quinta-feira, 26 de abril de 2012

FRETILIN ESTÁ DISPOSTA A ALIAR-SE AO “MAIOR CORRUPTOR” DE TIMOR-LESTE?



António Veríssimo

O tema já foi abordado aqui, no Página Global, e já teve honras de uns quantos textos memória relativos à posição da Fretilin sobre o conceito das responsabilidades do governo de Xanana Gusmão na falta de honestidade como governante. Nem precisamos de pôr mais na escrita porque muito haveria o que dizer sobre esse aspeto.

Uma coisa vale a pena, com alma pequena ou grande: É facto indesmentível que um deputado da Fretilin inscreveu a disponibilidade de aquele partido histórico e eleito inimigo número um por Xanana em 2006 se aliar a Xanana se tivessem de formar governo após as eleiões legislativas a ocorrer dentro de pouco mais de um mês. Tal declaração não é compatível com quem tem memória, e muito menos com aqueles que têm estômago fraco para mixórdias, sejam eles políticas, etílicas ou de outras qualidades. Para efeitos de documentação e atualização devem, os que até aqui chegaram, recorrer ao original, à fonte de notícia absolutamente credível. Também em Página Lusófona encontrarão alguma "coisa" e  aqui no PG... algures.. Como queiram.

O certo é que o assunto parece não ter merecido desmentido por parte da Fretilin. Desmentido ou esclarecimento. Certo é que também não mais se viu ou ouviu falar sobre a estranhíssima declaração. Mais certo é que é uma declaração incongruente se jogarmos os olhos sobre o texto que se segue.

Sem pôr mais na escrita, podemos e devemos perguntar: a Fretilin dispõem-se a aliar-se ao maior corruptor de Timor-Leste, Xanana Gusmão?

Quem souber que responda. O silêncio, a falta de esclarecimento, terá os mesmos efeitos de tapar o sol com a peneira. Quase sempre traz apensa uma fatura pesada. Com paciência oriental aguardemos. (Redação PG-AV)

Mari Alkatiri: “XANANA GUSMÃO É O MAIOR CORRUPTOR DESTE PAÍS”


Critica o primeiro-ministro por corromper a mente dos timorenses e lança farpas à falta de nexo com que o governo gasta o dinheiro do petróleo.

Mari Alkatiri, muçulmano numa terra de cristãos, secretário-geral da FRETILIN, diz: “Em termos de religião sou da minoria, mas em termos de política sou da maioria.” Vítima maior da crise de 2006, explica que tem a consciência tranquila e não hesita em afirmar que Xanana Gusmão é o “maior corruptor deste país” que, garante, se “tornou um laboratório de experiências”.

O ministro da Economia e Desenvolvimento, João Gonçalves, diz que “Timor é um país rico mas com gente pobre”. Será que é legítimo dizer isto depois de dez anos de independência?

Enquanto a população for pobre, o país nunca será rico. Riqueza é aquilo que nós produzimos, não é aquilo que a natureza nos concede. O que a natureza nos concede é o crédito, e questiono, há ou não capacidade de gerir esse crédito para produzir riqueza? Sempre afirmei em Conselho de Ministros que cada dólar saído do petróleo é cotado como crédito. Há que definir uma taxa de juro, para ver se há ou não capacidade de reproduzir isso.

E como vê o país a nível económico?

Este país deixou de ter economia para ter simplesmente especulação financeira. Falam do crescimento económico, que não é mais do que dinheiro injectado pelo fundo de petróleo. É consumismo barato, na base da importação, e isto é completamente insustentável. O problema é que se saiu do princípio básico do economista: “Economia é a gestão dos recursos escassos, mas a base é a gestão.” Em Timor-Leste é o contrário, os recursos é que determinam. Porque se há muito dinheiro, então é ele que vai resolver o problema. O dinheiro traz felicidade a uma percentagem mínima de pessoas e o resto é que paga.

E, com tanto dinheiro, nem foi possível resolver o problema das estradas?

Na minha época tínhamos pouco dinheiro e conseguimos manter as estradas. Porquê? A questão central é a gestão. Nós tínhamos duas formas de gerir as infra-estruturas rodoviárias, através da manutenção de rotina (por exemplo, limpar as valetas) e da manutenção periódica. Só depois vem a reabilitação, e essa é a melhor forma de manter as infra-estruturas rodoviárias.

Mas, verdade seja dita, o terreno não permite grandes construções.

Sim, é verdade, naturalmente que agora, com dinheiro, a engenharia resolve tudo. Gastou-se tanto dinheiro e não se usou a técnica e a tecnologia. Tudo feito a olho. Antes mesmo de desempenhar as funções de jurista, fui topógrafo e trabalhei nas estradas. Quando começaram a alargar o troço que liga à fronteira com a Indonésia, disse logo que nas primeiras chuvadas as pedras viriam todas por aí abaixo. Dito e feito, agora as estradas estão quase intransitáveis.

De acordo com o Plano Estratégico de Desenvolvimento, as estradas irão sofrer grandes alterações.

É tudo megalómano, completamente invertido: 70% do Orçamento é para infra-estruturas, que tipo de economia irão dinamizar? Há que definir primeiro isso. É impossível sermos a nova Singapura dentro de uns anos. Tudo tem de ser feito com suor e trabalho, não com dinheiro do petróleo.

Muito se tem falado da base militar dos Estados Unidos em Darwin, cujo principal interesse passa por tentar contrariar a crescente pujança da China por vias comerciais, diplomáticas e militares. Mas também se fala no interesse no petróleo do mar de Timor. Acredita nesta última teoria?

Se quer que lhe diga, a base militar não me preocupa, porque os EUA, quando querem, estão em minutos em qualquer lado [risos] e a explicação da China é falsa. A China não é ameaça externa e nem importam as ideologias. A China exporta produtos baratos, cada vez com maior qualidade. Os próprios EUA precisam da China para desenvolver a sua economia. Quem é que não precisa de quem neste mundo? Os EUA têm excelentes relações com Timor. Temos interesses sobrepostos e não conflitos, portanto, o próximo passo é encontrar uma solução.

No entanto, o jogo de interesses mata uma nação.

Sim, claro, mas temos de gerir com competência e tem de haver um consenso nacional para haver reconhecimento. Não podemos politizar o que não é político e tentar apelar às consciências patrióticas para desenvolver o problema do mar de Timor. Assim não vamos a lado nenhum. Fizemos o acordo, conseguimos 90% (com a Sunrise passamos de 18% para 50%) e nunca mais se mexeu. Naturalmente que com 10 mil milhões de dólares julgamos ser muito ricos, e a gastar como estamos a gastar, daqui a 15 anos não há dinheiro. Tem-se gasto muito, mas sem resultados.

