quinta-feira, 20 de junho de 2013

MANIFESTANTES ENCHEM RUAS EM 80 CIDADES DO BRASIL




Público – 22:42 em Portugal

Protestos começaram de forma pacífica na maior parte dos locais

O povo tomou as ruas do Brasil. Em cerca de 80 cidades, 17 das quais capitais de estado, milhões de pessoas estão nas ruas. Só no Rio de Janeiro, os organizadores falam num milhão de pessoas.

Com a palavra de ordem “Brasil acorda”, as manifestações começaram de forma pacífica. A principal excepção foi em São Salvador da Baía, onde há relatos de confrontos entre manifestantes e polícia logo no início do protesto. No Rio de Janeiro, os manifestantes concentraram-se na Praça Candelária, no centro, havendo notícias de várias ruas cortadas.

Porém, o jornal O Globo diz que, enquanto no centro tudo decorre com tranquilidade, em alguns bairros limítrofes há relatos de vários arrastões (ataques continuados e em grupo, a lojas e pessoas).

No Recife, em Brasília e em muitas outras cidades há também milhares nas ruas, com cartazes com as mais variadas palavras de ordem.

Com receio de que houvesse novos episódios de violência — apesar de em muitos casos esta ter sido causada por pessoas não relacionadas com os protestos —, as autoridades tomaram nesta quinta-feira precauções para proteger zonas patrimoniais. Bancos e estações do metro no centro do Rio de Janeiro também se protegeram de eventuais ataques. Muitas lojas fecharam mais cedo, com receio de distúrbios.

A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) montou “à pressa” uma operação para monitorizar o que se passa na Internet, noticiavam nesta quinta-feira vários media brasileiros. “O Governo destacou oficiais de inteligência para acompanhar as movimentações dos manifestantes, por meio do Facebook, Twitter, Instagram e WhatsApp".

"A agência avalia que as tradicionais pastas do Governo que tratavam de articulação com a sociedade civil perderam a interlocução com as lideranças sociais”, escreveu o Estado de São Paulo.

A Polícia Militar distribuiu panfletos a pedir acções sem violência violência. "Ajude-nos a proteger você. Afaste-se dos que insistem em vandalizar uma manifestação pacífica", diz o texto.

Na foto: Manifestação no Recife AFP 

*A partir deste momento PG ficará acompanhando e atualizando direto do Brasil

DOIS MILHÕES NAS RUAS DAS CIDADES FAZEM BRASIL ACORDAR (atualização)

- Protestos fecham largas dezenas de rodovias nas principais cidades. Frente ao Congresso, em Brasília estão concentrados 50 mil manifestantes.

- No Rio a tensão é crescente. Manifestantes são contidos pela polícia com balas de borracha e bombas lacrimogeneas. Há mini-onibus da FIFA atacadas à pedrada com tentativas de os imobilizar e pegar fogo.

- Em São Paulo verificaram-se tumultos na Avenida Paulista devido à presença de militantes do PT. O grupo de cerca de 200 pessoas optou por abandonar o local. Uma bandeira do PT foi pisoteada e incinerada. Equipas de reportagem televisiva estão sendo impedidas de fazer a tomada de imagens.

- Em Salvador polícia reprime a manifestação com bombas de efeito moral e balas de borracha em diversos pontos do entorno da Arena Fonte Nova, onde começou a partida entre Nigéria e Uruguai, válida pela Copa das Confederações.

Conclusão

Este é um pequeno relato do Brasil a ferro e fogo. População descontente com a governação, com os crimes impunes e a corrupção por parte de políticos. As manifestações estão para continuar nos dias mais próximos.

Já se fala em ser declarado o recolher obrigatório a partir das 9 horas da noite em todas as cidades – o que na prática será bem dificil de concretizar e poderá ter efeito contrário no comportamento dos brasileiros e provocar reações de maior revolta pautada por mais violência que antes. 

- Informa Flavio Mattel, do Rio de Janeiro para Página Global

EUROPA CENTRAL: A CORRUPÇÃO É UM OSSO DURO DE ROER



DE VOLKSKRANT, AMESTERDÃO - Presseurop

Cerca de dez anos depois da adesão à UE, vários países do antigo bloco comunista continuam a ser palco de algumas práticas duvidosas. Uma vez que as pressões de Bruxelas não parecem dar grandes resultados, a mudança terá que partir desses Estados, considera um correspondente que trabalha em Varsóvia.


O primeiro-ministro checo, Petr Nečas, acabou por se demitir. Apresentou a sua demissão na tarde de segunda-feira [17 de junho], cinco dias depois da revelação do maior escândalo de corrupção da história recente do país.

Manifestamente, Petr Nečas teria preferido que as coisas se passassem de outra maneira. Nos últimos dias, dera a entender que não tinha nada a temer e que se manteria no cargo, acontecesse o que acontecesse.

No entanto, Nečas deveria dar-se por satisfeito. Há algumas semanas, um dos seus antigos homólogos, o primeiro-ministro esloveno Janez Janša, foi condenado a dois anos de prisão por um tribunal de Liubliana. Janša era suspeito de ter aceitado luvas, no processo de aquisição de veículos blindados finlandeses. As semelhanças entre esse caso e o escândalo de corrupção na República Checa são impressionantes. Nos dois casos, alguns comandos do Exército receberam uma bela maquia.

Finalmente, iniciativas contra a corrupção

Não muito longe, a situação não é melhor. Na Croácia, país que, dentro de duas semanas, passará a ser membro da União Europeia, o antigo primeiro-ministro, Ivo Sanader, está detido, a aguardar julgamento. Poderá ser condenado a mais de dez anos de prisão.

Os problemas que estes antigos primeiros-ministros enfrentam são, simultaneamente, uma boa e uma má notícia. São uma boa notícia porque, cerca de dez anos após o alargamento da União Europeia a Leste, estão finalmente a ser tomadas medidas de combate à corrupção. Porque a República Checa, a Eslovénia e a Croácia não são exceções.

Noutros países do antigo bloco de Leste, a Justiça foi finalmente posta em marcha, de forma lenta mas segura, contra o crime organizado. Até os países que têm muito má reputação, como a Roménia e a Bulgária, lançaram iniciativas que, há apenas alguns anos, seriam impensáveis. Ao longo dos últimos meses, foram investigados nada menos de três ministros.

