domingo, 4 de agosto de 2013

Portugal: Ou o secretário de Estado do Tesouro é um arrependido ou tem de sair

 
 
 
Eduardo Oliveira Silva – Jornal i, opinião
 
Quanto ao caso Rui Machete, evolui como previsto, mas não deve afectá-lo mais
 
Depois de Maria Luís Albuquerque, foi a vez do secretário de Estado Joaquim Pais Jorge de cair nas malhas dos swaps. Como este jornal tinha referido desde logo, Pais Jorge tinha vendido aqueles produtos, mas, soube-se agora pela “Visão”, a sua intervenção tinha o alegado intuito de maquilhar o défice do Estado, através de operações que não foram, porém, concretizadas. Apesar disso o assunto é melindroso. E das duas uma: ou o secretário de Estado está no governo ao jeito dos arrependidos das séries americanas e colabora com a identificação e a denúncia de todas as operações feitas com esses produtos, ou então tem mesmo de sair do governo de que foram exonerados dois secretários de Estado, Juvenal Peneda e Braga Lino, por terem comprado esses produtos quando eram gestores públicos.
 
Ora é óbvio que em termos éticos tanto é condenável quem compra como quem vende algo que pode ter efeitos negativos para o Estado. Além disso, as falhas de memória que Pais Jorge manifestou quando disse não se lembrar de ter estado no gabinete do primeiro-ministro José Sócrates são estranhas. Por muitas reuniões em que tenha participado, não se recordar dessa em concreto é insólito. Assim como também é alegar que apenas tinha um papel de relação com clientes e não a função de concepção das operações. Aceita-se esse argumento de alguém que está atrás de um balcão a vender mercadorias, mas não é possível no caso dos swaps.
 
Como se esperava, o caso Rui Machete vai entretanto conhecendo os seus desenvolvimentos, pondo-se agora a questão da compra a um euro e da venda a dois euros e meio de acções do BPN. O assunto não é novo e lembra exactamente o de Cavaco Silva e da sua filha trazido à estampa há uns anos. Mas pode haver uma diferença relevante, uma vez que o Presidente da República tinha entregado a gestão dos seus dinheiros a um corretor que actuava autonomamente, enquanto no caso do actual MNE não está esclarecido se as circunstâncias eram as mesmas.
 
Por outro lado, a verdade é que as acções do banco não estavam cotadas em bolsa e portanto não é lícito insinuar que tenha havido algum tipo de benefício em qualquer dos casos, pois não há valor de referência na altura. E assim sendo o assunto nesse aspecto concreto não deve ter seguimento.
 
Uma oportunidade perdida
 
A RTP tem a responsabilidade de defender, divulgar e promover a língua portuguesa. Porventura, depois de informar e entreter educando, essa é a sua principal tarefa.
 
É portanto no mínimo triste que o homem que durante anos se bateu pela formação em língua portuguesa na televisão e na rádio públicas, um dos criadores do indispensável Ciberdúvidas, o pai do livro de estilo do “Público”, do premiado programa “Cuidado com a Língua” e do prontuário sonoro da RTP, o voluntarioso José Mário Costa, tenha cortado com a empresa, onde nunca passou de mero recibo verde em mais de dez anos. Mas há quem esteja atento. O jornalista vai dar formação linguística e organizar os serviços de agenda, planeamento e produção da Rádio Nacional de Angola. Dificilmente arranjavam melhor.
 

EU, SEQUESTRADO NA EUROPA

 


Evo Morales narra ação que ameaçou sua vida e dispara: governos do Velho Continente traíram valores democráticos que inspiraram gerações
 
Evo Morales, no Le Monde Diplomatique - Tradução Cristiana Martin – em Outras Palavras
 
O último 2 de julho produziu um dos eventos mais insólitos da história do Direito Internacional: a interdição feita ao avião presidencial do Estado Plurinacional da Bolívia de sobrevoar os territórios francês, espanhol, italiano e português, seguida de sequestro, no aeroporto de Viena (Áustria), por quatorze horas.
 
Várias semanas depois, este atentado contra a vida de membros de uma delegação oficial, cometido pelos Estados considerados democráticos e respeitosos da lei, continua a provocar indignação ao mesmo tempo que abundam as condenações de cidadãos, de organizações sociais, de organismos internacionais e de governos por todo o mundo.
 
O que aconteceu?
 
Estava em Moscou, alguns instantes antes do início de uma reunião com Vladmir Putin, quando um assistente me alertou de dificuldades técnicas: era impossível nos levar até Portugal como o previsto inicialmente. Mas assim que terminou o encontro com o presidente russo, já havia ficado claro que o problema não tinha nada de técnico…
 
Desde La Paz, nosso ministro de Relações Externas, David Choquehuaca, tratou de organizar uma escala em Las Palmas, na Espanha, e validar um novo plano de voo. Tudo parece em ordem… mas, agora que estamos no ar, o coronel de aviação Celiar Arispe, que comanda o grupo aéreo presidencial e pilotava o avião neste dia, vem me ver: “Paris retirou nossa autorização de vôo! Nós não podemos penetrar no espaço aéreo francês!”. A surpresa era tão grande quanto sua inquietude: estávamos prestes a cruzar o sul da França.
 
Podíamos, é claro, tentar retornar à Rússia, mas corríamos risco de ficar sem combustível. O coronel Arispe fez, então, contato com a torre de controle do aeroporto de Viena para soliciar uma autorização de aterrisagem de urgência. Que as autoridades austríacas sejam aqui agradecidas por nos dar sinal verde.
 
Instalado em um pequeno escritório que me colocaram à disposição no aeroporto, conversava com meu vice-presidente, Alvaro Garcia Linera e com o ministro Choquehuanca, para decidir o que fazer na sequência e, sobretudo, tentar compreender as razões da decisão francesa, uma vez que o piloto havia me informado que a Itália também tinha recusado nosso pedido de entrada em seu espaço aéreo.
 
Neste momento, recebi a visita do embaixador da Espanha na Áustria, Alberto Carnero. Ele me comunicou que um novo plano de vôo para me levar à Espanha havia sido aprovado. Explicou que era necessário fazer, antes de tudo, uma inspeção no avião presidencial. Tratava-se de uma condição sine qua non para a nossa partida em direção à Las Palmas, nas Grandes Canárias.
 
Quando pergunto sobre as razões de tal exigência, Carnero invocou o nome de Edward Snowden, empregado de uma empresa norte-americano que prestava serviços de espionagem a Washington. Respondi que só o conhecia pelo que era noticiado na imprensa. Lembrei igualmente, ao diplomata espanhol, que meu país respeitava as convenções internacionais: em nenhum caso eu estava tentando extraditar alguém para a Bolívia.
 
Carnero estava em contato permanente com o subsecretário dos assuntos estrangeiros espanhol, Rafael Mendívil Peydro, que lhe pedia, visivelmente, para insistir.
 
