sábado, 13 de abril de 2013

Portugal: MANTER A ROTA ERRADA




Eduardo Oliveira Silva – Jornal i, opinião

Passos desiste da economia, insiste na receita recessiva, mas corrige falhas de Portas

Desde Luís XIV que não se via ninguém assumir a máxima do Rei Sol, “L’État c’est moi” (“O Estado sou eu”). Salazar ensaiou, mas Vítor Gaspar assumiu.

O tiro saiu-lhe pela culatra. Horas depois de pôr cá fora o comunicado em que decretava esse totalitarismo foi obrigado a dizer que a medida era momentânea e a justificar meia folha de fundamentos da decisão com cinco outras a explicar as excepções. Mais uma trapalhada, agora por causa de mil milhões, mais ou menos o valor “Operação ANA Falhada” ou 1% do défice.

Vítor Gaspar muniu-se do pretexto e foi para Dublin insistir na política financeira, pedindo mais dinheiro para pagar, ignorando que o ciclo recessivo catastrófico que criou não vem desse incidente, mas de erros sistemáticos que nos retiraram a esperança e nos atiraram para a desesperança. E assim se criou um pântano maior que aquele de onde Guterres se pôs a léguas.

Os sete anos de moratória que a Europa nos vai dar para pagar a dívida nada mudam, porque não existe nenhuma circunstância que permita a criação de riqueza, insistindo-se apenas numa e distante dos cidadãos, como acentuou ontem o Presidente Cavaco.

Nem mesmo quem nos compra dívida se recomenda. Já se viu que são especuladores especializados. Exactamente aqueles que fugiram logo que a nossa economia apresentou as primeiras debilidades.

Isto enquanto Passos mexia no governo de forma inesperada quanto ao nome de Poiares Maduro. Há a convicção de se tratar de figura altamente preparada, o que também era o caso de Santos Pereira, que se afoga diariamente mas cheio de razão.

A indicação de Poiares confirma que o governo vai manter, procurando-o como paliativo de crescimento, o dinheiro do QREN, que fica na mão do novo ministro, a quem vai também competir actuar junto da União Europeia para fazer lóbi a favor de Portugal. Poiares vai buscar poderes a Gaspar e a Santos Pereira, mas não só. Ao nomeá-lo, Passos procura colmatar uma grave falha de Paulo Portas, que se preocupou com mercados longínquos e pouco ou nada com a política europeia, onde a sua acção foi nula e portanto negativa para o país. Mais útil teria sido um ministro do Comércio Externo e contar com a experiência do líder do CDS para obter resultados na União. Também nesse campo se presumiu excessivamente das capacidades de Gaspar.

O sempre-em-pé

Faria de Oliveira está em todas as soluções. Seja governo do PSD, seja do PS, seja coligação PSD/CDS, ei-lo sempre em posição de destaque, normalmente à frente de uma empresa suculenta. Esta semana foi interessante ouvi-lo falar da hipótese de o PS ter de ser chamado ao governo. Deve ter sido essa a única forma de poder que ainda não nomeou este político e gestor para uma alta função. Se calhar não falta muito.

Portugal: Gaspar comeu folga dada pela troika ainda antes da decisão do TC




Luís Reis Ribeiro – Dinheiro Vivo

O primeiro-ministro dramatizou ao máximo os danos provocados pelo Tribunal Constitucional (TC) na execução orçamental e na credibilidade do país na sua tentativa de regressar aos mercados, mas a verdade é que, uma semana antes da deliberação dos juízes, já era evidente que a política seguida pelo Governo nas Finanças Públicas e na economia iria conduzir a um fracasso no cumprimento das novas metas orçamentais (um défice de 5,5% este ano em vez de 4,5%).

No final de março, essa folga de quase 1.500 milhões de euros no défice nominal atribuída pela troika na sétima avaliação já tinha sido totalmente violada. Claro que a decisão do TC veio agudizar a situação, tendo o Governo aproveitado para ensaiar um discurso do tudo ou nada em relação à urgência de cortar mais na despesa pública, algo que iria fazer mais tarde ou mais cedo este ano por causa do agravamento da recessão.

Com base em dados do próprio Governo e do Instituto Nacional de Estatística (INE), a 28 de março último ficou provado que o défice real (o ponto de partida verdadeiro para a consolidação orçamental deste ano) é de 6,4% do Produto Interno Bruto (PIB) – é o valor oficial que foi enviado pelo INE ao Eurostat - e não os 6% apresentados pelo ministro das Finanças a 15 de março, na apresentação das conclusões da sétima avaliação da troika.

Ou seja, logo aqui existe um efeito de arrastamento na ordem dos 0,4 pontos percentuais do PIB. O valor em causa (que diz respeito a uma derrapagem gerada nas contas de 2012) rondará, a preços do ano passado, 661,6 milhões de euros, o desvio detetado que começa a comer a folga de 1.481 milhões de euros concedida pela missão externa por considerar que o país tem cumprido com o calendário das medidas de austeridade e das reformas e porque há uma parte da derrapagem que deve-se à envolvente externa – não é atribuível a um mau desempenho do Governo ou das Finanças.

Na altura o INE explicou que o ajustamento no valor final deveu-se à não consideração da venda dos aeroportos (ANA) como receita verdadeira, mas também a outros gastos que o Governo estimava não ter de assumir, pretensão que chumbou com nas regras do Eurostat. Assim, na fatura do contribuinte acabaram por entrar os aumentos da capital da CGD, do universo Parpública e mais uma parte do buraco do BPN - estas três operações somadas pesaram mais 1.500 milhões de euros.

Mas, no final de março, era possível perceber outro rombo ainda maior. É que o Governo reviu substancialmente em alta a recessão projetada para este ano e fez o mesmo em relação à taxa de desemprego. Ora, de acordo com o próprio modelo de sensibilidade apresentado no OE/2013, “o aumento da taxa de desemprego em 1 ponto percentual [p.p.] tem como efeito a diminuição do saldo das administrações públicas em 0,3 p.p.”

Como a revisão em alta do desemprego previsto para este ano foi de quase o dobro (subiu 1,8 pontos, de 16,4% da população ativa para 18,2%, é fácil perceber que o rombo nas contas públicas ascenderá a cerca de 887 milhões de euros mais, só por causa da recessão.

As Finanças até explicam porquê. “Para este efeito concorre, em primeiro lugar, o impacto direto de um maior desemprego (e menor emprego) em termos de menores contribuições sociais e coleta de IRS e maior despesa em prestações sociais (em particular, subsídio de desemprego). Acresce o efeito que o aumento do desemprego tem na diminuição do consumo privado, e, desta forma, na menor coleta dos impostos indiretos.” Por exemplo, dados da execução orçamental dos dois primeiros meses deste ano já indiciam uma derrapagem de 300 milhões no orçamento do subsídio de desemprego.