Uma herança do comunismo

A má notícia é que estes problemas constituem uma prova da lentidão com que são superados os velhos hábitos. É certo que os novos Estados-membros adaptaram a sua legislação aos desejos de Bruxelas. Mas, em muitos casos, as novas leis não são aplicadas. Esse comportamento é uma herança do comunismo: a corrupção era, então, uma componente natural da vida social.

As repercussões desse facto continuam a fazer-se sentir hoje. Nos novos Estados-membros da União Europeia, não se passa um dia sem que um novo escândalo ocupe as primeiras páginas dos jornais, inclusive em países que, como a Polónia, marcam o tom no combate à corrupção.

Vigarices difíceis de provar

Quando se trata de fundos europeus, Bruxelas pode intervir. No fim do ano passado, a Comissão Europeia bloqueou mais de €800 milhões de subvenções, na sequência de fraudes relacionadas com a construção de uma autoestrada na Polónia. Outros países do antigo bloco de Leste tiveram igualmente de prestar contas por irregularidades nos procedimentos de contratos públicos. Contudo, essas intervenções foram e continuam a ser exceções. Em geral, as vigarices são difíceis de provar e, por conseguinte, Bruxelas é praticamente impotente perante a proliferação da corrupção.

Não há alternativa. Dos países que se tornaram membros da União Europeia nos últimos dez anos, apenas a Roménia e a Bulgária se encontram ainda sob vigilância (limitada) da Comissão Europeia. Mas, mesmo no caso destes dois países, exercer pressão é difícil para a Comissão, que nunca recorreu às sanções disponíveis. O único meio de pressão possível consiste em ameaçar bloquear a adesão dos países a Schengen: mas também não é de esperar que tal ameaça faça milagres.

Congelar os fundos europeus

Foi esse sentimento de impotência que levou quatro Estados-membros ricos, entre os quais a Holanda, a propor o congelamento dos fundos europeus, no caso dos países que desrespeitassem as regras. A sugestão é aliciante, mas não tem qualquer hipótese de êxito, devido às divisões existentes no seio da União Europeia.

Por conseguinte, o saneamento terá de partir da base, de forma lenta mas segura, passo a passo. Convidamos quem imaginar que o processo poderia desenrolar-se mais depressa a observar o que se passa na Bulgária, um país onde 98% dos contratos públicos são atribuídos a 2% das empresas. No começo do ano, as manifestações contra a corrupção generalizada levaram à queda do Governo.

Agora, os búlgaros vão ter que recomeçar tudo. Uma das primeiras decisões do novo Governo foi nomear um magnata da comunicação social corrupto para a chefia dos serviços secretos. [Posteriormente, o parlamento revogou a sua nomeação.] O primeiro-ministro, Plamen Orecharski, não viu qualquer inconveniente nesse facto.

BULGÁRIA: OS CIDADÃOS VOLTAM ÀS RUAS




DNEVNIK, SÓFIA – Presseurop – imagem AFP

Há quase uma semana que as ruas búlgaras estão novamente em ebulição. Foi a controversa nomeação de um deputado para a chefia dos serviços secretos que incendiou a pradaria: depois das manifestações de fevereiro, que levaram a eleições antecipadas, o descontentamento mantém-se. Excertos.


Escrevi há algum tempo um artigo em que dizia como me agrada um homem que lê. Porque cultiva discretamente o gosto pelas coisas que faltam. E um homem com esse gosto não pode ser um canalha.

O homem que protesta também é belo, pelas mesmas razões. Hoje, estão ambos ligados, de forma íntima e forte. Quando o homem que lê sai para a rua para protestar, percebe-se imediatamente. O protesto torna-se mais luminoso, mais cheio de significados. É a isso que assistimos hoje nas ruas de Sófia e noutros lugares. Assim, tanto literal como metaforicamente, estas manifestações são das crianças. Os filhos e netos daqueles que saíram em fevereiro para protestar contra o aumento do preço da eletricidade.

Mas junho não é fevereiro. As crianças são muito mais exigentes. Hoje já não se trata de dinheiro e contas por pagar. Em fevereiro, a elite política reagiu muito depressa (o Governo conservador de Boyko Borissovdemitiu-se após duas semanas de protestos, por vezes marcados pela violência. Quando se trata de dinheiro, as coisas são simples: lançam-se umas promessas para o ar, distribuem-se uns apoios estatais e acusa-se de tudo o grande capital estrangeiro que controla as companhias de eletricidade...

Intrigas da oligarquia na sombra

Hoje, trata-se de algo completamente diferente. E é a confusão total. Os manifestantes dizem que não querem que uma oligarquia continue a liderar o país na sombra. As elites não percebem – porque se alimentam precisamente da mão dessa oligarquia na sombra. Para elas, a política resume-se a isso: aos bastidores. Às intrigas criadas pela oligarquia na sombra.

Além disso, hoje não se ouvem os politólogos de serviço que costumam dar, de modo complacente, os seus esclarecimentos sobre a situação. Aqueles que, em fevereiro, no pequeno ecrã, colocavam palavras na boca dos manifestantes desapareceram. Foi assim que pessoas pobres que não podiam pagar as suas contas, humilhadas e desprezadas, começaram a repetir absurdos como “modelo islandês”, “modelo irlandês”, “nacionalização”, etc.

Aqueles que hoje saem todos os dias para a rua depois das 18h30 têm emprego. E pagam as suas contas de eletricidade e de aquecimento. São muitos – e muito diferentes: pais, professores, jornalistas, escritores, ciclistas, atores, engenheiros, estudantes, leitores... Não são revolucionários de carreira, muito menos vândalos. Para saírem todos para a rua, é preciso sentirem-se profundamente ofendidos.

Nomeação de Peevski foi o rastilho

O mais surpreendente é que a atual elite política ainda não percebeu porque isto está a acontecer. O rastilho foi a nomeação do polémico deputado Delian Peevski para chefe da Agência de Segurança Nacional (serviços de espionagem). [O parlamento acabou por rejeitar a sua nomeação a 19 de junho]. “Subestimámos a imagem que a opinião pública tinha desse senhor”, reconheceu o primeiro-ministro Plamen Orecharchski (candidato “independente” do Partido Socialista; o seu Governo é apoiado por parlamentares do partido dos muçulmanos, o MDL, e pelos ultranacionalistas do Ataka).

