sábado, 23 de fevereiro de 2013

PRESSÕES EXPLOSIVAS NO SISTEMA MONETÁRIO INTERNACIONAL




O sistema monetário internacional deve ser reformado pela raiz. Do contrário, seguirá sendo fonte de pressões explosivas na economia mundial. Enquanto não se corrigir sua estrutura e, em especial, o papel hegemônico do dólar estadunidense, persistirão as fontes de tensões econômicas e a recuperação será mais difícil. O artigo é de Alejandro Nadal.

Alejandro Nadal – SinPermiso - Carta Maior

Entre as causas da crise global se encontram alguns elementos estruturais da economia mundial. Um dos mais importantes é o defeituoso sistema monetário internacional. Enquanto não se corrigir sua estrutura e, em especial, o papel hegemônico do dólar estadunidense, persistirão as fontes de tensões econômicas e a recuperação será mais difícil.

A supremacia do dólar pode ser explicada por vários fatores. É a herança da conferência de Bretton Woods (1944) na qual se consagrou o dólar como âncora do sistema de taxas de câmbio fixas, peça chave do sistema monetário internacional. Este esquema outorgou uma enorme vantagem para os Estados Unidos, mas constitui um fator de desequilíbrio internacional de grande importância.

A partir de 1945 a organização da economia mundial permitia aos Estados Unidos importar o que quisesse e pagar com uns papeizinhos verdes que diziam In God We Trust (Confiamos em Deus). Claro, no princípio a economia estadunidense manteve um superávit comercial porque as economias europeia e japonesa tinham sido devastadas pela guerra. Mas já nos anos 60 as coisas começaram a mudar: a balança comercial dos EUA se deteriorou e desde então sua condição deficitária não deixou de se agravar.

Frente ao déficit estadunidense surgiram países que mantiveram um superávit constante em suas relações comerciais com o gigante norteamericano. Esses países constituíram reservas em dólares, mas também começaram a reciclar seus dólares na própria economia dos Estados Unidos. Isso incrementou a demanda de todo tipo de ativos financeiros nesse país, aumentando o preço desses ativos e reduzindo a taxa de juros. Desta forma, as famílias e empresas nos EUA puderam aumentar sua demanda enquanto conservavam uma enganosa sensação de boa saúde econômica.

Desde 1973 os salários deixaram de crescer e o endividamento se converteu no principal instrumento dos lares para manter seu nível de vida. O salário deixou de ser a base da reprodução da força de trabalho e a demanda agregada se manteve de maneira artificial, ajudada também por episódios de inflação nos preços de ativos como casas e papeis nas bolsas de valores. Essas bolhas permitiam incrementar a demanda durante algum tempo, ainda que causassem grandes danos ao estourar.

O déficit externo também aumentou porque a demanda de ativos financeiros nos EUA contribuía para apreciar o dólar: as exportações dos EUA se encareciam enquanto as importações barateavam. Esse estado de coisas reduziu a inflação e beneficiou o consumidor estadunidense, mas também contribuiu para o desmantelamento da indústria manufatureira do país.

Os Estados Unidos foram se convertendo no consumidor de última instância da economia mundial. Os países que tinham problemas para incrementar sua demanda agregada (como Alemanha e China) foram dependendo cada vez mais da inesgotável capacidade de compra dos EUA. O dólar seguiu sendo a moeda de reserva por excelência (mais de 60% das reservas mundiais de divisas) e hoje os países credores possuem bilhões de dólares em ativos emitidos pelo governo estadunidense e por Wall Street. Nessas condições, ninguém quer que os Estados Unidos se submetam à chamada disciplina do mercado para resolver o problema de seu déficit externo.

Em plena crise mundial renasce a pergunta sobre o que permitira reformar o sistema monetário internacional. Uma possível resposta está no aumento da demanda agregada dos países com superávit, o que teria que ser feito aumentando os salários nessas economias. Os autores pós-keynesianos pensam que isso permitira contar com outras fontes de crescimento econômico sem ter que se basear no consumidor estadunidense.

No entanto, mesmo nesse caso, os ajustes internacionais não seriam tão fáceis. Em primeiro lugar, é preciso lembrar as origens do problema: a estagnação dos salários nos anos setenta não foi uma casualidade. O corte nos gastos salariais foi a resposta do capital para a queda na taxa de lucro na década anterior. Será possível que as economias dos EUA, da Alemanha e agora da China introduzam políticas de aumento salarial? Isso parece quase impossível, sobretudo no contexto atual no qual o custo da crise foi repassado aos trabalhadores.

Em segundo lugar, os fluxos de capital característicos da economia mundial não facilitam o ajuste das contas externas de um país. É falso dizer que o sistema de taxas de câmbio flexíveis permita tal ajuste porque os fluxos de capital perturbam o processo que deveria levar à eliminação dos desequilíbrios. É precisamente o esquema neoliberal de economia aberta que faz com que os fluxos de capital gerem uma apreciação cambial no momento em que mais se necessita de uma desvalorização.

O sistema monetário internacional deve ser reformado pela raiz. Do contrário, seguirá sendo fonte de pressões explosivas na economia mundial.

Tradução: Katarina Peixoto

“A EUROPA QUER VER-SE LIVRE DOS SENHORES DA AUSTERIDADE”, diz Berlusconi




Expresso - Lusa

O antigo primeiro-ministro italiano criticou hoje os "senhores da austeridade" na Europa na véspera das eleições legislativas no país.

O antigo primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, líder do partido Povo da Liberdade (PDL), afirmou hoje que "os senhores da austeridade" da Europa querem "ver-se livres" dele.

Falando em dia de reflexão, na véspera das eleições legislativas, em Itália, o candidato do PDL, partido conservador, criticou os políticos europeus que prosseguem as medidas de austeridade: "Eu opus-me aos senhores da austeridade que estão a tentar agora ver-se livres de mim".

