sábado, 4 de agosto de 2018

Está no campo de Trump a bola para aliciar o Irão


M K Bhadrakumar

Tal como escrevi na semana passada, uma conversação de má qualidade tem estado a decorrer entre Washington e Teerão. O alto-falante não é mais utilizado, a conversação é em tom civil a partir de plataformas públicas ou, mais significativamente, através do Twitter. Tornou-se uma ocorrência quase diária. Falando na generalidade, a comunicação é entre o presidente Donald Trump do lado americano, com o ministro dos N. Estrangeiros Javad Zarif a interpor-se activamente por conta do presidente Hassan Rouhani quase em tempo real. Certamente o líder supremo, Ali Khamenei, está a ouvi-los.

O dueto chegou a isto de modo gradual. Trump está desejoso de encontrar-se com Rouhani "em qualquer momento... sem condições prévias". Ultimamente ele tem um pressentimento de que isto poderia acontecer "muito em breve". (Quando Trump coloca um prazo como este em traços gerais, isto aponta para algum canal de rectaguarda.) Mas a seguir, Teerão diz que não conversará sob coação, com o orgulho e a honra ofendidos. Os EUA devem primeiro mostrar "respeito" e cessar actividades hostis.

Por outro lado, Trump afirma perceber mudanças no comportamento do Irão. (Isto pode ser interpretado como um sinal ou um reconhecimento.) De modo interessante, Teerão nem contesta nem confirma a afirmação de Trump. De facto, há alguma "mudança" discernível no comportamento do Irão – Moscovo revelou que forças iranianas e "formações xiitas" retiraram seu armamento pesado na Síria para uma distância de 85 km das Alturas de Golan ocupadas por Israel e que "não há unidades com equipamento e armamento pesado que pudessem apresentar uma ameaça a Israel a uma distância de 85 km da linha de demarcação".

Claramente, esta "mudança" no comportamento do Irão tornou-se possível no pano de fundo da reunião Trump-Putin em Helsínquia, em 16 de Julho. O facto importante é que Rouhani (leia-se Khamenei) anuiu ao conselho de Putin (a pedido de Trump). Naturalmente, o primeiro-ministro israelense, Netanyahu, tal como o Oliver Twist de Dickens, continua a dizer: "Por favor, senhor, quero algo mais" – nomeadamente que o Irão deveria deixar também o solo sírio, mas isso é um pedido "irrealista", como ponderou Moscovo . (Putin teria dito isso a Trump, também.) Isso equivale a dizer que Moscovo não tem inclinação para aconselhar Teerão a fazer diferente. No entanto, esta "mudança" do comportamento iraniano no próprio Golan é uma boa coisa no que respeita aos CBMs (Conventional Ballistic Missiles].

E quanto às expectativas de Teerão? O primeiro lote das sanções de Trump supostamente entra em vigor na próxima semana. Serão elas revertidas? Enquanto isso, Zarif, o secretário de Estado Mike Pompeo, os ministros dos N. Estrangeiros russo Sergey Lavrov e chinês Wang Yi bem como a chefe da política externa da UE Federica Mogherini estão a convergir para Singapura no contexto da reunião de ministros de N. Estrangeiros da ASEAN em 4 de Agosto.

A caminho de Singapura, Zarif emitiu um tweet: "O Irão & os EUA tiveram dois anos de conversações. Com a UE/E3+Rússia+China, produzimos um acordo multilateral único – o JCPOA. Ele tem funcionado. Os EUA podem culpar-se apenas a si próprios por saírem & abandonarem a mesa. Ameaças, sanções & truques de RP não funcionarão. Tentem o respeito pelos iranianos & pelos compromissos internacionais". Isto foi em resposta à observação de Trump de que está pronto a encontrar-se com Rouhani sem estabelecer qualquer condição prévia. "É bom para o país, bom para eles, bom para nós e bom para o mundo. Nenhumas condições prévias. Se eles quiserem reunir-se, eu reunirei", havia dito Trump.

As coisas na verdade limitaram-se dramaticamente. Hamid Aboutalebi, ajudante do presidente Rouhani, esclarecer que o retorno ao acordo nuclear é a maior condição prévia para possíveis conversações – "Respeitar os direitos da nação iraniana, reduzir hostilidades e retornar ao acordo nuclear são passos que podem ser dados para abrir a estrada acidentada de conversações entre o Irão e a América", tuitou Aboutalebi.

Mas então, será que Trump realmente rasgou o acordo de 2015? Ele disse querer melhorar o acordo de 2015 (o qual não era suficientemente bom no seu julgamento). Trump está determinado a entrar para os livros de história como um negociador mais hábil do que Barack Obama – seja em relação à alteração climática, ao TPP ou ao acordo com o Irão.

Em geral, esses são estímulos positivos. Significativamente, sentindo que "uma reunião pode não estar para além do reino da possibilidade", o jornal governamental China Daily sugeriu num editorial em 31 de Julho que "as outras partes do acordo nuclear de 2015 deveriam encorajar Washington e Teerão a se unirem pois realmente seria bom conversar".

