domingo, 12 de agosto de 2012

Brasil: INÚTIL, A GENTE SOMOS INÚTIL



Espaço Livre* – Direto da Redação

Vivemos em um país em que o cidadão é obrigado a votar! Mas, ao mesmo tempo, se ele votar em branco, posto não ter um candidato escolhido ou se ele anular o voto, por não confiar em nenhum dos candidatos, seu voto obrigatório, simplesmente não é computado. É considerado em voto “inválido”. A vontade deste eleitor não é considerada!

Curioso como a gangue quadrilheira consegue, como sempre tem feito, ludibriar os brasileiros. Naturalmente, refiro-me aos políticos – malandros, bandidos, oportunistas, canalhas, bandidos, malandros, oportunistas, canal… -, nos quais alguns brasileiros ainda acreditam. Eles criaram, e tornaram legal e legítimo, o conceito de “voto válido”. Estes tais “votos válidos” são os votos que contam nas eleições.

Você sabe o que isto significa?

Significa que se um eleitor, cidadão que paga seus impostos e cumpre com as suas obrigações, inclusive com a de ir votar, resolve anular o voto ou votar em branco, este voto não é computado como voto válido! Estes votos são, portanto, “inválidos” e são, simplesmente, desconsiderados! A expressão “inválido” somente é hoje acatada pelos tribunais e, em alguns casos, pelo sistema previdenciário e significa. No dicionário aparece como: adj (lat invalidu) 1. Fraco, débil, enfermo. 2. Incapaz para o trabalho. 3. Que não é válido, que não tem valor; nulo. 4. Inutilizado, sem validade. sm 1 Indivíduo que, por doença ou velhice, é incapaz para o trabalho. 2 Mil Aquele que, por suas condições físicas, se torna incapaz de servir.

Vale dizer que, em uma opção clara de manifestar insatisfação, o desejo demonstrado pelo eleitor compulsório, ainda que cidadão receba as qualificações acima. É como diz a letra do rock: “Inútil, a gente somos inútil!” (Ultraje a rigor – brilhante!)

É como se esta intenção do eleitor fosse considerada “não considerável“! Não se leva em conta aquele cidadão que não se conforma em escolher os menos ruins! Escolher entre o ruim e a porcaria, entre o corrupto ativo e o passivo. Escolher, como se cata feijão, não os resíduos entre os grãos, mas os poucos grãos entre tantos resíduos! E haja resíduos e impurezas!

Os que ainda têm alguma fé no sistema político vigente fazem a terrível escolha de Sofia. Outros, como a “Velhinha de Taubaté!”, tão bem descrita pelo brilhante Luis Fernando Veríssimo, escolhem alguns em quem acreditam fielmente (olha que faleceu em 2005, em 25 de agosto). Estes são os tais “votos válidos“.

Como exemplo, tome-se uma cidade com 10 mil eleitores, por exemplo, 9 mil e novecentos deles resolvem anular seus votos ou votar em branco, posto haver apenas um único candidato à Prefeitura e é entendido como muito ruim e corrupto. Os cem restantes resolvem aprovar um candidato único, ainda no exemplo (parentes, amigos, parte da gangue). Este candidato único seria eleito com 100% dos votos válidos e os 9,9 mil que não votaram (votaram em branco ou anularam), simplesmente são d desprezados!

Assim, anular o voto será um protesto; torna-se uma demonstração, mesmo que inócua, de nossa vontade pela anarquia em um ambiente tão severamente comprometido com a corrupção, aético e contaminado; neste estado atual de coisas, aliás, não resolve nada! Não nos iludamos que isto pudesse causar algum tipo de constrangimento, embaraço ou vergonha aos eleitos ou à gente do poder (eles não têm vergonha!).

Neste país do voto obrigatório, o desejo de não escolher ninguém não é levado em consideração! Que país é este? Que nação é esta, deitada eternamente em berço esplêndido!

Ou você escolhe os tais “menos ruins“, que, como já foi dito, alguns acreditam que os há, ou você escolhe qualquer um, que com certeza há! Pode-se diferenciar entre um grupo e outro? Não sei ao certo; apenas penso que não, salvo melhor juízo! Pelas atitudes presentes ou históricas, são todos “farinha do mesmo saco”.

Este é o país do voto obrigatório (um direito convertido em dever) e no qual a vontade do eleitor não tem valor – pode ser inválida: Fraco, débil, enfermo. 2. Incapaz para o trabalho. 3. Que não é válido, que não tem valor; nulo. 4. Inutilizado, sem validade! Que antagônico! Que paradoxal!

E como é da constituição, nada pode ser feito do ponto de vista jurídico!

Assim, só Robespierre! Que, algum dia, venha a guilhotina, pois a ditadura não acabou! Pelo menos, as sementes por ele deixadas continuam a germinar e a frutificar! E como se fortalecem! E como se especializam! Nem o mais cretino dos ditadores jamais pôde conceber uma crueldade tamanha e tão perspicaz em sua brutalidade! Ela se mantém nos ossos que saem de forma sistemática dos armários e porões, irrigando e adubando as mentes malignas e usurpadoras!

É ou não é brilhante, ainda que perverso?

Colaboração do leitor Gustavo Horta. Email gustavohorta_ct@hotmail.com

*Este espaço é preenchido com a colaboração dos leitores. Os textos serão publicados de acordo com a oportunidade do tema e/ou seguindo a ordem de recebimento.

Brasil: POPULAÇÃO INDÍGENA CRESCEU 205% EM DUAS DÉCADAS



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O Instituto de Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revela que a população indígena no país cresceu 205% desde 1991, segundo dados do Censo 2010 divulgados hoje (10). É a primeira vez que o órgão coleta informações sobre a etnia dos povos.

De acordo com o estudo, os índios no Brasil somam 896 mil e 900 pessoas, de 305 etnias, que falam 274 línguas indígenas. De acordo com informações da Agência Brasil, o levantamento marca também a retomada da investigação sobre as línguas indígenas, parada por 60 anos.

A pesquisa mostra que, dos 896,9 mil índios do país, mais da metade, 63,8%, vivem em área rural. A situação é o inverso da de 2000, quando mais da metade estavam em área urbana, correspondendo a 52%.

Os dados do IBGE indicam que a maioria dos índios, 57,7%, vive em 505 terras indígenas reconhecidas pelo governo até o dia 31 de dezembro de 2010, período de avaliação da pesquisa. Essas áreas equivalem a 12,5% do território nacional, sendo que maior parte fica na Região Norte, a mais populosa em indígenas, 342 mil. Já na Região Sudeste, 84% dos 99,1 mil índios estão fora das terras originárias. Em seguida vem o Nordeste, 54%.

