quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Portugal. 16 ANOS DE ENJOOS



João Quadros – Jornal de Negócios, opinião

O ano termina com uma boa notícia. 16 anos depois, Portas sai da liderança do CDS. Foi a sua resolução de ano novo e um dos meus desejos quando mordi uma das velas no meu aniversário.

O anúncio foi feito segunda-feira (28/12) na comissão política, mas claro que ninguém acreditou e toda a comissão política pensou que na terça já ia ser diferente. Mas não. Tudo indica que agora é mesmo verdade, o PP vai perder as iniciais. O partido com o ferro de Paulo Portas vai perder o ganadeiro. Poucos políticos conseguiram ter um partido com as mesmas iniciais que tinham nas cuecas ou nas meias em crianças. Um partido botão de punho.

Portas, nos últimos anos, andou com o PP para onde quis, qual mala Louis Vuitton com as suas iniciais. A Moderna, os submarinos, o eurocéptico, os ex-combatentes, os pensionistas, os Pandur, os reformados, as fronteiras, o irrevogável, o PàF, a agricultura, as fotocópias. Portas já foi tudo e nada. A verdadeira geringonça política em todo o seu esplendor. Recordar que Paulo Portas começa carreira no jornalismo com nojo da política e que termina a carreira de político sem enjoos. Muitas vezes nos questionámos, aqui no café ao pé de casa, o que diria o Independente dos submarinos. Ou do Irrevogável. Portas seria o Cavaco de Portas do Independente.

Portas, qual Luís Filipe Vieira, quer apostar nas novas gerações, na formação das escolas do PP. Nuno Melo pode ser aposta. Entra na categoria nova geração pois, apesar do cabelo branco, quando abre a boca fala como um miúdo de quinze alcoolizado. Para Nuno Melo, a política é uma viagem de finalistas.

Outra potencial candidata das oficinas do PP é Assunção Cristas. Representa um lado mais beato do PP já a roçar o CDS. Só o nome – Assunção Cristas – deve valer votos dos mais crentes. Há igrejas e cultos com nomes menos capazes. Dizem alguns fãs do ex-Governo que Assunção pode ter o voto dos agricultores, ou seja, para aí umas setenta pessoas. Assunção ficou famosa, enquanto ministra da Agricultura, por ter rezado a Deus para acabar com a seca e por ter ficado grávida. E uma coisa não teve nada a ver com a outra.

Pedro Mota Soares é outro candidato jovem. Ou melhor, uma daquelas pessoas de idade indefinida, como o actor Manuel Marques. Tanto pode parecer ter dezoito anos como cinquenta e dois. De moto é um puto, no Audi do Governo parece um velhinho marreco. Pedro Mota Soares é, provavelmente, o candidato mais queimado na opinião pública. A sua passagem pela Segurança Social faz com que muita gente pense que ele nem mota devia guiar.

Alguns jornais falam numa eventual candidatura do jovem Telmo Correia, agora que o bi-quarentão Adriano Moreira foi para o Conselho de Estado. Eu acho que o Telmo Correia tem aquele problema de pertencer ao PP e ter ar de queque mas, depois, chama-se, Telmo. Não dá. Se ainda fosse Guilherme Telmo, ou qualquer outra coisa. Telmo, não dá. O Nuno, a Tegui e o Telmo… Impossível. É como ter uma Carlota à frente da bancada do Bloco de Esquerda ou o camarada Martim Bernardo a liderar a CGTP.

Vamos ver quem irá para o lugar de Portas. Aceitam-se apostas. Pelo meu lado, começo este ano com muita fé. Um 2016 sem Paulo Portas e Aníbal Cavaco Silva, seja o que lá vem, a coisa promete. Bom ano. 

A EUFORIA DA DIREITA LATINO-AMERICANA E SEUS LIMITES




Medidas sinalizadas por Argentina e Venezuela não são sinônimo de sucesso automático. Repetem um passado neoliberal que fracassou e sofrem resistência de movimentos sociais e amplas camadas populares.

Emir Sader*

A direita latino-americana, depois da década e meia de sucessivas frustrações, parece acreditar que possa voltar a ser protagonistas da história contemporânea do continente. Nos meios financeiros e na mídia internacional, predomina uma verdadeira euforia.

O ímpeto com que atuam na Argentina e na Venezuela pode dar a impressão de que sabem para onde querem ir, que têm a chave do futuro das nossas sociedades, que se renovaram a ponto de poder se tornar de novo a força hegemônica na região. Criticam os governos progressistas, como se se tratasse de um ciclo esgotado, ao que eles se propõem a suceder e a superar.

Mas será mesmo assim? O que se pode depreender dos primeiros movimentos do governo de Mauricio Macri na Argentina e dos da oposição vitoriosa nas eleições parlamentares na Venezuela?

Ainda que se proponha a imprimir um novo impulso à economia, todos os sintomas são da retomada do liberalismo econômico, apesar do seu fracasso espetacular no passado recente desses países e nos que ainda mantém o modelo – como México, Peru e outros. As medidas postas em prática na Argentina e as que anunciam na Venezuela representam a velha fórmula da retirada do Estado de sua capacidade de regulação da economia, da liberação de ação das forças do mercado, da reinserção internacional de subordinação ao FMI e à política norte-americana na região. Aprofundamento da recessão e aguda crise social são os corolários obrigatórios dessas políticas.

Nada a ver com a superação do ciclo progressista, mesmo quando se declaram formalmente que manteriam as políticas sociais desses governos, reconhecendo seu sucesso e o apoio popular a elas. Ao reafirmar os supostos duros das políticas neoliberais, cortando recursos e afetando diretamente os núcleos que conduzem os objetivos sociais, demonstram a contradição entre estes e sua política econômica. Contradição clara na Argentina, onde rapidamente se multiplica o desemprego, dizendo combater a suposta forma artificial de criar empregos pelos governos que chamam de “populistas”.

Como chegaram ao governo na Argentina pela via eleitoral, não podem contar com a repressão aberta aos movimentos populares, que deu margem de manobra às ditaduras para impor sua “paz social”. Macri se enfrenta, desde os primeiros dias, com mobilizações populares maciças e indignadas pela brutalidade com que tenta desmontar os direitos conquistados ao longo dos últimos 12 anos. Não há lua de mel para o novo governo argentino. Ao contrário, as primeiras duras negociações salariais indicam que a vida não será risonha como sua campanha eleitoral.