“Subestimámos as resistências que a sua nomeação suscitava”, acrescentou o dirigente do PS, Sergei Stanichev. Para ambos, o problema não é o próprio candidato, mas a sua imagem – aparentemente errónea. É esta a linguagem da oligarquia na sombra. “Subestimámos a magnitude da contestação, esperávamos ter uma centena de pessoas a manifestarem-se diante do parlamento e afinal transformou-se noutra coisa.”

Economia deve vir depois da ética

Se os homens da finança lessem livros, as nossas crises não seriam as que estamos a viver. No mínimo, teriam desenvolvido uma certa sensibilidade. Mas os livros, tal como os sentimentos, não são o seu forte. Este Governo, como o que o antecedeu, ainda não percebeu que a crise económica não é senão a parte visível de outra crise, muito mais profunda e muito mais pessoal – a crise de sentido, o défice de futuro.

Os especialistas são necessários, mas a especialização deve vir sempre depois da moral. E a economia depois da ética. Um especialista sem moral é apenas uma ferramenta nas mãos de quem compra os seus serviços, uma ferramenta ao serviço da oligarquia – qualquer que ela seja.

Estes primeiros dias de protesto são os mais belos, os mais inesperados. Devemos estar atentos para que estas manifestações não sejam recuperadas, manipuladas e desviadas por nacionalistas e desordeiros. Espero sinceramente que este protesto arranje força para se manter como é hoje. Com esses pais que trazem os filhos aos ombros, de rostos sorridentes e com uma raiva serena. Com aquele sentimento de pertença, enfim, a uma comunidade de valores. Porque o homem que protesta é realmente belo. E sensato.

MÚSICA POR UM HERÓI DOS TEMPOS MODERNOS




Mário Augusto Jakobskind* – Direto da Redação

Julian Assange, o fundador do site WikiLeaks, que nesta quarta-feira (19) completa um ano de permanência na Embaixada do Equador em Londres para evitar ser deportado à Suécia e posteriormente entregue aos Estados Unidos, encontrou-se nestes dias com o músico René Pérez Joglar, também conhecido como Residente, do conjunto portoriquenho Calle 13. Assange foi informado pelo cantor sobre a partitura de uma canção que denuncia a censura e a manipulação dos meios de comunicação.

Assange é informante de fatos a que todos deveriam ter acesso. Contrariar esses princípios através do mecanismo de escuta e vigilância na internet, como confirmado agora pelo ex-agente da CIA Edward Swoden, é desrespeitar o direito humano da informação, consequentemente atentatório à democracia.

A batalha de Assange e de seu aliado René Pérez Joglar é de todos aqueles desejosos de um mundo mais justo e sem censuras. Assange pode ser considerado um herói dos tempos modernos da revolução tecnológica, da mesma forma que o soldado estadunidense Bradley Manning, preso e torturado há três anos e agora sendo submetido a julgamento, que já se sabe antecipadamente qual será o veredito.

Graças a Assange o mundo ficou sabendo de maquinações do governo dos Estados Unidos em várias partes. Do Brasil foram confirmadas várias informações sobre ingerência norte-americana que circulavam a boca pequena.

Por estas e muitas outras, a libertação de Assange é uma exigência dos que não aceitam um mundo controlado por países que querem impor governos subservientes e inventam histórias para conseguir seus objetivos.

Ao estilo Colin Powell - Exemplos mais recentes são os acontecimentos na Síria, onde o governo dos Estados Unidos, ao estilo Colin Powell na era George W. Bush revelou que forças do presidente Bachar al Assad utilizam armas químicas contra seus opositores. Mas a Rússia desta vez avisou que as revelações não são convincentes.

A Casa Branca, juntamente com a Turquia e regimes monárquicos como da Arábia Saudita e Qatar, apoia os chamados rebeldes, entre os quais grupos vinculados a Al Qaeda, em ação há mais de dois anos e que não aceitam sentar a mesa para tentar acabar com o banho de sangue. E, por coincidência ou não, no momento em que o governo sírio tem conseguido recuperar áreas ocupadas pelos opositores, a Casa Branca denuncia o uso de armas químicas. A Turquia e os regimes monárquicos querem mais ao defenderem a vigência de uma zona de exclusão aérea e assim sucessivamente.

Garras do bloqueio - Ao mesmo tempo em que o mundo assiste o que poderá ser uma ação militar Ocidental, caso a Rússia recue nas advertências sobre a Síria, como aconteceu com a Líbia, Washington segue com sua política de bloqueio a Cuba. A última informação nesse sentido indica que o Departamento de Tesouro norte-americano confiscou os fundos de uma organização solidária britânica (Campanha Solidária a Cuba) que compraria cem exemplares do livro A guerra econômica contra Cuba, que relata as consequências do bloqueio norte-americano para a população cubana.

A investida autoritária do Departamento de Tesouro, além de bloquear os fundos exigiu que a referida ONG britânica explicasse em detalhes as relações com Cuba. Ou seja, as garras do governo estadunidense investem ilegalmente contra um outro país, no caso a Grã Bretanha, impedindo a venda de um livro que denuncia o bloqueio.

O pais que se considera arauto da democracia no mundo e tenta evitar a divulgação mais ampla, por exemplo, da informação sobre a proibição da compra por Cuba de remédios e equipamentos médicos fabricados apenas nos Estados Unidos, também mantém a ilha caribenha na lista de países terroristas, juntamente com a Síria, Somália e Irã.

Centenas de cubanos estadunidenses e 60 cidadãos norte-americanos, entre os quais , escritores, artistas, líderes religiosos e empresários assinaram abaixo assinado, enviado ao governo Barack Obama, contestando mais esta ação desestabilizadora contra Cuba.

O justo pleito foi também uma resposta a uma carta enviada a Obama por três parlamentares de origem cubana exigindo que Cuba fosse mantida na lista. O sectarismo parlamentar veio da parte das republicanas Ilena Ros-Lehtinen e Mari Diaz-Balart e do democrata Albio Sires.

Os integrantes da Fundação para a Normalização das Relações entre Estados Unidos e Cuba, com sede em Miami, contestaram os parlamentares fazendo questão de assinalar que Ilena Ros-Lehtinen, Mari Diaz-Balart e Albio Sires não representam a maioria da comunidade cubano estadunidense.

Truculência - Enquanto isso, em São Paulo, o governador tucano Geraldo Alckmin defendeu a ação truculenta da Polícia Militar paulista contra os manifestantes que protestavam contra o aumento abusivo das passagens de ônibus. O comandante em chefe da PM nem levou em conta o fato de um fotógrafo correr o risco de ficar cego por ter sido atingido por bala de borracha. Assim caminha um governo do PSDB. E aqui no Rio, Sergio Cabral do PMDB não está ficando atrás.