Sem dúvida, a China é uma das principais partes interessadas. Além de ser o destino de mais de um terço de todas as exportações do petróleo iraniano, o que inevitavelmente a torna um alvo de danos colaterais devido às sanções dos EUA, a China também está lidando com uma das disposições mais complicadas do acordo de 2015 – nomeadamente, o re-desenho do reactor nuclear de água pesada de Arak, no Irão, para torná-lo incapaz de fabricar plutónio de grau militar sob operação normal.

Este assunto constou na reunião entre Rouhani e o presidente chinês, Xi Jinping, em Pequim, em Junho, à margem da cimeira da SCO . Sobre Arak, o acordo de 2015 especifica que o novo desenho terá como objectivo minimizar a produção de plutónio e impedir a produção de plutónio com grau militar na sua operação normal. Também especifica o combustível que o Arak deve utilizar e diz que o combustível gasto durante a vida útil do reactor deve ser despachado para fora do Irão. Os EUA inicialmente lideraram o grupo de trabalho para redesenhar o reactor de Arak com a China, mas o Reino Unido agora o substituiu. Pense-se simplesmente em toda a confusão criada por Trump. 

02/Agosto/2018

O original encontra-se em blogs.rediff.com/mkbhadrakumar/... 

Este artigo encontra-se em https://resistir.info/ 

Para maioria, racismo é um problema na Alemanha


Pesquisa aponta que dois terços dos alemães consideram racismo problema grande ou muito grande no país. Mas política migratória e refugiados não são as maiores preocupações na Alemanha.

Uma pesquisa representativa, realizada nesta semana por telefone pelo instituto de opinião pública Infratest-dimap, mostrou que dois terços dos alemães consideram o racismo um problema grande ou muito grande na Alemanha. A sondagem sobre o clima político no país foi encomendado pela emissora pública ARD e pelo diário Die Welt.

Especialmente eleitores do Partido Social-Democrata, do A Esquerda e do Partido Verde a preocupação é grande: entre 73% e 77% dos consultados disseram ver o racismo como um problema.

Por outro lado, 62% dos simpatizantes da legenda populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD) são da opinião de que há apenas um pequeno problema ou até mesmo problema nenhum.

Embora a maioria dos alemães com histórico migratório considere o racismo um grande problema (68%) no país, eles se diferenciam apenas ligeiramente dos alemães sem antecedentes de migração (63%).

Ao menos de acordo com a pesquisa, a integração bem-sucedida dos imigrantes também parece ser uma questão de tempo. As pessoas que vivem na Alemanha há décadas são consideradas por 62% dos entrevistados bem ou muito bem integradas. Quanto aos migrantes que vieram para a Alemanha apenas nos últimos anos, a cifra positiva relativa à integração é de somente 28%.

Na opinião dos alemães, no entanto, as políticas de racismo, migratória e de refugiados não são os principais temas no país. Se levada em conta a atual tendência na Alemanha como um indicador, os cidadãos têm em outras áreas preocupações ou questionamentos maiores.

No topo da lista de prioridades está a política de saúde – 69% disseram considerá-la muito importante. O pano de fundo disso: milhões de alemães dependem de cuidados de enfermagem, os custos são altos e há escassez de enfermeiros. O país já está trazendo muitos trabalhadores do exterior para aliviar a situação emergencial.

Com vista a remediar esta situação, o governo alemão introduziu uma lei que, entre outras coisas, pretende fornecer orientações concretas sobre a relação entre cuidados de enfermagem e a quantidade de pessoal em hospitais.

As instituições que empregam poucos enfermeiros devem receber menos reembolsos. No entanto, apenas 13% dos entrevistados acreditam que essa medida será bem-sucedida.

Menos tolerância

Mas os alemães também veem necessidade de ação também nas políticas sociais e Previdência (64%), segurança nacional (55%), política climática (52%) e habitação acessível (51%).

Comparando com esses números, os 39% que disseram considerar a política migratória e de refugiados muito importantes representam um valor notavelmente baixo. Atrás deles estão somente os 28% que se preocupam com a digitalização.

Um clássico em todas as pesquisas sobre tendências alemãs (Deutschlandtrend) é a chamada "pergunta de domingo", com a qual os pesquisadores de opinião e clima político determinam as atuais chances eleitorais dos partidos.

Resultado infeliz para a chanceler federal Angela Merkel: a coligação de seu partido, a CDU, com a legenda-irmã da Baviera, CSU, conseguiria apenas 29% dos votos. Assim, a dupla caiu na preferência dos alemães pela primeira vez abaixo da marca de 30%.

O Partido Social-Democrata (SPD), parceiro na grande coalizão em Berlim, estagna em 18%. Ou seja, a aliança governista conseguiria apenas 47% dos votos e não teria maioria própria no Parlamento alemão.

A AfD continua em ascensão: a legenda populista de direita conta com 17% das intenções de voto, a apenas um piscar de olhos do SPD. O Partido Verde também cresceu (15%), ao contrário do A Esquerda, com 9%, e do Partido Liberal Democrático (FDP), com 7%, que perderam um pouco na preferência dos eleitores.

Independentemente do atual apoio, todos os partidos devem considerar outra constatação da pesquisa: 80% dos entrevistados afirmaram que a política atual é marcada demais por emoções e é muito pouco objetiva.

Quase o mesmo número (77%) disse ter a impressão de que posições extremas estão ganhando peso demais no debate político. E 80% afirmaram lamentar uma tolerância cada vez menor frente a outras opiniões.