Tudo somado – os 661,6 milhões herdados do erro de cálculo relativo ao ponto de partida em 2012, mais aqueles 887 milhões que derivam do impacto da austeridade na economia e no mercado de trabalho e sua transmissão imediata às contas públicas – dá 1.549 milhões de euros de desvio, uma derrapagem que consome a totalidade do bónus dado pela troika ao défice deste ano.

Oito dias depois da deliberação do INE/Eurostat e quase um mês depois de se saber que o desemprego iria ser de 18,2%, o TC viria a chumbar 1.300 milhões de euros em medidas (valores líquidos). Ironicamente, os erros de cálculo (e em parte de gestão orçamental) imputados ao Governo valem bastante mais do que o buraco aberto pela decisão do palácio Ratton.

Milhares de manifestantes estão na marcha contra o empobrecimento em Lisboa




Dinheiro Vivo – Lusa – foto Paulo Jorge Magalhães

A CGPT-IN reuniu hoje alguns milhares de manifestantes em Lisboa, dia em que termina a 'Marcha Contra o Empobrecimento', um protesto contra as políticas de austeridade do Governo.

Entre as palavras de ordem dos manifestantes estão "desemprego em Portugal é vergonha nacional", "trabalho sim, desemprego não", "é só cortar e roubar quem vive a trabalhar", "é preciso, é urgente correr com esta gente".

Os manifestantes estão reunidos na Praça Luís de Camões e preparam-se para fazer a marcha final para a Assembleia da República onde o líder da Intersindical, Arménio Carlos, fará a sua intervenção.

As concentrações dos manifestantes iniciaram-se hoje ao início da tarde no Cais do Sodré e no Príncipe Real e confluíram para a Praça Luís de Camões.

Pelo meio, haverá uma intervenção de Jerónimo de Sousa, secretário-geral do PCP, que lidera uma delegação composta por Francisco Lopes e Jorge Cordeiro.

A CGPT-IN pretende voltar a apresentar as suas medidas alternativas às políticas do Governo, propondo, por exemplo, uma "revisão fiscal que ponha o capital a pagar mais" e uma "redução dos preços da energia".

GUINÉ-BISSAU: 13% MAIS PRÓXIMO DA GUERRA!




Raúl M. Braga Pires, em Rabat – Expresso, opinião

Passado 1 ano do golpe do 12 d'Abril na República da Guiné-Bissau (RGB), o cenário da encruzilhada não poderia ser maior, sobretudo após a detenção do Contra-Almirante Bubo Na Tchuto pela americana Drug Enforcement Agency (DEA), o qual já desde 2010 fazia parte da lista dos chamados "Barões da Droga", do Departamento d'Estado americano. Em cima da mesa estava uma transacção de 4 toneladas de cocaína, da Colômbia para a RGB.

Esta detenção obedece também a um ajuste de contas entre a DEA e Na Tchuto, já que consta que este terá assassinado um dos seus melhores agentes nos idos de 2010. De forma telegráfica, a RGB serviu de refúgio a 3 jihadistas mauritanos após terem assassinado 4 turistas franceses, no sul da Mauritânia na véspera de Natal de 2007. Entre fugas e capturas várias após o crime, os 3 assassinos chegam a Bissau, onde são detidos pelas autoridades locais em colaboração com serviços d'inteligência estrangeiros, conseguindo evadir-se de novo pouco tempo depois. Consta também que o conseguiram através da ajuda e influência do Contra-Almirante agora detido, passando a beneficiar da sua segurança directa. Os americanos, interessados em deter estes indivíduos, enviam para a RGB uma espécie de 007 da Agency em África, o qual acaba por cair nas mãos dos homens de Na Tchuto, sendo mais tarde morto à catanada e com um sinal claro da presença de extremistas islâmicos no local e no acto, já que o corpo estava degolado. Este detalhe reforça as desconfianças de que Bubo Na Tchuto, para além de traficante, terá ligações a células da Al-Qaeda no Magrebe Islâmico (AQMI) na Mauritânia, na Guiné-Conakri, no Mali e na Gâmbia.

Quanto aos criminosos mauritanos, foram de novo capturados, enviados para o seu país d'origem, julgados e condenados à morte, em 2010.

Consequências da detenção de José Américo Bubo Na Tchuto

a) Percebe-se desta forma porque que é que as autoridades americanas têm pedido a colaboração do CEMGFA António Indjai, sendo que ao mesmo tempo não reconhecem as Autoridades Oficiais Provisórias. O interesse é mútuo, os americanos queriam deter Na Tchuto e Indjai queria livar-se dum concorrente. Decorria um processo de reabilitação da figura do Contra-Almirante no seio da instituição militar, a propósito duma tentativa de golpe d'Estado a 26 de Dezembro de 2011, a qual era acusado de ter liderado. Nada ficou provado, ou achou-se por bem que assim fosse e, Na Tchuto já tinha dito publicamente que só aceitaria o processo de reabilitação, caso fosse reintegrado como CEMGFA, destituindo desta feita o actual, António Indjai;

b) A primeira novidade da acusação apresentada pelos americanos é absolutamente demolidora para as duas principais figuras do Período de Transição. O Presidente Interino Manuel Serifo Nhamadjo e o Primeiro-Ministro Interino Rui Duarte Barros, são implicados nas gravações apresentadas como provas pela DEA. Um "depois de amanhã vou falar com o Presidente da República", terá sido dito por militar d'alta patente envolvido no negócio, sendo que outros também referiram noutros momentos que falariam com "o Primeiro-Ministro e com o Presidente", e que a comissão destes para olharem para o lado enquanto tudo decorreria, seria de 13% do produto/negócio (aqui não é claro se do valor da transacção, ou directamente do produto). Ambos gabinetes já desmentiram e demarcaram veementemente, tanto o PR como o PM destes factos, mas a verdade é que o estrago já está feito. Mesmo que se venha a provar que não são verdade e que foram ditos apenas para impressionar, a dúvida vai sempre pairar.

Uma segunda novidade, não menos demolidora, é a de que o pagamento da transacção seria efectuado em armas, incluindo mísseis terra-ar, legitimamente comprados pelo Estado guineense e depois entregues ao fornecedor da droga, o qual representava as FARC colombianas (agentes da DEA fizeram-se passar por elementos deste grupo marxista revolucionário);

c) Que credibilidade é que este PR e este Governo vão agora ter para continuar o seu trabalho? Do ponto de vista interno, o assunto "recenseamento biométrico/eleições" continua por se definir, há já um ano, sendo que o Período de Transição já foi extendido até ao final do ano, na espectativa de que tudo s'organize um pouco à portuguesa, em cima do joelho, para umas eleições com cadernos eleitorais desactualizados desde 2009, uma das justificações para a recusa da participação na 2ª volta das Presidenciais de há um ano, por parte de Kumba Ialá e dos restantes candidatos eliminados na 1ª volta.

Qual a credibilidade duma prevista remodelação governamental, inclusiva do PAIGC, após este ter finalmente assinado o Pacto de Transição?

