domingo, 7 de setembro de 2014

Portugal: O CHOQUE A SEGUIR AO CHEQUE



Pedro Ivo Carvalho – Jornal de Notícias, opinião

A palidez e olhar esquivo de Armando Vara, poucos minutos depois de saber que tinha sido condenado a cinco anos de prisão efetiva, arriscam-se a ficar para a história como uma das imagens de marca da ação recente da Justiça em Portugal. De nada vale alimentar a discussão quase filosófica entre quem condena (confortável na convicção da justeza da sua decisão) e quem é condenado (quase sempre, sentindo-se injustiçado com o alegado peso excessivo do castigo). Importa, sim, registar que a sentença do caso "Face Oculta", ontem proferida no Tribunal de Aveiro, corresponde, de certa forma, a uma pedrada no charco na cultura de impunidade do retângulo lusitano. Como num lauto banquete que é sempre servido aos mesmos: o Estado faz o papel do cozinheiro e do empregado de mesa e os intermediários políticos e beneficiários privados são os clientes barrigudos que comem à conta do otário do costume. Desta vez, porém, a sobremesa foi tarte de limão amargo.

Sim, o processo "Face Oculta" teve uma dimensão política, como sugeriu Armando Vara, após confessar ter ficado "em choque" com o que acabara de ouvir. Mas como não ter? Envolveu um ex-ministro, dirigentes e funcionários de empresas públicas. E, pelo meio, até comprometeu o ex-primeiro-ministro José Sócrates, apanhado em escutas a Vara, e cujo conteúdo alegadamente indiciava a existência de um esquema para controlar a Comunicação Social, usando a PT para comprar a TVI, canal televisivo considerado hostil ao ex-chefe do Governo.

Se Vara levou um valente murro no estômago, Sócrates pode bem suspirar de alívio: as interceções telefónicas, transcritas, em parte, para papel e guardadas num cofre, vão ser destruídas. E com elas não se esboroa apenas a tese do atentado ao Estado de direito, mas também a estratégia de defesa de Armando Vara e Paulo Penedos, que apostavam na validação das mesmas como detonador para implodir o processo.

Sim, o "Face Oculta" foi um processo político. Não no sentido conspirativo e desculpabilizante a que aludiu Vara (há quem lhe chame cabala, são gostos), mas efetivamente porque puniu a variante "chico-esperta" de fazer política, a que patrocina o amiguismo, recebendo e pagando por lealdades bafientas, calando e consentindo enquanto a banda, vestida com as cores da bandeira, se afunda ao som de uma balada tristonha.

Não julguem, todavia, que nada será como dantes depois deste processo. Seria como acreditar no Pai Natal. Ainda assim, não podemos deixar de sublinhar que, desta vez, a justiça se fez com uma anormal normalidade: a investigação policial e o Ministério Público articularam-se, reuniram provas sólidas e montaram uma acusação que se provou ser eficaz.

Agora, é só esperar que a mesma máquina da justiça consiga demonstrar aos cidadãos que sabe investigar, acusar e condenar com igual eficácia gente um pouco mais graúda do que um ex-ministro pouco conhecido e um sucateiro anónimo de Ovar. Há candidatos de sobra na fila.

Portugal - Face Oculta: Arguidos podem livrar-se de prisão a troco de dinheiro




Alguns arguidos do processo Face Oculta podem livrar-se da pena de prisão efetiva através do pagamento de determinadas quantias em dinheiro, que serão doadas a instituições do solidariedade social, avança o Observador.

Os arguidos do processo Face Oculta a quem tenham sido atribuídas penas inferiores a quatro anos de cadeia receberam uma espécie de ‘segunda oportunidade’ por parte do Tribunal de Aveiro, noticia o Observador.

Os 19 arguidos (do total de 36) poderão escapar a uma pena de prisão efetiva se doarem 205 mil euros a instituições de solidariedade social, dentro de um prazo específico, que apenas começará a contar quando a decisão transitar em julgado.

Lopes Barreira, cofundador com Armando Vara da extinta Fundação para a Prevenção e Segurança Rodoviária, e Victor Baptista, ex-administrador da REN, são dois dos arguidos que receberam as sanções mais elevadas: 25 mil euros cada para ficarem em liberdade, com a pensa suspensa.

Outros exemplos são Fernando Santos, funcionário da REN, que será obrigado a pagar 20 mil euros e António Paulo Costa, funcionário da Petróleos de Portugal (Galp), que terá que pagar 17 500 euros.

Notícias ao Minuto

Portugal - Avante! "Ruir do império" GES é "falência da política de direita"




O secretário-geral do PCP citou hoje o "ruir do império Espírito Santo" como sinal da "falência da política de direita" protagonizada por diversos governos de PS, PSD e CDS-PP, no encerramento da 38.ª "Festa do Avante!".

"A falência do GES não é mais uma falência qualquer de um qualquer grupo empresarial. É a demonstração da falência da recuperação capitalista, elemento nuclear e símbolo da política de direita. O ruir do império Espírito Santo exibe a falência da própria política de direita", afirmou Jerónimo de Sousa, no Seixal.

