sexta-feira, 11 de maio de 2012

DE JOELHOS SÓ PERANTE DEUS!




Orlando Castro*, jornalista – Alto Hama*

A Igreja Católica diz que está preocupada com a pacificação de Cabinda, mas, não pretende assumir um protagonismo na facilitação do diálogo entre os separatistas da FLEC e o governo angolano.

O bispo da diocese de Cabinda desdramatizou igualmente a actual crise reinante na Igreja Católica de Cabinda desde a sua nomeação como bispo diocesano.

Filomeno Viera Dias considera que a Igreja de Cabinda não está dividida, embora – a muito custo, é certo – reconheça a existência de um grupo de fiéis afastados de uma comunhão plena com o bispo e com o papa e que, por isso, vivem à margem das paróquias e da eucaristia.

De facto, seis anos após a sua nomeação o bispo da colónia angolana de Cabinda, continua a ser rejeitado por um grupo de cristãos. Filomeno Vieira Dias considerou que se trata de um falso problema porque "as decisões do papa são soberanas". São as o papa tal como são as dos donos do regime angolano, ou seja, o MPLA.

Apesar do esforço que supostamente foi feito para a reconciliação dos fiéis, a crise agudizou-se com a expulsão de três grandes figuras do clero da colónia. O afastamento do antigo vigário-geral da diocese, Raul Tati, e dos padres Jorge Casimiro Congo e Alexandre Pambo mostrou – entre outras coisas – que o rei (da Igreja Católica em Cabinda) vai nu e que está submisso ao regime colonial do MPLA.

Questionado, segundo relata a VOA, sobre a dimensão política e social do congresso eucarístico da diocese que se vai realizar no próximo mês, Filomeno Vieira Dias disse estar preocupado com a pacificação de Cabinda.

A preocupação só acabará, julgo eu, quando o regime angolano conseguir calar de uma vez por todas com todos aqueles que na colónia de Cabinda pensam de manira diferente. Creio, contudo, que isso é uma missão impossível. Os cabindas só aceitam estar de joelhos perante Deus. Perante os homens, por muito poderosos que sejam, estarão sempre de pé.

É verdade que José Eduardo dos Santos quer pôr os cabindas de joelhos. Ao saber que eles só aceitam ficar nessa posição perante Deus, pediu a ajuda de Filomeno Vieira Dias para se tornar deus.

O pedido, já corroborado pelo MPLA, foi enviado para o Vaticano, acompanhado de uma certidão divina escrita em… dólares.

* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.

Título anterior do autor, compilado em Página Global: A VILANAGEM DOS DONOS DO REINO

UNITA convoca manifestações para exigir saída de presidente da comissão eleitoral



NME - Lusa

Luanda, 10 mai (Lusa) - A UNITA, o maior partido da oposição em Angola, convocou para 19 de maio manifestações em todo o país para exigir a demissão da presidente da Comissão Nacional Eleitoral, Suzana Inglês.

A convocação das manifestações foi anunciada hoje pelo líder da UNITA, Isaías Samakuva, que justificou a decisão com a falta de resposta do Tribunal Supremo ao recurso interposto pela UNITA, há mais de um mês, enumerando as várias ilegalidades que o partido considera existir na nomeação de Suzana Inglês.

De acordo com Isaías Samakuva, o ato administrativo praticado pelo Conselho Superior da Magistratura Judicial "ofendeu os princípios da legalidade, da justiça, da imparcialidade e da prossecução de interesses público, sendo inválido e com vício de violação de lei e dos procedimentos".

"Apesar das reclamações feitas pela UNITA e PRS (outro partido da oposição) os órgãos competentes do Estado não estão a emprestar ao processo de recurso contencioso a celeridade que o interesse público impõe", referiu.

Isaías Samakuva disse que as manifestações, que antecipou como "pacíficas", apesar da violência que tem marcado outras iniciativas antigovernamentais, vem "em defesa da paz e da democracia, pelo que ninguém precisa ter medo".

"Venham todos. Já escrevi ao ministro do Interior e vou falar com ele para solicitar o envolvimento da Polícia Nacional para a defesa da legalidade e a proteção dos cidadãos, que é a sua missão nos termos da lei", salientou Samakuva em conferência de imprensa.

Questionado sobre quais serão os próximos passos no caso de as manifestações não surtirem os efeitos desejados, disse que os protestos vão continuar.

Samakuva adiantou que a UNITA privilegia o diálogo, e tem estado a seguir as possibilidades que as leis conferem, acrescentando que o recurso à manifestação era o último.

O presidente da UNITA realçou que o interesse público exige que as eleições sejam convocadas "depois de dirimidos todos os conflitos pendentes" e "num ambiente de absoluta estabilidade política.

"Ora, a serem realizadas em 31 de Agosto, as eleições gerais de 2012 devem ser convocadas até 31 de Maio. É hoje imperativo que os órgãos competentes contribuam para a estabilidade necessária, resolvendo com celeridade todos os processos pendentes", sublinhou.

O líder da UNITA acrescentou que as manifestações, em Luanda e nas restantes capitais provinciais, serão igualmente levadas a cabo no estrangeiro, junto das embaixadas de Angola.

Angola: Governo esclareceu FMI sobre paradeiro de 27,2 mil milhões...



… falta explicar 4,2 mil milhões

EL - Lusa

Washington, 11 mai (Lusa) - Angola informou o FMI acerca do paradeiro de 27,2 mil milhões de dólares, indevidamente registados nas contas oficiais, faltando agora explicar onde estão outros 4,2 mil milhões de dólares, diz um comunicado da instituição financeira divulgado hoje.

No comunicado, com data de quinta-feira, o FMI destacou que em outubro de 2011, no âmbito do acordo de assistência a Angola, foi referenciada uma discrepância nas contas do Estado angolano, de 2007 a 2010, no valor global de 31,4 mil milhões de dólares (24,2 mil milhões de euros) e proveniente das receitas petrolíferas.

A explicação adiantada por Angola foi que a discrepância se deveu a um registo insuficiente de despesas efetuadas pela petrolífera Sonangol, em nome do Estado, nos setores da habitação, vias de transporte ferroviário e outras infraestruturas.

"Até, agora as autoridades identificaram 27,2 mil milhões de dólares do total residual de 31,4 mil milhões de dólares. Assim, falta apenas explicar a quantia de 4,2 mil milhões de dólares", lê-se no comunicado do FMI.

O valor em causa representa cerca de 25 por cento do Produto Interno Bruto de Angola em 2011, e algumas organizações de defesa dos direitos humanos, designadamente a Human Rights Watch, exigiram explicações cabais ao governo.