“Você não inspecionará este avião, tive que reforçar. Se você não acredita que no que eu digo, você está chamando o presidente do Estado soberano da Bolívia de mentiroso.” O diplomata retirou-se para se aconselhar com seu superior, antes de retornar. Pediu-me, então, que o convidasse tomar um rápido café no avião. “Mas você acha que eu sou um delinquente?” — perguntei. “Se você tentar entrar neste avião será necessário que use a força. E eu não resistirei a uma operação militar ou policial, não tenho meios para tanto.”
 
Definitivamente assustado, o embaixador descartou a opção da força, não sem antes afirmar que, nestas condições, não poderia autorizar o plano de vôo: “Às nove da manhã, indicaremos se vocês podem ou não partir. Por enquanto, vamos discutir com nossos amigos”, explicou. “Amigos?” “Mas que amigos da Espanha são esses que você se refere? A França e a Itália?” Ele recusou-se a responder saiu…
 
Aproveitei o momento para discutir com a presidente argentina Cristina Fernández, uma excelente advogada que me aconselha nas questões jurídicas, e também com os presidentes venezuelano e equatoriano, Nicolás Maduro e Rafael Correa, ambos muito inquietos com o assunto.
 
O presidente Correa chamou várias vezes durante o dia, para saber as novidades. Esta solidariedade me deu forças: “Evo, eles não têm nenhum direito de inspecionar seu avião!”, repetiu. Eu não ignorava que um avião presidencial tem o mesmo status de uma embaixada.
 
Mas estes conselhos e a chegada dos embaixadores da Aliança Bolivariana para os Povos da nossa América (ALBA) [1] aumentou dez vezes minha determinação de me mostrar firme. Não, nós não ofereceremos à Espanha ou à qualquer outro país – aos Estados Unidos, ainda menos que aos outros – a satisfação de inspecionar nosso avião. Nós defenderemos nossa dignidade, nossa soberania e a honra de nossa pátria, nossa grande pátria. Nós jamais aceitaremos esta chantagem.
 
O embaixador da Espanha reapareceu. Preocupado, inquieto e nervoso, disse que eu já disponha de todas as autorizações e que podíamos partir. Enfim, decolamos…
 
A interdição de sobrevoo, decretada de maneira simultânea por quarto países e coordenada pela CIA (Central Intelligence Agency) contra um país soberano, sob o único pretexto que nós talvez estivéssemos transportando Snowden, atualiza o peso político da principal potência imperial: os Estados Unidos.
 
Até 2 de Julho (data do nosso sequestro), todos compreendia que os Estados pudessem dotar-se de agências de segurança, afim de proteger seu território e populacão. Mas Washington ultrapassou os limites concebíveis. Violando todos os princípios da boa fé e as convenções internacionais, transformaram parte do continente europeu em território colonizado. Um insulto aos direitos do homem, uma das conquistas da Revolução Francesa.
 
O espírito colonial que conduziu a submissão de tantos países demonstra, mais uma vez, que o império não tolera nenhum limite – nem legal, nem moral, nem territorial. A partir de agora, está claro para o mundo inteiro que, por esta potência, todas as leis podem ser transgredidas, toda soberania violada, todo direito humano ignorado.
 
O poder dos Estados Unidos, está claramente nas suas forças armadas, envolvidas em várias guerras de invasão apoiadas por um complexo militar-industrial fora do comum. As etapas de suas intervenções são bem conhecidas: após as conquistas militares, a imposição do livre comércio, de uma concepção singular de democracia, e, enfim, a submissão das populações à voracidade das multinacionais.
 
As marcas indeléveis do imperialismo – militares ou econômicas – desconfiguraram o Iraque, o Afeganistão, a Líbia, a Síria. Alguns destes países foram invadidos por serem suspeitos de portarem armas de destruição em massa ou de abrigar organizações terroristas. Em todos, milhares de seres humanos foram mortos, sem que a Corte Penal Internacional instituísse o mínimo julgamento.
 
Mas o poder norte-mericano provém igualmente de dispositivos subterrâneos de propagação do medo, chantagem e intimidação. Algumas das receitas utilizadas por voluntários de Washington para manter o seu status: a “punição exemplar”, no mais puro estilo colonial que levou à repressão de índios Abya Yala. [2]
 
Esta prática agora recai sobre os povos que decidiram se libertar, e sobre os dirigentes políticos que optaram por governar para os humildes. A memória desta política de punição exemplar ainda está viva na América Latina: pensemos nos golpes de Estado contra Hugo Chávez na Venezuela em 2002, contra o presidente hondurenho Manuel Zelaya em 2009, contra Correa em 2010, contra o presidente paraguaio Fernando Lugo em 2012 e, claro, contra nosso governo em 2008, sob a chefia do embaixador Americano na Bolívia, Philip Goldberg [3].
 
O “exemplo” para que os indígenas, os operários, os trabalhadores do campo, os movimentos sociais, não ousem levantar a cabeça contra as classes dominantes.
 
O “exemplo”, para curvar os que resistem e aterrorizar os outros. No entanto um “exemplo” que, a partir de agora, conduz os humildes do continente e do mundo inteiro a redobrar seus esforços de unidade para fortalecer suas lutas.
 
O atentado de que fomos vítimas revela as duas faces de uma mesma opressão contra a qual os povos decidiram se revoltar: o imperialismo e seu gêmeo politico e ideológico, o colonialismo. O sequestro de um avião presidencial e de seu equipamento – o que tínhamos direito de considerar impensável no século XXI – ilustra a sobrevivência de uma forma de racismo no seio de certos governos europeus. Para eles, os Índios e os processos democráticos ou revolucionários nos quais eles estão engajados representam obstáculos no caminho da civilização.
 
Este racismo se refugia agora na arrogância e nas explicações “técnicas” mais ridículas para maquiar uma decisão política nascida em um escritório de Washington. Aqui estão os governos que perderam até a capacidade de se reconhecer como colonizados e que tentam proteger a reputação de seu mestre.
 
Quem diz império, diz colônias
 
Tendo optado pela obediência às ordens que lhes foram dadas, certos países europeus confirmaram seu status de país submisso. A natureza colonial da relação entre os Estados Unidos e a Europa foi reforçada após os atentados do 11 de Setembro de 2001 e revelada à todos em 2004, quando tomamos conhecimento da existência de vôos ilícitos de aviões militares norte-americanos, transportando supostos prisioneiros de guerra, para Guantánamo ou para prisões europeias.
 
Sabemos hoje que estes presumidos “terroristas” eram submetidos a tortura; uma realidade que mesmo as organizações de defesa dos direitos humanos silenciam frequentemente. A “Guerra contra o terrorismo” reduziu a velha Europa à classificação de colônia; um ato hostil, que podemos tratar como terrorismo de Estado, coloca a vida privada de milhões de cidadãos à disposição dos caprichos do império.
 