Do ponto de vista externo, este Governo e Presidência Interinos, até estavam quase a serem reconhecidos pelas instâncias internacionais, já que estes tinham percebido a inevitabilidade dos respectivos apoios para que o calendário eleitoral fosse cumprido. A determinada altura, pareceu-me que tudo dependeria dum acordo prático que tardou. Marcava-se uma data concreta para a realização das eleições (com ou sem recenseamento biométrico, perdeu-se demasiado tempo nesse debate), aquando duma das reuniões magnas da CEDEAO, a União Africana apoiava, reconhecia o Período de Transição, o que permitiria a que as restantes instituições também o fizessem, sobretudo depois das boas vontades das Nações Unidas em nomearem Ramos-Horta seu representante e também após já este ano o regresso do FMI.

E agora, como fica? Alguém vai reconhecer? Sem reconhecimento não há financiamento e sem financiamento não há eleições. Continua-se a correr o risco, mas agora ainda mais que há um ano, da Comunidade Internacional pura e simplesmente abandonar a RGB e esta ficar ao nível da Somália, conforme já foi aventado pelo Secretário-Geral Ban Ki Moon e passar a ter golpes d'estado, mas de bairro e diários. Haverá certamente sectores na RGB e arredores, interessados em que assim seja e que o poder caia na rua. A RGB pode correr o risco de desaparecer, como já muito bem advogaram o antigo Embaixador Francisco Henriques da Silva, o Representante do Secretário-Geral da ONU Ramos-Horta e demais entendidos no país e na região;

d) Para além da Primatura e da Presidência, a instituição militar também sai muito mal na fotografia. Nas notícias que saiem a público fala-se em oficiais d'alta patente envolvidos, que por ora os nomes são omitidos, mas que muito provavelmente virão a público a partir do próximo dia 15,  data do início do julgamento em Nova York. Com a perspectiva duma mais que certa sentença de prisão perpétua, o mais certo é que os detidos aceitem colaborar e abram jogo, garantindo a redução de penas.

Por outro lado, o Capitão Pansau N'Tchama também está a ser julgado em Bissau, tendo já "disparado" em várias direcções militares e civis (ver gbissau.com )

Quem se aguentará no Poder em Bissau, no meio deste fogo cruzado? Certamente que haverá sectores, indivíduos que optarão por uma fuga para a frente, numa lógica de "perdido por 1, perdido por 1000".

O cenário poderá ser catastrófico, com um regresso a uma guerra nunca tão sangrenta como agora, baseada nas disputas pessoais, ajustes de contas antigos, tensões étnicas e agora religiosas também, sobretudo entre muçulmanos sunitas e xiítas. Um dado novo e recente, este último.

A Guiné-Bissau no contexto da guerra do Mali

O problema do tráfico de droga, trata-se duma questão de dimensão regional e não apenas da RGB. Ora se um dos objectivos da intervenção militar francesa no norte do Mali é o de eliminar os grupos jihadistas que aí encontraram guarida, então convém começar a tratar do assunto a montante, precisamente na RGB, evitando a entrada da droga, cujos dinheiros irão alimentar estes grupos, a par do tráfico d'armas e outros, já que nestas zonas inóspitas do Sahel tudo se trafica, incluindo pessoas/crianças.

Neste sentido, parece-me que a abordagem levada a cabo desde o exterior está a ter esta dimensão e esta coordenação regional.

A grande preocupação actual da CEDEAO relativamente ao Mali, é a de começar a trabalhar os mecanismos burocráticos e legais, para em breve transformar a AFISMA* numa Missão de Peacekeeping. Ora seguindo a lógica da abordagem regional, poderá estar no programa o alargamento/extensão no futuro desta Missão de Manutenção de Paz para a RGB. Mas para que a paz seja mantida, parece-me que primeiro é necessário que haja guerra, cenário cada vez mais provável de acordo com os acontecimentos da última semana.

Como nota final, uma curiosidade local, um wishfull thinking bissau-guineense transversal a toda a sociedade. É normal ouvir-se nas conversas de salão e de café, na RGB e junto da diáspora o seguinte desabafo: "Isto só lá vai com o país a ser governado pelas Nações Unidas", numa alusão clara à presença e exercício da UNTAET em Timor-Leste entre 1999 e 2002, a qual deteve de facto totais poderes executivos, legislativos e judiciais no país. Ora a chegada de Ramos-Horta à RGB veio certamente alimentar esta chama, a qual norteará cada vez mais o cidadão comum da RGB à medida que a situação se for deteriorando. Há a noção da necessidade duma purga. Mais uma, mas que dada a gravidade e insistência da situação, se pretende que seja benígna e a última!

* African-led International Support Mission to Mali (AFISMA).

Para visualizar alguns dos videos efectuados na RGB e publicados no Blogue do Parlamento Global, carregar AQUI . 

Raúl M. Braga Pires escreve de acordo com a antiga ortografia

Fórum de Partidos da Guiné-Bissau quer brevidade nas eleições mas aponta 2014




FP - MSF - Lusa

Bissau, 13 abr (Lusa) - O Fórum dos Partidos Políticos da Guiné-Bissau que apoiam o Governo de transição defende a realização de eleições "com a maior brevidade política", mas considera que as mesmas terão de ocorrer em 2014.

Um ano depois do golpe militar que derrubou os governantes eleitos na Guiné-Bissau as eleições deveriam estar já com data marcada, visto que o período de transição foi marcado para terminar em maio. O período de transição foi prolongado entretanto até final do ano, período durante o qual a comunidade internacional quer que se realizem eleições.

Num comunicado divulgado hoje, o Fórum, que agrupa a maior parte dos partidos da Guiné-Bissau (a grande maioria com pouca expressão eleitoral), defende que o cronograma das eleições (que ainda não existe oficialmente) "deve de ser extensivo ao ano de 2014".

O comunicado justifica a sugestão afirmando que a época das chuvas começa em maio e prolonga-se até outubro, altura em que não se pode fazer o recenseamento eleitoral. "Os procedimentos no terreno iniciar-se-iam apenas em novembro de 2013 e será que num mês seria possível realizar eleições?", questiona o Fórum.

No comunicado, os partidos perguntam ainda quando estará disponível o financiamento externo para as eleições, quando se iniciam as reformas legislativas necessárias, quando é que serão empossados os membros das comissões nacionais e regionais de eleições, e quando é que se inicia o recenseamento eleitoral.

"São estas e mais perguntas que os defensores da realização das eleições em 2013 deveriam de esclarecer ao povo guineense", diz o comunicado, que reafirma a defesa da criação de uma Comissão Multipartidária e Social de Transição.

Essa Comissão deverá juntar partidos, sociedade civil e castrense, órgãos de soberania e parceiros internacionais, e destina-se a encontrar "um consenso nacional" para que não se repitam situações de instabilidade no futuro.

As competências da comissão, diz o comunicado, não colidiriam com as da Assembleia Nacional Popular, ou a sua substituição ou dissolução.