O que acontecerá quando o governo se der conta de que a economia não voltará a crescer com as medidas que toma? Que, ao contrário, se aprofunda a recessão, com aumento do desemprego e da crise social? O que acontecerá quando sentir as consequências de que não dispõe da maioria para continuar atropelando a institucionalidade política do país, mediante decretos? O que acontecerá quando tomar consciência de que não pode estabelecer acordos internacionais que se contraponham ao Mercosul, salvo que tente a aventura de abandonar essa aliança regional de que tanto depende a economia argentina e se distancie cada vez mais do Brasil?

Na Venezuela, a euforia da direita por sua maioria parlamentar com a projeção da mudança de governo em seis meses, vai ter de se chocar com a dura realidade concreta. Em primeiro lugar, uma coisa é um triunfo em eleições parlamentares, em que tiveram 400 mil votos a mais que na eleição anterior – o voto castigo provavelmente de chavistas descontentes –, contando com grande abstenção de 2 milhões que não exerceram o voto castigo, mas que poder servir de reserva de apoio do governo. Esses amplos setores, diante de um referendo revogatório que a oposição consiga convocar, não se somarão automaticamente ao fim do governo chavista, sabendo de todas as consequências negativas para os setores populares.

Em segundo lugar, as novas iniciativas de governo para reativar a economia, a ser enviadas à Assembleia Nacional, colocarão para a oposição o desafio de compartilhar medidas contra a crise ou de se manter na impopularidade da política de quanto pior, melhor. Sabendo que os problemas econômicos são os que mais afetam à população e que o setor moderado da oposição quer ajudar a superar a crise, enquanto o setor radical só pensa em mudar o governo, as dificuldades e o desgaste para a oposição podem ser decisivos diante de uma população necessitada de soluções imediatas para seus problemas.

Por outro lado, as medidas com que o governo se blindou dificultam muito as primeiras medidas anunciadas pela oposição, seja a anistia para os presos, seja qualquer outra que busque a substituição do governo em seis meses, que se chocarão com uma institucionalidade adversa – tanto no Executivo como no Judiciário. A euforia inicial vai se esgotar rapidamente. Restaria a convocação de um referendo – sobre a permanência ou não de Nicolás Maduro –, mas a oposição teria de ter mais votos do que os que teve Maduro para se eleger presidente.

Diante da alternativas de terminar de vez com os governos chavistas e entregar o poder à oposição ou seguir lutando pela superação da crise no marco desses governos, a oposição não contará facilmente com uma maioria. O decisivo será a luta de massas nos próximos meses, com a reação popular diante das iniciativas do governo para superar a crise e as respostas da oposição. As mobilizações populares, que já começaram, favorecem amplamente o governo, que conta com uma militância ativa, enquanto a oposição conta com um grande apoio silencioso e com o descontentamento de setores populares que sempre tinham apoiado chavismo.

O determinante, entretanto, será a postura política da esquerda, em ambos os países, de propor alternativas concretas, de travar a luta de ideias e ser capaz de mobilizar ao mais amplos setores populares na resistência contra a direita. E de dirigir de forma unificada a continuidade das lutas contra o neoliberalismo e as tentativas de restauração conservadora nas nossas sociedades.

*Para a RBA, em Brasil de Fato

Preços de produtos básicos nos mercados informais de Angola disparam



Os principais produtos básicos nos mercados informais registaram um aumento significativo desde a subida dos preços dos combustíveis a 1 de janeiro de 2016. Os populares mostram-se preocupados com a situação.

A DW África deslocou-se a alguns mercados informais da capital angolana, Luanda, para constatar “in loco” os preços dos principais produtos básicos de consumo.
O aumento é assustador comparativamente aos preços anteriores.

O preço da botija de gás butano, por exemplo, varia entre 9 e 18 euros nos mercados informais contra os anteriores 4 euros.

Francisco Agostinho Domingos faz compras no mercado do ASA Branca no município do Cazenga desde 2011. Conta que, com a subida dos preços dos combustíveis, a caixa de peixe regista um aumento de mais de 17 euros.

“Naquela altura, a caixa de peixe custava entre 64 e 70 euros. Atualmente está entre os 87 e 94 euros”.

Arroz e óleo alimentar muito mais caros

A subida vertiginosa observa-se também noutros produtos alimentares como arroz e óleo .

Uma cidadã com uma criança ao colo fala com tristeza sobre a subida do saco de arroz de 25kg.

“O saco de arroz está agora a custar o dobro. Deve-se pagar mais de 52 euros. Está insuportável esta situação”.

O preço da corrida de táxi custa oficialmente quase um euro desde segunda-feira (11.01), altura em que também houve um aumento do preço de combustível.

A subida do preço de táxi, segundo Lourdes Bendinha, uma revendedora de mangas, inviabiliza o escoamento dos produtos alimentares do campo para cidade e, consequentemente, fez disparar os preços dos alimentos nos mercados informais.

“O táxi, então, já nem se fala. Antes, quem fosse para Kabala pagava 4 a 5 euros, agora paga-se quase 6 euros. Para o transporte de uma caixa de manga pagava-se 1 euro, agora paga-se 1,75 euros. A caixa de manga era 16 euros, agora, com a subida das corridas de táxi, paga-se entre os 23 e os 26 euros, varia”.

Sustento da família em perigo

Também uma revendedora de peixe, visivelmente agastada com a situação, diz que já não consegue sustentar a família com o lucro que retira da venda ambulante e apela ao Governo para que inverta o quadro.

“O peixe subiu, você vai na zunga e não ganha nada. As vezes só ganha 6 euros. O Governo tem de olhar para isso. Estamos a sofrer", afirma.

Associa-se a esta realidade a subida dos preços de energia elétrica e água potável.

Governo quer deixar de financiar a água e a luz

O Governo quer acabar com o financiamento público na área do abastecimento de água e de produção de eletricidade, garantindo a auto-sustentabilidade dos dois sectores, segundo afirmou o ministro da Energia e Águas, João Baptista Borges.

A posição surge numa altura em que já estão em vigor, desde 1 de janeiro, novas tarifas em ambos os sectores, com aumentos de preços – que chegam ao dobro – e alterações nos escalões de consumo, nomeadamente nos clientes domésticos.

“Os sectores das águas e da energia elétrica têm condições para se auto-sustentarem. A estratégia a adoptar tem de assegurar que, com receitas próprias, esses sectores se mantenham em funcionamento, garantam a execução de investimentos, a operação e a manutenção, sem necessidade de recurso ao Orçamento Geral do Estado (OGE)”, disse o ministro, citado pela imprensa.

