domingo, 11 de novembro de 2012

Merkel diz que não há razões para renegociação com a 'troika' e elogia coragem do Governo

 
Cavaco e governo embandeiram Parlamento de Portugal na receção a Merkel
Jornal de Notícias
 
A chanceler Angela Merkel afirma não haver motivos para Portugal renegociar com a 'troika' ou pedir novo resgate, elogiando a coragem com que o Governo faz o ajustamento financeiro e com que o país cumpre o acordado.
 
"Neste momento, não há motivos para uma renegociação. Portugal cumpre os compromissos assumidos corajosamente", afirmou a chefe do Governo alemão, numa entrevista à RTP, transmitida este domingo, véspera da visita que fará a Portugal na segunda-feira.
 
"Portugal cumpriu muito bem os compromissos assumidos. Por isso, estou convencida de que o resultado será bom, mas a dificuldade está nas reformas, que precisam de tempo para ter efeito", sublinhou.
 
Isto não significa, ressalvou, que seja preciso mais tempo: "Quero dizer que, de uma forma geral, é preciso fazer mudanças dolorosas e não será no dia seguinte que haverá mais empregos e mais investimento. É preciso aguardar mais tempo, as pessoas ainda não veem o resultado, mas esse resultado virá".
 
Por outro lado, disse não partir do princípio de que Portugal precisará de outro resgate: "Agora as medidas estão a ser muito bem implantadas e esperamos que o programa tenha sucesso."
 
Merkel disse saber que enquanto estiver em Lisboa haverá "muitas pessoas que vão mostrar as dificuldades que têm", acrescentando que o direito à manifestação, sem violência, é um "progresso" das sociedades democráticas que não existia na antiga RDA, onde viveu.
 
"Claro que um programa desta ordem gera grande debate. Mas a minha convicção é de que o Governo português está a ser muito corajoso ao tomar as medidas e tenho o maior respeito por aquilo que está a ser realizado no país", afirmou.
 
Sobre as vozes que a culpam pela austeridade, respondeu que "naturalmente" as ouve, mas as estranha, lembrando que a 'troika' negoceia com os países.
 
"Não são ideias minhas. São o resultado da convicção de que Portugal tem de fazer reformas, há que combater o défice e reforçar a base económica", afirmou.
 
Apesar disso, e de reconhecer que "é um processo duro", que "exige muitos sacrifícios", disse continuar "fiel a esses programas" que, no português, "como um todo, está bem estruturado e terá sucesso", negando tratar-se de "mera austeridade".
 
"Não nos limitamos aos cortes, são importantes as reformas estruturais no direito laboral e outras áreas. As privatizações têm de ser feitas por ainda haver excesso de empresas públicas", afirmou.
 
Confrontada com as posições do FMI sobre a rigidez da austeridade, respondeu que a diretora do Fundo Monetário Internacional "negociou o programa com Portugal e ela também continuará a assumir esse compromisso".
 
Sobre a visita a Portugal, disse ser "uma contribuição" para mostrar que a Alemanha "quer ajudar" e "para ver o que se pode melhorar na cooperação entre empresas para gerar mais empregos, para que baixe o desemprego juvenil e haja força económica em Portugal".
 
Merkel rejeitou ainda a saída do euro de alguns países: "De forma alguma. Devemos fazer tudo para que os investidores de fora da Europa não fiquem assustados. Precisamos de uma zona euro estável", sublinhou, afirmando que a Europa tem de produzir "de forma competitiva, a nível internacional" para criar emprego.
 
"Formamos um forte mercado interno europeu do qual todos beneficiamos. A Alemanha também. Penso que podemos fortalecer a zona euro e é precisamente isso que estamos a fazer", afirmou, descartando um plano de ajuda para os países do Sul.
 
"Com as medidas que disponibilizamos em termos de fundos estruturais e com os apoios dos programas europeus existem excelentes oportunidades para lançar o crescimento", afirmou.
 
"Houve erros que cometemos no passado, todos juntos, como o investimento dos recursos em estradas, em infraestruturas de um modo geral, não tendo apoiado as pequenas empresas, para as tornar mais competitivas. Devemos aprender com o passado. Pela nossa parte, nós, alemães, vamos continuar a apoiar Portugal, Espanha e outros países. Fazemos isso porque também é bom para nós termos uma Europa comum", reforçou, dizendo não haver motivos para preocupação "com o domínio alemão".
 
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Portugal: ATIVISTAS QUEREM PANOS NEGROS CONTRA MERKEL

 

Fabíola Maciel - Público
 
Incerteza sobre o percurso da visita da chanceler alemã obriga movimentos a organizar manifestações em vários locais de Lisboa. Apesar da dispersão geográfica, todos têm o mesmo objectivo: mostrar a Angela Merkel que não é bem-vinda a Portugal.
 
O primeiro-ministro Pedro Passos Coelho pediu aos portugueses que recebam bem a chanceler alemã Angela Merkel, mas alguns portugueses – que segundo Vítor Gaspar são o “melhor povo do mundo” –, não lhe vão fazer a vontade. Um pouco por todo o país, as pessoas vão sair à rua para mostrar que estão contra a austeridade.

Lisboa será o centro dos protestos. O secretismo sobre o itinerário da visita levantou uma onda de manifestações dispersas por vários locais da capital, desde a Assembleia da República até ao Centro Cultural de Belém (CCB).

É para esse local, onde Merkel fará o encerramento de um fórum económico, que está marcada a primeira manifestação do dia, às 10 horas. Sem ligações a sindicatos nem a movimentos de cidadãos, o protesto convocado no Facebook tem confirmado mais de duas mil pessoas. No mesmo local, o grupo Geração em luta apela a uma concentração no Palácio Nacional de Belém, às 10h30, que seguirá para o CCB três horas depois.

Por volta dessa hora, o movimento Que se lixe a troika reúne-se na Praça do Calvário com o mote “A Merkel não manda aqui!”. E porque a chanceler alemã não percebe a língua portuguesa, o grupo seguirá para Belém a gritar palavras-de-ordem em alemão. João Camargo, um dos membros do Que se lixe a troika, sublinhou ao PÚBLICO que o intuito é “mostrar que o repúdio dos portugueses não é só ao governo nacional, mas também aos actores internacionais que contribuem decisivamente para o estado do país”.

O Movimento 12 de Março (M12M) também vai juntar-se aos manifestantes em Belém e São Bento. A principal preocupação, segundo João Labrincha, é “centrar a contestação na imagem da Merkel e não no povo alemão”, de modo a “evitar a xenofobia que se propaga nestas alturas”.

