sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

UMA FRUTA QUE NÃO CAIU! – IV



 Martinho Júnior, Luanda (textos anteriores)

10 – A situação em Cuba tornou-se insuportável com a ditadura de Fulgêncio Batista.

De facto não podia deixar de pesar a história da luta contra o colonialismo espanhol, nos finais do século XIX, que havia incendiado o nacionalismo, como seria importante a carga neo colonial norte-americana, que coarctou esse mesmo nacionalismo que teve em José Marti  sua maior personalidade.

Se antes já havia efervescência patriótica contra o neocolonialismo que se instalou, a ditadura de Fulgêncio Batista acabou por provocar mais energia e determinação aos patriotas cubanos, que perceberam que o único caminho era a rebelião armada, coligada a todos os esforços possíveis de apoio, em toda a extensão do país.

É nesse contexto que se forma a atitude patriótica e revolucionária, particularmente sensível nas universidades cubanas e no seu ambiente estudantil, ao ponto dos mais destemidos, sob a liderança de Fidel de Castro, então membro destacado do Partido Ortodoxo, atacarem o quartel Moncada, em Santiago de Cuba, a 26 de julho de 1956.

11 – Apesar do revés e da prisão dos sobreviventes, entre eles o próprio Fidel de Castro, o assalto a Moncada foi o sinal primeiro da revolução cubana, que tirou desde logo partido do isolamento do ditador.

Amnistiado em 1955, Fidel criou o Movimento 26 de Julho, a 12 de junho de 1955 e partiu para o exílio no México, onde preparou o desembarque de 82 guerrilheiros com a utilização do Granma.

Durante sua ausência o Movimento 26 de julho não parou de crescer em todo o país, aglutinando patriotas de várias sensibilidades políticas, recrutando particularmente jovens: o Movimento Nacional Revolucionário de que era dirigente Rafael Garcia Bárcenas e a Acção Nacional Revolucionária, dirigida por Frank Pais, vieram a integrar o Movimento 26 de julho.
  
12 – Com o crescendo da revolução garantido, o desembarque do Granma ocorreu no Oriente Cubano, em Playa de las Coloradas, em 1956 e saldou-se num quase desastre: os 82 homens desembarcados foram parcialmente dizimados pelas tropas de Fulgêncio Batita que fizeram inclusive uso da aviação; sobraram 12 que, sob o comando de Fidel de Castro se instalaram na Sierra Maestra, formando o núcleo duro que deu início à guerrilha revolucionária do Exército Rebelde.

Após o período minucioso de instalação e adaptação, em fevereiro de 1958 o Exército Rebelde já era composto por 400 guerrilheiros, que conheciam todos os meandros da Sierra Maestra, onde tinham construído um conjunto enorme de dispositivos defensivos, capazes de enfrentar o assalto de forças muito superiores em número e em qualidade de armamento.

Entre abril e agosto cerca de 10.000 homens de Fulgêncio Batista atacaram a guerrilha na Sierra Maestra e a sua iniciativa saldou-se numa derrota de tal ordem que a 31 de dezembro de 1958, Fulgêncio Batista abandona o poder e foge de Cuba.

Em “La contraofensiva estratégica” o Comandante Fidel de Castro sintetizou:

… “El 29 de Junio se asestó en Santo Domingo a las fuerzas de la tiranía al mando del Tte. Coronel Sánchez Mosquera el primer golpe anonadante, contra una de las tropas más agresivas que contaban. Con las armas y el parque ocupado en esa acción que duró 3 días, se inició el fulminante contraataque que en 35 días arrojó de la Sierra Maestra a todas las fuerzas enemigas, después de ocasionarles casi mil bajas, entre ellas más de 400 prisioneros. Las batallas de Santo Domingo, Meriño, El Jigüe, segunda batalla de Santo Domingo, Las Vegas de Jibacoa y Las Mercedes se sucedieron ininterrumpidamente. La etapa final de la lucha se convirtió en un intento desesperado de la tiranía por retirar de la Sierra Maestra lo que le quedaba de las fuerzas que había empleado en la ofensiva, para evitar que todas absolutamente fuesen cercadas y aniquiladas por nuestro Ejército. Hasta el campamento de Pino del Agua lo evacuaron sin esperar el ataque. Fue una fuga vergonzosa del frente de batalla, que en cualquier lugar del mundo habría sido suficiente para que un ejército con sentido de su honor y su prestigio, hubiese exigido en pleno la renuncia de su Estado Mayor completo por el número de vidas sacrificadas y el equipo bélico perdido torpe y criminalmente, porque los soldados que fueron víctimas de los errores del Mando Militar no tienen la culpa del desastre. Puede decirse que en el Puesto de Mando el pánico cundió primero que en las tropas y la retirada consecuentemente se convirtió en fuga precipitada.

