João
Luís
Entre
outros títulos possíveis (“uma mão cheia de nada”; “espera que o pai já vai”;
“moção estratégica para totós”, ou “não venhas tarde”), optei por este por me
parecer mais abrangente.
O
António Costa é como aqueles antigos vendedores de banha da cobra. Detentores
da panaceia para todos os males e que afinal, a clientela compradora do produto
verificava que o unguento adquirido não passava de um embuste.
Que
conclusões podemos tirar da brilhante e revolucionária estratégia costista?
Todas e nenhuma. É ao gosto do freguês.
Vejamos
as medidas anunciadas para um futuro governo “socialista” (de maioria absoluta,
claro está, que esta rapaziada não é pobre a pedir):
Comecemos por aquilo que nos tem asfixiado e
que promete chupar-nos até ao tutano. Renegociar ou reestruturar a dívida,
népia. Nem falar disso é bom. Portanto, portugueses aguentem os cavalos que não
é por aqui que se safam. Mas o artista de lábios carnudos, tez morena e timbre
de voz forte e bem colocada diz que tem reservada uma posição mais categórica
sobre o assunto mas será coisa, digo eu, para falar depois das eleições. Por
agora, venham os votozitos. “Há um elevado grau de endividamento do país”, diz
ele, como se tivéssemos recuado 100 anos e chegássemos agora da santa terrinha,
ou seja, os tugas ainda não se tinham apercebido do facto. Solução? Não aponta,
diz que a coisa tem de ser alargada à “Europa” e depois dispara frases ocas
como a necessidade de iniciativas para a “redução sustentada do impacto do endividamento,
seja na construção de instrumentos que estimulem a procura e o investimento
europeu em paralelo à promoção da coesão interna da UE”. Dá para ficar
descansado? Não, obviamente que não. O que ele afirma já o insonso Seguro
defendia.
Sobre
a eliminação da sobretaxa do IRS, que insiste em acabar com ela (e bem), mas
não diz como nem quando. Venham de lá esses votos que depois veremos isso no
nosso governo de maioria absoluta.
Um
dos cavalos de batalha de Costa é o salário mínimo que no passado muito recente
defendia a sua subida para os 522 euros e agora diz que sim senhor subir sim,
mas com cautela. “Sustentado” foi o eufemismo utilizado para dizer que 505
euros está muito bom, pois nem este nem outro valor aparece na estratégia nem
na, coisa linda, “agenda para a década”. Para os menos informados, década,
designa uma série de dez unidades. É também a designação de duas unidades de
tempo correspondentes a períodos de dez dias ou de dez anos. Neste último caso
o termo mais apropriado (por não ser ambíguo) é decénio. Não sou eu que digo, é
o Infopédia e o Dicionário Priberam. Ou seja, eventualmente Costa pode estar a
querer dizer-nos que tem uma agenda para os primeiros dez dias de governo
absoluto.
Sobre
o Tratado Orçamental diz o “socialista” Costa que quer respeitá-lo e que não
existe muita margem de manobra para alterar a corda que nos enforca mas,
adianta, se nos juntarmos àqueles que fazem uma “leitura inteligente e
flexível” da tal corda, pode ser que possamos substituí-la por cordel. Sempre
mata mais devagar.
Apresentou
ainda mais dois dedos de medidas quanto às políticas orçamentais sem nos dizer
como vai impor aos restantes países membros e ao capitalismo em geral.
Quer
o Costa e queremos nós mais investimento público e melhor aproveitamento dos fundos
europeus. Não disse o Costa, mas dizemos nós que isto é pouco como motores do
crescimento.
Para
a Educação, Costa não pretende acabar com a realização de exames nos primeiros
anos mas antes reavaliar a realização desses exames. Propinas, encerramentos de
escolas, más condições nas salas de aulas, despedimento de professores…,
cala-te ó chato!
No
emprego apresentou a “novidade” das políticas activas de emprego, como forma de
combater o desemprego. Mas isso não é o que temos agora? Para os “chavalos” mais
novos e tal e coisa, tenho aqui uns princípios gerais que são uma maravilha.
Votem lá em mim e verão se é verdade ou não.
Para
a função pública afirmou Costa peremptório “blá, blá, blá whiskas saquetas
(passe a publicidade).
Ó
senhor recém-futuro líder do PS, e as reformas mínimas? Bem…o mais importante é
tornar mais importante o Complemento Solidário…portanto, quero dizer, em vez de
aumentar as pensões mínimas, diz ele, o homem dos lábios carnudos. Ah, mas
também adiantou que que uma convergência efectiva dos sistemas de pensões com
uma paridade na formação de direitos para o futuro, aniki bébé, aniki
bóbó/passarinho tótó/berimbau, cavaquinho/ salamão, sacristão/polícia, ladrão.
Mas
para que tudo isto funcione e os portugueses possam finalmente fugir ao garrote
é fundamental que o Partido “Socialista” ganhe com maioria absoluta. (Ps, pst,
vocês entendem, não é verdade? Sem a maioria absoluta tenho os comunas à perna,
estão a ver? Depois não vos posso dar estas coisas boas, topam? Não estou aqui
para enganar ninguém. Quero maioria absoluta mão não vou governar só. Podem
confiar. Há por aí uns “esquerdas” fixes que me vão ajudar). Mas ó senhor
Costa, é só com a “esquerda” conforme prometeu nas primárias? Eh pá, não. Isto
vai ser do baril, porque quero “procurar pontos de entendimento e compromisso”
“com as diferentes forças políticas e partidárias”. Mas isso vai ficar decidido
antes das eleições?, pergunto eu. NÃO, responde o Costa, e eu sou parvo? Vocês
dão-me a maioria absoluta e depois logo converso com os outros. Está a
parecer-me que és comuna, ó escriba…
Para
o fim fica a cereja que embeleza este bolo. Costa quer rever desde já o sistema
eleitoral mas não pretende a redução do número de deputados, ai isso não. Vai
sim introduzir o sistema uninominal que terá certamente a bênção do PSD (vai
uma apostinha?) garantindo desta forma que PS e PSD tenham ainda mais
deputados, sendo certo, como todos sabemos, que estes dois partidos
“responsáveis” nada têm que ver com o endividamento e falência do país; com a
retirada de direitos; com o aumento da carga fiscal; com a corrupção e a dança
de cadeiras entre o sector privado e o sector público.
Fontes:
O observador; Aniki Bóbó, filme de Manoel de Oliveira