Angola: QUEIXA-CRIME CONTRA PRESIDENTE CONTINUA A DAR QUE FALAR




Arão Ndipa – Voz da América

Para a UNITA existe no país uma intenção deliberada de um grupo de elite se manter no poder graças a fraudes eleitorais.

A direcção da UNITA interpôs recurso junto do tribunal supremo em protesto contra a decisão da procuradoria-geral da república que indeferiu a queixa-crime contra o presidente José Eduardo dos Santos e colaboradores.

A UNITA tinha apresentado uma queixa-crime à procuradoria-geral contra alguns colaboradores de José Eduardo dos Santos por alegados crimes de alta traição à pátria, sabotagem e falsificação de documentos eleitorais.

Para a UNITA existe no país uma intenção deliberada de um grupo de elite se manter no poder graças a fraudes eleitorais.

A queixa-crime tinha por alvo sete elementos ligados ao aparelho de apoio ao presidente da república e ao executivo, nomeadamente Hélder Vieira Dias Kopelipa, Edeltrudes Costa, Bornito de Sousa, Adão de Almeida, Jorge Barros Nguto, Rogério Saraiva e Anacleto Garcia Neto.

Analistas em Luanda afirmaram entretanto à reportagem da VOA que pela via jurídica a UNITA não vai alcançar os seus objectivos.

Para nos falar sobre o assunto, ouvimos o secretário-geral da UNITA, Marcolino Nhany e o jornalista do bi-semanário “Folha Oito”, Félix Miranda.


Moçambique: (SOBRE)VIVER À MÍNGUA




Verdade (mz)

Diante da subida sistemática de preços dos produtos de primeira necessidade, os moçambicanos que auferem o ordenado básico nacional são obrigados a cortar da sua lista alguns produtos alimentares todos os meses. Apesar dos reajustes salariais aprovados pelo Governo anualmente, as famílias passam por um sufoco para ajustar o orçamento doméstico ao cenário actual. A questão que se coloca é: Como é que sobrevivem os trabalhadores que auferem o salário mínimo? À míngua! É o que @Verdade constatou.

O que para os outros trabalhadores moçambicanos pode significar um momento de sossego, o fim de cada mês para Selemane António, de 34 anos de idade, é o princípio de uma dor de cabeça. Residente no bairro de Namutequeliua, arredores de Nampula, o chefe de um agregado familiar composto por sete pessoas tem de recorrer à ajuda de uma calculadora para fazer as contas das despesas mensais que o seu ordenado não cobre.

“Não tem sido fácil fazer matemática com o dinheiro que ganho no final do mês. Na verdade, sinto-me bem sem o salário nas mãos”, diz, explicando que a situação se deve à subida galopante de produtos de primeira necessidade aliada ao seu paupérrimo salário.

António é serralheiro, trabalha para uma empresa privada na cidade de Nampula e aufere salário mínimo no valor de 2.675 meticais mensalmente. “Sou pai de cinco filhos e com esse dinheiro não dá para sustentar a minha família durante 30 dias”, desabafa e acrescenta: “tem sido uma vida difícil, uma vida de muito sofrimento porque, o salário que ganho só dá para comprar um saco de 25 quilos de arroz, de farinha de milho, um litro de óleo vegetal e pagar as contas de água e luz”.

O ordenado é repartido da seguinte maneira: 1200 meticais são destinados à compra de 25 quilos de arroz(630) e 25 de farinha de milho (540), energia eléctrica (500), água (200), transporte (200) e o remanescente é usado para as pequenas despesas diárias como, por exemplo, a compra de tomate, sabão, óleo vegetal e açúcar. E comer pão no pequeno-almoço é um luxo que tem vindo a ser adiado pela sua família e, todos os meses, a probabilidade disso continuar a não acontecer aumenta.

“Quando penso que será desta vez que terei a situação melhorada, surgem mais despesas, mas, quando posso, compro mandioca para que os meus filhos tenham o mata- bicho”, afirma. Se há dois meses, dispondo do salário de 2.675 meticais, António podia comprar três quilos de feijão manteiga ou 10 quilos de carapau, presentemente, devido à subida desenfreada de preços dos bens de primeira necessidade, com aquele valor só pode obter um saco de arroz de 25 quilogramas, a mesma quantidade de farinha milho e pagar as contas de água e luz.

Prestes a terminar o primeiro trimestre do ano lectivo, Selemane António afirma que ainda não conseguiu comprar uniforme para os seus três filhos devido à falta de dinheiro. Um metro de tecido custa, em média, 40 meticais, mas ele afirma que precisaria de 600 meticais para ter a situação resolvida.

O serralheiro não se entusiasma com a notícia segundo a qual se espera neste mês mais um reajuste salarial, pois acredita que “esse aumento não vai mudar a minha situação. O melhor ordenado mínimo tinha de ser 7 mil meticais porque se ajusta ao actual cenário de elevado custo de vida. Teria dinheiro suficiente para comprar produtos alimentares, mobiliário, roupa e uniforme para os meus filhos, além de ficar com um pouco para resolver questões que vierem a surgir ao longo do mês”. Para sobreviver, além de serralheiro, Selemane António dedica-se a uma outra actividade: a de guarda-nocturno.

Jaimito José, de 21 anos de idade, é outro exemplo de quem aufere o salário mínimo e tem de sobreviver com esse montante. Residente na cidade de Nampula, o vigilante de uma empresa de segurança privada ganha 3600 meticais mensais, e a sua “ginástica” para garantir o sustento da sua família não difere da de Selemane António.

Ao contrário de António, José gasta o seu salário somente na compra de produtos alimentares. “O que ganho só dá para isso e mais nada”, desabafa. Com dois agregados familiares por sustentar, ele tem de fazer as contas com o magro salário para que nenhum dos membros da sua família morra de fome. Todos os meses, compra dois sacos de arroz e a mesma quantidade de farinha de milho, sendo um saco de cada produto para a sua casa e outro para a da sua mãe.

Além de dois sacos de 25 quilos de arroz e farinha de milho, a despesa inclui dois litros de óleo, duas barras de sabão, dois quilos de açúcar e quatro de feijão. No total, despende 2980 meticais. ”O que resta serve para os meus caprichos e os da minha esposa”, diz.

O chefe de uma família composta por cinco pessoas, Jaimito José, fez saber que para reforçar a renda familiar tem de vender no quintal da sua casa sal e farinha de milho. E afirma que, em nenhum momento, o seu salário cobriu as suas despesas básicas, nomeadamente a alimentação, a renda de casa e o transporte. Para o nosso interlocutor, o novo reajuste de salário não vai melhorar a sua situação financeira, pois continuará a contrair dívidas para sobreviver, tendo acrescentando que, fazendo as contas, por dia gasta mais do que ganha com o transporte, da casa para o posto de trabalho e vice-versa, e alimentação.