Como vê o actual governo?

O governo já não existe há muito tempo e nós [oposição] não queremos utilizar outros meios para o derrubar. Queremos meios legais e, apesar de não reconhecermos este governo, nunca demos um passo para trazer milhares de pessoas para as ruas e protestar. Optamos, sim, por fazer uma oposição didáctica. Pode dizer-se que tem sido governação com muito dinheiro mas sem resultados. Nós [FRETILIN] reabilitámos mil escolas, construímos 150 novas escolas de qualidade, novos centros de saúde em todos os subdistritos, hospitais de referência e, dentro de dois, três anos, iremos ter mais de mil médicos formados, através da cooperação cubana. Durante a minha governação, disse ao ministro da Educação que uma universidade sem os cursos de Direito e Medicina não é universidade. A nível rodoviário, a maioria das pontes construídas são do meu tempo, mas acabaram por ser inauguradas pelo actual governo. Até houve um caso caricato em que o actual primeiro-ministro inaugurou uma ponte a pensar que era um projecto dele. Contudo, o ministro das Infra-Estruturas disse no discurso que o projecto era do primeiro governo [risos].

Fez menção à educação. Durante estes dez anos houve sempre a questão da língua portuguesa. Como classifica esta aversão pela língua de Camões?

Sempre houve pressão contra a língua. Obviamente que sempre a defendi e disse num colóquio que, se o tétum se quiser desenvolver, tem de estar ligado ao português. E se o português quiser afirmar-se tem de se submergir no tétum. Não há outra solução. Se adoptarmos o inglês, o tétum desaparece, porque a língua inglesa é dominante, não coabita, e se adoptarmos a língua indonésia seríamos uma extensão da província. Não estou a dizer que o inglês e o bahasa deveriam ser banidos do ensino, porque é a nossa relação com a região e o mundo.

E ainda há o programa das línguas maternas, o Ita Nian Rai.

Isso é impossível! É a balcanização do país. Deve-se fazer um esforço para desenvolver todas as línguas e não confundir isso com a necessidade de ter uma língua unificadora.

E o que tem a dizer do conflito entre a nova e a velha geração?

Para a nova geração, a língua portuguesa é de um certo saudosismo, ao que eu respondo: “Eu já tenho identidade, vocês é que ainda não têm.” Qual a identidade que eles querem ter?

Mas eles não levam a mal?

Claro que levam a mal. Não gostam quando eu falo desta forma. E volto a perguntar, vocês querem ser uma extensão da Indonésia ou do norte da Austrália, ou querem ser um povo independente?

E qual é a resposta?

Nenhuma. Como disse, tétum e português devem andar juntos. Até há casos em que políticos que estudaram português na mesma altura que eu, usam termos que não existem. Por exemplo, a palavra cometimento [commitment em inglês] não existe. Compromisso é compromisso, e se há termos em português, usem o português! O timorense até entende o que é o compromisso, compromisso com Deus, por exemplo.

Entrando agora no campo da religião, nunca se sentiu incomodado por um muçulmano tomar as rédeas de um país maioritariamente católico?

Em termos de religião sou da minoria, mas em termos de política sou da maioria. O país é maioritariamente católico porque a FRETILIN é maioritariamente católica – essa é que é a realidade. Senão, o país não seria maioritariamente católico, e este é um elemento de cultura da unidade nacional. Eu sou parte deste povo. Ultimamente tenho dito que “a lei define, a Constituição define, mas patriotas somos nós todos”, não podemos por via da lei tornar uma pessoa nacionalista. Não se entende que o sacrifício que todos nós fizemos tinha um inimigo comum [a Indonésia]. Agora a tendência é fabricar inimigos para poder unir grupos, isto é, os grupos de artes marciais.

Após muitos problemas causados pelos grupos de artes marciais, o governo decretou tolerância zero. Acha que esta medida irá pôr cobro à violência?

Claro que não, tal como as outras anteriores não serviram de nada! A questão fundamental para os jovens é o emprego. Como criar emprego? Para competir no mercado de trabalho tem de se ter capacidade. Como criar capacidades? Criando centros de emprego. Porque, senão, depois ocupam o seu tempo a praticar artes que não são marciais. Devia haver uma lei enquadradora e definir critérios. Por exemplo, para a unidade de reserva militar só conseguiram 100 pessoas porque a selecção foi muito rigorosa, de forma a não apanhar ninguém ligado às artes marciais. Queríamos 500 e só conseguimos 100 e, desses 100, 20 não aguentaram, e foi então criada a força de segurança. Diziam que essa força era a minha segurança privada em 2006, mas acabaram por fazer segurança não a mim, mas ao Xanana.

Como é a sua relação com Xanana Gusmão?

Quando me encontro com Xanana em sítios públicos brincamos um com o outro, na galhofa. Uma coisa são as diferenças políticas, outra são as relações pessoais. E se há algum crítico dele, sou eu. Xanana é o maior corruptor deste país, porque quem corrompe as mentes é o maior corruptor de todos. Custa-me a acreditar que uma pessoa que esteve na luta, na prisão, fosse desencadear uma crise como a que aconteceu em 2006. Demiti-me porque não queria guerra e, para mim, 2006, 2007, 2008 já ficaram para trás. Podemos, juntos, olhar para a frente ou não? Da minha parte, não há remorso nenhum, até porque tenho a minha consciência tranquila. Nem sequer me quero considerar vítima porque quem assume as funções como eu assumi tem de estar sujeito a tudo.

Como define o Timor-Leste destes dez anos? E como vê o país no futuro?

Timor-Leste tornou-se um laboratório de experiências que, bem aprendidas, podem ajudar o país a crescer. Para o futuro há que definir as áreas de consenso para todos, principalmente os partidos políticos.

Depois de Escrito

Informação relacionada: Posteriormente tivemos conhecimento de que o dr. Mari Alkatiri fez declarações ao jornal timorense Timor Post sobre a abertura da Fretilin para se aliar com partidos que lhes possibilitem constituir governo, incluindo o partido de Xanana Gusmão, o que seria bastante positivo se Gusmão tivesse demonstrado transparência e honestidade política e governativa desde 2005/6. Não tivesse ascendido ao poder com um rasto de golpe de estado violento e não constituísse uma enorme desilusão para quem tem vindo a acompanhar o processo de consolidação da independência e democracia timorense.