O dirigente comunista disse que os portugueses podem testemunhar "na multiplicação dos escândalos e das sucessivas fraudes - do BPN, do BCP, do BPP e, agora com mais evidência, na implosão do império da família Espírito Santo, do seu grupo e do seu banco" a promiscuidade entre os denominados partidos do "arco da governação" e o poder económico, acusando a família Espírito Santo de ter constituído o seu grupo empresarial "debaixo da asa protetora dos sucessivos governos do PS, PSD e CDS".

"Houve um banqueiro que dizia (que o povo) 'ai, aguenta, aguenta' porque ele tinha a consciência de que não eram eles que aguentavam. Era o povo, os trabalhadores e os reformados porque eles tinham as costas quentes por este Governo e outros", insistiu Jerónimo de Sousa.

Para o líder do PCP, "é o resultado da política de roda-livre para a oligarquia que tudo domina, que garante lugar reservado em Conselho de Ministros para decidir e impor o pacto de agressão do confisco, da extorsão e da austeridade severa para os outros".

"Há dias, Passos Coelho, dizia que era preciso pôr fim aos 'privilégios', [que] há muita gente que 'vivia entre a política e os negócios, os negócios e a política. Logo o PSD, que é o partido campeão dos ministros e secretários de Estado que saltam entre Governo, banca e grupos económicos, seguido, muito de perto, pelo PS, é verdade", reforçou.

Jerónimo de Sousa acusou ainda os "comentadores ao serviço da política de direita, que enxameiam e monopolizam o comentário político e económico, recitando a cartilha do capitalismo dominante" de "justificar o injustificável, subtrair e iludir as causas da profunda degradação da situação nacional", embora "a realidade" esteja "todos os dias a desmenti-los".

Lusa, em Notícias ao Minuto

DESBRAVANDO A LÓGICA COM SENTIDO DE VIDA! – VI



Martinho Júnior. Luanda (Continuação – ver anteriores)

15 – As expectativas de paz e democracia multipartidária em 1991 eram grandes, quer a nível nacional, quer a nível internacional, pois ultrapassado o “apartheid” era de admitir que os angolanos pudessem chegar a consensos e, a partir daí, inaugurar uma era de paz e de progresso, em função dos imensos resgates que se impunham, em termos de luta contra o subdesenvolvimento, em consonância aliás com o Programa Maior do MPLA.

Essa expectativa saiu no entanto gorada, apesar dos esforços do MPLA, do estado angolano e de muitas entidades a nível internacional, que muito sacrificaram para se alcançar a paz.

A 31 de Maio de 1991 assinou-se o acordo de Bicesse, na presença de representantes político-diplomáticos de Portugal, dos Estados Unidos, da ONU e da ainda União Soviética (já em fase de“implosão”), depois de se garantir, a 11 de Maio de 1991, o multipartidarismo, mas com as eleições de 1992 em que o MPLA saiu vencedor, Savimbi decide-se uma vez mais pela “somalização de Angola” (sic)!
  
16 – Um dos sacrifícios consentidos pelo estado angolano foi o fim das FAPLA: o MPLA, apesar da história militar vitoriosa nas frentes de combate, abdicava das suas forças armadas, dando oportunidade à criação das Forças Armadas Angolanas, de forma a integrar os combatentes das FALA (UNITA).

A 24 de Setembro de 1991 e em função dos Acordos de Bicesse de 31 de Maio de 1991, foram estabelecidas as bases gerais das Forças Armadas Angolanas em documentos assinados por intervenientes como o Tenente General França Ndalu, o Coronel Higino Carneiro, o General Demóstenes Cjilingutila e o Engenheiro Salupeto Pena.

A Comissão Conjunta Para a Formação das Forças Armadas Angolanas propôs o novo figurino com base nas Directivas nºs 1 e 2, respectivamente sobre as “Bases Gerais para a Formação das FAA” e “Critérios Gerais da Selecção dos Militares para as FAA”.

O que diziam os Acordos no que diz respeito a “Efectivos”?

Eis aqui o excerto das principais orientações:

“– As partes concordam que os efectivos das Forças Armadas Angolanas até às eleições deverão ser os seguintes:

Exército – 40.000.

Força Aérea – 6.000.

Marinha – 4.000.

– Os efectivos do Exército distribuir-se-ão de acordo com o seguinte esquema:

15.000 praças operacionais dos quais 7.200 pertencerão às Regiões Militares, 4.800 às Unidades de Reserva Geral do Exército e 3.000 às Forças Especiais.

15.000 praças para apoio de serviços e administração.

6.000 sargentos.

4.000 oficiais.

– Cada uma das partes fornecerá ao Exército um total de 20.000 homens assim distribuídos:

15.000 praças (dos quais 7.500 operacionais).

3.000 sargentos.

2.000 oficiais”.

As implicações do fim das FAPLA e a iniciativa da criação das FAA sem ter em conta sequer as proporções das forças, num ambiente internacional em que deixaram de existir os países de orientação socialista enquanto um capitalismo selvagem “se abria” ao domínio pela via dos anglosaxónicos, de seus aliados declarados e não declarados e de seus vínculos (inclusive aqueles que assumiram os vínculos regionais e locais), proporcionaria em Angola a aplicação da “doutrina de choque”, dando-se início à “guerra dos diamantes de sangue” integrada na “Iª Guerra Mundial Africana”, à gestação das “novas elites político-militares angolanas” aproveitando as profundas alterações do carácter do estado, da economia e da sociedade e a coisas nunca vistas em termos de exercício do poder, entre elas a utilização de mercenários.