O Censo 2010 também revelou que 37,4% índios com mais de 5 anos de idade falam línguas indígenas, apesar de anos de contato com não índios. Cerca de 120 mil não falam português. Os povos considerados índios isolados, não foram entrevistados e não estão contabilizados no Censo 2010. (pulsar)

Brasil: RELATÓRIO APONTA AMEAÇAS SOFRIDAS POR TRABALHADORES RURAIS NO PARÁ




Nessa semana, a Comissão Pastoral da Terra (CPT) tornou público um diagnóstico sobre a situação de trabalhadores e trabalhadoras rurais ameaçados de morte na região sul e sudeste do Pará. Onde a impunidade permanece, continuam correndo riscos.

O levantamento foi realizado durante o período de janeiro a junho de 2012 e constatou a existência de 38 pessoas ameaçadas nas duas regiões. O documento cita algumas mortes anunciadas, ou seja, mortes que ocorreram mesmo após denúncias das ameaças.

Só no estado do Pará, entre 1996 e 2010, segundo os dados da CPT, 799 trabalhadores rurais foram presos, 809 foram ameaçados de morte e 231 assassinados. Nesse mesmo período um total de 31.519 famílias foram despejadas ou expulsas de 459 áreas que eram reivindicadas para assentamentos da reforma agrária.

Em 2011, 39 trabalhadores rurais foram presos nesse estado, 133 foram agredidos, 78 foram ameaçados de morte e 6 sofreram tentativas de assassinato. Nesse mesmo ano, 12 trabalhadores rurais foram assassinados, sendo que 10 destes moravam e desenvolviam as suas atividades agrícolas e sociais no sul e sudeste paraense.

Ainda de acordo com os dados divulgados, atualmente, nessa região do estado, existem cerca de 130 fazendas ocupadas por, aproximadamente, 25 mil famílias de trabalhadores rurais sem terras, abrangendo uma área superior a um milhão de hectares. Estas famílias esperam, desde meados dos anos de 1990, para serem assentadas em lotes da reforma agrária.

Nos últimos anos, milhares de migrantes continuam chegando à região em busca de trabalho e de melhores condições de vida, atraídos pelas propagandas governamentais e do setor de mineração. Na medida em que não conseguem ser absorvidos pelo mercado de trabalho, estes são “empurrados” para novas ocupações urbanas ou rurais, submetidos a situações de grande exclusão e violência.

As informações apresentadas no documento são resultado do levantamento que as equipes da CPT do sul e sudeste do Pará conseguiram reunir a partir de seu trabalho junto aos trabalhadores rurais e suas lideranças ameaçadas de morte ou em situação de risco. (pulsar)

Angola: UNITA preocupada com sinais de falta de credibilidade do processo eleitoral



EL - Lusa

Luanda, 12 ago (Lusa) - A UNITA, maior partido da oposição em Angola, manifestou, em comunicado de imprensa, o que considera serem sinais de falta de credibilidade do processo eleitoral em curso, para as eleições gerais de 31 deste mês.

Em comunicado enviado à Lusa, e assinado pelo seu porta-voz, Alcides Sakala, o partido do Galo Negro, embora manifeste satisfação pelo cumprimento "em 80 por cento" das ações agendadas para o primeiro terço da campanha, considera que subsistem "várias preocupações" que alimentam o risco de se ter em Angola "um processo eleitoral manchado de descrédito".

"De facto, decorrem ao nível de todo país ações que, no nosso entender, visam, de um lado, desvirtuar a realidade dos factos perpetrados por elementos afetos ao candidato José Eduardo dos Santos (líder do MPLA, partido no poder), por outro lado, visam criar um clima de medo e de instabilidade, incitando à violência para que as populações não possam exercer livremente o seu direito de voto", destaca o comunicado.

Os exemplos dados pela UNITA vão desde o que chama "movimentação ostensiva" de unidades da Polícia de Intervenção Rápida e das Forças Armadas Angolanas nos centros urbanos e rurais, incluindo Luanda, até à recente intervenção do ministro dos Antigos Combatentes e membro do Bureau Político do MPLA, Kundy Paihama, num comício em Benguela, em que este prometeu "varrer quem se opusesse" ao partido no poder.

A coincidência temporal nas críticas do MPLA e da Comissão Nacional Eleitoral (CNE) aos tempos de antena, embora sem que o órgão de supervisão eleitoral tenha citado expressamente a UNITA, é apontada igualmente pelo maior partido da oposição como sinal de "descrédito" do processo eleitoral.

Confrontos localizados na província de Benguela, com a UNITA a queixar-se da impunidade de elementos afetos ao MPLA, protegidos pela Polícia Nacional e a "reiterada partidarização" da imprensa estatal, a favor do partido no poder, completam o leque de queixas da UNITA.

"A UNITA apela uma vez mais que se deve evitar certo tipo de linguagem, que incite a violência, e crie um clima de insegurança junto da população. Exigimos à CNE para manter uma posição de imparcialidade, denunciando os atos de intolerância politica e de violência perpetrados por quem quer que seja", lê-se no documento.

As queixas da UNITA ocorrem 72 horas depois de o MPLA ter acusado o Galo Negro, em conferência de imprensa, ter acusado o Galo Negro de estar a preparar "manifestações e arruaças" para hoje e para o dia 28, dia do 70º aniversário natalício de José Eduardo dos Santos, a três dias do escrutínio, bem como agressões a militantes do partido no poder.

Angola: Sociedade civil criou estrutura para acompanhamento da votação



EL - Lusa

Luanda, 11 ago (Lusa) - Centenas de pessoas participaram hoje em Luanda numa iniciativa promovida por grupos da sociedade civil que têm organizado manifestações antigovernamentais em Angola, e que visou criar uma estrutura de acompanhamento da votação nas eleições gerais de 31 deste mês.

O evento, que decorreu sem incidentes e lotou a sala da Liga Angolana de Amizade e Solidariedade com os Povos (antiga Lina Nacional Africana), visava debater com representantes de três dos nove partidos e coligações concorrentes ao escrutínio a forma de assegurar a "transparência" do processo eleitoral.

Daquelas três formações partidárias, apenas a coligação Convergência Ampla de Salvação de Angola (CASA-CE) e o Partido de Renovação Social (PRS) enviaram representantes políticos.

A União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), maior partido da oposição, enviou apenas um delegado de mesa de voto.

"Decidimos criar uma plataforma informática para receber denúncias e possíveis manobras que visam desestabilizar um processo que se quer transparente e exemplar", disse Luaty Beirão, um dos organizadores da iniciativa.

No dia do escrutínio, a plataforma divulgará "em tempo real" informações dos representantes das várias organizações da sociedade civil, como o Movimento revolucionário Estudantil e Movimento Popular Unido, que "em articulação com os partidos políticos de oposição credíveis e organizações não-governamentais" vão acompanhar quer a votação quer o processo de contagem dos votos.

"Pretendemos alertar a Comissão Nacional Eleitoral e a imprensa internacional para o que se está a passar", acrescentou Luaty Beirão, "rapper" angolano conhecido como Ikonoklasta ou Brigadeiro Matafrakuz.

