quarta-feira, 12 de junho de 2013

Portugal: OS PROVEDORES DO GOVERNO



Pedro d'Anunciação – Sol, opinião

O que se está a passar com a eleição do novo Provedor de Justiça demonstra bem a concepção que a actual maioria governamental (vamos fazer a justiça de acreditar que o velho e histórico PSD não pensava assim) tem do cargo. A ideia é defender os cidadãos perante o Estado e o Governo. Mas como o actual Provedor, Alfredo José de Sousa (de resto, à semelhança dos seus antecessores) fez exactamente isso, o Governo irritou-se com os embaraços em que se viu por ele colocado, e a actual bancada social-democrata recusa reelegê-lo.

Mas já na RTP se passara alguma coisa muito parecida. Os anteriores provedores do espectador, José Carlos Abrantes e Paquete de Oliveira, também parece terem irritado o Executivo, ao porem-se a desempenhar o seu papel de defender mesmo os espectadores perante a RTP. E por isso acabam de fazer eleger para o cargo Jaime Fernandes, até há pouco director de canais internacionais da estação pública, a cujos quadros pertenceu durante 52 anos, e que sempre terá alardeado a ideia de que é preferível defender a RTP do que ampliar os ataques dos espectadores (como, de resto, é natural que pense um homem da Casa).

Enquanto durar a actual maioria parlamentar, os Provedores deixarão de o ser dos cidadãos, para passarem a ser das instituições perante os quais os cidadãos deixaram de ter um representante seu.

PORTUGAL PODE ESTAR À BEIRA DO 2º PACOTE DE RESGATE



Paulo Gaião – Expresso, opinião

"Não há meios necessários e suficientes" para que os funcionários públicos recebam subsídio de férias em Junho, deliberou o Governo. 

Este pode ser o sinal de alarme para o segundo pacote de resgate.

Quanto dinheiro há nos cofres do Estado?

Mais que os 300 milhões de euros que Teixeira dos Santos disse que havia antes do 1º pacote de resgate?

Talvez a diferença não seja muita, depois de pagos os juros da dívida pública.

Com o segundo pacote de resgate, deve cair o governo.

Será Passos a negociar o pacote, já demissionário, como fez Sócrates? (quem com ferro mata, com ferro morre).

Ou Cavaco Silva consegue arranjar um primeiro-ministro que cumpra esta missão ingrata, antes da realização de novas eleições? (na tentativa desesperada de proteger Passos e o PSD)

Uma espécie de Lucas Papademos português, o homem que negociou e assinou o segundo pacote de resgate grego em Fevereiro de 2012.

De uma ou outra forma, o PSD não deve escapar a uma hecatombe eleitoral.

Semelhante à que o PASOK (os socialistas gregos) tiveram depois de governarem no quadro do primeiro pacote de resgate, perdendo quase dois terços do eleitorado.   

EX-MINISTRA FRANCESA DA JUSTIÇA EXIGE DEMISSÃO DE DURÃO BARROSO

 

Jornal i - Lusa
 
A ministra do executivo de Sarkozy condenou a intenção de Barroso de querer negociar, em prejuízo, na sua opinião, da defesa da exceção cultural europeia
 
A ex-ministra da Justiça francesa, Rachida Dati, exigiu hoje a demissão do presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, acusando-o de “ineficácia” e de se “curvar” perante os Estados Unidos.
 
“O senhor Barroso deve ir-se embora, e depressa. A sua falta de coragem e a sua ineficácia prejudicaram decididamente muito os europeus”, afirmou em comunicado a deputada europeia do PPE (Partido Popular Europeu, centro-direita).
 
A ministra do executivo de Sarkozy condenou a intenção de Barroso de querer negociar, em prejuízo, na sua opinião, da defesa da exceção cultural europeia, um acordo de livre comércio com os Estados Unidos.
 
“Para que serve a Comissão Europeia se, por medo dos seus parceiros comerciais, ela se recusa a defender os europeus e tudo o que constitui a nossa especificidade? O senhor Barroso está a curvar-se perante os Estados Unidos antes mesmo de as negociações começarem”, sustentou.
 
Referindo-se ao encerramento das estações públicas gregas de rádio e televisão ERT, Rachida Dato considerou que se trata de “um símbolo trágico do fracasso da Europa em proteger o povo grego”.
 
“Se a Grécia está num tal estado atualmente, a Europa não está isenta de responsabilidades”, observou.
 
Para a ex-ministra, o chefe do executivo europeu vive “acima da realidade dos europeus” e é em grande parte responsável pelo “euroceticismo atualmente em crescimento na Europa”.
 
“Se queremos salvar a Europa, devemos começar por desembaraçarmo-nos de todos os ‘tecnocratas’ que vivem tranquilos acima das realidades dos europeus”, acrescentou, incluindo nas suas críticas o comissário dos Assuntos Económicos, Olli Rehn.
 

EUA - Em nova entrevista, Snowden diz: "não sou herói nem traidor, sou americano"

 

 
Em entrevista exclusiva a um jornal de Hong Kong, o americano Edward Snowden prometeu novas revelações, sobre o programa secreto de vigilância electrônica nos Estados Unidos, trazido a público por ele na semana passada. Segundo o site do South China Morning Post, ele deu mais "detalhes explosivos", falou sobre o que planeia fazer agora, as medidas tomadas pelas autoridades americanas até o momento e o temor de que algo possa acontecer aos seus familiares.
 
É a primeira entrevista de Snowden desde que ele falou em exclusivo ao jornal británico The Guardian. Ao que parece, o jornal de Hong Kong está a publicar a entrevista aos poucos. Num dos primeiros trechos divulgados, o ex-funcionário de uma empresa que presta serviços à Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglés) respondeu o que ele acha sobre o facto de que os seus actos estão a ser tanto apoiados quanto condenados no mundo inteiro: "Eu não sou nem um traidor, nem um herói. Eu sou um americano".
 
Snowden também falou sobre ter escolhido Hong Kong como o local em que divulgou as informações. "As pessoas que acham que eu errei em escolher Hong Kong não entenderam as minhas intenções. Eu não estou aqui para me esconder da Justiça; estou aqui para revelar a criminalidade", disse, acrescentando em seguida que pretende lutar contra tentantivas de extradição. "A minha intenção aqui é deixar o meu destino nas mãos das pessoas e do governo de Hong Kong. Não tenho dúvidas para duvidar do seu (de Hong Kong) sistema", afirmou ao South China Morning Post.
 
"Eu tive muitas oportunidades para sair daqui, mas eu preferi ficar para lutar contra o governo dos Estados Unidos na Justiça, pois eu tenho fé no estado de direito de Hong Kong", disse ainda.
 
