domingo, 24 de junho de 2012

O BOSQUE EM FLOR



Rui Peralta

O império dos drones (2)

As operações especiais

Com cada vez maior frequência as intervenções globais dos USA são executadas pelos grupos de operações especiais sob o comando do Almirante William McRaven. Em torno destes grupos cresce uma indústria florescente e uma mística patrioticamente comercial, bem visível na Conferência das Industrias para as Forças de Operações Especiais, anualmente realizada em Tampa, mas nunca tão frequentada como nos últimos dois anos, tendo na sua última realização a afluência de 8 mil visitantes, incluindo McRaven e Hillary Clinton (que visitou e discursou). É uma indústria muito lucrativa, que atravessa de forma incólume a crise mundial, produzindo armas, acessórios e equipamento para as forças especiais. É um mercado próspero e um excelente investimento. Basta ver que as operações especiais norte-americanas têm um budget de 2 mil milhões de USD por ano para compras de armas, munições, acessórios e equipamentos.

Interessante o breve discurso da dama Clinton nesta Conferência que, no meio dos sorridentes rapazes das operações especiais e sob o olhar atento de McRaven, falou sobre o importante papel destas forças na “diplomacia” (?) norte-americana (será que os diplomatas ianques deixarão de vir de Harvard e passarão a vir do curso de sargentos dos Navy Seal?).

A diplomacia drone

Na sua campanha para a reeleição do mandato presidencial, Obama relembra constantemente às audiências o seu êxito em retirar as forças norte-americanas do Iraque e promete fazer o mesmo no Afeganistão. Mas esta é apenas a ponta visível do icebergue. Por debaixo das águas ficam as guerras secretas realizadas pelas operações especiais.

O presidente Roosevelt durante a II Guerra Mundial transformou os bombardeiros no emblema do american way of war. O presidente Eisenhower desenvolveu a estratégia de Represália Massiva e converteu as bombas nucleares na peça central da política de segurança dos USA. O mesmo passa-se com a administração Obama e o uso das forças de operações especiais. O Comando de Operações Especiais dos USA (USSOCOM) com as suas forças operativas – Boinas Verdes, Rangers, Navy Seals, etc. – chegou ao pináculo da hierarquia militar norte-americana pela mão do prémio Nobel da Paz de 2009, Barack Obama.

O malogrado presidente Kennedy ofereceu aos Boinas Verdes os seus gorros característicos. Foi um gesto simbólico e decorativo. Mas Obama não se ficou por actos simbólicos. Proveu á comunidade das operações especiais um status privilegiado que lhes outorga a máxima autonomia e um enorme orçamento. É possível que o Congresso exija ao Pentágono que faça alguns modestos cortes orçamentais, mas está impossibilitado de o fazer ao USSOCOM, que obtém o que necessitar e sem muitas perguntas.

O orçamento do USSOCOM quadruplicou desde o 11 de Setembro de 2001, assim como o número de operações. Desde a mesma data duplicaram os quadros e os operacionais, tendo ao seu dispor actualmente 66 mil funcionários. Esta expansão teve início na administração Bush filho, que não teve, no entanto, a habilidade de criar os mecanismos legislativos que permitissem que estas forças assumissem o papel que desempenham actualmente. As operações especiais norte-americanas encontram-se, actualmente, em 120 países, realizando actividades que vão desde o reconhecimento, o contra terrorismo, a ajuda humanitária e a acçäo directa.

A substituição de forças convencionais por forças especiais como instrumento militar do imperialismo denota uma alteração cultura e politica nos USA de profundo alcance. Representa um fosso intransponível entre os militares e a sociedade, que será cada vez mais alargado, quanto mais especializadas forem as forças e secretas as operações. O povo norte-americano perdeu os mecanismos de controlo sobre as suas forças armadas, o que representa um golpe sem precedentes na democracia. Se até aqui as barreiras eram burocráticas e a informação permitia que as barricadas democráticas fossem erguidas sempre que as coisas saiam fora do controlo da soberania popular (caso das guerras do Vietnam e do Iraque), agora o controlo foi completamente abolido.

Acabou a responsabilização. A opinião pública só ficará a saber o que o estado decidir. Foi instaurado aquele que era um dos pesadelos dos pais fundadores dos USA. Este é o início de uma nova fase do imperialismo: A presidência imperial. A partir de agora qualquer presidente dos USA não necessita de prestar contas ao povo sobre a sua política externa, de segurança nacional e de defesa. Quando o presidente Clinton ordenou a intervenção na Bósnia e no Kosovo, ou quando Bush invadiu o Afeganistão e o Iraque, foram ao meios de comunicação social informar o povo e essas guerras foram seguidas pelos media. Tiveram de apresentar os seus planos ao Congresso, que decidiu da sua aprovação e serem supervisionados pelo Senado. Com Obama nada disso é necessário. Nem notificação, nem aprovação, nem supervisão, nem informar o povo. O presidente e seus acólitos ficam com as mãos livres.

A entrega da guerra a operadores especiais, a “especialistas”, rompe um vinculo – sempre ténue – entre a guerra e politica e converte esta em guerra. Recordam-se da guerra global contra o terror que Bush e Blair tentaram vender ao resto do mundo? Pois aqui está ela na versão aperfeiçoada pronta a servir. E Obama nem precisou de a vender…

A contagem das vitimas

Nos primeiros dias da “guerra contra o terrorismo” o general norte-americano Tommy Franks declarou que as suas tropas não faziam contagem de vitimas. O facto dos nomes das vitimas do 11 de Setembro de 2001 terem sido gravados numa pedra, faz com que seja surpreendente que a guerra empreendida em seu nome demonstre pouco interesse pelos mortos. Mais surpreendente é o facto de uma guerra que já fez uma década e que é uma guerra de invasão e ocupação, ainda não tenha produzido qualquer estudo sobre as vitimas directas e indirectas. Os mortos, feridos, desaparecidos e mutilados que não são norte-americanos nem da OTAN não fazem parte da equação imperialista e não entram nos custos da guerra.