As SADF do regime do “apartheid” haviam deixado como herança um plano, antes de se retirarem da Namíbia: Savimbi, nas bases secretas de “Palanca”, “Girafa”, “Tigre” e “Licua”, conseguira esconder 20.000 homens de tal forma que nem as denúncias de N’Zau Puna e Tony da Costa Fernandes levaram a que a ONU conseguisse descobrir a sua localização…

Foi com esses recursos que, quando em Outubro de 1992 se decide uma vez mais pela guerra, Savimbi rapidamente, perante a resposta fragilizada do estado angolano, conquista mais de 70% do território nacional e desencadeia a saga dos “diamantes de sangue”.

17 – A legítima aspiração e vocação para a paz em Angola, subvertida também por pressões político-diplomáticas concertadas pelas potências espelhadas na ingenuidade dos próprios observadores, ao mesmo tempo que não se garantiam de forma inequívoca as condições objectivas e subjectivas de sua efectivação, iriam custar muito caro a Angola quando se tinha como interlocutor uma entidade como Savimbi, instrumentalizada por poderosos “lobbies” ao nível do próprio cartel de diamantes, ainda que o “apartheid” tivesse deixado de existir.

Por isso se em relação às sus forças amadas a coisas se passaram assim, já antes, em relação aos seus próprios serviços de inteligência, a “onda neo liberal” que começava a impactar Angola, havia produzido também os seus efeitos: com o processo 76/86 e ao julgar os seus próprios oficiais da Segurança do Estado que haviam levado a cabo a missão de combater o tráfico ilícito e ilegal de diamantes, o estado angolano havia alterado profundamente a sua geo estratégia em relação ao sector dos minerais, abrindo espaços nas suas condutas preventivas e defensivas, espaços esses que viriam a ser em 1991 e 1992 aproveitados por Savimbi para dar início à “guerra dos diamantes de sangue”.

Tirando proveito do efeito surpresa que consistiu na manutenção de 20.000 efectivos não contabilizados, nem referenciados, escondidos nas quatro bases secretas instaladas com as SAF no Cuando Cubango, ao conquistar rapidamente mais de 70% do território, Savimbi ocupou os extensos e ricos vales do Cuango e do Cuanza, onde instalou as explorações de diamantes que lhe iriam fornecer os recursos financeiros para alimentar o esforço militar que segundo ele, o levaria à tomada de poder.

As sequelas coloniais e do “apartheid”, impediram a paz em 1992 e os sacrifícios impostos a Angola iriam durar mais dez anos, retardando as possibilidades de paz e, com esse retardamento, o esforço no sentido da Reconciliação, da Reconstrução Nacional e da Reinserção Social, inscritos na fase inicial da longa luta contra o subdesenvolvimento, tal como se fazia sentir no Programa Maior do MPA!

A lógica com sentido de vida sofria em Angola mis um amplo revés!

Foto: Assinatura do Acordo de Bicesse, a 31 de Maio de 1991 

(Continua)

Angola: JORNALISTAS CHAMADOS A RESPEITAR A PROFISSÃO




Fula Martins – Jornal de Angola

A jornalista e deputada à Assembleia Nacional, Luísa Damião, apelou  em Luanda aos jornalistas a respeitarem a ética e a deontologia profissional durante o exercício da profissão, assim como a continuarem a praticar um bom jornalismo, no sentido de educar os cidadãos e ajudarem no desenvolvimento do país.

No final da palestra sobre “O jornalista e a liberdade de imprensa”, promovida sexta-feira pela União dos Jornalistas Angolanos (UJA), Luísa Damião afirmou que a classe jornalística deve exercer com rigor, objectividade e isenção a sua nobre profissão que é de informar a sociadade.

A deputada Luísa Damião recordou que ser jornalista é uma “grande responsabilidade” que impõe o aprimoramento diário dos seus conhecimentos académicos de forma a compreender melhor os fenómenos políticos, económicos e sociais e informar melhor os cidadãos.

A jornalista considerou pertinente o tema discutido, acrescentando que o mesmo permitiu perceber a vontade dos profissionais. “Tivemos um prelector que deixou algumas lições para os jornalistas. Ficaram também algumas sugestões, como por exemplo, se os jornalistas têm algum conhecimento sobre o direito para não atropelarem efectivamente algumas das normas”, disse.

Luísa Damião felicitou a UJA pela brilhante iniciativa de congregar os jornalistas numa tarde de conhecimento, tendo sublinhado que o conhecimento é um valor ético e cultural que promove o desenvolvimento. 

A palestra foi positiva, disse, e encorajou a UJA a prosseguir com esse tipo de acções, no sentido de ajudar na educação, não só do ponto de vista jurídico. “Os jornalistas conseguiram tirar algumas dúvidas que tinham relativamente à liberdade de imprensa e ao exercício da sua profissão.”