O FMI e as autoridades angolanas continuam "empenhadas" em continuar a trabalhar no "acerto das contas fiscais" até se perceber na totalidade que tipo de transações foram efetuadas, acrescenta o FMI no comunicado.

Numa análise ao desempenho da economia angolana, o FMI deu nota positiva às políticas macroeconómicas e aos esforços de reforma, mas chamou a atenção para a necessidade de recompor as reservas em moeda estrangeira para proteger a economia de riscos resultantes de efeitos do agravamento da crise económica nos países da Zona Euro e eventual queda dos preços do petróleo, que representa 95 por cento das receitas geradas pela exportação.

Moçambique: Quatro crianças somalis encontradas mortas em Tete...



… abandonadas por motorista - ACNUR

MMT - Lusa

Maputo, 11 mai (Lusa) - Quatro crianças oriundas da Somália foram encontradas mortas numa estrada de Tete, no centro de Moçambique, alegadamente abandonadas por um motorista que transportava imigrantes num contentor, denunciou hoje a ONU.

Em declarações aos jornalistas, o representante do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), Machiel Salomons, mostrou-se chocado com o caso ocorrido no passado dia 01 de abril no posto administrativo de Chioco, no distrito de Changara, em Tete.

No último mês, o representante do ACNUR efetuou uma visita de trabalho às províncias de Tete e Cabo Delgado (norte), por onde entram milhares de requerentes de asilo em Moçambique.

"Infelizmente desde o ano passado, o nosso escritório do ACNUR em Moçambique tem verificado que os requerentes de asilo são retornados para outros países. Isso viola não só o direito internacional, mas também as leis nacionais", disse Machiel Salomons.

O responsável chefiou uma equipa de técnicos do ACNUR que, durante uma semana, esteve nalgumas zonas fronteiriças para avaliar o nível de tratamento das autoridades moçambicanas aos requerentes de asilo no país.

"Sabemos que o governo está muito preocupado com os movimentos irregulares e também com a imigração ilegal. Também sabemos que Moçambique tem sido usado como país de trânsito pela maior parte das pessoas para chegar à África do Sul, mas isso não impede que o governo de Moçambique cumpra com o Direito internacional e com as suas obrigações internacionais", afirmou Machiel Salomons.

Em contacto com a Lusa, o porta-voz da polícia moçambicana na província de Tete, Jaime Bazo, disse que as autoridades moçambicanas "estão preocupadas" com a entrada em massa de imigrantes, maioritariamente da região dos Grandes Lagos.

Desmentiu que as mortes tenham sido de crianças, mas "de um grupo de jovens que não vinham bem acomodados" num camião que transportava imigrantes, cujo paradeiro até ao momento se desconhece.


Moçambique alberga cerca de 15 mil pessoas que fugiram de conflitos nos seus países, entre requerentes de asilo e refugiados, alguns dos quais hospedados em Marratane, um dos maiores centros de acolhimento de refugiados da África Austral.

Moçambique: Visita de Banda poderá ajudar a desanuviar tensão nas relações bilaterais



PMA - Lusa

Maputo, 11 mai (Lusa) - A visita que a Presidente malauiana, Joyce Banda, realiza a Moçambique a partir de sábado sinaliza a intenção de desanuviar a tensão que marcou as relações entre os dois países durante a presidência do falecido Bingu wa Mutharika.

Joyce Banda chega a Moçambique no sábado, para uma visita de dois dias, com uma agenda que inclui um encontro com o chefe de Estado moçambicano, Armando Guebuza, conversações bilaterais entre as delegações dos dois governos e uma deslocação ao Porto da Beira, centro do país, e por onde acede ao Índico.

A comitiva de Banda, que contará com a companhia do marido, Richard Banda, vai incluir os ministros dos Negócios Estrangeiros, Ephraim Mganda Chiume, Energia e Minas, Cassim Chilumpha, Transportes e Infraestruturas, Mahommed Sidik Mia, e do Ambiente e da Gestão de Mudanças Climáticas, Catherine Gotani Hara.

A deslocação da nova chefe de Estado malauiana, a segunda mulher a ascender à presidência de um país em África, é também um gesto de reciprocidade ao gesto do Governo moçambicano, que ofereceu combustível e alimentos para as exéquias fúnebres do seu antecessor Bingu wa Mutharika, em abril passado.

O falecido Presidente manteve uma relação crispada com Moçambique, com iniciativas e pronunciamentos que provocaram uma visível irritação de Maputo.

Entre os episódios mais marcantes na tensão entre os dois países esteve a tentativa de Bingu wa Mutharika de testar unilateralmente a navegabilidade de navios de grande calado no Rio Chire, tendo mesmo construído um porto em Nsange, pela portuguesa Mota Engil, cuja cerimónia de inauguração foi boicotada por Armando Guebuza.

Num outro incidente, o falecido chefe de Estado malauiano foi forçado a interromper subitamente uma visita a Moçambique, depois de Armando Guebuza ter exigido explicações sobre uma incursão da polícia malauiana na província do Niassa, que provocou ferimentos em elementos da guarda fronteiriça moçambicana.

Acossado pelo descontentamento da população com o custo dos combustíveis, Bingu wa Mutharika apontou obras na Ponte Samora Machel, na província de Tete, centro de Moçambique, por onde passam as importações do seu país, como causa da carestia.

As relações entre os dois países já tinham conhecido momentos de turbulência nos anos de 1980, quando o falecido Presidente moçambicano, Samora Machel, ameaçou colocar mísseis virados para o Malaui, para supostamente conter este país de prestar apoio logístico à guerrilha da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), atual maior partido da oposição.

A VILANAGEM DOS DONOS DO REINO




Orlando Castro*, jornalista – Alto Hama*

Passos Coelho reconhece que a carga fiscal em Portugal "é insuportável". Apesar disso continua, impávido e sereno, a gozar com a chipala dos portugueses. É fartar vilanagem!

O coordenador do BE acusou hoje o Governo de "mentir, ludibriar e enganar" sobre a carga fiscal e de prever no Documento de Estratégia Orçamental uma subida de 32,9 para 34% do PIB em 2016.

Na resposta, com aquele ar cândido de filho da… licenciado, pós-graduado, mestrado, doutorado e por aí fora, Passos Coelho reconheceu que a carga fiscal "é insuportável".

Como se o seu partido e ele próprio nada tivessem a ver com o assunto, Pedro Passos Coelho afirmou que o país tem "a maior carga fiscal de que há memória".