Mas a ofensa ao Direito Internacional que nosso sequestro expressa pode constituir um ponto de ruptura. A Europa foi berço das mais nobres idéias: liberdade, igualdade, fraternidade. Ela contribuiu largamente para o progresso científico e à emergência da democracia. Ela não é mais que uma pálida figura de si mesma. Um neo-obscurantismo ameaça os povos de um continente, que séculos atrás, iluminava o mundo com suas idéias revolucionárias e suscitava a esperança.
 
Nosso sequestro poderia oferecer a todos os povos e governos da América Latina, do Caribe, da Europa, da Ásia, da África e da América do Norte a oportunidade única de constituir um bloco solidário condenando a atitude indigna dos Estados envolvidos nesta violação do direito internacional.
 
Trata-se também de uma oportunidade ideal de reforçar as mobilizações dos movimentos sociais que desejam construir um outro mundo, de fraternidade e de complementariedade. Cabe aos povos construí-lo.
 
Estamos certos que os povos do mundo, principalmente os da Europa, lamentam a agressão da qual nós fomos vítimas e que os afeta igualmente. E interpretamos a indignação deles como uma maneira indireta de nos pedirem as desculpas a que se ainda recusam os governos responsáveis. [4]

[1] Dos quais são membros: Antigua e Barbuda, Bolívia, Cuba, Equador, Nicarágua, República Dominicana, São Vicente e Granadinas e a Venezuela.
[2] Nome dado pelas etnias Kunas do Panamá e da Colôbia ao continente amerciano antes da chegada de Cristóvão Colombo. Em 1992, esse nome foi escolhido pelas nações indígenas da América para designer o continente.
[3] Sobre estes eventos, consultar a página “Honduras” em nosso site e ler “Estado de Exceção no Equador” de Maurício Lemoine, La valise diplomatique, 1 de Outubro de 2010 e “O Paraguai tomado pela Oligarquia” de Gustavo Zaracho, La valise diplomatique, 19 de Julho de 2010; “Pequena desestabilização específica na Bolívia” de Hernando Calvo Ospina, Le Monde Diplomatique, Junho de 2010.
[4] Lisboa, Madri, Paris e Roma fizeram um pedido de desculpas oficial tardio para La Paz .
 

Brasil: BARBOSA INSULTA O ITAMARATY

 


Direto da Redação, em Espaço Livre
 
A questão do racismo, como pautada na entrevista de Joaquim Barbosa à imprensa neste final de semana, esconde uma armadilha capaz de subverter qualquer abordagem, nivelando por baixo as avaliações todas, sobre qualquer assunto, ao nível da mera questão da cor da pele da pessoa envolvida.
 
Joaquim Barbosa alega na entrevista referida abaixo que, por ser negro, foi eliminado quando da sua tentativa de ingressar no corpo diplomático do Itamaraty, quando atingiu a etapa final das entrevistas. E foi à forra, agredindo a idoneidade da instituição responsável por todo o corpo diplomático brasileiro, desfazendo da seriedade do Instituto Rio Branco, responsável pelo certame. Baseado exclusivamente na sua frustrada experiência pessoal no passado, Joaquim sentenciou: “- O Itamaraty é uma das instituições mais discriminatórias do Brasil”.
 
Todavia, há elementos que permitem concluir que a reprovação de Barbosa, na sua tentativa de ingresso na carreira diplomática, teria sido acertada, passando por razões sem qualquer vinculação com a cor da sua pele.
 
É percepção de muitos que Barbosa tem se revelado arrogante, ríspido, mantendo o hábito de constranger pessoas e instituições em público. Não raro, beira a estupidez em situações que já tornaram-se notórias. Ele xinga jornalistas (chamou de “porco”, na frente das câmeras, um repórter que tentou entrevistá-lo meses atrás), ofende e humilha interlocutores (como os presidentes de entidades associativas da magistratura que o visitaram recentemente em seu gabinete), desfere impropérios contra categorias profissionais inteiras (alegou no CNJ que os 700 ml advogados brasileiros costumam dormir até as 11h da manhã), é grosseiro com autoridades públicas (deixou de cumprimentar a própria Presidente da República, em frente às câmeras, após apertar a mão do Papa Francisco, na solenidade oficial que recebeu o líder da Igreja Católica no país, semana passada), e etc., etc.
 
A lista de episódios bizarros, quando não grotescos, protagonizados pelo temperamento de difícil trato de Joaquim Barbosa é enorme. Que o digam aqueles que já foram espinafrados publicamente pelo ministro, como no caso, inclusive, de colegas dele, ministros do STF, durante as sessões públicas da sisuda Corte Suprema. Além de autoritário, Barbosa é vaidoso. Adora aparecer na mídia. Foi a vedete da imprensa no julgamento do mensalão, quando encarnou o papel de espécie de “reserva moral e ética do país”, ocasião inclusive em que uma revista o pintou de vingador-da-capa-preta, comparando-o com o “Batman”.
 
Porém, quando contrariado em suas opiniões ou, pior, quando confrontado com situações em que suas explicações ficam escassas ou difíceis (exemplos: usar aviões da FAB para ir assistir partida de futebol no Rio de Janeiro, tornar-se empresário - o que é vedado a magistrados - para deixar de recolher impostos numa intrincada operação de compra de apartamento em Miami, etc.), o ministro deixa de lado qualquer fidalguia e passa a desferir xingamentos e impropérios para ofender pessoas e instituições. A bola da vez é o Itamaraty, no que parece ser uma desforra pessoal de Barbosa por conta de sua eliminação, no passado, em concurso público para ingresso no corpo diplomático brasileiro. Barbosa queria ser diplomata. Como não conseguiu, destrata agora o Itamaraty.
 
O torpedo arrasa-quarteirão de Barbosa contra o Itamaraty foi destinado a desconstituir a boa reputação e longa tradição de seriedade da instituição, acusando-a de racista. E mais: indiretamente, sugere que o Itamaraty teria “errado” na eliminação dele, quando abortou o sonho de Barbosa de tornar-se diplomata de carreira. Por fim, Barbosa demonstrou soberba, ao especular que todos os diplomatas brasileiros estariam invejando-o no cargo que ele hoje ocupa no STF. Será que Barbosa está correto na acusação, na insinuação e na especulação?
 
Há que se perguntar: o Itamaraty praticou racismo, ao eliminar Barbosa no concurso? A resposta parece óbvia: alguém como ele, com tão pouca diplomacia em suas atitudes, jamais poderia trabalhar como diplomata. Se foi reprovado para ingressar no Itamaraty, não deve ter sido pelo fato da cor da sua pele, mas porque Barbosa é notoriamente despreparado para a diplomacia. Ele próprio dá mostras públicas disso, a todo instante. Logo, o que se vê é o contrário: o Itamaraty soube selecionar candidatos para a diplomacia, reprovando os que não tinham perfil para a função, como Joaquim Barbosa.
 