Fue aniquilado el batallón 22 de Infantería, fue diezmado el batallón 11, el batallón 19 perdió en Meriño todas las arrias con las mochilas, víveres y parque, el batallón 18 fue obligado a rendirse por hambre y sed, la compañía G-4 fue destruida en Purialón, la compañía de la división de infantería fue aniquilada cerca de la desembocadura del río La Plata, la compañía 92 fue cercada y rendida en Las Vegas, junto con el Jefe de la compañía C de Tanques, la compañía P fue destruida en El Salto, el batallón 23 fue diezmado en Arroyones, el batallón 17 y tres batallones más de Infantería con fuerzas de tanques que fueron en su rescate, sufrieron severo castigo abandonando el campo de batalla después de 7 días de lucha, virtualmente en pleno llano.

En poder de las fuerzas rebeldes quedaron un total de 507 armas, incluyendo dos tanques de guerra de 14 toneladas con sus respectivos cañones, dos morteros 81, dos bazookas de 3 pulgadas y media, 8 morteros calibre 60, 12 ametralladoras trípode, 2 fusiles ametralladoras, 142 fusiles Garand, cerca de 200 ametralladoras Cristóbal y el resto Carabinas M-1 y fusiles Sprinfields, más de cien mil balas y cientos de obuses de morteros y bazookas, 6 Minipak y 14 microondas PRC-10.

Las fuerzas rebeldes sufrieron un total de 27 [31, registradas hasta la actualidad] muertos y medio centenar de heridos, algunos de los cuales murieron y están incluidos en la cifra de muertos señalados entre los que se encuentran: un Comandante Rebelde, René Ramos, Daniel, 4 Capitanes: Ramón Paz, Andrés Cuevas, Angelito Verdecia y Geonel Rodríguez, cada uno de los cuales escribió páginas de heroísmo que la Historia no olvidará. Este número elevado de Oficiales caídos revela el profundo sentido que del deber tienen los Oficiales rebeldes, combatiendo en primera línea en los puestos de mayor peligro”…

A 1 de janeiro de 1959 o Movimento 26 de julho assume o poder em Cuba, após a estrondosa derrota da ditadura e põe fim à neocolónia! 

Mapa: síntese do processo revolucionário até ao derrube do ditador Fulgêncio Batista e à tomada do poder.

Portugal: MENSAGEM DE NATAL DO FILHO DA MÃE E MENTIROSO COMPULSIVO


Bocas do Inferno

Mário Motta, Lisboa

Ontem houve a tradicional mensagem de natal do mentiroso compulsivo que por grande azar e desgraça é primeiro-ministro de Portugal, Passos Coelho. A TSF fez a peça alusiva e reporta. Sabemos que acima de 70% das palavras e promessas de Passos Coelho são mentira. Ele é um mentiroso compulsivo que devia tratar-se, ir ao psiquiatra. Os portugueses vítimas de tanta mentira ganharam o hábito de nem querer ouvi-lo, o que quanto a nós está errado. Que lhe chamem de filho da mãe para cima ainda vá mas não o ouvir nas mentiras que debita com o maior dos descaramentos faz com que se perca a noção da realidade. E a realidade é o facto de que os portugueses elegeram catastroficamente um grandessíssimo aldrabão para primeiro-ministro. Que para não estar solitário no género e no governo convidou para ministros e coadjuvantes outros mentirosos seus iguais.

É grave os governados pretenderem ignorar ou esquecer que Portugal está a ser governado por um bando de vigaristas, de mentirosos. Por isso a importância de escutar Passos atentamente para que não escape uma única mentira que diga. Só assim encontramos legitimidade para desconfiar permanentemente dele e não o eleger novamente. Nem a ele nem a outros mentirosos que se perfilam e que têm por denominação os do “arco da corrupção”… perdão, os do “arco da governação” – que todos sabem ser constituído por três partidos políticos que em exclusividade se têm governado em Portugal, PS, PSD, CDS.