Snowden disse que ainda não conversou com os seus familiares desde que deixou o país porque teme pela sua segurança e pela deles. "Eu nunca me sentirei segurdo", afirmou. "As coisas têm sido muito difíceis para mim, mas falar a verdade sobre o poder sempre traz riscos. Está a ser difícil, mas eu ficou feliz em ver o público global falar contra esse tipo de violações sistemáticas de privacidade".
 
Sobre o facto de ter supostamente recebido uma oferta de asilo do governo russo, ele disse que o seu único comentário é "que está feliz em ver governos a recusar serem intimidados" pelos Estados Unidos.
 
No texto, a jornalista do South China Morning Post Lana Lam escreveu que a confisão de Snowden transformou-se num "frenesim midiátido na ilha, com jornalistas do mundo inteiro a tentar encontra-lo". O escândalo também causou um intenso debate na cidade se o americano deveria permanecer em Hong Kong e se Pequim deve ou não interferir em caso de um pedido de extradição.
 
Situação de Snowden indefinida
 
Hong Kong tem um tratado de extradição com os Estados Unidos, mas embora tenha certa autonomia, a ilha em última instância responde a Pequim, e a China pode exercer o seu direito veto sobre qualquer decisão judicial local. Até agora, não há sinais de que as autoridades de Hong Kong tenham abordado ou interrogado Snowden, que foi visto pela última vez a deixar um hotel de luxo no bairro de Kowloon, na segunda-feira.
 
As autoridades de Hong Kong e da China não se manifestaram. O Departamento de Justiça dos EUA afirma estar na etapa inicial de um inquérito criminal sobre os vazamentos. O destino de Snowden está condicionado à natureza específica das eventuais acusações que lhe forem atribuídas. Para que ele seja preso, será necessário que o acto imputado seja considerado crime também em Hong Kong.
 
 

REPRESSÃO A PROTESTOS INTENSIFICA CRÍTICAS EUROPEIAS À TURQUIA

 

Deutsche Welle
 
Turcos, que lutam por entrada na União Europeia, recebem série de alertas. Alemanha diz que governo Erdogan está enviando "sinal errado" ao continente e chefe da diplomacia do bloco avisa sobre "uso excessivo da força".
 
A repressão da polícia turca aos protestos contra o governo do país faz crescer as críticas no exterior ao primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan. A União Europeia alertou nesta quarta-feira (12/06) para o "uso excessivo da força" contra os manifestantes, que protestam há cerca de duas semanas em várias cidades da Turquia, e pediu uma investigação rápida e punição dos responsáveis.
 
Em discurso no Parlamento Europeu, a chefe da diplomacia da UE, Catherine Ashton, afirmou que as práticas policiais vistas em Istambul são "motivo de grande preocupação" para a União Europeia. Milhares de pessoas voltaram a se reunir ao redor da praça Taksim, um dia depois que policiais invadiram o local e expulsaram milhares de ativistas.
 
"Temos visto muitos exemplos do uso excessivo da força pela polícia", disse a comissária europeia, sublinhando o caráter "maioritariamente pacífico" das manifestações.
 
Ashton pediu que eventuais abusos sejam investigados e os responsáveis, punidos. A diplomata britânica acusou, de forma concreta, a "grande ofensiva" na noite de terça-feira para desalojar milhares de manifestantes da praça Taksim e o "uso intensivo de canhões de água e gás lacrimogêneo".
 
Adesão à UE em jogo
 
Ashton disse estar surpreendida pela escassa cobertura dos protestos da praça Taksim pela mídia turca e afirmou que a liberdade de imprensa é "um motivo de preocupação na Turquia". A representante da EU sublinhou, entretanto, que a UE não deve virar as costas ao país neste momento, e sim reforçar o diálogo com ele.
 
O ministro do Exterior alemão, Guido Westerwelle, enviou um alerta a Ancara, referindo-se, de forma indireta, às planejadas negociações para uma possível adesão da Turquia à UE.
 
"O governo turco está enviando o sinal errado, com sua atual reação aos protestos, tanto em direção ao próprio país como à Europa", afirmou.
 
A chanceler italiana, Emma Bonino, foi mais explícita, advertindo que a Turquia está passando por "seu primeiro teste sério" em relação a uma possível adesão ao bloco. O ministro do Exterior francês, Laurent Fabius, exortou o governo turco a mostrar contenção e disposição ao diálogo.
 
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, apelou para que todas as partes tenham tranquilidade tentem um diálogo pacífico. "Protestos devem ser pacíficos e o direito de reunião e liberdade de expressão deve ser respeitado, porque estes são os princípios fundamentais de um Estado democrático", disse seu porta-voz em Nova York.
 
Novos protestos, sem confrontos
 
Na tarde de quarta-feira, milhares de pessoas voltaram a se reunir próximas à praça Taksim. Caminhões com canhões de água eram vistos estacionados nas ruas de acesso ao local, segundo testemunhos, e policiais voltaram a tomar posição nos arredores, mas não houve confrontos. No vizinho parque Gezi, convertido num símbolo do movimento de protesto, os manifestantes continuam acampados.
 
Várias centenas de advogados marcharam na praça para protestar contra a detenção temporária, na véspera, de mais de 70 colegas que protestaram contra a violência da terça-feira. Milhares de advogados também tomaram as ruas da capital, Ancara.
 
No dia seguinte aos confrontos na praça Taksim, Erdogan reuniu artistas, estudantes, cientistas e personalidades públicas escolhidas para o que chamou de uma "conversa informal" sobre o movimento de protesto, noticiou a mídia turca. Entretanto, faltaram ao encontro alguns dos principais organizadores das manifestações, como os membros da Plataforma Taksim, que garantem não terem sido convidados.
 
O governador de Istambul, Huseyin Avni Mutlu, acusou os manifestantes de atacarem a polícia. Ele assegurou que as forças de segurança vão continuar no local enquanto for necessário. O político pediu aos cidadãos de Istambul que mantenham distância da praça Taksim até a ordem ser retomada.
 
Enquanto isso, as autoridades turcas estão punindo veículos críticos ao governo. A emissora turca Halk TV, que tem dado cobertura ampla aos protestos, diferentemente de outros veículos, foi condenada a pagar multa, junto com três outros canais. A acusação é que as estações estariam violando certos princípios de transmissão, ameaçando o desenvolvimento físico, mental e moral dos jovens.
 