*É correspondente no Brasil do semanário uruguaio Brecha. Foi colaborador do Pasquim, repórter da Folha de São Paulo e editor internacional da Tribuna da Imprensa. Integra o Conselho Editorial do seminário Brasil de Fato. É autor, entre outros livros, de América que não está na mídia, Dossiê Tim Lopes - Fantástico/IBOPE

Brasil: PELO MENOS SEIS CAPITAIS TÊM MANIFESTAÇÕES MARCADAS PARA HOJE



Carolina Sarres e Thais Leitão - Repórteres da Agência Brasil

Brasília - Além das manifestações marcadas para o final da tarde de hoje (20) em Brasília, que deve reunir cerca de 55 mil pessoas, segundo adesão confirmada pelas redes sociais, uma série de protestos deve ocorrer também em outras cidades brasileiras, especialmente nas capitais. Estima-se que entre 80 e 100 municípios tenham algum tipo de manifestação marcada para hoje.

Em São Paulo, um ato está programado para as 17h, na Praça do Ciclista (no cruzamento da Avenida Paulista com a Rua Consolação), na zona central da cidade. No Rio de Janeiro, os protestos deverão ocorrer na Avenida Rio Branco, também no centro, a partir das 16h. A concentração será na Candelária e a marcha está prevista para ir até a Cinelândia. No Recife, manifestantes vão se concentrar na Praça do Derby, área central da cidade, a partir das 16h. Em Manaus, a mobilização terá início na Praça da Matriz, no centro, a partir das 17h. Em Goiânia, está previsto protesto, a partir das 16h, na Praça dos Bandeirantes.

Os protestos nas várias cidades continuam, apesar do anúncio de redução nas tarifas de transporte público, apontada como estopim das manifestações. De acordo com a organização Tarifa Zero, as prefeituras que já anunciaram a diminuição das tarifas foram Porto Alegre, João Pessoa, Campinas, Cuiabá, Manaus, Paranaguá (PR), Foz do Iguaçu (PR), Vinhedo (SP) e Valinhos (SP). A possibilidade de redução também está sendo estudada em outras cidades.

A continuidade dos movimentos nas ruas reforça os argumentos de que a pauta de reivindicações é ampla e inclui, também, melhorias em diversas áreas - como saúde, educação -, transparência dos gastos públicos, superfaturamento nas obras da Copa, violações de direitos humanos e combate à corrupção. Segundo especialistas, apesar das reivindicações heterogêneas, os protestos dão recados claros à classe política e a ao Poder Público.

Veja mapa feito pelo Portal da EBC e confira os locais com protestos marcados para hoje (20)

Brasília: CPI Copa, PEC 37 e melhorias em serviços públicos são bandeiras de manifestações




Carolina Sarres e Thais Leitão* - Repórteres da Agência Brasil

Brasília – Mais uma manifestação está marcada para hoje (20), em Brasília, em meio à série de protestos que vêm ocorrendo em várias cidades do país. O destino final da mobilização é o gramado do Congresso Nacional. Os manifestantes devem se concentrar em três pontos da cidade: na Universidade de Brasília (UnB), a partir das 12h; no Museu Nacional da República, a partir das 16h; e na Rodoviária do Plano Piloto, a partir das 17h.

Os manifestantes estão se organizando via internet para marchar pelo Eixo Monumental e pela Esplanada dos Ministérios até chegar ao gramado do Congresso. O grupo Acorda Brasília!, que conseguiu a adesão pelas redes sociais de 55 mil pessoas para a manifestação de hoje, informou à Agência Brasil que não pretende incitar ou apoiar a entrada de pessoas na Câmara e no Senado ou qualquer ato que ultrapasse a área externa e o gramado do local.

Em um protesto na última segunda-feira (17), parte dos manifestantes ocupou a rampa do Congresso Nacional e uma das cúpulas no teto do prédio.

Antecipando-se à manifestação de hoje, as vias de acesso ao Congresso foram bloqueadas pela segurança do Senado para evitar que veículos fiquem parados no local. Ontem (19), a entrada de pessoas na Câmara e no Senado foi controlada para evitar possíveis tumultos dentro das casas.

No momento, a cúpula da Polícia Militar (PM) do Distrito Federal está reunida para definir as estratégias de segurança e decidir se o trânsito será interrompido na Esplanada dos Ministérios, local em que todos os manifestantes irão se reunir. A PM informou que o Departamento de Trânsito (Detran) do DF irá atuar de acordo com as demandas.

Organizador do movimento Copa para Quem? no Distrito Federal, o economista Francisco Carneiro disse que o grupo vai protestar contra o conjunto de violações de direitos humanos cometidas em função dos eventos esportivos no país e exigir o fim da criminalização das manifestações.

"Os protestos começaram por causa dos preços das passagens, mas outras reivindicações estão sendo incluídas. Por causa do último protesto na Esplanada, várias pessoas estão sendo criminalizadas. Vamos exigir o fim desse absurdo e também protestar contra as diversas violações de direitos humanos no contexto dos eventos esportivos, como as remoções forçadas", disse Carneiro.

Em Brasília, a manifestação pela tarifa zero reuniu ontem cerca de 2 mil pessoas. Embora a principal motivação tenha sido por melhorias no transporte público, também foram feitas críticas ao governador Agnelo Queiroz e ao presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, Marco Feliciano.

Ontem, os governos de São Paulo e do Rio de Janeiroanunciaram a redução do preço das passagens de transporte público. De acordo com a organização Tarifa Zero, outras prefeituras também anunciaram a diminuição dos preços das passagens: Porto Alegre, João Pessoa, Campinas (SP), Cuiabá, Manaus, Paranaguá (PR), Foz do Iguaçu (PR), Vinhedo (SP) e Valinhos (SP). A possibilidade de redução também está sendo estudada em outras cidades.

Segundo um dos líderes do Acorda Brasília!, o estudante Renato Luís, 18 anos, o objetivo do protesto de hoje é pedir a instauração de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Copa, para investigar os gastos com o evento, possíveis superfaturamentos e transgressões com a venda de ingressos; apoiar a tramitação doProjeto de Lei (PL) 5500/2013, para a destinação de 100% dos royalties do petróleo para a educação; e apoiar a discussão sobre as propostas de Emenda à Constituição (PECs) 37 e 33 (que limita os poderes do Supremo).