Aquilo que disse Passos Coelho na mensagem de natal é mais do mesmo. Ele é exímio na colocação de voz, preocupa-se imenso com isso. Ele é exímio em aparentar que fala verdade e cuida de quase todos os pormenores para enganar. Daria um excecional vendedor de banha da cobra e assim não trairia nem prejudicaria Portugal como o tem feito. Disso também não está impune Cavaco Silva, um tenebroso presidente da República que a seu modo também mente ou foge cobardemente às questões refugiando-se nos seus tabus.

Nuvens negras. Expressão usada por Passos na mensagem televisiva. Até nisso mente figurativamente porque o que tem acontecido e continuará a acontecer com o atual governo e o atual PR são verdadeiros tufões que varrem e destroem o país e os portugueses quase sempre em cada decisão que tomam. O resultado está à vista. As causas da hecatombe tem nomes: na generalidade os tais do “arco da governação”, onde imperam Cavaco Silva, Passos Coelho, Paulo Portas, José Sócrates, Durão Barroso e muitos outros. Atualmente um novo candidato se perfila: António Costa e sus muchachos…

É de temer que os portugueses voltem a confiar naqueles produtores de tufões que há quatro décadas vêm arrasando Portugal. Até porque existem outras alternativas. Basta os eleitores portugueses estarem dispostos a dar um murro na mesa e tomarem por decisão reduzir o “arco da governação” a arco da oposição, não lhes dando hipótese de continuarem a arrasar Portugal e as nossas vidas em troca de enriquecimentos ilícitos que pretendem ocultar afirmando que “gastámos demais”. Não. Eles é que têm roubado demais e são as maiores nuvens negras que alguma vez pairaram sobre Portugal descarregando miséria e devastação para milhões em benefício de uns quantos e deles próprios. (MM / PG)

Primeiro-Ministro diz que portugueses têm agora menos nuvens negras e um futuro em aberto

O primeiro-ministro afirmou hoje que este será o primeiro Natal desde há muitos anos em que Portugal tem um horizonte aberto, sem acumulação de nuvens negras, mas avisa que importa proteger aquilo que foi conseguido com sacrifício.

Estas são duas das principais ideias presentes na tradicional mensagem de Natal do líder do executivo, Pedro Passos Coelho, na qual também avisou que o país deverá estar preparado em 2015 para «várias incertezas no plano externo, nomeadamente na Zona Euro e no leste europeu».

«Mas este será o primeiro Natal desde há muitos anos em que os portugueses não terão a acumulação de nuvens negras no seu horizonte. Será o primeiro Natal desde há muitos anos em que temos o futuro aberto diante de nós. Houve muita coisa que mudou em todo este período e finalmente começamos a colher os frutos dessas transformações», sustentou o primeiro-ministro.

Sobre a evolução do país a curto e médio prazo, Pedro Passos Coelho assinalou que há ainda «muitas escolhas a fazer" para fortalecer o nosso presente e preparar o nosso futuro».

«É muito importante proteger o que já conseguimos juntos, com grande esforço e sacrifício. Não queremos deitar tudo a perder. Queremos, sim, construir uma sociedade com mais emprego, mais justiça, menos desigualdades, em que não haja privilégios nas mãos de um pequeno grupo com prejuízo para todos», sublinhou.

Na sua mensagem de Natal, a última da presente legislatura, o primeiro-ministro referiu-se aos três últimos anos de Governo «fortemente marcados pela resposta ao colapso financeiro de 2011», embora acrescentando que 2014 foi já «um ano extremamente importante».

«Fechámos o programa de auxílio externo com uma saída limpa, sem precisar de assistência adicional. Termos concluído em maio deste ano o programa de assistência no calendário previsto, e nos nossos próprios termos, atestou a grande capacidade dos portugueses de responder aos maiores desafios. Ainda para mais quando, depois de termos concluído o programa de assistência externo, fomos obrigados a lidar com a grande adversidade que constituiu a necessidade de resolução de um grande banco nacional», disse, numa alusão ao colapso financeiro do Banco Espírito Santo (BES).