Edição: Rafael Plaisant - MD/afp/lusa/dpa
 

ECRÃ NEGRO NA TELEVISÃO PÚBLICA GREGA

 

Eleftherotypia, I Kathimerini - Presseurop
 
Para o jornal diário Eleftherotypia, o encerramento da radiotelevisão pública grega ERT, algumas horas após ter sido perpetrado sem pré-aviso pelo Governo, a 11 de junho, não é nem mais nem menos do que uma “condenação à morte”. Às 23 horas os gregos descobriram de uma forma brutal o vídeo de despedida dos jornalistas da cadeia que, num gesto inédito – não apenas para a Grécia – foi encerrada pelo Governo num piscar de olhos, escreve este jornal. Ao saber da notícia milhares de pessoas saíram à rua e manifestaram-se em frente à ERT. As televisões privadas suspenderam, em sinal de solidariedade, as suas emissões durante algumas horas.
 
De acordo com o Eleftherotypia, o gabinete do primeiro-ministro há muito que tinha esta decisão em mente, até porque acreditava que ao encerrar este organismo público poderia resolver a questão do corte de dois mil funcionários imposto pela troika. Na verdade, com este gesto, enviou para o desemprego 2656 pessoas.
 
Para o diário de Atenas, esta decisão precipitada constitui um enorme problema democrático que destrói o pluralismo da informação. O povo grego tem o direito e deve ter uma televisão pública aberta, imparcial e de qualidade.
 
“Havia muitas coisas que não estavam a correr bem na ERT”, reconhece por seu lado I Kathimerini:
 
Durante muito tempo foi tratada como a maioria do setor público pelos sucessivos governos, que consideravam que tinham um público para manter e dinheiro para gastar. As suas 19 rádios locais padeciam de uma má gestão simplesmente incomportável. [...] Mas também existiam muitas razões para acarinhar a ERT: continuava a produzir documentários excecionais, numa altura em que, na Grécia, mais ninguém o fazia. As suas estações difundiam tipos de música que outros não teriam posto no ar.
 
Sobre a forma como foi feito, o diário económico denuncia que não houve nem debate no parlamento, nem debate público, nem autorização dos parceiros de coligação da Nova Democracia, os Socialistas e a Esquerda democrática. Tudo isto foi substituído por um decreto-lei que foi aprovado. [...] O porta-voz governamental pode assim anunciar que a ERT se tinha tornado num poço sem fundo, que devorava €300 milhões por ano e era objeto de má gestão e de ineficácia em vez de produzir bons programas. [...] A ERT era uma das inúmeras questões que os partidos queriam esconder debaixo do tapete. Que melhor forma de proceder ao encerramento de empresas na mesma altura em que a troika [os credores] está em Atenas e questiona a promessa da coligação de dispensar dois mil funcionários até ao verão?
 
Por seu lado, o Governo assegurou que este encerramento é temporário. Apenas o tempo de criar “tão rapidamente quanto possível” uma “nova estrutura”. O Eleftherotypia diz saber que na gaveta está um projeto-lei para a criação da NERIT AE (nova radiodifusão grega, Internet e televisão), com um quadro de pessoal “bem mais modesto”. Os principais sindicatos da função pública e também do setor privado decretaram uma greve geral de 24 horas esta quinta-feira para protestar contra o encerramento da ERT.
 

O PESADELO DA COCA-COLA E DA PEPSI NO SUDÃO

 

 
Os últimos ataques dos rebeldes sudaneses, num dos mais importantes centros de cultivo de goma-arábica, inquietam as multinacionais. A goma-arábica é responsável por não deixar o açúcar desprender-se da bebida gaseificada e empilhar-se no fundo da lata. Embora seja difícil precisar os números, o Sudão exporta algo entre 40% e 70% de toda goma-arábica mundial.
 
Simon Allison* - Carta Maior
 
Em 1997, honrados legisladores do Congresso dos Estados Unidos estavam extremamente descontentes com o governo do Sudão, o qual acusavam de patrocinar o terrorismo e perseguir minorias religiosas. O problema real era simples: o Sudão havia oferecido refúgio a Osama Bin Laden, que já naquela época era um homem bastante impopular. Como punição, o Congresso norte-americano aprovou um pacote de duríssimas sanções que limitaram severamente a capacidade sudanesa de comércio e atrofiaram sua economia.

No entanto, antes que as sanções fossem aprovadas, lobistas que representavam algumas das maiores corporações norte-americanas lutaram para incluírem uma exceção. Eles obtiveram sucesso, como sempre lobistas bem financiados costumam obter. O artigo a ser dispensado era uma resina dura e translúcida conhecida como goma-arábica. O Sudão poderia exportar o quanto eles quisessem dessa goma.

A goma arábica é um produto muito interessante. A cadeia global de fornecimento de matéria-prima que abastece nosso mundo multinacional nos revela algumas coisas surpreendentes (como o coltan, mineral extraído das horríveis minas informais congolesas diretamente para seu novo lindo smartphone). A goma-arábica é a seiva endurecida de uma espécie específica de acácia que cresce no Sudão. Quando seca e pulverizada, ela pode ser usada no que chamamos de "emulcificante comestível", o que podemos traduzir em linguagem leiga como uma cola que podemos comer.

Por esta razão, costuma-se usá-la em produtos como goma de mascar e certos medicamentos. Mas, de longe, seu uso mais importante se dá em bebidas gaseificadas, onde a goma cumpre o papel essencial de ligar o açúcar à bebida; sem isso, o açúcar se desprenderia da solução e se empilharia no fundo da lata.

Embora seja difícil precisar os números, o Sudão exporta algo entre 40% e 70% de toda goma-arábica mundial, e a maioria provém ou passa pela pequena cidade empoeirada de El Obaid, numa província chamada Kordofan do Norte. Há outros lugares que produzem esta goma, mas eles tendem a ser tão politicamente instáveis (como, por exemplo, o Chade e a Eritréia) e a qualidade não é tão alta.

É irônico: de Kordofan do Norte, um lugar seco e empoeirado de um país arrasado pela pobreza, provém o ingrediente sem o qual um dos produtos mais lucrativos e icônicos do mundo não poderia ser produzido (ou pelo menos, não de forma tão barata).

Isto tudo é apenas uma pequena parte da explicação de por que os acontecimentos políticos no Sudão podem causar alguns momentos angustiantes para os executivos de empresas como a Coca-Cola e a Pepsi, que são os maiores destinatários da goma-arábica sudanesa (nenhuma das duas companhias revelarão a fonte de seus emulsificantes, provavelmente por causa da publicidade negativa que seria acarretada pela associação das suas imagens com o Sudão).