Talvez o ministro fosse eliminado novamente, hoje, caso se candidatasse de novo a uma vaga no Itamaraty, por conta de seu temperamento. Dizer que os diplomatas do Brasil gostariam de ser ministros do STF é uma estultice. Ser diplomata, implica em uma carreira que tem poucos pontos em comum com as carreiras públicas de Estado como as do Ministério Público e a do STF, percorridas por Joaquim. São vocações muito diferentes.
 
Uma questão ética descola-se da acusação de Barbosa. Se ele, de fato, crê ter sido descartado no Itamaraty por ser negro, deveria ter ingressado com uma ação de anulação do ato administrativo que o eliminou do certame, ao fundamento de racismo. O fato dele ter aceito pacificamente sua eliminação por um suposto racismo, sem jamais ter tomado qualquer atitude para reverter a decisão, vindo somente agora, quando ocupa um cargo de grande relevância, a acusar a instituição de racista, é algo que remete a uma postura ética questionável, para dizer-se o mínimo.
 
A questão central da entrevista, enfim, não reside em o Brasil ter ou não um “presidente negro”. Barack Obama não tornou-se presidente dos EUA porque é negro e sim porque demonstrou ser um político capaz e qualificado para exercer o cargo. As questões que importam são estas: o que esperar de alguém como Joaquim Barbosa, caso se tornasse Presidente da República? Teria ele qualificação necessária para este cargo? Para a função de diplomata, como viu-se, ele não tem qualificação, sendo notória sua falta de vocação para agir de forma diplomática. E isto, com certeza, não tem rigorosamente nada a ver com o fato de ser negro.
 
Leia a íntegra da entrevista do ministro ao jornal O Globo. Clique aqui
 
Contribuição de Rogério Guimarães Oliveira, advogado. Seu email é rgo@via-rs.net
 

CUBA DIZ QUE MÉDICOS ESTÃO À DISPOSIÇÃO DO BRASIL

 


Desde a Revolução Cubana, 120 mil voluntários do país já participaram de missões humanitárias na África
 
Vitor Sion do Opera Mundi - Convenção

Desde que o governo Dilma Rousseff anunciou, em 9 de julho deste ano, que pretende trazer médicos estrangeiros para atender à população, dezenas de organizações foram contrárias à medida, parte do programa Mais Médicos. O protesto mais contundente era dirigido aos cubanos, relacionados com o que foi chamado de uma possível "revolução comunista em 2014".
 
Com as críticas da classe médica, o governo brasileiro adotou cautela sobre o programa, uma das principais bandeiras do ministro Alexandre Padilha, e estuda fazer contratos individuais. Representantes de Havana no Foro de São Paulo, no entanto, dizem que os profissionais do país "seguem à disposição".
 
 "A oposição à presença dos nossos médicos é um fenômeno que não aconteceu apenas no Brasil, mas em outros países da América Latina. Isso se deve a múltiplos fatores, mas, em especial, ao medo de que os cubanos substituirão os profissionais locais e às acusações da direita de que a gente dissemine nossa posição política", argumentou a Opera Mundi Jorge Antonio Arias, vice-chefe do Departamento de Relações Internacionais do PCC (Partido Comunista de Cuba).
 
 "Vamos para onde nos pedem, o que significa, em geral, chegar a locais em que outros médicos não vão. Dar cuidados de saúde aos que não têm. Nosso pessoal se dedica apenas a cumprir suas funções, com total respeito e sem interferir em processos políticos internos", complementa Arias.

De acordo com o governo cubano, a falta de experiência não pode ser um argumento contra os médicos do país. Desde a Revolução de 1959, mais de 120 mil voluntários participaram de missões em países africanos, sendo a maioria deles médicos e professores. Esses cubanos ajudaram principalmente no tratamento da malária, doença amplamente difundida no continente, e na aplicação da vacina contra meningite.  
 
Atualmente, o governo de Raúl Castro tem operações humanitárias em 34 países da África ou que fazem fronteira com esse continente. A principal delas ocorre em Angola, mas também há profissionais de Cuba em Moçambique, Zâmbia, Namíbia e até mesmo na África do Sul.

"Nossa atuação é pautada por uma conhecida declaração de Fidel Castro: ‘Ser internacionalista é saldar nossa dívida com a humanidade.’ É isso que fazemos", explica Arias.
 

Após pressão popular, Alemanha cancela acordo de espionagem com EUA e Reino Unido

 

Opera Mundi, São Paulo
 
Fim de pacto de cooperação, assinado na década de 1960, é visto com uma medida para acalmar debate sobre privacidade e vigilância no país
 
Após a divulgação do escândalo de espionagem feito por Washington, a população da Alemanha pressionou o governo por uma resposta sobre a participação de Berlim no processo. Nesta sexta-feira (03/08), a resposta, enfim, chegou: o governo alemão encerrou o acordo de compartilhamento de vigilância secreta com os EUA e Reino Unido.

A histórica parceria de cooperação mútua assinada na década de 1960 autorizava Washington e Londres a realizarem operações de espionagem com vista à proteção da segurança nacional. "O cancelamento dos acordos administrativos, que realizamos nos últimos dias, é uma consequência apropriada e necessária do recente debate sobre a proteção da privacidade pessoal", disse o ministro das Relações Exteriores, Guido Westerwelle, em entrevista à imprensa europeia.
 
O acordo entre as potências internacionais foi mantido em sigilo durante décadas e só foi revelado em julho após seguidas denúncias do esquema de espionagem elaborado por Washington. Documentos secretos revelados pelo ex-agente da CIA, Edward Snowden, em junho já mostravam que a Alemanha era um dos países mais interessados nos serviços de espionagem dos EUA.

O escândalo de vigilância deflagrou a relação de cumplicidade entre as agências secretas da Alemanha com a NSA ( sigla em inglês para Agência de Segurança Naciona). A oposição alemã chegou inclusive afirmar que a administração de Angela Merkel é responsável por uma por permitiu a colaboração dos seus serviços de espionagem com a NSA. Em entrevista à agência AP, a porta-voz da embaixada dos Estados Unidos em Berlim, Ruth Bennett, que se limitou a confirmar o cancelamento do acordo.
 

EUA FINANCIAM AGÊNCIA DE ESPIONAGEM ELETRÔNICA BRITÂNICA

 


Em um novo capítulo da novela que devemos a Edward Snowden, o jornal britânico The Guardian revela que a GCHQ recebeu nos últimos três anos cerca de 160 milhões de dólares de financiamento de sua homóloga estadunidense, a Agência Nacional de Segurança. As duas organizações são responsáveis pelo desenvolvimento de novas tecnologias para a interceptação massiva do tráfego pela internet. Por Marcelo Justo, de Londres
 
Marcelo Justo – Carta Maior
 
Londres – A “relação especial” que os britânicos alardeiam ter com os Estados Unidos por seus laços históricos e linguísticos é particularmente “special” para a agência britânica de espionagem eletrônica, a GCHQ. Em um novo capítulo desta novela que devemos a Edward Snowden, o jornal britânico The Guardian revela que a GCHQ recebeu nos últimos três anos cerca de 160 milhões de dólares de financiamento de sua homóloga estadunidense, a Agência Nacional de Segurança (NSA).