O movimento também apoia os cinco objetivos do Anonymous Brasil, outro grupo criado via redes sociais, que pede a saída imediata do presidente do Senado, Renan Calheiros; a investigação das obras da Copa pelo Ministério Público Federal (MPF) e pela Polícia Federal (PF); a criação de uma lei que torne a corrupção no Congresso crime hediondo; o fim do foro privilegiado aos parlamentares e o repúdio à PEC 37.

Veja mapa feito pelo Portal da EBC e confira os locais com protestos marcados para hoje (20)

A GRANDE VITÓRIA DOS ‘INDIGNADOS’ BRASILEIROS



Celso Lungaretti  - Consciência.net - 20 de junho de 2013

A tomada da Bastilha foi um episódio de enorme importância simbólica, por ter exposto dramaticamente a fragilidade de uma monarquia que caía de podre mas os franceses, por hábito, continuavam temendo; daí o 14 de julho haver se tornado o principal feriado da nação.

Seu resultado prático, contudo, foi apenas a libertação dos sete últimos prisioneiros que nela restavam e a obtenção de um arsenal sucateado (de 15 canhões, apenas três funcionavam…).

Da mesma forma, o que nossos  indignados  acabam de conseguir não foi somente a revogação, em poucas capitais, de mais um reajuste de tarifas do transporte coletivo. Na verdade, eles despertaram um gigante adormecido: o povo brasileiro.

A chegada ao poder do partido que se propunha a representar os explorados teve o efeito nocivo de os desmobilizar; passaram a crer que lhes seria dado de mão beijada o que tinham, isto sim, de conquistar com os punhos cerrados.

Quando o PT se vergou ao poder econômico para conseguir governar,  endireitando  e domesticando-se a olhos vistos, o povo ficou órfão e, pior ainda, desiludido e descrente de sua força.

Limitava-se a resmungar contra a corrupção, contra a inflação, contra as maracutaias da Copa, contra o sucateamento da Saúde e da Educação, contra o caos nos transportes, contra a vida mal vivida e a noite mal dormida…

Em São Paulo, a bestialidade de um governo cujos efetivos policiais permanecem  mentalmente ancorados na ditadura militar despertava reações frouxas, quase irrelevantes face à gravidade de episódios como a ocupação militar da USP e a  barbárie no Pinheirinho.

No entanto, a força da opinião pública é bem maior que a dos brutamontes fardados; foi o que se constatou, primeiramente, em 2011, quando uma tentativa de proibição da Marcha da Maconha acabou em recuo, face à péssima repercussão da  blitzkrieg  que a PM desencadeou em plena avenida Paulista.

O fenômeno se repetiu na semana passada: quando são escancarados ao País –e ao mundo– os métodos corriqueiros das nossas  polícias democráticas, a batalha pelos corações e mentes está ganha. Só sádicos e psicopatas conseguem presenciar  aquelas agressões covardes sem se revoltarem.

E, desta vez, o exemplo de luta de São Paulo inspirou iniciativas semelhantes em várias outras cidades, que trouxeram à tona demandas reprimidas há mais de uma década e flagraram uma insatisfação generalizada com os governantes do País.

Foi um divisor de águas: nada será como antes amanhã. A passividade e a prostração terminaram. As cobranças começaram. Novos contingentes revolucionários estão sendo forjados na luta, para um dia oferecerem uma verdadeira solução às carências e aflições do nosso povo.

Desde que sejam pacientes na acumulação de forças e perspicazes na escolha do momento para cada batalha, não tentando acelerar artificialmente os acontecimentos e precavendo-se sempre contra a ação nefasta dos provocadores infiltrados.

Saques e depredações são tudo de que não precisamos neste momento mágico de retomada em larga escala das lutas sociais.


Portugal: O MEDO DE PASSOS




Mariana Vieira da Silva – Económico, opinião

Passos Coelho pode dizer que não tem medo de eleições, mas quem vai a votos tem medo de se apresentar ao seu lado.

Num ano eleitoral autárquico normal estaríamos, a dois meses das eleições, a olhar para a situação política à luz dos prognósticos para umas eleições autárquicas que ocorrem precisamente a meio do mandato deste Governo: serão estas eleições um cartão amarelo ao Governo? Ou um cartão vermelho? Afirmar-se-á o PS com uma vitória clara e inequívoca? Mas este não é um tempo normal, e estes não são os termos do debate. 

O momento decisivo não serão as autárquicas, porque até lá governo tem duas provas de fogo, que funcionam como uma pré-campanha para os autarcas: a apresentação aos portugueses de um novo pacote de medidas de austeridade já negociadas com o FMI e a elaboração do Orçamento para 2014. 

O Governo comprometeu-se com a ‘troika' a legislar, até 15 de Julho, sobre o aumento da idade da reforma (sem dizer como), sobre um corte de grande dimensão nas atuais reformas dos aposentados da administração publica e sobre as regras de despedimento nos trabalhadores do Estado. E depois vai tentar esconder o Orçamento para 2014 onde, já sabemos, inscreverá medidas que concretizem a meta de 4 mil milhões de euros. É o aprofundamento de uma estratégia política que teve os resultados que conhecemos: 18% de desemprego, PIB a cair 2,2% e o falhanço das metas do défice e da dívida - é este insistir num caminho destruidor da economia e dos equilíbrios sociais que vai marcar politicamente e de forma decisiva o fim do ano 2013. Pensar nos danos que as eleições autárquicas podem provocar à coligação é inverter o problema.

É que é à coligação, é à forma insana como o governo responde a cada falhanço nas metas com uma nova dose dos mesmos erros que pode ser imputada uma provável derrocada eleitoral dos partidos de direita.

A dois meses das eleições, todos os candidatos autárquicos do PDS sabem o peso que carregam, mudaram a cor aos cartazes, apagando todos os vestígios que os liguem aos partidos no governo. Porque Passos Coelho pode dizer que não tem medo de eleições, mas quem vai a votos tem medo de se apresentar ao seu lado nesta pré-campanha desastrosa. E já não o escondem.

Portugal: UGT ACUSA CAVACO DE “SE SUBALTERNIZAR” AO GOVERNO



Económico - Lusa 

Carlos Silva contestou hoje a promulgação de lei dos subsídios pelo Presidente da República.