Na sessão participaram ainda representantes de partidos políticos que viram gorada pelo Tribunal Constitucional a pretensão de participar na votação, como o Bloco Democrático e o Partido Popular.

No início da sessão, Nelson Pestana "Bonavena", do Bloco Democrático, justificou a necessidade de se criar a plataforma de receção de denúncias para impedir o que caraterizou como "batota generalizada" que alegou ter-se verificado nas anteriores eleições, em 2008.

"É preciso que a batota de 2008 não se repita. É preciso que cada um dos cidadãos, credenciados ou não, se transforme em fiscal eleitoral, porque a verdade eleitoral é a manifestação da soberania", frisou.

"Não queremos que o voto do Joaquim se transforme num voto no José", acentuou Nelson Pestana, referindo-se ao primeiro nome do Presidente da República e líder do MPLA, partido no poder, José Eduardo dos Santos.

Ao longo da sessão, em que se simulou o ato de votação e explicação dos procedimentos a adotar, iam sendo gritadas palavras de ordem contra o regime, como "abaixo a ditadura" e "o povo unido jamais será vencido".

O evento iniciou-se com duas horas de atraso, porque à hora prevista, estava a realizar-se no mesmo local um velório.

JORNAL DE ANGOLA A CAMINHO DO PULITZER




Orlando Castro*, jornalista – Alto Hama*

Num texto, mais um, digno de vencer o Prémio Pulitzer, o órgão oficial do regime angolano, também conhecido por Jornal de Angola (JA), mostra o que é a democracia do MPLA e ensina ao mundo o que é o jornalismo.

Diz o pasquim do regime que os órgãos de informação privados nada mais são do que um “Cavalo de Tróia que vomitava do seu seio a subversão dos mais elementares valores que regem o jornalismo.”

Dando como adquirido que tal como José Eduardo dos Santos está para os angolanos (e não só) como Deus está para os cristãos, e que o JA está para o jornalismo como o MPLA está para Eduardo dos Santos, todos os jornalistas do mundo são obrigados a aceitar a superioridade moral, ética, deontológica e o que mais por aí houver deste legítimo filho do Pravda, o principal jornal da União Soviética e órgão oficial do Comité Central do Partido Comunista da União Soviética entre 1918 e 1991.

Diz o JA que no seu reino, e certamente com o beneplácito do Comité Central do MPLA, que em Angola “a liberdade de imprensa convive com abusos repugnantes e os novos jornais até começaram a servir para crimes de chantagem e extorsão”, para além de que ”quase sempre são palcos de intrigas, veículos de ataques pessoais, mananciais de insultos, calúnias e difamações.”

Creio que um desses crimes tem a ver com o 27 de Maio de 1977, uma purga que os jornais privados dizem ter sacrificado milhares de angolanos mas que, na verdade e certamente segundo a análise do JA, nem sequer existiu.

Diz o JA que “o Presidente da República é o alvo privilegiado dos jornais privados. Há entre eles uma competição estranha que consiste em ver qual deles fere mais a honra e o bom-nome de José Eduardo dos Santos. O mais alto magistrado da Nação é tratado como um pária ante a indiferença dos órgãos de Justiça, das organizações dos jornalistas, das associações patronais e, pasme-se, do Conselho Nacional da Comunicação Social.”

Mais um ponto a favor do Pravda. Perdão, do Jornal de Angola. Estão todos conluiados para denegrir a imagem do impoluto Presidente da República, não compreendendo que estar há 33 anos no poder sem nunca ter sido eleito é a mais sublime prova da vitalidade democrática do regime angolano.

Da brilhante (como sempre) análise do JA resulta que “de 2008 para cá as coisas melhoraram”. Isto é, “os jornais privados que mais se destacavam na calúnia e no insulto ao Chefe de Estado abandonaram esse caminho. Mas em compensação outros redobraram os crimes de abuso de liberdade de imprensa. Sabe-se agora porquê.”

O jornal não explica, certamente no cumprimento das maus puras e transparentes regras éticas e deontológica, a razão pela qual alguns jornais abandonaram esse caminho. Também não precisa de explicar. Todos sabem que foram comprados e ou silenciados pelo regime.

Escreve o JA que “o “Folha 8” é o órgão oficial da CASA-CE e dá uma mão à UNITA, nas suas investidas contra o Estado Democrático e de Direito. O “Novo Jornal” é o suporte de “manifestantes” que têm uma única mensagem à sociedade: insultos grosseiros ao Presidente da República e o objectivo de derrubá-lo.”

Em cheio. Não há dúvida. Nenhum jornal no mundo bate o Jornal de Angola. É que não só analisa como dá notícias em primeiríssima mão. Então não é que Angola é um Estado Democrático e de Direito? Ora tomem!

Ao fim e ao cabo, todos os jornais “se encarregam de fazer alastrar a mancha da calúnia e do insulto. Com mais ou menos competência. Mas seguramente com resultados catastróficos para o jornalismo angolano.” Valha-nos ao menos a existência desse paradigma de nobreza e altruísmo, verdadeira catedral do jornalismo, que dá pelo nome de Jornal de Angola.

O JA insurge-se contra algo que os políticos aprenderam com o MPLA e com o seu Pravda, mas que – obviamente – só deve ser aplicado em relação aos outros. Então não é que “com um sorriso próprio dos porcos”, os dirigentes do PRS “chamam aos membros do Executivo mafiosos e ladrões” e “acusam instituições do Estado de envenenarem e assassinarem cidadãos”?

Francamente. Os políticos, mesmo em campanha eleitoral, deveriam saber que há verdades que não devem ser ditas.

“A UNITA segue o mesmo caminho mas com um pouco mais de compostura. Tem como mentor um qualquer Rafael Marques. A CASA-CE faz dos tempos de antena sucursais do “Folha 8” mas um pouco mais primários. São violentíssimos ataques à inteligência dos eleitores e golpes fatais contra a ética política. Se não havia ética no “jornalismo” que faziam, muito menos existe agora, quando vivemos num período em que os salteadores da política agem como se valesse tudo menos tirar olhos”, escreve o JA.

Ficamos também a saber, graças – corrobore-se – à honorabilidade do JA, que os leitores têm inteligência e que Rafael Marques e William Tonet estão a desgraçar o país e cometer crimes contra tudo, nomeadamente contra a segurança do Estado. E estão mesmo, reconheço. É que ele pensam que Angola é mesmo um Estado de Direito Democrático. E como não é, todos os que teimam em pensar de forma diferente são culpado de tudo.

Para o Comité Central do MPLA, via Jornal de Angola, “é muito claro que a aposta destes concorrentes é na subversão das regras democráticas. Por isso estão a criar um clima muito parecido com o das eleições de 1992, quando a intimidação e a violência verbal faziam parte do quotidiano da disputa política. De tal forma que tudo acabou numa longa guerra que destruiu Angola.”

Pois é. E o Jornal de Angola ainda vai um dia destes divulgar que a UNITA, a CASA-CE, o PRS, Rafael Marques e William Tonet tem verdadeiros arsenais bélicos debaixo da cama e até disfarçados no disco duro dos computadores.