Segundo comentários do próprio Snowden ao jornal, as duas organizações são responsáveis pelo desenvolvimento de novas tecnologias para a interceptação massiva do tráfego pela internet. “Isso não é um problema dos Estados Unidos unicamente. Eles são os piores”, destacou Snowden referindo-se ao GCHQ. Em junho, Snowden revelou a existência do programa “Prism” da NSA para acessar milhões de e-mails e chats ao vivo e do programa “Tempora”, do GCHQ, para o acesso à fibra ótica pela qual circulam as conversações telefônicas e as comunicações pela internet.

Em 2009, os britânicos receberam cerca de 30 milhões de dólares de seus sócios estadunidenses; um ano mais tarde receberam cerca de 50 milhões, incluindo uns 24 para o deslocamento de uma parte da operação britânica para um novo local, Bude, no norte da Cornuália, que se encarrega de interceptar a comunicação de internet transatlântica. O último dado é do período fiscal 2011-2012 no qual a NSA aportou cerca de 54 milhões para sua contraparte britânica. “O financiamento para o projeto de Bude foi essencial para proteger nosso orçamento”, reconhece o documento.

Este orçamento anual, equivalente a 1,6 bilhões de dólares, é uma fonte de contínua ansiedade para o GCHQ. “O governo de sua majestade espera que justifiquemos o dinheiro que investe em nós anualmente”, assinala o documento. Uma ansiedade por momentos maior é mostrada em relação a seus sócios da NSA. Um documento de 2010 reconhece que os Estados Unidos se referiram a uma “série de temas necessários para cumprir com os requisitos mínimos da NSA” e admite que o GCHQ ainda “não satisfaz todos esses requisitos”.

A era da internet deu um papel muito mais importante à espionagem eletrônica que, nos últimos cinco anos, teve um aumento de 7.000% no volume informativo com seu acesso a e-mails, telefonemas e conversações de Skype. Este volume se reflete em dinheiro vivo e crescente poder entre as organizações de inteligência britânicas. O GCHQ recebe mais da metade dos cerca de 2,5 bilhões de dólares que o governo britânico destina à espionagem e tem oficiais de ligação no MI6 (espionagem externa), MI5 (espionagem interna) e SOCA (Agência de Luta contra o Crime Organizado), assim como no gabinete de governo, que denomina de seus “clientes” em claro legado linguístico da ideologia do mercado. Segundo o Guardian, o “cliente” que aparece com mais frequência nos documentos é a NSA.

Os documentos mostram que o GCHQ faz alarde quando fornece informação valiosa aos Estados Unidos como a que enviou a NSA durante a investigação do plano de atentados com carros-bomba na Times Square, em Nova York, em 2010. O pior temor dos britânicos é que “diminua a percepção estadunidense da importância de nossa ação conjunta e que isso reduza seu investimento no Reino Unido”.

Quanto ao principal inimigo, os documentos recriam a linguagem da Guerra Fria com algumas modificações, colocando a China como inimigo principal e a Rússia como o segundo vilão do filme. “A China tem um cyber-programa capaz de atacar todo o espectro de objetivos governamentais, militares e comerciais. A espionagem industrial chinesa é a ameaça mais importante para a tecnologia estadunidense”, assinala o documento.

Tradução: Marco Aurélio Weissheimer

 

EUA sob suspeita de usar bases militares na Alemanha para espionar dados

 

Deutsche Welle
 
Gráficos da NSA sobre o programa XKeyscore, divulgados pelo "Guardian", sugerem presença de sistemas para interceptação de dados no país. Herança da Guerra Fria, bases dos EUA abrigam mais de 50 mil soldados.
 
Desde as primeiras revelações do ex-analista de inteligência norte-americano Edward Snowden, em junho, os serviços secretos alemães estão sob suspeita de colaborar ativamente com as atividades ilícitas de vigilância de dados do governo dos Estados Unidos.
 
Em artigo recente, o jornal britânico The Guardian divulgou imagens e tabelas utilizadas no treinamento para o programa de espionagem da internet X-Keyscore, da Agência de Segurança Nacional dos EUA (NSA). Um dos gráficos leva a crer que também sejam interceptados dados de servidores localizados na Alemanha.
 
Até então, só havia conhecimento de que os serviços secretos americanos filtravam dados que passam por seu território nacional. Agora, especula-se que o acesso a pontos nodais de internet alemães possa ser realizado ou apoiado a partir das bases militares dos EUA na Alemanha.
 
Proximidade física ajuda
 
Numa herança do desfecho da Segunda Guerra Mundial e da Guerra Fria, mais de 50 mil soldados norte-americanos continuam estacionados em solo alemão – um número superior ao total das forças armadas de países como a Bélgica. Ao todo, o Pentágono mantém várias centenas de estações militares internacionais, numa rede que engloba todo o planeta.
 
Sandro Gaycken, especialista em informática da Universidade Livre de Berlim, acha muito provável que os Estados Unidos utilizem suas bases espalhadas pelo mundo para grampear canais informáticos. "É útil a proximidade física dos centros de dados que se queira atacar. Por isso, essa noção é perfeitamente plausível", comentou, em entrevista à Deutsche Welle.
 
Indagado se tal forma de monitoração poderia acontecer sem o conhecimento do governo alemão, Gaycken disse ser possível, mas não muito provável. "Quando se trata de servidores em países aliados, também pode ser que o acesso direto esteja assegurado através de certos contratos, e [os que monitoram] estão, por assim dizer, legalmente dentro do sistema."
 
Clandestinidade legitimada
 
De fato, existem tratados binacionais regulando as atividades do serviço secreto norte-americano nas estações militares alemãs. A permanência de soldados dos EUA em solo alemão está fundamentada no Estatuto de Tropas da Otan (Sofa, na sigla em inglês) de 1951.
 
Em 1968, a Lei G10 forneceu o fundamento legal para a vigilância de correspondência escrita e de telecomunicações pelos serviços de informações da Alemanha; e um acordo administrativo acessório à G10 estendeu aos serviços secretos aliados o direito de monitorar e vigiar, no interesse da segurança de suas próprias tropas.
 
Nesta sexta-feira (02/08), o Ministério alemão do Exterior declarou que "acordo administrativo de 1968/69 relativo à Lei G10" com os Estados Unidos e o Reino Unido foi rescindido "de comum acordo". Segundo o ministro do Exterior, Guido Westerwelle, esta seria "a consequência necessária e correta dos últimos debates sobre a proteção da esfera privada".
 
A declaração, contudo, não serviu para esclarecer a situação de forma decisiva. Pois consta que o acordo já perdera o sentido, de fato, e há anos não era mais posto em prática. Segundo um porta-voz do Ministério britânico do Exterior, desde 1990 o país não mais se utilizava do acordo.
 