Adelino de Almeida acredita que a partir de agora, com maior disponibilidade dos corpos directivos, vai assistir-se à revitalização da UJA, para a criação de programas específicos que intensifiquem o nível de prestação dos jornalistas, elevar o nível de profissionalismo e encarar a possibilidade de gizar programas que possam ajudar e assistir os jornalistas nas suas necessidades.

Relativamente às condições sociais dos jornalistas, Adelino de Almeida disse que podem ser encontradas outras vias que levem a que as necessidades materiais possam ser realizadas.

Adelino de Almeida defendeu que se crie um cofre de previdência para a Comunicação Social, à semelhança do que acontece em alguns sectores, como forma de ajudar nos casos de reforma ou morte do jornalista.

“É preciso que se desenvolvam esforços para que os jornalistas se sintam suficientemente apoiados, quer no exercício da sua profissão, quer quando não estejam capacitados”, disse.

Manuel Vieira, jornalista da Rádio Ecclésia, disse que o tema colocado à discussão foi bastante sugestivo. “Julgamos que os jornalistas saem daqui mais esclarecidos a propósito destes pontos bastante desafiantes para a profissão”, disse.

Vieira afirmou que, mais do que o tema proposto para discussão, o mais importante foi a redinamização da União dos Jornalistas Angolanos, que é a primeira grande organização sócio-profissional em Angola.

 “A UJA teve alguns períodos de letargia. Agora vemo-la um tanto ou quanto dinâmica e essa primeira actividade relança-nos naquilo que é o dinamismo da profissão e a defesa que a classe merece ao longo dos tempos modernos”, disse Manuel Vieira, mostrando-se particularmente optimista com o futuro da UJA.

Moçambique: Presidente Guebuza deseja que paz com Renamo seja "nova vitória"




O Presidente de Moçambique assinalou hoje em Maputo os 40 anos dos Acordos de Lusaca, que abriram caminho à independência do país, desejando uma "nova vitória" com a aprovação no parlamento do entendimento com o maior partido de oposição.

"O maior desafio é continuar com outra vitória. E neste caso a vitória que temos pela frente é aplicar o memorando de entendimento o mais rápido possível", declarou Armando Guebuza, citado pela agência de notícias moçambicana AIM, após a cerimónia do Dia dos Acordos de Lusaca, celebrado a 07 de setembro de 1974 pela Frelimo (Frente Revolucionária de Moçambique) e pelo Governo português.

A Assembleia da República reúne-se na segunda-feira em sessão extraordinária para votar a transformação em leis do acordo alcançado pelo Governo e pela Renamo (Resistência Nacional Moçambicana), ao fim de um ano e meio de confrontos militares e de mais de 70 rondas negociais entre as partes e que culminaram com a assinatura, na sexta-feira em Maputo, do entendimento por Guebuza e Afonso Dhlakama, líder do maior partido de oposição.

Estabelecendo uma relação com o momento histórico em 1974 na capital da Zâmbia, o chefe do Estado de Moçambique referiu que naquele período ouviam-se relatos de chacinas de portugueses contra a independência, apoiados por "sequazes moçambicanos".

"Obviamente isto produziu muita turbulência e a população teve que se defender. Muita gente perdeu a vida, muita destruição também de ordem material, mas no fim tudo saiu bem, "disse Guebuza.

Do mesmo modo, segundo o Presidente moçambicano, a aprovação do memorando de entendimento com a Renamo no parlamento é o próximo grande desafio do país, de modo a afastar "os fantasmas da guerra".

Governo e Renamo mantinham divergências de fundo, inicialmente em torno da lei e eleitoral, e depois alargadas ao desarmamento do braço armado do partido de oposição, composição das forças de defesa e segurança e ainda à presença de observadores estrangeiros para vigiar este processo e as eleições gerais previstas para 15 de outubro.

Alcançado o acordo, Afonso Dhlakama abandonou o seu refúgio, na serra da Gorongosa, onde se encontrou nos últimos meses, e deverá iniciar a campanha eleitoral na próxima semana, na qualidade de líder da Renamo e candidato presidencial.

Lusa, em Notícias ao Minuto

Da Libéria à Coreia do Sul, epidemia de ebola é recebida com ignorância e paranoia



Abdoulaye Bah - Global Voices (*) – Opera Mundi – cartun de Carlos Latuff

Ignorância sobre como doença se espalha faz com que sobreviventes sejam estigmatizados; pessoas de origem africana enfrentam discriminação no exterior

A que tem sido descrita como a pior epidemia do ebola no mundo está trazendo o pior de algumas pessoas nos países afetados e ao redor do mundo.

A ignorância sobre como a doença se espalha faz com que sobreviventes estejam sendo estigmatizados em casa, enquanto pessoas de origem africana enfrentam discriminação no exterior. Conforme países vizinhos aos afetados fecham suas fronteiras, os trabalhadores sofrem consequências econômicas. Sem uma cura médica confirmada para o ebola, vigaristas estão vendendo suas supostas curas para pessoas desesperadas.

Desde o final de junho, o número de casos do ebola confirmados na África ocidental mais que quadruplicou, de 567 para 2615, de acordo com os últimos dados da Organização Mundial da Saúde. Um pouco mais da metade das pessoas que contraíram a doença, 1427 pessoas, morreram.