Passos Coelho considerou depois que a conclusão do programa da troika «ficará por muitos anos na nossa história como um marco decisivo de confirmação de um grande consenso nacional - que queremos viver numa sociedade moderna, europeia e aberta». «Depois das tremendas dificuldades a que fomos sujeitos, termos reconquistado a nossa autonomia, e termos posto em marcha um processo sólido de recuperação do país, é um feito que deve orgulhar cada um de nós», advogou.

Na perspetiva do primeiro-ministro, o país entrou já numa nova fase de «crescimento, de aumento do emprego e de recuperação dos rendimentos das famílias». «Sei que muitos portugueses ainda lidam com enormes dificuldades no seu dia-a-dia e que, portanto, é essencial o propósito de garantir que todos sentirão a melhoria das condições de vida», observou.

Porém, segundo Passos Coelho, em 2015 haverá «uma recuperação assinalável do poder de compra de muitos portugueses, a começar pelos funcionários públicos e pensionistas».

«Mas também de todos os portugueses em geral com o alívio fiscal que a reforma do IRS irá trazer, procurando especialmente proteger quem tem filhos a seu cargo e familiares mais velhos na sua dependência. Num contexto em que ainda não podemos ir tão longe quanto gostaríamos é muito importante que quem tem mais responsabilidades na sua vida familiar encontre um alívio fiscal maior. Também aqui estamos a falar de justiça e da construção de uma sociedade mais amiga das famílias», acrescentou.

TSF

Portugal: PCP acusa Passos de «mistificação» e diz que «nuvens negras» vão permanecer




O PCP considerou hoje que o único consenso que existe na sociedade portuguesa é para a demissão do Governo e defendeu que as «nuvens negras»» vão permanecer no horizonte do país em 2015.

De acordo com João Dias Coelho, membro da Comissão Política do PCP, em declarações à TSF, o primeiro-ministro «continuou a insistir na mentira e na mistificação» na sua mensagem de Natal.

João Dias Coelho referiu a título de exemplo que a entrada em vigor do Orçamento do Estado para 2015, em conjunto com o Tratado Orçamental da União Europeia, «terá consequências terríveis na vida concreta dos portugueses».

«Perante o grande apelo que o primeiro-ministro fez relativamente ao consenso nacional, o PCP diz que sim, que há um grande consenso nacional, que é a necessidade de demissão do Governo para uma outra política que lance o país num outro caminho. Portugal precisa de uma política patriótica de esquerda - e esse caminho está na força, na vontade e na luta do povo português», advogou.

Questionado sobre a ideia de Pedro Passos Coelho de que Portugal tem agora no horizonte uma menor acumulação de nuvens negras, João Dias Coelho contrapôs: «Cada um dos portugueses sabe bem que, no concreto, não há emprego - e essa é uma das nuvens negras que paira sob a vida do povo português».

«Temos mais de 2,5 milhões de pobres em Portugal, dos quais meio milhão são crianças. Portanto, essas nuvens negras vão continuar. Mas os portugueses podem contar com o PCP para prosseguir a luta pela demissão do Governo. Como o secretário-geral [Jerónimo de Sousa] costuma dizer, nem que seja por um dia, os portugueses ganham» com a demissão do Governo, afirmou o dirigente comunista.

Para o membro da Comissão Política do PCP, o caminho que o Governo tem seguido «é de declínio nacional e de empobrecimento dos portugueses». «Há soluções e o PCP defende uma política patriótica de esquerda», insistiu, antes de negar que exista em 2015 qualquer recuperação do poder de compra por parte dos portugueses.

«Isso é uma enorme mistificação, porque o Governo o que faz é dar com uma mão, mas, depois, tira com as duas. A carga fiscal será enorme particularmente em relação aos trabalhadores, já que o grande capital, como no que respeita ao IRC, continuará a beneficiar enormemente», acrescentou.

TSF

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ANGOLA 2015: DINHEIRO CONTINUARÁ NAS MÃOS DA FAMÍLIA PRESIDENCIAL




Em 2015, Angola vai estar no centro da diplomacia africana e para os dirigentes de Luanda trata-se de uma "nova imagem de Angola" que se afirma ao fim de 12 anos de paz. E ao nível interno que cenários se perspetivam?

O país transita para o novo ano com uma lista de problemas, principalmente aos níveis económico, social e político. A crescente desigualdade social e a baixa do preço do petróleo no mercado internacional poderão contribuir para o aumento do descontentamento.