A UGT contestou hoje a decisão do Presidente da República de promulgar a nova lei sobre o pagamento de subsídios de férias aos funcionários públicos e acusou Cavaco Silva de "se subalternizar" ao Governo.

Em comunicado enviado às redacções, "a UGT considera que o Presidente da República se subalternizou ao Governo, anuindo mais uma vez a uma situação injusta que coloca em causa os princípios de equidade e igualdade entre trabalhadores".

Depois de o Executivo ter referido que não existiam problemas de tesouraria ou orçamentais para pagamento dos subsídios de férias, a estrutura sindical diz não entender "a discriminação de pagamento entre trabalhadores", uma vez que algumas autarquias já pagaram os subsídios de férias.

"O que poderá estar implícito, mais não é do que uma represália face à decisão do Tribunal Constitucional de reposição dos subsídios a todos os trabalhadores do Estado e pensionistas", considera a UGT.

O sindicato, liderado por Carlos Silva, refere ainda que "apoiará todas as suas estruturas sindicais da administração pública nas diligências que por estas forem interpostas, junto do Provedor de Justiça e dos grupos parlamentares, no sentido de ser reposta a justiça, equidade e igualdade entre trabalhadores".

O Presidente da República já promulgou a proposta de lei que regula a reposição do subsídio de férias para 2013 dos funcionários públicos e pensionistas, disse à Lusa fonte de Belém.

O diploma estabelece o pagamento dos subsídios de férias em Novembro aos funcionários, reformados e pensionistas do sector público que recebem vencimentos acima dos 1100 euros.

Abaixo dos 600 euros de salário mensal, os subsídios serão pagos em Junho e entre os dois valores, uma parte é paga em Junho e a restante em Novembro, segundo a proposta de lei, cujo histórico publicado no 'site' do Parlamento indica ter sido enviada hoje para Belém.

O Governo foi obrigado a repor o pagamento dos subsídios de férias deste ano na sequência da declaração de inconstitucionalidade da sua suspensão prevista no Orçamento do Estado para 2013.

Portugal - Subsídios: “PRESIDENTE É TÃO RESPONSÁVEL COMO O GOVERNO”




Económico – Lusa

CGTP acusa Cavaco de desrespeitar o Constitucional ao autorizar o pagamento do subsídio de férias só em Novembro.

"O Presidente da República é tão responsável como o Governo por aquilo que se está a passar em Portugal e, particularmente, por esta medida que é inaceitável, que põe em causa os direitos dos trabalhadores da administração pública e que acaba por fragilizar a própria economia", afirmou à agência Lusa Arménio Carlos.

O líder da central sindical acrescentou que seria uma medida "que iria ajudar as famílias a ganhar um pouco mais de poder de compra e consumirem mais, ajudando a dinamizar a economia".

"O senhor Presidente da República, neste momento, em vez de ser uma figura que garante equidistância, é neste momento um Presidente da República que se tornou num problema a acrescentar aos outros problemas que o Governo nos trouxe", sublinhou.

O secretário-geral da CGTP condenou a promulgação pelo Presidente da República da proposta de lei que vem autorizar o pagamento do subsídio de férias aos funcionários públicos em novembro, em vez de junho, como era habitual.

"Não se trata de um problema económico ou financeiro, trata-se de uma opção política com uma marca clara e inequívoca de afronta, de desrespeito, de perseguição aos trabalhadores da administração pública", disse.

Arménio Carlos lembrou também que a decisão "desrespeita uma decisão do Tribunal Constitucional que assumiu que era necessário pagar o subsídio de férias aos trabalhadores da administração pública no tempo e no momento adequado".

Defendeu, por isso, que o pagamento só em novembro é "mais um argumento" para os trabalhadores aderirem à greve geral do dia 27.

Arménio Carlos falava à agência Lusa no final de um plenário, em Mafra, com trabalhadores da empresa Veólia.

O Presidente da República promulgou, na quarta-feira, a proposta de lei que regula a reposição do subsídio de férias para 2013 dos funcionários públicos e pensionistas.

O diploma estabelece o pagamento dos subsídios de férias em novembro aos funcionários, reformados e pensionistas do setor público que recebem vencimentos acima dos 1100 euros.

Abaixo dos 600 euros de salário mensal, os subsídios serão pagos em junho e entre os dois valores, uma parte é paga em junho e a restante em novembro, segundo a proposta de lei, cujo histórico publicado no 'site' do parlamento indica ter sido enviada hoje para Belém.

O Governo foi obrigado a repor o pagamento dos subsídios de férias deste ano na sequência da declaração de inconstitucionalidade, pelo Tribunal Constitucional, da sua suspensão prevista no Orçamento do Estado para 2013.

Portugal: ABRIU A CAÇA AO NOGUEIRA



Daniel Oliveira – Expresso, opinião

A greve dos professores foi por razões laborais. E é justo que assim seja. As suas e de todos os funcionários públicos, tratados como malandros por este governo. Só corresponde à defesa das funções sociais do Estado, onde a educação está incluída, na medida em que essas funções não se cumprem sem profissionais para as levar a cabo. E na medida em que os ataques preferenciais aos funcionários públicos correspondem ao preconceito ideológico que este governo tem contra as funções que eles desempenham.

Defender os professores deste ataque não significa achar que a maioria dos professores tem, em geral, em todos os restantes assuntos, razão. Os professores são tão egoístas e solidários como qualquer outra classe. Muitos se queixarão dos funcionários da CP quando estes fazem greve. Dizendo, provavelmente, que as suas greves não deviam prejudicar os outros. Assim como muitos trabalhadores da CP que fazem por vezes greves estarão indignados com os professores pelos prejuízos que causaram aos seus filhos. A velha solidariedade de classe já teve melhores dias. E isso ajuda a explicar porque perdem os trabalhadores, de dia para dia, os seus direitos.

Não faço, por isso, textos laudatórios à classe docente. Nem, como tenho lido em tanto lado, generalizações insultuosas. Limito-me a analisar as razões desta luta e a dar-lhes razão. E, sendo consequente, a defender o direito de fazerem a greve mais eficaz possível. Mesmo que ela me prejudique.