Mais perto do centro da cidade, no Largo de Camões, a CGTP organiza uma concentração intitulada “Nem Merkel nem troikas” a partir das 15h. Armando Farias, membro da comissão executiva da central sindical, disse que o protesto foi convocado “em defesa da soberania e da independência nacional”.

O protesto da CGTP prolonga-se num desfile até São Bento, ao qual se vai juntar a Associação Projecto Ruído, que enviou, a 30 de Outubro, uma carta a Merkel. Hoje, o mote será: “Vamos todos mandar a Merkel para a troika que a pariu!”

Também o Movimento Sem Emprego (MSE) vai integrar o protesto da CGTP. Têm uma mensagem genérica – “Com estas políticas de austeridade os portugueses não podem comprar os produtos que a Alemanha produz e quer exportar” – e alguns cartazes. Ana Rajado, a porta-voz, antecipa alguns: “Quem deve aqui dinheiro é o banqueiro”, “FMI fora daqui” e “Esta dívida não é nossa”.

Todos querem mostrar o descontentamento com a situação actual do país, mas, apesar de estarem em sítios diferentes, os manifestantes terão uma característica comum: o luto contra a austeridade. Nas redes sociais circulam apelos, promovidos por movimentos ou cidadãos, para que hoje os portugueses se vistam de negro e cubram monumentos, lojas, janelas, carros e autocarros com panos e plásticos pretos. O objectivo é transformar a data da visita de Angela Merkel a Portugal no “dia em que a dignidade se cobre de negro”. A chanceler alemã estará apenas em Lisboa, mas a CGTP convocou manifestações para Braga, Porto e Faro.
 

Portugal: PCP disponível para “governo de esquerda”, PS recusa “rasgar compromissos

 


Reacções à VIII Convenção do BE
 
Público - Lusa
 
O PCP está disponível para um governo de esquerda com todos os que queiram romper com a política de “desgraça”. Armindo Miranda, da Comissão Política do PCP, disse no entanto que “dificilmente” o PS o poderá integrar devido à sua prática governativa. Os socialistas recusam o que diz ser a destruição de financiamento da economia.
 
“Nós estamos disponíveis para falar com todos os democratas, todas as forças, todos os sectores, que estejam disponíveis, convicta e seriamente, para romper com esta política que tanta desgraça trouxe ao nosso povo”, declarou o dirigente comunista, no final da VIII Convenção do Bloco de Esquerda (BE), em Lisboa.

Armindo Miranda
assumiu a necessidade de um governo de esquerda para “retirar o sofrimento” e, questionado sobre se é possível incluir os socialistas nesse governo, afirmou que “o PS é que tem de decidir”. Ainda assim, acusou os socialistas de terem “um compromisso de sangue com os banqueiros e os grupos económicos”.

“Em relação ao que propomos achamos que a grande maioria dos apoiantes do PS está de acordo connosco, em relação à direcção do PS já temos muitas dúvidas”, declarou. João Assunção Ribeiro, que chefiou a delegação do PS naquela convenção, confirmou-o: os socialistas recusam tanto o que entende ser o caminho de destruição das condições de financiamento da economia como a via do Governo de “destruição do estado social”.

João Assunção Ribeiro falava aos jornalistas no final da VIII Convenção do Bloco de Esquerda, no pavilhão do Casal Vistoso, em Lisboa, onde chefiou a delegação do PS presente na sessão de encerramento deste evento político.

Durante os dois dias de convenção, a direcção do BE colocou ao PS a condição de “romper com o memorando” da troika para a existência em Portugal de uma convergência política, tendo em vista a formação de um governo de unidade de esquerda.

Perante esta exigência dos bloquistas, João Ribeiro, membro do Secretariado Nacional do PS, advertiu que “seria uma irresponsabilidade pôr em causa o financiamento de Portugal”. “Seria uma irresponsabilidade rasgar compromissos de estado. Não é esse o caminho do PS.”

O porta-voz do PS voltou a criticar o BE ao referir-se aos episódios políticos que estiveram na origem da queda do executivo socialista em Março de 2011. “Esta convenção não vai rever a história numa coisa que não se pode esquecer: O Bloco de Esquerda também tem responsabilidade na existência de um governo e de uma maioria de direita em Portugal. O PS não esquece isso”, advertiu.

Trabalhadores devem “juntar forças e vontades”

O secretário-geral da CGTP, Arménio Carlos, defendeu por seu lado que os trabalhadores devem “juntar forças e vontades” em torno do que os pode “unir”, “independentemente dos posicionamentos políticos ou sindicais”, para encontrar “outro caminho para Portugal”.

“Em vez de centrarmos a nossa discussão naquilo que nos divide, o que é importante é juntarmos as nossas forças e vontades em torno do que nos pode unir, é nisto que trabalhamos todos os dias na CGTP, independentemente dos posicionamentos políticos ou sindicais que os trabalhadores e outras pessoas que vivam em Portugal tenham, o que importa é unirmo-nos e avançar”, declarou o líder sindical.

O secretário-geral da Intersindical considerou, no final da sessão de encerramento da convenção, que “os dois problemas de fundo” do país “são o memorando e a política de direita” e deixou um apelo à participação na greve geral da próxima quarta-feira.

“Temos já esse grande desafio que é a greve geral, demonstrar que estamos descontentes, estamos indignados, mas que temos esperança e confiança de que com as nossas propostas, as nossas soluções, possamos encontrar outro caminho para Portugal”, disse.
 

TIMOR-LESTE COMEMORA 21 ANOS DO MASSACRE DE SANTA CRUZ

 

Timor Agora
 
21 anos volvidos recordam-se as vítimas do assassino indonésio Suharto, há 10 anos que Timor-Leste é uma nação independente. Cumpriu-se a vontade das centenas de milhares que morreram pela pátria timorense. A luta, de mais de duas décadas, daqueles que pereceram e de bastantes que sobreviveram, cumpriu os objetivos de libertar o país do jugo dos militares assassinos indonésios.
 
Com as oscilações naturais de um país em formação, Timor-Leste vai cumprindo o seu ideal de país livre. Falta imenso para cumprir o prometido pelos lideres, a sua democracia e a justiça são muito deficitárias, os cuidados de saúde ainda não chegam convenientemente a todos os timorenses, existem bastantes casos de carências alimentares, muito desemprego, escassas infraestruturas, falta ainda conseguir um mundo de condições condignas para uma vasta maioria de timorenses e é nas suas mãos, na sua contínua luta que reside a possibilidade de Timor-Leste ser um país melhor, digno, como digno é o seu povo.
 
