sábado, 9 de maio de 2015

QUEM TIROU O AÇAIME À DITADURA ANGOLANA MAL MASCARADA DE DEMOCRATA?


Bocas do Inferno


Sendo verdade que em Moçambique a democracia esgota-se nas eleições, mesmo assim com resultados muito duvidosos. Sendo também verdade que assassinatos e outras acções de cariz politicamente duvidoso desmentem que o país seja orientado por um regime verdadeiramente democrático, certo é que não há conhecimento que na actualidade ou no passado próximo ocorram genocídios. Daí algum à-vontade e independência de minha parte em fazer a abordagem sobre o que acontece em Angola num regime descaradamente ditatorial e criminoso que é dirigido pelo presidente José Eduardo dos Santos e por um comité do MPLA.

Vejamos o que nos últimos tempos ocorreu em Angola à revelia da Constituição:

- Jovens angolanos têm vindo a ser sistematicamente privados de se manifestarem em liberdade e segurança.

- Manifestantes presos e espancados pela polícia que lhes devia garantir segurança no ato de protesto.

- Manifestantes deslocados em viaturas da polícia para centenas de quilómetros da sua cidade só por represália do facto de pretenderem manifestar-se democraticamente.

- Manifestantes presos durante meses mas sem culpa formada, sem serem presentes a um juiz. Como é o caso presente de dois activistas em Cabinda. Aliás, activistas e organizadores da manifestação que por uma questão de segurança a desconvocaram, sendo então presos nas suas residências pela intenção de organizarem uma manifestação contra o regime vigente em Cabinda, em Angola.

- Activistas que são raptados por elementos das polícias angolanas e atirados aos crocodilos, desaparecendo os seus corpos, obviamente.

- Activistas que são mortos por colar cartazes de partidos políticos opositores do regime nos poderes.

- Jornalistas que são intimidados sistematicamente por escreverem de modo crítico para com o regime. Outros da mesma profissão que são cerca de uma centena de vezes processados por esta e aquela razão descabida e contrária à liberdade de imprensa que está inscrita na Constituição Angolana.

O rol é extenso no que concerne às violações da Constituição e dos Direitos Humanos. Configura um regime ditatorial que por lapsos de tempo deu a esperança de estar a democratizar-se. Digamos que no presente o verniz estalou aos ditadores que detêm os poderes em Angola. O açaime foi tirado às feras e os seus ataques àqueles que pretendem democraticamente exigir o cumprimento da Constituição vão em crescendo causando vítimas sob o olhar e conhecimento indiferente da comunidade internacional em conluio com presidente, familiares e generais sem escrúpulos e de uma sanha corrupta como só há memória em ditaduras.

Como se todos os males e carências elementares que têm recaído sobre o povo angolano não bastem veio a público a notícia de um genocídio praticado pela polícia angolana. Entre 800 e 1.000 pessoas foram assassinados no Huambo por represália à morte de 8 polícias. Foi a vingança que só é possível num regime ditatorial e assassino.

Afinal porque estalou o verniz e foi retirado o açaime aos detentores do poder em Angola que têm andado mal mascarados de democratas?

Podem existir várias teses mas parece evidente que as altas esferas da comunidade internacional reconheceu indevidamente a democracia em Angola como se existisse quando sabe muito bem que assim não é. A ONU tem as suas mãos sujas ao retirar o açaime ao regime angolano e aceitar que integrasse o Conselho de Segurança. Os países europeus e da alegada democracia ocidental, invadidos que estão pelo neocolonialismo e capitalismo desenfreado, têm igualmente as mãos sujas por também retirarem o açaime às feras que subjugam os angolanos. Isto para não referir exaustivamente os conluios existentes entre políticos, governantes, empresários e outros na parte ocidental deste planeta. Sim, porque a corrupção para existir exige corruptores e vice-versa. Sabemos de generais na posse de fortunas deslumbrantes, que compram tudo e todos, ou quase. Sabemos sobre a filha do presidente José Eduardo dos Santos que só em Portugal compra desmedidamente bancos e empresas de grande valor... Como é isto possível sem ser através de atos e aquisições ilícitas? Não é.

É exigível, naturalmente, que a ONU arrepie caminho. Retroceda no seu fechar de olhos perante a ditadura criminosa angolana e tome uma posição inabalável relativamente ao que acontece em Angola. Agora com mais força de causa devido ao genocídio no Huambo. Organizações independentes devem proceder às devidas averiguações, adquirir as provas testemunhais, acusar e julgar do primeiro ao último criminoso responsável por tão hediondo acontecimento. Tal procedimento é o mínimo que a ONU e os detentores dos poderes no mundo ocidental devem às vítimas do genocídio no Huambo. Cabe àqueles que tiraram o açaime à fera ditatorial angolana - fazendo-a entender da sua impunidade - honrar e fazer justiça aos que em Angola são vítimas da ditadura que se mistura com as memórias das ditaduras da América Latina ou de outras partes do mundo em que florescem.

* Imagem extraída da capa do Folha 8 digital que aborda sobre a compra de um avião de luxo para uso desconhecido mas que pelas caracteristicas deverá destinar-se ao uso daqueles que estão nos poderes ditatoriais do país africano que nos índices de carências das populações é em muitos campeão.

Angola. Polícias e ninjas repeliram “ataque” de contestação de ex-FAPLA e FALA




DESMOBILIZADOS FALHARAM A MANIFESTAÇÃO

 Folha 8 digital (ao) – 09 maio 2015

Acabaram-se as dúvidas, quanto a existência de demo­cracia em Angola. O texto é contrário a reali­dade, pois identificasse com uma DITADURA FASCISTA.

O regime liderado por Eduardo dos Santos vio­la grosseiramente o art.º 115.º “(…) Cumprir e fazer cumprir a Constituição da República de Angola e as leis do País;

Defender a independên­cia, a soberania, a unidade da Nação e a integridade territorial do País;

Defender a paz e a demo­cracia e promover a esta­bilidade, o bem -estar e o progresso social de todos os angolanos”.

Ora esta norma consti­tucional é violada, por Eduardo dos Santos, to­dos os dias contra os civis e, nos últimos tempos, tem, numa arriscada ou­sadia, galgado contra os ex-militares, muitos dos quais, um dia o serviram.

Mas, tal como o desres­peito a lei, também a in­gratidão fazem parte do AND do regime, ao pon­to de ao pretenderem cumprir com um direito constitucional, art.º 47.º (Liberdade de Reunião e de Manifestação).

1. É garantida a todos os cidadãos a liberdade de reunião e de manifestação pacífica e sem armas, sem necessidade de qualquer autorização e nos termos da lei.

2. As reuniões e manifes­tações em lugares públi­cos carecem de prévia co­municação à autoridade competente, nos termos e para os efeitos estabeleci­dos por lei”, foram selvati­camente reprimidos, por efectivos altamente mili­tarizados da Polícia de Intervenção Rápida, que os impediram de se manifes­tar, usando da violência.

Inteligentemente, os ex­-homens de gatilho do ELNA das FAPLA, FALA e ex-UGP/Casa Militar, não foram na cantiga dos mandatados do regime, tendente a provocar um confronto de grandes e imprevisíveis conse­quências, no passado dia 02.05.15, no Largo da In­dependência.

“Quem evita não é burro! Nós não vamos hoje, res­ponder as provocações, mas um dia, este aparato militar não lhes vai ser­vir de nada”, disse ao F8, Ngola Zangui.

O sentiment de revolta é muito grande, porquan­to” só agora entendemos que nunca tivemos um comandante em chefe. Este senhor é um mal agradecido e é com agradecimento, que lhe vamos tirar do poleiro, que lhe garante ser milionário”, afirma Manuel José, ex­-militar das FAPLA, para quem “isso é uma porra. É demais a humilhação. Um dia teremos de resol­ver isso de outra maneira, pois nem sempre estes ninjas, desavergonhados, vão virar as armas con­tra nós, porque têm no­ção que amanhã lhes vai acontecer”.

