivel ao facto de que está a contribuir para a morte mais rápida dos seus munícipes  transformando as ruas em obras de asfaltamento numa espécie de câmaras de gás ao estilo dos antepassados de Merkel. Os tapetes de asfalto são aplicados durante o dia, nas chamadas horas de ponta, horas de maior movimento, e os lisboetas vêem-se condenados a levar com os gases, o fumo, a poluição gigantesca que o asfaltamento causa. A situação ainda é mais flagrante e inadmissível quando se vê magotes de pessoas, novos, velhos e crianças, nas paragens dos autocarros a levar com toda a parafrenália de gases, fumos e barulhos gerados pelas obras “a la Costa”. Munícipes com sérios problemas respiratórios ficam arrasados  Só falta chamarem o 112 das emergências médicas (mas deviam). Registe-se que antes as obras decorriam durante a noite-madrugada, quando não havia movimento. Atualmente é na cara da gente. Talvez por razões orçamentais. Poupa a CML mas gasta-se mais na saúde e até pode acontecer que se encurte a vida de uns quantos velhos. O que agrada a Passos-Gaspar. António Costa quer mesmo seguir esse guião dos ditadores económicos e matar uns quantos lisboetas? Será que também passou a adepto do fascismo económico?

IMPULSO FASCISTA DO MENINO RABINHO CHEIO

É hoje título no jornal i o dito de um alegado “embaixador” passista. E o título é: “Muitos dos desempregados não querem trabalhar ou são maus a fazê-lo”. O autor da frase tem por nome Miguel Gonçalves, até podia ter por cognome Rabinho Cheio. Porque, está-se mesmo a ver, ele fala com a conta bancária a engordar, à semelhança de todos os seus parceiros dos "escolhidos". O que diz na entrevista demonstra o poder da manipulação deste governo para semear a divisão entre portugueses. Sabe-se que sempre existiram preguiçosos em todas as sociedades, em todos os países, em muitas famílias, mas o modo como este pajem passista dispõe da palavra e expõe seus raciocínios demonstra que padece de impulso fascista. Mais um dos que olha para o seu umbigo e para os umbigos de seus pares na festança dos corporativismos de que são elementos preponderantes e quase exclusivos beneficiários. Portugal está a ser empurrado para a cauda do crescimento nulo e negativo mas quase toda esta pandilha vai ficar mais “gorda” graças ao fascismo económico que implantaram e estão a desenvolver cada vez mais. É o crescimentos dos fascistas e o sucumbir de Portugal e dos portugueses. É urgente encontrar antídoto.

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