"Não me tenho cansado de o dizer, é verdade que Portugal atingiu um nível insuportável de carga fiscal e essa é a razão de que o ministro das Finanças ainda há dois dias sublinhou a necessidade absoluta de cumprir estes objectivos, sem os quais não garantiremos um alívio fiscal e um aumento das previsões de crescimento, é justamente isso que motiva este Governo", afirmou Passos Coelho com a verticalidade de quem não tem coluna vertebral.

Tal como afirmou que "se lhes transmitirmos credibilidade os portugueses compreendem, se lhes falarmos sem verdade e com falta de respeito, eles compreendem que estamos a ser batoteiros e em Portugal já temos um Estado batoteiro".

Tal como afirmou que "não interessa chegar ao poder apenas pelo poder, mas sim indicar ao eleitorado o que se vai fazer, dentro de paradigmas satisfatórios e cumprir", considerando ser necessário "cultivar o gosto pelas novas soluções".

Tal como exigiu na negociação para viabilizar o Orçamento para 2011 que não houvesse aumento de impostos, ou que “toda a diminuição da despesa fosse feita para que o país pudesse proceder à consolidação das contas públicas”, garantindo que mexer no subsídio de férias ou no subsídio de Natal seria um autêntico disparate.

Tal como afirmou que “estamos disponíveis para soluções positivas, não para penhorar futuro tapando com impostos o que não se corta na despesa”, ou que garantiu que“aceitarei reduções nas deduções no dia em que o Governo anunciar que vai reduzir a carga fiscal às famílias”, ou que disse que “vamos ter de cortar em gorduras e de poupar. O Estado vai ter de fazer austeridade, basta de aplicá-la só aos cidadãos”.

Tal como jurou que “ninguém nos verá impor sacrifícios aos que mais precisam. Os que têm mais terão que ajudar os que têm menos”, e que garantiu que “connosco não será necessário despedir pessoas nem cortar mais salários para sanear o sistema português”.

* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.

Título anterior do autor, compilado em Página Global: (TRAFIC)ANTES, DURANTE E DEPOIS

Leia também a entrevista de Página Global a Orlando Castro em ORLANDO CASTRO, JORNALISTA, "O PODER DAS IDEIAS ACIMA DAS IDEIAS DE PODER"

"ELES COMEM TUDO"




Manuel António Pina – Jornal de Notícias, opinião

Começam a vir a público as notícias (para já do sector das bebidas e da Centromarca, que reúne as empresas de produtos de marca) que eram de esperar: na badalada promoção do Pingo Doce no 1º de Maio, Alexandre Soares dos Santos é que pôs as barbas e o barrete vermelho mas o Pai Natal foram os seus fornecedores.

Soares dos Santos nega tudo e desafia, em tom de velada ameaça: "Eu gostava de saber quem são esses fornecedores que se queixam". O que se passa, diz ele, é que alguns fornecedores "estão alinhados" com o Pingo Doce... Só que, segundo a "Agência Financeira", os fornecedores "receiam que os seus produtos sejam retirados dos supermercados do grupo, caso não alinhem".

Já no sector agroalimentar, o oligopólio da distribuição propicia a proletarização dos produtores nacionais, a quem Pingo Doce e demais supermercados impõem os preços que entendem, sob pena de irem comprar ao estrangeiro (mais caro, mas "castigando-os" com o não escoamento dos produtos). Albino Silva, da Associação de Lavoura do Distrito de Aveiro, não pode ser mais claro: "É a nossa custa que o Pingo Doce está a dar os produtos praticamente de graça (...) acaba[ndo] com a nossa agricultura".

Por algum motivo, o Pingo Doce pode vender 43 milhões (vendas brutas) em produtos com descontos de 50% e, mesmo assim, continuar, como afirma Soares dos Santos, a vender acima do preço de custo.


Portugal: EIS OS GUARDIÕES DA DEMOCRACIA QUE TEMOS



jorge fliscorno - Aventar

Queixa no Ministério Público por inscrições fraudulentas no PS

A cerca de um mês das eleições internas para as distritais no Partido Socialista — 15 e 16 de Junho —, dispararam as denúncias de caciquismo em variadas federações. Desde o ano passado que o PS é palco de inscrições em massa que depois de analisadas revelam, nas palavras de alguns, um “verdadeiro assalto ao poder”. Os casos verificam-se nas distritais onde existem mais do que uma candidatura à liderança, como em Setúbal, Porto ou Coimbra. (Público de hoje, edição impressa)

Quem vai a votos, seja em que partido for, é escolhido pelos partidos em processos tão claros e democráticos como este. Grandes guardiões estes que nem conseguem praticar o regime que defendem.

Actualmente, um primeiro-ministro é escolhido por uns escassos milhares de eleitores, os militantes do partido. O povo, tão caro aos partidos, não passa do botador da cruz na lista pré-cozinhada.

Esta pseudo-democracia tem que terminar.

Urge exigir que os partidos se desprendam do poder e que aprovem legislação que permita a qualquer cidadão candidatar-se a cargos políticos. Contra esta ideia ouve-se a tese de que um cidadão poderia fazer as maiores maldades ao país sem se preocupar em não ser eleito a seguir, ao passo que os partidos podem ser penalizados na eleição seguinte. No entanto, basta olhar para os anteriores governos para se ver que essas maldades foram praticadas pelos próprios partidos, tanto para favorecimentos pessoais como para tentar a reeleição. Mas, mesmo assim, são penalizados nas urnas? Grande consolo chorar sobre o leite derramado. E a eleição pessoal, por oposição à votação partidária, pode ser objecto de legislação apertada que proteja os interesses dos cidadãos. Não há-de ser por isso que faltarão pessoas para exercer a política de forma altruísta.

Ironicamente, uma mudança destas precisa de partir dos partidos, as únicas organizações com alvará para o exercício da política. Cabe-nos a nós, os outros cidadãos, pressionar para que a mudança ocorra. Mas como? Petições, manifestos, posições públicas são formigas que o elefante esmaga sem as ver. Certa vez ouvi alguém defender que apenas a inscrição massiva nos actuais partidos, não importa quais, poderia levar ao processo de implosão que de facto os mudasse. Talvez funcionasse, não fosse dar-se o caso de, no geral, as pessoas acharem que política é coisa para os outros. Até porque se assim não fosse, se as pessoas participassem de forma activa na política – e participar na vida política não se resume à actividade partidária, então os partidos não seriam o que são hoje. Uma autêntica pescadinha de rabo na boca. Leitores, como vêem esta questão? E que soluções vos ocorrem?