A polícia não agiu com sentido educativo ou de contenção, pelo contrário “deram bofetadas a mais velhos e porrada, como se fossemos miúdos, quando temos idade de ser pai de muitos deles” desabafou Mário Castro.

A organização garante, não estar de parte o cum­primento de reunirem e marchar 20.000 militares. “Hoje ensaiamos e estu­damos o “modus operan­di”, na próxima vamos reagir em conformidade; dente por dente, olho por olho e vamos ver se o sanguinário Eduardo vai nos matar a todos ou nós é que lhes vamos acabar. Temos de dar um basta nessa brincadeira de nos humilharmos, por cima dos nossos direitos, quan­do eles passam a vida a roubar”, acusa Joaquim Mbaxi.

Angola. A REPRESSÃO DO MPLA SEGUNDO A TRADIÇÃO


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William Tonet - Folha 8 digital (ao) – 09 maio 2015

Num dos seus mais recen­tes pronun­ciamentos públicos, desta vez a propósito do “Caso Kalupeteka”, o presidente José Eduardo dos Santos afirmou que a «seita “Sétimo Dia Luz do Mundo” é uma ameaça para a paz e a estabilidade em Angola». Esta asserção foi comentada negativa­mente pelo F8, partindo do princípio que uma organi­zação composta por cerca de 8.000 jamais poderia fazer frente a um partido como o MPLA que é confundido pelos seus militan­tes com o país (Angola é o MPLA e o MPLA é An­gola) e se orgulha de ter 5 milhões de militantes.

Parece ridículo, mas não é, porque, se por um lado é verdade que o minúscu­lo David/Kalupeteka nun­ca poderá ser um perigo nem um desestabilizador para “o maior partido de África”, o MPLA/JES, por outro, corre efectivamente o risco de se desestabilizar, mas por obra quase exclu­siva do próprio MPLA/JES.

Estamos em Maio e, nes­ta conjuntura muito tensa em que vivemos por causa da repressão policial, dos Serviços de Segurança de Estado e mesmo com in­tervenções discretas mas visíveis das FAA’s, o desi­quilíbrio político só é evi­tado porque os partidos da oposição estão com­pletamente amarfanhados e sem forças, a sociedade civil, grita para fora, mas não se mexe cá dentro, e as potências que se dizem defensoras de ideais de­mocráticos calam-se por­que o petróleo é uma força contra a qual não convém de maneira nenhuma lutar.

F8, muito antes de ter acontecido o que se pas­sou no monte Sumi no passado dia 16 de Abril, onde manifestamente foi cometido um genocídio real, “improvável” mas evidente, tem vindo a es­tudar o comportamento do partido no poder e foi forçado a concluir que a reacção repressiva de extrema violência que se verificou agora é uma sim­ples repetição de reacções repressivas recorrentes e características do MPLA ao longo da sua tortuosa história, a propósito da qual estamos a preparar, um complex dossier, que pedimos contribuições de topdos os leitores e ami­gos da democracia e liber­dades, para que possamos levar as barras do Tribu­nal Internacional de Haia, um conjunto de responsá­veis angolanos, ligados a crimes hediondos, contra a humanidade que não prescrevem. A culpa dos genocídios em Angola não pode morrer solteira. Te­mos de começar a denun­ciar os abusos e as chaci­nas seletivas, cometidas por gente, que tem rosto, em nome da manutenção do poder.

Depois, seguir-se-á a edi­ção de um livro com algu­mas reflexões, descreven­do situações que, do ponto de vista do seu significado analógico, no sentido estrito de analogia, têm muito a ver com a reacção instintiva das forças de segurança do Estado no dia 16 de Abril no monte Sumi, Km 25, na província do Huambo.

Por isso, cada um de nós deve começar a manifes­tar-se contra a constante e permanente violação das liberdades e da democra­cia. Vamos dizer BASTA! Vamos colocar na RUA, quem viola o Estado demo­crático. Não fique MUDO! Grite contra a Corrupção e o abuso do poder.

*(Veja mais pormenores nas páginas de Política)


EM ANGOLA MAIS MANIFESTANTES SÃO DETIDOS PELA POLÍCIA




Polícia angolana impede manifestação a favor de melhorias das condições de vida no Município do Rangel. Três ativistas do Movimento Revolucionário foram detidos e não se sabe em que esquadra policial se encontram.

O grupo Mura, que luta por igualdade social em Angola, convocou uma manifestação para as 9 horas desta-sexta-feira (08.05) para exigir água, luz e saneamento básico no Município do Rangel. Minutos depois do início a polícia terminou com o protesto dos jovens e deteve Odair Kassanje, Pedro Gonga e Franco, ativistas do Movimento Revolucionário. David Mendes é um jovem ativista e repórter que esteve no Triângulo dos Congoleses, lugar da concentração, e falou à DW África.

DW África: Conte-nos o que aconteceu.

David Mendes (DM): Os jovens ativistas sairam de casa muito cedo, porque a concentração estava prevista para as nove horas. Mas quando chegamos ao local já havia um grande aparato policial. Os polícias apareceram no local da manifestação, como têm feito, todos armados e com carros para impedir qualquer tipo de protesto. Como a tarefa da polícia é para nos proteger, e sabemos que realizar uma manifestação é um direito de qualquer cidadão (está na Constituição), tentamos levar a cabo o nosso objetivo. Mas, cinco minutos depois, a Polícia deteve três ativistas, o Odair Kassanje, o Franco e o Pedro Donga.

DW África: Para que esquadra foram levados os três ativistas?

DM: Eles foram levados para a divisão do Rangel, e neste momento desconhecemos o local exato onde poderão estar os nossos companheiros. Normalmente a polícia faz o que chamamos de "carrocel", levam os detidos para lugares desconhecidos. Estamos à espera que libertem os nossos irmãos ativistas o mais depressa possível. A polícia faz detenções nas manifestações precisamente para estancar os protestos ou para intimidar os manifestantes. O que tem acontecido é que a polícia fica a passar de esquadra em esquadra com os ativistas detidos e quando o dia acabar os participantes nos protestos já não tem como sair para as ruas.

DW África: As autoridades de Luanda foram informadas pelos organizadores que a manifestação iria acontecer?

DM: Sim. Nunca houve uma manifestação em Luanda, ou até mesmo em Angola, posso generalizar, sem conhecimento do Governo provincial ou dos administradores comunais. Só que a polícia, que supostamente deve manter a ordem e segurança, é a mesma que maltrata os manifestantes e impede as pessoas de exercerem o seu direito de cidadania.

DW África: Antes de programarem a manifestação os moradores do Rangel solicitaram ao Município melhorias das condições de saneamento básico, abastecimento de água, etc?

DM: Aquilo é uma realidade nua e crua que está à vista de todo o mundo. E vê-se que no Rangel há muitos cortes de luz e de água, o saneamento básico é inexistente, não há asfalto. Eles improvisam com uma charrua da administração, passam a charrua e logo que começa a chover, os habitantes do bairro não conseguem sair à rua. Não se consegue ir à escola e nem para o trabalho devido à degradação das ruas e vielas que ficam num caos. Ainda ontem (07.05) os administradores comunitários chamaram os promotores da manifestação e mostraram-nos um projeto que visa beneficiar o bairro. Mas esse e outros projetos estão só no papel, nunca são postos em prática. Pediram-nos para que não aderíssemos à manifestação, com aquele intuito de suborno. Só que estamos fartos de negociar com essa gente, não dá para mais diálogo. Temos de exigir.