De acordo com a agência noticiosa Ansa, Berlusconi terá falado em Milão para uma televisão grega, numa entrevista em que acusa o primeiro-ministro Mario Monti de ser "subserviente e estar sempre de joelhos perante a senhora Merkel [a chanceler alemã Angela Merkel], que agora não o quer perder".

Austeridade conduz a uma espiral recessiva

Silvio Berlusconi disse que a "austeridade aumenta a dívida pública e conduz a uma espiral recessiva que aumentará o desemprego e poderá causar o fim da paz social".

As eleições legislativas em Itália realizam-se no domingo e na segunda-feira, com 30% dos eleitores a manifestarem-se indecisos, de acordo com as sondagens.

O líder do Partido Democrata (PD, centro-esquerda), Pier Luigi Bersani, é considerado o favorito à vitória, com 34 a 38% dos votos, enquanto Berlusconi se ficava entre 28 e 30%.

Mario Monti concorre com a lista Eleição Cívica, que coligada com a União dos Democratas Cristãos (UDC) de Pierferdinando Cassini e Futuro e Liberdade (FLI) de Gianfranco Fini, reúne 16% das intenções de voto.

ESPANHÓIS SAÍRAM À RUA CONTRA CORTES E CORRUPÇÃO




Liliana Coelho – Expresso, foto PA/Juan Carlos Hidalgo

Milhares de espanhóis saíram hoje à rua para protestar contra a austeridade e a corrupção. Manifestantes pediram a demissão de Rajoy.

Madrid foi esta tarde o centro de um protesto a nível nacional, que juntou milhares de manifestantes contra os cortes do Governo de Mariano Rajoy e os mais recentes casos de corrupção.

O protesto, que reuniu o maior número de pessoas na praça de Neptuno, terminou com a leitura do manifesto "Maré Cidadã unida contra os cortes e a favor de uma verdadeira democracia", que denunciava "o golpe de Estado  aos mercados", "o corte brutal dos direitos sociais" e apelava à maior proximidade entre a sociedade, a classe política e as instituições. 

Segundo o jornal "El País", "Tuas sobras, os meus cortes"  foi um dos lemas que mais se ouviu nas ruas, numa alusão aos pagamentos feitos aos dirigentes do PP, de acordo com os manuscritos do ex-tesoureiro do partido, Luís Barcenas.

12 detidos em Madrid

Outros manifestantes pediam a demissão do primeiro-ministro, Mariano Rajoy, exibindo cartazes com a frase "Demitir não é um nome russo", a palavra "Não" e o sinal de sentido proibido, numa referência à necessidade de pôr fim à austeridade.

O momento de maior tensão ocorreu quando duas pedradas ultrapassaram a linha que separava os manifestantes do Congresso, acabando por cair na zona dos polícias. No final da 'manif', as autoridades anunciaram a detenção de 12 pessoas e a apreensão de petardos.

O protesto, organizado pela plataforma "Maré cidadã",  foi convocado por mais de 300 sindicatos para cerca de 80 localidades espanholas, que incluíram Barcelona, Valência, Bilbau e Galiza.

Portugal: NÃO SER RELVAS




Fernanda Câncio – Diário de Notícias, opinião

Não gosto de Miguel Relvas. Mesmo nada. Não gosto do ministro, não gosto do político, deploro o discurso, a pose e o historial. Execro o que fez - não tenho dúvida de que fez - a Maria José Oliveira, a jornalista do Público que ameaçou com revelação de factos da sua vida privada para tentar evitar que ela o questionasse sobre declarações suas no Parlamento a propósito da relação com o ex-espião Jorge Silva Carvalho. Execro o facto de, na oposição, ter afirmado que a família do anterior primeiro-ministro, os filhos, deveriam ter vergonha dele - a vergonha, precisamente, de que o próprio demonstrou não ter pinga, ao manter-se, e ser mantido, em funções quando o próprio presidente da Entidade Reguladora para a Comunicação Social diz não ter dúvidas sobre o facto de o ministro ter ameaçado a jornalista. E, por fim, deploro que haja quem o convide para falar de jornalismo, passado, presente ou futuro, depois de tal se ter passado: se a pessoa Relvas não percebe que não pode continuar ministro, que ao menos jornalistas e órgãos de comunicação social evidenciem não lhe reconhecer dignidade para tutelar o sector.

Compreendo e sinto a justa fúria que tantos sentem ante um governo que diz governar "lixando-se para as eleições" quando, para ganhar as últimas, garantiu que faria tudo ao contrário do que está a fazer. Compreendo quem se lembra de ver Relvas insurgir-se contra aumentos de impostos e austeridade e desemprego e jurar que tudo seria diferente com o PSD, para agora sugerir que quem está mal que emigre. Compreendo quem se indigne por um ministro que fez uma licenciatura à pala de equivalências estar no mesmo governo que chamou às Novas Oportunidades "certificação de incompetência". Compreendo quem recorda Relvas a vituperar os ministros socialistas quando se insurgiam contra manifestações insultuosas ao ver o PSD clamar por "respeito democrático" pela "dignidade das funções" se tal se passa com os seus ministros - exigindo até ao PS que se lhe junte na reprovação "enfática".

Mas não gosto de ver pessoas acossadas. Aliás, não gosto sequer de ver pessoas a serem humilhadas, menos ainda publicamente - por mais que sejam culpadas de humilhar um país e de desrespeitar a democracia e a Constituição que agora querem como mártires (!) invocar. Daí que, pese tudo o que penso e sinto, me tenha desagradado ver Relvas insultado no chamado "clube dos pensadores", ainda com aquele sorriso apalhaçado com que tentou fazer coro no Grândola com quem protestava. Não gostei de o ver, em pânico, pelos corredores do ISCTE, sob os gritos dos estudantes, à procura de abrigo, de uma porta por onde sair de cena. Por mais que queira isso mesmo, que Relvas saia, que este governo se vá, não deve ser assim. Não decerto por ele, não decerto por eles: por nós, que não somos Relvas. Que não temos da democracia o entendimento oportunista e canalha de quem dela se serve em vez de a servir e honrar.