As declarações foram feitas em 25 de Abril passado, em tétum, texto de que não encontramos tradução em português. O título é o seguinte: “Dr. Mari Alkatiri: Odamatan FRETILIN Nakloke no Prontu Koliga Ho Partidu Seluk”. Jornal Timor Post - Kuarta, 25 Abril 2012. Contamos apresentar em Página Global o essencial das declarações de Alkatiri  - em tradução para português – o mais rápido possível. (Redação PG-AV)

O MINISTRO DA “DEFESA” QUE VÁ À MERDA!



António Veríssimo

Critica este ministro, este ministro temporário (de curto tempo que já vai longo), de uma “mão cheia” de personalidades terem limpo o traseiro aos convites de presença nas cerimónias que ele (ou outros) tiveram por bem destinar em comemoração do 25 de Abril de 1974. Também fui convidado, não achei que devesse aceitar o convite mas contactei vários camaradas também convidados. De que quase todos ouvi a mesma resposta: “Não vou, o ministro que vá à merda!” Só estou a ser publicamente mensageiro. Acho que devo e que o ministro merece essa minha atenção, para não ficar votado à ignorância. Pobrezito.

Dou-lhes razão, obviamente. Não digo que mande o ministro à merda, não, isso seria uma falta de respeito. Mas o coletivo é para onde o manda e eu estou integrado desde há muitas dezenas de anos no coletivo. Provavelmente ainda o ministro não era ovulus fecundis duma ejaculação paterna. Era nada, quase pronto para cair na sanita ou no bidé. Como quando sair do poder será nada. Só fazem trampa e querem o quê? Cobertura? Piegas, está a ser piegas mas arrogante. Já não estamos com idade nem em circunstâncias de brincarmos, nem de brincarem connosco! Por isso somos ex-combatentes dispostos a combater… se houver razões para que tal aconteça.

Comemorações oficiais
Ministro da Defesa critica “mão cheia de personalidades” ausentes do 25 de Abril


O ministro da Defesa criticou nesta quinta-feira a ausência de “uma mão cheia de personalidades” nas celebrações oficiais do 25 de Abril e optou por assinalar os que compareceram e “que sabem que as Primaveras podem ter heróis mas só têm um dono, os portugueses”.

“Ontem [quarta-feira], uma mão cheia de personalidades faltou às celebrações do 25 de Abril no Parlamento, na casa mãe do regime democrático, no espaço onde por excelência o povo se faz representar e se expressa a sua vontade. Mas ontem [quarta-feira], uma centena de outras personalidades esteve presente nessas mesmas celebrações”, afirmou José Pedro Aguiar-Branco, na sessão de encerramento do seminário internacional “As Revoltas Árabes e a Democracia no Mundo”, que decorreu no Instituto da Defesa Nacional (IDN), em Lisboa.

“Repito a minha ideia. Entre a mão cheia que faltou às cerimónias de ontem e as centenas que estiveram presentes assinalo os que estiveram presentes”, reafirmou o ministro da Defesa, que enalteceu a iniciativa do IDN e elogiou o seu director, general Vítor Rodrigues Viana, que também participou na sessão final.

A Associação 25 de Abril decidiu este ano não comparecer às cerimónias oficiais comemorativas da Revolução dos Cravos, decisão que levou o ex-Presidente da República Mário Soares e o ex-candidato presidencial Manuel Alegre a faltarem também à sessão solene do Parlamento.

Em declarações à Lusa antes do início da sessão, o ministro tinha já considerado que “em democracia cada um é responsável pelos seus actos”, dizendo que têm de ser respeitados. Numa referência à situação política no país, Aguiar-Branco destacou diversas dicotomias na sociedade portuguesa. “Nas manifestações, entre as centenas que protestam contra as medidas que tomamos e os milhares que se comprometem para que o país possa sair da crise, assinalo os que se comprometem”, sublinhou. “Nas greves gerais, entre os milhares que aderem à greve e os milhões que vão trabalhar, assinalo os que vão trabalhar”, insistiu.

O ministro não deixou de considerar que a discordância “é legítima e é até salutar” em democracia, e que a sua expressão é mesmo “exigível”, por significar “participação e responsabilidade pelo nosso devir comum”. Mas sustentou que “o respeito pelas decisões das maiorias é inquestionável”, sem deixar de reprovar numa passagem da intervenção o que designou por “vanguarda, ungidos de um especial direito de poder retirar ao povo” a sua arma mais forte, “o direito prático do voto”. E precisou a sua mensagem: “Não quero com isto falar de maiorias silenciosas. Até porque acredito que a maioria não está silenciosa. A maioria simplesmente está a trabalhar”.

*Original publicado em Página Lusófona, blogue do autor

O FATOR MEDO CONDICIONA




Orlando Castro*, jornalista – Alto Hama*

Em crónica publicada no Jornal de Notícias, Manuel António Pina diz, a propósito de Miguel Portas, que “morreu um homem justo”. Tem toda a razão.

“(…) Num momento em que o país mais precisa de homens lúcidos e livres, um desaparecimento que justificaria que se dissesse que ficámos, se possível, ainda mais pobres, não se tivesse tornado tal expressão um cliché fruste sem réstia de literalidade”, escreve Manuel António Pina.

Quando fala de “um homem justo”, estaria Manuel António Pina a pensar no que Miguel Portas disse ao Correio da Manhã em Fevereiro de 2009? E o que ele disse foi: "Estou preocupado com este despedimento colectivo (Jornal de Notícias) porque é um dos principais jornais do País e que dá importância à pequena informação local, sobretudo a norte"?

Quando fala de “um homem justo”, estaria Manuel António Pina a pensar que foi Miguel Portas quem disse que os despedimentos na comunicação social "põem em causa a pluralidade da informação e fomentam a precariedade"?

Quando fala de “um homem justo”, estaria Manuel António Pina a pensar que foi Miguel Portas quem disse que "quando um grande grupo de comunicação social, como é a Controlinveste, despede centenas de trabalhadores, gera o factor medo nos outros que ficam condicionados, com receio de serem também despedidos"?

Fica a dúvida e a certeza de que há dúvidas que não se escrevem, sobretudo quando envolvem os que põem lagosta em pratos que outrora só tinham sardinhas…

* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.

Título anterior do autor, compilado em Página Global: OBRIGADO MIGUEL PORTAS

Porto: A ES.COL.A NO GUETO



Daniel Deusdado – Jornal de Notícias

A Es.Col.A ocupou ontem a Fontinha. Não se sabe até quando. Não sei mesmo se, quando o leitor vir este texto, já a Polícia de Intervenção 'limpou' de novo a escola e impôs a ordem. Que ordem? Há realmente uma ocupação ilegal? Vejamos em detalhe.