Marcel Fürstenau (ca) | Deutsche Welle

França | A Máfia instalou-se no Eliseu


Quem é essa eminência parda de Emmanuel Macron cujo nome, Alexandre Benalla, a França memorizou e repete? O mistério adensa-se mas, por entre o nevoeiro de mistérios, uma tese começa a fazer sentido.

José Goulão | AbrilAbril | opinião

O mistério adensa-se em França: quem é, afinal, Alexandre Benalla?

Espanca participantes na manifestação do 1.º de Maio usando braçadeira e comunicações da polícia, mas não é agente policial…

Escolta o Presidente da República em ocasiões públicas e privadas, tem as chaves da sua residência, mas não integra o corpo de seguranças de Emmanuel Macron…

Tem arma distribuída e a respectiva licença, mas não pertence a qualquer corpo policial, securitário ou militar…

Tem passaporte diplomático, mas não é diplomata…

Tem livre-trânsito na Assembleia Nacional, mas não é deputado, membro do governo, nem quadro das polícias e das Forças Armadas…

Tem acesso a matérias reservadas na área de Defesa, mas não lhe estão atribuídas funções no ministério do sector, nem integra a esfera militar…

Quem é então essa eminência parda cujo nome, Alexandre Benalla, toda a França memorizou e repete tendo em conta tão distinta como eficaz polivalência? O mistério adensa-se.

Para proteger Benalla das provas que testemunham a sua participação directa nos espancamentos do dia 1.º de Maio em Paris, e também o seu envolvimento na definição das estratégias de caça aos manifestantes, foram roubados os vídeos incriminatórios que estavam numa Prefeitura de Polícia da capital francesa. Imagens essas que seguiram o caminho do Palácio do Eliseu, a residência oficial do Presidente da República.

Para polir o comportamento trauliteiro do falso-polícia Alexandre Benalla, altos quadros do La République en Marche, o partido do presidente Emmanuel Macron, desdobraram-se no Twitter para fazer passar a mensagem de que os manifestantes espancados não eram, para que conste, «nenhuns santos».

Apesar de diligentes, estes esforços de roubo e mistificação não ajudam a perceber que tipo de funções tem Benalla para, segundo os sindicatos franceses das polícias, poder «aterrorizar polícias» e «insultar» altos quadros das corporações cívicas e de segurança; ou a que título participa Benalla em reuniões no Ministério do Interior, acompanhado por desconhecidos, sem pertencer a este departamento nem para isso ser convidado.

Chefe-adjunto de gabinete do Presidente

É verdade que, depois de o diário Le Monde ter divulgado alguns destes factos invulgares e de as imagens de vídeo do falso-polícia-espancador-de manifestantes terem caído na internet, a Presidência da República sentiu necessidade de dizer qualquer coisa.

Explicou então que Alexandre Benalla, o homem que escolta o presidente, é «director-adjunto do Gabinete da Presidência» – informação que manteve o assunto num limbo de dúvida, porque nada lhe foi acrescentado quanto à polivalência de funções e amplitude das mordomias do indivíduo ao nível do aparelho de Estado.

Perante a clareza dos vídeos dos espancamentos e o negrume do episódio de roubo das imagens do interior de uma Prefeitura de Polícia, o Presidente da República, Emmanuel Macron, mostrou-se até compungido quando achou chegado o momento de assumir uma estratégia diferente: a de que fora «traído» por Benalla.

Por isso, veloz como um raio, passou à fase de acção punitiva: o falso-polícia foi rebaixado para um «posto de menor relevância» – não revelou qual – e com salário suspenso por 15 dias. Um castigo exemplar.

Porém, hélas, o destino gerado nos meandros administrativos também consegue ser «traiçoeiro»: devido a «razões técnicas», não foi possível concretizar a suspensão salarial; e, por causa da epidémica «falta de pessoal», foi imperativo continuar a recorrer a Alexandre Benalla para escoltar o presidente em ocasiões públicas e privadas. E assim continua tudo como se nada tivesse acontecido, de 1 de Maio para cá.

Não é bem assim, sejamos correctos. A Justiça ordenou um inquérito; a Inspecção-Geral de Polícia encomendou outro; e o Parlamento, dominado em massa pela clientela en marche, instaurou ainda outro. Estão sob investigação não apenas Alexandre Benalla, mas também alguns dos seus colaboradores directos, tanto polícias como destacados quadros dirigentes do partido presidencial.

Foi então que Emmanuel Macron, em acto de mea culpa cumprido numa reunião íntima com os súbditos partidários, assumiu a «responsabilidade única» por tudo o que está a acontecer.

Um elevado acto de coragem ou um comportamento próprio de monarca absoluto numa república em dissolução acelerada?

A verdade é que, ao assumir todas as culpas pelos feitos de Benalla e respectivo gangue, o chefe de Estado está a constituir-se como único alvo judicial e político, sabendo de antemão que, por esse caminho, o assunto irá morrer; tão certo como ter Alexandre Benalla continuado a escoltar o presidente mesmo depois de punido – sem o ser.