Eis que a ONU e algumas ONG começaram, finalmente, a fazer este estudo, apesar de todos os obstáculos e dificuldades. E os números que já foram compilados são demonstrativos dos elevados níveis de destruição das actuais estratégias. Começando pelo Afeganistão, os estudos reunidos sobre a invasão de 2001 concluem que entre 4 a 8 mil civis afegãos morreram em consequência directa das operações militares. Não há dados para 2003 e 2005, mas em 2006 a Human Rights Watch (HRW) registou cerca de mil civis mortos em combates. Por sua vez no período entendido entre 2007 e Julho de 2011 a Missão de Assistência da ONU no Afeganistão (UNAMA) contabilizou cerca de 10 mil não combatentes mortos, directa ou indirectamente e já incluída o numero de feridos que morreram em consequência dos ferimentos.

O The Guardian, numa excelente reportagem sobre a guerra no Afeganistão, calcula que pelo menos 20 mil pessoas morreram no primeiro ano de guerra, englobando aqui os mortos devido aos combates, as mortes indirectas, os feridos mortos posteriormente em consequência dos ferimentos, os que morreram pela fome e pelas doenças causadas pela destruição das infraestruturas sanitárias. Por sua vez a Amnistia Internacional (AI), refere que 250 mil pessoas refugiaram-se em países vizinhos, em 2001 e que pelo menos 500 mil estão desalojadas, deambulando pelo país, desde o inicio dos combates.

No Iraque, o projecto Iraq Body Count (IBC) calcula 115 mil civis mortos entre 2003 e Agosto de 2011, mortes provocadas pelos combates. A OMS fala numa cifra de 150 mil civis mortos nos três primeiros anos da ocupação. A revista The Lancet adicionou a estes números da OMS e da IBC os mortos indirectos e calcula 600 mil mortos civis nos primeiros 3 anos. Enquanto isso a Opinion Research Business (ORB) calculava que desde 2007 existiram cerca de 1 milhão de mortes violentas e o Alto Comissariado da ONU para os Refugiados refere 2 milhões de iraquianos refugiados noutros países e outros 2 milhões de desalojados internos, desde 2007.

Para além destes dois Estados, que se encontram ocupados, após serem invadidos, a “guerra contra o terrorismo” estende-se a vários países, como o Paquistão, Iémen e Somália. É uma guerra em que se emprega drones e forças especiais, CIA e as forças armadas governamentais dos países em causa. Aqui a contagem das vitimas é dificultada pelo segredo das operações e pela sua natureza extrajudicial. A Oficina de Jornalismo de Investigação informa que entre 2004 e 2012 realizaram-se 357 ataques ao Paquistão (sendo mais de 300 os efectuados durante a administração Obama), o que originou a morte de cerca de duas mil e quinhentas pessoas. O Washington Post refere 38 ataques no Iémen, que mataram 241 pessoas. Não há cifras na Somália mas o New York Times confirma a existência de operações desde 2007.

Juntando todas estes dados dispersos a cifra mínima de civis não norte-americanos ou da OTAN supera as 140 mil mortes e a máxima chega facilmente a um milhão de pessoas, o que significa entre 14 mil a 100 mil mortes por ano. Para podermos ter uma dimensão mais exacta destes dados, o numero de civis mortos pelo Blitz nazi sobre a Grã-Bretanha, durante a II Guerra Mundial, foram de 40 mil.

Talvez agora se compreenda porque é que o general Franks não queria contabilizar as vitimas. É que se começarmos a contar perdemos noção de quem é terrorista…

Quando a História torna-se no inimigo

Ao longo do rio Mekong o espectáculo é de desolação. As florestas foram petrificadas, o silencio da morte perdura e a presença humana é constituída por pequenas mutações. No hospital pediátrico Tu Du em Saigão existem filas de garrafas com fetos grotescos. São os efeitos do Agente Laranja, um herbicida desfolhante que as tropas norte-americanas lançaram nas florestas e aldeias do Vietnam.

Em finais de Maio o presidente Obama nega tudo isto – o agente laranja, os massacres, as consequências nocivas da guerra para os combatentes norte-americanos, etc. – pela voz de Hopey Changey e considera que a “participação dos USA na guerra do Vietnam foi (…) um acto de bravura (…) nos anais da história militar (…).” Fica limpa a História. Quando não interessa altera-se e transformam-se derrotas em vitórias.

Pouco tempo depois o New York Times publicou um artigo onde documentava a forma como são selecionadas as vitimas dos ataques drones. Segundo este jornal, a coisa é feita á terça-feira num ritual de morte, em que são visionadas centenas de fotografias e de registos de identificação. Depois os alvos são escolhidos e as operações executadas. Em Las Vegas os operadores sentados frente aos écrans de computador direcionam os drones que chegados às suas posições disparam os Hellfire, que sugam o ar dos pulmões das vitimas e as explodem aos bocados. Curiosamente este revelador e excelente artigo não foi uma fuga de informação ou trabalho de exaustiva investigação. Foi uma operação de relações públicas, onde a administração Obama demonstrava tão seguros os norte-americanos podem ficar, enquanto Obama estiver no poder. A marca Obama é um dos produtos mais solicitados dos últimos tempos. Protector da riqueza, perseguidor dos que dizem verdades, ameaçador de países, propagador de vírus informáticos e agora assassino às terças-feiras.

Enquanto isso as ameaças contra a Síria, coordenadas entre Washington e Londres, atingem novos picos de hipocrisia. O jornal alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung identifica os responsáveis pelo massacre de Houla como sendo os próprios rebeldes, sendo as suas fontes…os rebeldes. Pois…foi uma operação psicológica (psy-ops como se diz na terminologia da especialidade) considerada brilhante e aperfeiçoada em relação às que foram cometidas na Líbia, Iraque e Afeganistão. Mas existem várias psy-ops (algumas implicam limpezas de memória histórica, como a da negação do agente laranja) e de vários níveis. Por exemplo: a promoção de Alastair Campbell, o colaborador de Tony Blair na invasão do Iraque. Nos seus diários, publicados no Guardian, a figura de Blair e dos media liberais mais respeitáveis são colocadas a salvo (mesmo limpando a memoria histórica) fazendo cair as culpas sobre o “demoníaco” Murdoch (como já está queimado…).