1. O edifício da escola da Fontinha é da Câmara do Porto? Oficialmente sim. Mas o ponto é este: servia para alguma coisa antes do grupo Es.Col.A lá estar? Não. E aquele prédio é de quem? Do ponto de vista público 'pertence' à Câmara, ou seja, aos moradores da zona. Quando o presidente da Câmara os manda sair à força não sei exatamente em nome de quem é que atua. Os munícipes que contam são aqueles que estão ali (não os que moram na Foz ou em Miragaia). Aquela velha escola devia estar ao seu serviço e finalmente estava.

2. A Câmara exigiu 30 euros de renda e um contrato de comodato (empréstimo). Parece sensato mas Rui Rio poderia ver que, por detrás da Es.Col.A, há uma cidade a 'mudar'. Uma história: na década de 80 em Curitiba, no Brasil, a edilidade não conseguia lutar contra o crescimento das lixeiras na favela. O que fez o presidente Jaime Lerner? Decidiu pagar um pequeno valor pelo lixo recolhido e entregue no local certo. Assim, em vez de ter os moradores a contribuir para o caos, contou com eles para mudar radicalmente a cidade e fez Curitiba figurar como um dos casos mais extraordinários de mudança social e ambiental no Mundo. A decisão permitiu-lhe ainda poupar muito dinheiro em serviços públicos. Curitiba era um caso muito mais complexo do que o que estava em curso na Fontinha. Há inúmeras escolas da cidade abandonadas. Há jovens adultos com vontade de participar em movimentos de solidariedade social, até como meio de encontrarem um sentido para a própria vida. É uma mudança gerada pelos novos tempos do desemprego jovem e do regresso à agregação social de proximidade. Mas o que faz a Câmara? Recusa perceber o que aí vem. Faz mal, porque os novos tempos do Porto também se fazem destas pessoas que estão disponíveis a viver uma vida de pobreza em prol dos outros. Ora, num tempo em que é tão mais fácil entrar pela marginalidade ou emigrar, isto parece uma boa ideia. A cidade precisa de gente assim - desde que os moradores aprovem. O novo Porto cultural e jovem também é isto e não apenas a 'movida' ou os bares dos universitários.

3. A Fontinha não encaixa no formato "pobres" ou "político que ajuda/povo que agradece" tão ao agrado do "populismo democrático" de Rui Rio. É mais fácil pintar os bairros sociais e colocar-lhes televisão por fibra do que encontrar um modelo económico e social para a cidade. O Porto é um vazio de novo emprego, exceto o cultural (que surgiu à revelia da Câmara, nunca o esqueçamos). A Es.Col.A é uma forma não-convencional de cultura urbana. Naturalmente não aceita a exigência de menção obrigatória do "apoio da Câmara do Porto" em todas as ações culturais. O ridículo da dupla Rio/Teixeira não tem limites. Exigência essa, recorde-se, que impede qualquer instituição da cidade de criticar a Câmara sob pena de perder a esmola. Obrigar a 'Fontinha' a agradecer a oportunidade faz de facto lembrar a propaganda nazi no gueto judeu. É triste, mas é verdade.

Duas notas de rodapé: este 25 de Abril começou a tornar clara a cisão política do PS com a troika/Passos Coelho. A decisão reflete uma coisa mais perigosa: a mentira do Governo quanto ao corte dos subsídios em 2014 pode ter sido a gota de água na coesão social e Seguro percebeu obviamente isso. O candidato que achava pesado o PEC IV transformou-se no primeiro-ministro que se esqueceu de avisar os portugueses que a austeridade dura mais um ano do que o previsto... Mente ou é apenas um jovem alto e loiro?

A segunda nota: finalmente o 'buraco' da Madeira transformou-se num caso de Polícia. O "Diário de Notícias" fala em mais dois mil milhões de dívida escondida tendo por base o sistema do costume - construção civil e investimentos feitos à socapa das contas públicas. Será que nem assim Jardim se senta no banco dos réus? Se assim não acontecer, é melhor fechar de vez os tribunais.


GUINÉ-BISSAU DE HOJE… AMANHÃ NÃO SABEMOS




A falta de objetividade e honestidade que é costume percebermos nas organizações internacionais está novamente patente sobre o impasse que verificamos na Guiné-Bissau. Por enquanto não é caso de mortandade mas se fosse acontecia o mesmo. Andavam a reuinir aqui e ali. Uma dúzia de “iluminados” reúne hoje aqui e amanhã acolá sob a égide da OUA, da ONU da CODEO da MARIA, do JOSÉ… da masturbação de uns quantos que nada resolvem ou que muito raramente resolvem alguma coisa.

Esta é a percepção correta da comunidade internacional assistente passiva do que acontece nos vários teatros de instabilidade que não servem aos povos, neste caso ao povo da Guiné-Bissau. Há ainda a CPLP que faz que anda mas se andar… está andar para trás, A fugir, por assim dizer, à sua própria sombra. E andou, e anda, por ali e acolá Paulo Portas… Guerreiro de caneta que nem sabe mudar um aparo. Muito menos encontrar as palavras obvias e de bom senso para dialogar diretamente com os militares revoltosos de Bissau, visando sobretudo a libertação dos legítimos e eleitos representantantes dos guineenses. A fantochada continua. Portugal alinha-se com a farsa internacional e lá se vão reunindo por aqui e por ali. Sofre o povo guineense, sofrem os que estão detidos por razões inverosímeis, sofrem os que gostariam de ver a situação resolvida de uma penada. Ganham os que vão reunindo aqui e ali propalando intenções para povos verem e escutarem… mas disso não passam. Quais comediante beneficiários por via das desgraças dos outros, dos povos. (Redação PG-AV)

Delegação do Comando Militar em Abidjan para cimeira da África Ocidental

Lusa

Bissau, 26 abr (Lusa) - Uma delegação do Comando Militar que tomou o poder na Guiné-Bissau no dia 12 viajou hoje para a Costa do Marfim onde vai participar na cimeira extraordinária da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO).

Em curtas declarações no aeroporto internacional de Bissau, o porta-voz do Comando Militar, tenente-coronel Daba Na Walna, disse que os militares foram convidados para tomarem parte na cimeira hoje em Abidjan, capital da Costa do Marfim.

Daba Na Walna disse que não podia prestar mais declarações porque o avião, um Falcon da República da Costa do Marfim, estava à espera da delegação composta por três elementos do Comando Militar: Daba Na Walna, Sanha Clussé (Chefe do Estado-Maior da Armada) e Celestino de Carvalho (Presidente do Instituto Nacional da Defesa).