Franquelim Alves e Sérgio Monteiro recebidos em Faro com "Grândola, Vila Morena"




Jornal i - Lusa, foto de Joana Van Hellemond

O secretário de Estado da Inovação e do Empreendedorismo, Franquelim Alves, e o dos Transportes, Sérgio Monteiro, foram recebidos hoje em Faro por um grupo de manifestantes que entoaram "Grândola, Vila Morena".

Franquelim Alves e Sérgio Monteiro participaram esta tarde nas 2.ªs Jornadas Consolidação, Crescimento e Coesão, organizadas pelo PSD, no auditório do Instituto Português do Desporto e da Juventude (IPDJ) em Faro.

O grupo, constituído por cerca de duas dezenas de manifestantes, concentrou-se à entrada do IPDJ, mas foram impedidos pela Polícia de entrar nas instalações.

Os manifestantes, que exibiam cartazes alusivos ao movimento "Que se Lixe a Troika", entoaram a canção de Zeca Afonso e gritaram palavras de ordem contra o governo e o BPN.

Além de chamarem "gatunos" aos governantes, entoaram cânticos com a sigla BPN e queixaram-se de não terem sido autorizados a entrar no IPDJ.

"Isto é só para convidados. É para quem roubou no BPN, não é para quem paga!", gritaram, pedindo a demissão do executivo de Passos Coelho.

No local, concentraram-se ainda elementos da União dos Sindicatos do Algarve (USAL), que fizeram um protesto silencioso, ostentando uma faixa onde se lia: "Mudar de Política e de Governo".

Antes da chegada dos dois governantes, a PSP encerrou a rua ao trânsito automóvel, controlando de perto os passos dos manifestantes.

Nas colunas à entrada do edifício, foi pintada a sigla PBN, mas a organização das jornadas tentou ocultar os "grafites" com cartazes.

As 2.ªs Jornadas da Consolidação, Crescimento e Coesão realizam neste fim de semana em Guarda, Coimbra, Leiria e Faro, com a presença de ministros, secretários de Estado, presidentes de distritais e militantes, para discutirem a política económica e as mudanças a fazer no Estado.

Manifestantes cantam “Grândola” em Coimbra mas “falham” ministro da Saúde




JLS – MLL - Lusa, com foto

Duas dezenas de manifestantes entoaram hoje, em Coimbra, o tema "Grândola Vila Morena" à porta de uma conferência promovida pelo PSD mas "falharam" a entrada do ministro da Saúde, participante na reunião.

Um primeiro grupo de manifestantes concentrou-se à porta do edifício do Instituto Português da Juventude cerca das 20:40 de hoje, mas acabou por se afastar do local para ir ao café, dois minutos antes de Paulo Macedo chegar, às 20:50, constatou a Lusa no local.

Outras pessoas acabaram por se juntar e, pelas 21:15, perante as câmaras de televisão, entoaram "Grândola Vila Morena" - com vários enganos na letra da canção - enquanto empunhavam cartazes de promoção da manifestação "Contra a Troika", agendada para 02 de março, em Coimbra.

Antes, dois dos manifestantes chegaram a tentar entrar nas instalações, mas foram barrados à porta, já que a conferência é apenas aberta à participação de militantes do PSD e convidados.

Nas jornadas "Consolidação, Crescimento e Coesão" participam, para além do ministro da Saúde, Paulo Macedo, o deputado José Manuel Canavarro e Marcelo Nuno, presidente da distrital do PSD de Coimbra.

Autarcas, população e até o padre da Trafaria contra o terminal de contentores




AYL – MLL - Lusa

Os autarcas, a população e até o padre da Trafaria, em Almada, estão contra um novo terminal de contentores na freguesia e garantem que vão lutar contra esta decisão do governo.

A população e os autarcas reuniram-se hoje na Sociedade Recreativa Musical Trafariense, na Trafaria, onde aprovaram por unanimidade uma resolução contra o terminal de contentores, que deve ocupar uma área de 200 a 300 hectares de plano de água e terra.

"Hoje aconteceu aqui algo de singular no país, com poder local, população e agentes de desenvolvimento local, todos juntos, a dizer não ao mega terminal de contentores na Trafaria. Temos um caminho e uma estratégia diferente para esta freguesia e este concelho", disse a presidente da Câmara de Almada, Maria Emília de Sousa.

Durante o encontro, várias pessoas usaram da palavra para criticar o anúncio do Governo e dar ideias de luta, numa sessão que encheu a sociedade recreativa na Trafaria, com a autarca a defender que o futuro deve passar pelos projetos da Costa da Caparica e do Arco Ribeirinho Sul, capazes de criar "dezenas de milhares de postos de trabalho".

"Posso dizer que vamos avançar para todas a instâncias judiciais, incluindo o tribunal europeu. Vamos também lançar uma petição para enviar à Assembleia da República, para provocar a discussão sobre este assunto", referiu, afirmando que será uma luta da freguesia e de todo o concelho.

Maria Emília de Sousa disse também que achou estranho que não estivesse nenhum responsável do Ministério do Ambiente no anúncio do Governo, efetuado na sexta-feira.

"Achei estranho que não estivesse ninguém do Ambiente, o que quer dizer bastante. O Ambiente está de fora e não pode ficar, tem que ter a primeira palavra. O Ambiente tem que se pronunciar sobre o que pensa deste projeto", defendeu.

O padre Sérgio Quelhas também está ao lado da população na oposição ao terminal de contentores, referindo que vai ser "um desastre do ponto de vista social".

"Do ponto de vista social é um desastre, mais valia encerrar as portas de acesso à Trafaria. Temos ainda as questões ambientais e turísticas, pois nunca se viu nenhum turista a fotografar contentores. Tanta defesa do ambiente e, para interesses económicos particulares, elas vão todas abaixo", disse à Lusa.