Os vários aumentos nas tarifas de água e eletricidade, de acordo com informação do Instituto Regulador do Sector Elétrico, resultam do processo de transformação do ramo que teve início em 2015, culminando com a recente aprovação da Lei Geral de Eletricidade, mas salvaguardando “os clientes com menos rendimentos”.

Só em obras em duas barragens – Laúca e reforço de potência em Cambambe -, para produção de eletricidade e com entrada em funcionamento prevista até 2017, o Estado angolano prevê gastar 5,5 mil milhões de dólares de investimento público.

Manuel Luamba (Luanda) / LUSA – Deutsche Welle

Moçambique. FRELIMO nega linchamento de membro do MDM em Tete



O MDM acusa a FRELIMO de assassinato por linchamento de Sousa Matola, chefe de informação do partido da oposição em Tete, no centro de Moçambique. O partido no poder nega as acusações e exige a apresentação de provas.

Segundo o Movimento Democrático de Moçambique (MDM) em Tete, a morte de Sousa Matola ocorreu no bairro Matudo, nos arredores daquela cidade, a 21 de dezembro, duas semanas depois de o partido ter recebido um despacho do secretário do bairro Matundo, que informava que todas as atividades políticas da oposição naquele local dependiam da sua autorização.

Celestino Bento, delegado político provincial do terceiro maior partido moçambicano em Tete, diz não ter dúvidas de que o crime foi cometido pela Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO). "Fomos falar com o secretário do Bairro Matundo para o informar que iríamos inaugurar a nossa sede e ele deu-nos um despacho a dizer que, se inaugurássemos a sede, este não se responsabilizaria pelas consequências", informou Bento.

Celestino Bento adianta ainda que naquele dia houve várias tentativas de incendiar a sede do MDM no Bairro Matundo. "Colocaram gasolina, tentaram arder as paredes, mas não foi possível porque são paredes de tijolo queimado, rasgararam todos panfletos".

Para o delegado provincial do MDM, estas são provas suficientes para que as investigações prossigam.

Detido membro do MDM

Em entrevista à DW África, o porta-voz do comando provincial da Polícia da República de Moçambique (PRM) em Tete, Luís Núdia, revela que já foi feita uma detenção relacionada com este caso. Diz que se trata de um membro do MDM, que é suspeito de ter tido uma briga com a vítima no dia da sua morte, a 21 de dezembro.

"Segundo informações a que a polícia teve acesso, as pessoas com quem ele esteve a conviver antes da sua morte não eram pessoas de outro partido. Podemos até admitir que são pessoas do mesmo partido, com quem se dava mais", afirma Luís Núdia. Por isso, exclui "a hipótese de que ele tenha sido impedido de realizar as suas atividades naquele bairro".

Celestino Bento nega que o jovem detido seja membro do MDM e diz que a polícia está a mentir."Quem disse à polícia que ele é membro do MDM?", interroga o delegado político do terceiro maior partido moçambicano.

"A polícia está a tentar encobrir, está ser usada pelo partido FRELIMO. A polícia não tem provas de que foi aquele jovem que praticou aquela acção. Nós temos provas de pessoas que nos ameaçaram", sublinha.

O MDM em Tete diz que os seus membros são torturados e impedidos de exercer as suas atividades políticas nos distritos de Tsangano, Mágoe, Changara, Chiúta e Mutarara.

FRELIMO nega acusações

Ofélio Jeremias, primeiro secretário do partido FRELIMO na cidade de Tete, nega que a sua formação política tenha linchado Sousa Matola.

"A FRELIMO não está contra os partidos políticos. Em nenhum momento a FRELIMO impede actividades políticas de outros partidos. Com que base há essa acusação?"; questiona Ofélio Jeremias, acrescentando que o Governo está a trabalhar para esclarecer quem são os autores deste crime.

Por outro lado, o partido no poder considera importante que o MDM encontre os assassinos de Sousa Matola. "Quem acusa tem que provar. Isso é imaturidade política daqueles que não têm política. São partidos falso", conclui Jeremias.

Amós Zacarias (Tete) – Deutsche Welle

Governo timorense diz que queda do preço do crude tem pouco impacto nas contas



Díli, 13 jan (Lusa) - O vice-ministro das Finanças timorense, Helder Lopes, disse hoje que o executivo está a acompanhar as quedas no preço do crude nos mercados internacionais, explicando que as flutuações têm pouco impacto nas contas públicas timorenses.

"O Governo está preocupado, mas da riqueza petrolífera de Timor-Leste, dos dois campos que estamos a explorar, só 10% está ainda no solo sendo que os restantes 90% se transformaram já em ativos financeiros, nomeadamente no Fundo Petrolífero", explicou em entrevista à Lusa.

"Por isso, a volatilidade nos preços, nomeadamente as quedas, só afeta 10% do crude que está ainda por explorar", sublinhou.

Recorde-se que na sua análise para o Orçamento do Estado para este ano o Governo timorense já se refere à volatilidade dos preços, ainda que as estimativas de receitas petrolíferas sejam baseadas num preço de referência de 64,7 dólares por barril em 2016, valor que é quase o dobro do atual.

O Governo prevê que excluindo juros, as receitas petrolíferas destes dois campos - Bayu-Undan e Kitan - rondem os 718,7 milhões de dólares este ano, valor que será significativamente afetado pela queda no preço do crude.

Isso condicionará o dinheiro que é injetado no Fundo Petrolífero e, como tal, as receitas do próprio fundo para os anos seguintes.

Helder Lopes falava à Lusa numa altura em que o preço do crude voltou a cair, chegando a hoje a negociar abaixo dos 30 dólares por barril, antes de recuperar depois para cima dessa barreira.

Analistas, porém, apontam a que o preço pode ainda cair mais, podendo descer até aos 20 dólares por barril, afetado por questões como a apreciação do dólar norte-americano, a menor procura - inclusive por um inverno menos frio na Europa - e pela desaceleração da economia.

Os analistas referem ainda que o mercado está a penalizar os produtores que não ajustaram a produção que continua elevada, apesar da queda de preços.

Helder Lopes explicou que o Governo está a analisar todos estes dados e que a sua estratégia assenta agora em dois pilares: a diversificação do investimento do Fundo Petrolífero e a diversificação da economia em si.

"Queremos mais retorno do Fundo Petrolífero porque entendemos que a receita dos campos está a cair, devido à menor produção e aos preços, e por isso estamos a rever a estratégia de investimento para conseguir um maior retorno", explicou.