Opinião Página Global

Queixa no Ministério Público? Oh, mas que teatro! Mas que peça! Mas que títulos! Sugestivos: “Os Filhos da Mãe Atacam”, “Os Filhos da Mãe Voltam a Atacar”, Os filhos da Mãe Aparentam Ter Cores Diferentes mas São Todos a Mesma Merda”, "Os Filhos da Mãe São as Maçãs Podres de Um Cabaz Chamado Portugal”. (Redação PG – AV)

Ministério Público sem culpa na prescrição dos crimes imputados a Isaltino Morais



Lusa

Loures, 11 mai (Lusa) - A Procuradora Geral Adjunta, Cândida Almeida, recusou hoje quaisquer responsabilidades do Ministério Público na prescrição dos crimes imputados ao autarca Isaltino Morais, atribuindo a culpa aos "abusos" que foram praticados no ato da defesa.

"O DCIAP [Departamento Central de Investigação e Acção Penal] investigou, acusou, ele foi julgado e condenado. O nosso sistema é muito bom, agora o abuso que dele é feito é que é muito mau", afirmou Cândida de Almeida.

A magistrada, que falava aos jornalistas à margem de uma conferência, no âmbito do 35º aniversário do Sindicato dos Trabalhadores dos Impostos, negou quaisquer responsabilidades do Ministério Público neste processo, num comentário à noticia do semanário Sol que hoje escreve que o crime de corrupção de que Isaltino Morais é acusado terá prescrito, impedindo a realização de parte do julgamento que o Tribunal da Relação mandou repetir.

"Não houve lentidão do Ministério Público porque deu a acusação logo em 2005. O problema é o abuso das normas que estão previstas", reiterou.

Opinião Página Global

Também daqui se infere que estamos cativos de uma elite putrefacta, corrupta, que legisla no interesse de uns quantos criminosos que gozam de todo o género de impunidade e que descaradamente ocupam cargos e poderes desmesurados que causam o alastramento de injustiças sobre injustiças. Que Justiça? Que Democracia?

Que respeito nos merecem estes salafrários que se protegem uns aos outros para abusadamente cometerem os mais variados crimes sem que sejam punidos como deveriam e como o são os outros cidadãos, os da ralé, os que estas elites putrefactas mantêm reféns e vilipendiam. Uma máfia a escorraçar por todos os portugueses que sob as suas "patas" têm sido roubados. Com esta máfia, de Belém a São Bento, de norte a sul, em Portugal, em cargos que ocupem, a culpa morre sempre solteira. (Redação PG - AV)

O VENTO MUDOU




José Manuel Pureza – Diário de Notícias, opinião

Não, não é inevitável. Foi essa a mensagem dada à Europa pelos povos de França e da Grécia. Cada um a seu jeito, porque cada um está em sua condição. Não é inevitável a desconstrução da Europa por um fundamentalismo recessivo, disse com clareza o povo francês. Não é inevitável a punição das vidas das pessoas e a humilhação dos povos como redenção da cupidez do sistema financeiro, disseram com clareza os gregos.

A política europeia virou? Não. Mas só o sectarismo mais cego se recusará a reconhecer que as condições do combate político em escala europeia e em escala nacional mudaram no domingo passado. Há uma inequívoca derrotada nas eleições francesas e gregas: a troika e a sua receita estúpida e incompetente para a Europa. O campo dos talibãs da austeridade ficou fragilizado. E se é certo que do novo presidente francês não se ouve a palavra rutura, não é menos certo que no centro do seu compromisso eleitoral estava a renegociação do pacto orçamental imposto por Angela Merkel. Esse vai ser o teste decisivo à intensidade da mudança: ou a social-democracia hoje personificada em François Hollande se queda por uma adenda ao neoliberalismo - que o aceita e não quer mais do que "humanizá-lo" - ou tem a coragem de lhe contrapor com clareza e coragem outra estratégia, outro horizonte e outra cultura económica e política.

Essa é também a escolha que os socialistas portugueses terão que fazer. Que a direção do Partido Socialista tenha alinhado com esta direita na aprovação pacoviamente precoce do pacto orçamental ditado de Berlim - para mais, votando a favor -, retira-lhe todo o crédito que um sábio adiamento da decisão confere agora a Hollande e coloca-a em contradição com a vontade expressa pelo SPD de votar contra o dito pacto. O PASOK, na Grécia, fez o mesmo que Seguro. Os resultados estão á vista. A interpelação de Mário Soares ao seu partido tem, neste contexto, um sentido claro: a radicalidade da crise não se compadece com adendas suavizadoras da austeridade, é precisa outra opção de fundo e ela não se fará sem rutura com o memorando de entendimento com a troika. Não por palavras mas em atos concretos.

O dogma da ilegalização de tudo quanto não seja neoliberalismo-custe-o-que-custar sofreu um sério revés em Paris e Atenas. Cabe agora a todos/as os/as que aspiram a uma mudança efetiva transformar essa derrota do adversário numa vitória própria. Para isso é preciso programa, é preciso firmeza sem transigências no essencial e maleabilidade lúcida no acessório, é preciso ouvir as pessoas e garantir-lhes em concreto a dignidade que lhes está a ser roubada.

A lição dos resultados eleitorais na Grécia é essa mesma. Claro que, aflitos, os amigos do centrão sentenciam o caos causado pela vitória dos "radicais". Como se radicais não tivessem sido as políticas que governaram a Grécia nos últimos dois anos pela mão da troika e do centrão com ela alinhado, como se caos não fosse uma dívida que cresceu para os 180% do PIB depois da intervenção externa, um desemprego que vai nos 22% e um horizonte de pelo menos mais dez anos de agravamento desta descida aos infernos. Não, o que incomoda verdadeiramente os amigos do centrão é que uma esquerda europeísta e por isso mesmo frontalmente contrária à destruição recessiva da Europa passe a ter um reconhecimento social amplo e possa ser vista como precedente de conteúdos de governação alternativos para a União.

Pode estar em germinação uma Europa nova. As escolhas que agora fizermos decidirão o sentido e a densidade dessa novidade. Não, não há inevitabilidades. Tudo está sempre em aberto.

Portugal: NOVE DEPUTADOS DO PS VOTAM CONTRA CÓDIGO DE TRABALHO




Ribeiro e Castro, do CDS, também violou disciplina de voto

Nuno Sá Lourenço, Sofia Rodrigues – Público

As alterações ao Código de Trabalho foram nesta sexta-feira aprovadas pela maioria, em votação final global, mas tiveram a oposição de nove deputados do PS – Renato Sampaio, Pedro Delgado Alves, Sérgio Sousa Pinto, André Figueiredo, Isabel Santos, Carlos Enes, Rui Duarte, Paulo Campos e a independente Isabel Moreira.