Num dos mais dignos exemplos de imparcialidade, ética e deontologia o Jornal de Angola diz que “cabe aos angolanos dar a resposta adequada. Savimbismo, nunca mais!.”

Perante tudo isto, os angolanos têm de lançar uma petição, um amplo movimento mundial, para que Nobel da Paz seja atribuído a Eduardo dos Santos e o Pulitzer ao Pravda do regime, em português “Jornal de Angola”.

Legenda: À esquerda Eduardo dos Santos recebe o Nobel da Paz. À direita, o dono do Jornal de Angola recebe o Prémio Pulitzer.

* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.

Título anterior do autor, compilado em Página Global: “É ASSIM QUE EU QUERO, É ASSIM QUE VAI SER”

ZITA SEABRA SERVIDA DE IMAGINAÇÃO FÉRTIL NA CRESPOLÂNDIA




Bernardo Belo Cunha - Portugal Direto

Não faz sentido. Só um Crespo como Mário se empolgaria a trazer-nos televisivamente a lufada de ar condicionado a cheirar a esgoto gerada por Zita Seabra, uma ex-militante do PCP que há muitas décadas aderiu ao inverso daquilo que por muitos anos defendeu, o chamado proletariado, o povo e os seus direitos segundo a cartilha comunista de uma União Soviética cada vez mais decadente. Tão decadente nesse tempo quanto o capitalismo o está na atualidade. Mas Zita, talvez por uma questão de ganha-pão, lá aderiu à direita, que antes chamava revanchista, e entrou de supetão para deputada do PSD. Há muitos que pela tal questão de ganha-pão fazem tudo. Até trocam infernos vermelhos por os de outra cor, alaranjados, por exemplo – cor do PSD.

Não faz sentido. Instrumentos de escuta dentro de aparelhos de ar condicionado? Mas onde é que Zita tinha a cabeça? E Mário, o Crespo? Os equipamentos de ar condicionado fazem barulho, em princípio, logicamente, impossibilitando a escuta através de equipamento para esse fim. Para mais introduzido no seu interior. Para mais porque as ações de espionagem do PCP aconteceram há umas décadas, como afirma, e nesse tempo os aparelhos de ar condicionado produziam um ronronar que muitas vezes até nos incomodavam, muitas vezes até os desligávamos devido ao seu efeito poluidor da sonoridade produzida…

Zita, talvez inspirada no título “O Espião Que Saiu do Frio”, serviu, a quem a quis escutar, uma dose de imaginação fértil – na opinião de muitos. Interessante é aquilo que escreve Ferreira Fernandes, no Diário de Notícias, sobre o gélido acontecimento televisivo de Crespo. Curto, incisivo, irónico, não deixou passar a imaginação fértil de Zita sem recordar que “Aparelhos de escuta usam-se em floreiras, relógios, botões, lamparinas e o agente Olho Vivo até num sapato.” Deliciem-se.

A Zita que saiu do ar condicionado


Zita Seabra, em conversa com Mário Crespo, na SIC, sugeriu que o PCP e a RDA (Alemanha comunista) usavam os aparelhos de ar condicionado da empresa portuguesa FNAC (ligada nos anos 70 e 80 ao PCP) para espiar. E quando Crespo explicita "equipamentos de escuta...", ela confirmou: "Em tudo o que era ministérios, em sítios nevrálgicos." Ela lembrou que era frequente entre comunistas "brincar-se, dizendo em que gabinete estará aquele ar condicionado..." Zita foi dirigente do PCP e aquilo que se sabe da RDA em matéria de espionagem dá crédito mesmo a hipóteses absurdas. Mas ficam-me algumas dúvidas. Zita Seabra saiu do PCP em janeiro de 1989 e só em outubro de 1990 a RDA acabou. Nesse intervalo de ano e meio a já democrata Zita informou o País do perigo que corria? Ao que parece não disse nada porque PS, PSD e CDS, todos com gabinetes potencialmente escutados e nenhum meigo com o PCP, não tiraram partido do escândalo. Então, porque calou, Zita? O que me leva a outra dúvida: microfones em aparelhos de ar condicionado? Aparelhos de escuta usam-se em floreiras, relógios, botões, lamparinas e o agente Olho Vivo até num sapato. Tudo objetos silenciosos. Em ar condicionado? Hmmm, as suspeitas aprofundam-se: uma vez comunista, comunista toda a vida... Será que Zita é uma agente adormecida e, mais forte do que ela, aproveitou a ida ao Crespo para fazer propaganda aos aparelhos comunistas da FNAC, os mais silenciosos do mercado capitalista?

Paulo Portas diz que tem "acompanhado pouco" a atualidade política nas férias



SIC - Lusa

O presidente do CDS/PP, Paulo Portas, admitiu hoje que tem "acompanhado pouco" a atualidade política nacional desde que iniciou um período de descanso nos Açores, frisando que o arquipélago é "uma opção fantástica de férias".

"O meu objectivo ao vir para os Açores era mesmo descansar, não tenho feito mais do que isso", afirmou Paulo Portas, que é também ministro dos Negócios Estrangeiros, em declarações à Lusa a propósito dos 15 dias de férias que está a passar na ilha de S. Miguel, nos Açores, o que acontece pela terceira vez.

Paulo Portas salientou que, devido às circunstâncias atuais do país, optou propositadamente por fazer turismo interno, recordando que "conta como exportação" para as contas nacionais.

"Objetivamente, se nós podemos dar uma ajuda suplementar à situação do país acho que o devemos fazer. Os Açores, que nem muita gente conhece no continente, mas eu recomendo vivamente, são uma maravilha no meio do Atlântico", afirmou.

O líder do CDS/PP, apesar de conhecer bem as nove ilhas açorianas, salientou que encontra sempre novidades de cada vez que visita o arquipélago, apontando desta vez o areal de Santa Bárbara, na costa norte da ilha, uma praia muito utilizada por surfistas.

"Os Açores são uma opção fantástica de férias", reconheceu, frisando que "há tantas formas de fazer turismo" nas nove ilhas do arquipélago, desde o turismo de natureza ao naútico ou gastronómico, passando pelo turismo de saúde, radical ou religioso.

Paulo Portas escusou-se a fazer qualquer comentário sobre a atualidade nacional, que tem "acompanhado pouco" porque, "quando uma pessoa precisa de férias para recuperar energias, tem mesmo de se poupar das coisas que faz no dia-a-dia".

Apesar disso, almoçou no sábado com o ministro dos Negócios Estrangeiros da Venezuela, que fez uma escala em S. Miguel, e volta a interromper as férias na terça-feira para participar numa acção do CDS/PP no âmbito da pré-campanha para as eleições regionais que estão marcadas para 14 de outubro.