No final do terceiro trimestre do ano passado - os últimos dados disponíveis - o Fundo Petrolífero tinha um valor de 16,44 mil milhões de dólares, menos 420 milhões do que no trimestre anterior, segundo o Banco Central timorense.

Segundo o Banco Central, o fundo registou nesse período um rendimento de investimento negativo de -450,94 milhões de dólares, com um retorno da carteira do fundo de -2,61% e um retorno do 'benchmark' para o mesmo período de -2,70%".

Em termos mais amplos, e reconhecendo este contexto no setor, explicou Helder Lopes, o Governo continua a querer diversificar a economia timorense, algo que passa pelo setor privado e que obriga o executivo a manter os investimentos.

"A estrutura do orçamento mostra que a maioria dos gastos é para infraestruturas e para desenvolvimento do capital humano. Diversificar a economia depende do setor privado e conseguir isso obriga a ultrapassar os problemas que afetam o investimento em Timor: infraestruturas e a produtividade laboral", afirmou.

"Por isso, continuamos a aposta nas infraestruturas e no capital humano para criar condições para atrair o investimento, assim diversificar a economia e assim conseguir outras fontes de receitas públicas", sublinhou.

O Governo, explicou, mantém uma política fiscal anti cíclica, ou seja "que não liga o orçamento diretamente à receita petrolífera" o que implica que "se houve mudança nas receitas de petróleo isso não afeta diretamente o orçamento, para conseguir mais estabilidade".

"O Fundo Petrolífero serve para isso, como escudo dessa volatilidade", disse ainda.

ASP // VM

Portugal. A HUMILHAÇÃO QUINZENAL



Por que razão o IEFP, que tem como missão apoiar os desempregados e encaminhá-los para uma nova função compatível com as suas competências profissionais, os trata como suspeitos?


Perder o emprego é quase sempre uma desgraça. Não é apenas o rendimento que se perde, é o quotidiano que se esfrangalha, é o isolamento que cresce e o sentimento de utilidade que fica em causa.

Quem recebe o subsídio passa ainda a ter de atestar, a cada quinze dias, a permanência na sua morada oficial, apresentando-se no centro de emprego, na Junta de Freguesia ou numa instituição que tenha protocolo com o Instituo de Emprego. Como se tivesse cometido um crime e fosse arguido com termo de identidade e residência. O não cumprimento, por duas vezes, da obrigação da apresentação quinzenal, resulta na anulação da inscrição no Serviço de Emprego e na perda do direito ao subsídio de desemprego.

Para que raio serve esta humilhação? Por que razão o IEFP, que tem como missão apoiar os desempregados e encaminhá-los para uma nova função compatível com as suas competências profissionais, os trata como suspeitos?

Desde há uns anos, com a disseminação do conceito de “empregabilidade”, introduziu-se uma lógica de culpabilização do desempregado pela sua situação. Multiplicaram-se os dispositivos que visam a “ativação dos beneficiários, passou a punir-se os desempregados diminuindo o valor do subsídio ao longo do tempo, como se a situação de desemprego não resultasse de escolhas de política económica, mas sim de défices individuais e como se a solução para o desemprego pudesse ser imputada exclusivamente aos próprios desempregados. Foi neste contexto que surgiram as famosas “apresentações quinzenais”.

Dizem os seus defensores que é um mecanismo de combate à fraude. Mas os desempregados, os técnicos de emprego e os profissionais das Juntas sabem que é apenas um calvário burocrático humilhante, cansativo e inútil. Até porque a justiça e o controlo na atribuição do subsídio de desemprego já estão garantidos por uma dezena de outras obrigações impostas na lei, cujo não cumprimento implica a perda de subsídio: comunicar a alteração de residência e a ausência do território nacional; aceitar o chamado “emprego conveniente” e o perverso “trabalho socialmente necessário”; aceitar a formação profissional, o plano pessoal de emprego, as medidas ativas de emprego; provar que se procurou “ativamente” emprego, mostrando mails e carimbos das empresas; comparecer às convocatórias do centro de emprego e às entidades para onde foi encaminhado por aquele.

Em Portugal, tristemente, a maior parte dos desempregados já não tem sequer acesso ao subsídio de desemprego, porque teve trabalhos precários que não lhes permitem aceder àquela prestação ou porque estão desempregados há demasiado tempo e o subsídio já terminou. Nos centros de emprego, escasseiam as ofertas de trabalho. Perante isto, conceber os desempregados como uma espécie de preguiçosos, obrigados a demonstrar que procuram trabalho como quem procura água no deserto e a fazerem prova de vida quinzenal não serve a fiscalização. É apenas um desrespeito e uma humilhação inútil que as pessoas não merecem. Devia acabar.

Artigo publicado em expresso.sapo.pt em 8 de janeiro de 2015

José Soeiro - Dirigente do Bloco de Esquerda, sociólogo. Em Esquerda.net

Portugal. OS PATRÕES DE NOVEMBRO E OS EXCLUÍDOS DE ABRIL



João Vilela

São 1372,5 milhões de euros. Por extenso: mil trezentos e setenta e dois milhões e quinhentos mil euros. Cerca de metade do que vai ser gasto no Banif . Cerca de quatro anos de Rendimento Social de Inserção. Cerca de um quarto dos gastos anuais com o SNS. Eis o valor que foi pago pela PT e pela NOS pelos... direitos de transmissão dos jogos de futebol do FC Porto, do SL Benfica e do Sporting CP.

O absurdo destes números torna-se uma obscenidade insuportável quando sabemos de que forma a Meo e a NOS acumularam a espantosa fortuna que pretendem dissipar com estas compras: na exploração desenfreada dos largos milhares de trabalhadores que, em última análise, trabalham para ambas. Digo "em última análise" porque, entre empresas sub-contratadas, empresas de trabalho temporário, recibos verdes fraudulentos e centenas de outros ardis são inúmeras as formas por via das quais estes dois gigantes das telecomunicações reduzem artificialmente a lista dos seus funcionários e, de caminho, os custos que têm com eles. Das lojas às vendas porta-a-porta, dos call-centers ao pessoal de reparações e manutenção, o exército de trabalhadores que estes dois gigantes tem ao serviço é inversamente proporcional aos salários de fome – quando são sequer salários, e não sobrevivem em regimes 100% comissionais a despeito de jornadas de trabalho de 10 e mais horas, na rua, meses e anos a fio, em funções inapelavemente permanentes mas pagas contra recibo verde – com que os remunera ao fim de cada mês. É por isso normal que possam dispender tão prodigiosos números. O que é espantoso é o modo como reagem, ferozmente, a qualquer veleidade de aumentos salariais ou melhoria das condições contratuais no sector!