É uma realidade virtual esta que nos querem impor. Composta por amnésia histórica, mentira, omissão, transferência de dados e corrupção dos mesmos. Até os significantes e os significados são alterados…Sistemas políticos que prometiam justiça social foram substituídos pelo terror da austeridade. É uma guerra sem tréguas feita á democracia, onde os governos eleitos e sufragados pela soberania popular são manipulados pelos governos invisíveis das elites financeiras e económicas. É a total virtualização da realidade, um mundo psicopata...ou pelo menos querem dar connosco em doidos.

Fontes
Andrew Bacevich; The Short American Century; Harvard University Press.
Andrew Bacevich; Unleashed: Globalizing the Global War on Terror; http://www.tomdispatch.com
M. Reza Pirbhai; Body counts; http://www.counterpunch.org
John Pilger; History is the enemy as brilliant psy-ops became the news; http://www.johnpilger.com
The New York Times; 2012/02/19; 2012/05/29
The Nation; 2012/04/22
The Washington Post, 2012/05/03

CAVACO SILVA APUPADO EM GUIMARÃES E EM CASTRO DAIRE



Samuel Silva - Público

Não está fácil a relação do Presidente da República com a população de Guimarães. Cavaco Silva passou esta manhã pela segunda vez na cidade que é Capital Europeia da Cultura (CEC) e, tal como na cerimónia inaugural, voltou a ser apupado. Já em Castro Daire, a população que aguardava o Presidente para a inauguração de um novo Parque Urbano da vila dividiu-se num misto de aplausos e apupos.

Cerca de uma centena de pessoas aguardou o chefe de Estado à entrada da Plataforma das Artes, equipamento que inaugurou, contestando a promulgação o Código do Trabalho.

O momento de maior tensão aconteceu quando Cavaco Silva chegou ao espaço do antigo mercado municipal da cidade. Quando saiu o carro, o Presidente da República ouviu os manifestantes chamarem-lhe “gatuno” e fazendo soar apitos e buzinas que criaram um ambiente ensurdecer. Na boca de muitos dos populares, entre os eram reconhecíveis vários dirigentes regionais do PCP, estava a indignação pela aprovação do Código do Trabalho.

No final da inauguração da Plataforma das Artes, Cavaco não quis pronunciar-se sobre o protesto, justificando que fazê-lo seria “de uma grande injustiça para com Guimarães”, que inaugurava o investimento mais caro da CEC.

Na abertura, em Janeiro, o Presidente também já tinha sido alvo de protestos populares. As declarações acerca da sua pensão de reforma ainda estavam frescas e, no momento em que chegava à praça central da cidade para assistir ao espectáculo inaugural do evento, foi assobiado por centenas de pessoas. Esta manhã, a pensão voltou a ser referida durante os protestos. “Se 10 mil euros de reforma não te chegam, tanta viver com os nossos 300”, lia-se numa das faixas ostentadas pelos populares que o aguardavam à chegada a Guimarães. Um outro cartaz lembrava o protesto da semana passada na Póvoa de Varzim, dizendo que esta era a segunda oportunidade para ouvir o protesto.

O ambiente da recepção contrastava com a forma como Cavaco Silva foi acolhido na praça em que decorreu a inauguração do equipamento cultural. Os convidados aplaudiram o Presidente da República de pé, ainda que, nos primeiros minutos da sessão, se continuassem a ouvir as buzinas e apitos dos manifestantes. Mas quando o Coro de Guimarães e a Fundação Orquestra Estúdio interpretaram o Hino Nacional, o tom dos protestos baixou e praticamente desapareceu quando o presidente da Câmara António Magalhães entregou a Cavaco Silva a medalha de ouro da cidade.

Relacionado de hoje em Página Global

DEPUTADO AMIGO DE ESPIÃO E NÃO SÓ




Orlando Castro*, jornalista – Alto Hama* - em 20.06.12

O tribunal adiou hoje para o dia 26 a sentença do deputado socialista Ricardo Rodrigues acusado de atentado à liberdade de imprensa depois de se ter roubado (apropriado, tomado posse) dos gravadores de dois jornalistas da revista “Sábado” durante uma entrevista.

Cá para mim, num assumido (os direitos de autor são do ministro Miguel Relvas) “jornalismo interpretativo”, ao adiamento não é alheio o facto de, no caso das secretas, surgir agora uma mensagem enviada pelo ex-espião “made in Portugal” Silva Carvalho ao mesmo Ricardo Rodrigues, agradecendo o apoio prestado pelo deputado.

A mensagem é de Outubro do ano passado, altura em que a actuação de Silva Carvalho ao serviço das secretas estava a ser investigada e Ricardo Rodrigues era membro da comissão responsável pelo inquérito de investigação.

De acordo com o “Correio da Manhã”, que publica a mensagem onde Silva Carvalho agradece o apoio ao amigo socialista na situação com o jornalista Nuno Simas (hoje membro da Direcção da Lusa) e pede desculpa por não ter ligado mais cedo.

Pelo meio, refere-se a uma notícia que diz não ser brilhante, mas bem melhor do que a anterior e termina, ou não fosse um espião bem educado, com um abraço…

O caso dos gravadores afanados remonta a Abril de 2010, quando, durante uma entrevista, feita naquela coisa a que chamam Parlamento, Ricardo Rodrigues se levantou e abandonou a sala onde se encontrava, levando consigo os gravadores dos jornalistas Fernando Esteves e Maria Henriques Espada, depois de estes o terem interrogado sobre o seu alegado envolvimento num escândalo de pedofilia nos Açores.