DW África: Os organizadores pretendem repetir a manifestação?

DM: As manifestações aqui são non-stop. Enquanto não houver saúde, educação, saneamento, e enquanto houver um alto nível de desemprego principalmente no seio dos jovens, não vamos parar. Há muitos jovens sem emprego, a saúde é precária, a prestação de serviços é má. Então, nós queremos, mesmo, fazer uma manifestação "non-stop". Já amanhã (09.10) haverá uma vigília no bairro Operário, porque estão a partir as casas dos moradores. E no dia 23 de maio, na administração do bairro de Belas também haverá outra manifestação, porque aqui estamos a viver pior que animais. A riqueza não está a ser dividida equitativamente, há um grupo que domina. E há o aumento do preço dos combustíveis, nós contestamos isso tudo. E automaticamente sobe o preço dos taxis e nós que não trabalhamos e não estudamos se aparecer 100 kwanzas para comer o pão já é algo difícil. Temos a sensação de que o Governo não se interessa pela forma como está a viver a população de Angola, principalmente a mais carenciada.

Nádia Issufo – Deutsche Welle

RÚSSIA REALIZA DESFILE MILITAR HISTÓRICO




Em memória dos 70 anos da capitulação da Alemanha à URSS na Segunda Guerra, soldados e tanques tomam as ruas da capital russa. Evento é boicotado por líderes ocidentais e aproveitado por Putin para estimular patriotismo.

Mais de 16 mil soldados marcharam pela Praça Vermelha, cerca de 200 tanques percorreram as ruas e 140 aviões sobrevoaram a capital russa neste sábado (09/05), numa grande parada militar por ocasião dos 70 anos do Dia da Vitória.

A data é considerada o feriado mais importante do país, marcando o dia da capitulação da Alemanha para a União Soviética na Segunda Guerra Mundial. O desfile deste sábado foi a maior parada militar realizada pela Rússia desde o colapso da URSS.

"Em quase todas as famílias russas, alguém morreu lutando por este país", disse o ex-marinheiro Alexander Smolkin, que assistia ao desfile. "Meu avô morreu defendendo a Rússia, este é o dia para nos lembrarmos deles."

Líderes ocidentais boicotaram o evento devido ao alegado papel desempenhado por Moscou no conflito no leste da Ucrânia, o que muitos russos consideraram um desrespeito. Estima-se que 27 milhões de soldados soviéticos tenham morrido na Segunda Guerra.

No entanto, o presidente Vladimir Putin recebeu a visita de cerca de 30 líderes estrangeiros, incluindo o presidente chinês, Xi Jinping. Num sinal de aproximação entre Moscou e Pequim, soldados chineses participaram das celebrações em Moscou. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, também assistiu à parada, que teve início às 10h (hora local).

Em seu discurso diante de soldados e veteranos de guerra, Putin disse que a carnificina do segundo conflito mundial sublinha a importância da cooperação internacional, mas "nas últimas décadas vimos tentativas de criar um mundo unipolar". A frase é usada com frequência por Moscou para criticar o suposto objetivo dos EUA de dominarem as questões internacionais.

Putin aproveitou a ocasião para estimular o patriotismo e sentimentos antiocidentais e exibir armamentos do país. O tanque Armata foi um dos destaques do desfile, tendo recebido aplausos ao cruzar a Praça Vermelha. O veículo militar é apontado por alguns especialistas como mais sofisticado que os do Ocidente, sendo o primeiro a ter uma cápsula interna blindada.

Entre os que boicotaram o evento em Moscou estavam a chanceler federal alemã, Angela Merkel, o presidente americano, Barack Obama, e os líderes da França e do Reino Unido. Merkel, no entanto, fará um gesto conciliatório. Neste domingo, ela irá à capital russa para colocar uma coroa de flores no túmulo do soldado desconhecido, juntamente com Putin.

Nesta sexta-feira, pela primeira vez em 70 anos, a Ucrânia se juntou à maior parte da Europa para as celebrações pelo fim da Segunda Guerra – um dia antes da Rússia, a qual Kiev acusou de explorar o aniversário para exibir seu poderio militar. Mais de 6 mil pessoas morreram no atual conflito entre separatistas pró-Rússia e tropas do governo no leste da Ucrânia.

Deutsche Welle - LPF/rtr/ap/dpa

“AS GUERRAS RECENTES DOS EUA/NATO NÃO PROVOCARAM MALES SUFICIENTES?”




Advertência de generais da antiga RDA: "As guerras recentes dos EUA/NATO não provocaram males suficientes?"

Como militares que tiveram posições responsáveis nas forças armadas da RDA, dirigimo-nos à opinião pública alemã com grande apreensão quanto à manutenção da paz e a sobrevivência da civilização na Europa.

Nos anos da Guerra-fria, nos quais vivemos longos períodos de confrontação e militarização à beira de conflito aberto, utilizámos nossa perícia militar para a manutenção da paz e a protecção da nossa República Democrática Alemã socialista. No Exército Nacional Popular não esteve envolvido num único dia em conflito armado e, nos eventos de 1989-90, desempenhou um papel importante procurando não chegar ao uso de armas. A paz sempre foi a regra de conduta número um do nosso comportamento. E isto porque nos opomos com firmeza à utilização do factor militar como instrumento de política. A experiência torna claro que as questões candentes do nosso tempo não são resolvidas por meios militares.

É importante recordar que o Exército Soviético suportou a carga principal da demolição do fascismo na Segunda Guerra Mundial. Nada menos que 27 milhões de cidadãos soviéticas deram as suas vidas para esta vitória histórica. Nós lhes devemos, e aos aliados, nossa gratidão agora no 70º aniversário da libertação.

Notamos agora que a guerra se tornou outra vez companhia constante da espécie humana. A nova ordem mundial dirigida pelos EUA e seus aliados nos últimos tempos levou a guerras na Jugoslávia, Afeganistão, Iraque, Iémen e Sudão, na Líbia e na Somália. Cerca de dois milhões de pessoas são vítimas destas guerras e milhões tornaram-se refugiados.

Agora os ventos da guerra atingiram a Europa. É simples ver que a estratégia dos EUA é eliminar a Rússia como competidor e enfraquecer a UE. Nos últimos anos a NATO tem rastejado cada vez mais perto das fronteiras da Rússia. Com a tentativa de colocar a Ucrânia dentro da NATO, o cordon sanitaire seria fechado desde os Estados bálticos até o Mar Negro, a fim de isolar a Rússia do resto da Europa. De acordo com o planeamento americano, qualquer aliança alemã-russa seria difícil ou impossível.

A fim de influenciar o público nesta direcção, uma campanha dos media sem precedentes está em plena actividade, onde os políticos incorrigíveis e os jornalistas corruptos estão a rufar os tambores da guerra. A República Federal Alemã, nesta atmosfera aquecida, devia estar a desempenhar um papel para o avanço da paz. A posição geopolítica da Alemanha e sua experiência histórica e os interesses objectivos do seu povo pedem isto, exactamente ao contrário dos apelos do presidente federal por maior responsabilidade militar e da histeria de guerra e russofobia instigada pelos media.

Encorajar a militarização da Europa Orienta não é brincar com o fogo, é brincar com a guerra!

Tendo consciência da natureza destrutiva da guerra moderna e em cumprimento das nossas responsabilidades como cidadãos, dizemos com plena clareza: aqui, neste momento, começa um crime contra a humanidade.

Será que os muitos mortos da Segunda Guerra Mundial, a enorme destruição por toda a Europa, os fluxos de refugiados e os infindáveis sofrimentos da humanidade já foram esquecidos? Será que as guerras mais recentes dos EUA e da NATO não trouxeram bastante dor? Será que já não ceifaram bastantes vidas humanas?