Estas empresas utilizam com eficácia uma série de instrumentos montados a pensar nelas: um Estado que ignora ostensivamente as violações laborais, por vezes as mais grosseiras, desde o Tribunal Constitucional até ao inspector da ACT (recordo-me de, em 2011, ouvir na rádio o juslaborista Júlio Gomes dizer numa conferência que o TC "não via uma inconstitucionalidade em matéria laboral nem que ela fosse do tamanho de um elefante e tivesse "INCONSTITUCIONAL" pintado a tinta fluorescente"); um exército industrial de reserva para cuja redução nenhuma política pública decente é levada a efeito porque "o Estado não tem de criar emprego"; a permanente afirmação de que só se reduz esse mesmo exército industrial de reserva com a redução ainda maior dos já violentamente atacados direitos dos trabalhadores; e, para corolário, a existência de uma mão-de-obra ultra-especializada, saída das universidades, com nula perspectiva de emprego na sua área de formação, e particularmente apta a apropriar e desenvolver os procedimentos de trabalho de tais empresas, tornando-as tanto mais lucrativas. Os enxames de licenciados que batem portas atrás de comissões ou que vegetam atrás de balcões onde tentam vender pacotes de canais ou telemóveis da moda aí estão para o comprovar.

Esta juventude escorraçada de Abril pela contra-revolução, que nunca conheceu o subsídio de férias, a baixa médica, a estabilidade contratual, que nunca chegou ao dia 15 sem contar tostões na carteira, que nunca viu salário ao fim do mês e se fartou de ver mês no final do salário, é a carne e o sangue que permitiu à NOS e à PT dispender mais de mil milhões de euros para poderem exibir jogos de futebol. Este é um problema social de um tamanho imensurável, para cujo fim todo e qualquer indivíduo onde ainda habite a decência comum mais elementar não pode deixar de contribuir.

Esta juventude tem dado mostras de combatividade, seja através do movimento sindical de classe, seja em organizações que foi levantando para dar mostras da sua indignação (e onde o autor destas linhas participou, com muita honra, desde o primeiro momento). São de saudar todas as suas iniciativas, e de reconhecer a enorme simpatia e mobilização popular que a sua causa atrai. Estes jovens demonstram que, contra todas as profecias absurdas sobre o fim da história, o conformismo, a morte da luta de classes e a redução dos trabalhadores à dócil condição de carneiros do redil, a velha toupeira sobe sempre à superfície da terra, dura e tenaz, inquebrantável na sua determinação, inamovível nos seus propósitos, invencível na sua marcha em frente: a velha toupeira da luta do proletariado pela sua emancipação que também estes jovens, com os mais velhos com quem aprendem e melhoram, ajudam a que um dia ocorra, livrando o mundo dos exploradores.

É fundamental trazer mais e mais jovens expulsos de Abril pela contra-revolução para o combate pela sua emancipação definitiva. E trazê-los dando-lhes a lição mais válida, a que os mais velhos aprenderam com mais custo e mais sacrifícios, a que pagaram com anos de combate e de erros que foram corrigindo. A lição fundamental é a de que nenhum direito, nenhum progresso, nenhuma alteração por mais miúda que seja, está garantido nesta sociedade. Vivemos na sociedade dos patrões, com um Estado dos patrões, com um modo de produção que só serve aos patrões.

E enquanto esta contradição fundamental entre capital e trabalho existir, nenhum trabalhador terá sentido ainda o sabor da liberdade, da liberdade verdadeira, que é a de não ter quem o oprima. A lição fundamental é pois a de que não há açúcar, não há palavras doces, não há concessões nem avanços que a burguesia consinta com simpatia que nos devam satisfazer. Devemos aprender com os que combatem há mais tempo que nós a levar o combate até ao fim, sem nos iludirmos com promessas de concessões que o capital só faz para poder, em ocasião posterior, brandir melhor o contra-golpe. Só é solução definitiva a derrota da burguesia e a sociedade socialista. 


Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ 

CRISE ECONÓMICA E MÁ GESTÃO NA BANCA EM PORTUGAL...



E UMA SUPERVISÃO QUE DEIXA DE FORA ÁREAS ESSENCIAIS*

A banca em Portugal continua a debater-se com graves debilidades, e é de prever que tal situação se mantenha ainda por mais anos. Os colapsos/implosões do BPN, do BPP, do BES e agora do BANIF, e as ajudas a outros bancos já custaram mais de 13.500 milhões € aos contribuintes portugueses e aqueles que tinham investido nesses bancos as suas poupanças (e estou aqui apenas considerar as pequenas poupanças), Tudo isto são a consequência de uma crise profunda que abala todo o sistema bancário português.

A situação a que chegou a banca em Portugal resulta da ação conjugada de vários fatores. Neste estudo vamos analisar apenas os associados às consequências da crise e da má gestão e, em muitos casos, à gestão danosa que, num contexto de grave crise económica e social, torna os seus efeitos mais graves, visíveis e difíceis de serem absorvidos (num contexto de crescimento económico seriam mais facilmente disfarçados e absorvidos, como sucedeu no passado durante muitos anos) a que se junta uma supervisão presente mas ainda não suficiente, já que ainda deixa de fora áreas que consideramos fundamentais, como procuraremos mostrar neste estudo Para isso, observe-se o quadro 1, cujos dados foram retirados dos Boletins Estatísticos do Banco de Portugal. (ler mais)

*Eugénio Rosa – Economista – este e outros estudos disponíveis em www.eugeniorosa.com

O Diário.info - Ler texto completo [PDF]

Presidenciais. Se um elefante incomoda muita gente, dez elefantes incomodam muitos mais



Do Notícias ao Minuto respigamos títulos que lhe podem interessar. Pela nossa parte deixamos um acrescento opinativo sobre o que anunciam. E damos-lhes a volta segundo a nossa otica. É a democracia, estúpido. É a demarcação que julgamos ser nosso direito. Julgamos e é mesmo. É a política no seu estado salutar. Por Carlos Tadeu, do PG.


O professor está cheio de fé. Deve ter visto o “reviver o passado e agir como então”. Podia ser um filme… de terror. Marcelo Cavaco Rebelo de Sousa? Livra!