A funcionária pública, Fernanda Aiuba, que ganha mensalmente 2850 meticais, opta pela prática de xitique para atender a algumas necessidades vitais suas e dos membros da sua família. Com um agregado constituído por seis pessoas, conta que tentou uma actividade comercia;, mas não deu certo. “Este valor é muito pouco, só dá para pagar a renda e a alimentação”, comentou acrescentando que à medida em que os salários são reajustados os preços dos produtos não param de subir.

Estes são apenas exemplos de indivíduos - num universo de milhares - que compõem uma classe de trabalhadores moçambicanos que auferem o salário mínimo nacional e todos os meses são obrigados a buscar outras alternativas para sobreviverem ao elevado custo de vida. Apesar dos reajustes positivos anuais que o salário básico nacional vem sofrendo desde a sua fixação, o aumento não tem efeito significativo no orçamento doméstico, até porque a batalha dos sindicatos de ver ajustado o vencimento ao valor do cabaz mínimo de uma família composta por cinco pessoas continua a fracassar.

Mesmo tendo em conta a proporção a ser acrescida ao salário, a ser anunciada na próxima segunda-feira (15), o seu vencimento continuará quatro vezes abaixo do custo de uma cesta básica necessária para um agregado familiar de cinco pessoas viver com alguma dignidade.

Ou seja, o salário mínimo estará aquém de satisfazer as necessidades elementares de alimentação do cidadão comum, pois o poder de compra do consumidor tem vindo a decrescer como consequência do sistema de fixação do valor base do salário mínimo e do fraco poder negocial dos sindicatos. Face a esta situação, alguns indivíduos procuram alternativas para garantir o sustento diário da família.

A cesta “magra” versus custo de vida

A cesta básica é tida como o conjunto de produtos básicos para o sustento de um agregado familiar constituído por cinco pessoas durante um mês. O cabaz, composto por arroz, farinha de milho, açúcar, amendoim, feijão manteiga, óleo vegetal, sabão, peixe, pão e hortofrutícolas, foi desenhado em 1987 para servir de fixação do primeiro salário mínimo nacional. Entretanto, desde a sua introdução no país, não há nenhum registo de que, em algum momento, chegou a cobrir, ao menos, metade das necessidades de alimentação dos trabalhadores moçambicanos.

Nos últimos anos, o poder de compra do consumidor moçambicano que aufere o salário mínimo tem vindo a decrescer. A queda é associada à desproporcionalidade entre o crescimento do salário mínimo e o incremento do nível geral de preços dos produtos que compõem a cesta básica.

O @Verdade visitou os principais mercados da cidade de Nampula tendo constatado que o custo de produtos alimentares como, por exemplo, tomate, arroz, peixe, farinha de milho, cebola, óleo, batata, feijão manteiga, frango e ovos tem vindo a sofrer um aumento significativo, que varia entre 10 e 40 porcento quase todos os meses.

Nos finais de Março, no mercado central, o custo de uma cesta básica, para o sustento de um agregado familiar-tipo de Moçambique composto por, pelo menos, cinco pessoas rondava os 7 mil meticais. Já nos mercados da Resta, 25 de Junho (Matadouro), Memória e Pinto Soares (Faina) o preço oscilava entre 5 mil e 7200 meticais. Presentemente, naqueles locais onde a maior parte dos munícipes de Nampula obtém os produtos de primeira necessidade, o cabaz ronda os 8500 meticais, em alguns casos chegando a atingir os 10 mil meticais.

A tabela de preços de bens de consumo praticados nos principais mercados de Nampula inquieta os consumidores. A título de exemplo, regra geral, o quilograma de arroz custa 30 a 35 meticais, o de farinha de milho (30) e o de feijão manteiga (35), contra os 28, 27 e 28 meticais, respectivamente, que eram cobrados anteriormente. O mesmo ocorre com os produtos como frango, batata, açúcar, cebola, ovos e peixe (carapau) cujo custo também regista uma variação considerável.

Pão, gás, carvão vegetal e transporte

Os preços de alguns produtos estão, ainda, longe de se adequar ao salário mínimo em vigor no país, facto que faz com que o custo de vida seja muito elevado para o cidadão comum.
A reportagem do @Verdade em Nampula saiu à rua para se inteirar da subida de preços que tem lugar em alguns estabelecimentos comerciais desta urbe. Por exemplo, o pão de 300 gramas que antes (há sensivelmente sete meses) era vendido a 1.5 metical, presentemente, custa dois meticais; o de 400 gramas, que era adquirido a dois meticais, custa 2.5 meticais, assim sucessivamente. No cômputo geral, o agravamento é de 50 centavos.

O custo de carvão vegetal registou uma subida galopante, pois há três meses, ou seja, no período antes da época chuvosa, era comercializado ao preço que variava entre 100 e 150 meticais. Neste momento, um saco de 90 quilogramas é comprado a um valor que varia entre 200 e 250 meticais, sem espaço para negociações com vista a reduzir o preço. Esta quantidade não chega para suportar as três refeições diárias por um período de, aproximadamente, um mês. Para cobrir os 30 dias, um funcionário que vive do salário mínimo com um agregado familiar composto por cinco pessoas necessitaria de, pelo menos, dois sacos de carvão.

O gás de cozinha, cuja botija de 23.3 kg custava 700 meticais há um ano, sofreu um acréscimo de 50 meticais, estando, neste momento, a 750 meticais. Entretanto, para sustentar uma família de cinco pessoas, é necessário adquirir outra botija até que venha o salário seguinte, o que não tem sido fácil, pois o montante é insuficiente para o efeito.

A outra questão que torna insuportável a vida do funcionário que, mensalmente, aufere um salário mínimo é o transporte de casa para o seu posto de trabalho e vice-versa. Actualmente, o custo do transporte semi-colectivo de passageiros é de 10 meticais. Este valor foi alterado nos finais do ano passado numa acção coordenada entre a edilidade e a Associação dos Transportadores de Nampula (ASTRA).

Na altura, foram estabelecidos pontos intermédios, sendo que o valor para cada local é de cinco meticais e, para completar a distância até o destino, o utente deve pagar 10 meticais. Por exemplo, quem reside no bairro de Mutava-rex e o seu local de trabalho se situa na zona da Faina é obrigado a desembolsar 10 meticais.

Até o final do mês, as suas contas atingem os 300 meticais, sem contar com as da sua esposa, que também esteja a trabalhar na cidade e que, todos os dias, necessita de utilizar o “chapa-100”. Imagine- -se que os filhos e outros componentes do agregado familiar deste casal sejam estudantes de escolas localizadas em zonas distantes de casa. Os gastos destinados apenas ao transporte é bastante elevado, relativamente ao ordenado mensal dos dois cônjuges.

Concertação social

Desde o mês passado decorre a discussão para a fixação do salário mínimo nacional para 2013. Como sempre, a Organização dos Trabalhadores de Moçambique – Central Sindical (OTM-CS) quer ver ajustado o salário básico dos trabalhadores de todos os sectores de actividades económicas ao valor do cabaz mínimo para um agregado familiar composto por cinco a sete pessoas.