Também Ribeiro e Castro violou a disciplina de voto da bancada do CDS-PP e votou contra o texto por causa da eliminação do feriado do 1.º de Dezembro, à semelhança do que já tinha acontecido na generalidade. O ex-líder do CDS ficou assim ao lado das bancadas mais à esquerda, PCP, BE e PEV.

Na bancada do PS, 17 deputados anunciaram declarações de voto. Entre estes, Eduardo Cabrita salientou ter cumprido a disciplina de voto e anunciou declaração de voto.

Também no PSD, Miguel Frasquilho e outros três deputados anunciaram declaração de voto.

Ainda antes da votação, o deputado Ribeiro e Castro referiu ter enviado uma carta à presidente da Assembleia da República por ter “sérias dúvidas” sobre se o Parlamento estaria em condições de aprovar a eliminação dos feriados, tendo em conta o acordo com a Santa Sé que disse desconhecer. Assunção Esteves respondeu, porém, não ter competência para validar as normas sujeitas a votação.

A votação final global foi antecedida de debate em resultado de a oposição ter avocado a plenário alguns dos artigos mais polémicos como a eliminação dos feriados, o despedimento por inadaptação e o banco de horas. Estes artigos foram votados em plenário, depois de o já terem sido na especialidade.

SALÁRIOS DOS PORTUGUESES CAEM MAIS DE 12% ENTRE 2011 E 2013




Previsões Económicas de Primavera

Ana Rita Faria - Público

Só este ano, os salários reais dos portugueses vão cair 6%. A Comissão Europeia prevê uma descida mais profunda das remunerações e diz que Portugal terá maior redução do consumo e do investimento da Europa.

De acordo com as Previsões Económicas de Primavera, divulgadas pela Comissão Europeia (CE) nesta sexta-feira, Portugal vai sofrer um ajustamento salarial gigante, na sequência dos planos de austeridade, da recessão e do desemprego recorde.

Bruxelas prevê que os salários reais resvalem 6% este ano, acima da anterior previsão de 5%, constante nas previsões de Outono. Em termos acumulados, entre 2011 e 2013, a quebra salarial chegará aos 12,3%, também acima das últimas previsões, que apontavam para uma descida acumulada de 9,4%. Só a Grécia apresentará uma contracção dos salários superior (14,7%).

Os salários reais têm já em conta o efeito da inflação, que será de 3% este ano e de 1,1% em 2013. A contribuir para esta quebra das remunerações está também o corte dos subsídios de férias e de natal para os funcionários públicos e o ajustamento salarial que tem vindo a ocorrer no sector privado, decorrente nomeadamente do aumento do desemprego, que força os trabalhadores a aceitarem remunerações mais baixas. Segundo as previsões de Bruxelas, a taxa de desemprego deverá atingir os 15,5% da população activa este ano.

Produtividade estagna

O ajustamento salarial em curso na economia portuguesa vai contribuir para uma redução significativa dos custos unitários de trabalho. Só em 2012, estes vão cair 3,8%, mas, desde 2010 até 2013, a quebra acumulada será bem superior: 9,6%.

No entanto, a produtividade irá estagnar durante dois anos (2012 e 2013), o que significa que Portugal ainda terá de esperar para concretizar aquele que é um dos objectivos do programa de ajuda externa.

Estas previsões mostram que a melhoria da competitividade externa, que permitirá sustentar o aumento das exportações e impedir uma recessão maior na economia, terá de ser conseguida graças à diminuição dos custos do trabalho, e não com o aumento da produtividade.

Menos consumo e investimento

O desemprego recorde e a diminuição dos salários reais vão levar a uma quebra recorde do consumo privado que, segundo as últimas previsões da CE, será mesmo a maior da Europa.

Em 2012, os gastos das famílias vão recuar 6,1%, a maior em toda a zona euro e na União Europeia. Em 2013, a tendência irá manter-se, com o consumo privado a recuar 1%, uma diminuição que só será maior na Espanha e na Grécia.

Também o investimento irá registar a maior quebra da Europa – uma redução de 11,8% este ano. Será o quinto ano consecutivo de diminuição deste indicador, que só voltará a crescer, embora timidamente, em 2013.

FRANCOIS HOLLANDE ASSUMIRÁ PRESIDÊNCIA NA FRANÇA SOB FOGO CERRADO




Eduardo Febbro, Paris - Carta Maior

Eleito no domingo passado, Hollande sequer assumiu a presidência – será no dia 15 deste mês – e a ofensiva liberal começou com um pesado bombardeio vindo de várias frentes. A crise grega sacode a Europa, a Alemanha busca deter Paris em suas tentativas de introduzir uma dose de crescimento na estratégia de austeridade ditada por Berlim e vários setores da indústria francesa preparam demissões massivas. O artigo é de Eduardo Febbro.

Paris- O liberalismo mostra os dentes poucos dias antes de a socialdemocracia assumir o poder na França. Os senhores financeiros da Europa preparam um agitado comitê de recepção ao presidente francês, o socialista François Hollande. Eleito no domingo passado, seis de maio, Hollande sequer assumiu a presidência – será no dia 15 deste mês – e a ofensiva começou com um pesado bombardeio vindo de várias frentes.

A crise grega sacode a Europa, a Alemanha busca deter Paris em suas tentativas de introduzir uma dose de crescimento na estratégia de austeridade ditada por Berlim e vários setores da indústria nacional se preparam para decidir sobre demissões massivas que tinham congelado esperando o resultado das eleições. Respira-se um ar de fim de reinado com todos os ingredientes que acompanham esses momentos da história onde um modelo chegou ao ponto mais perverso e danoso de sua própria contradição.

François Hollande rompeu o consenso da austeridade como única alternativa, despertando uma furiosa ofensiva de parte da chanceler alemã Ângela Merkel. O repetido discurso sobre a austeridade e os ajustes como chave exclusiva para sair da crise voou em pedaços com a eleição de Hollande. O objeto do antagonismo é o pacto fiscal adotado por 25 dos 27 países da União Europeia mediante o qual se introduzem sanções aos países que excedam os déficits e não saneiem suas finanças públicas, a famosa “regra de ouro”. Mas esse texto acarreta ajustes e rigor. François Hollande não o rechaça em sua totalidade, mas defende a renegociação do tratado com a introdução de uma dose de crescimento. A Alemanha diz que não haverá retomada econômica na Europa com dinheiro público: ajustar ou morrer, esse é o seu lema.