Sobre as perspetivas para Angola em 2015, aos níveis internacional e interno, a DW África entrevistou o ex-primeiro ministro do país Marcolino Moco.

DW África: Angola vai presidir o Conselho de Segurança da ONU, vai enviar uma missão militar de 2000 homens para a RCA e Luanda vai receber, ao longo do ano, a Conferência internacional sobre a pirataria no Golfo da Guiné. Como vê o desempenho de Angola no centro da diplomacia africana em 2015?

Marcolino Moco (MM): Penso que é o resultado de um trabalho muito profícuo, com o Presidente José Eduardo dos Santos a centralizar todo o poder do Estado. Tem todos os meios para o fazer, está à beira das próximas eleições gerais que serão em 2017 e sabemos que os políticos teimam em relançar a imagem do Estado lá fora apesar dos problemas internos muito graves. Dentro do país vivemos problemas muito sérios que contrastam de forma drástica com os proventos que o Estado tem tido nos últimos anos e todos eles, no fundamental, passados para as mãos da família presidencial.

DW África: Isso quer dizer que os reflexos a nível interno não acompanharão essa política internacional de Angola?

MM: Vão acompanhar naquilo que for folclórico e não na melhoria de vida dos cidadãos angolanos. Por exemplo, os jovens vão continuar a ver as suas aspirações frustradas, as estradas para o interior continuarão esburacadas, os bairros de Luanda continuarão a brilhar para o inglês ver, como se costuma dizer, mas a juventude, as pessoas perdem o emprego e continuarão a ver os seus desideratos frustrados.

DW África: Apesar de toda essa visibilidade para 2015, Angola enfrenta no plano interno um Orçamento que condiciona alguns investimentos, principalmente na educação, saúde e infraestruturas. Acha que a instabilidade social vai continuar com manifestações da sociedade civil, nomeadamente dos jovens, para chamar a atenção das autoridades sobre esse cortes que vão ter lugar?

MM: Os cortes, e sobretudo a exuberância com que a elite presidencial se apresenta e que nem tem se quer, pelo menos, o cuidado de dissimular a arrogância do Estado... Isso vai continuar. A repressão vai assumir proporções cada vez maiores e infelizmente debaixo da carapaça da soberania as potências vão continuar a melhorar as suas relações com Angola com o pretexto de que é um ponto de base para a estabilidade regional, até que um dia aconteça algo à semelhança do que ocorreu no Burquina Faso. O problema das potências externas, que se resume apenas nos seus negócios, no caso de Angola o negócio de petróleo, é que não olham para esses problemas internos, que de um momento para o outro desencadeiam situações que depois são desagradáveis.

DW África: Com o preço do petróleo a baixar continuamente, como diversificar a economia para evitar a dependência das exportações angolanas? Como poderá ser a sustentabilidade do desenvolvimento de Angola em 2015?

MM: Não sei se esta baixa será suficiente para que as autoridades angolanas comecem a passar do discurso para a realidade da diversificação. Não acredito, porque ainda há muitas reservas, a elite no poder político em Angola está preocupada em açambarcar aquilo que é líquido. Promover a agricultura, a indústria, o turismo, tantas e tantas atividades com tantos recursos que Angola tem, isso leva muito tempo. O Presidente José Eduardo dos Santos não teve papas na língua e correu para estabelecer uma lei só para os outros cumprirem, sobre a integridade extrativa, sobre a tolerância zero: Acabou por ver que esse é um tempo de quem está no poder fazer a acumulação primitiva do capital, tal como os colonialistas fizeram há cinco séculos atrás. Este é que é o problema de África, é também o problema do oportunismo ocidental que não tem também nenhum interesse em corrigir isso, porque sempre através desta corrente estabelece muito do que esses ditadores chamavam neo-colonialismo. Mas a culpa naturalmente não é dos europeus, a culpa é da liderança africana que não está interessada em discutir o relacionamento correto com o Ocidente, que é uma parte do mundo indispensável para nós. A elite africana, depois da grande elite que libertou o país, não assume uma nova atitude para acrescentar algo de novo à libertação. Este é o problema de Angola que se encontra no extremo dos países africanos que seguem este caminho que é o de enriquecimento desmesurado da classe política.