Jerónimo quer explicações sobre desaparecimento documentos do negócio dos submarinos



i online - Lusa

O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, exigiu hoje o “apuramento da verdade” no caso dos submarinos e do alegado desaparecimento de documentos do Ministério da Defesa sobre a compra desses equipamentos, à margem de um comício no Algarve.

“Não fazemos julgamentos sumários, mas há um Ministério da Defesa, não estamos a falar de uma instituição qualquer, que tem a obrigação estratégica de reserva dos documentos e eles desapareceram. Alguém tem de ser responsável”, afirmou Jerónimo de Sousa aos jornalistas, após discursar num comício realizado em Monte Gordo, concelho de Vila Real de Santo António.

O secretário-geral do PCP disse ser necessário “apurar a verdade” porque a situação do desaparecimento de documentos “é profundamente inquietante num negócio dessa dimensão e natureza, com as condições e contrapartidas que são conhecidas”.

Jerónimo de Sousa frisou que, “se esse apuramento da verdade não se faz, os portugueses têm razões para desconfiar cada vez mais deste poder político que nos últimos anos tem governado o país”, porque “há coisas que não batem a bota com a perdigota” no âmbito desse caso.

O secretário-geral comunista exemplificou com a compra de um eletrodoméstico, que disse ter “dois anos de garantia, enquanto comprar submarinos tem um ano”, e considerou que “há contradições que podem revelar indícios de corrupção”.

Questionado sobre as declarações de Zita Seabra sobre a ligação entre o PCP, a antiga República Democrática Alemã e a antiga Fábrica Nacional de Ar Condicionado (FNAC) para fins de espionagem nos anos de 1980, o dirigente do PCP desvalorizou o tema.

“Quero reafirmar o que o PCP disse: que essa pessoa, as suas afirmações, não merecem nem credibilidade nem comentário. Até diria que, tendo em conta a situação tão dramática que se vive neste país, não devíamos gastar mais cera contra o ruido de fundo”, respondeu.

Durante o discurso no comício, Jerónimo de Sousa solidarizou-se com as vítimas dos incêndios do mês passado no Algarve e denunciou a “política de terra queimada” praticada pelos sucessivos Governos e que levaram ao abandono do interior do país e de setores produtivos como a agricultura.

O dirigente criticou a política de “agressão” contra os trabalhadores e de “favorecimento” dos grandes grupos económicos, levada a cabo pelo Governo PSD/CDS-PP e pela “troika” do Fundo Monetário Internacional, o Banco Central Europeu e a Comissão Europeia.

Apontou como exemplo o Grupo Jerónimo Martins, proprietário do Pingo Doce, que recebeu uma “multa de cerca de 30 mil euros pela sua campanha contra o primeiro de Maio, o que significa 0,02 por cento dos seus lucros no primeiro semestre”, numa referência à campanha de 50 por cento de desconto praticada pela cadeia de supermercados nessa data.

O dirigente partidário criticou ainda as consequências negativas que essa política teve para o desemprego e para os direitos dos trabalhadores e reafirmou que “é necessário uma política de rutura, que reafirme a soberania nacional e seja uma alternativa de esquerda”.

Relacionado em Página Global
NINGUÉM PERGUNTOU A PAULO PORTAS POR DOCUMENTOS DESAPARECIDOS – com opinião PG “JUSTIÇA PORTUGUESA RENDIDA AO PODER POLÍTICO E OUTROS – opinião”

INVASÃO DOS BANCOS DE BARCELONA




Der Spiegel, Hamburgo – Presseurop - 9 agosto 2012 – foto AFP

O que se passa em Espanha? Na segunda parte da sua jornada no país dos seus pais, o jornalista da "Der Spiegel" Juan Moreno depara-se com a ira de um povo arruinado face aos bancos.


Barcelona está cheia de turistas. O número de estadias aumentou no ano passado. Os cafés à volta da Praça da Catalunha continuam a servir cafés acima dos preços praticados, enquanto a polícia expulsa os mendigos. Para encontrar a crise temos de nos afastar uns quarteirões.

Numa intersecção na Avenida Diagonal, encontrei Pedro Panlador, um homem magro que se colocou em frente a um balcão do Bankia. Pretende invadir o banco. Algumas pessoas que partilham a mesma opinião juntaram-se a ele. Contactaram os meios de comunicação social, para que fizessem a cobertura do seu protesto, mas estes recusaram. Neste momento, os bancos estão a ser invadidos em toda a Espanha.

O Bankia, um banco de Madrid [criado em 2010 através da fusão de sete caixas de aforro], expulsou Panlador do seu condomínio por este não conseguir pagar o seu empréstimo. Nos primeiros três meses deste ano, todos os dias foram expulsos 200 ocupantes de apartamentos e casas em Espanha. Panlador, nascido na Colômbia, vive em Barcelona há 12 anos. Atualmente deve 242 mil euros. Antes da crise trabalhava como motorista. Agora, encontra-se desempregado há cerca de dois anos.

Os peões que por ali passam encorajam-no e alguns aplaudem-no. Ninguém vê nada de errado no facto de alguém se colocar em frente a um banco e chamar “criminosos” aos funcionários. Panlador afirma que pretende continuar “pacífico” e que apenas quer “falar com o diretor”.

Identificar claramente o inimigo

O Bankia perdeu 3 mil milhões de euros em 2011 e, agora, precisa de mais de 20 mil milhões de euros para evitar a falência e destruir dessa forma o sistema financeiro espanhol. O último presidente foi Rodrigo Rato, que ocupou o cargo de ministro das finanças durante o mandato do antigo primeiro-ministro José María Aznar. Rato foi também diretor do Fundo Monetário Internacional (FMI) até 2007. É possível que brevemente o FMI tenha de resgatar a Espanha. Parece uma anedota.

Panlador e os seus companheiros estão preparados para invadir o banco. É a primeira vez que o fazem. Panlador já acampou em frente a um balcão do Bankia, mas pensa que invadir o banco terá um maior impacto. Este ganha coragem e avança para a entrada, onde vê que o balcão tem uma porta de segurança e uma campainha.

Toca à campainha. O Bankia não abre a porta.

Panlador volta-se para os outros. Parecem não saber o que fazer. Por fim, alguém assobia. Panlador cola alguns autocolantes no vidro. Nos quais se pode ler: Os bancos deveriam deixar de processar os clientes endividados e de expulsá-los dos seus apartamentos. Ao que parece, Espanha tornou-se um país de protestos lamentáveis.

Panlador recua ligeiramente. Em Espanha não existe a falência pessoal [pelo que as pessoas têm de continuar a pagar as suas hipotecas]. A sua dívida de 242 mil euros acompanhá-lo-á para o resto da vida. “Estou cansado”, diz ele.

Os protestos devem ter o mínimo de impacto, algo que dê esperança para que a luta valha a pena. É também importante saber quem é o inimigo. Mas de quem é a culpa? Do Bankia, porque concedeu um empréstimo de um quarto de um milhão de euros a um homem que ganhava 940 euros por mês após descontos? Ou de Panlador, porque aceitou o empréstimo? Ninguém o obrigou a fazê-lo. Talvez sejam ambos culpados.