Ele há coisas… Desde quando um PR pode interferir nisso dos preços dos livros com tanta certeza? Paulo Morais tem um mérito chamado corrupção. Tem sido o único candidato a falar em barda nessa peste que vitima todos os portugueses, excepto os corruptos. E esses são tantos no chamado arco da governação e nas suas ilhargas… Que o Parlamento contém muitos casos de crime perfeito já sabemos. São os lobies da direita e do PS mais à direita… A cor do dinheiro é parda, como o crime. A fome é negra e em Portugal deve-se àquele arco da governação. Queremos pintar Portugal de outras cores. As da transparência. Da honestidade de facto e não da honestidade afirmada por políticos desonestos. Sabemos, mais ou menos, quem eles são ou de que fossa partidária saem.


Nóvoa diz e assim é. Ele lá sabe. Pelo que Ramalho Eanes disse – que Nóvoa é semelhante a Cavaco – estamos esclarecidos. Votar em Nóvoa é o mesmo que votar em Marcelo ou em Cavaco Silva (que já não conta por ter cumprido dois mandatos como PR). Propõem mais do mesmo. Como escrito antes: Sampaio Cavaco da Nóvoa ou Marcelo Cavaco Rebelo de Sousa. Basta!


A hesitação é de Capucho. Hesitação foi sempre o mal e bem dele, nem carne nem peixe ou talvez as duas coisas. Ele há com cada um! E safam-se na vida. Uma no cracvo e outra na ferradura, é o que está a dar.


Di-lo Vasco Lourenço, capitão de Abril. Está bem, pronto. E depois? Segunda volta entre Sampaio Cavaco da Nóvoa  e Marcelo Cavaco Rebelo de Sousa? Ou ainda da senhora Maria Belém? Mais do mesmo, com ligeiras melhorias em Maria. Mas é certinho e direitinho que é mais do mesmo. Ai estes “capitães”! Vamos lá manter a podridão nos poderes!


Pois não havia de pedir. Com Cavacos é que podem governar à moda do antigamente e tramar os portugueses com toda a liberdade governativa de uma direita radical e fascizante. Passos pede e é um sortudo, há falta de um tem dois Cavacos nesta corrida a Belém, e ainda prémio em Maria de Belém. Aliás, tanto assim é que “PSD torce pelo segundo lugar para Maria de Belém para atacar PS". Ora, ora, o que eles querem é mama. Custa-lhes muito largar as tetas dos poderes que lhes permitem sugar até à exaustão o povoléu. Têm sorte, ainda há palermas ingénuos que vão na cantiga “Ó Tempo Volta P’ra Trás”. E então, quando é que retomamos o caminho iniciado em Abril de 1974? Está nas mãos dos eleitores.


Marisa diz bem. Assim seja. Melhor que os do sistema inóquo e corrupto de alianças com banqueiros a que estamos assistindo diretamente da “bolsa” de Belém. Essa fossa.


Edgar aposta na sabedoria do povo. O que lava no rio ou naquele povo que tem decidido em votações o regredir das conquistas de Abril? Se o povo não acreditasse que os comunistas ainda comem criancinhas ao pequeno-almoço tudo isso seria possível, até confiar na sabedoria do povo. Assim… A intoxicação traz sempre mais do mesmo, daí a Banca nos Poderes é que é. Enquanto uns quantos mafiosos lavam capital o povo que lava no rio continua a fazê-lo com farrapos. Os farrapos seus semelhantes. E pronto, a luta continua.

DE OUTROS CANDIDATOS

Se um elefante incomoda muita gente, dez elefantes incomodam muitos mais.

Portugal. SAMPAIO CAVACO DA NÓVOA. LIVRA!




No Jornal de Notícias, de R. Reimão e Aníbal F., o cartoon do quotidiano, hoje a obturar Nóvoa e Ramalho Eanes, o general da “direita da esquerda”.

Ramalho Eanes é um benemérito que avisa os portugueses sobre Sampaio Cavaco da Nóvoa. Assim foi. Deu a saber aos portugueses que Nóvoa tem semelhanças com… Cavaco. Nóvoa é um Cavaco, mas não só. Melhor? Pior? E o que será melhor ou pior para Ramalho Eanes? E o melhor para Eanes é também o melhor para os portugueses tão esbulhados e atirados para a miséria por correligionários de Cavaco Passos Portas? E o pior para Eanes é o quê?

Aqui no PG pode ler o agradecimento a Ramalho Eanes pelo alerta, ficamos esclarecidos, não sem bradarmos um sonoro livra! Vá ler: EANES DIZ QUE NÓVOA TEM SEMELHANÇAS COM CAVACO. OBRIGADO PELO AVISO

Redação PG / CT

Portugal. O OUTRO PROFESSOR



Paula Ferreira – Jornal de Notícias, opinião

Para que serve afinal a campanha eleitoral? Faz sentido este desfile de candidatos, alguns dos quais não conseguiram ainda dizer ao que vêm e porquê, como se estivessem num reality show com final marcado para a noite de 24 de janeiro? Andam por aí. Cumprem com os seus tempos de antena, debatem na televisão, estão presentes. E, provavelmente, terão de pagar o espetáculo do seu bolso: alcançar cinco por cento dos votos do eleitorado será um feito.

Há motivos, pois, para se achar as presidenciais tempo perdido. Assim parecem pensar os portugueses, se tivermos como barómetro as conversas que ouvimos na rua, no autocarro ou no café. O inverno atípico, o novo treinador do F. C Porto, ou até o vídeo de Sofia Ribeiro secundarizam o trabalho dos candidatos a Belém.

Mas a campanha está aí. E para uma coisa já serviu. O fundador do PSD, comentador político e professor de direito, aquele que estava eleito ainda antes de ser candidato, foi obrigado a interromper o passeio e a entrar no jogo. Marcelo Rebelo de Sousa, ontem, reposicionou-se: é a esquerda do centro, disse.

Não soam a verdadeiro as palavras do professor. Ou, pelo menos, não foi isso que mostrou aos portugueses, durante longo tempo, no gesticulado papel de comentador televisivo. Os seus comentários, sobretudo nos últimos quatro anos, são a prova contrária. O homem que fazia o pleno, eleito sem precisar de fazer campanha, está atrapalhado, teme uma segunda volta. A campanha agita o candidato saído da área política da extinta PàF. É para isso que serve uma campanha eleitoral. Não para tramar o candidato, naturalmente. Mas para o confrontar com aquilo que ele deveras é. Marcelo tinha tudo a ganhar se não houvesse campanha.