O padre da Trafaria, que há cerca de um ano colocou uma faixa negra na igreja e lançou um abaixo-assinado contra o terminal de contentores, disse que não percebe "porque é que na Trafaria é que terá que ser a parte feia do rio Tejo".

"Não vejo nenhum benefício, a não ser pelos particulares. A Trafaria e o concelho não lucraram nada com o terminal da Silopor na Trafaria e é a prova que nada de bom traz. Vou dar o meu apoio na luta, pois em primeiro lugar estão as pessoas", referiu.

O padre Sérgio Quelhas considerou ainda que uma decisão desta dimensão sem ouvir a população é "matar a democracia".

"Se já com o outro Governo a democracia estava a ficar moribunda, isto é matar a democracia. Não se ouve as pessoas, o espírito do 25 de Abril morreu e querem empurrá-lo para debaixo de um mega terminal de contentores", concluiu.

O encontro dos autarcas e população terminou com a aprovação da resolução e com todos os presentes a cantarem "Grândola Vila Morena".

As associações de moradores do Bairro 2º Torrão e da Cova do Vapor, ouvidos pela Lusa, referem que o terminal de contentores pode trazer alguns benefícios.

No caso dos moradores do Bairro 2º Torrão, que fica junto ao local onde vai nascer o terminal de contentores, acreditam que pode ser uma solução para os retirar do local onde vivem, enquanto os moradores da Cova do Vapor referem que pode trazer benefícios de desenvolvimento económico, apesar de considerarem que fica comprometido o projeto da autarquia.

Portugal: GRÂNDOLA




José Diogo Madeira – Jornal i, opinião

É claro como a água que as pessoas andam preocupadas, enervadas e irritadas. Com um quinto da população sem emprego, sem perspectivas de crescimento económico, com o país falido e economicamente moribundo, outra coisa não seria de esperar. Só é admirar a passividade com que os portugueses têm suportado as recentes amarguras. Excepto a grande manifestação de 15 de Setembro, vimos poucos episódios de contestação maciça.

É verdade que, mais recentemente, houve aquela noite em que incendiaram uns caixotes de lixo em frente à Assembleia da República. Mas a proporção entre o desencanto e a violência anárquica é nenhuma. Daqui há quem infira que somos um "povo bom", outros dirão dóceis por natureza. Nos últimos dias, uns miúdos e uns indignados vaiaram uns políticos em locais públicos. Nada de novo, excepto a banda sonora entoada. Tirando o detalhe musical, o mesmo aconteceu a José Sócrates e aos seus ministros, nos últimos meses da sua governação. Faz parte do jogo democrático – o poder das instituições defende-se com guarda-costas e carros de vidros escuros, o poder das multidões conquista-se com gestos atrevidos e a raiar a desobediência civil. Mas chamar a estes contestatários ameaças à liberdade de expressão ou ao regime democrático é apenas transformar algozes em vítimas. O que estes pequenos grupos querem não é silenciar a liberdade de expressão do senhor primeiro-ministro ou dos seus ministros. O que esta gente quer são coisas simples: um emprego, uma pensão de reforma, um rendimento que lhes pague uma subsistência mínima. Toda a contestação que sai à rua, num país que têm pouca tradição de exigência cívica, é apenas movida pelas necessidades mais básicas da vida humana. Arranjem-lhes um emprego, uma casa num subúrbio e uns jogos da bola em canal aberto e tê-los-ão contentes e subjugados. Menos do que isso, a coisa alastra e um dia fazem um disparate.

Escreve à sexta-feira

FALTAM SUGESTÕES COERENTES PARA PÔR FIM À CRISE NA ITÁLIA





Berlusconi? Grillo? Ou quem? Às vésperas das eleições no país, partidos políticos italianos não conseguem definir programas que possam levar a uma solução da crise. Faltam coerência e seriedade.

Segundo as mais recentes previsões da Comissão Europeia, a Itália só irá começar a superar a recessão por que passa em 2014. Até lá, as taxas de desemprego deverão subir ainda mais, ultrapassando os 12%. O cientista político Lutz Klinkhammer, especialista em questões ligadas à Itália e pesquisador do Instituto Histórico Alemão de Roma, confirma a tese de que a crise não poderá ser superada com facilidade nos próximos tempos.

Segundo ele, os eleitores gostam de ouvir as promessas das campanhas eleitorais, segundo as quais a política de austeridade do Estado deveria ser afrouxada. Não somente o ex-premiê Silvio Berlusconi, como também a estrela da campanha eleitoral, o ex-comediante Beppo Grillo, e alguns políticos de esquerda defendem restituições generosas de impostos e um afrouxamento da política de austeridade.

Falta programa coerente

O cientista político salienta que nem os partidos de centro-esquerda nem os de centro-direita apresentam plataformas políticas convincentes visando um fim da crise. "A maioria dos partidos não apresentou um plano coerente no que diz respeito à política econômica."

Exceto o ex-premiê Mario Monti, que deu sinais de querer perpetuar a atual política econômica, "todos os partidos querem fomentar empregos, mas nenhum deles tem um programa coerente para as medidas de austeridade. E está aí a necessidade de fazer alguma coisa ativamente. Aumentar a arrecadação de impostos não é certamente uma receita genericamente válida", analisa Klinkhammer.

A Itália caminha para um percentual de 130% de endividamento público. Os juros de mais de 6% para os títulos públicos italianos resultaram numa crise grave na zona do euro há menos de 14 meses. Hoje, o chamado spread gira em torno de 4%. "Il spread, que se tornou um novo termo em uso da Itália, perdeu seu poder aterrorizante", acredita Klinkhammer.

O conservador Berlusconi, que foi obrigado a renunciar exatamente por causa da alta dos juros em novembro de 2011, sugere que o spread e as altas taxas de juros tenham sido uma invenção dos alemães. "Os italianos estão atualmente desiludidos, tendem antes a acreditar em manipulação de cotações e em tramoias dos bancos", diz Klinkhammer.

