sábado, 2 de junho de 2012

O BOSQUE EM FLOR



Rui Peralta

A ágora africana (1)

Zimbabwe

A extracção diamantífera na unidade zimbabwena da Rio Tinto, localizada na mina de Murowa, no sul do país, mais que duplicou, passando dos 141 mil carates em 2010 para os 324 mil carates em 2011.

Moçambique

Maputo planeia a construção de um complexo litoral, de 300 mil metros quadrados, com escritórios, áreas residenciais, Hotéis, restaurantes e centros comerciais. É um projecto avaliado em mil milhões de USD e projectado para 15 anos, segundo a CR Holdings.

Camarões

Os Camarões esperam duplicar a produção de crude, para 100 mil bpd (barris por dia), este ano, depois da Perenco, ter incrementado a extracção para 50 mil bpd, no campo Baf 3. Em 2011 os Camarões produziram uma média 65 mil bpd. O campo Dissoni fica onstream no segundo semestre deste ano, assim como as concessões de Moudi e Ebome Marine, no Douala/Kribi-Campo.

Quénia e Ruanda voam mais alto

A Kenya Airways estabeleceu este mês voos directos para Nova Deli, perfazendo um total de 57 destinos, sendo este o seu segundo destino para a India, depois dos voos para Mumbai. A nova rota tem como alvo o mercado indiano e chinês. No entanto Nairobi, a capital do Quénia tornou-se também um destino da Etihad Airways, que voa directo a partir de Abu Dhabi. Este é o primeiro destino na Africa Oriental para a Etihad. O alvo desta operação é o aumento de passageiros chineses e nessa perspectiva a Etihad tem planos para estender, em Julho, os seus serviços á Nigéria.

Por sua vez o Ruanda recebe o primeiro voo regular da Qatar Airways, que opera a rota Kigali – Doha, via Entebe, no Uganda, através de um Airbus A320, com capacidade máxima de 144 passageiros. O Ruanda está a tornar-se num centro económico emergente de rápido crescimento, com fortes ligações á Europa, Médio-Oriente e Extremo-Oriente. O Ruanda exporta para o Medio Oriente produtos hortícolas e café e espera incrementar o turismo provindo do Medio-Oriente. Outros pretendentes á rota de Kigali para este ano, são a South African Airways e a Turkish Airlines. Quanto á Qatar Airways expandiu as sua operações com o continente africano, estabelecendo novas rotas para a Líbia, Uganda, Mombasa, no Quénia e Kilimanjaro e Zanzibar na Tanzânia.

Ghana e India

O comércio bilateral entre o Ghana e a India rondará 1biliäo de USD em 2013. Os laços comerciais entre os dois países foram incrementados em 2009, atingindo um valor de 538 milhões de USD em 2009-2010 e de 818 milhões de USD em 2010-2011, sendo as exportações indianas para o Ghana avaliadas em 658 milhões de USD e as importações em 160 milhões de USD.

Investimento estrangeiro

O investimento estrangeiro na região subsariana sextuplicou, nos últimos dez anos, assistindo-se a alterações na sua composição. Este ano o investimento da China nas infraestruturas africanas ultrapassou o do Banco Mundial.

Tanzânia

Os ingleses da BG Group, numa joint venture com a Ophir Energy, anunciaram que um dos campos de gás na costa tanzaniana, é maior que o estimado pelos estudos efectuados por ambas as companhias. Segundo um engenheiro da Ophir este é o maior campo de gás descoberto na história da companhia, excedendo em muito as estimativas efectuadas.

Madagáscar

Madagáscar vai iniciar este ano a produção de crude no campo de Tsimiroro, a sua primeira produção de crude sustentada. O campo de Tsimiroro tem uma reserva estimada em 1,7 biliões de barris.

Acordo Angola/Congo-Brazzaville

Angola e a Republica do Congo vão explorar em conjunto o campo fronteiriço do Lianzi e partilhar igualmente os lucros obtidos. O acordo estabelece os mecanismo de partilha dos resultados obtidos na exploração do campo e a abertura de uma conta conjunta para depósitos dos lucros num banco angolano. A operadora será a Chevron e as reservas do campo estão avaliadas em 67 milhões de barris.