É o mesmo raciocínio que tenho com Mário Nogueira. Escrevi, recentemente no "Expresso", sobre o olhar que do líder da Fenprof tem em relação à escola pública e como, na minha opinião, ele é, no fundamental, muito semelhante ao de Nuno Crato. Mas também nesta matéria, não me baralho. A minha opinião sobre Nogueira, e sobre a sua razoável incapacidade em manter um discurso político mais abrangente que mobilize o resto da sociedade em defesa dos professores, não muda um milímetro a minha posição sobre a greve. Pelo contrário, compreendo bem o objetivo das dezenas de ataques, mais simulados ou mais enfurecidos, que têm sido dirigidos a Nogueira. Não podendo atacar os 90% de professores que fizeram greve, concentram-se as baterias no rosto mais visível de uma contestação que contou com o apoio de todos os sindicatos. O que se pretende atacar não é a apenas esta greve e os professores. É o sindicalismo, a própria instituição da greve e, de uma forma mais geral, qualquer forma de resistência eficaz às medidas deste governo.

Uma das principais criticas que tenho lido em relação a Mário Nogueira é o facto de não dar aulas. O populismo pega com facilidade. Pega com políticos e também pega com sindicalistas. Curiosamente, ninguém faz este género de objeções a dirigentes de associações patronais, a bastonários de ordens profissionais ou a dezenas de dirigentes de ONG. Uma federação das dimensões da Fernprof (uma das maiores estruturas sindicais do País, com associados espalhados por todo o território e com um grau de complexidade na sua gestão muito razoável) não se dirige nas horas vagas.

Esta acusação feita com recorrência aos dirigentes sindicais, que nunca aparece em relação a nenhuma outra atividade associativa, só pode resultar de uma de duas coisas: ou de um completo desconhecimento do conjunto de atividades desenvolvidas pelos sindicatos ou da tentativa de criar tais constrangimentos à atividade sindical que, na prática, ela seja inviável. Na maior parte do que tenho lido, a propósito da Fenprof (e só, não sei porquê, em relação à Fenprof), é o segundo caso.

O melhor exemplo foi dado pelo líder da JSD (o mesmo que defende o fim da da saúde e da educação tendencialmente gratuitas e que afirmou não se incomodar com a quantidade de jovens que estão a emigrar), que exigiu ontem uma conveniente investigação ao financiamento dos sindicatos da educação (que, ao contrário da sua "jota", vivem apenas das quotas dos seus associados). Quem se mete com o governo leva, é a tradução jorgecoelhista desta proposta vinda de quem vive mal com a liberdade sindical e o direito à greve. Quem faz este tipo ataque é a favor do direito à greve se ele não for exercido, a favor do sindicalismo livre se ele não for viável e a favor da concertação social se ela resultar em acordos em que só um dos lados tem uma palavra a dizer.

Se a crítica fosse à falta de democracia interna em muitos sindicatos, que têm estatutos bloqueados e a expressão da oposição muito dificultada, eu subscreveria. Avisando, no entanto, que os sindicatos dos professores até são daqueles onde essa critica é menos válida e que a eleição de Mário Nogueira como líder da Fenprof foi indiscutivelmente democrática. Se fosse ao afastamento de muitos sindicalistas, por demasiado tempo, em relação aos seus locais de trabalho, eu assinaria por baixo. Se fosse sobre a excessiva partidarização de muitos sindicatos, também. Mas a critica parte de um pressuposto demagógico: o de que é possível dirigir grandes sindicatos em horário pós-laboral. Ou seja, ter estruturas amadoras a negociar com instituições públicas e associações patronais ultraprofissionais. Quem defende isto quer sindicatos fracos. E não acredita que eles desempenham um papel central na democracia e que, para o desempenhar, precisem de recursos materiais e humanos.

A outra critica tem a ver com o recurso à greve. Ela vai variando, conforme o contexto. A greve geral é inaceitável porque quer fazer cair um governo eleito. A greve dos estivadores era inaceitável porque prejudicava a economia. As greves da função pública são inaceitáveis porque prejudicam os utentes e resultam de privilégios. A greve dos transportes é inaceitável porque impede os outros de trabalhar. A greve é, no fundo, sempre inaceitável. Mas note-se que, quem o diz, deixa sempre claro que defende o direito à greve, instituído em todas as democracias. Desde que nunca seja realmente exercido. 

Esgotados todos os argumentos, abriu a época do tiro ao Nogueira. Como se esta greve fosse sua. Ele é do PCP, logo a greve é do PCP. Com 90% de adesão e o apoio de todos os sindicatos a coisa é difícil de vender. Entre os grevistas estarão seguramente eleitores de todos os partidos e gente que não pode ver Mário Nogueira nem pintado. Ou as pessoas julgam que os professores são todos uns idiotas, fáceis de instrumentalizar, ou perceberão que Nogueira apenas se limitou a dar expressão a um sentimento geral que o ultrapassa em muito.

Por fim, é uma forma de diabolizar qualquer tipo de contestação ao governo. Tal como acontece com as greves, não me lembro de nenhuma forma minimamente eficaz de resistência às gravíssimas medidas tomadas por este executivo que não tivesse sido acusada de oportunista, pouco cívica ou antidemocrática. Se se faz greve prejudica-se o País. Se se fazem manifestações, são os comunistas e bloquistas do costume. Se se interrompe a intervenção de um ministro, viola-se a liberdade de expressão. Há sempre uma razão qualquer para não discutir as razões que levam a uma determinada forma de luta e ficarmos a debater a legitimidade dessa forma de luta.


É a isso mesmo que assistimos, em Portugal, sempre que qualquer forma de luta pode dar sinais de ser eficaz: seja por causa da ansiedade dos alunos, seja por causa dos prejuízos para economia, seja pelo ódio a um dirigente sindical em particular ou seja por pequenos focos de violência, quer-se manipular a opinião pública para que ela aceite, em silêncio, tudo o que lhe é imposto. Dizendo, claro, que até se é contra as medidas. O problema é que haja alguém que se atreva a resistir a elas de forma consequente e a dar assim, aos restantes cidadãos, um "mau" exemplo. Há que os isolar e colocar na fogueira mediática. Agora é Mário Nogueira. Amanhã será outro que dê a cara por qualquer combate que ponha em causa esta aviltante gestão do discurso da inevitabilidade.

PORTUGAL ESTÁ A FAZER POUCO NO COMBATE À CORRUPÇÃO TRANSNACIONAL



RTP - Lusa

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) considerou hoje que Portugal está a fazer pouco para combater a corrupção transnacional, defendendo uma aplicação da lei mais ativa.