O blogueiro Boubacar Sanso Barry, no site de língua francesa Guinée Conakry Info descreveu a abordagem adotada por cada um dos países que fazem parte do esforço para conter a epidemia:

“Como resposta à nova epidemia do vírus ebola na África ocidental, os países estão adotando abordagens diferentes. Na Guiné, apesar das últimas estatísticas alarmantes, as autoridades continuam tentando manter a doença em perspectiva, enquanto na Libéria e em Serra Leoa, o Exército e forças de segurança foram literalmente requisitados para enfrentar o inimigo. No primeiro caso, pode-se dizer que o problema está sendo subestimado, mas, no segundo, pareceque as medidas tomadas pelas autoridades na Libéria e em Serra Leoa estão fora de proporção, e contribuem para a sensação geral de pânico.”

A ignorância sobre a doença está ainda difundida. A ONG local da Guiné Centro Comunitário para o Desenvolvimento Educacional  (Centre communautaire pour le développement de l’éducation ou CECODE, em francês) conduziu uma pesquisa de opinião em um distrito de Conacri, na Guiné, que registrou mais de 600 casos de ebola, para avaliar o conhecimento da população sobre a doença. Em resposta à pergunta: “O que a epidemia do ebola significa para você?”:

“Mais de 72% das pessoas entrevistadas consideram que a doença é ‘perigosa, contagiosa, séria e mortal’. Entretanto, 24% dos pesquisados dizem que a epidemia do ebola não significa nada para eles, enquanto 4% das pessoas continuam confusas.

Os comentários a seguir foram observados:

- “A epidemia do ebola não existe. Eu não acredito no que as pessoas estão dizendo”.
- “Essa doença não significa nada para mim porque eu não entendo nada sobre ela”.
- “Eu não tenho certeza se essa doença existe”.
- “Estou ansioso sobre ir a um hospital. Tenho medo”.
- “Eu não entendo nada sobre essa doença”.
- “É uma punição de Deus”.
- “É uma causa de preocupação”.
- “É para proteger os interesses do governo”
- “Eu vi pessoas na TV usando máscaras, para cuidar da população, ou é o que dizem”.
- “Eu não quero falar sobre isso”.
- “Um adulto me disse que essa doença não vem da floresta – se vier, nós todos vamos morrer”.
- “Uma punição divina”.

No dia 17 de agosto, na Libéria, o país que foi mais severamente afetado, um grupo de homens armados com facas e tacos, gritando não há ebola no país, atacaram um centro de quarentena montado em uma escola em West Point, um subúrbio de Monróvia, fazendo com que os pacientes fugissem. Foi somente no dia 20 de agosto que 17 dos pacientes que fugiram foram encontrados e transferidos para o novo centro de tratamento recém-instalado no hospital John F. Kennedy, na capital.

Internacionalmente, cidadãos desses países estão sendo colocados sob uma crescentemente rigorosa quarentena, com fronteiras sendo fechadas e a maioria das companhias aéreas suspendendo voos para os países afetados. As famílias de diplomatas nesses países estão sendo repatriadas, conferências internacionais foram canceladas e eventos esportivos realocados.

Entretanto, um artigo publicado no Resistance Authentique, um blog francês que coleta “trend topics” [temas mais falados nas redes sociais], refletiu a opinião de muitos especialistas:

“O vírus é transmitido pelo contato direto com fluído corporal, tal como sangue, fezes ou vômito. Não há transmissão pelo ar. Em outras palavras (ao contrário do que pode ser lido por aí) o vírus ebola não se espalha pelo ar por uma pessoa falando ou tossindo”.

Longe da área afetada, o medo levou pessoas a recorrerem a medidas com segundas intenções mal escondidas. Na Coreia do Sul, por exemplo, um pub colocou o aviso mostrado nessa foto,publicada no Twitter e no MediaEqualizer, um site dos Estados Unidos de observatório dos meios de comunicação. Cerca de 800 comentários de leitores respondendo a ela ofereceram um vislumbre da visão negativa que muitos coreanos têm dos africanos.

“Nós nos desculpamos, mas, por causa do vírus ebola nós não estamos aceitando africanos no momento”. O aviso foi colocado na entrada do JR Pub em Seul.

Um leitor chamado Raptor escreveu um comentário no fórum Instinct de Survie (Instinto de Sobrevivência), uma plataforma pra proponentes de softwares livres, dando um contexto para a epidemia:

“O exemplo que eu sempre uso é esse: a gripe sazonal causa entre 1500 e 2000 mil mortes todos os anos no nosso país. Eu não quero fazer comparações, mas eu estou tentando colocar as coisas em perspectiva. Semelhantemente, durante o terremoto no Haiti, nós vimos epidemias de praga, cólera e tuberculose. Entretanto, o impacto internacional não foi muito notado. Com quase 700 mortes (no momento do post), nós estamos ainda muito longe de alcançar a escala das doenças que nos afetaram no passado (a peste negra, a gripe espanhola, entre outras).