Em um ataque ousado e inesperado, rebeldes do Movimento por Justiça e Igualdade (MJI) capturaram a cidade de Umm Ruwaba na província de Kordofan do Norte. Umm Rawaba está localizada a 100km de El Obaid, e também é um centro de cultivo da goma-arábica.

Isto foi significativo por duas razões. Primeiro, este é um local distante de onde o MJI costuma realizar suas operações, que se concentram em Darfur (ao leste de Kordofan do Norte), indicando que as ações dos rebeldes possuem um alcance surpreendente. Em segundo lugar, o MJI conduziu o ataque sob a bandeira do Fronte Revolucionário Sudanês (FRS), uma coalizão militar de vários grupos rebeldes de diferentes áreas do Sudão. Essa não é a primeira operação a ser conduzida sob a bandeira do FRS, mas é uma das mais bem sucedidas. Além disso, Kordofan do Norte serve como uma ponte geográfica entre a praça forte do MJI em Darfur e a principal força do FRS, o Movimento do Norte para a Libertação do Povo (MNLP) operando em Kordofan do Sul e nos estados do Nilo Azul. É fácil enxergar o ataque a Umm Rawaba como uma tentativa experimental para transformar bolsões de resistência isolados em uma resistência mais unificada e abrangente.

O ataque ocorreu alguns dias depois de negociações sem sucesso entre o MNLP e o governo sudânes. "Eu acredito que esse ataque foi planejado pelos rebeldes depois do insucesso das conversas em Addis Ababa. É um aviso ao governo de que os rebeldes podem expandir sua luta por outras áreas," declarou um colunista sudanês, Abd al-Latif al-Bony, ao New York Times.

Não demorou, no entanto, para que as tropas sudanesas se organizassem e pressionassem os rebeldes, tirando-os de Umm Rawaba, de acordo com relatórios. Mas o governo sudanês recebeu a mensagem dos rebeldes: a rebelião se espalhou para Kordofan do Norte.

Essa é uma mensagem à qual corporações como a Coca-Cola e a Pepsi, preocupadas com sua cadeia global de fornecedores, estarão, sem dúvida, atentas.

*Simon Alisson é um jornalista residente na República da Somalilândia, especializado em questões geopolíticas africanas e do Oriente Médio.

Tradução de Roberto Brilhante.

Fotos: chinabevnews.wordpress.com

A NATO EM CABO VERDE, OU AS SUCESSIVAS MORTES DE AMÍLCAR CABRAL – II

 

Martinho Júnior, Luanda

Cabo Verde começou a valer muito mais pelo contexto sociológico e pela sua forte identidade cultural que não se deixou abater pela diáspora do que pelo pendor revolucionário de suas gentes e, tanto o peso das comunidades migrantes, como a influência dos seus contactos, ditou a sorte do jovem estado e a natureza da sua vida e do seu desenvolvimento.

Com mais de trinta anos de Independência, se durante a Guerra Fria as ilhas viveram um pouco à margem dos acontecimentos no Mundo, durante o processo de globalização Cabo Verde tem-se vindo a acomodar num espaço geo estratégico bem definido, em relação ao qual durante várias décadas se foram constituindo laços de sangue, laços de comunidade, laços sociais inultrapassáveis e interesses, na sequência das dependências históricas que estão longe de deixar de existir.

A sua insularidade atlântica distingue Cabo Verde de África, como se seu povo fosse um velho e original navegante com identidade própria e os seus laços afirmam Cabo Verde como uma “sentinela” geo estratégica duma Europa que também ela teima em não se assumir, presa aos expedientes históricos dos impérios coloniais, aos contenciosos advenientes da IIª Guerra Mundial e particularmente a uma organização como a NATO, instrumento duma filosofia hegemónica servil à alta finança e aos seus projectos de domínio sobre o Mundo.

É no espaço físico geográfico dessa “sentinela” que a NATO escolheu precisamente o cenário para testar a sua Força de Intervenção Rápida (“NATO Reponse Force” ), ao nível de mais duma vintena de unidades navais (algumas delas constituídas em autênticas plataformas estratégicas) e de 7.000 homens e para isso muito contribuíram o antigo guerrilheiro Pedro Pires, (actual Presidente de Cabo Verde), o PAICV (herdeiro histórico do movimento de libertação) e dirigentes ao nível do Primeiro Ministro de Cabo Verde, expoente da nova geração de governantes das ilhas.

O “Steadfast Jaguar 2006” não serviu apenas para testar a capacidade da “NATO Reponse Force” fora dos limites tradicionais da NATO e, pela primeira vez, num país africano: o exercício foi mais um elo na sucessão que o poder hegemónico vem dinamizando no eixo dum paralelo que vai das Caraíbas ao Afeganistão, bordejando uma estratégia de alargamento de influência das principais potências do sistema Norte Americano – Europeu.

O seu enquadramento foi perfeito na sucessão de exercícios como o “Partnership of the Americas”, realizado pelo SOUTHCOMMAND dos Estados Unidos, o “Joint Caribean Lion 2006”, sob comando Holandês, ou ainda o “Phoenix Express”, assim como conjunto de missões que as marinhas de guerra dos Estados Unidos e dos países da NATO foram explorando no Atlântico e no Mediterrâneo, entre elas a visita do Emory S. Land à costa Ocidental Africana, em tempo oportuno para fazer avançar o reconhecimento subaquático em toda a profundidade dos vários campos de manobra e tendo em conta os teatros regionais.

A sublinhar o enquadramento foram utilizadas unidades navais similares, algumas delas pertencendo às mesmas classes de navios:

Por parte dos Estados Unidos utilizaram-se os navios de assalto anfíbios como o USS Bataan e o USS Saipan, utilizaram-se ainda porta-aviões como o USS George Washington, como o navio comando USS Mount Whitney, que alberga o comando da 6ª Esquadra da Navy.

Por parte dos Europeus, navios como o Roterdan (da Holanda), ou o Castilla (de Espanha), unidades polivalentes que servem para desembarque e assalto.

Nunca as frotas de desembarque e assalto dos Estados Unidos, como dos países europeus da NATO, foram tão poderosos como hoje e isso é por si um sinal de como este “modelo” de globalização se instrumenta em meios militares, como uma forma “cirúrgica” e “persuasiva” de ampliar sua margem de manobra e de influência, impondo a “New World Order”.

Ao aceitar que seu território fosse palco dum exercício desta natureza, integrando um pacote tão vastos de exercícios com profundo significado militar, político e sócio cultural, Cabo Verde deixou de se identificar com aqueles países que procuram estratégias alternativas, integradas e Não Alinhadas, como Cuba, Venezuela ou Bolívia, na América Latina, países que procuram encontrar soluções geo estratégicas que escapem ao unilateralismo Norte Americano e da NATO, como a Rússia, a China, ou mesmo alguns países africanos, que vêem na União Africana muito mais que uma forma integrada de pensar e agir África.