A homenagem, a romaria, contendo muitos milhares de timorenses, sobrelota o cemitério de Santa Cruz, em Díli no dia de hoje. Assiste-se a choros contidos, de familiares e amigos das centenas de timorenses que em 12 de Novembro de 1991 foram assassinados naquele mesmo local pelos militares e polícias da Indonésia, uma amalgama de sentimentos farão hoje parte das saudades e mágoas dos sobreviventes ao genocidio indonésio. Hoje mais que noutros dias, talvez. Resta o sabor da vitória e de olharem e viverem num país que é o seu, é Timor-Leste.
 
Glória aos que tombaram.
 
*Em Timor-Leste, a oriente, neste momento já é 12 de Novembro.
 

Em 1992 ninguém acreditava na independência de Timor-Leste dez anos depois

 

MSE – EJ - Lusa
 
Díli, 11 nov (Lusa) - Um dos organizadores do Lusitânia Expresso - Missão Paz em Timor, realizada em março de 1992, Rui Marques recordou hoje à Lusa que há 20 anos ninguém acreditava que a independência do país chegasse dez anos depois.
 
"Há 20 anos este momento que hoje estamos a viver era inimaginável. Quando um grupo de estudantes portugueses em torno da revista Fórum Estudante, e depois estudantes de 23 países se organizaram com a Missão Paz em Timor para fazer falar de Timor, eram poucos os que acreditavam que algum dia a independência chegasse e muito menos que durasse só dez anos até esse momento", afirmou Rui Marques.
 
O Lusitânia Expresso - Missão de Paz a Timor, na sequência do massacre de Santa Cruz, ocorrido 12 de novembro de 1991, teve como principal objetivo chamar a atenção da opinião pública internacional para a causa timorense.
 
O número de mortos do massacre nunca foi definido, mas o Comité 12 de Novembro fala em mais de 200 pessoas.
 
O Lusitânia Expresso tinha como objetivo chegar a Timor-Leste para homenagear as vítimas do massacre de 12 de novembro, com a deposição de uma coroa de flores no cemitério, mas a 11 de março de 1992, a marinha indonésia impediu a aproximação do "ferryboat".
 
"Foi um momento muito intenso que marcou definitivamente as nossas vidas pessoais, mas também creio que deu um pequeno contributo, uma gota de água no oceano, para a libertação de Timor", disse.
 
Rui Marques encontra-se em Díli para participar nas comemorações do 20.º aniversário do Lusitânia Expresso, integradas no 21.º aniversário do massacre de Santa Cruz, que incluem uma conferência, exposições e apresentação de uma série de documentários.
 
"Vinte anos depois é fantástico estar em Timor. Um país já com dez anos de independência. O caminho ainda tem muitas dificuldades pela frente, mas com aquilo que os timorenses provaram no passado, não há nenhuma razão para que não sejam capazes no futuro, de vencer obstáculos difíceis e conseguirem focar-se naquilo que é agora a grande batalha, que é o desenvolvimento do país", acrescentou.
 

Brasil: A GUERRA EM SÃO PAULO

 


Nessa guerra os que morrem são sempre os mais pobres, e não beligerantes diretos. Raramente um oficial é executado por bandidos. Em algumas vezes são soldados desprotegidos, alvejados quando chegam do trabalho. Da mesma forma, não são os capitães do PCC e de outras organizações semelhantes os mortos.
 
Mauro Santayana – Carta Maior, em Colunistas
 
Falta identificar as forças beligerantes na guerra que se trava em São Paulo, com baixas diárias que se aproximam das registradas em conflitos internacionais. Aparentemente – e convém desconfiar das aparências – o confronto se dá entre os bandidos e a polícia. Os bandidos, na versão oficiosa, vingam-se da sociedade que os confina ao “executar” policiais militares em emboscadas. Há, no entanto, a denúncia de que os policiais militares estão assassinando pequenos bandidos, mas também pessoas trabalhadoras, a fim de atemorizar as organizações criminosas dos presídios.

Não há policiais perfeitos, a não ser na ficção, mas sem dúvida a Polícia Militar, pela sua natureza, é muito mais violenta do que as corporações civis. O uniforme, os aquartelamentos, as formações e os treinamentos – semelhantes aos que se submetem as forças armadas destinadas à hipótese da guerra contra os inimigos externos – condicionam esses homens ao ato de matar sem a inibição do sentimento de culpa. Isso não inocenta os policiais civis, muitos deles tão violentos ou ainda mais violentos do que os uniformizados.

Organizações brasileiras denunciaram à Comissão Interamericana de Direitos Humanos, em Washington, que só em São Paulo e no Rio de Janeiro, entre 2003 e 2009 (não há estatística mais recente), a polícia matou 11.000 pessoas – mais de vinte vezes as baixas das tropas brasileiras em combate na Itália. Na quase totalidade dos casos, os próprios matadores redigem um “auto de resistência”, embora nunca possam provar que os mortos tiveram a iniciativa do tiroteio.

Isso, apenas nas duas capitais brasileiras mais populosas. No interior do país, a situação é semelhante. Ainda agora, acabam de ser identificadas três milícias em João Pessoa, compostas de policiais militares e civis, acusadas de constituir um grupo de extermínio, de oferecer proteção a homens de negócios e de extorquir os traficantes de drogas na Paraíba. Foram presos 56 suspeitos, entre eles soldados e oficiais da PM, além de carcereiros e policiais civis. A operação foi realizada por 400 agentes da Polícia Federal, com o apoio das autoridades estaduais, e sob mandato judicial.

Nessa guerra os que morrem são sempre os mais pobres, e não beligerantes diretos. Raramente um oficial é executado por bandidos. Em algumas vezes são soldados desprotegidos, alvejados quando chegam do trabalho. Da mesma forma, não são os capitães do PCC e de outras organizações semelhantes os mortos, mas delinqüentes menores ou apenas trabalhadores inocentes, como parecem ser os últimos fuzilados em São Paulo por um soldado que passeava com a sua família e alegou haver respondido à ameaça dos mortos. Testemunhas afirmam que se tratou apenas de uma disputa de trânsito – as vítimas teriam “fechado” o carro do policial. Por terem assim agido, de acordo com as testemunhas, os rapazes foram fuzilados pelo militar.

Quando alguém importante é vítima de um criminoso comum, a sociedade se mobiliza. Quando os mortos são trabalhadores das favelas – ou pequenos criminosos levados ao tráfico pela falta de educação, de estrutura familiar sadia, e de empregos normais – a reação é quase nenhuma. Aqui e ali se manifestam alguns altruístas, e, pouco depois, as execuções deixam de ser notícia.