Não entendem o que significaria um conflito militar no continente europeu densamente povoado? Aqui viriam aviões de guerra às centenas, drones armados carregados com bombas e mísseis, milhares de tanques e veículos blindados, sistemas de artilharia. No Mar do Norte, no Mar Báltico e Mar Negro os mais modernos navios de guerra combateriam e, à espera nas asas, bombas atómicas.

Não haveria distinção entre frente e não frente. Mães, aos milhões, chorariam seus filhos, maridos, pais e irmãos. A paisagem da Europa seria a de uma terra devastada.

Deveríamos chegar a isto? Não, mil vezes, NÃO!

Portanto voltamo-nos para o público alemão:

Um tal cenário deve ser travado.

Não precisamos de qualquer retórica de guerra, precisamos ao invés de polemistas da paz.

Não precisamos de quaisquer missões no exterior da Bundeswehr e não precisamos de qualquer Exército da UE.

Não precisamos de mais financiamentos para objectivos militares; precisamos de financiamentos para necessidades sociais e humanitárias.

Não precisamos de qualquer guerra febril contra a Rússia; precisamos de mais entendimento mútuo, coexistência e boa vizinhança.

Não precisamos de qualquer dependência militar dos EUA; precisamos da nossa própria responsabilidade pela paz.

Ao invés de uma "Força de Reacção Rápida da NATO" nas fronteiras a Leste, precisamos de mais turismo, intercâmbios de juventude e passos rumo à paz com os nossos vizinhos do Leste.

Precisamos de uma Alemanha pacífica e uma Europa pacífica.

Possam nossos filhos, nossos netos, nossos bisnetos, recordar-nos este caminho.

Porque conhecemos todos demasiado bem o que significa a guerra, elevamos nossas vozes contra ela; elevamos nossas vozes pela paz.

Assinaturas

O General de Exército na reforma, Heinz Keßler

O Almirante na reforma Theodor Hoffmann

Os Generais-coroneis (Generaloberste) na reforma Horst Stechbarth; Fritz Streletz; Fritz Peter

Os Generais-tenentes (Generalleutnante) na reforma Klaus Baarß; Ulrich Bethmann; Max Butzlaff; Manfred Gehmert; Manfred Grätz; Wolfgang Kaiser; Gerhard Kunze; Gerhard Link; Wolfgang Neidhardt; Walter Paduch; Werner Rothe; Artur Seefeldt; Horst Skerra; Wolfgang Steger; Horst Sylla; Ehrenfried Ullmann; Alfred Vogel; Manfred Volland; Horst Zander

O Vice-Almirante na reforma Hans Hofmann

Os Generais-Majores (Generalmajore) na reforma Olivier Anders; Heinz Bilan; Bernhard Beyer; Günter Brodowsky; Kurt Brunner; Heinz Calvelage; Sebald Daum; Willi Dörnbrack; Alfred Dziewulski; Johannes Fritzsche; Egon Gleau; Otto Gereit; Roland Großer; Peter Herrich; Karl-Heinz Hess; Günter Hiemann; Lothar Hübner; Siegmund Jähn; Günter Jahr; Manfred Jonischkies; Günter Kaekow; Johannes Kaden; Helmut Klabunde; Klaus Klenner; Raimund Kokott; Kurt Kronig; Manfred Lange; Bernd Leistner; Hans Leopold; Klaus Listemann; Heinz Lipski; Hans Georg Löffler; Rudi Mädler; Manfred Merkel; Günter Möckel; Dieter Nagler; Johannes Oreschko; Rolf Pitschel; Hans Christian Reiche; Fritz Rothe; Günter Sarge; Dieter Schmidt; Horst Schmieder; Gerhard Schönherr; Gerhard Seifert; Kurt Sommer; Erich Stach; Manfred Thieme; Wolfgang Thonke; Henry Thunemann; Walter Tzschoppe; Günter Voigt; Gerd Weber; Dieter Wendt; Klaus Wiegand; Heinrich Winkler; Heinz-Günther Wittek; Erich Wöllner; Werner Zaroba; Manfred Zeh; Alois Zieris

Os Contra-Almirantes na reforma Herbert Bernig; Eberhard Grießbach; Hans Heß; Werner Henniger; Klaus Kahnt; Werner Kotte; Helmut Milzow; Gerhard Müller; Joachim Münch

Grande número de Coronéis e Capitães na reforma: Volker Bednara; Frithjof Banisch; Bernd Biedermann; Karl Dlugosch; Thomas Förster; Günter Gnauck; Günter Leo; Friedemann Munkelt; Werner Murzynowski; Gerhard Matthes; Lothar Matthäus; Friedrich Peters; Helmut Schmidt; Fritz Schneider; Heinz Schubert; Helmar Tietze; Wilfried Wernecke; Rolf Zander; Oberstleutnant a.D. Günter Ganßauge

Grande número de oficiais, candidatos a oficiais, sub-oficiais e soldados do Exército Nacional do Povo manifestou o seu apoio. 

O original encontra-se em Junge Welt e a versão em inglês em fortruss.blogspot.pt/2015/05/a-warning-from-generals-of-former-gdr.html 

Este manifesto encontra-se em http://resistir.info/ 

PERIGO DE “NOVA GUERRA MUNDIAL NÃO DEVE SER SUBESTIMADO” – Jerónimo




O secretário-geral do PCP defendeu hoje que o perigo de "uma nova guerra mundial não deve ser subestimado", falando durante uma sessão de comemoração dos 70 anos da vitória dos Aliados na Segunda Guerra Mundial.

"Na complexa e instável situação internacional dos nossos dias, o perigo de um conflito militar de grandes proporções, de uma nova guerra mundial, não deve ser subestimado", defendeu o líder comunista, Jerónimo de Sousa.

Na designada sessão "70.º aniversário da vitória sobre o nazi-fascismo", que decorreu no auditório do Liceu Camões, em Lisboa, o secretário-geral do PCP argumentou que, "a situação mundial, distinguindo-se por importantes diferenças resultantes de novas realidades e das profundas transformações entretanto ocorridas, apresenta, no entanto, alguns traços semelhantes com a situação mundial que antecedeu a Segunda Guerra Mundial".

"Os setores mais reacionários e agressivos do grande capital apostam de novo no fascismo e na guerra como respostas para a crise do capitalismo e como forma de prevenir e enfrentar explosões de revolta social e de transformação revolucionária que inevitavelmente irromperão", sustentou.

Jerónimo de Sousa fez estas afirmações entre uma linha der argumentação de defesa da "verdade histórica", perante "as sistemáticas e premeditadas tentativas de falsificação dos acontecimentos" da II Guerra, nomeadamente a "a insultuosa equiparação do fascismo com o comunismo, que equipara o opressor com o resistente ou o carrasco com a vítima".

As "lições do passado" e o conhecimento da "verdade histórica" são mais necessários ainda, disse, "perante o avanço de forças fascistas, o crescimento do militarismo, a multiplicação de guerras de agressão imperialistas, perante os crescentes ataques a direitos, liberdades e garantias fundamentais a pretexto do 'combate ao terrorismo', perante a institucionalização de sistemas de poder supranacional ao serviço do grande capital e das grandes potências que, como na União Europeia, colocam em causa a soberania nacional e a democracia, perante o domínio imperialista dos fluxos de informação e o controlo dos grandes meios de comunicação social pelo grande capital".

Jerónimo de Sousa considerou "necessário prosseguir com determinação a luta para que tragédia semelhante aquela que há 70 anos terminou jamais aconteça".

"Setenta anos depois da vitória sobre o nazi-fascismo, a luta pela paz, contra o fascismo e a guerra, é de uma premente atualidade, exigindo que as forças da paz, da democracia e do progresso social se unam para travar o avanço das forças xenófobas, racistas, fascistas e impedir um conflito de grandes proporções", declarou.