Por essa razão, quando eu vejo artigos usando frases tais como “totalmente fora de controle” ou “epidemia sem precedentes”, me faz pensar se os meios de comunicação estão recorrendo ao sensacionalismo em vez de informações reais. O influxo de imigrantes regulares introduz coisas que nunca foram vistas antes na nossa parte do mundo e, mesmo assim, nós não estamos constantemente publicando crises de saúde.”

Quando países vizinhos fecham as fronteiras, ou mesmo apenas introduzem requerimentos de entrada mais rigorosos, provocam vários problemas econômicos sérios, especialmente para o comércio da fronteira. O site de notícias Actu224, da Guiné, postou os comentários de um oficial do sindicato de condutores de caminhões na fronteira de Guiné-Mali:

“Muitos malianos já abandonaram a estrada entre Bamako e Conakri por causa das suspeitas e incertezas que cercam a doença. Como você pode ver, a estação está cheia de veículos vazios. Os poucos que conseguem sair durante o dia estão lutando para encontrar clientes suficientes.

Infelizmente, com a pandemia do ebola, os malianos estão cada vez mais relutantes em ir para o interior da Guiné, apesar de as pessoas de lá ainda estarem frequentando feiras semanais em Mali”.

Enquanto esforços internacionais estão enviando para os países afetados todo tipo de ajuda, incluindo equipamento médico, dinheiro e vacinas que não estão ainda comercialmente disponíveis, líderes religiosos têm organizado sermões para sensibilizar o público e ajudar as pessoas a terem um entendimento melhor do que os trabalhadores da saúde estão fazendo.

O altamente controverso pastor nigeriano e milionário, TB Joshua, por sua vez, diz que uma água benta que ele desenvolveu pode curar pacientes que sofrem com o vírus ebola. Ele mandou 4 mil garrafas dessa água em seu próprio jato privativo para ajudar Sierra Leoa.

*Texto traduzido do inglês por Kelly Cristina e publicado originalmente no site Global Voices.

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Preliminar: O ESTADO ISLÂMICO É UMA CRIAÇÃO OCIDENTAL




A unanimidade no Conselho de segurança contra o Emirado islâmico (E.I.) e a votação da resolução 2170 não passam de uma atitude de fachada. Elas não conseguem fazer esquecer o apoio estatal de que o E.I. dispôs até agora, e dispõe ainda.

Olhando apenas para os recentes acontecimentos no Iraque, todos puderam constatar que os seus combatentes entraram no país a bordo de colunas de flamejantes Humvees, novos em folha, saídos directamente das fábrica norte-americanas da American Motors, e armados de material de guerra ucraniano, igualmente novíssimo. Foi com este equipamento que eles capturaram as armas americanas do Exército iraquiano. Do mesmo modo toda a gente ficou espantada por este E.I. dispôr de administradores civis capazes de tomar em mãos, instantaneamente, a gestão dos territórios conquistados, e de especialistas em comunicação aptos a promover a sua actuação na Internet e na televisão; um pessoal claramente formado em Fort Bragg.

Embora a censura norte-americana tenha interdito qualquer recensão sabemos, pela agência de notícias, britânica Reuters, que uma sessão secreta do Congresso votou, em janeiro 2014, o financiamento e armarmento do Exército Sírio livre (E.S.L.), da Frente Islâmica, da Frente Al-Nosra e do Emirado Islâmico até 30 setembro de 2014 [1]. Alguns dias mais tarde a Al-Arabiya vangloriava-se que o príncipe Abdul Rahman era o verdadeiro chefe do Emirado Islâmico [2]. Depois, a 6 de fevereiro, o secretário da Segurança Interna dos EUA reuniu com os principais ministros do Interior europeus, na Polónia, para lhes pedir para manter os jihadistas europeus no Levante, impedindo-lhes o regresso aos seus países de origem, de modo a que o E.I. tivesse suficientes efectivos para atacar o Iraque [3].

Finalmente, em meados de fevereiro, um seminário de dois dias juntou numa sessão do Conselho Nacional de Segurança dos EUA os chefes dos serviços secretos aliados implicados na Síria, claramente para preparar a ofensiva E.I. no Iraque [4].

(Reportagem de Agosto de 2012 sobre o fanatismo religioso da suposta «oposição democrática»)

É extremamente chocante observar os média (mídia-Br) internacionais, de repente, denunciarem os crimes dos jihadistas quando estes se verificam, sem interrupção, há três anos. Não há nada de novo nas degolas em público e nas crucificações: a título de exemplo, o Emirado Islâmico de Baba-Amr, em fevereiro de 2012, havia estabelecido um «tribunal religioso» que condenou à morte por degolamento mais de 150 pessoas, sem levantar a menor reacção ocidental, ou das Nações Unidas [5]. Em maio de 2013, o comandante da Brigada Al-Farouk do Exército sírio livre (os famosos «moderados») difundiu um vídeo no decorrer do qual ele esquartejava um soldado sírio e comia o seu coração. À época os Ocidentais persistiram em apresentar estes jihadistas como «oposicionistas moderados» mas, desesperados, batendo-se pela «democracia». A BBC ainda deu a palavra ao canibal para que este se justificasse.