Nas alegações finais do julgamento, o Ministério Público entendeu que o deputado socialista cometeu o crime de que vinha acusado na forma tentada, pedindo uma pena de multa.

Cá para mim, no âmbito do mesmo “jornalismo interpretativo”, Ricardo Rodrigues dava um excelente presidente da Entidade Reguladora da Comunicação Social, ERC.

Ao ser ouvido em tribunal, Ricardo Rodrigues alegou que se apoderou dos gravadores, porque era “o único meio de prova eficaz” da tentativa dos jornalistas para ”denegrir a sua imagem pública”. Impoluta imagem, acrescento eu.

O deputado socialista, que é advogado de formação e político de profissão, disse que se apoderou dos gravadores para ter uma “prova” sólida para apresentar ao juiz que viesse a decidir a providência cautelar, que intentou dias depois, sobre a publicação da entrevista, que, como disse, temia que viesse a ser “deturpada”.

O arguido - que na altura pertencia à Comissão Eventual para o Combate à Corrupção - relatou que as insinuações começaram com perguntas sobre o facto de, há 13 anos, ter sido advogado de uma mulher acusada de crimes de burla e falsificação, prosseguindo com uma interpretação abusiva que um dos jornalistas fez sobre um comentário seu sobre o engenheiro João Cravinho (PS).

Admitiu, contudo, que o que mais o transtornou foi terem abordado o caso de pedofilia em São Miguel, Açores - o chamado “caso Farfalha”, enfatizando que nunca teve nada a ver com o caso.

Em tribunal, a jornalista Maria Henriques Espada, na qualidade de assistente, alegou que todas as perguntas tinham relevância e interesse político, mesmo que juridicamente estivessem ultrapassadas.

Disse ainda que se cruzaram com Ricardo Rodrigues minutos depois no interior da AR e que o deputado respondeu que os gravadores iam ser entregues ao “fiel depositário”. A entrevista foi ainda gravada em vídeo/áudio, o que permitiu a sua publicação e divulgação volvido pouco tempo.

Ainda bem, contudo, que o assunto não preocupa a ERC. Mas creio que o deputado deveria pedir a opinião dos doutos membros da entidade. Ser-lhe-ia com certeza dada toda a razão.

* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.


DITOSA PÁTRIA QUE TAIS LADRÕES TEM




Helena Roseta contou um caso ocorrido com Miguel Relvas que tresanda a tráfico de influência. E, pasme-se, é uma farisaica arquitecta que gosta do protagonismo.

Já Domingos Nóvoa, quando denunciado por Sá Fernandes, virou a acusação contra o acusador. Percebe-se por estas reacções, sem pejo em defender um ministro mentiroso e corrupto, o que aconteceu nos tribunais. Em Portugal corrupção é mera cunha, fazem todos, deixa-se andar, aponta-se o dedo a quem denuncia, e daqui a meia-hora estão a dizer mal da Grécia, essa sim, a pátria das poucas vergonhas.

E o Ministério Público, dorme aonde?


Primeiro-ministro ignorou que país tem um milhão de desempregados, acusa PS


Uma oposição de Faz de Conta
SIC Notícias - Lusa

O PS acusa o primeiro-ministro de ter ignorado hoje, no balanço do primeiro ano de governação, que o país tem mais de um milhão de desempregados e de as falências terem aumentado 55 por cento desde que tomou posse.

"O primeiro-ministro falou do desemprego como uma estatística e de forma resignada", acusou o secretário nacional socialista, João Ribeiro, em declarações à agência Lusa.

Passos Coelho, disse o dirigente do PS, "não reconheceu que o falhanço das previsões de receita fiscal e de aumento do desemprego são prova do falhando da sua receita" governativa.

O primeiro-ministro defendeu hoje que "não há forma de vencer uma crise" sem "problemas sociais ou políticas restritivas", mas que Portugal está "bem mais próximo de ultrapassar" o estado de "emergência"ádo que há um ano.

"Se nuns aspetos as coisas correram melhor do que previsto e noutros aspetos pior, isso não significa que não estejamos a caminhar na direção certa e de que os resultados não sejam globalmente positivos, como é importante que aconteça e como os nossos credores externos têm reconhecido regularmente", considerou Passos.

O PS realça antes que "encerram 19 empresas todos os dias e o aumento do IVA na restauração para 23 por cento eliminou 33 mil postos de trabalho", prosseguiu João Ribeiro, nas críticas às declarações do primeiro-ministro e do ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas.

"Assistimos a 38 minutos de propaganda e profunda insensibilidade para com as vítimas da austeridade deste Governo", acrescentou, classificando as intervenções como "dois discursos de autossatisfação que ignoraram o balanço mais realista: um país sem economia, sem emprego e um Governo sem visão europeia".

O Governo "faz como a avestruz em vez de reconhecer os erros da sua receita de austeridade a qualquer preço", considerou ainda João Ribeiro.

ERC, TRIBUNAL CONSTITUCIONAL E ASSOCIADOS, AS SEITAS NOS PODERES



António Veríssimo

OS HOLOFOTES SOBRE CARLOS MAGNO

Cidadão comum honesto, com a cabeça no lugar, jamais poderá considerar que indivíduos nomeados pelos partidos (CDS, PSD, PS) do chamado arco dos poderes sejam justos e imparciais. Isso mesmo é aquilo que vimos e temos em registo acerca do Tribunal Constitucional e, mais recentemente, acerca da ERC, a sabuja Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Uns e outros, noutros organismos que não os citados mas pelos portugueses conhecidos são farinha do mesmo saco, como se diz, ou seitas nos poderes.