Quando houve, há seis anos, uma insurreição aberta de bandidos em São Paulo, o então governador Cláudio Lembo colocou o dedo na ferida, ao culpar pela calamidade “a elite branca e perversa” de seu estado. É certo que a desigualdade social não é a única responsável pela violência urbana -a cultura da violência, importada dos EUA pela televisão, tenha muito dessa culpa- nem pelos crimes brutais que conhecemos. Bandidos há em todas as classes e, provavelmente, os mais cruéis sejam os mais dissimulados, como os que atuam em Wall Street.

On
de há mais justiça social há menos medo nas ruas.
 
*Mauro Santayana é colunista político do Jornal do Brasil, diário de que foi correspondente na Europa (1968 a 1973). Foi redator-secretário da Ultima Hora (1959), e trabalhou nos principais jornais brasileiros, entre eles, a Folha de S. Paulo (1976-82), de que foi colunista político e correspondente na Península Ibérica e na África do Norte.
 

DILMA, MÍDIA E A INICIATIVA POPULAR

 

Altamiro Borges - Desacato
 
Se depender do governo, o Brasil nunca terá uma legislação democrática sobre os meios de comunicação. Não há qualquer sinal de que a presidente Dilma esteja disposta a enfrentar os barões da mídia. Pelo contrário. Na 15ª Conferência Internacional Anticorrupção, realizada nesta semana em Brasília, ela repetiu: “Como já disse várias vezes, eu estou convencida de que mesmo quando há exageros, e nós sabemos que eles existem, é sempre preferível o ruído da imprensa livre ao silêncio tumular das ditaduras”. Pura platitude!
 
Governo teme enfrentar os barões da mídia
 
A presidenta insiste em confundir liberdade de expressão com liberdade dos monopólios midiáticos. Pior: por razões pragmáticas, ela finge desconhecer que esta mesma mídia, que hoje comete “exageros”, apoiou o golpe militar e o “silêncio tumular da ditadura”. A democratização dos meios de comunicação, com uma regulação que garanta maior diversidade e pluralidade informativas, é o que poderia garantir a verdadeira liberdade de expressão e uma “imprensa livre”. Mas a presidenta teme tocar no vespeiro.
 
Neste sentido, não adianta criticar apenas o Ministério das Comunicações e o seu titular, Paulo Bernardo. Ele segue ordens! Não é para menos que o projeto sobre o novo marco regulatório do setor, elaborado pelo ex-ministro Franklin Martins no final do governo Lula, foi enterrado. Até mesmo a tímida proposta de uma consulta democrática à sociedade sobre o tema foi arquivada nas gavetas do Palácio do Planalto. Em setembro, o ministro confessou que “a consulta não vai sair já”. Deveria ser mais sincero: ela não vai sair!
 
Veja aplaude a presidenta
 
O governo atual não reuniu convicção e coragem para enfrentar a mídia – a mesma que promove diariamente uma campanha de cerco e aniquilamento do governo e das forças de esquerda. Lógico que o discurso desta semana agradou os barões da mídia. A revista Veja até aproveitou para dar mais uma estocada na “cúpula stalinista” do PT. No artigo “Recado aos liberticidas”, ela festejou o discurso de Dilma, que “contraria petistas e mensaleiros inconformados com a condenação no Supremo Tribunal Federal”.
 
Para Bob Civita, que até hoje não foi convocado para explicar as suas ligações com a máfia de Carlinhos Cachoeira, a defesa da “liberdade de imprensa” veio em ótima hora. A revista lembra que o presidente do PT, Rui Falcão, “anunciou como prioridade para o próximo ano convencer o governo a apoiar o projeto que visa submeter a imprensa livre a constrangimentos ideológicos”. Ela rotula Lula e o ex-ministro José Dirceu de “liberticidas” e afirma que “o objetivo da falconaria petista é a instituição da censura no Brasil”.
 
Milhares de assinaturas no país
 
Ou seja: a revista elogia Dilma e ataca seu partido e as forças que dão sustentação ao seu governo. Mesmo assim, a ficha não cai e o governo repete o discurso enfadonho do “controle remoto” ou da “imprensa livre”. A conclusão é óbvia. Não dá para esperar qualquer atitude deste governo no rumo da democratização deste setor estratégico. Neste sentido, o Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC) acertou ao lançar neste ano a campanha “Para expressar a liberdade”, que exige a regulação da mídia.
 
Passadas as eleições, ela precisa agora ganhar as ruas. Os movimentos sociais, principais vítimas da mídia patronal, são os maiores interessados nesta batalha. Esta demanda é transversal e afeta todas as lutas dos trabalhadores. Para ter êxito, a campanha dependerá de intensa mobilização que ajude a alterar a correlação de forças na sociedade e a intensificar a pressão sobre o governo. Neste sentido, talvez seja o momento de defender um projeto legislativo de iniciativa popular sobre o tema. A coleta de milhares de assinaturas no país ajudaria na mobilização e conscientização da sociedade. Não dá para mais esperar qualquer iniciativa do atual governo!
 
 

Brasil: FRAGMENTOS DE UMA VIAGEM

 


Antonio Tozzi, Miami – Direto da Redação
 
São Paulo (SP) - Depois de dez dias de Brasil, mais exatamente em São Paulo, após longo período sem colocar os pés aqui, deu para constatar alguns progressos e retrocessos. Na verdade, nem diria retrocessos, apenas a manutenção do velho descaso com os cidadãos que muita gente prefere chamar de “jeitinho brasileiro” e o incremento da violência urbana, tema deste artigo, sobretudo na capital paulista, onde os líderes do PCC (Primeiro Comando da Capital) ordenam mortes de policiais e incêndios em ônibus para se vingar da transferência dos seus chefes para presídios de segurança máxima.
 
Essa semana o que se viu foi uma contabilidade macabra, com os programas policiais registrando mortes e mais mortes de inocentes, policiais e bandidos na periferia da cidade mais rica da América do Sul, como se os indivíduos sem nome quisessem ser protagonistas do teatro do absurdo, clamando para si a atenção que a sociedade teima em não lhes dar.
 
Os mais românticos podem achar bonito que os eternos coadjuvantes da sociedade humana assumam finalmente uma posição de destaque para que as autoridades voltem os olhos para eles e para a (feia) realidade em que vivem.
 
Mas isto não passa de um sentimento de culpa de intelectuais que procuram ver nos rejeitados pela sociedade os artífices da mudança para um mundo novo. Entretanto, isto não resiste a um exame mais acurado para se perceber que os “Robin Hoods da periferia paulistana” não passam, na realidade, de bandidos cruéis e desumanos que querem instituir uma nova ordem social para se beneficiarem dela.
 