Jerónimo de Sousa disse que "o PCP continuará empenhado, em Portugal e no plano internacional, pela sua ação própria e no quadro do movimento comunista e revolucionário internacional e da frente anti-imperialista, em contribuir para a unidade da ação das forças da paz e do progresso social".

Essa ação dirige-se, apontou, "na luta em prol da dissolução da NATO, contra a militarização da União Europeia, pelo fim das bases militares estrangeiras, pelo desarmamento, em particular, pela abolição das armas nucleares e outras armas de destruição massiva, pelo respeito pela Carta das Nações Unidas e, em particular, da soberania dos estados" e pela "solidariedade com todos os povos vítimas da opressão e das ingerências e agressões do imperialismo, como com o povo ucraniano e o povo palestiniano".

Em Portugal, o líder comunista apontou a necessidade do "reforço da luta contra a política agressiva do imperialismo, pelo desarmamento e a paz" pelo qual passará "a derrota da política de direita de submissão ao imperialismo".

A sessão encerrada pela intervenção de Jerónimo de Sousa foi ocupada por declamação de poesia, momentos musicais, com o Coro Lopes-Graça, por exemplo, e performances teatrais.

Lusa, em Notícias ao Minuto

Portugal. LOUREIRO PASSEIA-SE “IMPUNEMENTE DE JAGUAR” MAS É “EXEMPLO”




O candidato à Presidência da República usou o Facebook para criticar Pedro Passos Coelho e Dias Loureiro.

Numa publicação feita esta quarta-feira no Facebook, Paulo Morais não se poupa nas críticas feitas a Dias Loureiro e a Pedro Passos Coelho.

O candidato à Presidência da República repudia o facto de o antigo ministro dos Assuntos Parlamentares e da Administração Interna passear “impunemente, de Jaguar, por Lisboa” e ser considerado como “exemplo” por Pedro Passos Coelho, mesmo tendo estado envolvido, defende, na falência do BPN.

"Dias Loureiro foi ministro de Cavaco Silva e secretário-geral do PSD, que dirigia, a par de Cavaco Silva e Duarte Lima, então líder parlamentar. Ajudou, com a sua estrutura de poder, a criar um banco, o Banco Português de Negócios, que mais tarde administrou. E ajudou a falir. Nos Dias de hoje, Loureiro passeia-se, impunemente, de Jaguar, por Lisboa. Passos Coelho aponta-o como exemplo de iniciativa e sucesso. Há Dias assim", escreve o candidato a Belém.

Em pouco tempo, a publicação já foi partilhada por mais de 250 utilizadores da rede social e conta com mais de 500 gostos.

De momento, o texto tem já perto de cem comentários, nenhum de Dias Loureiro ou Pedro Passos Coelho.

Notícias ao Minuto

Portugal. “O GOVERNO É UMA VERDADEIRA ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA” – Paulo Morais




O candidato a Belém defende que a corrupção, "o maior problema da política portguesa", só pode ser combatida no Parlamento.

Paulo Morais, candidato à Presidência República, tem no combate à corrupção uma das suas principais bandeiras. Diz que não é antissistema, mas “anti este sistema” e condena fortemente as privatizações.

“O Governo, uma verdadeira associação criminosa, entregou o património do Estado a uma oligarquia próxima do atual poder. E o poder judicial? Faz o pouco que pode porque tem meios ridículos”, sustenta.

Em entrevista ao semanário Sol, publicada esta sexta-feira, Paulo Morais condena ainda o que diz ser uma “promiscuidade absoluta entre a política e os negócios […] que só se encontra na Mongólia”.

E provas? O candidato diz que a corrupção é “tão generalizada, tão impune”, que basta “fazer um Google”.

Social-democrata assumido na ideologia, Paulo Morais garante que teria demitido Passos no primeiro ano de governação, ao perceber que quebrara promessas, e não espera apoio de nenhuma força política. “Só aceito donativos de pessoas particulares e até 100 euros”, disse ao jornal.

Lusa, em Notícias ao Minuto

Belém. "Comigo, Governo que não cumpra promessas será despedido"

O candidato à Presidência da República Paulo Morais afirmou hoje que, caso seja eleito, demitirá "por triste e má figura", um primeiro-ministro que não cumpra com o que se comprometeu durante a campanha eleitoral.

"Um primeiro-ministro que desenvolva uma política contrária ao que prometeu em campanha eleitoral, se violar esse contrato, só pode ter um caminho comigo a Presidente da República, que é o despedimento por triste e má figura", assegurou à agência Lusa Paulo Morais, à margem da visita que efetuou à Feira do livro, em Portimão.

Para o antigo vice-presidente da Câmara do Porto, durante o mandato de Rui Rio (PSD) entre 2002 e 2005, "de acordo com o artigo 195.º da Constituição, o presidente não só tem o direito, como tem a obrigação de em nome do povo que o elegeu, de demitir o primeiro-ministro e o parlamento".

Paulo Morais acrescentou que "o combate à mentira política" é uma das linhas de força da sua candidatura, sublinhando que "é necessário que deixem de fazer da política um jogo da sedução, porque quando são eleitos não fazem o que pensaram nem o que disseram".

"Não podemos continuar a assistir como aconteceu com Durão Barroso (PSD), José Sócrates (PS) e Pedro Passos Coelho (PSD), a prometerem durante a campanha eleitoral que vão baixar os impostos ou pelo menos não os aumentar, mas a primeira coisa que fazem quando chegam ao poder, é precisamente o contrário", destacou.

Paulo Morais garantiu que vai levar "até ao fim" a sua candidatura à Presidência da República, com a definição de quatro linhas de força: o combate à corrupção, que considera a "fonte de todos os males da sociedade portuguesa", a defesa da Constituição, o aumento da transparência da vida pública e o combate à mentira política.

Lusa, em Notícias ao Minuto

Portugal. A 13 de maio chega ao fim transição para Acordo Ortográfico




Na quarta-feira cumprem-se os seis anos do período de transição para a aplicação do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, tendo em conta a data de 13 de maio de 2009, que marca a entrada em vigor em Portugal.

O Acordo Ortográfico (AO) é uma convenção internacional, que em Portugal foi aprovada por resolução da Assembleia da República em 2008.

A nova grafia é usada desde 01 de janeiro de 2012 nos documentos do Estado, em todos os serviços, organismos e entidades na tutela do Governo, bem como no Diário da República, embora ainda sujam, com alguma frequência, palavras escritas com a antiga ortografia.

Quando aprovou esta medida, em 2008, o Conselho de Ministros adotou também o Vocabulário Ortográfico do Português e o conversor Lince como ferramentas de suporte à nova grafia, disponibilizados em www.portaldalinguaportuguesa.org. e sujeitos a "alterações pontuais até 2015".

O Vocabulário Ortográfico Comum da Língua Portuguesa (VOC) é a plataforma que alberga os instrumentos que determinam legalmente a ortografia da língua portuguesa, tendo sido reconhecido oficialmente pelos estados membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).

A assinatura do acordo baseou-se em objetivos de reforço do papel da língua portuguesa como idioma de comunicação internacional e de uma maior uniformização ortográfica entre os países da CPLP.

A nova grafia chegou às escolas portuguesas faseadamente, começando no ano letivo 2011-2012 e completando-se no presente ano letivo, com a obrigatoriedade de aplicação em todas as provas e exames.

Vários autores manifestaram-se contra o acordo, continuando a escrever até hoje pela grafia anterior, o mesmo acontecendo em jornais e outras publicações, o que levou associações de professores a defender mais alguma tolerância com os alunos por o AO ainda não estar consolidado na sociedade portuguesa.