"A aplicação da legislação sobre corrupção transnacional tem sido muito baixa. Nem uma única acusação resultou de 15 queixas sobre o suborno de funcionários estrangeiros por parte de empresas portuguesas em países de risco", refere um relatório do grupo de trabalho sobre corrupção da OCDE.

A organização adianta que "várias investigações foram encerradas prematuramente" e que "algumas queixas nem foram investigadas", defendendo que "Portugal deve investigar todas as alegações de corrupção transnacional de modo mais claro e completo".

O relatório assinala que Portugal tem ligações importantes com países considerados de alto risco em termos de corrupção, como Angola.

Embora a maior parte das trocas e investimento de Portugal seja com os países da União Europeia, "Brasil, Angola e Moçambique estão entre os seis principais locais de investimento externo português", indica o texto, adiantando que "Angola foi o quarto principal destino das exportações em 2011" e que "o comércio com a China cresceu 5,2 por cento apenas no primeiro semestre de 2012".

"A elite política e responsáveis da administração em Angola, e pessoas a eles ligados, terão participações significativas em empresas portuguesas dos setores da banca, petróleo e tecnologias de informação", indica ainda.

Referindo também que Portugal desempenha "um papel importante" na economia de Cabo Verde, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe, a OCDE nota que "vários desses países têm altos níveis de corrupção, representando assim sérios riscos de suborno transnacional".

O relatório sobre a aplicação por parte de Portugal da Convenção de Luta contra a Corrupção, a que o país aderiu em 2001, recomenda que Portugal impeça que responsáveis estrangeiros lavem no país dinheiro resultante da corrupção e que salvaguarde as investigações do risco de influência por preocupações políticas ou económicas.

A OCDE defende ainda a necessidade de se aumentar "o nível de consciência assustadoramente baixo" das empresas portuguesas da importância da luta contra a corrupção transnacional, bem como de se manter as empresas estatais a salvo do suborno externo.

Em relação aos aspetos positivos do combate à corrupção transnacional, a organização elogia os passos dados por Portugal para melhorar a cooperação a este nível com os países com quem tem relações económicas mais fortes, o reforço da coordenação entre as diversas forças polícias e a melhoria do acesso à informação bancária através da criação de um banco de dados centralizado.

O relatório recomenda igualmente que seja feita uma análise no prazo de um ano sobre os progressos realizados por Portugal, para que o grupo de trabalho decida se é necessária uma avaliação mais aprofundada.

SENTENÇA DO CASO “LANCHA VOADORA” EM CABO VERDE MARCADA PARA SEXTA-FEIRA



JSD – VM - Lusa

Cidade da Praia, 20 jun (Lusa) - A leitura da sentença do processo conhecido por "Lancha Voadora", marcada inicialmente para 03 deste mês e ligada à apreensão de 1,5 toneladas de cocaína em Cabo Verde, em 2011, está prevista para sexta-feira sob fortes medidas de segurança.

Iniciado a 18 de março último, o julgamento terminou a 29 de abril com as alegações finais do Ministério Público, que reiterou a condenação de todos os arguidos em regime de prisão preventiva pelos crimes de tráfico de droga, lavagem de capitais e associação criminosa, como consta dos autos, consultados pela Inforpress.

Segundo adianta hoje a agência noticiosa cabo-verdiana, a acusação pediu ao coletivo de juízes, presidido por Sebastião de Pina, a prisão efetiva para os arguidos que se encontravam em regime de TIR (termo de identidade e residência) e a dissolução das cinco empresas envolvidas no processo.

A operação "Lancha Voadora" foi tornada pública a 08 de outubro de 2011, com a maior apreensão de droga de sempre no país: uma tonelada e meia de cocaína em estado de elevada pureza escondida numa cave de um prédio na Achada de Santo António, na Cidade da Praia, e que foi incinerada a 25 de outubro, na presença de autoridades e de jornalistas.

Além da droga, a Polícia Judiciária apreendeu milhares de euros e de outras moedas, milhões de escudos cabo-verdianos em notas e 15 viaturas, das quais cinco veículos topo de gama, três jipes, quatro "jet-sky", duas "pick-up", uma "moto-quatro" e várias armas e munições.

Durante a operação, foram detidos Paulo Pereira, a sua mãe, Ivone, e a irmã Ernestina, e Quirino dos Santos.

A 20 de dezembro, a PJ deteve o então presidente da Bolsa de Valores, Veríssimo Pinto, e mais cinco pessoas: Carlos Gomes Silva, os empresários da construção civil António "Totony" Semedo e Luís Ortet, o mestre de pesca Jacinto Mariano e o também empresário Djoy Gonçalves.

A 22 de dezembro, o Tribunal da Praia decretou prisão preventiva de quatro dos seis detidos, tendo Djoy Gonçalves e Jacinto Mariano ficado sob regime de TIR (termo de identidade e residência).

O mesmo destino teve, posteriormente, o empresário ligado ao setor imobiliário José Teixeira, a 10 de fevereiro de 2012, e os seus colaboradores Nilton Jorge, Sandro Spencer, Nerina Rocha, além de José Oliveira, funcionário do Banco Africano de Investimento (BAI).

Além destes 15 arguidos, estiveram sob investigação várias empresas cabo-verdianas ligadas direta ou indiretamente aos acusados: Editur, ImoPraia, AutoCenter, Aurora Internacional e TecnoLage, todas com sede na capital cabo-verdiana.

Contudo, a instrução do processo, que deveria estar concluída em sensivelmente três meses, viria a revelar-se mais complexa, porque a PJ dependia de outras instituições, sobretudo das respostas às solicitações de informações, algumas das quais pedidas formalmente a outros países.

Por isso, o julgamento só viria a ter início a 18 de março de 2013, mas a sessão foi suspensa devido à ausência de um arguido, Jacinto Mariano, que residia em São Vicente.

Os trabalhos prosseguiram de dia 21 de março a 11 de abril, altura em que os advogados se recusaram a entrar na sala de audiência em protesto contra a diretiva de serem revistados à entrada.

O juiz Sebastião de Pina nomeou novos defensores oficiosos que, porém, em solidariedade aos colegas, não compareceram, tendo o diferendo sido sanado após dois dias, quando o tribunal cedeu às exigências da defesa.

Os trabalhos só foram retomados a 15 de abril e prosseguiram sem interrupção até ao dia 29, quando o juiz prometeu a leitura da sentença para 03 de junho, data adiada por, segundo a imprensa, não ter sido possível concluir o documento do veredito.

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