O que se vê em São Paulo, Rio de Janeiro e outras grandes cidades brasileiras são hordas de vidas perdidas a serem consumidas nos cachimbos e nas pedras de crack, nos canos dos revólveres e na obediência cega aos barões do tráfico e aos grupos organizados que controlam esta sociedade paralela e se tornam ao mesmo tempo protetores e algozes deste exército de párias que vaga sem presente e sem futuro.
 
Eles somente são usados como buchas de canhão e podem servir os poderosos ao avisar sobre a chegada da polícia e como mulas do tráfico de drogas. Mas suas vidas valem muito pouco. Aliás, a vida no Brasil de hoje está muito barata, infelizmente. É comum ver cenas em que bandidos em motocicletas e em automóveis passam atirando nas pessoas ou ateando fogo em ônibus sem serem importunados, apesar das câmeras flagrarem os momentos dos extermínios.
 
Os policiais, por sua vez, cada vez mais atemorizados, reagem da maneira que sabem: atirando. Muitas vezes matam inocentes, pelo simples fato de não seguirem a regra número um de qualquer agente da segurança pública, exigir a identificação do suspeito. Aqui, ainda prevalece a regra de atirar primeiro e perguntar depois, o que serve apenas para aumentar a estatística dos assassinatos. Para completar, há maus policiais que atuam dos dois lados, dizendo proteger os cidadãos, mas extorquindo dinheiro de criminosos e forçando os comerciantes a lhes pagar dinheiro por uma proteção que já deveria estar sendo paga através dos impostos arrecadados.
 
A fim de tentar conter o poder cada vez mais expressivo do PCC no sistema presidiário de São Paulo – e que já vem estendendo-se para outros estados -, o governo federal e o governo paulista acertaram os ponteiros para fazer uma ação conjunta para isolar os líderes desta facção criminosa e impede-los de continuar emanando ordens para seus comandados, mesmo de dentro das prisões.
 
A onda de violência é uma reação a esta tentativa de conter a influência do PCC, num primeiro momento, e de eliminá-la, numa segunda etapa. Se isto será conseguido, apenas o tempo dirá, mas trata-se de uma parceria válida, apesar de esconder uma manobra política.
 
Pelo que os jornais paulistas publicaram, o secretário de Segurança Pública, Ferreira Pinto, desmantelou alguns focos de corrupção nas polícias civil e militar e isto provocou a revolta do PCC que possuía livre trânsito nestes setores. O ministro da Justiça, José Eduardo Cardoso, ofereceu ajuda, e isto é importante. Porém, alguns politicos interpretaram esta atitude como o primeiro lance dele para uma possível candidatura ao governo de São Paulo.
 
Explica-se: Cardoso é do PT, e o partido não esconde de ninguém que deseja conquistar a “jóia da coroa”, ou seja, o governo do estado de São Paulo, enquanto Ferreira Pinto é secretário do governo de Geraldo Alckmin, do PSDB, partido que controla o estado mais rico da federação há muito tempo. Analisando friamente, foi um golpe de mestre de Cardoso: se der certo, ele cobrará a fatura política; se der errado, quem pagará a conta serão Alckmin e Ferreira Pinto, que poderão ser acusados de ineptos por não terem sabido aproveitar a oportunidade. Até a morte de cidadãos acaba virando lance de xadrez politico. Quem diria, hein?
 
* Foi repórter do Jornal da Tarde e do Estado de São Paulo. Vive nos Estados Unidos desde 1996, onde foi editor da CBS Telenotícias Brasil, do canal de esportes PSN, da revista Latin Trade e do jornal AcheiUSA
 

Angola: DECLARAÇÕES E EVENTOS NAS COMEMORAÇÕES DE 37 ANOS DE INDEPENDÊNCIA

 


11 Novembro - Governo de Luanda considera independência data de orgulho para angolanos
 
Angola Press
 
Luanda - O governador de Luanda, Bento Sebastião Francisco Bento, considerou a independência Nacional como uma data de referência maior, onde os angolanos lutaram com orgulho para a libertação da administração colonial portuguesa.
 
O chefe do executivo de Luanda fez estas considerações à empresa hoje, domingo, no final da deposição de uma coroa de flores na estátua do primeiro Presidente da Republica de Angola, António Agostinho Neto, no Largo da Independência, por ocasião dos 37 anos da independência.
 
“O 11 de Novembro de 1975 deve constituir, para todos os angolanos, um motivo de grande orgulho, o caminho percorrido foi bastante difícil, razão pela qual agora é motivo de grande satisfação para os angolanos”, sublinhou.
 
Segundo o governador, "Hoje constitui um orgulho, porque está a permitir a construção e reconstrução do país, como forma de melhorar as condições de vida das populações", enfatizou.
 
Afirmou ainda que o alcance da Independência Nacional deve traduzir-se, fundamentalmente, na vitória da liberdade do povo angolano, no sentido desta contribuir no progresso da nação.
 
Na opinião do governante, ao se comemorar o 37º aniversário da Independência Nacional, deve-se seguir o legado do Presidente António Agostinho Neto quando dizia que o “mais importante é resolver os problemas das populações”.
 
O governante reconheceu, por outro lado, existir problemas nas populações como falta de habitação, educação, saúde, energia, água, emprego, reabilitação de estradas, entre outros.
 
Desta forma, apontou a necessidade de cada angolano participar e contribuir na resolução dos problemas da população, com vista a possibilitar o desenvolvimento socioeconómico do país.
 
Bento Bento é de opinião que para a efectivação das acções tendentes à melhoria das condições de vida das populações é importante que se faça uma gestão rigorosa do erário público, melhoramento de programas envolvendo todos, sem distinção de raça, cor, filiação partidária e religiosa.
 
Frisou que “Angola, após 37 anos de Independência, é um país apostado na promoção do homem, combate à fome e à pobreza e na sua colocação na arena internacional, sendo uma força com qual o mundo pode contar”.
 
Estiveram presentes no acto, deputados, membros do executivo, vice-governadores, directores provinciais, administradores municipais e distritais, entidades religiosas, autoridades tradicionais representantes de partidos políticos, Polícia Nacional, Forças Armadas Angolanas e da sociedade civil.
 
Namibe - Juventude chamada a se empenhar mais para concretização dos desafios do país
 
Angola Press
 
Namibe - O vice-presidente da República, Manuel Vicente, disse hoje, na cidade do Namibe, que a juventude deve empenhar-se cada vez mais, pois o país conta com ela para que, com o seu espírito empreendedor, impulsione as tarefas da reconstrução das infra-estruturas imprescindíveis ao desenvolvimento de Angola.
 