Militares trocam diretora-geral por pessoa da sua confiança

Bissau, 26 abr (Lusa) - Os militares que realizaram um golpe de Estado no dia 12 de abril na Guiné-Bissau substituíram a diretora-geral de Viação e Transportes Terrestres por um elemento da sua confiança, afirmou hoje a responsável da instituição.

Lucinda Barbosa Aukirié explicou a agência Lusa que foi contactada na quarta-feira por uma pessoa que se apresentou como sendo do Comando Militar, que lhe disse para entregar as chaves da Direção-geral, mas ela recusou.

"Disse a essa pessoa que não podia entregar as chaves do serviço e nem podia abrir as portas como ele exigia porque as instituições do país não estão a funcionar, porque não existe Governo", disse Barbosa, antiga diretora-geral da Polícia Judiciária.

"A pessoa insistia tanto, ao telefone, até que acabei por lhe dizer que não ia levar as chaves e não ia ao local de serviço onde ele dizia que se encontravam à minha espera. Penso que foi por isso que arrombaram as portas, mudaram as fechaduras da secretária e do meu gabinete", disse Lucinda Barbosa.

Segundo a diretora-geral dos serviços da Viação e Transportes Terrestres, os militares foram ajudados por um funcionário para que conseguissem abrir o cofre da instituição de onde teriam retirado oito milhões de duzentos mil francos CFA (cerca de 12 mil euros) em dinheiro.

Barbosa Aukarié explicou que essa soma era destinada ao pagamento de salários dos funcionários públicos e ainda para garantir o normal funcionamento da instituição. Afirmou ainda que no cofre estariam documentos que têm valor comercial nomeadamente selos e livretes de transportes.

A diretora dos serviços da Viação e Transportes estranha o facto de os militares terem procedido à nomeação de um novo responsável para a instituição.

"Tudo é possível neste país. Agora que é estranho lá isso é. Não se constrói uma casa a partir do telhado. Se não há Governo no país como é que se vai nomear um diretor-geral?", questionou Lucinda Barbosa, frisando que "ouviu dizer" que os militares entregaram as chaves à pessoa que supostamente seria o diretor-geral da Viação e Transportes Terrestres.

Apesar de a administração pública da Guiné-Bissau estar em greve geral, convocada pelos sindicatos, em protesto contra o golpe de Estado, a Lusa constatou que as portas dos serviços de Viação estão abertas.

Uma fonte próxima do novo responsável, André Deuna, que já ocupou anteriormente estas funções, refutou as acusações de Lucinda Barbosa, explicando que as portas não foram arrombadas e que o dinheiro em questão não foi retirado da instituição.

Foi prometido aos jornalistas esclarecimentos sobre este caso para mais tarde.

MB.

Embaixador norte-americano considera erro acusar Angola no golpe de estado de 12 de abril

Luanda, 26 abr (Lusa) - O embaixador dos Estados Unidos em Angola, Cristopher McMullen, considerou hoje em Luanda ser "um erro" acusar Angola de ser a motivação para o golpe de estado de 12 de abril na Guiné-Bissau.

"É falso. Angola tem jogado um papel muito construtivo e apoiamos completamente este papel", disse o diplomata, que falava aos jornalistas no final de um encontro com o ministro das Relações Exteriores de Angola, Georges Chicoti.

Segundo o embaixador norte-americano, durante o encontro de quase uma hora foram abordadas as situações na Guiné-Bissau, no Mali e no Sudão do Sul.

Cristopher McMullen saudou o papel de Angola nos esforços para o restabelecimento da estabilidade nesses três países africanos.

"Gostaria de saudar sobretudo o ministro Chicoti pelo papel muito forte, central e muito construtivo que ele teve desde esse período de tensão na Guiné-Bissau e também no Sudão", disse o diplomata.

McMullen acrescentou ainda que os Estados Unidos consideram que "Angola teve um papel central (na estabilidade da Guiné-Bissau)", esperando que possam continuar com o mesmo, "quer seja com a CEDEAO seja com a ONU, seja com outro grupo internacional ou regional".

Relativamente à situação no Sudão do Sul, Cristopher McMullen disse ter sido informado sobre a posição da União Africana naquela questão, salientando que os Estados Unidos estão "completamente de acordo com Angola e a UA".

Angola e a UA defendem a necessidade das partes baixarem as tensões para evitar violência, focando as atenções sobre as negociações para encontrar uma solução pacífica.

"Também no Mali, estamos de acordo com a posição de Angola e a UA", sublinhou.

O embaixador norte-americano disse ainda que reiterou ao ministro Georges Chicoti o convite da secretária de Estado norte-americana, Hilary Clinton, para uma visita a Washington.

"Quando ele tiver tempo, porque temos uma convergência muito forte em assuntos como estes e também sobre assuntos internacionais. Seria ótimo se o ministro pudesse visitar Washington para falar com a secretária de Estado e outros funcionários de alto nível sobre as nossas convergências de interesses", salientou.

NME.

ANGOLA EM BUSCA DA VERDADE!



Martinho Júnior, Luanda

1 – Ao voltar-se para si própria e para a região SADC, conforme concluo em “Angola precisa reencontrar-se!” (http://paginaglobal.blogspot.com/2012/04/martinho-juniorluanda-1-atraccao.html), Angola deve reflectir sobre a generalidade dos fenómenos provocados pelos impactos da globalização capitalista neo liberal na sua estrutura sócio-política, tendo em conta o que se passa em muitas instituições internas e externas, surgidas após 2002, não perdendo de vista a necessidade de não se desenvolverem precisamente os mesmos factores que estão nas razões causais das sucessivas crises contemporâneas nos Estados Unidos como na União Europeia, ao mesmo tempo que se dê oportunidade às alternativas que coloquem o homem e o meio ambiente no cerne de todas as atenções.

Se hoje o fluxo de entrada de capitais e investimentos dão substância à “emergência” do país, a aplicação das mesmas filosofias, dos mesmos critérios, métodos e modelos, por via duma banca que expressa uma autêntica “ditadura do mercado”, quando África se esgota num cada vez mais extenso “arco de crise”, é o preâmbulo da deliquescência duma paz que merece ganhar projecções a muito longo prazo, projecções com desenvolvimento sustentável, equilíbrio e justiça social, depois de tantos sacrifícios consentidos durante várias décadas.

A reforçar a necessidade duma nova estratégia, no sentido das interdependências e não das dependências, estão efectivamente dois acontecimentos externos recentes que têm necessariamente repercussões à escala global e são sinais de oportunidade para todos os “emergentes”:

- A cúpula dos BRICS em Nova Delhi, que estabeleceu conceitos e nexos que começaram já a alterar os relacionamentos internacionais (“A virada de Nova Delhi” – http://paginaglobal.blogspot.com/2012/04/brics-virada-de-nova-delhi.html).