É que em França, tal como noutras paragens, a Justiça terá muitas dificuldades em manter-se cega neste caso, tal é a envergadura da barreira de poderes e interesses que tem pela frente. E a política… Bem, a política está a funcionar bem dentro dos padrões do globalismo, como demonstram as evidências do affaire Benalla: tanto mais alto é o nível quanto mais rasteiros forem os processos.

O presidente-sol

Por entre o nevoeiro de mistérios formado por esta acumulação de peripécias começa a fazer sentido uma tese que corre há algumas semanas nos meios políticos franceses menos macronizados. Em torno da indefinição, por certo mantida deliberadamente, quanto às funções de Benalla e respectivos acólitos cleptómanos e caceteiros, parecem desenhar-se os contornos de um serviço secreto exclusivamente presidencial à imagem do US Secret Service, a guarda pretoriana do presidente dos Estados Unidos, ora reforçada com a tarefa do «combate ao terrorismo». Isto é, Macron está a criar um corpo policial secreto que apenas responderá perante ele, eximindo-se, desde modo, às organizações do Estado que têm como tarefa a segurança presidencial. No fundo, está em gestação uma irmandade macroniana com agenda, funções e tarefas próprias – e discricionárias - ao serviço da obstinada concentração de poderes e interesses na figura que os manipuladores neoliberais e transnacionais instalaram no Eliseu.

Dos objectivos e tipo de comportamento futuro dessa célula vamos tendo amostras pela maneira como Macron e o seu fiel Benalla vão fazendo ensaios e tomando a mão. A moribunda V República Francesa, afinal, está en marche para qualquer coisa não muito distinta do orbanismo na Hungria e suas manifestações paralelas da Ucrânia, Estónia e Letónia à Itália e Áustria, porque para o capitalismo absoluto o melhor é o absolutismo político.

De Luís XIV a Macron só passaram, afinal, quase 400 anos, se bem que sejam bem mais exigentes os desafios colocados, nos tempos de hoje, ao presidente-rei, enquanto se vai comportando como presidente-sol perante a bonomia complacente dos seus tutores.

Daí que a corte palaciana de Macron seja, sobretudo, uma máfia operacional capaz de actuar como tropa de choque ao serviço dos verdadeiros padrinhos, os interesses económicos e financeiros sem fronteiras.

Nada disto, como se compreende, é escrito em sentido figurado. Macron e a sua máfia encaram realmente o Estado como coisa sua, o que se percebe consultando o programa sobre privatização da Administração Pública anunciado pelo Palácio do Eliseu para aplicar até 2022 – portanto rapidamente e em força.

Na foto: Após a eleição de Emmanuel Macron como Presidente da República, um mês depois o seu partido obteve a maioria absoluta dos deputados na Assembleia Nacional (2017). CréditosBertrand Guay / EPA

Estamos todos a arder, Portugal e os portugueses


O fogo é a “vedeta negra” em Portugal. Do Notícias ao Minuto trazemos-lhes algumas das principais notícias da atualidade. Claro que o calor que nos torra e incendeia é para já. Se quiser ler tudo siga o NM e as ligações que possui nos títulos. Refresque-se. Beba muita água.


Mais de 700 operacionais continuam a combater as chamas no concelho de Monchique, Algarve, depois de, durante a noite, ter sido ativado o Plano Municipal de Emergência e deslocados 15 habitantes da Foz do Carvalhoso por precaução.

Recorde-se que mais de 30 concelhos de Portugal continental estão hoje em risco máximo de incêndio, sobretudo no Algarve e no interior Norte e Centro do país, segundo informação do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).

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Médicos a arder. “Apagão” nas horas extraordinárias dos médicos em Santa Maria (Lisboa). Eles queixam-se disso. Os altos responsáveis (talvez anões) argumentam o que se pode considerar uma fuga ou uma nega. Estão a arder. Não se paga, não se paga?

Entretanto o pessoal da saúde está a fugir para o estrangeiro. A caldeirada é enorme e quem se lixa… Pois. Temos um setor público de saúde que é “uma merda”, disse Simplício Brotas quando lhe perguntámos porque se queixava de estar doente e não o tratarem por não haver pessoal médico suficiente. "Isto é uma merda". Exclamou. "Entretanto, se ouvirmos o ministro da tutela ele diz que está tudo bem. Normal. Até melhor. Grande mentiroso. E o Costa foge à questão. Deixa o ministro mentiroso a debitar mentiras". Acrescentou Simplício. Pensámos: Se é um mentiroso como Passos Coelho parece que não tem cura. Não faz mal. Quando sair de ministro vai ter um “tacho” enorme para poder engordar as contas bancárias e, quem sabe, recorrer aos offshores.  Tanto? Não?


A administração do Centro Hospitalar Lisboa Norte (CHLN) afirma nunca ter recebido qualquer queixa de médicos relativamente à bolsa de horas e adianta que é uma questão gerida pelos diretores de serviço.

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PSD em polvorosa porque há muitos anti-rio a mexerem-se e a tratar de o desmontar da liderança. Numa notícia que já não é novidade Santana Lopes afirma que vai fundar um novo partido. Deverá ser o PSL – Partido Social Liberal. As iniciais de Lopes. Adeus. Até lá. Não te vais safar como julgas. Mas mais certo é os portugueses saberem que assim ou assado ficaremos todos a arder. Apesar de quase nunca mudarem de atitude e entregarem o ouro aos bandidos em todas as eleições.