Ainda o exercício estava em curso, Cabo Verde foi (muito oportunamente) visitado pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros de Cuba, Filipe Pérez Roque, que veio convidar o Presidente Pedro Pires para a 14ª Cimeira do Movimento dos Não Alinhados, como que se Cuba Revolucionária estivesse precisamente a lembrar que a presença da NATO era por si uma fronteira em relação à qual a “sentinela” Cabo Verde, deveria séria e dignamente ter a possibilidade de optar.

Cuba Revolucionária, fiel à lógica de Brazzaville, do Não Alinhamento e dando sequência à epopeia do movimento de libertação, lembra também e dum modo muito diplomaticamente discreto, que todos os exercícios navais, das Caraíbas ao Afeganistão, assim como todos os contenciosos militares e operativos dentro dessa vastíssima região, são a prova de que a NATO está dilatada muito para lá das suas fronteiras tradicionais e que suas ambições não se limitavam à quimérica defesa da Europa segundo o pensamento típico anglo-saxónico.

Cuba Revolucionária lembra ainda que para a Espanha, tão singularmente presente no “Phoenix Express” quanto no “Steadfast Jaguar 2006”, tal como para Portugal, há uma alternativa para o pensamento estratégico anglo-saxão na via dum Pacto Hispânico alargado à América Latina e a África, alternativa essa que nunca foi alguma vez explorada.

A NATO veio provar em Cabo Verde a sua vontade em atingir outras paragens, alargar a sua influência e servir os interesses que tutelam o “modelo” de Globalização que as elites financeiras do grande capital pretendem, em função da sobrevivência dos seus “lobbies” e interesses.

Não conseguiu esconder contudo o essencial: a vida não se compadece com um contínuo exercício musculado de poder e, se as nações e povos do Sul, como pretendem estadistas como Hugo Chavez, conseguirem lutar por seus interesses e unidade, muita coisa se poderá alterar, inclusive no microcosmos que constitui o que é hoje a “sentinela” de Cabo Verde.

Texto produzido em Junho de 2006.

Foto: O Presidente Pedro Pires passa revista aos efectivos da NATO no âmbito da “Steadfast Jaguar 2006”: os dados estavam lançados… - Distinguished visitors are hosted in the USS Mount Whitney during Steadfast Jaguar 2006 – 23 de Junho de 2006 – http://www.nato.int/shape/news/2006/06/060601a.htm; Pedro Pires visita Regiões Militares – http://liberal.sapo.cv/noticia.asp?idEdicao=64&id=7700&idSeccao=527&Action=noticia

Nota: Este texto foi por mim produzido na sequência do Exercício Militar da NATO “Steadfast Jaguar 2006”, que teve lugar em Cabo Verde entre 1 e 12 de Junho de 2006, está a fazer sete anos.

Nessa altura tinha a intenção de fazer parte dum conjunto de alertas para o que viria a desencadear-se a seguir: a NATO no Afeganistão, a Líbia, as “primaveras árabes” submissas ao diktat dos interesses ocidentais, o Mali, a crónica Somália, o Iémen, os enredos do Médio Oriente e do petróleo barato, o crescendo do neo colonialismo em África, o AFRICOM, as manipulações só possíveis com as artificiosas ementas do “combate ao tráfico de droga”, “combate à migração clandestina”, “combate à pirataria”, “combate ao terrorismo”… a criação de “frentes mobilizadoras” que dessem possibilidade a “parcerias” que se traduzem nas ingerências a que se passaram a sujeitar as nações africanas na via neo colonial que se começava a estender, por dentro de suas sociedades, como nos enredos regionais e internacionais característicos da globalização capitalista e neo liberal…

A independência de bandeira não é a independência de facto.

Para a América Latina 200 anos não bastaram para alcançar a independência de facto, nem mesmo com o engenho e a arte histórica da integração, pois o penoso processo de luta continua com avanços e recuos, com recurso à imensa coragem e à consciência rebelde dos seus povos…

Para África contudo, uma África minada pelo subdesenvolvimento, sem infra estruturas, com extremamente frágeis identidades nacionais, ocupando a cauda dos Índices de Desenvolvimento Humano, esse processo ainda não tem a energia resoluta das grandes opções e o fim do movimento de libertação contra o colonialismo e o “apartheid” é comprovado por que as burguesias coloniais e as “brancas”, estão a ser sucedidas pelas burguesias negras trabalhadas pela globalização neo liberal na direcção da submissão e da dependência do continente-berço da humanidade!

África está à mercê do neo colonialismo, a única forma de relacionamento para que as culturas indexadas ao universo anglo-saxão, aquelas que se subordinam aos tais 1% da humanidade, estão vocacionadas!

 

Angola: CRESCIMENTO NÃO BENEFICIA OS MAIS NECESSITADOS, diz relatorio

 

 
Universidade Católica diz que Angola estagnou
 
O último relatório do Centro de Estudo e Investigação Científica da Universidade Católica de Angola concluiu hoje que o país está longe de atingir as metas do desenvolvimento humano por causa da corrupção e da má distribuição do rendimento nacional.

O estudo conclui que Angola estagnou em termos de desenvolvimento económico e social contrariando as expectativas do governo nesta matéria. O relatório da Universidade Católica, foi apresentado durante uma concorrida conferência internacional que reuniu políticos, académicos e economistas estrangeiros e diplomatas.

O académico Alves da Rocha, coordenador do Centro do Centro de Investigação da Universidade Católica, precisou que as actuais estatísticas de Angola são muito baixas.

“O modelo de repartição de rendimentos em Angola não faz com que este rendimento chegue às pessoas mais necessitadas,” disse.

Alves da Rocha disse que para ultrapassar esta situação o governo deve aumentar os salários do trabalhadores, melhorar as prestações sociais para as famílias aumentar o emprego entre outras medidas.

Portugal e Angola retomam cooperação técnico-policial, após interrupção de vários anos

 

Lusa - 12 de Junho de 2013
 
Portugal e Angola vão retomar a cooperação técnico-policial, que esteve interrompida alguns anos, anunciou em Luanda o secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e Cooperação português.
 
Francisco Almeida Leite falava à imprensa no final do encontro de trabalho que manteve no Ministério do Interior, com o secretário de Estado Eugénio Laborinho.
 