Uma Itália interessante para os investidores

Norbert Pudzich, diretor da Câmara de Comércio Ítalo-Alemã, em Milão, afirma que a Itália dispõe de uma base industrial forte, que fabrica produtos de exportação com sucesso de mercado: máquinas e instalações, veículos, produtos sintéticos e químicos. Só muito depois é que vem a moda e a mussarela.

Os problemas da economia estão nas más condições gerais e nas estruturas obsoletas, aponta. "A Itália perdeu grande parte de seu poder de atração como local de investimentos para empresários. O governo precisaria melhorar sensivelmente os fatores que favorecem esses investimentos e teria que implementar a reforma fiscal, há muito necessária. Isso faria com que os empresários italianos resolvessem investir novamente em suas empresas e os do exterior recuperassem o prazer de investir no país."

Pudzich tampouco reconhece, nas plataformas dos partidos políticos, soluções para os problemas. A agência de rating Standard & Poor's já alertou preventivamente que, no caso da Itália, um governo instável poderá levar os juros às alturas, impulsionando ainda mais a crise de endividamento da zona do euro. Ou seja: tudo leva a crer que uma solução para a atual recessão no país ainda vai estar longe, mesmo depois das eleições.

Autor: Bernd Riegert (sv) - Revisão: Augusto Valente

Líder da Esquerda Republicana diz que Espanha vai perder Catalunha…




… como perdeu Portugal, Cuba e Holanda

JOÃO MANUEL ROCHA – Público – foto ALBERT GEA/REUTERS

Oriol Junqueras afirma que Madrid "nunca quer ceder, nunca quer pactuar", "fez o mesmo com todos e perdeu tudo".

A Espanha vai perder a Catalunha, como perdeu Portugal, Cuba e Holanda. É essa a convicção do líder da Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), Oriol Junqueras, numa entrevista publicada esta sexta-feira pelo diário El Mundo.

 “Não entendo a teimosia da Espanha, que quer sempre o tudo ou nada e [quer sempre] ganhar por goleada. De que é que isso serve? Nunca quer ceder, nunca quer pactuar. Foi assim que perdeu Cuba, Portugal, Holanda e assim perderá a Catalunha. Fez o mesmo com todos e perdeu tudo”, disse.

A entrevista – que invoca situações históricas dos séculos XVII, no caso de Portugal e da Holanda,  e do século XIX, no de Cuba – surge numa altura em que a ERC ultrapassa pela primeira vez os nacionalistas de direita da Convergência União (CiU) nas intenções directas de voto, apesar de Junquera declarar que não dá muita importância às sondagens. “Não são muito fiáveis.”

Questionado a propósito da oposição do Governo central à realização de um referendo sobre a independência da Catalunha, promete tentar todas as formas legais de o conseguir. “Insistiremos, exploraremos todas as vias possíveis”, disse. “O mais provável é que, se não houver referendo, haja eleições”, acrescentou.

Num cenário de novas eleições, admite que a CiU e a ERC, que se entenderam para formar um executivo na Catalunha depois da consulta eleitoral de Novembro de 2012, poderão apresentar-se “com um programa comum em que a independência fosse o ponto único”. O executivo catalão pretende referendar a independência em 2014.

Um estudo de opinião do Centre d’Étudis d’Opinió divulgado esta semana indica que a ERC ultrapassa a CiU nas intenções directas de voto, com 20,9% contra 19,3%, mas a ponderação feita considera outros factores que manteriam os nacionalistas de direita como força mais votada.

Depois de juntar às intenções de voto a notoriedade das lideranças, a expectativa de vitória e a ocultação do sentido de voto que parte dos inquiridos fazem nas sondagens, o estudo conclui que a CiU continuaria a  ter a maioria de deputados na Catalunha, mantendo 40 a 42 dos 50 que elegeu em Novembro. A ERC subiria de 21 para 27 e o Partido Popular, no Governo em Madrid, cairia de 19 para 16-17.

Questionado sobre o facto de a União Europeia não aceitar a divisão de um Estado-membro, o líder nacionalista republicano respondeu que isso não aconteceu ainda porque a questão nunca se colocou. “Digam o que disseram agora, não creio que, chegados a esse momento, tenhamos qualquer problema.”

Oriol Junqueras considera que “o problema do Estado espanhol é que não é atraente” porque “tem o recorde de processos por desrespeito das normativas europeias; é o país do mundo que mais vezes suspendeu pagamentos ao longo da sua História; lidera o índice de miséria da Europa; e, depois da China, é o país com a linha de alta velocidade mais extensa do mundo e não há um só troço que seja rentável. Só o troço Madrid-Barcelona gera [receitas] para pagar os gastos, mas não para pagar o investimento. Um Estado assim não tem futuro”.

O político catalão entende que o “que mais convém à Espanha é que a Catalunha seja independente”. E diz que o Estado central tem de “aprender a investir em estruturas rentáveis”. Confrontado pelo jornal sobre se não considera arrogante propor-se como solução para tudo, afirma: “Se quiserem, quando tivermos o nosso Estado, assessoramo-los sobre como têm de fazer para não se afundarem na miséria”.

Portugueses em Moçambique recolhem 16 toneladas de alimentos para vítimas das cheias




MMT – VM - Lusa

Maputo, 22 fev (Lusa) -- A comunidade portuguesa em Moçambique reuniu 16 toneladas de alimentos e bens essenciais para apoiar as vítimas das cheias no país e entregou hoje parte dessa recolha ao Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC).

No final de janeiro, o consulado de Portugal, a Associação Portuguesa de Moçambique e a Escola Portuguesa em Maputo lançaram um apelo de solidariedade junto da comunidade portuguesa e estudantil, bem como de empresas locais de investimento português para recolha de donativos destinados às vítimas das cheias na província de Gaza, no sul de Moçambique.