Gabão

O governo do Gabão e o conglomerado sul-coreano SK Energy, projectam a construção de uma refinaria na Ilha de Mandji, um investimento de mil milhões de USD. A nova refinaria processará 50 mil bpd, sendo metade para exportação e a outra metade para o mercado interno gabonês

Fontes
African Business, nr. 386, May 2012


Trabalho de António Borges no Goldman Sachs é um mistério, diz jornalista




O jornalista do "Le Monde" Marc Roche estabelece um paralelo entre as políticas de austeridade na Europa e a presença de "veteranos" do Goldman Sachs na política europeia.

Marc Roche, jornalista do "Le Monde" e autor do livro "O Banco - Como o Goldman Sachs dirige o mundo", disse à Lusa que o português António Borges é um "mistério", tal como outros antigos "veteranos" da instituição.

O autor do livro publicado em Portugal esta semana disse que a doutrina financeira anglo-saxónica liderada pelo banco norte-americano Goldman Sachs está atualmente colocada nos bastidores do poder na Europa o que põe em causa a regulação em nome do lucro, e estabelece um paralelo entre as políticas de austeridade na Europa e a presença de "veteranos" do Goldman Sachs na política europeia.

"Em novembro de 2011, o Fundo Monetário Internacional anunciou a demissão do diretor do seu departamento europeu, o português António Borges, por 'razões pessoais'. António Borges, 63 anos, passou apenas um ano em Washington, em funções que o levaram a supervisionar alguns dos maiores empréstimos da história da instituição: à Grécia e à Irlanda, ambos membros da zona euro. Este economista, presidente no momento do seu recrutamento de uma organização de ética no setor dos fundos especulativos, tinha sido selecionado pelo FMI pelo seu conhecimento dos mercados financeiros", escreve Roche na primeira página do livro.

Grupo de "iluminados"

"Oficiosamente, António Borges, que, no seio do Banco de Portugal na década de 1990, foi um dos arquitetos da criação da moeda única, acabou por ser dispensado do FMI. De facto, esta partida poderia estar ligada ao facto de ele ter sido também durante oito anos (2000-2008) um dos dirigentes do Goldman Sachs International, filial europeia do banco americano", refere o autor.

"Com efeito, o papel do banco americano na maquilhagem das contas gregas em 2002-2003 poderia não ser estranho àquilo que aparece como uma destituição", continua Roche, que refere que a nacionalidade portuguesa do "interessado" jogou contra ele no momento em que a troika, composta pelo FMI, Comissão Europeia e Banco Central Europeu, dava ajuda em troca de medidas de rigor "draconianas".

Para Marc Roche a "filosofia" Goldman Sachs está presente na política europeia através de um grupo de "iluminados" que são "simultaneamente um grupo de pressão, uma associação de colheita de informações, uma rede de ajuda mútua" eficaz, competente e treinada na instituição norte-americana, apesar de se saber muito pouco sobre o que andaram a fazer no Goldman Sachs os "tecnocratas" que atualmente são protagonistas na Europa.

Bastidores das influências políticas

"O que é que eu encontrei sobre esta gente? Muito pouco a não ser que o Goldman Sachs quer esta gente nos bastidores das influências políticas. O que é que eu descobri sobre o senhor Borges? Pouco. Sei que ele esteve no Goldman Sachs mas não sei o que é que ele fez ou em que secção trabalhou. Tal como os outros: Draghi ou Monti", explicou.

"De vez em quando perguntamos 'o que diabo andou a fazer no Goldman Sachs?' mas eles não respondem. A não ser Dragi que disse ter lidado com situações corporativas e que nunca mexeu em assuntos relacionados com dívida soberana dos países. Mas tal como os outros, o senhor Borges é um mistério para mim", disse Roche, autor do livro sobre a influência do Goldman Sachs na Europa.

FMI




Pedro Bacelar de Vasconcelos – Jornal de Notícias, opinião

Algo de errado se passa com o Fundo Monetário Internacional. Christine Lagarde, sem perder a habitual aparência de "travesti chique" que lhe franqueou as portas do rígido universo masculino da alta finança internacional, desatou a fazer comparações absurdas entre a situação das crianças, numa remota aldeia da Nigéria, e a falência dos serviços e estruturas sociais que estão a destruir a democracia grega.