Porém, nesse encontro a OTM-CS tem como oposição “uma muralha” constituída pelo Governo e pelo empresariado nacional, que afirma que o aumento exigido pelos sindicalistas não faz sentido, embora o desempenho da economia tenha sido positivo em alguns sectores. E, como sempre, nessa concertação social a corda vai rebentar do lado mais fraco.

O custo de vida no país tem vindo a aumentar e, consequentemente, afecta o já diminuto bolso das famílias moçambicanas, não se vislumbrando ainda planos para aliviar a carestia de vida. Segundo os novos cálculos da OTM-CS, o preço da cesta básica, para o sustento de um agregado familiar composto por, pelo menos, cinco pessoas durante um mês, ronda os 7.700 meticais, pondo de lado despesas relacionadas com higiene, carne vermelha e entretenimento, mas a maior parte dos salários mínimos está muito abaixo da metade do valor do cabaz. Ou seja, como sempre, o valor final do salário mínimo a ser aprovado pelo Governo não irá ao encontro da expectativas dos sindicatos.

O que poderia constituir um resultado animador para o país é, na verdade, uma má notícia para os trabalhadores moçambicanos que auferem o vencimento mais baixo. Em breve análise ao desempenho de cada sector de actividade, a conclusão a que se chega é a de que em 2012 se verificou um crescimento económico.

Mas, por outro lado, assistiu-se a um aumento generalizado dos preços de bens e serviços essenciais, o que acabou por afectar o poder de compra por parte dos trabalhadores e da população em geral. Apesar do comportamento positivo da economia, os parceiros sociais não vão ceder às pressões dos sindicalistas.

Maior partido da oposição moçambicana volta a exigir revisão urgente da lei eleitoral




Deutsche Welle

Conversações entre Renamo e Governo tentam desanuviar tensão em Moçambique . Oposição alega querer revisão da lei eleitoral para garantir a realização de eleições livres no país.

O pedido de revisão urgente da lei eleitoral foi entregue pela Renamo nesta sexta feira (12.04) a uma delegação ministerial durante um encontro, em Maputo, entre o partido em questão e o Governo.

Trata-se da primeira reunião entre a Renamo e uma representação da Frelimo, partido no poder, desde os incidentes armados da semana passada em Muxúnguè, província de Sofala, que terminaram em oito mortos e vários feridos.

As partes envolvidas discutiram a situação política no país, tendo a Renamo entregue ao Governo uma série de documentos em que resume as suas preocupações, como afirma o parlamentar Saimon Macuiane, Presidente do Conselho Jurisdicional da Renamo. 

Macuiane exemplifica dizendo Moçambique precisa de uma legislação que proíba que uma das equipes entre em campo com 15 jogadores e outra, com apenas dois.

Disputa acirrada

A Renamo, o maior partido da oposição em Moçambique, tem vindo a condicionar a sua participação nas eleições autárquicas deste ano e gerais de 2014 à revisão da lei eleitoral, afirmando que a atual legislação propicia a perpetuação de fraude por parte do partido no poder, a Frelimo.

Cristovão Chume, Diretor Nacional de Política da Defesa, revelou que a delegação do Ministério da Defesa, constituída por militares, não se pronunciou sobre as questões eleitorais, mas deixou alguns recados.

As forças armadas aproveitaram o encontro desta sexta feira para informar à Renamo que parem com atitudes que possam colocar em risco a paz e a tranquilidade no país, disse Chume.

Macuiane revelou ainda outras exigências da Renamo apresentadas esta sexta feira ao Governo: "a necessidade urgente do diálogo e de uma mediação para que condições sejam criadas com vista à uma estabilidade efetiva no país".

A Renamo exigiu, nos últimos dias, a retirada imediata das forças governamentais de Muxúnguè e o levantamento do cerco à sua base na Gorongosa, onde se encontra acantonado o seu líder Afonso Dlakhama.

O representante do Ministério da Defesa respondeu que os militares vão continuar a movimentar-se por todo o território nacional como forma de garantir a tranquilidade da população.

"Vamos deixar que os políticos continuem a discutir todos os assuntos que devem ser discutidos, num diálogo aberto e franco, dentro do processo democrático estabelecido no país", defendeu Chume.

Ele avisou aind que "os militares vão continuar a acompanhar de perto a evolução da situação, sem interferir nos assuntos de natureza política".

"Não há discriminação no exército moçambicano"

Outra preocupação levantada pela Renamo está relacionada com a alegada partidarização do exército, que se pretendia fosse único. Cristovão Chume nega tais alegações afirmando que não há discriminação no exército nacional. “

Os encontros em separado da Renamo com quadros dos Ministérios da Defesa e do Interior desta sexta feira acontecem depois que o maior partido da oposição se encontrou, na véspera, à porta fechada, com uma delegação da União Europeia.

Neste encontro, a Renamo mencionou suas inquietações e manifestou a intenção de encetar um diálogo aberto e sério com o Governo moçambicano. A União Europeia instou a Renamo a encontrar uma solução pacífica para o conflito com o governo, considerando tratar-se de uma assunto sério.

Recorde-se que o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, garantiu na última quarta feira (10.04), falando a partir da Gorongosa, que não haverá mais guerra em Moçambique, mas advertiu que a sua formação responderá caso sejam atacados.

ECONOMIA E TENSÃO POLÍTICA ACIRRAM DIVISÃO NA PENÍNSULA COREANA





Há quase 70 anos a Coreia se encontra dividida em dois Estados – um cada vez mais diferente do outro. O abismo econômico entre os dois países e as recentes provocações de Pyongyang tornam uma aproximação improvável.

Na chegada do novo milênio, eram grandes as esperanças de que a Coreia se reunificasse. "Uma nova era começou para nossa nação", festejava o então presidente sul-coreano, Kim Dae-jung, em junho de 2000, após um encontro com o então ditador norte-coreano, Kim Jong-il, em Pyongyang. Naquele ano, ele recebeu o Nobel da Paz por sua política de distensão com o Norte, a "política do sol", como ficou conhecida.

Pela primeira vez, um presidente sul-coreano oferecia apoio econômico ao Norte sem exigências prévias, deixando claro que não estava interessado numa incorporação. O objetivo era o estabelecimento de relações igualitárias e coexistência pacífica. Comércio e investimentos deveriam aproximar a Coreia do Norte de uma economia de mercado.

Surgiria então uma classe média e, assim, segundo o sonho de Kim Dae-jung, também nasceria uma democracia multipartidária – a Coreia do Sul também havia se desenvolvido dessa forma.

A Coreia do Sul podia e queria ajudar o vizinho, e a Coreia do Norte podia aceitar a ajuda. Afinal, após quatro décadas da divisão, estava claro que modelo havia triunfado economicamente.

A rivalidade econômica entre os diferentes sistemas havia chegado ao fim. Em meados da década de 1990, após o colapso do bloco soviético, o inimigo e adversário havia se transformado em alguém necessitado. As expectativas do irmão rico do Sul, no entanto, não se concretizaram.