A operação de solidariedade, "até agora, inédita em Moçambique, terminou a 15 de fevereiro com a quantia de 16 toneladas de produtos alimentares e equipamentos (tendas, lonas e roupas), sete das quais foram já entregues" às autoridades moçambicanas, refere um comunicado conjunto enviado na quinta-feira à Lusa.

Das restantes 5,5 toneladas de bens alimentares, duas toneladas foram entregues hoje ao INGC e as outras 3,5 serão entregues no dia 02 de março.

Recentemente, o cônsul português em Maputo, Gonçalo Teles Gomes, visitou as áreas afetadas para avaliar as necessidades mais prementes às vítimas das cheias de origem portuguesa residentes em Gaza.

Segundo a nota, "a resposta, tanto de particulares como de empresas foi notável, numa clara demonstração de como a comunidade portuguesa residente em Moçambique está integrada e atenta aos problemas que afetam a população do país que os acolhe".

Aliás, "os organizadores desta campanha têm acompanhado de perto a entrega destes bens essenciais, de forma a garantir que as populações mais necessitadas venham a ter acesso direto aos resultados angariados", garantem.

Dados do INGC indicam que as fortes chuvas que assolam Moçambique desde o ano passado causaram 113 mortos e atingiram mais de 250 mil pessoas nas regiões sul, centro e norte.

Secretário executivo da CPLP participa na cimeira da CEDEAO sobre Guiné-Bissau




MSE – ROC - Lusa

Díli, 23 fev (Lusa) - O secretário executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), Murade Murargy, disse hoje que vai participar na cimeira da Comunidade dos Países da África Ocidental (CEDEAO) sobre a Guiné-Bissau com um "espírito aberto e construtivo".

O embaixador moçambicano falava à agência Lusa em Díli, Timor-Leste, onde terminou uma visita oficial para prestar o apoio da CPLP às autoridades timorenses responsáveis pela organização da cimeira do organismo a realizar em julho de 2014.

"O simples facto de termos sido convidados já reflete a vontade política da CEDEAO, que é quem está na frente da batalha, de que a CPLP possa participar efetivamente no encontrar de uma solução para a Guiné-Bissau", afirmou o embaixador, acrescentando que vai estar presente com um espírito "aberto, construtivo e positivo".

A Guiné-Bissau tem cinco parceiros internacionais, nomeadamente a CEDEAO, a CPLP, a União Africana, as Nações Unidas e a União Europeia.

O país está a ser administrado por um governo de transição, apoiado pela CEDEAO, desde o golpe militar de 12 de abril do ano passado.

A maior parte da comunidade internacional, incluindo a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, a que pertencem os dois países, não reconhece as novas autoridades de Bissau.

A cimeira ordinária dos chefes de Estado e de Governo da CEDEAO vai decorrer entre quarta e quinta-feira em Abidjan, na Costa do Marfim.

*Ver muito mais noticiário atualizado em TIMOR LOROSAE NAÇÃO

CAOS GERADO PELA POLÍCIA ANGOLANA NEGA DIREITO A SAMAKUVA E AGRIDE DEPUTADOS




“Neste momento a Polícia canina, área e a anti-motins impedem a visita do presidente da UNITA ao bairro Mayombe em Cacuaco. As coisas estão a ficar complicadas, uma vez que a população que apreciou o gesto do líder da UNITA está a ficar agitada.” – Ana Margoso

Em Angola, esta manhã Isaías Samakuva e deputados da UNITA pretenderam visitar os desalojados de Cacuaco, Luanda, deparando com enorme aparato policial que lhes barrou passage exibindo forças policiais terrestres e aéreas que se transportavam em helicópteros. Deputados da UNITA foram agredidos assim como outros dos elementos presentes na comitiva. Registaram-se momentos bastante dramáticos, causados pelo elevado número de forças policiais, que dispararam por certos momentos bastantes tiros, não havendo no entanto conhecimento de feridos causados pelos disparos.

Isaías Samakuva questionou responsáveis da força policial porque estava aquilo a acontecer e qual a razão de estarem a causar todo aquele caos ao que o “2º Comandante da Unidade Operativa respondeu: fizemos a barreira era para impedir que os populares fizessem algum mal a sr. presidente. Samakuva respondeu: nenhum popular iria me fazer mal. UNITA promete reagir perante as autoridades...”. O relato é da jornalista angolana Ana Margoso, presente no local, na sua página do Facebook. Relatos e imagens que passamos a transcrever com a devida autorização.



“Hoje no Mayombe em Cacuaco Luanda quando visitávamos as populações desalojadas em Cacuaco. Neste momento o Presidente Isaias Samakuva estava a ser impedido pela Policia de Intervenção Rápida vulgo PIR a ir ao encontro da população em causa.”

O momento dos tiros e das agressões

“Muitos tiros neste momento no bairro Mayombe, o líder da UNITA encontra-se do lado de fora. Fala-se em mais de 300 polícias anti-motim, militares da UGP, no terreno, não se sabe bem o que está a acontecer dentro do bairro já que a caravana da UNITA não teve acesso ao bairro.”



Adriano Sapiñala e José Pedro Katchiungo dois dirigentes do Galo Negro foram agredidos pela Polícia, que no terreno tem inclusive helicópteros. A População está muita agitada e ameaça virar-se contra a polícia.” (existe um vídeo)

Caravana da UNITA proibida de entrar

“Presidente Samakuva enfrenta barreira da polícia e diz que não irá arredar os pés do Mayombe enquanto não tiver a possibilidade de ver em que situação estão os populares do Mayombe. A polícia retirou os helicópteros e diz não ter ordem para deixar entrar a caravana da UNITA.”



O silêncio dos cúmplices

Não deixa de ser estranho que passadas mais de seis horas do início dos acontecimentos façamos pesquisa via internet e não encontremos um único órgão de comunicação social que reporte minimamente o que está a acontecer em Luanda. Tal silêncio faz recordar o silêncio dos cúmplices, o que faz com que os órgãos de comunicação social, os seus trabalhadores, fiquem mal, muito mal, na fotografia. Contamos no entanto que este silencia seja quebrado por uns quantos sobreviventes do jornalismo “à séria”. Ficamos à espera e agrdecemos ao todo-poderoso que ainda existam pessoas e jornalistas como Ana Margoso.