- A VIª Cimeira da OEA, em Cartagena das Índias, que propicia, 52 anos depois de Praia Girón em Cuba, a “Praia Girón da América Latina” face à decadência da hegemonia dos Estados Unidos na América (“Latin America rebels against Obama over Cuba – http://news.yahoo.com/scandal-mars-obamas-wooing-latin-america-002040977.html)!

2 – Esta reflexão implica avaliar qual é o “mal de África” e situar-me precisamente na essência do problema.

A contradição antagónica principal em África continua a ser entre o expediente capitalista e neo liberal deste modelo de globalização sob a égide do império e os povos africanos constituídos em alvo, por que continuam a ser explorados e efectivamente oprimidos.

A exploração e a opressão traduz-se pelo imenso cenário de subdesenvolvimento crónico que se estende com maior ou menor ênfase por todo o continente.

À contradição antagónica em que o império se assume, agregam-se as antigas potências coloniais, o que por outro lado pode levar ao estímulo do incremento de contradições secundárias.

As velhas potências coloniais, perdido o espaço onde exerciam o colonialismo, tiram partido das suas próprias influências regionais que foram cultivando década após década mesmo depois das independências de bandeira, ainda que com disputas que cheguem aos conflitos, à assumpção de novas identidades ditas nacionais (no fundo emanações de carácter étnico, mesmo tribal)… ou a golpes de estado!...

A tendência para golpes de estado na África do Oeste, onde a predominância de relacionamentos com a França é evidente, é uma questão que deve ser considerada como intimamente associada a interesses da “Françafrique”!

Em África vive-se em dependência neo colonial e estão ainda em vigor muitas sequelas do colonialismo!

As alternativas que se devem buscar, ao mesmo tempo que visam um processo saudável de luta contra o subdesenvolvimento, devem perseguir as vias da paz, do aprofundamento da democracia, da cidadania, da participação e da sustentabilidade, tendo o homem como prioridade e centro de todas as atenções, programas e vontades, mobilizando-o para as imensas tarefas que isso comporta, aprofundando a cultura da identidade nacional, sem perder de vista os processos de integração regionais.

Lembrar os conceitos de “pan africanismo” é também lembrar a necessidade de luta contra o subdesenvolvimento! (“Europa hundió a África en el subdesarrollo” – http://alainet.org/active/53823).

As alternativas em África podem e devem-se inspirar nas revoluções sociais do passado e na história contemporânea da América Latina, tal como nas últimas posições dos BRICS (colectiva e individualmente) e com elas estabelecer nexos e relacionamentos que catapultem a consolidação das resistências e das vontades, reduzindo cada vez mais a margem de manobra daqueles que continuam na senda da dependência do continente ao “diktat” dos seus interesses e poderio.

Os acontecimentos que vão ocorrendo em África, sujeitam-se aos complots neo liberais, incluem em muitos casos a proliferação de divisões (precisamente ao contrário das correntes estimuladoras do pan-africanismo de há 50 anos), implicam noutros casos o redesenhar dos mapas, condicionam a vida interna dos estados, bem como os seus relacionamentos externos, submetem e oprimem os povos.

Dando ênfase aos negócios, estimulados por parceiros internacionais que actuam a partir de “plataformas financeiras” com a aparência de inócuas, o império fomenta novas elites e novas articulações, uma grande parte delas escondidas nos bancos, fomenta a “diplomacia económica”, tudo isso segundo expedientes de tal forma subtis e inteligentes que não é mais preciso ao AFRICOM, por exemplo, ter a sua sede no continente, ou nele ter bases fixas…

Desse modo, gere e arregimenta, por via da lógica capitalista desencadeada, os processos elitistas e as novas elites africanas, que estão a alinhar obcecadas pelo seu egoísmo nos projectos que chegam com as inteligências de fora do continente, tornam-se instrumentos dóceis dessas políticas, à custa da submissão dos povos!

Essas políticas de dependência, colocam em muitos casos as novas elites integradas nos expedientes de ingerência e manipulação, tirando partido dos seus argumentos filosóficos e políticos, de acordo fundamentalmente com os interesses económicos e financeiros, tal como no que diz respeito à teoria do estado formatado e conforme às “democracias representativas” e aos “direitos humanos” da conveniência.

Sectores extensos de cada sociedade sofrem exclusões de todo o tipo por que o capitalismo neo liberal é o factor-matriz dos desequilíbrios, das assimetrias e da marginalidade, não é (muito pelo contrário) um instrumento de luta contra o subdesenvolvimento e tende a esconder na luta contra a pobreza, uma caridade cínica, a sua ineficácia em relação às atenções que o homem merece.

Há que descobrir a verdade sobre todos esses processos e expedientes típicos do capitalismo neo liberal essência da globalização do império e da cadeia de dependências que ele gere, fazer a leitura correcta dos acontecimentos, avaliar quanto as antigas potências coloniais estão, em função do seu próprio desconcerto, indexadas às crises africanas e por dentro das contradições secundárias que entre outras coisas procuram a todo o transe atenuar a contradição antagónica principal.

África está a ser envolvida por um neo colonialismo “de novo tipo”, fomentado pelas poderosas correntes neo liberais, evocando “democracia representativa”, “direitos humanos” mas com todos os sentidos postos nos mesmos objectivos de sempre: as imensas riquezas naturais do continente e a imensa fragilidade das (pseudo) nações africanas, que se debatem desde as origens nas artificiosas fronteiras traçadas na Conferência de Berlim, sem conseguirem arrancar os seus povos do subdesenvolvimento a que secularmente estão votados.

3 – No caso da Guiné Bissau as contradições secundárias devem ser levadas neste momento em consideração pois elas avultam (e subsistem) por detrás das cenas: dum lado as influências de Portugal, por tabela de Angola e por arrasto da China não oficial (via “plataformas financeiras” de Macau e Hong Kong), indexadas aos interesses ligados ao PAIGC liderado por Carlos Gomes, do outro, aparentemente em sectores dispersos da oposição e aparentemente algumas franjas do PAIGC, processos de inteligência próximos à “Françafrique”, um facto que não é novo para a Guiné Bissau, mas um tema insuficientemente abordado pelos analistas.

Essa insuficiência é tão mais gritante, quanto hoje se sabe, por exemplo, que o SDECE desempenhou um papel importante no assassinato de Amílcar Cabral em suporte da PIDE/DGS portuguesa e isso ser ainda hoje tão deliberadamente “desconhecido”!... (“Os exércitos secretos da NATO – A guerra secreta em Portugal - I” – http://www.avante.pt/pt/1966/temas/115672/; “Resgatar 26” – http://ultramar.terraweb.biz/Conackry22Nov1970/Resgatar_26.pdf).