DW África: 2015 poderá ser o ano em que a sociedade civil, os partidos e o cidadão comum devem começar a pensar na realização das eleições autárquicas previstas para 2017, ou será outra vez uma mera utopia?

MM: É tudo utopia, tudo é programado e realizado pelo Presidente José Eduardo dos Santos. As eleições autárquicas já deveriam ter tido lugar, em 2013 ele próprio tinha anunciado, ou em 2014 o mais tardar. Agora adiou para 2017, mas não criou nenhumas condições para o feito. Mas só ele é que controla todas essas condições. Os meios para qualquer tipo de eleições são uma ilusão, há um controlo absoluto da comunicação social, desde a comunicação pública, televisão, gerida inclusive pelos filhos do Presidente, a televisão privada dos filhos dos amigos do Presiente, a comunicação privada na totalidade comprada pela família presidencial e os amigos do Presidente. Não há condições nenhumas para que haja eleições adequadas, tanto as legislativas como as presidenciais. Até porque o Presidente José Eduardo dos Santos também acabou com o luxo da separação dos poderes. Costumo dizer que se fosse para fazer o bem para Angola, ok, mas é ganhar autoridade para resolver os problemas da família presidencial, crescendo desmesuradamente, etc. É isso que alguns académicos aqui e em Portugal chamam de carnavalização da Constituição, das eleições, ou seja, fazer da Constituição uma carapaça para enganar as pessoas.

DW África: Como político e cidadão angolano, o que o Marcolino Moco gostaria de desejar aos seus concidadãos para este ano que está prestes a começar? A sua agenda política para 2015 já está definida?

MM: É muito difícil definir agendas em Angola, porque todos os espaços estão ocupados por José Eduardo dos Santos. Vamos continuar a resistir perante os fenómenos mais escandalosos e tentar encontrar brechas para sempre, pela via pacífica, levarmos para o exterior a imagem do que se passa en Angola. Acredito que toda gente já conhece o que se passa em Angola, mas a elite política angolana está de tal maneira arrogante que se dá ao luxo de ameaçar Portugal e a França também. Na verdade será tarefa dos angolanos reverter isso e não acredito que num ano seja possível resolver alguma coisa. Mas conheço muitos angolanos, muitos jovens dentro do MPLA, as pessoas estão escandalizadas, estão cansadas e acham que não era necessário chegar a tanto. Costumo dizer que ninguém é santo, mas não se pode chegar onde chegámos a ponto de se comprometer o futuro de Angola. Portanto, vamos continuar a pensar na juventude que se vai agigantar, apesar da repressão os partidos políticos com muita dificuldade vão fazer o que podem, vão ser divididos com dinheiro, intrigas, porque há muito dinheiro nas mãos das pessoas do poder, enfim, esse será o nosso combate no próximo ano, um combate pacíifico, num país em que no meio da lusofonia estamos num patamar vergonhoso. Também ao nível da SADC, tirando talvez o problema do Zimbabué, Angola encontra-se num patamar terrível, onde temos um Presidente há 35 anos no poder e não dá sinal nenhum de abandonar esse poder. Não é que tenhamos inveja que ele continue no poder, mas há regras humanas e éticas que devem ser respeitadas. E acarretando isso consequências, porque um indíviduo no poder executivo há tantos anos pensa que o país é dele.

António Rocha – Deutsche Welle

“VAI-VOS ACONTECER O MESMO” - ameaças de morte aos jornalistas do Folha 8




Ameaças anónimas são habituais. Fazem, aliás, parte da galeria de troféus de qualquer jornalista que teime, como é o caso aqui no Folha 8, em dar voz a quem a não tem. Desta vez foram mais uma série delas, tomando como exemplo o que aconteceu ao jornalista brasileiro Marcos de Barros Leopoldo Guerra.

Orlando Castro – Folha 8 Diário (ao)

Recordemos o caso. O jornalista Marcos de Barros Leopoldo Guerra, que usava um blogue na Internet para denunciar casos de corrupção em Ubatuba, pequena cidade do estado de São Paulo, no Brasil, foi assassinado.

Marcos Leopoldo Guerra, jornalista e advogado de 51 anos, foi baleado à noite na cozinha da sua residência num bairro daquela pequena cidade do litoral, por desconhecidos que se deslocavam de motorizada e não roubaram nada à vítima, segundo a Polícia Militar do estado de São Paulo.