Ângela Merkel voltou ao ataque nesta quinta. Falando ao parlamento, a chanceler alemã disse: “o crescimento mediante reformas estruturais é imperioso, importante e necessário. Mas fundar o crescimento sobre o crédito nos faria voltar ao início da crise. Por essa razão não devemos fazer isso e não o faremos”. Paris respondeu no mesmo tom. Benoît Hamon, o porta-voz do Partido Socialista, disse ontem que “François Hollande não mudará de posição pela simples e plena razão de que recebeu um mandato do povo francês”. Merkel e Hollande se encontrarão pela primeira vez no próximo dia 15 de maio para evocar este tema que se tornou uma pedra incandescente entre os aliados mais poderosos da União Europeia.

A ortodoxia liberal que Merkel chama de “reformas estruturais”, ou seja, liberalização do mercado de trabalho e sortes no seguro desemprego, se choca com a linha social democrata. O líder socialista começará assim seu mandato sob uma torrente de pressões e más notícias. O Banco da França adiantou que a França terá no segundo trimestre deste ano crescimento de 0%. A economia ficou estagnada e, além disso, com uma dívida majestosa. O famoso “estado de graça” que acompanha os dirigentes recém eleitos durante os primeiros meses de seu mandato será, para Hollande, um estado de desgraças sucessivas. Não só deverá enfrentar a Alemanha, mas também conduzir o timão de uma Europa absorvida pelo redemoinho da crise grega. Os mercados estão inquietos. A Grécia ainda não conta com um governo que se encarregue de impor ao povo o “guilhotinaço” pactuado com o Fundo Monetário Internacional e a troika europeia em troca dos megamilionários planos de resgate.

Como se isso não bastasse, os industriais estão por anunciar uma enxurrada de medidas que complicarão ainda mais a situação de um país que Nicolas Sarkozy deixa com um desemprego próximo a 10%. A General Motors anunciou que estuda a venda de sua planta de Estrasburgo, onde trabalham mil pessoas. A Peugeot Citroën também cogita a demissão de pessoal. Os sindicatos revelaram no início da semana que o grupo Carrefour estaria por demitir 3.500 empregados. Ao mesmo tempo, o grupo aeronáutico Air France-KLM também prepara demissões, no marco de um plano de economia de dois bilhões de euros.

A combinação da situação nacional, o confronto com a Alemanha e a crise grega é explosiva. Os mercados parecem apostar na explosão da Grécia e na saída deste país da moeda única, o euro. Isso acarretaria uma sucessão de terremotos de alta escala. Os tempos mudaram muito. François Hollande participou de uma reunião, quarta-feira, com Herman Van Rompuy, presidente do Conselho Europeu. Os dois homens tinham se encontra uma única vez, em maio de 2011, em Bruxelas. Em comparação ao que ocorre hoje, os assessores de Van Rompuy disseram que aquele momento foi “uma época inocente”.

Tradução: Marco Aurélio Weissheimer

A CANÇÃO DO REI CONTRA A DITADURA




Urariano Mota, Recife – Direto da Redação

Recife (PE) - Há pouco, recebi um email que julgo melhor responder de modo público. Na mensagem, a pessoa, que pesquisei e desconfio ser real, pedia:

“Boa tarde, amigo!
Estou querendo fazer um projeto de pesquisa sobre a relação entre Roberto Carlos e a Ditadura, mas as fontes estão difíceis.
Quero saber se pode me ajudar, me dizer quantas e quais as músicas do RC eram contra a DM.
E outras fontes, como sites e livros”.

Antes, esclareço que o pedido acima vai mais ao tema que ao colunista. Quero dizer, o leitor não vê neste aqui autoridade nenhuma para falar sobre Roberto Carlos, no que é sensato e justo. Apenas, pelas ondas do Google, ele pescou o texto “Roberto Carlos e a ditadura”, e lançou o grito “me ajude, tema”. Imagino que deve estar em dificuldade para algum trabalho de curso, num inferno de prazos e carências, e não quero ser grosseiro em não lhe responder como posso. Então vamos.

Primeiro, leitor amigo, perca as esperanças de sucesso na trilha pedida, que ou está perdida ou é roubada. Você pode pesquisar à vontade, mas creia: não existe uma só música de Roberto Carlos contra a ditadura. Isso, uma só não há. Os fãs do rei, que são muitos e fanáticos e sujeitos a algumas alucinações dizem que o rei possui uma, bela, terna, antológica, ecológica, pelo que cantam: Debaixo dos caracóis dos seus cabelos. Aquela dos versinhos “um dia a areia branca / Seus pés irão tocar / E vai molhar seus cabelos / A água azul do mar...”.

Já veem, é música de causar uma revolução, no estômago. Os muitos e muito fãs gritam, brigam que o Rei (pois assim se referem a RC), os ardorosos exegetas ensinam que Sua Majestade compôs debaixo dos caracóis para Caetano Veloso, que se encontrava exilado em Londres. E com isso o Rei teria contrariado a censura, brigado contra a ditadura, afrontado o general Médici, porque, afinal, “debaixo dos caracóis dos seus cabelos/ uma história pra contar de um mundo tão distante” era puro engajamento. Entendam, ver nessa cançãozinha boba algo contra a ditadura é mais arriscado que traduzir “me dá um xero” por give me a kiss.

Com mais razão poderia ser dito que no mesmo disco dos caracóis Roberto Carlos teria gravado Detalhes para reivindicar a volta de Brizola ao Rio de Janeiro. Exagero? Não, ouçam a nova interpretação – com essa referência - para o velho exilado que, embora falecido, até hoje tira o sono da Rede Globo: “Não adianta nem tentar me esquecer / Durante muito, muito tempo em sua vida eu vou viver...”. Sentiram? Anistia pura.

Mas se o leitor permite falar sério de outra maneira, lembramos que Roberto Carlos, quando explodiu, maneira de dizer, cantou em todos os rádios do Brasil, veio dentro de um projeto, de um programa que arrebentou em 65. "Em 1965, estreou ao lado de Erasmo e Wanderlea o programa Jovem Guarda, que daria nome ao movimento", dizem as notas. O Jovem Guarda se opunha ao O Fino da Bossa, com Elis Regina. Enquanto O Fino da Bossa fazia uma ponte entre os compositores da velha guarda do samba e os compositores de esquerda, de convicções socialistas, o Jovem Guarda...