Outro do PSD, Pedro Duarte, desafia o líder Rio. Vem a “entrada” aqui em baixo. A seguir. Sobre isso a Caganeirosa, de alcunha, Lara Brites, de baptismo, diz que “o que eles querem é muita mama e roubarem-nos”. Como não chegam ao pote de mel querem criar um ou expulsar o seu guardião.” Talvez, dona Lara. Até porque sabemos que os potes de mel são uma grande tentação para os políticos e outros ladrões e vigaristas da nossa praça. No final somos nós que ficamos a arder. Pois.


O diretor de campanha de Marcelo Rebelo de Sousa e antigo presidente da JSD, Pedro Duarte, desafiou a liderança de Rui Rio no PSD, numa entrevista ao jornal Expresso, defendendo uma nova estratégia para o partido.

Pedro Duarte, atualmente sem cargos no partido, defende na entrevista ao Expresso que hoje estará nas bancas que "o PSD, tão cedo quanto possível, deve mudar de estratégia e de liderança".

E justifica: "O PSD desistiu de apresentar uma alternativa ao PS e está empenhado em substituir o BE e o PCP no apoio ao Governo socialista".

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De títulos do dia já basta. Também das nossas considerações. Vai sempre tudo dar no mesmo e o objetivo é sempre as “mamas” da Democracia – que dizem que se a queremos sai muito cara e temos de a pagar. Temos de arder. O que nunca falam é das negociatas, vigarices e roubos que praticam “democráticamente”. Que se quilhem, os mamões. Estamos todos em Portugal a arder e até sabemos (mais coisa, menos coisa) quem são os "incendiários" que nos fazem a vida num inferno.

Bom fim de semana. Vamos embora que aqui já não há fresco nem água para ninguém. (PG)

Fim de semana está aí. Saiba o que pode ver à borla em Lisboa e no Porto


A Agenda Cultural do Notícias ao Minuto com tudo de borla. Habitualmente trazemos aqui os eventos que referem todos os fins de semana. Desta vez viemos atrasados. O dia 3 já foi. Quem não se atualizou no NM perdeu algumas borlas desse dia. Para 4  e 5, hoje e amanhã, vai muito a tempo. Aproveite as borlas. De preferência as que acontecem mais à fresca. É que com este calor nada apetece a não ser o ar condicionado entre os 20 e os 23º. Pois então. Enfiar-se na banheira até ficar com pele de galinha também é uma solução para este fim de semana. Nós por aqui no PG vamos emergir. Até depois. Siga o NM que tem aqui em baixo. Curta. (PG)

Agosto chegou e não traz apenas calor

A chegada do mês de agosto foi feita de forma abrasadora mas não é só calor que podemos esperar.

Como já é tradição, o Notícias ao Minuto esteve à procura de borlas culturais, na Grande Lisboa e no Grande Porto, para o fim de semana que agora chega.

Há música para os mais diversos gostos, cinema ao ar livre, exposições, atividades para pequenos e graúdos, tudo para estes dias 3, 4 e 5 de agosto.

Antes de começarmos, não se esqueça de que os domingos pela manhã trazem-nos muitos museus e monumentos pelo país fora que abrem a porta a visitas gratuitas. É aproveitar!
Vamos então ver o que nos reserva o fim de semana que agora chega.

Grande Lisboa

Há cinema ao ar livre para todos os gostos para ver por estes dias, bem longe do escuro da sala de cinema:

Cinema ao ar livre no Centro Cultural de Belém
Às sextas-feiras, o CCB, espaço emblemático da capital, tem contado com cinema ao ar livre, de entrada gratuita. Esta semana há 'Uma Praça no Verão', obra de Olivier Ducastel e Jacques Martineau. Clique aqui para ver o cartaz completo.

Cinema e muito mais no Pólo Cultural Gaivotas
O Pólo Cultural Gaivotas é um centro cultural lisboeta que conta com animação bem variada. O cinema ao ar livre, gratuito, como se quer nesta agenda, é destaque a ter em conta num evento chamado Lusco-fusco que vai a caminho da terceira edição. Mas há mais. Até setembro, há uma programação cultural diversificada que contempla música, cinema, performance e gastronomia internacional. Clique aqui para saber mais.

Cinema ao ar livre na Fábrica da Pólvora
Este sábado à noite há 'Uma Vontade Cega', um filme de Marc Rothemund que nos chega da Alemanha e que pode ver ao ar livre, isto porque verão e cinema combinam na perfeição. Há encontro marcado na Fábrica da Pólvora, em Barcarena. Saiba tudo aqui.

Somersby Out Jazz continua
Já foi novidade mas, a cada ano que passa, é cada vez mais tradição. E uma que vale muito bem a pena manter. O Out Jazz junta música ao vivo em fins de tarde nos espaços verdes mais nobres de Lisboa. No mês de julho foi no Parque Eduardo VII que se fez a festa. Em agosto será o Jardim da Estrela a receber os concertos do Somersby Out Jazz. 

Quando e Onde
Domingo, 5 de agosto, a partir das 17h - Jardim da Estrela
Quem
Kite | Carlos Cardoso

Há mercado no CCB
Ali mais acima referimos as sessões de cinema ao ar livre. Mas há mais programação a ter em conta no Centro Cultural de Belém. É que este domingo há também mercado, com velharias, gastronomia, modas e tanto mais por descobrir.