Concessões para "atividades analíticas"
 
E assim, seguem as especulações sobre como a NSA atua na Alemanha, legal ou ilegalmente. De um modo geral, Berlim está ciente de que os serviços secretos americanos estão ativos nas bases dos EUA em território alemão.
 
Um indício disso esteve na resposta do Ministério alemão da Defesa a um inquérito do partido A Esquerda, em 2011, sobre benefícios para pessoas físicas e jurídicas a serviço das Forças Armadas norte-americanas na Alemanha.
 
Em seu relatório, o Ministério da Defesa citou 207 firmas que recebem concessões para "serviços analíticos". Entre as atividades concretamente mencionadas, estão "Senior Intelligence System Analyst" ou "Signal Intelligence Analyst".
 
Numa coletiva em 31 de julho, o governo alemão revelou que "atividades analíticas" se refeririam a prestações de serviços técnico-militares – o que isso significa, exatamente, ainda está sendo averiguado.
 
Firma de Snowden
 
As concessões a firmas norte-americanas para atividades de inteligência na Alemanha estão acordadas em numerosas notas diplomáticas, de 2001 até o momento. Assim, numa nota do Ministério do Exterior de 25 de novembro de 2008, também a empresa Booz Allen Hamilton – para a qual trabalhava o informante foragido Edward Snowden – recebeu uma licença para "operações de serviços de informações" na Alemanha.
 
Essas firmas também poderiam trabalhar para a NSA no assim chamado "Dagger Complex" em Griesheim, próximo a Darmstadt, onde operam mais de mil agentes secretos dos EUA, num complexo arquitetônico em grande parte subterrâneo.
 
Segundo o especialista em serviços secretos Erich Schmidt-Eenboom, "o governo federal teria a possibilidade de exigir dos americanos que uma estação como a de Griesheim fosse fechada, se insistisse no argumento de que, a partir de lá, eles estão atentando contra os direitos civis alemães".
 
"Isso, no entanto, seria um caso de confrontação, também entre os serviços secretos. E esse é um luxo a que o pequeno Serviço Federal de Informações da Alemanha (BND) não pode se dar, diante das grandes agências dos EUA", concluiu Schmidt-Eenboom.
 
Na foto: "Onde está o X-Keyscore?": gráfico da NSA divulgado pelo jornal "The Guardian"
 

Portugal: A “BARRACA NOJENTA DA CRISTINA ESPÍRITO SANTO" NA QUINTA DO LAGO

 


Homem mais rico do mundo Carlos Slim foi passar férias à vivenda na Quinta do Lago de Cristina Espírito Santo e Carlos Slim diz que foi “ como brincar aos pobrezinhos “
 
António Marques – O Inimigo Público
 
Cristina Espírito Santo, filha de um administrador do BES, diz que gosta de ir para a herdade da família na Comporta porque é como “ brincar aos pobrezinhos “.
 
Porém, enquanto passava férias na Comporta, Cristina Espírito Santo alugou a sua vivenda na Quinta do Lago ao mexicano Carlos Slim, o homem mais rico do mundo, que tem uma fortuna de 89 mil milhões de euros, que adorou a experiência:
 
“Passar um mês de férias na barraca nojenta da Cristina Espírito Santo foi mais giro que brincar aos pobrezinhos, foi brincar aos miseráveis, foi brincar aos sem-abrigo!“, afirmou Carlos Slim, enquanto olhava para um seu cavalo de corrida que lhe custou mais que a fortuna de Cristina Espírito Santo. A.M.
 
*Título PG
 

Portugal: DO SOL NA MOLEIRINHA

 


Pedro Marques Lopes – Diário de Notícias, opinião
 
1 Uma senhora de apelido Espírito Santo tentando, com certeza, uma graçola, terá dito que gostava dum determinado lugar porque era como brincar aos pobrezinhos. Presumo que deva ser uma pessoa com bastantes meios à procura de novas experiências.
 
Não estou particularmente interessado nas sensações que a senhora pretende obter no seu período de férias, no entanto era capaz de me atrever a recomendar-lhe experiências mais próximas da realidade, mais radicais. Talvez viver num subúrbio ganhando o salário mínimo, passar duas horas nos transportes públicos até ao local de trabalho e mais duas no regresso a casa. Casa essa que estaria a pagar ao banco. Pode até convencer o marido do máximo que é brincar aos pobrezinhos e viverem de dois salários mínimos durante uns tempos. O gozo que não ia ser olhar para o dinheiro que receberiam ao fim do mês e perceberem que dois terços do dinheiro ia para o empréstimos da casa e que teriam que se vestir, alimentar, sustentar os filhos com trezentos ou quatrocentos euros, se tanto. Mas se quiser mesmo uma coisa muito à frente, recomendo o desemprego. Mas o desemprego como deve ser. Aquele em que já passou o período de receber o subsídio. A experiência que cerca de 400 mil portugueses já estão a viver e que mais umas largas centenas de milhares estão prestes a sentir. A que à sensação de inutilidade, a que faz sentir que não se é capaz de obter o sustento pelos seus próprios meios, atira um cidadão para a mais profunda miséria. Viver como se já não fizesse parte da comunidade, como se comunidade ou cidadão fossem apenas palavras sem sentido ou conteúdo.
 
A senhora teve um momento infeliz, quis dizer uma laracha. Se calhar é até uma alma muito pia e santa. Às tantas é só uma pessoa distraída. Seja como for, fora o facto de ficar claro para todos que há gente que vive numa bolha sem qualquer tipo de contacto com a realidade dos seus concidadãos e de não ter o mínimo sentido de comunidade, a história não passa dum episódio da silly season - e nunca o termo silly foi tão bem aplicado. A senhora até já veio pedir desculpa e, para não variar, disse que as suas palavras foram tiradas do contexto. Por mim está desculpada.
 
Entretanto, continuo à espera que gente com infinitamente mais responsabilidades que a alegre veraneante da Comporta venha também pedir desculpa por ter passado os últimos anos a insultar os portugueses acusando-os de terem andado a viver acima das suas possibilidades ou de serem sustentados pelos incansáveis trabalhadores do Norte da Europa. Também aguardo, sentado, claro está, pelas explicações dos senhores que declaram que o salário mínimo é mau para a economia ou que o rendimento social de inserção promove a preguiça.
 
"Mas que terão todas estas alarvidades a ver com a infeliz brincadeira da senhora?", perguntará o leitor mais distendido com o calor de Agosto. Pense outra vez, meu caro. É que têm tudo, tudo mesmo.
 
2 A procissão dos swaps ainda vai no adro. Era capaz de apostar singelo contra dobrado que durante os próximos tempos mais casos surgirão.
 