“O momento é de esperança no futuro, mas é de trabalho árduo, dedicação patriótica e de alguns sacrifícios”, sublinhou o vice-presidente da República, quando discursa no acto central alusivo ao 37º aniversário da proclamação da Independência Nacional, que hoje se comemora.
 
Manuel Vicente precisou que para honrar os propulsores da independência é preciso que cada cidadão se empenhe mais na sua frente de trabalho.
 
Precisou que os angolanos terão ainda de consentir alguns sacrifícios para a concretização da esperança pelas condições de vida, honrando os sacrifícios consentidos por “milhares de cidadãos anónimos para que hoje vivêssemos num país independente".
 
“Aqui no Namibe, por exemplo, é necessário recuperar e desenvolver a actividade piscatória e a indústria transformadora, relançar a produção agro-pecuária que eram peculiares desta província, bem como a reactivação do turismo, fazendo jus as suas belezas e recursos naturais”, disse.
 
Acrescentou que igual esforço deverá ser consentido em todas as províncias do país, tendo em conta as particularidades de cada uma.
 
O vice-presidente da República realçou que o 11 de Novembro é uma data histórica, plena de comensurável significado e importância sociopolítica, pelo que deve ser celebrada com fervor e entusiasmo patriótico por todos os angolanos herdeiros das tradições de luta e vitórias dos "nossos ancestrais".
 
Destacou o contributo dos heróis, conhecidos e anónimos que sacrificaram as suas vidas em prol da independência de Angola.
 
Frisou que os angolanos têm sabido resistir e encontrar os caminhos mais seguros, rumo ao desenvolvimento, paz e bem-estar de toda população.
 
Huambo - Desenvolvimento sustentável do país faz-se com consciência patriótica da juventude
 
Angola Press
 
Ucuma - O vice-governador da província do Huambo para área económica, Francisco Fato, afirmou hoje, domingo, na vila municipal do Ucuma, que o desenvolvimento sustentável e harmonioso do país faz-se com a consciência responsável e patriótica da juventude, por ser a força-motriz da Nação.
 
Esta posição do governante foi expressa durante o acto que marcou o 37º aniversário da Independência, onde realçou que essa consciência responsável e patriótica deve aliar-se, necessariamente, ao esforço do executivo, sobretudo na concretização das tarefas ingentes e profundas sobre o desenvolvimento económico-social sustentável e harmonioso do país, em geral, e da província do Huambo, em particular.
 
"A conquista da Independência Nacional foi um feito heróico de jovens nacionalistas, cuja bravura, sabedoria e heroísmo continuarão sempre na memória de todas as gerações da pátria angolana. Milhares de angolanos perderam as suas vidas para o alcance deste importante desiderato a liberdade do país contra a opressão colonial portuguesa", argumentou.
 
O governante acrescentou que o 11 de Novembro é por conseguinte uma data de importância ímpar para todos os angolanos, na medida em que, nesta efeméride se realizaram os mais ardentes sonhos de liberdade pelos quais tanto se bateram os melhores filhos desta terra.
 
Francisco Fato referiu que o programa do executivo em curso abre novos horizontes na província, visto que o empresariado está cada vez mais confiante no investimento público e privado que constitui actualmente uma realidade inquestionável.
 
Na sua intervenção destacou que o governo do Huambo está empenhado na criação de condições para o fomento do emprego, criação de novos postos de trabalho, promoção do espírito empreendedor e no reconhecimento do mérito como factor da transmissão económica e social.
 
"O crescimento do país demonstra o desempenho, dedicação e amor à pátria, com a reabilitação das vias de comunicação rodoviária e ferroviária. Já temos a circulação dos comboios do Caminho-de-ferro de Benguela no Huambo, o que está a contribuir na circulação de pessoas e bens em todo país", realçou o governante.
 
Considerou que as administrações municipais e comunais viram já melhoradas as suas condições de trabalho, uma vez que foram construídas várias infra-estruturas e que, de forma significativa, melhorou a rede de assistência médica e medicamentosa às populações.
 
O vice-governador destacou que, no sector da educação foi reduzido consideravelmente o número de crianças fora do sistema normal de ensino com a construção de diversas escolas, iluminadas com o funcionamento da barragem hidroeléctrica do Ngove, que está a trazer grandes benefícios para o desenvolvimento industrial e geração de novos empregos.
 
Francisco Fato referiu que a província do Huambo está a registar nestes últimos anos um crescimento exitoso em todos os domínios . "O governo, empresários, camponeses, operários, intelectuais e todos os angolanos que amam a pátria estão a trabalhar com abnegação e sentido de responsabilidade para que tudo continue funcional e a progredir para melhoria gradual do nível de vida da população", disse.
 
O acto, decorrido na vila municipal do Ucuma, localizada 100 quilómetros a oeste da cidade do Huambo, foi testemunhado por deputados à Assembleia Nacional, membros do
 
executivo local, entidades religiosas, tradicionais, líderes de partidos políticos com assento no Parlamento e pela população em geral.
 
O evento foi ainda marcado por vários momentos culturais animados por grupos de dança, teatro e músicos da praça local, assim como da entrega de bens diversos às autoridades tradicionais do municípios e à velhos da 3ª idade, numa acção que visou minimizar as necessidades básicas desta franja.
 
*O título nos Compactos de Notícias são de autoria PG
 
 

ANO AGRÍCOLA EM CABO VERDE SUPERIOR AO DE 2011

 

JSD – HB – Lusa
 
Cidade da Praia, 11 nov (Lusa) - A produção do milho em Cabo Verde no ano agrícola de 2012 deverá situar-se acima das seis mil toneladas, o que é considerado "relativamente bom" em comparação com o ano anterior, mas pode ainda aumentar.
 
A perspetiva foi avançada sábado por Luís Ledo, técnico do Ministério do Desenvolvimento Rural cabo-verdiano e coordenador do Grupo de Avaliação do Ano Agrícola da Comunidade Permanente Inter-Estados para a Luta contra a Seca no Sahel, (CILS/FAO), que esteve no arquipélago.
 
Segundo Luís Ledo, citado hoje pela edição "online" do jornal A Semana, o ano agrícola ainda não está, porém, totalmente garantido, uma vez que se espera alguma chuva até ao fim do mês em curso para aumentar a produção - a época das chuvas em Cabo Verde decorre entre julho e outubro/novembro.
 