Sobre o Tribunal Constitucional, para os portugueses, a credibilidade já se foi. Sobre a Justiça em Portugal também a credibilidade é praticamente nula, sobre a ERC, com o maioral de simpatia de Miguel Relvas e do PSD, Carlos Magno, é mais do mesmo. A babuja sebenta e a obediência a interesses partidários e pessoais com vista a promoções e a vantagens inconcebíveis vão sendo detetadas no decorrer dos anos. Não é por acaso que sabemos que um pobretanas e medíocre que pratique o servilismo partidário e no interesse de outros dessas mesmas seitas ascendem fácil e rapidamente a grandes vidas de nababos principescamente remunerados e mordomizados. Há-os de todos as profissões, que preferem aquelas subserviências em troca de riquezas e ascensões que de outro modo seriam inalcançáveis.

Sob esse estatuto também há tempos que vimos jornalistas a aderir, sem escrúpulos, sem rebuços, capazes de perderem o capital que angariaram ao longo das suas profissões. Há os que se referem a Carlos Magno como um dos desses, agora que está nomeado para ERC pelo PSD, por Relvas, de quem, dizem, é “amigo do peito”. A saber, Carlos Magno era, era, era… um bem reputado e promissor bom profissional de praça jornalística. Mas a reputação nem sempre corresponde a muitos milhares de euros nem a outras vantagens proporcionadas pelos referidos servilismos. “Que se lixe o jornalismo”, que terá dito (talvez em surdina). “Vai longe este rapaz”, dizem outros… Que mal tem ele ser amigo do peito de Miguel Relvas? Que coisa!

Carlos Magno com os holofotes sobre si. Quanto a muitos de modo desproporcionado, até injusto. Provavelmente uma obsessão com Carlos Magno, do PSD, quando há outros na ERC que também foram nomeados pelo PSD e, obviamente, pelo PS. Aquela “coisa” a que chamam seitas das seitas partidárias. Sendo assim quem perde é a democracia. Por isso e por outras é que a democracia em Portugal está moribunda. Há mesmo casos que nos levam a suspeitar de autênticos sindicatos do crime nas ilhargas partidárias, Não é um, nem dois, nem só três casos que caíram ou que se perspetiva caírem em tribunal… Oh, esses tais tribunais e alguns juízes também na “vox populi” estão em absoluto descrédito.

 E agora, hoje, deparamos com uma notícia no jornal Expresso que esmiúça um detetado “lapso” da ERC subordinada ao título em baixo e nos dá conta que a decisão final da ERC sobre Relvas saiu incompleta… Tudo porque: “A versão final do documento deveria incluir a frase "a ERC considera, tal como a direção do 'Público', que a pressão foi inaceitável, e considera também que a resposta da direção do 'Público' foi proporcional à ameaça". Um “lapso”. Um lapso? Uma conveniência a que se ouve chamar “atirar areia para os nossos olhos”. Leia-se o Expresso, caso surjam aqui incrédulos.

Decisão final sobre Relvas saiu incompleta


Texto final não tinha escrito que regulador considerava inaceitável a ameaça do ministro ao "Público".

A deliberação da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) relativa às alegadas pressões ilícitas de Miguel Relvas sobre o jornal "Público" saiu incompleta.

A versão final do documento deveria incluir a frase "a ERC considera, tal como a direção do 'Público', que a pressão foi inaceitável, e considera também que a resposta da direção do 'Público' foi proporcional à ameaça". Mas um lapso dos serviços do regulador acabou por não atualizar a versão anterior - e que acabou por ficar como definitiva.

- Leia o artigo completo na edição impressa do Expresso.

Relacionado com Relvas em Página Global

Portugal: PR CAVACO SILVA NA ROTA DAS VAIAS E DOS APUPOS




A comunicação social é relativamente branda com as vaias e apupos com que sistematicamente os portugueses o acolhem nas suas visitas estilo “corta fitas” (Américo Thomaz) a inaugurações e a outras superficiais passeatas que vai fazendo - à nossa custa e a medo - pelo país. Ainda bem, porque cumpre~se o "país dos brandos costumes".

A rota das vaias e apupos de Cavaco Silva já fez com que por receios a sua viatura e comitiva retrocedessem para Belém a meio de percurso de passeata a uma escola de Lisboa que por isso foi anulada. Quem tem cu tem medo, afirma-se em adágio popular português. E é bem verdade. Hoje Cavaco esteve mais afoito. O hábito de ser mal recebido já mora com ele. Pois é. O que custa mais é a Primeira Vez… Mais suscetivel de acontecer a quem é, sem pudor, PR só de uns quantos (poucos). (Redação PG – AV)

Manifestação recebeu Cavaco em Guimarães


Cerca de cem manifestantes aguardaram a chegada do Presidente da República a Guimarães, fazendo muito barulho e empunhando cartazes contra o código laboral promulgado por Cavaco Silva na semana passada.

Nos cartazes dos manifestantes podia ler-se "Cavaco os 10 mil euros de reforma não chegam, mas vive com os nossos 300 euros".

O Presidente da República foi a Guimarães para inaugurar a Plataforma das Artes e da Criatividade, onde vai recebeu a medalha de ouro da cidade. A distinção a Cavaco Silva foi decidida na quinta-feira com o voto contra do vereador da CDU.

Durante a inauguração, o presidente da República sublinhou que a "ligação" entre criatividade e empreendorismo pode contribuir para "melhorar" a qualidade de vida da população e "até estimular a empregabilidade".

"Essa ligação contribuirá para melhorar a qualidade de vida e as condições de vida da população do Norte do país e até estimular a empregabilidade, principalmente dos mais jovens", afirmou.

Minutos antes, no discurso de inauguração do edifício e de agradecimento pela distinção, Cavaco Silva salientou a "necessidade" do Norte do país "se afirmar como um espaço privilegiado de crescimento das indústrias criativas em articulação com a atividade empresarial".

Segundo o presidente da Republica "desta articulação irá decerto resultar uma renovada dinâmica para as empresas" e "constituirá também um importante elemento de empregabilidade de jovens talentos".

Confrontado com os protestos ouvidos aquando da chegada à Plataforma das Artes e da Criatividade, Cavaco Silva escusou-se a comentar dizendo, porém, que "vivemos numa democracia".