Roy Liechtenstein no Colombo
Uma exposição com 41 obras do pintor norte-americano Roy Lichtenstein, desde pop art, paisagens e cartazes, está a dar cor e vida ao Centro Comercial Colombo. Saiba mais sobre este artista e esta iniciativa louvável do Colombo aqui. Uma oportunidade tão simples quanto imperdível, para ver até dia 23 de setembro.

A folk de Brigid Mae Power ao vivo
O Museu Nacional de Arte Contemporânea - Museu do Chiado recebe esta sexta-feira, pelas 19h30, o concerto de  Brigid Mae Power. O concerto vai decorrer no Jardim das Esculturas e é de entrada livre.

Odeon Hotel na Fnac Chiado
Odeon Hotel é um projeto de fotografia de Daniel Costa Neves que está em exposição na Fnac do Chiado, no coração da capital. Trata-se de um trabalho artístico para conhecer até 2 de setembro. Clique aqui para conhecer melhor este projeto.

Grande Porto

Verão na Casa da Música
A Casa da Música, espaço privilegiado não apenas na Invicta mas em todo o país, também não esquece o verão. Até 11 de setembro há um programa variado que incluiu algumas oportunidades que não são de desaproveitar. Saiba tudo clicando aqui.

School Affairs na Fnac de Santa Catarina
A Fnac de Santa Catarina, bem localizada no centro da Invicta, recebe por estes dias o projeto School Affairs, de João Henriques, vencedor do prémio Novo Talento Fnac, em 2015. Saiba mais sobre este projeto aqui. A exposição está patente até dia 20 de setembro.

Dominguinhos no MAR Shopping
O MAR Shopping continua a dar-nos domingos para toda a família, a pensar nos mais pequenos. Os Dominguinhos continuam a 'todo o gás'. Este domingo, 5 de agosto, pelas 11h da manhã, há Atelier de Ciência - Areia da Lua. É gratuito mas é necessária a inscrição. Clique aqui

Portobello... Porto Belo
Todos os sábados,o histórico e mundialmente conhecido mercado londrino de Portobello tem uma versão a pensar no 'relax' na Invicta. Eis o Porto Bello, que conta com bancas variadas. As compras terão de ser pagas com o esforço da carteira, o passeio nem por isso.

Onde
Praça Carlos Alberto
Quando
Todos os sábados, entre as 10h e as 19h

Centro Português de Fotografia
Entre fotografia contemporânea e histórica, há sempre exposições para espreitar no Centro Português de Fotografia. Localiza-se na Cadeia da Relação do Porto, a cadeia oitocentista onde, por exemplo, Camilo Castelo Branco esteve detido. Salvo exceções com uma ou outra exposição, a entrada é gratuita. Clique aqui para descobrir as exposições que estão patentes este mês de agosto.

Quando
Largo Amor de Perdição - Porto
Onde
De terça a sexta das 10h às 18h, sábados, domingos e feriados das 15h às 19h. Encerra à segunda-feira

Be Jazz no Mercado
O Mercado do Bom Sucesso mantém a tradição de nos dar concertos. Este sábado, a música está por conta dos Be Jazz, projeto que junta jazz, blues e bossa nova. PAra ouvir este sábado, 4 de agosto, a partir das 22h. Saiba mais aqui.

Bom fim de semana e boas ofertas culturais!

Leite é vida. E morte lenta


Pedro Ivo Carvalho | Jornal de Notícias | opinião

Até 2015, a União Europeia usou a régua e o esquadro da teoria económica para regular o mercado leiteiro. As quotas garantiram uma efetiva segurança aos países com índices mais baixos de produção e menos eficientes. Para o bem, Portugal acostumou-se à lógica. Para o mal, está a sentir agora os reflexos dessa mudança brusca. Com o consumo de leite em decréscimo, parece hoje evidente que Bruxelas não soube acautelar o dia seguinte ao fim das políticas protecionistas. Como bem notava ontem no JN o ex-ministro da Agricultura Arlindo Cunha, a liberalização do mercado permitiu que este se tornasse "selvagem". E quando assim é, a história é a que vem nos livros: sobrevivem os fortes, desaparecem os fracos.

É, pois, com alguma incredulidade que vemos os acionistas da Lactogal pagar aos fornecedores para deixarem de produzir. Para desistirem de fazer o que sempre fizeram. Para abandonarem o negócio de uma vida. No total, foram intimados a cortar 60 milhões de litros, meta considerada satisfatória pela gigante dos laticínios para acomodar o impacto negativo resultante do facto de Espanha estar a comprar menos leite e evitar, por outro lado, descidas do preço. Detalhe: a Lactogal passou, há dias, a pagar menos um cêntimo por litro.

Ora, perante isto, o Governo, que tanto gosta de meter o bedelho naquilo que os portugueses consomem, vem dizer que está de mãos atadas, porque a Lactogal é uma empresa privada. Resumir o papel do Estado a essa perspetiva simplista de intervenção não é entendível à luz da realidade económica e do impacto social desta medida num setor que vende o leite como vida mas está a morrer lentamente. Produzimos leite a mais, mas bebemos cada vez menos. Produzimos queijo e iogurtes a menos, mas consumimos cada vez mais. Destruimos o valor acrescentado do que é português e ficamos dependentes do exterior. De certeza que o Governo não quer preocupar-se com isto?