Isso que dizer que a nível militar e de alguns políticos na oposição, a predominância parece ser dos estímulos delineados pelos expedientes de inteligência da “Françafairque”, especialmente evidentes na África do Oeste desde 2011, na sequência das ingerências externas das antigas potências coloniais na Líbia, sob o benevolente “guarda-chuva” dos Estados Unidos!

Neste contexto, o relacionamento “bilateral” Guiné Bissau – Angola, é um relacionamento em que Angola começa a agir antes de mais “por procuração” (se atendermos aos interesses nos bauxites e na banca – http://www.bauxiteangola.co.ao/operacoesmineiras.php; http://www.bauxiteangola.co.ao/projectos.php) antes de agir com suas próprias políticas de estado, que indiciam “ir a reboque” das ocorrências económicas e financeiras.

Angola corre o risco de estar a agir “por procuração” num processo que indicia “neo colonialismo”, que instrumentalizando o estado angolano em função do peso das novas elites angolanas e de acordo com processos elitistas, pretende arregimentar uma nova bandeira!... “brandos costumes”!...

Teria alguma vez havido Missang, sem os financiamentos e a exploração do bauxite?

O que vai sendo detalhado à superfície, via órgãos de informação pública dominantes e até muitos dos outros, quantas vezes esconde o que se passa com a principal vítima, o povo da Guiné Bissau: “quando dois elefantes lutam, é o capim que sofre!”

4 – Ao levar em consideração a necessidade, por parte de Angola, de rever a sua conduta de relacionamento para com a África do Oeste (recordo o Mali e as Guinés), tal como em relação ao Sudão, considero que os envolvimentos projectados por via de Angola contêm riscos que poderão um dia afectar a sua própria identidade e a soberania nacional.

O peso específico maior desses riscos prendem-se às lógicas, quer do que acima considerei de contradição antagónica principal, quer em função de contradições secundárias, por muito que os discursos se esforcem por ser espelhos dos conceitos aplicados pelo neo liberalismo, os espelhos “politicamente correctos” a que estamos habituados pelo menos durante a última década, que procuram não deixar ver a submissão, a dependência e o que constitui efectiva raiz-causal do subdesenvolvimento crónico a que África está votada!

Em Angola e no espaço de um ano, foi desaparecendo a vocação para o “socialismo democrático” e agora, em plena época pré-eleitoral tonifica-se o reforço da atenção sobre os pequenos e médios empresários, publicitando-se “um capitalismo de rosto humano”, quando no fundo é “diplomacia económica” interna que continua o que é fundamental para o neo liberalismo, o fortalecimento dos interesses e bancos de manobra indexada à aristocracia financeira mundial e às novas elites locais!...

Está a desaparecer no mapa léxico do “politicamente correcto” o “socialismo democrático” e, por outro lado, a atenção que deveriam por exemplo merecer as cooperativas, em especial as cooperativas rurais, vai também desaparecendo, na medida em que vão surgindo entre outras iniciativas típicas, imensas extensões de terrenos demarcados e apropriados pelas novas elites, por vezes associadas a interesses que chegam do exterior, sem que haja um aproveitamento efectivo dos solos e sem que haja rigor na fiscalização desses expedientes.

Com o crescimento que houve em 10 anos, desde 2002, um crescimento evidente na construção civil, na recuperação de estradas e dos caminhos de ferro, Angola está longe de ter consolidado e amadurecido o seu processo humano interno, semeou desequilíbrios e assimetrias, projectou uma economia dando completa abertura a capitais e a bancos sobre os quais deveriam ter havido muito mais cuidados, providenciou a ascensão de novas elites ávidas de poder e de lucro, cujo comportamento egoísta tende para a instauração dum “apartheid” social que choca com toda a cultura gerada com e no movimento de libertação, tem dificuldades em se afirmar numa região como a SADC e promove relacionamentos externos que espelham a sua própria fragilidade, senão vulnerabilidade.

Continua a ser o petróleo e os minérios (em especial os diamantes), o motor da economia, mantendo-se os outros sectores de actividade, salvo aqueles que estão dependentes desses sectores incluindo por via da “bancarização” (como a construção civil e algum comércio, por exemplo) raquíticos e longe de afirmação.

Na verdade começa-se a pagar a factura humana do que vem sendo gerado em Angola desde 1985, que foi acelerado a partir de 2002: a promoção da dependência neo colonial, num mundo onde já é possível estimular quadros de interdependência e “emergência” que se situe muito para lá do crescimento, que se situe num plano construtivo de desenvolvimento sustentável, equilibrado, com justiça social, com paz efectiva, sem rodeios, nem meias verdades!

- Foto de 11 de Março de 2012: Iates de luxo e as “torres” dos bancos e dos investimentos neo liberais surgidos do nada mas de forma muito “politicamente correcta”, após 2002!

Recordo ainda a propósito:


* Ver todos os artigos de Martinho Júnior – ligação também em autorias na barra lateral

CERCA DE 259 MIL CHINESES VIVEM ATUALMENTE EM ANGOLA



AC - Lusa

Pequim, 25 abr (Lusa) - O número de chineses residentes em Angola, tema de frequente especulação, ronda os 259.000, indicou hoje em Pequim o diretor do Serviço angolano de Migração e Estrangeiros, Freitas Neto.

Em declarações à agência noticiosa oficial angolana Angop, Freitas Neto precisou que "encontram-se atualmente em Angola 258.920 chineses", 258.391 dos quais com "vistos de trabalho".

O número habitualmente referido na imprensa chinesa é de "algumas dezenas de milhares".

Segundo algumas estimativas ocidentais, seriam cerca de 70.000, empregados sobretudo na construção e reparação de estradas, caminhos-de-ferro e outras infraestruturas, mas chegou a falar-se em "quase um milhão".

O diretor do Serviço de Migraçao e Estrangeiros encontra-se em Pequim acompanhando a visita à China do ministro angolano do Interior, Sebastião Martins.

A visita, de cinco dias, ficou assinalada por um acordo de cooperação policial contra o crime organizado e transnacional, nomeadamente o tráfico de drogas e de seres humanos, assinado hoje por Sebastião Martins e pelo conselheiro de estado chinês e ministro da Segurança Pública, Meng Jianzhu.

Advogado português cria Fundação para promover "identidade singular" de Macau



JCS - Lusa

Macau, China, 25 abr (Lusa) - O advogado português Rui Cunha, radicado há 31 anos em Macau, lança sábado uma Fundação com o seu nome destinada essencialmente a promover a "identidade singular" da atual região administrativa especial chinesa.