Ou talvez tudo se resuma às inúmeras oportunidades que surgiram. O setor da construção estava em desenvolvimento e ganhava-se dinheiro em qualquer parte. Era dinheiro fácil e os bancos estavam praticamente a oferecê-lo, muitos alojamentos pareciam financiar-se a si mesmos e existia imenso trabalho.

Tudo isto fez com que os espanhóis se tornassem viciados em jogo e tornou o país num casino. As pessoas deixaram de se sentir indignadas pelo facto de um vizinho ter uma casa em Conil, na Costa de la Luz, enquanto estes apenas tinham uma casa de fim de semana nos subúrbios da cidade. Quem preveria que todos acabariam como Pedro Panlador, em frente a um banco e a ser-lhes negada a entrada devido a uma campainha?

Dei-lhe um aperto de mão e desejei-lhe boa sorte. Barcelona é uma cidade maravilhosa, muito mais do que Berlim, Frankfurt ou Munique, apesar dos cartazes a dizer “Vende-se” pendurados nas varandas e dos retalhistas de ourivesaria abrirem lojas por todo o país para comprar e vender o ouro dos espanhóis desesperados. Na minha opinião, a cidade pode ser comparada a mulher de um empresário que recusa acreditar que a empresa entrou em bancarrota. Continua a vestir casacos de pelo, a usar anéis de diamante e ter serviços de porcelana – mas toda a gente sabe que não durará muito mais tempo.

A taxa de desemprego em Barcelona passou de 7 para 17,7%, no ano passado. Esta é a cidade mais rica de Espanha, no entanto, 17,7% dos seus habitantes estão desempregados.

Em guerra contra o sistema

Entro no carro e saio de Barcelona. Tenho um encontro marcado em Sabadell, uma cidade outrora governada pela indústria têxtil. Vou conhecer Antonio, um pai de família, que também ficou sem casa. Este não tenciona invadir nenhum banco. Em vez disso, faz tudo para se proteger da melhor forma possível. Tem estado a ocupar um apartamento.

Estamos no início da tarde, Antonio está encostado à porta do seu apartamento e sabe exatamente no que estou a pensar. É parecido com George Clooney. “Eu sei”, diz ele, “dizem-me sempre isso”. Antonio entra no corredor estreito e mostra-me a pequena casa de banho, a cozinha, que também serve de sala de estar, equipada com um enorme frigorífico e um quarto mobilado com duas camas, cada uma com um peluche em cima.

“É isto”, diz Antonio. Duas divisões no rés-do-chão passaram a ser a sua nova casa. Tem várias caixas empilhadas na casa de banho. “Há quanto tempo mora aqui?” “Dois dias”. “Como fez para entrar?” “Não posso dizer, mas era soldador de profissão. Amanhã as minhas filhas passarão pela primeira vez a noite aqui”.

Antonio tem duas filhas, uma com 14 e outra com 17 anos. A mais nova anda na escola e a mais velha está a tirar uma formação para se tornar cabeleireira. Mas, devido à crise, não está a ser remunerada e foi também a única da sua antiga turma a arranjar um lugar. Antonio afasta um pato de peluche para se sentar na cama.

Antonio Zamora Hidalgo, 47 anos, uma pessoa reservada, começou a sua luta contra o sistema há dois dias. Trabalhou numa fábrica metalúrgica durante mais de 20 anos e passou os últimos 12 anos a pagar a hipoteca do seu apartamento ao BBVA, um importante banco espanhol. Quando parou de pagar, perdeu tudo.

"Spain rocks"?

As prestações sociais, destinadas aos desempregados de longa duração, definidas pela reforma Hartz IV na Alemanha não têm equivalência em Espanha. Existe, no entanto, uma regra que estipula que o mutuário não pode simplesmente entregar a propriedade ao mutuante para liquidar a sua dívida. No pior dos casos, este arrisca-se a perder a casa e a continuar a dever ao banco o valor total do empréstimo.

Hidalgo ficou sem opções. Não sabia o que fazer com as suas filhas. A mulher deixou-o porque não aguentava a situação na qual se encontrava a sua família. Antonio pediu ajuda à PAH, uma associação de Barcelona, onde lhe disseram que 20 por cento dos apartamentos em Espanha estão vazios. Um deles era o apartamento em Sabadell, inabitado há cinco anos.

O pequeno apartamento situa-se numa rua calma no bairro de Can n’Oriac. Pertence à Caixa Catalunya, uma daquelas caixas de aforro espanholas regionais megalómanas, que nos últimos anos concedeu empréstimos hipotecários sem discernimento e que teve de ser resgatada com o dinheiro dos contribuintes.

“É isto que imaginava?”, pergunta Antonio. Olhei à volta do pequeno quarto. As duas camas ocupam quase todo o espaço. “Se vai ocupar este apartamento ilegalmente, por que não escolheu um maior?”, pergunto. Antonio ri. Não se estava a referir ao apartamento, explica, mas à situação de Espanha. “Posso explicar-lhe a situação,” diz Antonio. “A situação é que pessoas como eu estão a ocupar apartamentos”.

De quem é a culpa neste caso, pensei enquanto conduzia na estrada nacional. O homem nunca teve conflitos com a polícia. Não bebe, não é anarquista ou esquerdista e nem sequer vê as notícias. Agora é um intruso. Talvez tenha tido pouca sorte e tenha sido arrastado quando o efeito bola de neve de empréstimos fáceis e o aumento dos preços de bens imóveis a que chamavam o milagre económico espanhol colapsou, um período descrito numa capa de The Times como “Spain rocks”.

TERRAMOTOS MATAM CENTENAS NO NOROESTE DO IRÃO



Deutsche Welle

Segundo instituto iraniano de sismologia, tremores maiores registraram 6,3 e 6,0 pontos, respectivamente. Mais de 200 mortos e pelo menos 1.400 feridos. Milhares estão desabrigados. Buscas foram suspensas.

Dois terremotos, com intervalo de apenas 11 minutos entre si, atingiram o noroeste do Irã neste sábado (11/08), deixando pelos menos 227 mortos e 1.400 feridos. Na região próxima à populosa cidade de Tabriz, pelo menos metade dos 600 vilarejos foram atingidos, sendo alguns completamente destruídos – segundo declarou o ministro iraniano do Interior, Mustafá Mohammed Najjar, para o canal de TV estatal.

Já neste domingo, as forças iranianas de busca e resgate anunciaram a suspensão de seus trabalhos. As autoridades querem concentrar esforços para garantir abrigo e alimentação aos sobreviventes. Milhares de tendas estão sendo montadas para os desabrigados.