"Tive uma reunião muito produtiva sobre o regresso à cooperação técnico-policial. Esta reunião acontece na sequência de uma outra que tive há meses com o ministro do Interior de Angola, em que definimos como prioridade o regresso da cooperação técnico-policial, em que Portugal e Angola estiveram vários anos afastados", salientou.
 
Francisco Almeida Leite, que iniciou na segunda-feira uma visita oficial de cinco dias a Angola, acrescentou que Portugal mantém este tipo de cooperação com outros países, com financiamento da União Europeia.
 
"Não é uma coisa simples. O Ministério do Interior de Angola relaciona-se em Portugal, quer com o Ministério da Justiça, quer com o Ministério da Administração Interna, e o que pude ver nesta área é que as relações são excelentes", manifestou.
 
O governante português adiantou que Portugal e Angola vão reforçar a actual cooperação existente no campo da investigação criminal, continuando a troca de equipas de investigadores, de informações e a continuação de acções de formação.
 
"Voltamos a este tipo de cooperação", frisou.
 
Outra área em que Portugal vai ajudar Angola é na criação de um estabelecimento de ensino superior de formação de polícias.
 
"Angola tem ambições enormes em termos de polícia. O senhor ministro já me tinha transmitido, o secretário de Estado voltou a transmitir a enorme vontade em elevar a polícia angolana a um nível superior, com uma Escola Superior de Polícia que tenhas várias valências", afirmou.
 
Nesse sentido, Portugal vai enviar formadores, especialistas.
 
Francisco Almeida Leite prossegue na quarta-feira a deslocação oficial a Angola com uma ida à província de Benguela, litoral centro do país, com visitas a projectos financiados pela Cooperação Portuguesa, nomeadamente o "Saber Mais", programa de formação de professores.
 
Durante a estada de cerca de 24 horas em Benguela, o secretário de Estado contactará a comunidade portuguesa residente naquela província numa recepção para assinalar a celebração do Dia de Portugal.
 

Portugal: FUNÇÃO PÚBLICA. SUBSÍDIOS POR INTEIRO SÓ SERÃO PAGOS EM NOVEMBRO

 


Ana Tomás – Jornal i
 
Passos Coelho afirmou que subsídio de férias já está a ser pago em duodécimos e que o subsídio de Natal será pago por inteiro em Novembro
 
O primeiro-ministro, Passos Coelho, afirma que o subsídio que será pago por inteiro aos pensionistas e funcionários públicos, com rendimentos superiores a 600 euros, só será processado em Novembro e não em Junho.
 
“Faremos o pagamento em duodécimos de um dos subsídios e faremos o outro em Novembro, como estava definido”, sublinhou o chefe de governo esta manhã, na Feira do Ribatejo, em Santarém.
 
A deliberação tomada em Conselho de Ministros confirmou, segundo Passos Coelho, uma decisão que já está tomada há muito tempo. “Não há aqui nada de novo”, disse, explicando que o subsídio de férias já está a ser pago em duodécimos, desde Janeiro, e que o de Natal será pago no penúltimo mês do ano, como é habitual.
 
De acordo com o primeiro-ministro o processamento dos dois subsídios desta forma “não tem a ver com problemas de financiamento”, mas com o facto de o Orçamento Rectificativo ainda não ter sido aprovado.
 
“Não podemos processar em Junho porque não há um Orçamento Rectificativo aprovado para que os serviços processem os subsídios”, explicou.
 
Quanto às autarquias que já pagaram um dos subsídios este mês, contrariando a indicação do governo, Passos Coelho admitiu que não será fácil contornar uma decisão que já foi tomada.
 
“Tenho dificuldade em oferecer uma solução para isso. Se há soluções que não são regulares deverão ser corrigidas”, defendeu.
 

Portugal: O 10 DE JUNHO

 

 
Baptista-Bastos – Diário de Notícias, opinião
 
Blábláblábláblábláblábláblá-blábláblábláblábláblábláblábláblábláblá A magistratura presidencial destina-se a manter a coesão nacional blá blábláblblábláblábláblábláblblá-blábláblábláblábláblábláblábláblá-blábláblábláblá Não governo nem sou corresponsável pela política do Governobláblábláblábláblábláblá-blábláblábláblábláblábláblábláblá-blábláblábláblá A agricultura nunca esteve tão bem como nos últimos anos blábláblábláblábláblábláblá- blábláblábláblábláblábláblábláblá-blábláblábláblábláblá Chego sempre à mesma conclusão: se tivermos uma crise política, os portugueses ficariam muito pior blábláblábláblá.
 
Bláblábláblábláblábláblábláblá-blábláblábláblábláblá Estou acima das lutas político-partidárias bláblá- blábláblábláblábláblábláblábláblá-blábláblábláblábláblábláblábláblábláblá No meu horizonte não está a demissão do actual Governo, pelo menos durante a vigência do programa de assistência financeira blábláblábláblábláblábláblábláblábláblá-bláblábláblábláblábláblábláblá-blábláblábláblábláblábláblábláblá O relançamento da economia será possível com a expansão do investimento privado e o financiamento às empresas bláblábláblábláblábláblá- blábláblábláblábláblábláblábláblá-blábláblábláblábláblábláblábláblá-bláblá A demissão do Governo não deve ser feita de ânimo leve. Só em ocasiões muito especiais. Nem mesmo numa situação em que o Presidente perde a confiança no Governo bláblá lábláblábláblá blábláblábláblá- blábláblábláblábláblábláblábláblá-blábláblábláblábláblábláblábláblá-blábláblá Não comento as declarações do senhor Presidente da República; isso compete aos comentadores blabláblábláblábláblábláblblá- blábláblábláblábláblábláblábláblá-blábláblábláblábláblábláblábláblá-bláblábláblá Não percebo muito bem o discurso do senhor Presidente. Nem uma só vez se referiu ao desemprego em Portugal bláblábláblá blábláblábláblábláblábláblábláblábláblá- bláblábláblábláblábláblábláblálábláblá-bláblá Aquilo que preocupa os portugueses. Que é a crise, os problemas que os afectam, desemprego, recessão, não tiveram eco, de facto, neste discurso blábláblábláblábláblábláblá- blábláblábláblábláblábláblábláblá-bláblábláblábláblábláblábláblá O senhor Presidente da República teve um discurso muito responsável, muito galvanizador. Foi um Presidente da República da esperança bláblábláblá blábláblábláblábláblábláblábláblá-blábláblábláblábláblábláblá O Presidente da República saberá, com certeza, os temas que escolhe. Aquilo que nos parece é que faz sentido falar da agricultura, que é um tema muito importante blábláblábláblábláblábláblá-blábláblábláblábláblábláblábláblá-blábláblábláblábláblá Gatunos! Gatunos! Gatunos! Demissão! Demissão! Gosto muito de paradas militares. Por isso cá estou. Mas que estão a fazer aqui estes gajos do Governo, que só têm dado cabo do país? (...) Nobre povo, nação valente (...) Às armas! Às armas!
 