"Eu vou contar pra todos a história de um rapaz
que tinha há muito tempo a fama de ser mau
seu nome era temido sabia atirar bem
seu gênio violento jamais gostou de alguém...”

Na verdade, o namoro do Rei Roberto Carlos com o regime não foi um breve piscar de olhos, um flerte, um aceno à distância. O Rei Roberto não compôs só a música permitida naqueles anos de proibição. O Rei não foi só o "jovem" bem-comportado, que não pisava na grama, porque assim lhe ordenavam. Ele não foi apenas o homem livre que somente fazia o que o regime mandava. Não. Roberto Carlos foi capaz de compor pérolas, diamantes, que levantavam o mundo ordenado pelo regime. Enquanto jovens estudantes eram fuzilados e caçados, enquanto na televisão, nas telas dos cinemas, exibe-se a brilhante propaganda "Brasil, ame-o ou deixe-o", o que faz o nosso Rei? O Rei irrompe com uma canção que é um hino, um gospel de corações vazios, um som sem fúria de negros norte-americanos. Ora, ora, o Rei ora:

"Jesus Cristo, Jesus Cristo, eu estou aqui
olho pro céu e vejo uma nuvem branca que vai passando
olho pra terra e vejo uma multidão que vai caminhando..”

Com essa composição o Rei erguia multidões de jovens, de todos os evangelhos nos estádios, com os braços levantados, a clamar por Jesus Cristo. Mas tudo, como diriam os velhos, velhíssimos fãs, tudo como uma forma de protesto. Protesto devoto, sagaz e permitido, enquanto o pau cantava fora da canção.

* É pernambucano, jornalista e autor de "Soledad no Recife", recriação dos últimos dias de Soledad Barret, mulher do cabo Anselmo, executada pela equipe do Delegado Fleury com o auxílio de Anselmo.

NÃO SE JUSTIFICA




Delfim Netto* – Carta Capital, em colunistas

Na véspera do 1º de Maio, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) divulgou relatório sobre o crescimento do risco de turbulência social na Europa, no Oriente Médio e na África do Norte e Subsaariana, devido ao desemprego que mantém 50 milhões de trabalhadores em estado de angústia, desde o início da crise dos mercados financeiros, em 2008.

Dos 106 países pesquisados na preparação de um “índice de inquietação social” (“social unrest index”, na versão inglesa), em nada menos que 57 deles o desemprego aumentou em 2011, em relação ao ano anterior. A situação é mais angustiante na Europa, mesmo depois de algumas economias conseguirem evitar a “morte súbita” anunciada em 2010. Isso porque, apesar da aparente melhora, o desemprego continuou a crescer em dois terços dos países, desde então.

No competente relato enviado de Genebra para a edição de 1º de maio no jornal Valor, o correspondente Assis Moreira informa que, para a OIT, o desemprego nos países europeus entrou em uma nova fase, tornou-se estrutural e mais difícil de ser reduzido. Aumenta o desalento na medida em que os desempregados há mais tempo entendem que não conseguirão obter novo trabalho nem mesmo com a recuperação das economias. Na Espanha, a situação é de extrema dramaticidade, com um trabalhador em cada quatro sem oportunidade de emprego. E segue crítica no mundo árabe e na África, o que só amplia a perspectiva de atritos mais graves nos movimentos de migração.

O relatório aponta para o contraste entre o que acontece nessas regiões e a diminuição dos riscos de turbulência em países como Brasil e Austrália, que realizam políticas bem-sucedidas de proteção social. O caso brasileiro é especialmente emblemático, onde um trabalhador metalúrgico eleito presidente ensinou, em 2008, aos Ph.Ds. do planeta como enfrentar a crise econômica, criando empregos e reduzindo as desigualdades sociais.

Na visão da OIT, as políticas adotadas nos países ricos não ajudarão a relançar o crescimento nem o emprego no curto prazo. O importante é restaurar o crédito e aumentar os estímulos para o desenvolvimento das pequenas e médias empresas. Fundamental é ter estratégias claras de crescimento e criação de empregos. E que os governos se recusem a deixar o setor financeiro comandar as políticas econômicas.

As conclusões do relatório divulgado pela OIT vieram ao encontro da mensagem da presidenta Dilma -Rousseff, transmitida aos brasileiros também na véspera do Dia do Trabalho, durante o “horário nobre” da tevê, quando exortou o sistema financeiro “a somar esforços com o governo para reduzir os juros, pois a economia brasileira só será plenamente competitiva quando nossas taxas se igualarem às que são praticadas no mercado internacional”.

De todas as manifestações públicas a que assisti desde que assumiu a chefia do governo, esta foi a mais oportuna, contundente e republicana que a presidenta Dilma dirigiu aos brasileiros. Para o nosso benefício, vale a pena reproduzir alguns de seus itens:

1. Nos últimos anos, o nosso sistema bancário tem sido um dos mais sólidos do mundo. Está entre os que mais lucraram. Isso lhes tem dado força e estabilidade, o que é bom para a economia. Isso também permite que deem crédito melhor e mais barato aos brasileiros. É inadmissível que o Brasil, que tem um dos sistemas financeiros mais sólidos e lucrativos, continue com um dos juros mais altos do mundo. Esses valores não podem continuar tão altos. O Brasil de hoje não justifica isso.

2. Os bancos não podem continuar cobrando os mesmos juros para empresas e para o consumidor, enquanto a taxa Selic cai, a economia se mantém estável e a maioria esmagadora dos brasileiros honra com presteza e honestidade os seus compromissos. O setor financeiro não tem, portanto, como explicar essa lógica perversa aos brasileiros.

3. A Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil escolheram o caminho do bom exemplo e da saudável concorrência de mercado, provando que é possível baixar os juros cobrados de seus clientes em empréstimos, cartões, cheque especial e no crédito consignado. É importante que os bancos privados acompanhem essa iniciativa, para que o Brasil tenha uma economia mais saudável e moderna.

A virtude está -exatamente em respeitar e proteger a -solidez do sistema -financeiro brasileiro, mas não consentir em deixá-lo ditar o tom da -política econômica.


* Delfim Netto é economista, formado pela USP e professor de Economia, foi ministro de Estado e deputado federal.

Brasil: ETERNOS CHAPA BRANCA


Anos de chumbo. O grande e conveniente amigo chamava-se Armando Falcão
Carta Capital, editorial

O jornal O Globo toma as dores da revista Veja e de seu patrão na edição de terça 8, e determina: “Roberto Civita não é Rupert Murdoch”. Em cena, o espírito corporativo. Manda a tradição do jornalismo pátrio, fiel do pensamento único diante de qualquer risco de mudança.