Zona de abalos sísmicos

De acordo com o Instituto de Sismologia da Universidade de Teerã, o primeiro terremoto aconteceu às 16h53, horário local, e atingiu magnitude de 6,2 pontos na escala Richter. Seu epicentro encontrava-se a 60 quilômetros de distância de Tabriz. Apenas 11 minutos depois, houve um segundo terremotos de magnitude 6,0. Em seguida, pelo menos outros 20 tremores de menor intensidade, até 4,7 pontos, foram registrados em curto espaço de tempo.

Na região da catástrofe vivem mais de 128 mil pessoas. As cidades mais atingidas foram Ahar e Varzaghan. De acordo com a agência estatal de notícias Mehr & Fars, centenas de moradores saíram correndo das casas seriamente abaladas pelos tremores. Parte das redes de telefonia fixa, celular e de energia ficou desativada.

Terremotos são comuns no Irã, país localizado em zona de frequentes choques de placas tectônicas. Um dos mais devastadores ocorreu em dezembro de 2003, atingindo o sudoeste do país e matando 31 mil pessoas.

Ajuda da Alemanha

O presidente iraniano, Mahmud Ahmadinejad, lamentou o acontecimento e publicou na internet seus pêsames aos atingidos. Ele solicitou às autoridades locais que façam de tudo para ajudar a população atingida.

O ministro alemão do Exterior, Guido Westerwelle, enviou um telegrama de condolências ao colega de pasta iraniano Ali Akbar Salehi, oferecendo "ajudar o país nessa hora difícil". Ele lembrou o fato de o desastre ter ocorrido durante o mês do Ramadã, sagrado para os muçulmanos.

No momento, os países ocidentais mantêm relação difícil com o governo Ahmadinejad, devido ao controvertido programa nuclear iraniano.

MSB/afp,rtr - Revisão: Augusto Valente

“APOCALIPSE NOW”! – IV




Martinho Júnior, Luanda

“Cessem os egoísmos, cessem as hegemonias, cessem a insensibilidade, a irresponsabilidade e o engano. Amanhã será tarde demais para fazer aquilo que devíamos ter feito há muito tempo”… - Discurso de Fidel Castro na Conferência da ONU para Meio Ambiente – ECO-92, há 20 anos!

7 – Conforme disse, a situação está a deteriorar-se mais e mais, a um nível que se aproxima aos momentos mais críticos do período da “Guerra Fria”, mas com um grau de imprevisibilidade maior e com potencialidades ainda mais catastróficas… (“Obama eleva as apostas militares: confrontação nas fronteiras com a China e a Rússia” – - James Petras – Pravda – http://port.pravda.ru/science/26-12-2011/32665-obama_confrontacoes-0/).

Concorre para isso por um lado, o facto dos contendores estarem a pautar por acções com ingredientes religiosos, fundamentalistas e por tabela até terroristas, explorando as contradições entre judeus e árabes, ou entre sunistas e xiitas, por outro o facto das forças que estão frente a frente serem potências nucleares declaradas umas (componentes da NATO, CSTO, China, Índia e Paquistão), não declarada outra (Israel), com possibilidades de o ser (Irão) e por outro ainda, haver manifesta presença de Forças Especiais e dos Serviços de Inteligência de todos os envolvidos numa situação que em terra como no mar (potências incluídas) pode conduzir à inexistência de fronteiras, tal o intrincado das peças envolvidas de parte a parte no jogo de tensões e conflitos em cadeia. (“The war on Ira: the deployment of thousands of US troops to Israel, the integration of US-Israeli Command structures” – Michel Chossudovsky – Global Research – http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=28503).

É em função desse tipo de ingredientes, que evoluem sobre os depósitos milenares de petróleo e gás em terra e no mar, que me parece que a situação está a ultrapassar os confrontos típicos da Guerra Fria, assim como as sucessivas guerras conduzidas pelos Estados Unidos e seus aliados nos Balcãs, no Iraque e no “Af-Paq”, numa escalada que conduzirá, degrau a degrau, ao extremamente perigoso envolvimento de Israel e do Irão.

Os ingredientes aliás, particularmente a actuação enquadrada de alguns dos grupos da Al Qaeda por parte das alianças entre ocidentais e a monarquias arábicas sunitas, prognosticam um ponto de não retorno, com a caricatura das “operações humanitárias”! (“Humanitarian Military Intervention in Syria? Who is Behind the Atrocities?” – Michel Chossudovsky – Global Research – http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=32117).

A presente situação recorre a doutrinas militares, de inteligência, de “terrorismo” manipulado e “contra terrorismo” que tiveram o seu curso durante a Guerra Fria, mais as que têm vindo a ser aplicadas desde há 20 anos a esta parte tirando partido das novas tecnologias desde então adquiridas. (“El império mundial de la violência contrainsurgente” – Gilberto López y Rivas – La Jornada – http://www.jornada.unam.mx/2012/03/02/index.php?section=opinion&article=022a1pol).

8 – A presença dos considerados terroristas do Al Qaeda na Líbia e agora na Síria, que ilustra um dos sinais preocupantes que acima assinalo, é vista assim por Thierry Meyssan (“L’Armée Syrienne libré est commandée par le gouvernement militaire de Tripoli” – Thierry Meyssan Réseaux Voltaire – http://www.voltairenet.org/L-Armee-syrienne-libre-est):

“Au cours des derniers mois, certains journaux arabes, favorables à l’administration el-Assad, ont évoqué l’infiltration en Syrie de 600 à 1 500 combattants du Groupe islamique combattant en Libye (GICL) renommé depuis novembre 2007 Al Qaida en Libye. Fin novembre, la presse libyenne a relaté la tentative de la milice de Zintan d’arrêter Abdelhakim Belhaj, compagnon d’Oussama ben Laden, chef historique d’Al Qaida en Libye, devenu gouverneur militaire de Tripoli par la grâce de l’OTAN. La scène a eu lieu à l’aéroport de Tripoli, alors qu’il partait en Turquie. Enfin, des journaux turcs ont évoqué la présence de M. Belhaj à la frontière turco-syrienne.

Ces imputations se heurtent à l’incrédulité de tous ceux pour qui Al Qaida et l’OTAN sont des ennemis irréductibles entre lesquels aucune coopération n’est possible. Au contraire, elles confortent la thèse que je défends depuis les attentats du 11 septembre 2001, selon laquelle les combattants étiquetés Al Qaida sont des mercenaires utilisés par la CIA ».

A constatação de Thierry Meyssan é tanto mais preocupante quanto no difuso campo contrário há outros tantos rotulados de terroristas, como por exemplo os grupos do Hezbollah, que têm uma presença extremamente activa em toda a região, com experiência de combate de tal ordem que no sul do Líbano conseguiram enfrentar e até suster as forças de Israel (« 2006 Lebanon war » - Wikipedia – http://en.wikipedia.org/wiki/2006_Lebanon_War).

O Global Research em diversos artigos confirma Thierry Meyssan, salientando o papel da Al Qaeda no Exército Livre da Síria (« Al Qaeda Directs Free Syrian Army in Controlled Demolition of Syria” – http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=32177).