Pouco importa, neste momento, saber quais foram as reais motivações das várias denúncias, sobretudo das iniciais. Se foram guerras internas do PSD, se foi o Governo que decidiu utilizar este dossiê como arma de arremesso político contra o anterior. O facto é que neste momento o passa-culpas está definitivamente instalado. Com isto nunca mais investiremos tempo a perceber porque foi feito este tipo de contratos. Esqueceremos que na base do problema está o gigantesco endividamento das empresas públicas, nomeadamente as de transportes, fruto da falta da devida transferência de fundos do Orçamento Geral do Estado para estas empresas que prestam um serviço público fundamental - que teriam problemas de gestão, ninguém o nega. Que a dada altura o peso da dívida era tal que os gestores das empresas estavam dispostos a tudo - não se desculpa a assunção de riscos suicidas, bem entendido - para diminuir esse impacto nas suas contas, sendo que se não o fizessem, em alguns caos, significaria essas companhias entrarem em colapso.
 
Preferimos todos pensar que os gestores destas empresas eram um bando de incompetentes, irresponsáveis ou mesmo loucos. Já se arranjaram uns bodes expiatórios e outros estarão a caminho.
 
Como de costume, depois de tudo terminado, ninguém discutirá o essencial. Viva a politiquice.
 
Na foto: Cristina Espírito Santo, a “Pobrezinha da Comporta”
 

Portugal: Santos Pereira entala maioria com submarinos (e o milhão “mistério” do CDS?)

 

Pedro d'Anunciação – Sol, opinião
 
Álvaro Santos Pereira, pouco antes de ser demitido de super-ministro da Economia sem explicações nem atenções (deixou outra manifestação de desagrado, ao não comparecer na posse do Governo remodelado, onde apareceram os seus sucessores), chumbou o negócio dos submarinos, por evidente e contrária aos contratos falta de cumprimento das contrapartidas.
 
Já se sabia há muito que as contrapartidas não tinham sido cumpridas, e que portanto o negócio deveria ser rejeitado. Como se sabia que a empresa alemã vendedora dos submarinos andou por cá a corromper altos responsáveis: porque, por suprema ironia da nossa Justiça e dos nossos responsáveis políticos, embora nenhum corrupto deste caso tivesse sido condenado cá, já o foram corruptores na Alemanha.
 
De modo que a escolha do momento para a decisão pode revelar muito do carácter do ex-ministro Álvaro. Mas lá que entalou o governo remodelado, lá isso entalou. Agora veremos o que fazem o ministro da Defesa (que já veio dizer pensar que secundaria o chumbo do negócio), mais o novo ministro da Economia (Pires de Lima, do CDS e amigo de Portas, o responsável pelo fatídico negócio), ou o próprio vice-primeiro-ministro (que era da Defesa, quando fez o famigerado negócio, que ainda por cima tanto sobrecarregou os contribuintes portugueses agora chamados a todos os sacrifícios, e é agora o responsável do Governo por toda a área económica). Mas nem me admiraria que o próprio Portas, com ar grave e solene, viesse também concordar com o chumbo. Pior seria não o fazer.
 
E o milhão “mistério” em vários depósitos do CDS? – opinião PG
 
Paulo Portas e o Caso dos Submarinos tem sido uma novela inacabada que nem mesmo depois de tanto tempo pende para ser solucionada pela justiça portuguesa. Como quase sempre acontece tudo fica “em águas de bacalhau”, execrávelmente impune. O mesmo é dizer que a culpa morre solteira e que apesar da opacidade dos casos os eventuais criminosos corruptos são promovidos nos moldes das práticas mafiosas e até podem ser promovidos a PMs ou próximos. Há um milhão de luvas que andou à solta, segundo correu na comunicação social. Por coincidência tempos depois o CDS fez em poucos dias depósitos parciais, em vários bancos, que somaram pouco mais de um milhão. Pode ser o "tal" milhão e pode não ser? Um milhão “mistério” que foi justificado como sendo donativos de várias pessoas e entidades ao CDS. Aparentemente a justiça disse estar a investigar… Foi há um ano. Ainda continua a investigar? Não há crime? Não é o milhão de luvas que correu em manchetes dos jornais? Quem foram os bondosos abastados que doaram ao CDS aquele milhão? Os portugueses não têm de saber as razões de tanta opacidade por parte dos que afirmaram estar a investigar? Portugal tem de continuar a ser o esgoto impune por onde escorrem os dejectos nauseabundos e criminosos de personagens da elite política e outras instaladas nos poderes, incluindo na justiça? Sim, porque a voz popular já nem sussurra mas diz bem alto que corruptos são quase todos os das elites - e isso também é mau para a democracia. Sobre a justiça e outros basta ver as opiniões em sondagens onde o descrédito está bem expresso. (Redação PG – CT)
 

Corrupção na Europa: MAUS NEGÓCIOS PARA A DEMOCRACIA (e em Portugal?)

 


Le Monde, Paris – Presseurop – imagem  Martirena
 
No dia em que o italiano Silvio Berlusconi foi condenado por fraude fiscal, o espanhol Mariano Rajoy respondeu perante o Parlamento pelas suspeitas de prémios ilegais. Esta coincidência realça até que ponto os “casos” atormentam a vida política do continente. Correndo o risco de destruir a confiança na democracia.
 
 
Infelizmente, são cenas que fazem quase sempre parte do dia-a-dia da vida política na Europa. Dirigentes, por vezes altos funcionários do Estado, são postos em causa por corrupção, falta de ética ou financiamento ilegal do seu partido. A menos de dez meses para as eleições europeias, que decorrerão no dia 25 de maio de 2014 em França, na Itália e em Espanha, estes factos alimentam a desconfiança da opinião pública relativamente aos políticos e comprometem a democracia.
 
Na Itália, Silvio Berlusconi viu o Tribunal de segunda instância confirmar de forma definitiva, na quinta-feira, dia 1 de agosto, a sua condenação a uma pena de quatro anos de prisão por fraude fiscal. Graças a uma amnistia aprovada em 2006, Il Cavaliere, que foi três vezes primeiro-ministro, conseguiu reduzir a sua pena para um ano e a sua idade avançada, 76 anos, permitiu-lhe não acabar atrás das grades. Mas os factos que lhe são imputados realçam de que forma o sistema político italiano está corrompido e sem fôlego.
 
Em Espanha, onde a monarquia foi minada por escândalos, o chefe do Governo teve, na quinta-feira do dia 1 de agosto, perante os deputados, de realizar uma humilhante confissão. Sem qualquer credibilidade, Mariano Rajoy negou por completo as acusações do antigo tesoureiro do seu partido, Luis Bárcenas, detido desde o final de junho por fraude fiscal, sobre o alegado financiamento irregular do Partido Popular. Rajoy, que admitiu apenas um erro, o de ter confiado em Barcera, procurou “travar a erosão da imagem da Espanha”. A oposição socialista exigiu a sua demissão. Mas nunca mais conseguiu reconstruir-se depois do seu fracasso eleitoral de novembro de 2011, que provocou a queda do partido de José Luis Rodriguez Zapatero.
 