Face a iniciativas destinadas a suspender a aplicação do acordo, nomeadamente nos exames escolares, o Ministério da Educação fez saber recentemente que não é sua intenção aceitar essa pretensão.

"Importa equacionar os constrangimentos que uma eventual suspensão do AO provocaria, pois desde 01 de setembro de 2011 que o mesmo está implementado e em uso em todos os organismos da Administração Pública e nas escolas", justificou.

O acordo foi assinado em Lisboa em 1990, resultando o texto da discussão então realizada em Portugal, Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe.

A resolução da Assembleia da República n.º 35/2008 aprovou o acordo do Segundo Protocolo Modificativo ao Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, adotado na V Conferência dos Chefes de Estado e de Governo da CPLP, realizada em São Tomé em 26 e 27 de julho de 2004.

"O depósito do respetivo instrumento de ratificação foi efetuado em 13 de maio de 2009, tendo o referido acordo entrado em vigor para Portugal nesta data", de acordo com aviso do Ministério dos Negócios Estrangeiros publicado em Diário da República.

O Acordo Ortográfico foi ratificado pela maioria dos países lusófonos, à exceção de Angola e Moçambique. Em Angola ainda não foi ratificado por qualquer órgão político, enquanto em Moçambique já foi aprovado em Conselho de Ministros, faltando ainda a ratificação pelo parlamento.

No Brasil, país que, tal como Portugal, estabeleceu uma moratória para a aplicação plena, o Acordo Ortográfico entra em prática em janeiro de 2016.

Lusa, em Notícias ao Minuto

LINHA DIRETA COM VLADIMIR PUTIN




Enquanto o presidente Obama evita responder às perguntas dos seus concidadãos e não se pronuncia em público senão lendo os teletextos, o presidente Putin improvisou uma longa sessão de perguntas-e-repostas com o seu povo.

Thierry Meyssan*

As autoridades russas poucos documentos publicam sobre a sua visão do mundo. Assim, a emissão «Linha directa» com Vladimir Putin oferece-nos a oportunidade, rara, para avaliar a evolução da percepção das coisas por Moscovo. Para além da performance do presidente, que respondeu durante 4 horas às perguntas do seu povo, reter-se-á que a Rússia parece renunciar a regularizar as suas relações com os Estados Unidos e a preparar-se para um longo isolamento do Ocidente.

A 16 de abril último Vladimir Putin sujeitou-se a um inacreditável exercício : responder durante quatro horas, de enfiada, a perguntas dos seus compatriotas, ao vivo, em três canais de televisão e três estações de rádio. Os organizadores receberam durante a transmissão mais de 3 milhões chamadas telefónicas e colocaram 74 perguntas ao presidente [1].

Mesmo que certas questões tivessem sido claramente preparadas, outras foram improvisadas. As reações de Vladimir Putin mostram, com nitidez, o seu pensamento.

Como governar

Em primeiro lugar, o presidente explicou a sua visão das instituições sem fazer referência às categorias ocidentais de «República» (serviço do Interesse comum), ou «Democracia» (governo do povo pelo povo), nem ao conceito do seu conselheiro Vladislav Surkov de «Democracia soberana» (quer dizer, de uma gestão popular sem interferências externas).

Segundo ele, o papel do Estado é o de ajudar os seus cidadãos, e, o dos dirigentes políticos de manter a unidade do povo e a estabilidade. Assim explicou, que rejeitou esta ou aquela decisão ---que seriam razoavelmente desejáveis–- porque iriam quebrar a unidade do povo. Da mesma forma, ele opõe-se a alterações legislativas frequentes, afirmando que as pessoas não podem confiar em líderes que mudam constantemente as regras do jogo. Ele mostrou um desinteresse completo pelo tipo de gestão ocidental, com as suas isenções fiscais sectoriais e as suas dotações proporcionais aos rendimentos. Ao contrário, ele concebe o seu papel como o de ordenador dos grandes projectos e de um mentor de regras o mais simples possíveis.

A política económica

Como em todos os países, as perguntas dos cidadãos visavam primeiro os problemas económicos. A Rússia está a atravessar uma grave crise no seguimento dos embargos ocidentais (as pretensas “sanções”) e da baixa do preço mundial do petróleo. O poder de compra dos aposentados foi mantido, mas, considerando a inflação, o dos activos baixou cerca de 10%.

Para V. Putin, o principal problema vêm da baixa dos preços do petróleo e da queda das receitas que esta causou. Ele considera que o seu país se deve adaptar a estes novos dados que ameaçam prolongar-se. Os embargos, pelo contrário, não diminuem em nada a riqueza do país, mas obrigam-no a reorganizar-se. Eles permitem mesmo uma pausa, após o período de concorrência feroz que se seguiu à adesão à OMC. A Rússia deve aproveitá-lo para salvar a sua agricultura, parcialmente ameaçada. Ela deve fazê-lo para benefício dos seus agricultores, mas, também, por necessidade estratégica. O embargo mostrou que o país não era auto-suficiente e que a sua Segurança alimentar poderia ser ameaçada.

Vladimir Putin não acha que as manobras ocidentais — inclusive a manipulação de dívidas privadas para tornar, assim, o Estado em devedor — ameacem o sistema bancário russo. Ele estima poder chegar-se à estabilização do rublo antes do final de 2016.

A política externa

Definindo a sua política externa, V. Putin afirma não ter ambições imperiais. Ele critica mesmo o modo como a URSS impunha aos parceiros o seu próprio modelo económico e admite que a Rússia paga, hoje em dia, por esse erro.

Contudo, ele afirma a sua responsabilidade de proteger todos aqueles que, tenham ou não um passaporte russo, se definam como de cultura russa.

Instado a precisar quem são os inimigos da Rússia, ele cita o terrorismo, a xenofobia e o crime organizado. Ele ressalta que o seu país não visa a nenhum Estado como inimigo e implora aos outros Estados para agir de forma reciproca.

Dito isso, ele considera os E.U. como um império, mesmo se não os designa formalmente assim, e acusa-os de não ter aliados mas unicamente vassalos. Ele observa que eles adulavam Boris Yeltsin até este lhes fazer frente na Jugoslávia e que eles, então, o cobriram de insultos. De um modo geral, ele reprova-lhes o que ele criticou na URSS, a saber, tentar impôr aos outros o seu próprio modelo económico. E, conclui, que eles falharão da mesma forma e pagarão o preço.

A propósito da Ucrânia, ele considera que Washington manipulou as frustrações das pessoas falando-lhes de nacionalismo. Assim sendo, tomam a Rússia, que lá investiu 32.000 milhões dólares americanos, como um inimigo, e os Estados Unidos como um aliado, quando eles não investiram mais que US $ 5 biliões(bilhões-br). Ele diz que a Rússia perdeu por razões de política interna local, sem precisar que antigos aliados ucranianos do seu país ele põe em causa. Para ele, importa salvar as populações de cultura russa do Donbass e de Lugansk, razão pela qual ele entende fazer aplicar os acordos de Minsk.

Para definir as alianças russas, Vladimir Putin cita três organizações: 

os BRICS ;
a Organização do Tratado de Xangai ;
e a Organização do Tratado de Segurança Colectiva, que é uma aliança militar. 

Mas não a União económica eurasiática que parece ainda embrionária.

A política de Defesa

O presidente Putin cita o Czar Alexandre III, para quem a Rússia só tinha como verdadeiros aliados o seu Exército de terra e a sua Marinha. Ele confirmou que o seu país detêm, aproximadamente, as mesmas capacidades nucleares que os Estados Unidos e concluiu que se pode considerar, razoavelmente, esse ponto de vista tanto de um lado como do outro. Por fim, ele anunciou que, em 2020, 70% do equipamento militar terá sido actualizado. Os exércitos terão, pois, reencontrado o seu poderio de antanho.