A polícia investiga a possibilidade do crime ter sido motivado por alguns dos artigos escritos pelo jornalista no seu blogue “Ubatuba Cobra”, nos quais questionava as autoridades por alegados desvios de recursos públicos.

De acordo com o comunicado da polícia brasileira, o pai da vítima relatou que se encontrava numa das divisões da casa de Marcos Leopoldo Guerra, e que ouviu uma motorizada a acelerar em frente à vivenda antes de serem disparados quatro tiros na cozinha.

Marcos Guerra, que tinha recebido ameaças de morte devido ao conteúdo dos seus artigos, morreu de imediato após receber os disparos no rosto, nas costas e no abdómen. Segundo testemunhas, os agressores foram dois homens que dispararam de fora da casa, através da janela da cozinha, depois de terem observado a vítima.

Fausto Cardoso, comissário da Polícia Civil de Ubatuba, disse que Guerra era um jornalista muito conhecido na cidade.

“Um das hipóteses que estamos a investigar é que o crime tenha sido motivado pelas publicações que fazia no blogue há vários anos e que continham denúncias”, disse, acrescentando que apesar de receber ameaças, conhecidas da própria família, o jornalista nunca fez queixa à polícia.

De acordo com estatísticas divulgadas recentemente em Genebra, pela organização Press Emblem Campain – que apela aos governos para proteger os jornalistas e punir quem os ataca -, o Brasil teve quatro profissionais assassinados este ano, e é o décimo país do mundo mais perigoso para quem trabalha nos media.

Por mail e por sms, os servos de alguém que tem uma noção de democracia e de Estado de Direito similar à da Coreia do Norte, aproveitou a época natalícia para nos avisar que “vai-vos acontecer o mesmo”. Sempre em português escorreito, atiram a pedra e escondem a pata. Normal, portanto.

Como o nosso compromisso sagrado é apenas com o que pensamos ser a verdade, a luta continua e a (nossa) vitória será certa, mesmo que alguns tombem pelo caminho. Talvez de derrota em derrota até à vitória final.

Recordemos agora e sempre Frei João Domingos quando este afirmou que os políticos e governantes angolanos só estão preocupados com os seus interesses, das suas famílias e dos seus mais próximos.

“Não nos podemos calar mesmo que nos custe a vida”, disse Frei João Domingos, acrescentando “que muitos governantes que têm grandes carros, numerosas amantes, muita riqueza roubada ao povo, são aparentemente reluzentes mas estão podres por dentro”.

Por tudo isso, Frei João Domingos sempre chamou a atenção dos angolanos para não se calarem, para “que continuem a falar e a denunciar as injustiças, para que este país seja diferente”.

Tendo em conta a crise de valores em que o país se encontra, Frei João Domingos sempre recomendou aos angolanos sem excepção para que pratiquem os valores que Jesus Cristo recomenda: solidariedade, justiça, amor, honestidade, dedicação ao outro, seriedade, paz, a vida, etc.

“O Povo sofre e passa fome. Os países valem pelas pessoas e não pelos diamantes, petróleo e outras riquezas”, dizia também Frei João Domingos.

O nosso país continua a ser palco de violações dos direitos humanos, nomeadamente contra todos aqueles que se atrevem a pensar de forma diferente do que está estabelecido pelo regime.

São muitos os relatos de violência, intimidação, assédio e detenções por agentes do Estado de indivíduos alegadamente envolvidos em crimes contra a segurança do Estado, ou seja, que pensam de forma diferente.

Por tudo isto, o Folha 8 continua de pé perante os donos do poder em Angola, aceitando – eventualmente – ficar de joelhos apenas perante Deus. É claro que, segundo o regime, José Eduardo dos Santos é um “deus”, mas perante esse e os seus capangas estaremos sempre de pé, por muitas e graves que sejam as ameaças.

*Título complementado por PG

ENQUANTO HÁ FORÇA - José Afonso




Enquanto há força
No braço que vinga
Que venham ventos
Virar-nos as quilhas
Seremos muitos
Cantai rapazes
Dançai raparigas
E vós altivas
Cantai também
Levanta o braço
Faz dele uma barra
Que venha a brisa
Lavar-nos a cara
Seremos muitos
Seremos alguém
Cantai rapazes
Dançai raparigas
E vós altivas
Cantai também

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