Não há nenhuma dúvida que a diferença estabelecida por Laurent Fabius entre jihadistas «moderados» (o Exército Sírio livre e a Frente Al-Nosra, isto é a al-Qaida, até ao início de 2013) e jihadistas «extremistas» (a frente Al-Nosra a partir de 2013, e o E.I.) é um puro artifício de comunicação. O caso do califa Ibrahim é esclarecedor: em maio de 2013, aquando da visita de John McCain ao E.S.L, ele era ao mesmo tempo um membro do estado-maior «moderado» e líder da facção «extremista» [6]. Identicamente, uma carta do general Salim Idriss, chefe do estado maior do E.S.L, datada de 17 de janeiro de 2014, atesta que a França e a Turquia forneciam munições na quantidade de um terço para o E.S.L e dois terços para a al-Qaida, via ESL. Apresentado pelo embaixador sírio no Conselho de Segurança, Bashar Jaafari, a autenticidade deste documento não foi contestada pela delegação Francesa [7].

Dito isto, é evidente que a atitude de algumas potências da Otan e do CCG (Conselho de Cooperação do Golfo-ndT) mudou no decurso do mês de agosto de 2014, passando de um apoio secreto, maciço e contínuo, para uma hostilidade declarada. Porquê?

A doutrina Brzezinki do jihadismo

É preciso, aqui, voltar 35 anos atrás para compreender a importância da viragem que a Arábia Saudita e, talvez, os Estados Unidos estão fazendo. Após 1979, Washington por iniciativa do conselheiro de Segurança Nacional, Zbigniew Brzezinski, decidiu apoiar o Islão (Islã-Br) político contra a influência soviética, revivendo a política adoptada no Egipto de apoio à Irmandade Muçulmana contra Gamal Abdel Nasser.

Brzezinski decidiu lançar uma grande «revolução islâmica» do Afeganistão, (então governado pelo regime comunista de Muhammad Taraki), e do Irão, (onde ele próprio organizou o retorno do imã Ruhollah Khomeini).

Posteriormente esta revolução islâmica devia espalhar-se, por todo o mundo árabe, e varrer os movimentos nacionalistas associados com a URSS. A operação no Afeganistão foi um sucesso inesperado: os jihadistas da Liga anti- comunista mundial (WACL) [8], recrutados no seio dos Irmãos muçulmanos e dirigidos pelo bilionário anti-comunista Osama bin Laden, lançaram uma campanha terrorista que levou o governo a apelar para os soviéticos. O Exército Vermelho entrou no Afeganistão e ficou atolado lá por cinco anos, acelerando a queda da URSS.

A operação no Irão foi, pelo contrário, um desastre: Brzezinski ficou espantado ao constatar que Khomeini não era o homem que lhe tinham referido-um velho aiatola tentando recuperar as suas propriedades rurais confiscadas pelo Xá- mas, sim, um autêntico anti-imperialista. Considerando um pouco tardiamente que a palavra «islamista» não tinha, de todo, o mesmo sentido para uns e para outros, ele decidiu distinguir os bons sunitas (colaborantes) dos maus xiitas(anti-imperialistas) e confiar a gestão dos primeiros à Arábia Saudita.

Por fim, considerando a renovação da aliança entre Washington e os Saud, o presidente Carter anunciou, durante o seu discurso sobre o Estado da União a 23 de janeiro de 1980 que, daqui em diante, o acesso ao petróleo do Golfo era um objetivo da segurança nacional dos EUA.

Desde então, os jihadistas foram encarregados de todos os os golpes sujos contra os Soviéticos, (depois os Russos), e contra os regimes árabes nacionalistas ou recalcitrantes. O período indo da acusação lançada contra os jihadistas, de ter fomentado e realizado os atentados do 11 de setembro, até ao anúncio da pretensa morte de Osama bin Laden no Paquistão (2001-11) complicou as coisas. Tratava-se, ao mesmo tempo, de negar qualquer relação com os jihadistas e de usá-los como pretexto para intervenções. As coisas clarificaram-se em 2011, com a colaboração oficial entre os jihadistas e a Otan na Líbia e na Síria.

A viragem saudita de agosto de 2014

Durante 35 anos, a Arábia Saudita financiou e armou todas as correntes políticas muçulmanas desde que (1) fossem sunitas, (2) que afirmassem o modelo económico dos Estados Unidos compatível com o Islão, e (3 ) que-no caso em que o seu país tivesse assinado um acordo com Israel-eles não o questionassem.

Durante 35 anos, a grande maioria dos sunitas fechou os olhos para o conluio entre os jihadistas e o imperialismo. Ela manifestou a sua solidariedade com tudo o que eles fizeram e com tudo o que lhes atribuíram. Finalmente, legitimou o wahhabismo como uma forma autêntica do Islão, apesar da destruição dos locais santos na Arábia Saudita.

Observando com surpresa a «Primavera Árabe», para cuja preparação ela não fora convidada, a Arábia Saudita inquietou-se com o papel dado por Washington ao Catar e aos Irmãos muçulmanos. Riade não demorou a entrar em competição com Doha para patrocinar os jihadistas na Líbia e, sobretudo, na Síria.