Timor/Eleições: É possível confronto de ideias sem violência - Mário Carrascalão



MSE - Lusa

O deputado timorense Mário Carrascalão disse em entrevista à agência Lusa que as eleições legislativas de 07 de julho vão ser uma lição para Timor-Leste porque vão mostrar que é possível haver confronto de ideias sem violência.

"Estas eleições vão ser sobretudo uma lição para Timor e depois também vão convencer os próprios timorenses que é possível fazer eleições em que todas as suas ideias são expostas, confrontadas, mas sem criarem situações de violência, de confrontações físicas ou agressões orais e verbais que levam a situações mais graves", afirmou o antigo vice-primeiro-ministro.

Mário Carrascalão considerou também que o escrutínio vai mostrar que Timor-Leste está numa fase mais avançada do que seria previsto para um país com apenas 10 anos de exercício da democracia.

Nas terceiras legislativas de Timor-Leste participam 21 partidos e coligações, que se encontram em campanha eleitoral até 04 de julho.

Questionado sobre a tendência dos eleitores para 07 de julho, o também vice-presidente do Partido Social-Democrata (PSD, liderado por Zacarias da Costa) disse que o natural é que os que gastaram mais dinheiro venham a ter uma melhor posição nos resultados eleitorais.

"Eu acho que não seria estranho para ninguém se o CNRT (Conselho Nacional da Reconstrução de Timor-Leste, liderado por Xanana Gusmão) vier a ganhar as eleições", disse, destacando que aquela formação partidária está a gastar muito dinheiro em publicidade.

Para o deputado timorense, uma situação que não deve ser excluída no futuro cenário político é uma aliança entre o CNRT, a Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin, liderada por Mari Alkatiri) e o Partido Democrático (PD).

"O que eu não consigo vislumbrar é a forma de Mari Alkatiri (líder da Fretilin) vir a ser o vice do Xanana Gusmão, ou o Xanana Gusmão vir a ser o vice de Mari Alkatiri", salientou.

"Eles querem que existam apenas três partidos políticos em Timor e nunca se referem ao PSD", afirmou Mário Carrascalão, considerando que o seu partido vai consolidar a sua posição e terá de ser tido em conta numa possível coligação governamental.

O PSD integra atualmente a coligação governamental Aliança da Maioria Parlamentar (AMP, liderada por Xanana Gusmão). Nas eleições de 2007, o PSD concorreu coligado com a Associação Social-Democrata Timorense (ASDT, do falecido Xavier do Amaral).

No atual Governo, o PSD tinha Mário Carrascalão como vice-primeiro-ministro, mas que se demitiu por divergências com Xanana Gusmão, e ministros nas pastas dos Negócios Estrangeiros, Economia e Justiça.

Timor/Eleições: Mário Carrascalão diz que apoio de Ramos-Horta a PD é forma de vingança



MSE - Lusa

O deputado timorense Mário Carrascalão considerou que o apoio do ex-Presidente José Ramos-Horta ao Partido Democrático (PD) nas legislativas de Timor-Leste, a 07 de julho, é uma "forma de vingança" à "traição política" do primeiro-ministro, Xanana Gusmão.

"Não quero ser extremista na minha apreciação. À primeira vista é um apoio muito estranho, mas pensando melhor e friamente vejo que é uma forma de vingança", afirmou Mário Carrascalão, em entrevista à agência Lusa.

Nas eleições presidenciais, realizadas em março e abril, o Conselho Nacional da Reconstrução de Timor-Leste (CNRT), do primeiro-ministro Xanana Gusmão, apoiou o atual Presidente, Taur Matan Ruak.

O apoio de José Ramos-Horta ao PD foi anunciado a seguir à primeira volta das eleições presidenciais e após não ter conseguido passar à segunda volta e ser reeleito para o cargo.

Este mês, o antigo Presidente timorense e o PD selaram o acordo com a assinatura de um memorando de entendimento, que incluiu também a Associação Social-Democrata Timorense (ASDT).

"Se virmos as coisas com a cabeça fria, verificamos que há uma espécie de tripla 'traição' cometida pelo líder do CNRT (Conselho Nacional da Reconstrução de Timor-Leste), que é o primeiro-ministro", afirmou o também vice-presidente do Partido Social-Democrata (PSD).

Segundo Mário Carrascalão, a primeira traição política cometida por Xanana Gusmão foi contra o seu atual vice-primeiro-ministro, José Luís Guterres, que se candidatou às presidenciais sem o seu apoio.

"A segunda traição é praticada em relação ao presidente do parlamento (Fernando La Sama de Araújo, líder do PD), um dos principais partidos da Aliança de Maioria Parlamentar, e que tem viabilizado muitos projetos de lei do Governo", disse o também vice-presidente do Partido Social-Democrata (PSD, liderado por Zacarias da Costa.

A terceira traição, acrescentou Mário Carrascalão, foi feita a José Ramos-Horta.

"O antigo Presidente tinha como posição inicial de não se recandidatar ao segundo mandato, mas ganhou coragem para o fazer depois de uma reunião com os parceiros do desenvolvimento em que o primeiro-ministro apresentou o plano estratégico de desenvolvimento nacional e disse aos presentes que quem iria implementar aquele plano seria ele e Ramos-Horta", afirmou.

Segundo o deputado social-democrata, após ter dado a entender que o apoiava Ramos-Horta, o primeiro-ministro decidiu apoiar Taur Matan Ruak.

Nas terceiras legislativas de Timor-Leste participam 21 partidos e coligações, que se encontram em campanha eleitoral até 04 de julho.

Timor/Eleições: PD quer criar linha de crédito para financiar estudantes universitários



MSE - Lusa

O presidente do Partido Democrático de Timor-Leste, Fernando La Sama de Araújo, disse que se vencer as legislativas de 07 de julho os estudantes vão beneficiar de uma linha de crédito para frequentarem as universidades.