Dotada de um capital social de 50 milhões de patacas (4,76 milhões de euros), a Fundação Rui Cunha, que vai funcionar "de portas abertas" e no mesmo edifício onde o advogado tem o seu escritório, é um projeto que envolve também os seus filhos - Isabel e Rui Pedro que terão a responsabilidade de perpetuar o projeto - e disporá de um mini-auditório, zona de exposição e biblioteca jurídica integrada num centro de Estudo e Difusão do Direito de Macau.

"Esta fundação tem o meu nome, mas não é uma obra minha, é uma obra que será de todos", disse Rui Cunha na apresentação do projeto, salientando que nenhum dos sócios do escritório está envolvido na Fundação e que esta funcionará para toda a comunidade, incluindo a jurídica.

Além da promoção cultural, com exposições, publicação de obras, promoção das artes com a criação de uma orquestra infantil de cordas, a Fundação Rui Cunha "está disponível para receber propostas de todas as áreas e de todas as pessoas, desde que estejam enquadradas com os seus objetivos de promoção desta cultura singular que é Macau".

"Macau é a mistura do português e do chinês e é nesta mistura e simbiose que Macau é diferente de todos os lados, de toda a sua envolvente, mesmo integrada na China", disse o advogado que aposta na Fundação para "cumprir o dever de retribuição" à cidade.

Por outro lado, continuou, a aposta na divulgação do Direito de Macau - baseado na matriz portuguesa - prende-se com uma preocupação pessoal, pelo que considera ser um "risco de erosão que este pode sofrer pelo contacto com o exterior".

"Estes contactos permitiram um grande desenvolvimento de Macau, mas o Direito pode sofrer uma erosão pelo que é necessário reforçar o seu conhecimento e as suas bases, porque só assim se consegue ter um Direito forte, estável que ofereça a estabilidade e as garantias necessárias à sociedade", considerou.

Rui Cunha, que em Macau e além da advocacia, manteve sempre uma atividade profissional ligada às empresas de Stanley Ho, salientou também que reforçar o conhecimento do Direito por parte da população é reforçar a "singularidade de Macau" face ao 'mundo' que rodeia a cidade o que ajudará a "construir, manter e solidificar uma identidade própria local".

O funcionamento da fundação, em instalações gratuitas, será garantido por contribuições do advogado que assumirá a presidência, o Conselho de Administração e o Conselho de Curadores, e terá uma capacidade de intervenção derivada da capitalização do capital social e de contribuições pessoais de Rui Cunha.

De fora está, garantiu, pedidos de subsídios a quaisquer entidades públicas ou privadas.

"Quem quiser contribuir é livre de o fazer e será sempre bem-vindo, mas a aplicação dessas verbas terá de passar sempre por uma atividade conjunta num determinado projeto", concluiu.

Religião Católica a partir de Macau foi importante para a unificação do país -- jurista



FV - Lusa

Macau, China, 25 abr (Lusa) - Macau teve um papel importante na missão jesuíta no Japão e o catolicismo está muito ligado à unificação daquele país, afirmou hoje o jurista Fernando Vitória, estudioso da epopeia religiosa no final do século XVI.

O investigador, que na quinta-feira profere a palestra "Os 26 mártires de Nagasaki: Macau, Política, Religião e Sangue", parte da execução daquele grupo de cristãos, a 06 de fevereiro de 1597, para abordar as relações entre Portugal e o Japão, já que era a partir de Macau que a "empresa" dos jesuítas preparava a "missão" para o país nipónico, com uma forte vertente comercial.

"A crucificação dos 26 mártires ocorre mais ou menos a meio do século cristão no Japão. E o século cristão no Japão, além de ser particularmente estudado em todo o mundo, para nós portugueses, e para os residentes em Macau mais ainda, é um episódio com muito interesse histórico, sociológico e religioso", disse à agência Lusa o jurista radicado em Macau.

Para Fernando Vitória, "apesar de o episódio ter acabado mal", a execução dos 26 mártires tem um aspeto "contraditório e paradoxal".

"Se não fossem estas perseguições todas, provavelmente a religião católica tinha desaparecido ou estava muito menos viva no Japão do que está agora, sobretudo no sul do país", explicou.

Do "século marcante" na história do Japão, Fernando Vitória destaca as datas de 1614, em que o édito de Hidetada Tokugawa dita a expulsão de todos os missionários e o início da perseguição, tortura e morte dos cristãos; de 1630, em que os japoneses são obrigados a terem certificado de inscrição num templo budista; e ainda de 1637, em que com a rebelião de Shimabara, se assiste ao "fim do cristianismo e política de isolamento" do país.

Fernando Vitória dá ainda o exemplo da ordem de saída dos padres no prazo de 20 dias dada por Toyotomi Hideyoshi, em 1587, "numa altura decisiva da história do Japão, que é a da unificação", e num período em que Portugal tinha uma intervenção "discreta" e "delegada" através de Goa, já que estava sob o domínio espanhol.

"Nesta história do catolicismo no Japão está muito de Portugal, que é uma história que os portugueses não conhecem", resumiu.

Para o jurista, a religião católica deixou "uma semente tão funda, que acabou por construir uma árvore que nunca mais secou, ao contrário de noutros países onde a colonização foi muito fácil e muito rápida, mas em que a religião não é vivida como aqui [Japão]".

"A religião católica está também ligada à unificação do Japão. Com o [Toyotomi] Hideyoshi, os japoneses percebem que é necessário fazer a unificação do Japão, e essa perceção do exterior é dada, em grande parte, pelas conversas das embaixadas que os jesuítas mandavam à corte, sobretudo em Quioto", observou.

Fernando Vitória, que despertou para o tema através do clássico do cinema "Kagemusha - A Sombra do Guerreiro", do cineasta japonês Akira Kurosawa, - onde diz ter percebido a influência dos jesuítas na corte de Oda Nobunaga, o primeiro dos três grandes unificadores do Japão - acredita que este período vai voltar à ribalta agora que Martin Scorcese anunciou que vai fazer a adaptação do livro "Silence", de Shusaku Endo".

Quanto às relações atuais entre Portugal e o Oriente, embora reconheça que estas passam sobretudo pela China, Fernando Vitória considera que há espaço para aprofundar as marcas deixadas pelos portugueses, desde a gastronomia à língua.

"De facto, hoje estamos noutra fase, mas estes laços históricos podem reavivar as ligações entre Portugal e o Japão", concluiu.

Mais lidas da semana