Ouro sobre azul para os populistas
 
A França não dispõe, infelizmente, de uma melhor imagem uma vez que, neste caso também, tem de lidar diariamente com casos, que variam em género e em grau, que afetam os partidos da direita e da esquerda. Um ministro da República, Jérôme Cahuzac, mentiu durante meses ao Presidente da República e à opinião pública sobre a existência de uma conta na Suíça. A sua confissão após a sua demissão causou um verdadeiro terramoto político. O Conselho Constitucional chumbou as contas de campanha do antigo Presidente da República, Nicolas Sarkozy, por não cumprir as normas que deveria supostamente promover. Os casos multiplicam-se, à direita, atingindo a galáxia Sarkozy, e à esquerda onde respeitados socialistas são acusados de corrupção. Estes factos aumentaram a desconfiança da opinião pública, cada vez mais instruída com as investigações levadas a cabo, favorecendo a Frente Nacional.
 
Numa Europa em crise, onde o pessimismo ganha cada vez mais terreno, a Itália, a Espanha e a França, sem mencionar os casos da Roménia e da Bulgária, transmitem uma terrível imagem dessas democracias.
 
Em maio, uma investigação do Ipsos para o Publicis, envolvendo 6198 europeus, revelou valores alarmantes. No que diz respeito à questão de saber quem propõe soluções construtivas face à crise, apenas 21% citou o Governo em França, 19% em Espanha, 15% na Itália contra 45% na Alemanha. Se este clima político continuar a deteriorar-se, os populistas tirarão muito provavelmente partido disso em maio de 2014.
 
E em Portugal como vai a corrupção? – opinião Página Global
 
Em Portugal a corrupção vai em alta, vai bem e nem precisa de ser recomendada… aos corruptos porque já se tornou um vício em crescendo. Agora são os swaps, impunes. A mafia BPN - com histórias tristes e tentáculos de Belém a São Bento - prossegue incólome e com o maior dos descaramentos, nomeando governantes, gozando de impunidade, declarando que o que se prova estranho e imoral (corrupto) está protegido pelo legalismo oferecido pelo legislador. Legislador que na Assembleia da República representa interesse avessos à democracia, à justiça, em prol de comprovados agentes de interesses dúbios e/ou alavancas de corporações mafiosas absolutamente "legais". A esses agentes chamam-lhes deputados. Podem chamar-lhes isso mas facto é que não representam os intereses dos que neles votaram, para mal e descrédito da democracia. E assim vai Portugal. Bem na corrupção e em alta. (Redação PG – CT)
 
Leia mais em Presseurop
 

FASCISMO COM “NOVAS ROUPAGENS” ESTÁ A INSTALAR-SE NA EUROPA E NOS EUA

 


Chamam-lhe neoliberalismo mas tal definição não passa de um eufemismo. Certo é que o fascismo está a instalar-se na Europa com “novas roupagens” e com a subtileza que convém aos seus idealistas da alta finança e servis promotores instalados nos governos e outros poderes das elites. Sob vários formatos o fascismo avança com especial incidência – diriamos que descaradamente – nos EUA e na Europa.
 
Os governos e países do resto mundo acompanham a vaga de atropelos aos direitos dos cidadãos outorgados na carta das Nações Unidos. A ONU não é mais nem menos, mas exatamente, a maior cúmplice destas “novas roupagens” do fascismo. Neoliberalismo? Chamem-lhe o que quiserem. É o fascismo puro e duro que se está a instalar pelo mundo. (Redação PG – CT)
 
Inglaterra: governo amplia “caça” aos imigrantes
 
Antonio Martins - Outras Palavras – em Blog da Redação
 
Suspeitos são detidos e têm fotos divulgadas, para provocar temor. Parte da população começa a reagir, nas redes sociais
 
O home office (espécie de ministério do Interior) do governo inglês levou aina mais adiante as práticas de discriminação anti-imigrantes, já relatadas por Outras Palavras em 30/7 (post a seguir). Desde quarta-feira, as detenções de estrangeiros suspeitos de não terem documentos passaram a ser fotografadas e divulgadas amplamente pela polícia (inclusive nas redes sociais…). Só nesta quinta-feira, orgulha-se o home-office, 139 pessoas foram presas. O objetivo é aterrorizar os imigrantes considerados “ilegais”. Ao mesmo tempo, circulam em Londres e arredores out-doors sobre rodas, que incitam a população a denunciar não-britânicos indocumentados em sua vizinhança.
 
Felizmente, cresceu, entre setores da população, a resistência a tal tipo de barbárie. A edição de hoje do Guardian relata uma batalha no Twitter, entre os partidários do preconceito e os que defendem posturas humanistas. Um jornalista do Daily Mirror sugeriu a seus leitores: “Se todos denunciarmos o @ukhomeoffice como spam, não poderão nos deportar. FAÇAM ISSO. Pelo menos, acho que não poderão nos deportar. Certamente tentarão. Especialmente, se você for meio escurinho”…
 
 
 
 
Os britânicos agora caçam… imigrantes!
 
Antonio Martins – Outras Palavras – em Blog da Redação
 
Começa em Londres campanha publicitária estatal para estimular população a denunciar estrangeiros sem documentos
 
Numa Europa cada vez mais contaminada por ideias xenofóbicas, até o proverbial humor britânico parece, às vezes, atirado à lata do lixo, quando entram em cena as relações com estrangeiros. Há alguns dias, seis municípios da zona metropolitana de Londres passaram a promover, em caráter de “teste” uma campanha publicitária que visa espalhar terror entre imigrantes sem documentos. Consiste em fazer circular, pela cidade, out-doors móveis com os seguintes dizeres: “[Está] no Reino Unido ilegalmente? Volte para casa, ou se arrisque à prisão”. Para tornar a mensagem mais realista, informa-se aos não-britânicos o telefone que devem acionar, caso tenham interesse em ser repatriados “voluntariamente”; e anuncia-se, bairro por bairro, o número de “clandestinos” presos pela polícia, até o momento.
 
Por sua extrema virulência, a campanha gerou crise na própria coalizão de direita que governa o país. O ministro de Negócios, Vince Cable, do Partido Liberal, que posa de pró-imigração, condenou a iniciativa, qualificando-a como “estúpida e ofensiva”. Horas depois, no entanto, o porta-voz do primeiro-ministro David Cameron (do Partido Conservador) foi a público para ressaltar os “aspectos positivos” da ação de terror. Disse que “está funcionando” e pode ser estendida a outras regiões do país. Ainda mais grotesco: o Partido Independentista da Grã-Bretanha, de extrema-direita, condenou a ofensiva. Qualificou-a como um “roubo eleitoreiro”, alegando que os conservadores usam dinheiro público para posar de defensores de uma atitude xenofóbica nascida, originalmente, entre os próprios “independentistas”…
 
Leia mais em Outras Palavras
 
Fotos em Outras Palavras
 

Mais lidas da semana