Em entrevista à agência Lusa, Fernando La Sama de Araújo admitiu que os programas de quase todos os partidos candidatos às eleições são iguais, mas que o PD se destaca por querer acelerar o desenvolvimento e criar uma linha de crédito para os estudantes sem dinheiro frequentarem o ensino superior.

O PD é considerado o partido dos jovens e nas legislativas de 2007 ficou em quarto lugar com 11,30 por cento dos votos, tendo integrado a coligação governamental da Aliança da Maioria Democrática, chefiada por Xanana Gusmão e que governou o país nos últimos cinco anos.

"Como é um país novo, todos os partidos políticos estão a falar da educação, também o PD fala da educação, infraestruturas, agricultura, saúde e da boa governação", disse.

Para Fernando La Sama de Araújo, o PD é "diferente dos outros", porque "aposta na aceleração do desenvolvimento, porque os velhos querem assistir, ver com os seus próprios olhos o desenvolvimento do país".

"Apostamos muito na educação e vamos criar subsídios para as crianças entre a escola primária e secundária. Para os universitários, vamos criar uma linha de crédito para estudarem e só depois de conseguirem trabalho é que pagam", disse Fernando La Sama de Araújo.

Segundo o também presidente do parlamento timorense, esta é uma forma de "garantir a igualdade de oportunidades para todos".

"Se não avançarmos com esta ideia, então há lamentações de que os filhos dos diretores, dos ministros e dos deputados têm mais vantagem do que o filho do maubere descalço que não tem oportunidades, nem dinheiro para sustentar os seus filhos nas universidades", afirmou.

Concorrem às terceiras legislativas de Timor-Leste 21 partidos e coligações, que se encontram em campanha eleitoral até 04 de julho.

Cabinda é e continuará a ser uma espinha na garganta da ancestral cobardia de Portugal...




Orlando Castro*, jornalista – Alto Hama*

Só por manifesta falta de seriedade intelectual, típica dos sucessivos governos portugueses, é que se pode dizer que Cabinda é parte integrante de Angola.

As autoridades angolanas detiveram vários civis na sequência de uma retaliação ao ataque, reivindicado por duas facções dos independentistas de Cabinda, à escolta militar angolana à equipa de futebol do Togo, no dia 8 de Janeiro de 2010.

"Recebemos indicações concretas que detenções de membros da sociedade civil já estão em curso", afirmou logo no dia 14 Lisa Rimli, especialista em questões africanas da organização não-governamental Human Rights Watch (HRW), à agência Lusa.

Logo a seguir soou o alerta que indicava que um dos próximos detidos seria o advogado Francisco Luemba, "aparentemente sob acusação de incitação à violência, com base em matérias incluídas num livro de história publicado em 2008 do qual é autor".

"Francisco Luemba tem tido um papel importante na defesa de uma série de detidos acusados de crimes contra a segurança do Estado. Se esta detenção se concretizar, abrirá um precedente muito preocupante", advertiu Rimli. Concretizou-se mesmo.

A organização reconhece o direito do Governo angolano em reforçar a segurança em Cabinda e em responsabilizar os responsáveis pelo ataque que resultou na morte de três elementos da comitiva, mas destaca que todo o processo deve ser efectuado “respeitando os direitos fundamentais das pessoas, incluindo as liberdades cívicas e políticas como a liberdade de expressão".

A activista dos direitos humanos, que esteve em Cabinda em Novembro de 2009, desafiava também as autoridades angolanas a "investigar e responsabilizar os membros das forças de segurança alegadamente envolvidos em actos de tortura contra suspeitos rebeldes".

A HRW notava na altura "alguns sinais de abertura" por parte de Luanda desde a publicação de um relatório da organização, em Junho de 2009, sobre actos de tortura em Cabinda por militares. No entanto, a organização lamentava a falta de uma investigação para responsabilizar criminalmente os militares alegadamente envolvidos.

Lisa Rimli afirmou temer que "operação militar de maior envergadura" tenha lugar em Cabinda depois do fim da Taça das Nações Africanas (CAN2010), após a saída dos jornalistas estrangeiros, e uma vaga de repressão contra civis "sob a acusação de alegadamente promoverem ideias independentistas".

Esta ONG recusou-se a utilizar a palavra ‘terrorista’ para classificar o ataque à selecção togolesa, por considerar o termo controverso, pouco claro e politizado. A HRW explicava os acontecimentos como "um ataque armado que alvejou civis, violando o direito humanitário internacional".

Lisa Rimli salientou que este é mais um de vários casos que têm acontecido nos últimos meses e que as forças de segurança tentaram omitir, intimidando "jornalistas para não divulgarem notícias relacionadas com ataques armados, até recentemente, particularmente antes do CAN".

A HRW denunciou em Dezembro de 2009 a detenção de dois jornalistas, aparentemente por noticiar sobre a segurança em Cabinda, que foram libertados poucas horas depois.

"O Governo [angolano] desde 2006 tem afirmado que a guerra [em Cabinda] acabou, atribuindo os ataques armados esporádicos a 'bandidos armados’,[mas] muitas pessoas têm criticado a credibilidade e efectividade deste acordo", observou a activista.

O ataque foi reivindicado primeiro pelas Forças de Libertação do Enclave de Cabinda - Posição Militar (FLEC-PM), liderada por Rodrigues Mingas, e, mais tarde também pela ala militar da Frente de Libertação do Estado de Cabinda (FLEC).

No entanto, a ala política da FLEC, através do secretário-geral, Joel Batila, condenou o ataque e recusou qualquer envolvimento do movimento independentista que dirige.

Meses antes de ser preso, e na sua qualidade de advogado e professor universitário, Francisco Luemba disse ao Jornal português PÚBLICO que "a grande maioria dos cabindas quer a independência e apenas aceitando a autonomia como uma solução transitória, uma etapa".

Francisco Luemba recordou nas declarações ao PÚBLICO que, quando em Julho de 2008 o então ministro angolano das Obras Públicas, Higino Carneiro, esteve em Cabinda num comício do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), ouviu dos jovens gritos de "Independência!".