O Norte aceitou as remessas de fertilizante, arroz e cereais. A região turística comum nas montanhas Kumgang e o parque industrial de Kaesong se tornaram novas fontes de divisas para Pyongyang. Mas a prometida visita de retribuição de Kim Jong-il não aconteceu. A Coreia do Norte equipou-se principalmente com armas nucleares e foguetes de lançamento. Em 2008, Lee Myung-baek assumiu a Presidência sul-coreana e passou a impor condições para novas ajudas. Desde então, as relações se arrefeceram entre Seul e Pyongyang.

Nacionalismo no Norte

Até hoje, a Coreia do Norte se vê como único representante do direito de restaurar a unidade da Península Coreana. Enquanto o Sul não seria mais do que um lacaio dos Estados Unidos, Pyongyang estaria preocupada com uma Coreia reunificada, assim já argumentava o fundador do Estado norte-coreano, Kim Il-sung. De forma inteligente, ele interpretou a Guerra da Coreia como uma guerra patriótica de libertação, apresentando-se como o patriarca da nação coreana.

Mas a palavra "reunificação" permaneceu na Coreia do Norte como apenas um slogan, porque o regime sujeitou a aproximação das duas Coreias a condições impossíveis: a retirada das tropas norte-americanas da Coreia do Sul, a permissão de um Partido Comunista no Sul e a formação de uma confederação com um governo comum.

Na Coreia do Norte, no entanto, um contato maior entre os dois Estados permaneceu indesejado. A população do país deveria saber o mínimo possível sobre o vizinho mais atraente. O isolamento do Sul foi, portanto, realizado de forma consequente pela Coreia do Norte, de forma que foram estabelecidos limites automáticos para cada ação de distensão.

Diferenças frente à Alemanha

Os dois Estados coreanos se encontram em situação bem diferente, por exemplo, do que a vivida pela Alemanha dividida. Ali havia contatos regulares entre o Oriente e o Ocidente. Através da TV e telefonemas com parentes, os alemães orientais estavam bem informados sobre a Alemanha Ocidental e tinham uma imagem relativamente realista das vantagens e desvantagens da vida numa economia de mercado. Nada disso se aplica às duas Coreias.

Pelo contrário. No Norte, assistir a filmes e séries de TV sul-coreanos em DVD é tão proibido quanto escutar estações de rádio do vizinho do Sul. E um sul-coreano, por sua vez, vai para a cadeia se tiver contatos com norte-coreanos ou visitar a Coreia do Norte sem permissão.

A falta de mudanças através da aproximação levou a que o Sul retirasse o tema da reunificação da agenda política, já que ela não poderia ser alcançada econômica e politicamente a curto prazo.

"Fechado para reforma"

Na época da queda do Muro de Berlim, a população do Oeste Alemão era quatro vezes maior que a do Leste; e a relação populacional entre a Coreia do Sul e a do Norte é de dois para um. Além disso, há o enorme retrocesso econômico do Norte em relação ao Sul. Em termos de renda per capita, o Norte é hoje 17 vezes mais pobre que o Sul e quatro vezes mais pobre que a vizinha China. Por esse motivo, a Coreia do Sul pretende apoiar economicamente a Coreia do Norte, com foco em amenizar os custos econômicos de uma reunificação.

Os coreanos não estão se preparando para uma unificação súbita, como foi o caso da Alemanha. Em todo caso, o governo em Seul afirma não ter planos nesse sentido. Uma piada política recorrente lança a pergunta: O que a Coreia do Sul faria se a Coreia do Norte entrasse em colapso? Colocaria cartazes na fronteira com os dizeres: "Atenção! Aqui começa a Coreia do Norte – 'fechado para reforma.'"

Alemanha: OS ANTIEURO ENTRAM EM CENA




DER SPIEGEL, HAMBURGO – Presseurop – imagem Kai Pfaffenbach/Reuters

O partido Alternativa para a Alemanha vai ser lançado oficialmente a 14 de abril. O seu programa resume-se a retirar a Alemanha do euro. Os seus fundadores não têm um rumo bem definido e, contudo, podem interferir com Angela Merkel nas eleições de setembro deste ano.


Alexander Gauland está um pouco tenso com a aproximação do congresso do próximo domingo, 14 de abril. Encontramo-nos num dos restaurantes mais calmos do [bairro governamental] Regierungsviertel, em Berlim. Ei-lo [...] de cabelo grisalho e casaco de “tweed”. O alarido em torno do seu novo partido começa a deixá-lo pouco à-vontade.

Aos 72 anos, é cofundador do partido Alternativa para a Alemanha (AFD). No dia 5 de abril, já havia cerca de 1500 pessoas registadas para participarem no congresso, muitas mais do que as que cabem na sala reservada para a ocorrência, no hotel InterConti de Berlim. “Na verdade, nunca se sabe quem vem ao certo”, justifica Gauland. Enquanto outros se congratulam com este êxito, ele teme que muitos totós tomem a palavra.

A partir de domingo, 14 de abril, todos os alemães que já não suportam ouvir a fórmula-fetiche de Angela Merkel (“Não há alternativa”) talvez possam finalmente ter outra, alternativa. Apesar de ter como alvo o cartel dos partidos históricos e o poder dos bancos, o inimigo número um é o euro. Querem voltar ao marco. Se o AFD conseguir pôr o pé no Bundestag neste outono, vai bater-se pela dissolução da moeda europeia.

Eleitores desiludidos com a CDU são o alvo

Uma sondagem recente revela que 26% dos entrevistados se declararam dispostos a votar num partido antieuro. No início de abril, a AFD tinha já 6000 aderentes. Com uma tal linha política, o partido vai pescar votos nas franjas dos extremos e a direção do partido já teve que excluir alguns simpatizantes da extrema-direita. Mas é sobretudo nas fileiras da direita tradicional que a AFD se alimenta. O seu alvo são os eleitores desiludidos com a CDU [democratas-cristãos] e o FDP [liberais]. “É o tipo de partido que é perigoso para nós”, admite Klaus-Peter Willsch, deputado da CDU.

Alexander Gauland faz também parte dos desiludidos. Era filiado na CDU desde há 50 anos. Na época, ainda era fácil fazer política, as coisas eram claras. A CDU defendia a energia nuclear, o serviço militar e a estrutura familiar tradicional, e o marco era a moeda mais forte da Europa. Hoje, tudo mudou e os conservadores não têm uma vida fácil. Quando Angela Merkel fez aprovar uma lei sobre transição energética a todo o vapor, Gauland começou a ter dúvidas sobre o seu partido. Quando ela se comprometeu a salvar o euro, com injeções de milhares de milhões de euros, atingiu o seu limite. “O euro não está a resultar”, afirma ele. “Esse dinheiro não une o continente, divide-o.” Há algumas semanas, acabou mesmo por bater com a porta da CDU e partiu à procura de um novo refúgio conservador.