*Redação - AV, com Ana Margoso em Facebook

PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA DE ANGOLA INVESTIGADO EM PORTUGAL





João Maria Sousa, Procurador-Geral da República de Angola, é o alvo do processo 1764/11 que corre no Departamento Central de Investigação e Acção Penal.

A notícia foi avançada hoje na primeira-página do maior semanário português – o “Expresso” –, que adianta que “o PGR angolano estará a ser investigado por suspeitas de fraude e branqueamento de capitais, depois de o Banco de Portugal ter sido alertado pelo Santander Totta, na sequência de um depósito feito por uma empresa offshore”.

Segundo noticia também aquele semanário, a investigação, que “está na fase inicial e ainda não foi convertida em processo-crime, já motivou o envio de perguntas para altas figuras da justiça angolana, o que provocou grande desconforto em Luanda”.

O Expresso sublinha também que Paulo Portas – o ministro dos negócios estrangeiros português – tem dado especial atenção às investigações sobre Angola, para evitar o reacender de conflitos diplomáticos.

Fonte: Expresso (edição impressa, 23/02/2013)

Angola - DIAMANTES DE SANGUE: CARTA A JES




Maka Angola

O defensor dos direitos humanos Rafael Marques endereçou, a 15 de Fevereiro passado, uma carta ao Presidente da República, José Eduardo dos Santos, denunciando a denegação de justiça por parte da Procuradoria-Geral da República em investigar os casos de assassinatos e tortura nas zonas diamantíferas das Lundas.

Nove generais encontram-se entre os denunciados como os autores morais de centenas de crimes de tortura e homicídio. Os generais são accionistas da Sociedade Mineira do Cuango e da empresa privada de segurança Teleservice.

O general Manuel Hélder Vieira Dias “Kopelipa”, ministro de Estado e Chefe da Casa de Segurança do Presidente, lidera o grupo de oficiais generais. Do grupo constam o inspector-geral do Estado-Maior General das FAA, Carlos Alberto Hendrick Vaal da Silva; o chefe da Direcção Principal de Preparação de Tropas e Ensino das FAA , Adriano Makevela Mackenzie; o governador de Benguela, Armando da Cruz Neto; o deputado do MPLA, António dos Santos França “Ndalu”; bem como os generais inactivos João Baptista de Matos, Luís Pereira Faceira; António Pereira Faceira, António Emílio Faceira e Paulo Pfluger Barreto Lara.

A petição, dirigida a José Eduardo dos Santos, na qualidade de mais alto magistrado da Nação, apela à investigação imparcial dos casos denunciados, e lembra que os casos de crime de homicídio, à luz da legislação angolana, nunca se encerram, “ficando sempre pendente de investigação ou a aguardar melhor prova.”

Os casos denunciados fazem parte do livro Diamantes de Sangue: Tortura e Corrupção em Angola, de Rafael Marques, publicado em Portugal, em 2011. Dois meses após o seu lançamento, o autor apresentou, em Novembro de 2011, uma queixa-crime contra os generais.

A Procuradoria-Geral da República arquivou o caso após uma investigação preliminar, em que ouviu apenas quatro vítimas e testemunhas, das dezenas que deveria ter ouvido.

Recentemente, o Ministério Público português arquivou um processo de difamação e injúria contra Rafael Marques e a editora do livro, Tinta da China, interposto pelos referidos generais. As autoridades portuguesas consideraram que a publicação da obra se encontra protegida pelos direitos de liberdade de expressão e informação.

A carta entregue a José Eduardo dos Santos a semana passada é apenas a última de várias tentativas para levar as autoridades angolanas a investigar as graves violações de direitos humanos nas Lundas. A 9 de Janeiro, uma delegação de altas autoridades tradicionais das Lundas deslocou-se a Luanda,para entregar uma petição ao Procurador-Geral da República, General João Maria Moreira de Sousa, denunciando a violação sistemática dos direitos humanos nas suas comunidades e apelando à reabertura do inquérito preliminar.

De forma extraordinária, o gabinete do Procurador-Geral recorreu a uma falsa notícia, publicada no semanário O Continente, para emitir um comunicado contra Rafael Marques e publicamente revelar que não reabriria o inquérito, apesar da diligência dos sobas.

“Quando a Procuradoria-Geral da República, um órgão com a função de zelar pela legalidade usa um ardil tão baixo, como o de uma falsa notícia, para se pronunciar através da comunicação social do Estado, bem podemos aferir a falta de responsabilidade e sensatez de quem a dirige. É simplesmente ridículo”, disse Rafael Marques.

Pode ler aqui a carta enviada ao Presidente da República, José Eduardo dos Santos.

Textos relacionados:

ELEIÇÃO COM HUMOR, BERLUSCONI E INCERTEZA DEFINE FUTURO ITALIANO




Deutsche Welle

Com Europa atenta, país vai às urnas por dois dias para decidir se reinstaura o "Cavaliere" no poder ou se dá governo ao social-democrata Bersani. Ex-ator Beppe Grillo e premiê Mario Monti podem ser chave em coalizão.

Ele fala como uma metralhadora. Livre, sem manuscrito, por mais de uma hora. O cabelo longo, grisalho e ondulado balança quando o homem atarracado, vestido numa parca acolchoada, sobe ao palco e agarra o microfone com a mão direita – a esquerda ele usa para gesticular. Os gestos e as piadas encaixam. Beppe Grillo ganhou fama como humorista e ator, mas há alguns anos vem dando calafrios em políticos italianos consagrados. Seu movimento, o Cinco Estrelas, cresce cada vez mais e teve sucesso nas eleições regionais e municipais.