Nesse mesmo trabalho do jornalista Jorge Heitor, é dito que já em 2001 o então bispo de Cabinda, D. Paulino Fernandes Madeca, dissera ao PÚBLICO que a maioria dos cidadãos residentes era a favor da independência. "Na cidade menos, mas no interior é mais radical o desejo independentista”, afirmou o bispo.

Creio que só por manifesta falta de seriedade intelectual, típica dos sucessivos governos portugueses, é que se pode dizer que Cabinda é parte integrante de Angola.

Cabinda – repita-se - foi comprada pelo MPLA nos saldos lançados pelos então donos do poder em Portugal, de que são exemplos, entre outros, Melo Antunes, Rosa Coutinho, Costa Gomes, Mário Soares, Almeida Santos.

É claro que, tal como em Timor-Leste, até à vitória final, continuará a indiferença (comprada com o petróleo de Cabinda), seja de Portugal, da Comunidade de Países de Língua Portuguesa, da ONU ou de qualquer outra coisa que tenha preço.

E é pena, sobretudo quanto a Portugal, que à luz do Direito Internacional ainda é a potência administrante de Cabinda. Lisboa terá um dia (quando deixar de ter na Sonangol, MPLA, clã Eduardo dos Santos um faustoso investidor) de perceber que Cabinda não é, nunca foi, nunca será uma província de Angola.

Por manifesta ignorância histórica e política, bem como por subordinação aos interesses económicos de Angola, os governantes portugueses fingem, ao contrário do que dizem pensar do Kosovo, que Cabinda sempre foi parte integrante de Angola. Mas se estudarem alguma coisa sobre o assunto, verão que nunca foi assim, mau grado o branqueamento dado à situação pelos subscritores portugueses do Acordo de Alvor.

Embora seja suspeito porque sou o autor do prefácio, sugiro aos responsáveis portugueses que leiam o livro “O problema de Cabinda exposto e assumido à luz da verdade e da justiça”, de Francisco Luemba.

Este livro de Francisco Luemba é uma completa enciclopédia sobre este território que tarda em ser país. Do ponto de vista histórico, documental e científico é a melhor obra que até hoje li sobre Cabinda. Espero, por isso, que tanto os ilustres cérebros que vagueiam nos areópagos da política internacional como os que se passeiam nos da política angolana e portuguesa, o leiam com a atenção de quem – no mínimo – sabe que os cabindas merecem respeito.

Francisco Luemba mostra, com a precisão de um Mestre, exactamente isso, mau grado a manifesta incapacidade de entendimento dos que, um pouco por todo o lado, se julgam donos da verdade e querem mandar para campos de reeducação todos aqueles que pensam de maneira diferente.

* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.

Título anterior do autor, compilado em Página Global: VIVER SEM IR AO MÉDICO E SEM COMER

Angola: YOLA ARAÚJO MAIS POPULAR QUE EDUARDO DOS SANTOS



Rafael Marques de Morais – Maka Angola

O MPLA lançou ontem, 23 de Junho, no Estádio 11 de Novembro, a sua campanha para as eleições de 31 de Agosto, sob forma de homenagem ao seu presidente, José Eduardo dos Santos.

Alguns dos cantores mais populares, como Yuri da Cunha e Yola Araújo, entre outros, tornaram a festa do MPLA em actividade bastante agradável e atraente para a juventude, que vibrou bastante. No últimos anos, os actos de mobilização do MPLA têm sido definidos pela sua habilidade em juntar cantares, beberetes e uma formidável máquina de coacção para obrigar os funcionários públicos a participar.

No entanto, a homenagem ao Presidente, para além da fanfarra reportada em directo, pela comunicação social do Estado, com exageros que lembram a imprensa norte-coreana, revelou um dado interessante.

Os militantes do MPLA dedicaram mais aplausos à Yola Araújo e outros cantores do que ao Presidente da República e do seu partido, o candidato José Eduardo dos Santos. Fora do estádio, o governador de Luanda e primeiro secretário do MPLA, Bento Bento, usou os seus dons de mobilizador para pedir, reiteiradas vezes aos militantes, para que estes aplaudissem o Presidente de forma efusiva. Estes responderam sem entusiasmo. O Presidente terá entendido a mensagem e, apesar de ter sido apresentado para falar aos seus apoiantes, apenas dedicou-lhes um aceno.

O MPLA havia prometido 500 mil participantes no acto e ficou aquém dos 10 porcento da meta estabelecida, apesar de ter o absoluto controlo da comunicação social, dos recursos do país e do Estado. Após a apresentação do Presidente no interior do 11 de Novembro, o “mega-acto” de massas que se esperava no exterior não correspondeu às expectativas. Milhares de cidadãos sairam do estádio para os autocarros e não manifestaram qualquer interesse em ouvir a mensagem do Presidente, no exterior. Bento Bento e os mestres de cerimónia convidaram, várias vezes, os militantes a não retirarem-se do local, mas sem sucesso.

Foi um embaraço. Bento Bento e Bento Kangamba anunciaram que o Presidente falaria para os apoiantes em vão.

A lição que se pode tirar desta homenagem é a de que a diversão não deve substituir o discurso político. Com a estratégia de usar sempre grandes cantores para atrair multidões, foi criado o hábito de ir aos comícios do MPLA para ouvir os cantores e não os políticos. Vão também pelo churrasco e pela cerveja e acabam por ignorar as grandes realizações que o governo do MPLA tem anunciado na comunicação social do Estado.

Com a Yola Araújo e o Yuri da Cunha mais populares do que o Presidente, num comício do MPLA, é tempo para dizer que este partido deve rever o seu conceito de comunicação com as massas. Sobretudo, deve acordar para a realidade da mudança de consciência no seu próprio seio.

* Maka Angola é dedicada à luta anti-corrupção em Angola. Maka Angola é um espaço de denúncia de abusos de poder e uma voz contra a exclusão sócio-económica e a violação dos direitos humanos em Angola.

Mais lidas da semana