Apajeado pela maioria dos comentadores, o brilhante comunicador político estaria eleito com uma larga maioria de votos dos portugueses. Era o que muitos achavam.

Provavelmente será eleito pela maioria dos portugueses, provavelmente nem será necessária uma segunda volta. Mas o homem que atravessou de sorriso aberto uma das maiores crises, em ameno solilóquio dominical com os diretores de informação de um canal, mostra-se. Transfigura-se. Há outro Marcelo, para lá do professor sagaz e bem-disposto.

A campanha está a desvendar também Sampaio da Nóvoa, que esperava ser abraçado pela Esquerda e a quem não basta prometer um país novo. Tem de dizer como irá , no cargo a que se candidata, contribuir para a construção dessa nova realidade. De outra forma, terá razão Maria de Belém, que se atravessou no caminho, e aponta falta de densidade na candidatura de Nóvoa. Ela, Maria de Belém, oferece-nos a força do caráter - mas, ao que parece, a única ideia para o país é realizar uns almoços de gala em lares de idosos.

PORTUGAL E ARREDORES, DO MIOLO DO GRÃO DE RICARDO COSTA



Expresso Curto, diretamente do miolo do grão de Ricardo Costa, no Expresso

O adeus de Obama, os estilhaços do terrorismo e o petróleo em queda

“Os Estados Unidos são a nação mais poderosa do mundo. Ponto final. É que não há a mínima comparação”. Não se deve começar artigos com uma citação, mas esta frase de Barack Obama no seu último discurso do Estado da União perante o Congresso norte-americano é demasiado boa para ficar no meio deste Expresso Curto. Boa e polémica, porque se pode ser lida como otimista, também tem laivos da arrogância.

Ricardo Costa - Expresso

O discurso de Obama teve muitas frases boas. O homem que preside aos EUA nos últimos sete anos e que deixa a Casa Branca dentro de um ano sempre foi um mestre na retórica e não perdeu isso com o tempo. Mas é muito criticado por isso, por os seus discursos estarem cheios de vento e palavras bonitas. O de ontem foi bastante sólido na parte económica, na capacidade que os americanos têm de reinventar a sua economia e de ultrapassar crises.

As principais críticas para a maioria republicana foram na área internacional, com Obama a dizer que os EUA não se podem virar para dentro num momento destes. Lamentou o rancor que dominou a política americana e apelou ao Congresso para autorizar o uso de forças militares contra o Daesh (e votar isso mesmo de forma clara), alertou para os perigos de qualquer discurso anti-muçulmano, desafiou os congressistas a levantarem o embargo a Cuba e prometeu, uma vez mais, o encerramento da prisão de Guantanamo, uma promessa que se arrasta sem fim.

O discurso de Obama decorreu enquanto dez marinheiros e dois pequenos navios americanos estavam sob custódia de militares iranianos. O incidente, mais simbólico do que perigoso, aconteceu quando os dois navios foram intercetados pela marinha iraniana por alegadamente estarem em águas territoriais do Irão. Teerão exige desculpas de Washington mas fez saber de imediato que os militares dos EUA estão bem e em segurança.

Muito mais real é o perigo terrorista do Daesh, que ontem fez o primeiro atentado contra turistas na Turquia. Um bombista suicida infiltrou-se num grupo de turistas à porta da Mesquita Azul, em Istambul, e fez-se explodir, matando dez pessoas, das quais nove alemães. A Turquia tem fortes receitas turísticas e a Alemanha é o país com maior peso nesse setor. O atentado teve esse objetivo óbvio.

Num braço de ferro paralelo, a Turquia prendeu esta madrugada três cidadãos russos por alegadamente estarem ligados ao Daesh e a este atentado. A troca de acusações entre Ancara e Moscovo não para desde que Putin resolveu interferir na guerra civil síria, apoiando Assad, e a força aérea turca abateu um caça russo que entrou por segundos no espaço aéreo turco.

Na Bélgica, a polícia (considerada a pior da Europa no combate ao terrorismo) conseguiu finalmente identificar três casas-refúgio que os terroristas responsáveis pelosatentados de Paris usaram para preparar as suas ações. Ao longo do dia há mais novidades sobre esta investigação que nunca encontrou o principal suspeito.

No meio disto tudo, o Petróleo continua em queda, agora abaixo dos 30 dólares, provocando sucessivas ondas de choque na economia mundial, com os países emergentes a caminho de recessões ou crescimentos anémicos.

Os efeitos são tais que ontem a BP anunciou ir despedir quatro mil funcionários e a brasileira Petrobras reviu todo o seu plano de investimentos e lucros, provocando uma queda brutal das suas ações na Bolsa de São Paulo.

Os sinais de que podemos estar perante uma terceira vaga da crise de 2008 são defendidos por muitos analistas. Depois da crise financeira veio a das dívidas públicas e do Euro e agora a das matérias-primas e países emergentes. Deixo as explicações e respostas para os meus colegas que dominam a poda económica, mas quem leia a imprensa de referência internacional já percebeu que estamos perante um caso sério (e ainda estamos em janeiro…). O melhor é irmos a outras notícias, sobretudo da pátria, onde não há petróleo no Beato nem em lado nenhum, pelo menos para já.

OUTRAS NOTÍCIAS

A decisão de Nuno Melo sobre a liderança do CDS deve ser anunciada hoje. O Dário de Notícias escreve que o eurodeputado avança mesmo, num momento em que é, a par de Assunção Cristas, o nome mais forte para suceder a Paulo Portas.

A aventura do regresso das 35 horas semanais para a Função Pública aterra hoje no Parlamento, com uma chuva de diplomas de todos os partidos à esquerda, PS incluído. Em princípio tudo será aprovado, mas não se pense que o tema é pacífico entre as forças políticas que apresentam a reversão da lei que permitiu as 40 horas de trabalho.

PCP, Bloco e Verdes querem que a lei tenha efeitos imediatos e Jerónimo já explicou que nãos e trata de lutar por nenhum novo direito, mas apenas pela reposição de um direito conquistado. Mas o PS está com sérios problemascom o impacto orçamental que a medida pode ter no caso dos vários serviços não terem tempo para se reorganizar. Tudo indica que a discussão será feita no debate na especialidade, onde o partido do governo e as forças que o apoiam terão de se entender… ou não.

Nem por acaso, Pedro Passos Coelho deu uma importanteentrevista à Rádio Renascença, onde criticou o governo por estar a reverter tudo o que fez o anterior. ”Se a missão deste governo é desfazer o que o anterior fez, essa missão esgota-se em pouco tempo”, afirmou, aproveitando para criticar duramente as decisões na área da educação e, acima de tudo,mostrar preocupação com a quebra de confiança dos investidores estrangeiros em Portugal.