Beppe Grillo quer agora entrar para o Parlamento nacional, através das eleições legislativas deste domingo e segunda-feira (24-25/02). As pesquisas de intenção de voto colocam seu movimento como a terceira força na corrida eleitoral, à frente do bloco do atual primeiro-ministro, Mario Monti.

O ex-ator batizou de "Tsunami" o seu giro pela Itália em busca de votos. Ele mira nos insatisfeitos, não é de direita nem de esquerda, mas convence com teses populares. Diante de cerca de 70 mil pessoas em Turim, Grillo se lança contra o plano de austeridade do governo Monti, que defende a elevação da idade mínima de aposentadoria para 70 anos.

"É ele que deveria se aposentar. Não queremos aposentadoria aos 70 anos, e sim aos 60. E basta!", diz, ovacionado, o ator, que descarta fazer parte de qualquer coalizão com grandes partidos. O movimento Cinco Estrelas, afirma, dará "uma esperança de mudança" para as crianças do país.

Sem debates

Na atual corrida eleitoral italiana, não houve debates televisivos, pois os outros candidatos de ponta se recusaram a aparecer ao lado do humorista. Cada um batalha individualmente, em suas respectivas entrevistas. Nesse aspecto, o milionário Silvio Berlusconi leva vantagem, já que controla a maior parte dos canais de TV privados da Itália.

O conservador Berlusconi, forçado a renunciar em 2011 devido às fracas políticas implementadas em meio à crise europeia, busca um retorno. A última pesquisa publicada antes da eleição coloca a coalizão de centro-direita do "Cavaliere" entre cinco e sete pontos percentuais atrás do bloco de centro-esquerda do social-democrata Pier Luigi Bersani. Há indicações de que Berlusconi teria crescido mais, o que não se pode confirmar, já que as leis italianas não permitem a divulgação de pesquisas nas duas semanas precedentes ao pleito.

Berlusconi, de 76 anos e respondendo, no momento, a três processos criminais, acusa a esquerda de mentir e ser responsável pela crise. Junto com o partido xenófobo Liga Norte, ele tenta angariar votos, usando de promessas nebulosas. "A primeira ação do meu novo governo será libertar os cidadãos dos impostos injustos e devolver as taxas de 2012", disse, com pose de estadista, durante a campanha em janeiro.

Mario Monti introduziu os impostos na guerra contra a crise. Desde então, Berlusconi cresceu nas pesquisas, e a distância para os social-democratas diminuiu. Os atritos do ex-premiê com a chanceler federal alemã, Angela Merkel, parecem ter caído bem. Até ameaças de deixar a zona do euro ele já fez aos alemães, caso o Banco Central Europeu não desse dinheiro à endividada Itália.

Esquerda favorita

Analistas eleitorais não se arriscam a prever uma volta de Berlusconi. "O particular sistema eleitoral italiano dá à bancada mais forte um bônus na divisão de cadeiras no Parlamento. Ela recebe, de qualquer maneira, uma maioria absoluta", explica uma porta-voz da direção eleitoral no Ministério do Interior.

No atual panorama, o partido mais forte seria o social-democrata que, aliado aos verdes e a outra legenda de esquerda, daria o poder a Bersani. O ex-comunista e ex-ministro é quem tem mais chances de liderar o futuro governo.

Bersani quer, em princípio, levar adiante a reforma política do tecnocrata Mario Monti, mas, ao mesmo tempo, fazer mais pelo crescimento e o emprego no país. "A Europa deve esperar que a Itália seja a solução, e não o problema", afirmou durante visita recente a Berlim.
O chefe dos social-democratas brinca com as promessas do concorrente Berlusconi. "Isso é show humorístico, e para isso não tenho tempo", disse em entrevista à televisão. "A única coisa que Berlusconi pode fazer melhor é deixar o cabelo crescer", brincou, em referência à recente operação de beleza a que se submeteu o ex-premiê.

De fato, Berlusconi exibe hoje um cabelo relativamente denso, em comparação com a calva de antes. "Bella figura" – ou seja, causar uma boa impressão – é uma paixão compartilhada também por muitos na Itália.

O partido de Mario Monti é, por outro lado, apenas a quarta força. Ele não queria de forma alguma se envolver, mas agora pode desempenhar papel importante na coalizão dos socialistas. Seu apoio pode ser útil para impedir que a coalizão de centro-direita de Berlusconi consiga maioria no Senado.

Novo governo, velho caminho?

A economia está minguando, e o desemprego está alto. A dívida pública já chega a 130% do Produto Interno Bruto (PIB). Nesse contexto, diz o diretor da Câmara de Comércio Ítalo-Alemã em Milão, Norbert Pudzich, não há grande alternativa para a consolidação do orçamento estatal e para mais reformas na Itália.

"Quando se olha para as declarações e o programa de cada partido, os grandes blocos de centro-esquerda e centro-direita concordam amplamente na apresentação dos objetivos. Mas todos aguardam ansiosos como isso será posto em prática no fim das contas", opina.

Também na sede da União Europeia, em Bruxelas, esperam-se com ansiedade os resultados da eleição. Em janeiro, no Parlamento Europeu, o comissário europeu para Assuntos Econômicos e Monetários, Olli Rehn, alertou sobre uma possível volta de Silvio Berlusconi. No auge da crise financeira na Itália em 2011, disse o comissário, o então premiê fez promessas que não cumpriu.

Isso levou a um impasse político. Até aqui, a Itália não recorreu a qualquer socorro financeiro da União Europeia. Pelo contrário: hoje, o país é o terceiro maior contribuidor dos fundos de resgate, atrás apenas da Alemanha e da França.

As urnas fecham na segunda-feira, às 15h (11h em Brasília). Informações confiáveis sobre a distribuição das cadeiras no Parlamento só devem chegar à noite, devido ao complicado sistema eleitoral italiano. Segundo pesquisa do jornal Corriere della Sera, entre 25% e 30% dos eleitores ainda estão indecisos.

Autor: Bernd Riegert (rpr) - Revisão: Augusto Valente

Mais lidas da semana