Como ele, muitos membros da AFD são antigos militantes da CDU. A liderá-la estão muitos catedráticos com uma certa idade. Depois das revoltas estudantis dos anos de 1960, soa agora a hora da revolta dos catedráticos. A média de idades dos apoiantes da Alternativa para a Alemanha não anda, provavelmente, muito longe da de um conclave do Vaticano.

O antídoto para este predomínio de cabeleiras brancas tem 50 anos e chama-se Bernd Lucke. Professor de Economia de aspeto jovem [deverá] ser eleito presidente do partido. Lucke apresenta os seus pontos de vista de forma clara e compreensível. O tom não tem nada de professoral, é fresco.

Quem tem de abandonar o euro, a Alemanha ou os outros?

Mas os professores têm dificuldade em impor-se na vanguarda de um movimento que se quer de massas. Bernd Lucke já tentou a sua sorte nas eleições regionais da Baixa Saxónia, onde entrou numa aliança de Eleitores Livres. Não contente em apresentar a sua própria candidatura, propôs a cada candidato do grupo que organizasse uma conferência sobre o euro no seu círculo eleitoral. Mas os militantes não estavam nada interessados em palestras académicas.

Bernd Lucke tem especial dificuldade em explicar qual a configuração da alternativa à linha pró-euro de Angela Merkel. Se é a Alemanha que deve abandonar o euro ou os outros que devem sair, é caso para ver. Bernd Lucke explica que ainda não há unanimidade dentro do partido sobre o caminho exato a seguir. Mas qualquer decisão deve ser objeto de consenso. Por outras palavras, os países que a Alemanha quer empurrar para fora do euro terão de concordar. Por que haviam eles de o fazer, quando a Alemanha é tão lesta a puxar da carteira? É precisamente este o argumento crucial do partido, afirma Bernd Lucke: “Não haverá mais injecções de dinheiro.”

E quanto ao ressentimento que isso atrairá para cima da Alemanha? Trata-se, naturalmente, de um ponto a que convém estar atento. “Temos de sentar todos à mesa e explicar que não dá para continuar como está.” Angela Merkel deve encontrar-se com François Hollande para debater a questão e pedir-lhe cordialmente para sair do euro. “Mas não fiques chateado, François, está bem?” É como exigir a supressão dos invernos longos.

Por outro lado, não tem de haver necessariamente um plano realista para garantir o êxito de um partido. Embora as empresas de sondagens duvidem que a Alternativa para a Alemanha ultrapasse o limiar dos 5% [que lhe permitem entrar para o parlamento] nas eleições legislativas de setembro. “Economicamente, a Alemanha continua a ter bons resultados, o que reduz as possibilidades de partidos contestatários”, é a análise de Richard Hilmer, do instituto Infratest Dimap. Sem contar que a maioria da população continua a confiar no governo federal, apesar da crise na zona euro. “O ponto mais forte de Angela Merkel é a política europeia.” A AFD pode, todavia, constituir uma ameaça para a chanceler nas legislativas, se as alianças CDU/FDP e SPD/Verdes ficarem mano a mano.

THATCHER MORREU COMO A MÃE DO 1% E A MADRASTA DOS 99%




Paulo Nogueira, Londres – Correio do Brasil

A maior vitória de Margareth Thatcher, morta nesta segunda-feira aos 87 anos depois de um derrame, foi não ter assistido à formidável falência do mundo que ela ajudou tão poderosamente a construir na década de 1980.

Fazia anos que Thatcher sofria de problemas mentais. Conforme relatou num livro sua filha Carol, ela chamava com frequência seu marido Denis, morto há muitos anos.

Ela não viu a desagregação do que se convencionou chamar de neoliberalismo – um sistema que acabou levando ao célebre mundo dos 99% versus 1%.

Thatcher de um lado do Atlântico e Ronald Reagan de outro comandaram com influência mundial – sentida no Brasil de Collor e mais ainda de FHC – modelos econômicos que acabaram privilegiando enormemente os superricos e as grandes corporações.

A grande crise econômica do final da década passada mostrou o quanto era insustentável este modelo, a começar pelo fato de que os cofres públicos em tantos países se esvaziaram por conta de políticas que permitiram aos bilionários e às multinacionais encontrar formas legais – embora imorais – de reduzir a quase nada os impostos a pagar.
Thatcher viveu pela política, e começou a morrer quando foi traída por companheiros do Partido Conservador e derrubada depois de 11 anos de poder, em 1990.

A mulher que em 1979 se instalou no Número 10, como os ingleses chamam a casa do primeiro ministro, era uma força da natureza. Chegou declamando São Francisco de Assis, mas agiu como uma ninja no poder.

Derrotou os sindicalistas superpoderosos que frequentemente paravam o Reino Unido, deu uma surra fulminante nos militares argentinos que queriam tomar as Malvinas, ajudou a cravar os pregos no caixão da União Soviética e liderou um movimento global de privatização e desregulamentação com resultados que o tempo provou serem catastróficos.

Margaret Thatcher pareceu, em certos momentos, maior que o Reino Unido. Seu único rival em prestígio, entre os líderes globais, era Reagan. Mas, se Reagan parecia um ator de Hollywood fazendo o papel de presidente americano, Thatcher era 100% realidade, ele embalagem, ela conteúdo.

Thatcher agarrou-se desesperadamente ao poder quando já era uma primeira ministra morta em atividade. Desafiada na liderança dos conservadores em 1990, não conseguiu a os votos necessários para permanecer como líder, embora tenha vencido seu oponente. Foi uma vitória inútil, mas Thatcher não quis ver isso.

No Reino Unido, o poder fica na mão do líder do partido mais votado. Os companheiros de partido podem, em situações extremas, desafiar a liderança. Foi isso que tirou da Thatcher do poder. Seus liderados entre os conservadores já não suportavam sua brutalidade como chefe, e um deles a desafiou.

Thatcher, sem votos suficientes para permanecer a despeito de ter batido o desafiador, ainda relutou durante dias em deixar Downing Street. Queria ir para a segunda e decisiva votação. Era formalmente uma possibilidade, mas na verdade é uma atitude não aceita na política britânica, pelo desrespeito implícito à vontade coletiva do partido. Foi a rainha Elizabeth quem afinal convenceu Thatcher a renunciar.

Os problemas mentais ceifaram depois seu projeto de fazer fortuna com palestras e, muito pior para ela, a impediram de lutar no campo das idéias pela essência do thatcherismo: um Estado mínimo, com a menor regulamentação possível.

Em 2011, a convite do premiê conservador David Cameron, ela visitou pela última vez Downing Street, o lugar de onde ela exerceu influência mundial durante onze anos.

Andava com dificuldade e acenava confusamente, como se de alguma forma tivesse em sua mente destruída retornado aos dias em que foi conhecida como Dama de Ferro.
Morreu como a mãe do 1% e a madrasta dos 99%.

Paulo Nogueira é jornalista, baseado em Londres, fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

Mais lidas da semana