*Subdiretor do JN

Jesus vai voltar para treinar um grande. E estará perdoado por nos abandonar?


Todos sabemos que Jesus vai voltar, há séculos que assim dizem. Bem, isso é nas religiões que assim propalam e parece que acreditam. Quanto a Jesus, treinador, a coisa é diferente. Que voltará todos sabemos, mais tarde ou mais cedo eles voltam, os treinadores, os jogadores do futebol dos milhões, os simples emigrantes que lá fora servem para quase todo o serviço, etc. Relativamente a Jorge Jesus, agora no Al-Alilal, o que não sabemos é se estará perdoado por ter abandonado o Sporting numa fase tão perturbada quando era ele um dos elos que unia os jogadores e a massa associativa. Há os que não vêem com bons olhos o regresso de Jesus, não lhe perdoam. Segue-se a notícia no DN. Bom proveito. (PG)

Jorge Jesus: "Sou um dos mais bem pagos do mundo"

Numa entrevista à Sport TV, o treinador do Al-Hilal garante que depois de terminar o contrato com o clube saudita vai voltar a Portugal... para treinar um grande.

Numa entrevista à Sport TV, Jorge Jesus falou do passado no Sporting, do presente na Arábia Saudita e já projetou o futuro, garantindo que vai voltar a treinar em Portugal.

"A oportunidade de treinar um grande europeu já não vai aparecer. Ter vindo para a Arábia Saudita não me valoriza nada (...) sou um dos mais bem pagos do mundo. Para sair de Portugal tinha de ser ou muito bem pago ou um para um clube de topo. Na Arábia Saudita foi um contexto diferente. Tinha de sair e apareceu este. Vamos lá! Tenho uma cláusula que não me deixa sair para a China e afins. E de certeza que volto a Portugal", referiu à Sport TV o agora treinador do Al-Hilal.

Uma coisa é certa: quando terminar o contrato, Jesus garante que vai voltar. FC Porto? "Isso eu não sei. Uma coisa é o que tu queres, outra o que vai acontecer. Uma coisa é certa, quando voltar será para um grande. Neste momento, diria que é mais provável que esteja em Portugal. Ainda não consegui encaixar. Talvez com o tempo. A minha vida é Lisboa, Portugal, os meus amigos, a minha família. É toda aquela pressão, porque treinei os dois grandes de Lisboa. Todos os dias era notícia. Isto mexe comigo. Estou aqui há um mês, um mês e pouco, e já tenho saudades", disse.

O antigo treinador do Sporting revelou que durante a carreira teve possibilidades de sair para Inglaterra. "Se quisesse estar em Inglaterra estava. Fui convidado muitas vezes, mas só não fui convidado pelas três ou quatro equipas que eu escolho."

Jesus recordou depois a final da Taça de Portugal que o Sporting perdeu diante do Desportivo das Aves, dias depois dos ataques à Academia de Alcochete. "Senti-me impotente. Senti logo no aquecimento que os jogadores não eram os mesmos, estavam muito nervosos, não me ouviam. Foi uma tarde muito complicada para nós. Depois daqueles acontecimentos todos queríamos ganhar para dar aos adeptos uma alegria, mas perder uma final assim... sentes que foste impotente e que também tiveste alguma culpa. Eu devia ter feito tudo para que aquela final não se realizasse", confessou o técnico.

Questionado sobre o campeonato português, Jorge Jesus não teve dúvidas em apontar quem considera o principal favorito: "O FC Porto é o adversário a abater. É o detentor do título e o principal candidato. Tenho amizade profissional e sentimental com o Sérgio Conceição, pois foi meu jogador. O Sérgio fez um grande trabalho no primeiro ano no FC Porto. Quanto a Rui Vitória, não tenho uma má relação com ele. Não tenho amizade, como tenho com o Sérgio, mas tenho uma relação profissional e de respeito."

Nuno Fernandes | Diário de Notícias | Foto: Al-Hilal

Adeus à Intimidade?


Os bastidores de um caso de chantagem envolvendo sexo relembram o que Snowden demonstrou: governos e achacadores têm acesso, também, a todos os nossos momentos íntimos

Annie Machon | Outras Palavras | Tradução: Inês Castilho | Imagem: Edward Hopper

Algumas semanas atrás recebi pela primeira vez um email ameaçador de alguém que dizia chamar-se Susana Peritz. “Ela” disse que havia raqueado meu email, plantado vírus no meu computador e depois me filmou enquanto eu me divertia assistindo “interessante” pornografia online. Seu email me chamou a atenção porque mencionava, no assunto, uma senha muito antiga, ligada a um endereço de email muito antigo, que eu não usava há mais de uma década. O vírus deve ter sido plantado num computador defunto.

Deixando de lado o fato de que estou muito mais preocupada com a GCHQ [serviço de espionagem britânico] ou a NSA raqueando meu computador (como todos deveríamos estar), isso me divertiu muito. Aparentemente, devo pagar a essa “Susana” 1.000 dólares via Bitcoin ou então, ó céus, terei os alegados prazeres compartilhados com meus conhecidos. E ontem à noite recebi outro pedido cortês de dinheiro de alguém que diz chamar-se Jillie Abdulrazak, mas o preço agora foi inflacionado para US$ 3.000.