Desde 2002, todos empenhados em criar problemas para o governo do metalúrgico desabusado e, de dois anos para cá, para a burguesa que lá pelas tantas pegou em armas contra a ditadura, embora nunca as tenha usado. Os barões midiáticos detestam-se cordialmente uns aos outros, mas a ameaça comum, ou o simples temor de que se manifeste, os leva a se unir, automática e compactamente.

Não há necessidade de uma convocação explícita, o toque do alerta alcança com exclusividade os seus ouvidos interiores enquanto ninguém mais o escuta. E entra na liça o jornal da família Marinho para acusar quem acusa o parceiro de jornada, o qual, comovido, transforma o texto global na sua própria peça de defesa, desfraldada no site de Veja. A CPI do Cachoeira em potência encerra perigos em primeiro lugar para a Editora Abril. Nem por isso os demais da mídia nativa estão a salvo, o mal de um pode ser de todos.

O autor do editorial exibe a tranquilidade de Pitágoras na hora de resolver seu teorema, na certeza de ter demolido com sua pena (imortal?) os argumentos de CartaCapital. Arrisca-se, porém, igual a Rui Falcão, de quem se apressa a citar a frase sobre a CPI, vista como a oportunidade “de desmascarar o mensalão”. Com notável candura evoca o Caso Watergate para justificar o chefe da sucursal de Veja em Brasília nas suas notórias andanças com o chefão goiano. Ambos desastrados, o editorialista e o líder petista.

Abalo-me a observar que a semanal abriliana em nada se parece com o Washington Post, bem como Roberto Civita com Katharine Graham, dona, à época de Watergate, do extraordinário diário da capital americana. Poupo os leitores e os meus pacientes botões de comparações entre a mídia dos Estados Unidos e a do Brasil, mas não deixo de acentuar a abissal diferença entre o diretor de Veja e Ben Bradlee, diretor do Washington Post, e entre Policarpo Jr. e Bob Woodward e Carl Bernstein, autores da série que obrigou Richard Nixon a se demitir antes de sofrer o inevitável impeachment. E ainda entre o Garganta Profunda, agente graduado do FBI, e um bicheiro mafioso.

Recomenda-se um mínimo de apego à verdade factual e ao espírito crítico, embora seja do conhecimento até do mundo mineral a clamorosa ignorância das redações nativas. Vale dizer, de todo modo, que, para não perder o vezo, o editorialista global esquece, entre outras façanhas de Veja, aquele épico momento em que a revista publica o dossiê fornecido por Daniel Dantas sobre as contas no exterior de alguns figurões da República, a começar pelo presidente Lula.

Concentro-me em outras miopias de O Globo. Sem citar CartaCapital, o jornal a inclui entre “os veículos de imprensa chapa-branca, que atuam como linha auxiliar dos setores radicais do PT”. Anotação marginal: os radicais do PT são hoje em dia tão comuns quanto os brontossauros. Talvez fossem anacrônicos nos seus tempos de plena exposição, hoje em dia mudaram de ideia ou sumiram de vez. Há tempo CartaCapital lamenta que o PT tenha assumido no poder as feições dos demais partidos.

Vamos, de todo modo, à vezeira acusação de que somos chapa-branca. Apenas e tão somente porque entendemos que os governos do presidente Lula e da presidenta Dilma são muito mais confiáveis do que seus antecessores? Chapa-branca é a mídia nativa e O Globo cumpre a tarefa com diligência vetusta e comovedora, destaque na opção pelos interesses dos herdeiros da casa-grande, empenhados em manter de pé a senzala até o derradeiro instante possível.

Não é por acaso que 64% dos brasileiros não dispõem de saneamento básico e que 50 mil morrem assassinados anualmente. Ou que os nossos índices de ensino e saúde públicos são dignos dos fundões da África, a par da magnífica colocação do País entre aqueles que pior distribuem a renda. Em compensação, a minoria privilegiada imita a vida dos emires árabes.

Chapa-branca a favor de quem, impávidos senhores da prepotência, da velhacaria, da arrogância, da incompetência, da hipocrisia? Arauto da ditadura, Roberto Marinho fermentou seu poder à sombra dela e fez das Organizações Globo um monstro que assola o Brazil-zil-zil. Seu jornal apoiou o golpe, o golpe dentro do golpe, a repressão feroz. Illo tempore, seu grande amigo chamava-se Armando Falcão.

Opositor ferrenho das Diretas Já, rejubilado pelo fracasso da Emenda Dante de Oliveira, seu grande amigo passou a atender pelo nome de Antonio Carlos Magalhães. O doutor Roberto em pessoa manipulou o célebre debate Lula versus Collor, para opor-se a este dois anos depois, cobrador, o presidente caçador de marajás, de pedágios exorbitantes, quando já não havia como segurá-lo depois das claras, circunstanciadas denúncias do motorista Eriberto, publicadas pela revista IstoÉ, dirigida então pelo acima assinado.

Pronta às loas mais desbragadas a Fernando Henrique presidente, com o aval de ACM, a Globo sustentou a reeleição comprada e a privataria tucana, e resistiu à própria falência do País no começo de 1999, após ter apoiado a candidatura de FHC na qualidade de defensor da estabilidade. Não lhe faltaram compensações. Endividada até o chapéu, teve o presente de 800 milhões de reais do BNDES do senhor Reichstul. Haja chapa-branca.

Impossível a comparação entre a chamada “grande imprensa” (eu a enxergo mínima) e o que chama de “linha auxiliar de setores radicais do PT”, conforme definem as primeiras linhas do editorial de O Globo. A questão, de verdade, é muito simples: há jornalismo e jornalismo. Ao contrário destes “grandes”, nós entendemos que a liberdade sozinha, sem o acompanhamento pontual da igualdade, é apenas a do mais forte, ou, se quiserem, do mais rico. É a liberdade do rei leão no coração da selva, seguido a conveniente distância por sua corte de ienas.

Acreditamos também que entregue à propaganda da linha auxiliar da casa-grande, o Brasil não chegaria a ser o País que ele mesmo e sua nação merecem. Nunca me canso de repetir Raymundo Faoro: “Eles querem um País de 20 milhões de habitantes e uma democracia sem povo”. No mais, sobra a evidência: Roberto Civita é o Murdoch que este país pode se permitir, além de inventor da lâmpada Skuromatic a convocar as trevas ao meio-dia. Temos de convir que, na mídia brasileira, abundam os usuários deste milagroso objeto.


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