A propósito dos Mistrais encomendados à França, ele notou que se tratou, na altura, mais de vir em ajuda dos estaleiros navais franceses que de preencher uma necessidade russa ; uma maneira elegante de não evocar os subornos compartilhados, préviamente, entre Nicolas Sarkozy e Dmitry Medvedev (que, então, ambicionava a apresentar-se contra ele à presidência). Ele anunciou que só exigirá o reembolso das somas envolvidas se elas não forem pagas. Deve-se reconhecer que a soberania e a fiabilidade da França já não são o que eram, desde o seu reingresso ao seio do estado-maior integrado da Otan, prosseguiu ele.

Interrogado sobre o Emirado Islâmico, ele observou que esta organização surgiu no Iraque, e, aproveitou os numerosos militares iraquianos que foram marginalizados pelo ocupante norte-americano e os poderes que ele colocou na chefia. Ele adverte contra o perigo que representam os expatriados russos, e dos ex-países soviéticos, que se juntaram ao Daesh(E.I.) e que podem regressar a casa para aí cometer atentados.

A vitória fundacional contra o nazismo

Vladimir Putin multiplica as alusões à «Grande Guerra Patriótica», quer dizer à Segunda Guerra Mundial e à luta contra o nazismo. É, com efeito, aos seus olhos o acto fundador da Rússia moderna, aquele pelo qual povos muito diversos se uniram em prol da sua liberdade comum. Ao fazê-lo, ele admite que a Revolução de 1917 tal como a criação da Federação, em 1991, não são os eventos federadores.

Esta referência obriga-o a denunciar, sem possibilidade de compromisso, a presença de nazis no poder em Kiev, enquanto a União Europeia se acomoda com isso muito bem. Ela permite-lhe, igualmente, sugerir que os Estados Unidos são os sucessores do IIIº Reich, o que ele já havia explicado, no passado, levantando violentas polémicas .

Thierry Meyssan* - Tradução Alva

[1] “Direct Line with Vladimir Putin” (Ing-«Linha Directa com V. Putin»- ndT), por Vladimir Putin, Voltaire Network, 16 April 2015.

Intelectual francês, presidente-fundador da Rede Voltaire e da conferência Axis for Peace. As suas análises sobre política externa publicam-se na imprensa árabe, latino-americana e russa. Última obra em francês: L’Effroyable imposture: Tome 2, Manipulations et désinformations (ed. JP Bertrand, 2007). Última obra publicada em Castelhano (espanhol): La gran impostura II. Manipulación y desinformación en los medios de comunicación(Monte Ávila Editores, 2008).

AS RAZÕES DO DIA MUNDIAL CONTRA A MONSANTO




Dezenas de países preparam, em 23/5, protesto contra transnacional que, além de atentar contra ambiente e agricultores, envolveu-se com submundo da política e dos exércitos privados

Luã Braga de Oliveira – Outras Palavras

Você sabia que existe um Dia Mundial Contra a Monsanto? Muitos não conhecem a empresa pelo nome, ou talvez tenham apenas ouvido falar dela, sem saber ao certo seu setor ou posicionamento. Entretanto, quase todo mundo faz uso contínuo de alimentos a base dos organismos geneticamente modificados (OGMs) produzidos e vendidos pela corporação.

O fato é que este ano a Marcha Mundial Contra a Monsanto ocorrerá no dia 23 de Maio e levará milhares de pessoas as ruas, por todo o mundo, para protestar contra a atuação e práticas da corporação. Mas por que existe um dia mundial dedicado exclusivamente à denúncia deste gigante da agroquímica? O que de tão nefasto representa esta empresa? Vamos tentar relembrar os principais fatos da trajetória da Monsanto que a fizeram se considerada pela revista Fortune como “possivelmente a corporação mais temida da América”. Prejuízos aos pequenos agricultores, possíveis danos à saúde e meio ambiente, formação de lobby, manipulação de pesquisas científicas e até a contratação de mercenários são algumas das polêmicas nas quais a empresa se envolveu ao longo de seus 103 anos de existência.

A Monsanto é uma multinacional de alcance global da área de agricultura e biotecnologia. É especializada em engenharia genética (produção de organismos geneticamente modificados), sementes e herbicidas. Criada em 1901 como uma companhia novata na área da engenharia química, aos poucos tornou-se a maior empresa do mundo no setor, fornecendo produtos à base de organismos geneticamente modificados para gigantes como a Coca-Cola, a Pepsico e a Kraft. Hoje, controla 90% do mercado de sementes transgênicas do mundo – consagrando-se como um dos maiores monopólios já vistos. O crescimento da empresa foi vertiginoso. Recentemente, ela adquiriu diversas empresas na América do Sul e no Leste Europeu, dominando consistentes fatias de mercado em países como Argentina, México e Brasil – onde está presente há quase 60 anos.

Este crescimento tem representado uma ameaça real à sobrevivência de pequenos produtores em todo o mundo. Em seus contratos de venda de sementes, a Monsanto prevê que os pequenos produtores não poderão guardar nenhuma semente e são obrigados a permitir que a empresa vistorie suas plantações a qualquer momento. Além disso, as sementes geneticamente modificadas são apenas tratadas com os herbicidas vendidos pela própria companhia, fato que condiciona os agricultores à dependência. De todo modo, os impactos dos produtos geneticamente modificados comercializados pela Monsanto vão além da esfera socioeconômica.

m estudo de 2009 do Journal of Biologycal Science¹ mostrou que o consumo do milho proveniente da semente geneticamente modificada pode produzir efeitos negativos em órgãos como os rins e o fígado. Outro estudo, publicado em 2012 na Food And Chemical Toxicology², constatou que ratos submetidos a uma dieta à base de organismos geneticamente modificados morrem mais rápido e são mais propensos ao desenvolvimento de câncer. Para chegar a esta conclusão, cientistas administraram em 200 ratos, durante dois anos, três dietas distintas: uma à base de milho convencional, outra a base do milho transgênico NK603 e outra a base do NK603 tratado com o herbicida RoundUp. Tanto o milho transgênico NK603 como o herbicida RoundUp (o mais utilizado do mundo) são pertencentes à Monsanto. O resultado foi a morte acelerada de parte dos ratos e o aparecimento de tumores enormes naqueles cuja base da dieta fora o milho transgêncio NK603, da Monsanto.

A pesquisa divulgada pela Food And Chemical Toxicology gerou controvérsias. Enquanto recebeu o apoio de diversos cientistas pelo mundo, alguns a criticaram, afirmando que houve viés na metodologia, o número de ratos fora inadequado e aquele tipo de rato de laboratório já possuía propensão ao desenvolvimento de tumores. Após forte pressão, a revista cedeu e, um ano depois, anunciou a retirada do estudo por ela publicado. A decisão, todavia, não agradou ao principal autor da pesquisa – o diretor científico do Comitê para Investigação e Informação Independente sobre Engenharia Genética da França, Gilles-Éric Séralini. O cientista reafirmou que a pesquisa não continha fraudes e que, caso a revista insistisse em sua decisão de retirar a publicação, iria acioná-la judiciamente por danos morais. A despeito da pesquisa de Séralini, outras pesquisas ao longo das décadas já confirmaram em condições similares os efeitos dos organismos geneticamente modificados sobre a saúde humana. Além disso, as empresas que controlam o setor – sobretudo a Monsanto – possuem altos níveis de poder acumulado, que lhes permite interferir em pesquisas e políticas públicas por meio da formação de lobby para benefício de seus produtos.