A campanha das Presidenciais prossegue a todo o gás, mas sob alguma indiferença e o medo de uma abstenção que só é normal quando um Presidente tenta a reeleição. Ainda faltam dez dias de campanha e várias sondagens. A próxima é já amanhã no Expresso e na SIC.

No Expresso seguimos a campanha na estrada no Expresso Diário e no Online, gravamos vídeos com comentários todas as manhãs e estamos a recordar os momentos decisivos das Presidências da República desde Spínola até Jorge Sampaio.

O Diário Económico anuncia que a venda do Novo Banco é retomada para a semana, num processo agora liderado pelo ex-turbo Secretário de Estado Sérgio Monteiro. O calendário indicativo vai manter-se na segunda tentativa de vender o banco.

Já o Jornal de Negócios explica que a lei europeia protege a polémica decisão do Banco de Portugal de ter discriminado credores do BES, uma decisão que está a provocar enorme polémica com investidores internacionais.

O Banif também está nas primeiras páginas dos jornais económicos e também do Diário de Notícias, que diz em manchete que as filhas de Horácio Roque admitem processar o Estado. Teria Roque, a filha mais velha do falecido banqueiro madeirense, reclama perdas de 555 milhões.

Adeus SG Filtro e SG Gigante. O jornal i afirma que a Tabaqueira vai deixar de produzir estas duas marcas que nos acompanham há décadas.

Nos desportivos, segue-se a para e passo o drama do sportinguista Téo Guttierez, que nunca mais regressava a Lisboa. Parece que dizia que não conseguia voar por não se sentir bem, mas o Record traz na capa uma foto do jogador nas areias de Barranquilla (terra de Shakira e de um famoso Carnaval).

No Porto, a Bola garante que Lopetegui não desiste de receber os prémios referentes aos jogos futuros, numa indemnização que pode chegar aos € 4 milhões. O Jogo informa que Sérgio Conceição, atual treinador do Vitória de Guimarães, está a ganhar força para se mudar para o F.C. Porto.

Rupert Murdoch vai casar-se aos 84 anos com Jery Hall, de 59 anos. O magnata australiano, que tem um império mediático nos EUA e Inglaterra, e a famosa modelo, ex-mulher de Mick Jagger, anunciaram a boda num curto e singelo anúncio no Times (propriedade de Murdoch), como se fazia nos tempos de Downton Abbey.

FRASES

“O que é que tem de Omeprazol? Hum... 56 comprimidos… se for eleito já dá para Belém”. Marcelo Rebelo de Sousa a comprar medicamentos numa farmácia de Portalegre

“Eu já disse várias vezes que o meu adversário principal é Marcelo Rebelo de Sousa”. Maria de Belém em visita a um Hospital no Porto

"Eu acho que o professor Sampaio da Nóvoa já é general".Ramalho Eanes na Campanha de Sampaio da Nóvoa

O QUE EU ANDO A LER

É pena que Paulo Portas esteja de partida da política, porque o livro que eu ando da reler é uma imensa fonte de metáforas e ideias para discursos carregados de imagens. O Livro dos Seres Imaginários, de Jorge Luís Borges, tem mais de quarenta anos e as personagens que o habitam muitos milhares.

Li este magnífico livro, uma coleção inimitável de seres recolhidos nas infindáveis leituras de Borges, há uns vinte anos numa edição espanhola a que perdi o rasto. Encontrei-o agora numa belíssima edição portuguesa da Quetzal, numa passagem pela Livraria Fonte das Letras, que ganhou merecida fama em Montemor-o-Novo e que, entretanto, se mudou para uma das mais movimentadas ruas de Évora.

Borges é um prodígio de cultura e de síntese, de erudição e simplicidade, conta numa página o que outros fazem em dez, poupa no adjetivo e esbanja na fantasia. É inimitável e este livro só podia ter saído da sua cabeça. É uma delícia sobre a imaginação humana, sobre os seres imaginários que o homem foi inventando ao longo da história para preencher os seus sonhos, medos, temores, ambições e inesgotável imaginação.

Como já disse, este livro é uma fonte inesgotável de metáforas, imagens e analogias. Se a gerigonça pegou de estaca na política portuguesa, imaginemos o que faria este livro nas mãos de deputados com razoáveis dotes retóricos. Uns, poucos, exemplos:

a) O Unicórnio Chinês: “(…) tem corpo de cervo, cauda de boi e cascos de cavalo; o corno que lhe cresce na testa é feito de carne; o pelo do lombo é de cinco cores misturadas; a do ventre é parda ou amarela. (…) O seu aparecimento é presságio do nascimento de um virtuoso. É de mau augúrio feri-lo ou encontrarem o seu cadáver. Mil anos é o fim natural da sua vida”.

b) Os Sátiros: “(…) Da cintura para baixo eram cabras; o corpo, os braços e o rosto eram humanos e peludos. Tinham corninhos na testa, orelhas pontiagudas e o nariz encurvado. Eram lascivos e bêbedos. (…) Os camponeses adoravam-nos e ofereciam-lhes as primícias das colheitas”.

c) O Mirmoleão: “O pai tem forma de leão, a mãe de formiga; o pai alimenta-se de carne e a mãe de ervas. E estes geram o leão-formiga, que é uma mistura dos dois e que é parecido com os dois, porque a parte da frente é de leão, a de trás de formiga. Assim formado, não pode comer carne, como o pai, nem ervas, como a mãe; por conseguinte, morre.”

A lista é imensa e, como se vê, coloca a “geringonça” a um canto. Se este livro fosse distribuído (e lido) no Parlamento, teríamos discursos épicos:
- Vossa excelência pensa que é um Unicórnio Chinês, mas, no fundo, terá o destino de um Mirmoleão!

- Vindo de alguém que se julga um Sátiro, mas não passa de um Lémure, isso é um elogio…

- Você é um reles Cervo Celestial!

- Cale-se, Crocota!

No Expresso Online não há seres imaginários, mas há coisas inimagináveis, porque o mundo não pára de nos surpreender. É só ir consultando o que vamos escrevendo e atualizando ao longo do dia. Ao fim da tarde, temos mais uma edição doExpresso Diário, com notícias e opinião em primeira mão e toda a atualidade organizada. E amanhã, bem cedo, cá estará mais um Expresso Curto.


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