Por que não estou preocupada? Bem, posso dizer com segurança – e a mão no coração – que nunca assisti pornografia online. Mas isso me fez pensar como e por que fui escolhida por um chantagista, e me trouxe pensamentos bem sombrios. É perfeitamente possível que, num raro momento desprotegido de amor à distância online, eu possa ter sido capturada (mas por quem?). Isso provavelmente já teria acabado há uma década, e por certo seria usando a velha conta de email que estava ligada,  à época, àquela senha particular.

Contudo, mesmo aquelas memórias me foram negadas – lembro-se claramente de que por muito tempo havia estado paranoica, e sempre cobri a lente da câmera interna do computador. Se alguma coisa pode ter sido gravada, só seria de áudio – no máximo um telefonema apimentado. Não pode mais haver vídeo do meu eu jovem, aliás.

Eu tive boas razões para ficar paranoica. No final dos anos 1990, apoiei meu ex-parceiro e oficial de inteligência do MI5, David Shalyer, em suas buscas por informações para expor os crimes e a incompetência das agências de espionagem do Reino Unido, à época. Em consequência tivemos de sair literalmente correndo pela Europa, vivendo clandestinos durante um ano na França profunda, e outros dois anos no exílio em Paris, antes de retornar voluntariamente ao Reino Unido, em 2000, e sob os termos da draconiana Lei dos Segredos Oficiais de 1989, ser presos por expor os crimes dos espiões britânicos. Naqueles anos, conhecendo como eu conhecia os poderes dos espiões, nunca desapareceu a sensação de estar sendo potencialmente observada.

A grande cena

Então, sabendo bem que eu nunca havia assistido absolutamente nenhuma pornografia online, e sempre havia mantido cobertas as lentes da câmera do meu computador, “Susana” e “Jillie” puderam tornar-se denunciantes. Vocês tentaram sacudir a paranoide ex-denunciante da MI5 errada, queridos. E meu pessoal de tecnologia está agora caçando vocês.

Qualquer áudio poderia, suponho eu, ser de alguma forma emendado em algum vídeo desonesto para forjar o material dos sonhos de um chantagista. Será fácil “torná-lo forense” – e eu por certo tenho amigos que podem fazer isso, um trabalho de classe mundial.

Alternativamente, o ex-amor pode ter gravado o áudio, na época, para seu nefasto uso pessoal em algum momento do futuro nebuloso. E se esse futuro é agora, depois dele ter-se mostrado, muito tempo atrás, cronicamente desonesto, por que fazer isso em 2018, após anos de separação? É possível que ele próprio tenha continuado a usar a velha conta de email para ver imagens torpes – tinha a senha na época, com certeza, e talvez a use para distanciar-se do próprio hábito pornô. Se esse é o caso, ele é ainda menos digno do que imaginava que fosse. Ou será que isso é talvez algum tipo de sombria operação-fantasma pelo Lovelnt, em alguma tentativa fracassada de me assustar ou me envergonhar?

Mas, é claro, há um cenário maior e mais político.

Desde quando trabalhei como funcionária de inteligência para o MI5, antes de sair correndo com Shayler durante os anos de denúncias, no fim da década de 1990, eu estive dolorosamente consciente das capacidades dos espiões tecnológicos. Mesmo então sabíamos que computadores podiam ser capturados por adversários e voltar-se contra você – registradores de teclas, gravação remota via microfones, câmeras ligadas para observá-lo e muitos outros horrores.

As denúncias de Edward Snowden em 2013 confirmaram tudo isso e muito mais, numa escala industrial e global – estamos todos potencialmente em risco de sofrer essa invasão de nossa privacidade pessoal. Mantive as lentes do meu computador e celular cobertas por todos esses anos precisamente por causa dessa ameaça. Uma revelação específica de Snowden, que recebeu pouca atenção da mídia tradicional, foi o programa OPTIC NERVE. Era um programa GCHQ (financiado com dinheiro dos EUA) que permitia aos espiões interceptar chamadas de videoconferência em tempo real. Acabou que, ó horror,  10% deles eram de natureza obscena, e os espiões ficaram chocados!

Tenho falado sobre privacidade e vigilância em conferências pelo mundo todo e muitas, muitas vezes tenho que debater a suposição de que “se você não está fazendo nada de errado, nada tem nada a esconder”.

Contudo, a maioria das pessoas gostariam de manter privados seus relacionamentos íntimos. Nessa era de viagens a trabalho e relacionamentos a longa distância, muitos de nós bem podemos ter conversas, ou mesmo vídeos íntimos via internet. Num contexto adulto, consensual e mutuamente prazeroso, não estamos fazendo nada de errado e nada temos a esconder, mas por certo não queremos espiões nos observando ou escutando, assim como não queremos criminosos capturando imagens e tentando nos chantagear por dinheiro.

Essa tentativa de extorsão, de baixo nível e pateticamente amadora, é risível. Infelizmente, a ameaça dos nossos espiões governamentais não é.

*Annie Machon é ex-oficial de inteligência do Serviço de Segurança MI5 do Reino Unido.

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