Luís Ledo garantiu, contudo, que a produção de milho deverá situar-se à volta das seis mil toneladas, mais mil do que em 2011, enquanto a de feijão deverá rondar as cinco mil toneladas, admitindo que o ano agrícola está praticamente perdido apenas no concelho do Porto Novo (ilha de Santo Antão).
 
Em sentido contrário, perspetivou "boas colheitas" nas ilhas de Santiago, Fogo, Brava e "boa parte" de São Nicolau.
 
Nas conclusões da missão, a equipa de avaliação do CILS/FAO recomendou a diversificação das culturas, com destaque para a substituição do milho por feijão, raízes e tubérculos.
 
Para Luís Ledo, o milho já não é tão consumido em Cabo Verde como antes da independência (em 1975), pelo que considera que a reconversão poderia beneficiar tanto o ambiente como o agricultor.
 

Moçambique: RELAXE DOS MUNICÍPES DE MAPUTO, EROSÃO E MALÁRIA NO CENTRO

 


Presidente do município de Maputo diz que participação dos munícipes deixa muito a desejar
 
10 de Novembro de 2012, 15:12
 
Maputo, 10 nov (Lusa) - O presidente do Conselho Municipal de Maputo, David Simango, defendeu hoje que os munícipes devem contribuir para a solução dos problemas da capital de Moçambique e que a sua participação deixa muito a desejar.
 
"Na cidade de Maputo, apenas 30 a 33 por cento dos munícipes contribuem com diferentes taxas, mas ainda estamos longe do desejável. Por exemplo, ao nível do imposto predial, apenas 30 mil casas pagam impostos das 150 mil casas existentes. No caso do manifesto automóvel, das 300 mil viaturas existentes só 105 mil pessoas pagaram até ontem, sexta-feira", disse o edil de Maputo.
 
Simango falava por ocaião dos 125 anos de elevação a cidade de Maputo, então com o nome de Lourenço Marques, que se assinalam hoje.
 
"Hoje, começa uma nova etapa na nossa história e um novo percurso para outros 125 anos, que gostaríamos que fosse muito acelerado. Esta nova etapa exige trabalho árduo e preservação da paz e que no futuro se fale da pobreza como algo que faz parte do passado, sobretudo a pobreza urbana que é mais agressiva", disse o autarca eleito pela Frelimo, partido no poder em Moçambique.
 
Várias atividades culturais e desportivas marcam as celebrações do 125.º aniversário da cidade de Maputo, entre as quais destacam-se uma exposição fotográfica, travessia a nado Maputo-Ka Tembe, concertos musicais, entre outras.
 
LAS // NS
 
Extração de areia nos rios agrava erosão e malária no centro de Moçambique?
 
11 de Novembro de 2012, 09:02
 
André Catueira, da Agência Lusa
 
Chimoio, 11 nov (Lusa) -- Com uma lata na cabeça e um bidão na mão, Lila Ernesto, 36 anos, sobe as escadas improvisadas para descarregar a bagagem e regressar ao rio Nhamatsane, em Chimoio, centro de Moçambique, onde extrai areia para venda.
 
"Nestes dias trabalhámos mais e vendemos mais, porque as pessoas preferem comprar esta areia do rio por ser mais grossa e enrija as obras de construção civil. Às vezes, temos encomendas de grandes empresas", explica à Lusa Lila Ernesto, sem pousar os recipientes no chão.
 
A extração de areia do leito dos rios, para alimentar a indústria de construção civil, em franca expansão em Chimoio, capital de Manica, tem vindo a crescer numa proporção preocupante, situação que causa mais crateras, aumentando a erosão.
 
Uma carrada de areia do leito do rio sai ao preço mínimo de 800 meticais (21,6 euros), menos 200 meticais (5,4) que a mesma carga de areia fina, que tem perdido concorrência. Os vendedores preferem agora negociar em pequenos montes, para ganhar mais.
 
A mineração de areia, que está sob análise dos órgãos ambientais, que estudam as restrições a serem observadas na execução dessa atividade, causa efeitos adversos ao meio, que inclui aumento de focos de doenças, como a malária.
 
"Ao extrair areia em rios sem reposição, criam-se crateras, que se vão deslocando, alargando os leitos e provocam erosão, que depois tem as consequências que tem. Também é um perigo porque são focos de doenças, porque ficam charcos para reprodução de mosquitos", disse à Lusa Natércia Nhabanga, diretora provincial de Coordenação da Acção Ambiental de Manica.
 
Entre os efeitos adversos mais importantes causados por essa atividade, destaca-se o recuo das margens dos rios, que avançam contras as residências implantadas nas suas proximidades, o que acarreta vários custos para reassentamento das famílias.
 
Várias residências ficaram destruídas devido ao avanço da erosão, provocado pelo recuo das margens dos rios Nhamatsane, Mudzingaze e Matadouro, o que obrigou o Conselho Municipal de Chimoio a transferir algumas famílias e a construir pontes para a travessia de pessoas.
 
"Estão em execução vários planos para responder ao problema de erosão no geral, que inclui construção de barreiras para reduzir a pressão das águas em tempo chuvoso. Também estamos a trabalhar para responder ao problema da extração de areia em rios" disse à Lusa o autarca Raul Conde.
 
Mesmo reconhecendo os danos ambientais devido à atividade de extração da areia nos rios, os vendedores escondem-se por detrás da pobreza, por não terem outro meio de sustento das famílias, que dependem do negócio para custear despesas, de alimentação à saúde.
 
"Até que o rio realmente se alargou nos últimos anos, mas pensei que fosse um problema normal. Eu sou dependente deste negócio para alimentar minha família, dar roupa e cadernos aos meus filhos. Até comprei bicicleta com os lucros do negócio" disse à Lusa Nhanpoca Castigo, enquanto tira pequenos pedregulhos na areia.
 
Dados do inquérito aos Orçamentos Familiares, publicado em 2010, uma pesquisa do Instituto Nacional de Estatísticas (INE), ligado ao Ministério de Planificação e Desenvolvimento, mostram que as políticas de luta contra a pobreza estão a falhar em Moçambique.
 
Segundo as estatísticas governamentais, a pobreza é descrita como dramático, no que se refere a "pobreza de consumo", na província de Manica, onde segundo as últimas estatísticas disponíveis, a miséria aumentou de 43,6 por cento em 2002/3 para 55,1 por cento em 2008-2009.
 
AYAC // HB
 
*O título nos Compactos de Notícias são de autoria PG
 
 

OLLI REHN, O AUSTERO GUARDIÃO DO RIGOR

 


Les Echos, Paris – Presseurop – imagem AFP
 
Tão popular no seu país quanto temido no resto da Europa, o comissário europeu para os Assuntos Económicos e Monetários gosta, como bom finlandês, de ser discreto. Uma atitude difícil de manter, numa altura em que as novas regras em matéria de controlo orçamental fazem dele uma personagem chave da governação económica.
 