Assim, tanto o rei Abdallah salvou a economia egípcia que, quando o general Abdel Fattah al-Sisi se tornou presidente do Egito, enviou-lhe, e aos Emirados Árabes Unidos, a cópia completa dos registos (registros-Br) policiais dos Irmãos Muçulmanos. Deste modo, no quadro da luta contra a Irmandade, o general Al-Sissi descobriu e transmitiu, em fevereiro 2014, o plano detalhado da Irmandade para tomar o poder em Riade e em Abu Dhabi. Em alguns dias os conspiradores foram presos e confessaram, enquanto a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos ameaçavam o Catar, o padrinho dos Irmãos, de o destruir, se ele não abandonasse imediatamente a irmandade.

Riade não demorou muito para descobrir que o Emirado Islâmico também estava contaminado e se aprestava a atacá-la, depois de se ter apoderado de um terço do Iraque.

O ferrolho ideológico, pacientemente construído durante 35 anos, foi pulverizado pelos Emirados Árabes Unidos e pelo Egito. A 11 de agosto, o grande imã da universidade Al-Azhar, Ahmad al-Tayyeb, condenou severamente o Emirado Islâmico e a al-Qaida. Ele foi seguido, no dia seguinte, pelo grande mufti do Egipto, Shawki Allam [9].

A 18 de agosto, e novamente a 22, o Abu Dhabi bombardeou, com a assistência do Cairo, terroristas em Tripoli (Líbia). Pela primeira vez, dois estados sunitas aliaram- se para atacar extremistas sunitas num terceiro Estado sunita. O seu alvo, não era outro senão, uma aliança incluindo Abdelhakim Belhaj, antigo número três da Al Qaida, nomeado governador militar de Trípoli pela Otan [10]. Parece que esta ação foi realizada sem Washington ter sido disso, préviamente, informado.

A 19 de agosto, o grande mufti da Arábia Saudita, o xeque Abdul-Aziz Al al-Sheikh, decidiu-se-por fim- qualificar os jihadistas do Emirado Islâmico e da al-Qaida «de inimigos número 1 do Islão» [11].

As consequências da reviravolta saudita

A reviravolta da Arábia Saudita foi tão rápida que os actores regionais não tiveram tempo de se adaptar e, portanto, apresentam posições contraditórias, segundo os diferentes dossiês. Em geral, os aliados de Washington condenam o Emirado Islâmico no Iraque, mas ainda não na Síria.

Mais surpreendentemente, enquanto o Conselho de Segurança condenava o Emirado Islâmico, na sua declaração presidencial de 28 de Julho e na sua resolução 2170 de 15 de Agosto, ficava claro que a organização jihadista dispunha, ainda, de apoios de Estados: em violação dos princípios anunciados, ou relembrados, por estes textos, o petróleo iraquiano pilhado pelo E.I. transita pela Turquia. Ele é bombeado no porto de Ceyhan para petroleiros que fazem escala em Israel e, depois, voltam a partir para a Europa. Por enquanto, o nome das sociedades comanditárias não foi estabelecido, mas a responsabilidade da Turquia e de Israel é óbvia.

Por seu turno, o Catar, que continua a acolher muitas personalidades da Irmandade Muçulmana, nega apoiar ainda o Emirado Islâmico.

Reunião dos ministros dos Negócios Estrangeiros da Arábia Saudita, dos Emirados árabes unidos, do Egipto e... do Catar em Jeddah, a 24 de agosto de 2014, para fazer face ao Emirado islâmico. A Jordânia estava representada nesta cimeira.

Aquando das conferências de imprensa coordenadas, os ministros das Relações Exteriores(Negócios Estrangeiros-Pt) russo e sírio, Sergey Lavrov e Walid Moallem, apelaram para a construção de uma coligação (coalizão-Br) internacional contra o terrorismo. No entanto, os Estados Unidos, preparando operações terrestres em território sírio, junto com os britânicos (a «força de intervenção Negra-Black» [12]), recusou aliar-se com a República Árabe da Síria e persiste em exigir a demissão do presidente eleito Bashar al-Assad.

O choque que acaba de pôr fim a 35 anos de política saudita transforma-se em confronto entre Riade e Ancara. Desde logo o partido curdo turco e sírio, o PKK, que ainda é considerado por Washington e Bruxelas como uma organização terrorista, é apoiado pelo Pentágono contra o Emirado Islâmico. Com efeito, e contrariamente às apresentações equivocadas da imprensa atlantista, são estes combatentes do PKK turcos e sírios, e não os peshmergas(nome lendário dos combatentes curdos-ndT) iraquianos, do Governo Local do Curdistão, que repeliram o Emirado Islâmico nestes últimos dias, com a ajuda da Aviação norte-americana.

Conclusão provisória

É difícil saber se a situação actual é uma encenação ou é realidade. Têm os Estados Unidos realmente a intenção de destruir o Emirado Islâmico que eles próprios formaram, e que lhes teria escapado, ou será que eles vão, simplesmente, enfraquecê- lo e mantê-lo como um instrumento de política regional? Ancara e Telavive apoiam o E.I. por conta de Washington ou contra, ou, ainda, jogam eles com dissidências internas nos Estados Unidos? Irão os Saud, para salvar a monarquia, até à aliança com o Irão e a Síria derrubando o dispositivo de proteção de Israel?


Tradução: Alva

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