PROTESTO QUANDO CAVACO SILVA DISCURSAVA EM ESTRASBURGO

 

 
Daniel do Rosário, correspondente em Bruxelas - Expresso
 
Deputados do Grupo da Esquerda Unitária Europeia manifestaram-se hoje com cartazes durante o discurso do Presidente da República no Parlamento Europeu.

Foi um protesto silencioso e sem grandes sobressaltos para o Presidente da República, mas marcou o início do discurso de Cavaco Silva, esta manhã, no Parlamento Europeu em Estrasburgo.
 
Pouco depois de começar a falar, os deputados do Grupo da Esquerda Unitária Europeia, onde se inserem os representantes portugueses do PCP e do Bloco de Esquerda, levantaram-se e, silenciosamente. limitaram-se a empunhar cartazes verdes e vermelhos, onde se lia: "Troika fora de Portugal".
 
O protesto não causou perturbações ao que estava programado e Cavaco Silva continuou a discursar normalmente, como se nada se tivesse passado.
 
No Parlamento Europeu, o Presidente português chamou a atenção para os problemas com que Portugal se defronta e que entretanto já alastraram para o interior do Velho Continente, atingindo presentemente nações do coração europeu.
 

Portugal: Não pagamento de subsídio em Junho é medida de retaliação, diz CGTP

 

Sol - Lusa
 
O secretário-geral da CGTP considerou hoje a decisão do Governo de não pagar o subsídio de férias aos funcionários públicos no final de Junho uma "medida de retaliação" contra aqueles trabalhadores e contra o sector empresarial do Estado.
 
"A desculpa de que não há provimento não faz sentido, tem havido dinheiro para muitas coisas, nomeadamente para o BPN e para outros negócios de parcerias público-privadas e não se justifica que neste momento o Governo esteja a invocar falta de provimento para não pagar o subsídio de férias", disse Arménio Carlos à agência Lusa.
 
O sindicalista reagia ao facto de o Governo ter ordenado aos serviços públicos para não pagarem os subsídios de férias em Junho apesar de a suspensão ter sido chumbada pelo Tribunal Constitucional (TC) e de não estar em vigor a proposta do executivo que remete para Novembro esse pagamento.
 
Para Arménio Carlos, a decisão do Governo nada tem a ver com os interesses do país, além de que constitui uma "atitude revanchista contra os trabalhadores da administração pública e já agora contra a própria economia".
 
O sindicalista sublinhou ainda que "para quem está preocupado, ou se diz preocupado, com a situação económica do país e a necessidade de promover o crescimento económico", o não pagamento dos subsídios de férias em Junho piora a situação da economia.
 
"Parece-nos uma medida inadmissível, porque não só prejudica os trabalhadores da função pública, como vai prejudicar também o funcionamento da economia, nomeadamente naquilo que tem a ver com a venda de serviços das próprias empresas", sublinhou.
 
O sindicalista considerou ainda que a decisão do Governo "é mais um exemplo que confirma a justeza da convocação da greve geral para 27 de Junho e a necessidade de, independentemente das suas opções sindicais, os trabalhadores aderirem em força a esta greve geral".
 
De acordo com uma deliberação do Conselho de Ministros da passada quinta-feira, que não foi referida em nenhum dos comunicados que se seguiram à reunião do executivo, mas à qual a agência Lusa teve hoje acesso, o Governo argumenta que, apesar do chumbo do TC, "não há meios necessários e suficientes para que os trabalhadores do Estado possam receber o subsídio de férias em Junho, conforme a legislação em vigor no âmbito do Regime do Contrato de Trabalho em Funções Públicas (RCTFP).
 

Portugal - FESAP: Decisão do Governo de não pagar subsídios é “grande trapalhada”

 

Sol - Lusa
 
O coordenador da Federação Sindical da Administração Pública, Nobre dos Santos, considerou hoje que a decisão do Governo de não pagar o subsídio de férias aos funcionários públicos em Junho "é uma grande trapalhada" e viola a lei.
 
"Temos uma situação de verdadeira trapalhada e confusão sem proveito para ninguém, a única coisa a fazer é respeitar a decisão do Tribunal Constitucional [TC]", disse à agência Lusa o dirigente da Federação Sindical da Administração Pública (FESAP), acrescentando que o Governo está a violar a lei.
 
Nobre dos Santos reagia ao facto de o Governo ter ordenado aos serviços públicos para não pagarem os subsídios de férias em Junho, apesar de a suspensão ter sido chumbada pelo TC e de não estar em vigor a proposta do executivo que remete para Novembro esse pagamento.
 
"O Governo diz que não vai cumprir a lei porque não tem meios financeiros para o fazer, mas, como é sabido, nos Açores e em algumas autarquias os subsídios vão ser pagos de acordo com a decisão do TC", frisou.
 
De acordo com Nobre dos Santos, o Governo criou uma situação de "incredibilidade" junto dos trabalhadores e uma "grande confusão" nos serviços.
 
"Infelizmente a dificuldade financeira quando existe tem de ser uniforme, em todo o espaço nacional. Isto é uma situação insustentável pois temos os Açores e algumas autarquias a pagar os subsídios", disse.
 
Nobre dos Santos adiantou ainda que a FESAP vai avaliar a situação e "tentar repor a legalidade".
 
"A lei anterior manda pagar o subsídio de férias em Junho. Desde o momento que há decisão do TC não há nada a dizer", disse.
 
De acordo com uma deliberação do Conselho de Ministros da passada quinta-feira, que não foi referida em nenhum dos comunicados que se seguiram à reunião do executivo, mas à qual a Lusa teve acesso, o Governo argumenta que, apesar do chumbo do TC, não há "meios necessários e suficientes" para que os trabalhadores do Estado possam receber o subsídio de férias em Junho, conforme a legislação em vigor no âmbito do Regime do Contrato de Trabalho em Funções Públicas (RCTFP).
 
"O Orçamento do Estado para 2013 (OE2013) não prevê os meios necessários e suficientes para garantir o referido pagamento, existindo assim uma inconsistência entre a obrigação legal de pagar os subsídios e os limites orçamentais impostos pela referida lei", lê-se na deliberação.
 
