A
queda do Boeing 777 malaio é a principal notícia do passado final de semana. E
dá tom para a nova semana que está começando. Todos esperamos que sejam
apuradas as causas do acidente e que o conflito no Leste da Ucrânia seja terminado
o mais rápido possível.
O
Brasil fica bastante longe da Ucrânia, porém essa notícia é de alcance mundial.
É interessante ver o que diz a mídia brasileira a respeito desse acontecimento
trágico e as suas consequências.
Duas
edições nacionais, O Estado de S.Paulo e a Rede Brasil Atual, publicaram no dia
19 de julho, sábado, depoimentos de peritos estadunidenses que criticam a
postura oficial dos EUA, parte que parece interessada no conflito ucraniano.
A
jornalista paulista Juliana Sayuri (O Estado de S.Paulo) pegou uma entrevista a
Stephen M.Walt, professor de Relações Internacionais na Universidade de Harvard
e colunista na revista Foreign Policy (Política Internacional). Admitindo como
principal a hipótese de que são os milicianos do Leste da Ucrânia (que a mídia
brasileira chama de separatistas e o professor, de rebeldes) que têm a culpa
pelo derrube. Segundo o entrevistado, esse seria um “erro”, pois os milicianos
teriam confundido o Boeing comercial com um avião militar.
Caso
semelhante a história já conhece: em 1988, a Força Naval estadunidense derrubou com
um míssil terra-ar um avião comercial iraniano, “confundindo-o” com um F-16 de
combate. Portanto, diz o perito que esse “trágico erro” “deveria levar a novos
esforços para estabilizar a situação e restabelecer a integridade territorial e
a neutralidade geopolítica na Ucrânia”.
Contudo,
além de supor que a culpa seria dos milicianos e da Rússia (que lhes
alegadamente teria fornecido armas), o professor condena a atitude dos Estados
Unidos e da União Europeia, cujas políticas “foram tolas e impotentes”. O
Ocidente, segundo ele, deveria mostrar mais tato diplomático e não se esforçar
para fazer da Ucrânia uma zona de influência, mas deixar o país ser neutro e
independente. Terminando a entrevista, o professor de Harvard sublinha que
gostaria que os EUA realizem a sua participação na arena internacional “de uma
maneira mais restrita e inteligente”.
Já
Paul Craigs Roberts, ex-secretário do Tesouro dos EUA e editor associado do The
Wall Street Jornal, cujo artigo publicou Rede Brasil Atual, critica com maior
dureza a política dos Estados Unidos. “A diplomacia exige capacidade razoável
para aprender com os erros – os próprios e dos outros; mas já há anos
Washington esqueceu a diplomacia”, ressalta ele quase no início do texto.
Quanto
ao acidente do Boeing, ele suspeita que não é justo afirmar que o avião tenha
sido abatido ou explodido antes da confirmação especial (o que fez Joe Biden,
vice-presidente dos EUA). Em uma atmosfera de incerteza, sem dados oficiais, é
preciso fazer declarações equilibradas, sem pressionar ninguém com
meias-ameaças. No entanto, opina o autor, “os “separatistas” (aspas do autor)
nada têm a ganhar com derrubar um avião de passageiros, mas Washington, sim,
tinha “bom” motivo: culpar a Rússia”. A seguir, expressa a opinião de que a
política do soft power (“poder brando”) de Vladimir Putin deveria se
substituir com ações mais duras.
No
entanto, na sua maioria, a mídia brasileira limita-se a trazer os fatos,
comentando informações de agências internacionais. Muitas publicações destacam
a pressão internacional sobre a Rússia, principalmente da Austrália e do Reino
Unido.
O
enviado especial da Folha de S.Paulo, Leandro Colon, que agora está no local da
queda do Boeing, comenta os acontecimentos em tempo real através do seu blog da
Folha e da sua conta em
Twitter. Chegado na Ucrânia uma semana após a Copa do Mundo,
ele é bem amargo e crítico, tendo comentado no domingo que a situação era “um
caos”.
Em
outra reportagem publicada no jornal, ele diz que os milicianos que controlam a
área se ocupam de retirar os corpos (já tinham passado dois dias, era já
tempo), mas que o trabalho dos observadores da OSCE estava “limitado”. Contudo,
não só na região de Donetsk há tensão, também nas áreas onde estão os postos de
controle ucranianos.
Já
o site R7, da rede Record, traz mais notícias pessoais. Vários casais e
famílias, segundo a edição, escaparam morte certa no avião ao ter, por várias
razões, desistir de viajar com Malaysia Airlines. Um casal que regressava da
lua-de-mel tinha preferido trocar de voo para viajar com antecipação, e uma
família tinha que embarcar em um voo de outra companhia porque não havia
assentos livres. E uma história triste, da aeromoça Nur Shazana Mohamed Salleh,
de 31 anos, que perdeu a vida “vivendo seu sonho”.
O
site Terra.com.br também gosta de história: o jornalista Dassler Marques traz
uma reportagem sobre cinco futebolistas brasileiros que tiveram medo a
deslocar-se de novo para o clube Shakhtar, de Donetsk, devido à queda do
Boeing. Os nomes são: Dentinho, Fred, Alex Teixeira, Douglas Costa e Ismaily.
Os representantes oficiais do clube ucraniano preferiram “minimizar e esconder
o assunto”.
Uma
matéria publicada no domingo na revista Veja relata a chegada da equipe da
agência de aviação da ONU ao local da queda do Boeing, porém que “não consegue
acessar o local do acidente por preocupações de segurança”.
Em
outra matéria da mesma revista, se diz que o governo ucraniano estava
preparando um centro de crise em Carcóvia, para receber os corpos das vítimas;
no entanto, Alexander Borodai, primeiro-ministr o da República Popular de
Donetsk, informava que os corpos iriam permanecer em vagões refrigerados na
cidade de Thorez aguardando a chegada da delegação internacional. E parece que
este tempo já chegou: um grupo de médicos legistas holandeses começou a
examinar os 196 corpos guardados no trem. A Veja também confirma esta
informação.
Foto: RIA Novosti/Andrei Stenin