Dessa forma, o poder econômico acumulado pela Monsanto lançou as bases para um acúmulo significativo de poder político. Executivos da Monsanto foram posicionados em cargos estratégicos do governo dos Estados Unidos — dentre eles, a Agência de Proteção Ambiental [“Environmental Protection Agency”, EPA], o ministério da Agricultura [U.S. Departament of Agriculture”, USDA] e o Comitê Consultivo do Presidente Obama para Política Comercial e Negociações. A Monsanto ainda posicionou funcionários em cargos estratégicos em universidades pelo mundo, dentre elas a South Dakota State University, o Arizona State’s Biodesign Institute e a Washington University. Desde 1980, políticas federais americanas têm incentivado instituições públicas de ensino a produzir pesquisas nas áreas agrícola e de biotecnologia em parceria com empresas privadas. Em consonância com esta política, a Monsanto tem inundado instituições públicas de ensino com investimentos. Em troca, tem seus produtos protegidos e fortalecidos por um arcabouço de pesquisas técnicas e científicas com viés favorável.

Além de cargos no governo e na academia norte-americana, executivos da Monsanto posicionaram-se em cargos em instituições-chave para política alimentar e científica de seu país ou de âmbito internacional, como o “International Food and Agricultural Trade Policy Council”, o “Council for Bitechnology Information”, a “United Kingdom Academy of Medicine”, a “National Academy of Sciences Biological Weapons Working Group”, a “CropLife International” e o “Council of Foreign Relations”.

Naturalmente, as posições privilegiadas alcançadas pela Monsanto renderam-lhe excelentes retornos. Em 1993, a Agência para Alimentação e Medicamentos [Food and Drug Administration”, FDA] dos EUA aprovou o uso de um produto denominado “Hormônio de Crescimento Bovino” [Recombinant Bovine Hormone, ou rBGH]. Desenvolvido pela Monsanto, trata-se de uma droga hormonal injetada em vacas de modo a incentivar a produção de leite. O rBGH foi a primeira substância geneticamente modificada aprovada pelo FDA.

A aprovação foi no mínimo controversa. Estudos apontaram que o rBGH produziria sérios impactos na saúde física e psicológica das vacas. O mais comum deles, a mastite bovina, é tratada com base na administração de antibióticos. A exposição constante das bactérias aos antibióticos contribui para a criação de bactérias resistentes que podem infectar seres humanos. Além disso, alguns estudos também apontaram que o consumo do leite com resíduos do hormônio aumentaria o risco de desenvolvimento de câncer de colo, de mama e de próstata. A substância é proibida nos 27 países da União Europeia, mas graças ao poderoso lobby da Monsanto nos EUA sua utilização é liberada – o que também ocorre no Brasil…

Após a aprovação do uso do rGHB pelo FDA, funcionários ligados à Monsanto que trabalhavam na FDA foram investigados pelo Escritório de Prestação de Contas do Governo [Government Accountability Office” (GAO)] por formação de lobby. O GAO investigou os executivos Michael Taylor, Margaret Miller e Suzanne Sechen. Os três funcionários tiveram ativa participação no desenvolvimento da droga e, posteriormente, exerceram funções na FDA, tornando-se responsáveis pela avaliação e aprovação do produto que ajudaram a desenvolver. Ao fim da investigação, o GAO concluiu que não havia dispositivos legais para incriminar os envolvidos e que não havia provas cabais de conflitos de interesses no caso.

Em 2012, a empresa opôs-se à chamada Proposition 37 – apelidada pelos americanos de Iniciativa pelo Direito a Saber [Right to Know initiative]. A iniciativa propunha-se a promulgar, no estado da Califórnia, uma lei obrigando as empresas que vendessem produtos à base de ingredientes geneticamente modificados a neles instalarem rótulos visíveis alertando para tal fato, evitando assim a venda destes produtos como naturais. Esta iniciativa, no entanto, não passara incólume pelo imenso poder de barganha das grandes indústrias do setor, sendo a Monsanto sua “ponta-de-lança”. Empresas como Nestlé e Mars Inc. despejaram mais de 370 mil dólares em campanha contra o projeto. Só a Monsanto despejou, sozinha, 8,1 milhões de dólares em campanhas contra a iniciativa, estabelecendo-se como doadora majoritária em uma campanha que totalizou 45 milhões de dólares arrecadados de diversas empresas envolvidas na derrubada da proposta. É claro que com todo este empenho a iniciativa não prosperou e os californianos não conquistaram o direito de saber a procedência do alimento estão ingerindo.

No Brasil, a Câmara dos Deputados aprovou, em 28 abril deste ano, por ampla maioria o Projeto de Lei 4.148/2008³, de autoria do deputado ruralista Luiz Carlos Heinze (PP-RS), que ao contrário da legislação vigente (baseada na Lei 11.105/2005) propõe a não obrigatoriedade da rotulagem de alimentos a base de OGMs.

Para além das polêmicas e controvérsias citadas até agora, a Monsanto ainda guarda em sua história íntimas relações com o poder militar. É fato público e conhecido o fornecimento do famoso Agente Laranja lançado nas plantações do Vietnan pelas forças armadas norte-americanas que guerreavam para manter o país sob dominação. As consequências, entre as populações que serviram de alvo, foram sentidas por muitos anos. O que pouco se sabe é que há indícios de ligações da Monsanto com forças militares mercenárias. A empresa contratou serviços de espionagem de empresas ligadas a conhecida antiga Blackwater (agora XE) – uma das maiores companhias militares privadas do mundo. Segundo documentos obtidos pela revisga The Nation4 a empresa usou de serviços oferecidos por duas empresas de espionagem – “Total Intelligence Solutions” e “Terrorism Research Center” – cuja propriedade é do dono e fundador da XE, Eric Prince. Os documentos apontam que entre os serviços prestados à Monsanto por estas empresas estão a infiltração de espiões em movimentos sociais, ONGs e entidades protetoras dos animais e de combate aos transgênicos. Alguns sugerem que esta relação da Monsanto com empresas de espionagem explique o misterioso vírus que atacou os computadores de ativistas da organização “Amigos da Terra” e da “Federação para o Meio Ambiente e Proteção à Natureza” da Alemanha. O ataque se deu no contexto de apresentação de uma pesquisa realizada por estas entidades sobre os efeitos da substância glisofato no corpo humano. O glisofato é base de um dos produtos mais rentáveis vendidos pela monsato – o herbicida RoundUp. A empresa afirmou que não teve e jamais teria envolvimento no fato.

O histórico e a atuação da Monsanto no seu setor, considerando todas as polêmicas e controvérsias nas quais a corporação se envolveu, trazem à tona o necessário debate acerca dos custos e benefícios envolvidos no desenvolvimento de organismos geneticamente modificados. Se por um lado a biotecnologia e a agroquímica trouxeram crescente otimização da produção e distribuição de insumos, é necessário refletir acerca das consequências do uso destes insumos, da garantia da liberdade de pesquisa com relação a seus efeitos e principalmente das consequências da extrema concentração deste mercado nas mãos de pouquíssimas corporações. Afinal de contas, como dito, não é todo dia que uma empresa ganha um Dia Internacional de protestos contra si.

A maior parte das informações aqui relacionadas pode ser encontrada no relatório “Monsanto: A Corporate Profile”, da ONG Food & Water Watch. Além disso, o portal “Esquerda.net” possuiu um dossiê completo da empresa e sua atuação pelo mundo. Para os que preferem material audiovisual, existe uma série documentários que tratam de maneira crítica da questão dos transgêncios e das poderosas corporações do setor. São alguns deles eles: “Food Inc”, “The future of Food”, “El Mundo Según Monsanto” e “Seeds of Free”. O site oficial da Marcha Mundial Contra a Monsanto pode ser acessado em: http://www.march-against-monsanto.com/.

REFERÊNCIAS
¹ Disponível em : http://www.ijbs.com/v05p0706.htm
4 Disponível em: http://www.thenation.com/article/154739/blackwaters-black-ops#

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