O executivo argumenta ainda que Portugal se encontra "obrigado" ao cumprimento do Programa de Assistência Económica e Financeira (PAEF), que "impõe limites trimestrais ao défice público" e que já apresentou no Parlamento uma proposta de Orçamento Rectificativo e uma proposta de lei que prevê o pagamento do subsídio de férias só em Novembro.
 
Relacionado em Sol
 

Portugal: FALEMOS DE AGRICULTURA, EXCELENTÍSSIMO PRESIDENTE

 

Daniel Oliveira – Expresso, opinião
 
No discurso do 10 de junho, o Presidente da República concentrou a sua intervenção no "pós-troika". Já aqui disse o que pensava sobre o assunto: discutir o que fazer depois ignorando o que se está a fazer agora é uma forma habilidosa de demissão das responsabilidades políticas de cada um. O futuro de Portugal está a decidir-se agora e não é indiferente ao que se possa fazer no futuro os erros que, numa altura tão sensível, sejam agora cometidos.
 
Cavaco Silva concentrou grande parte da sua intervenção na agricultura. A agricultura é um excelente tema para discutir o futuro próximo e o passado recente de Portugal. Porque foi nela que sentiu de forma mais violenta os erros cometidos na integração europeia - de que Cavaco Silva foi apenas o estreante que deu o mote para os governos seguintes -, a função cumprida pelos fundos estruturais, a cegueira do poder político e do modelo de desenvolvimento em que apostou, os efeitos do mercado único europeu para os países periféricos e os efeitos devastadores do euro na nossa economia. E é também o melhor exemplo de como sair desta crise, já que tem como principal característica a fraca incorporação, para a produção, de bens importados. Recordo que as exportações nacionais incorporam, em média, 40% de importações. Na agricultura e nos sectores ligados à floresta incorporam apenas 27%. Diria mesmo, apesar de não ser esse o tema desta crónica, que seria o sector que mais ganharia com o fim do euro ou a saída de Portugal da moeda única.
 
Mas o que Cavaco Silva queria era "contrariar algumas ideias feitas". E percebemos imediatamente ao que vinha. É ao que vem sempre: defender-se de críticas, falar dele próprio fingindo que fala do País. É sabido que uma das maiores críticas que se faz ao legado cavaquista é exatamente no sector da agricultura e pescas, cujo peso na economia era visto, na altura, como sinal de um país atrasado. E Cavaco quis pintar um retrato diferente. Escolhendo cirurgicamente os números que o poderiam socorrer e os indicadores que pudessem contrariar o que se nota à vista desarmada.
 
Concentro-me nos dados que nos são exibidos pelo recente estudo "25 anos de Portugal Europeu" (cuja leitura aconselho), do insuspeito Augusto Mateus e da ainda mais insuspeita Fundação Francisco Manuel dos Santos. Aí, pode observar-se que, ao contrário do que aconteceu noutros sectores, este foi o único cuja produtividade divergiu em relação à média comunitária. Entre 1986 e 2008 o Valor Acrescentado Bruto gerado pelo sector primário passou de 10% para 2%. Portugal passou de 7º para 12º lugar na representatividade económica do sector (agricultura, silvicultura e pescas). Houve uma queda do volume de mão obra usada (que Cavaco quis traduzir numa maior competitividade que não se verificou) para metade. Entre 1989 e 2009 o número de explorações agrícolas caiu 50%. Muito bem, ficaram maiores. Mas a superfície agrícola utilizada também caiu 9%. A capacidade da frota pesqueira caiu para metade e desapareceram quatro quintos das embarcações de pesca sem motor.
 
Entre 1986 e 2008, o aumento real da produção agrícola ficou abaixo dos 25% e na pesca caiu 7%. Portugal manteve-se a meio da tabela europeia no crescimento de produção alimentar mas agravou bastante a taxa de cobertura das importações pelas exportações de bens alimentares. Ela era de 43% em 1990 e passou para os 32% em 2010. Na Europa dos 27, só o Reino Unido está pior. Em 1986 importávamos 35% do que comíamos. Em 2007, importamos 50%. Porque, com as alterações do consumo, passamos a consumir coisas que não produzíamos? Não. Porque passamos a importar produtos em que éramos praticamente autossuficientes: hortaliça, fruta, carne e leite. E em 2007, Portugal importava mais de quatro quintos do peixe, oleaginosas e cereais que consumia.
 
Sim, o tema da agricultura é excelente para discutir porque aceitámos ser financiados para não produzir, numa visão distorcida do que deveria ser a modernização deste sector. Sim, é excelente para falarmos do que foi o desastroso ordenamento do território, a destruição do mundo rural e a desertificação do interior. Sim, é excelente para provar o crónico desequilíbrio de poderes na União Europeia, de que a PAC é apenas um dos exemplos mais escandalosos. Sim, é excelente para discutir os efeitos de uma moeda forte, que torna a importação mais interessante do que a produção para exportar e que arrasou com a competitividade externa de um País que ainda tinha de fazer muito para viver num mercado aberto. Sim, é um excelente tópico para discutir os efeitos que a nossa permanência no euro, nas atuais circunstâncias, terá para a nossa economia. E para determinarmos quais são os sectores onde temos de apostar.
 
A agricultura só não é um bom tema para Cavaco Silva puxar dos galões dos seus 10 anos de tempo, oportunidades e dinheiro perdidos. Não foi, longe disso, o único responsável pelos números que aqui deixei. Mas foi o primeiro a ignorar a insustentabilidade de um País que desistia de produzir bens transacionáveis. Que se entregava a uma insuportável dependência alimentar. Que se virava quase exclusivamente para os serviços (muitos deles sem acrescentarem valor ao que era produzido) e para a construção em obras públicas (que, sendo precisa, foi muito para além das nossas necessidades quando o dinheiro que chegava em barda nos permitiria desenvolver as nossas atividades produtivas) e na habitação (que, através do financiamento público aos pedidos de empréstimos para compra de casa por jovens e ao absoluto desprezo pelo mercado de arrendamento e a reabilitação, contribui de forma decisiva para o endividamento privado). Foi o primeiro, mas não o único, a ter uma posição acrítica das políticas europeias, que ainda hoje domina a vida política portuguesa. A resumir toda a discussão do papel de Portugal na Europa aos montantes dos fundos estruturais que se encarregou de estourar como se não houvesse amanhã.
 
Com habilidades estatísticas, Cavaco Silva quis que nos esquecêssemos das suas responsabilidades políticas. De como o que diz hoje é em tudo o oposto do que fez ontem. Escolheu mal o tema. O que aconteceu à nossa agricultura é o melhor retrato de todos os erros que cometemos na nossa integração europeia. E Cavaco Silva, que teve uma década para fazer as escolhas certas, o seu principal protagonista.
 

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