 
Os políticos franceses atiram frequentemente a culpa de decisões impopulares sobre "Bruxelas". Agora, podem também referir “Olli Rehn", o que vai enriquecer o seu vocabulário. Geralmente desconhecido, este finlandês, vice-presidente da Comissão Europeia, tornou-se um interveniente fundamental da governação europeia. O seu relatório de 7 de novembro sobre as previsões de crescimento na Europa são disso prova. Modesto até à invisibilidade, Olli Rehn não dá muito peso às suas presentes atribuições. "Não tenho superpoderes", explica a Les Echos. "Sou politicamente responsável perante o Parlamento Europeu e a minha única legitimidade resulta do Tratado Europeu. Foram os Estados-membros e o Parlamento que concordaram em reforçar a governação económica e a minha tarefa é apenas obrigar os Estados a praticar o que apregoam.”
 
Sem que a opinião pública [...] tenha disso consciência, ocorreu uma nítida alteração, nos últimos meses. Com a reforma interina do ano passado e o Pacto de Estabilidade – a legislação do "six pack”, na novilíngua bruxelense –, a Comissão Europeia tem agora um papel essencial na direção económica da Europa. Quando um país se afasta da ortodoxia fiscal (3% para o défice e 60% para a dívida pública) e não toma medidas corretivas consideradas suficientes, Bruxelas pode facilmente aplicar multas. E não há maneira de escapar a esta orientação: para se opor, o Estado ameaçado tem de reunir uma maioria qualificada no Conselho, ou seja, uma missão quase impossível.
 
Finlandês discreto
 
Não é realmente fácil um mau aluno conseguir ajuda dos demais. Além disso, os textos confiaram à direção geral de Olli Rehn a tarefa de identificar os "desequilíbrios macroeconómicos" que são forjados no interior dos Estados, como a perda de competitividade da França ou o início de uma bolha imobiliária na Holanda. Bruxelas pode então apresentar as suas famosas "recomendações" e pedir aos Estados um plano de ação para corrigir esses desequilíbrios. E isto é apenas o começo! Em 2013, o papel de vigilância de Bruxelas será reforçado com a entrada em vigor do pacto fiscal, que impõe a "regra de ouro". Por último, um texto legislativo ainda em discussão no Parlamento Europeu – o “two pack”, irmão mais novo do anterior – irá permitir a Bruxelas dar o seu parecer sobre projetos de lei de Finanças, no outono, antes da sua aprovação pelos parlamentos nacionais. "Atenção, não se trata de um direito de veto, apenas de uma opinião", desvaloriza Olli Rehn.
 
Apesar do seu cargo proeminente, Olli Rehn continua a agir com discrição. Excessiva. Recentemente, foram publicadas as agendas de Tim Geithner, secretário do Tesouro dos EUA. Quem convocou ele para discutir a crise do euro? No primeiro semestre de 2012, conversou cerca de 20 vezes com Christine Lagarde, do FMI, e outras tantas com Mario Draghi, do BCE. Quanto a Olli Rehn, o seu telefone tocou... quatro vezes.
 
Esta discrição não surpreende quem conhece realmente o homem que teve a seu cargo a pasta do alargamento, na anterior Comissão. Olli Rehn nasceu na Finlândia e, obviamente, isso não é de somenos. Os próprios finlandeses, quando estão em Bruxelas, divertem-se a explicar aos seus interlocutores a diferença entre um finlandês introvertido e um extrovertido: o primeiro olha para os pés, o segundo olha para os do parceiro...
 
O comissário continua muito ligado ao seu país de origem. Foi lá que ganhou os seus galões, nomeadamente como chefe de gabinete do primeiro-ministro, no início da década de 1990. Hoje, na Grécia, em Portugal ou na Irlanda, vilipendiam-se os "men in black", os quadros do FMI e da Comissão que lhes entram em casa a aplicar a poção amarga da austeridade; mas, naquela época, esses "men in black" ameaçavam instalar-se em Helsínquia. "A Finlândia atravessava a sua mais grave recessão económica. Sei o que é ter o FMI diante de nós. Em 1992, para sanear as contas, tivemos que refazer o orçamento do ano seguinte por quatro vezes, em poucas semanas, a fim de evitar a ajuda internacional", recorda Olli Rehn.
 
Pouco adepto da homeopatia
 
Regularmente, atribuem-lhe a ambição de concorrer à presidência do país. É uma figura respeitada na Finlândia e nunca perde uma oportunidade de lembrar o seu amor às tradições finlandesas, como a sauna.
 
No início de outubro, para lutar contra a ascensão do partido populista dos "Verdadeiros Finlandeses" e contrariar a relutância dos seus compatriotas em ajudar os países do Sul, escreveu um livro, No centro da tempestade, um relato da crise do euro e de defesa da Europa. "É o meu contributo para o debate em defesa da Europa na Finlândia", afirma o ativista da UE desde a primeira hora. Facto insólito é os lucros da venda do livro reverterem para clubes juvenis de futebol. É que o futebol é a grande paixão de Olli Rehn. "Foi graças a esse desporto que me familiarizei com a Europa", explica o fã do Manchester United, ao mesmo tempo que enumera os nomes dos clubes europeus.
 
Este dirigente tem convicções económicas muito arreigadas, mais próximas das do Norte da Europa que dos apelos a uma rápida mutualização da dívida através dos eurobonds. Há três anos na primeira linha da crise do euro, o finlandês é um defensor do rigor. O “Senhor 3%" não é muito sensível aos apelos dos políticos e economistas que reclamam um abrandamento da austeridade. Não se deixa convencer pelos recentes estudos do FMI que criticam o efeito recessivo das políticas de austeridade.
 
Pouco adepto da homeopatia, o comissário prefere remédios de cavalo, que aleijam mas curam rapidamente. Da torre de controlo de Bruxelas, opõe-se assim à Letónia, agora quase candidata ao euro, e à Grécia, que continua a perder tempo e precisa de medicação cada vez mais forte. No entanto, Olli Rehn insiste em que o pacto fiscal está longe de “ser estúpido" e deixa uma margem de avaliação, em caso de recessão. Aliás, desde o verão, os seus serviços concederam mais tempo a Portugal e Espanha. Favorável ao caso a caso, adversário de uma transferência generalizada dos esforços, o Comissário está preparado para todas as pressões políticas.
 

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