9 – As questões que se prendem ao nuclear estão bem presentes no cadinho do Mediterrâneo Oriental e do continente Euro-Asiático em toda a sua dimensão, com riscos acrescidos na imensa região afectada pelas tensões, conflitos e guerras.

O companheiro Rui Peralta numa das suas últimas intervenções (« A ampla cidade » - 30 de Julho de 2012 – Página Global – http://paginaglobal.blogspot.pt/2012/07/a-ampla-cidade_30.html), considerava em síntese:

“No fundo o mundo move-se no sentido de uma proliferação generalizada e pouco há a fazer em relação a isso. É ingénuo pensar que um acordo tácito (como o que existiu entre USA / URSS e India / Paquistão) seja suficiente para evitar os problemas decorrentes da proliferação. É que esta é uma consequência das dinâmicas da crise sistémica global e vai gerar dinâmicas intrínsecas ao processo de proliferação e suas implicações geoestratégicas e geopolíticas. Ou seja no actual quadro näo há solução e como ainda näo existe outro quadro, as coisas vão andar por si, até todos os elementos do problema assentarem, um pouco como se faz com as poeiras nucleares. Até um dia…”

As dinâmicas a que se refere Rui Peralta, encontram possibilidades de proliferação num quadro estimulado pela lógica capitalista e alguns dos alertas fê-lo o Comandante Fidel de Castro em várias das suas intervenções, uma delas há mais de 13 anos, a 28 de Junho de 1999, na Primeira Sessão de Trabalho da Cimeira de Chefes de Estado e de Governo de América-Latina e do Caribe-União Europeia, no Río de Janeiro, Brasil, (http://pt.cubadebate.cu/opinioes/2011/09/08/fidel-castro-aonde-nos-conduziria-nova-e-insustentavel-doutrina-da-nato/), quando frente a frente aos Europeus membros da NATO, olhos nos olhos, Fidel expôs:

“Há uma questão política de absoluta importância, que não posso deixar de colocar sobre o novo conceito estratégico da NATO. Referir-me-ei a quatro parágrafos.

Um: Com o propósito de fomentar a paz e a estabilidade na Europa e num contexto mais amplo, os aliados europeus aumentam a sua capacidade para a acção, incluindo o aumento do seu poderio militar.

Dois: A segurança da Aliança segue sujeita a uma ampla variedade de riscos militares. [...] Entre esses riscos estão a incerteza e a instabilidade na região euro-atlántica e nos seus arredores, e a possibilidade de crises regionais na periferia de Aliança.

Três: Contar-se-á com um maior número de elementos de força aos níveis de preparação adequados para efectuar operações prolongadas, quer dentro do território da Aliança ou fora dele.

Quatro: É mais provável que as possíveis ameaças à segurança da Aliança saiam de conflitos regionais, étnicos ou outras crises fora do território da Aliança, bem como a proliferação das armas de destruição massiva e os seus responsáveis.

Gostaria de fazer três brevíssimas reflexões e perguntas.

Um: Gostaria de sermos esclarecidos, se for possível, se os países da América-Latina e do Caribe estão ou não incluídos dentro da periferia euro-atlántica definida pela NATO.

Dois: A União Europeia, depois de muitos debates, apoiou uma declaração desta Cimeira que diz: esta associação estratégica baseia-se no absoluto respeito ao direito internacional e nos propósitos e princípios contidos na Carta das Nações Unidas, os princípios da não intervenção, o respeito à soberania, à igualdade entre Estados e à autodeterminação.

Isto significa que os Estados Unidos da América também se compromete a respeitar os princípios contidos nesta declaração dos seus aliados? Qual será a atitude da Europa se os Estados Unidos decide pela sua própria conta começar lançar bombas e mísseis com qualquer pretexto contra qualquer um dos países da América-Latina e do Caribe aqui reunidos?

Três: Todo o mundo sabe que, por exemplo, Israel possui centos de armas nucleares feitas com determinada ajuda ocidental, sobre o qual se tem feito um estranho e hermético silêncio.

Significaria isto que qualquer dia a NATO, partindo do ponto quatro anteriormente colocado, em virtude duma proliferação clandestina não só de armas de destruição massiva, senão também de uma produção massiva dessas armas, poderia lançar milhares de bombas sobre Jerusalém, Tel Avive, cidades israelenses e palestinas, destruir sistemas eléctricos, indústrias, estradas e todos os meios essenciais de vida desses povos, matando directamente dezenas de milhares de civis inocentes e ameaçando a existência do resto da população? Poderia ser esta a solução civilizada de semelhantes problemas? Poder-se-ia garantir que não conduziria a um conflito nuclear? Aonde nos conduziria a nova e insustentável doutrina da NATO?

Depois de ter exprimido apenas uma mínima ideia sobre este delicado tema, não tenho nada mais que dizer. Peço-lhes desculpas.”

10 – A NATO parece estar a responder às questões colocadas então por Fidel de Castro, com o tipo de intervenções na Líbia, na Síria, em direcção ao Irão e com sua impressiva presença naval, que se acentuará ciclicamente no Mediterrâneo Oriental recorrendo a Forças Especiais e unidades de inteligência, intimamente associadas a grupos que incluem componentes da Al Qaeda! (“The march to war: Iran and the strategic encirclement of Syria and Lebanon” – Mahdi Darius Nazemroaya – Global Research – http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=28018).

Há uma escalada que poderá chegar ao emprego do nuclear, um risco que não pode ser excluído (“Putin’s geopolitical chess game with Washington in Syria and Eurásia” – F. William Engdahl – Global Research – http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=32019).

Sinais da evidência de riscos de conflito nuclear foram dados na prática pela Rússia, de acordo com Thierry Meyssan (“Tiros de aviso russos” – Réseaux Voltaire – http://www.voltairenet.org/Tiros-de-Aviso-Russos):

… “O dia de quinta-feira 7 de Junho foi rico em acontecimentos . Enquanto Ban Ki-moon e Navi Pillay, respectivamente Secretário-geral e Alto-comissário para os Direitos do homem, apresentavam a sua acusação contra a Síria diante da Assembleia geral da ONU, Moscovo procedia a dois tiros de mísseis balísticos intercontinentais.

O coronel Vadim Koval, porta-voz do RSVN admitiu o teste de um Topol —lançado de um silo perto do Cáspio— , mas não confirmou o de um Boulava a partir de um submarino no Mediterrâneo .

No entanto o disparo foi observado em todo o Próximo-Oriente, de Israel à Arménia, e não existe nenhuma outra arma conhecida que possa deixar tais rastos no céu.

A mensagem é clara: Moscovo está pronto para a guerra mundial, se a OTAN e o CCG não se conformarem às obrigações internacionais, como as definidas pelo plano Annan, e persistam em alimentar o terrorismo”….

Gravura: Mundo Acopalíptico – criado por Vladimir Manyhuin.

*Pode ler todas as anteriores partes de “APOCALIPSE NOW!” em Martinho Júnior

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