Queixaram-se os gregos ofendidos, com muita razão, e com muita razão se podiam ter queixado também os nigerianos e os cidadãos de qualquer continente como fez Manuel António Pina, nas páginas deste jornal: "a diretora-geral não podia ser mais clara (nem mais cínica)". O que surpreende é que depois do afastamento do seu antecessor por alegada incontinência sexual, Christine Lagarde não tenha ainda sido demitida por esta flagrante exibição de incontinência verbal. De facto, enquanto as suspeitas de assédio que vitimaram Dominique Strauss-Kahn não indiciavam a menor relação com o conteúdo das funções que então desempenhava no FMI, o mesmo já não se passa com as declarações de Lagarde, dirigidas contra um dos estados soberanos que integram a instituição que ela própria dirige, e no contexto de um programa de reequilíbrio financeiro em que são partes.

Dos funcionários do FMI não se espera que tenham "estados de alma", que façam confissões íntimas ou revelem afinidades caprichosas, mas apenas que mostrem respeito pelos povos e cumpram a sua missão institucional com seriedade e competência, seja na luta contra a pobreza ou na assistência financeira, na África, na Europa ou na Oceânia. Despudoradamente, Lagarde exibe todo o seu desprezo pela grave situação social e económica vivida pelos gregos e afirma com arrogância a sua indisponibilidade para ponderar as consequências reais das medidas de austeridade que obsessivamente promove e recomenda. Os gregos que cuidem de si, proclama ela acintosamente, que os mais ricos tratem dos mais pobres e que todos paguem os seus impostos. Decididamente, o respeito pelas pessoas e a solidariedade entre os povos não fazem parte do vocabulário desta burocrata desbocada e inimputável. O "desmentido", porém, não se fez tardar, sábado, 26 de maio, imagine-se: numa página do facebook! E Lagarde apenas confirmou que não é capaz de distinguir entre as suas preferências subjetivas e os deveres inerentes ao cargo que lhe atribuíram. Embora, eventualmente, não o mereçam, diz agora que afinal até simpatiza com os gregos e que, por isso, é que o FMI os está a ajudar: "(...) I am very sympathetic to the Greek people and the challenges they are facing. That's why the IMF is supporting Greece (...).

O que poderá justificar no mundo atual, marcado pela irresistível ascensão económica dos países emergentes - os chamados "BRIC" (Brasil, Rússia, Índia e China) - que a nomeação para o cargo de diretor do FMI continue a ser um "privilégio" exclusivo da França e dos Estados Unidos da América, exercido alternadamente por cada um deles? Esperando que aquela incontinência epidémica não tenha contagiado François Hollande, que bem lhe ficaria denunciar o comportamento impróprio e irresponsável da sua compatriota, e aproveitar esta oportunidade para a França renunciar a prerrogativas obsoletas, herança da Segunda Guerra Mundial, e propor o avanço da sempre adiada reforma das Nações Unidas! Se não queremos que a fragilização dos estados conduza ao irreversível declínio das democracias constitucionais, então é muito urgente construir uma nova ordem internacional que regule e imponha procedimentos transparentes e controláveis a um poder tentacular, anónimo e informal que submete à mais selvagem especulação financeira a distribuição da riqueza produzida e o bem-estar das populações. Escondida na opacidade das grandes organizações internacionais e defendida por métodos de cooptação isentos de escrutínio democrático, esta tecnocracia leviana, arrogante e incompetente - de que Christine Lagarde é clamoroso exemplo - constitui uma séria ameaça contra a paz, o desenvolvimento e a solidariedade entre os povos.


Cavaco foi "informado em detalhe" sobre Secretas e acredita que interesse nacional...




... está a ser tido em conta


O Presidente da República disse hoje ter sido "informado em detalhe por quem tem competência" sobre o estado dos serviços de informações e que não tem "razões para duvidar que os interesses nacionais estão a ser tidos em conta".

As palavras de Cavaco Silva foram proferidas no final de uma visita à Feira Nacional de Agricultura, em Santarém, depois de questionado sobre se notícias das últimas semanas devem preocupar os portugueses.

"O primeiro-ministro deu explicações na Assembleia da República, prestou os esclarecimentos que considerou necessários prestar neste momento e, por outro lado está em curso um processo judicial e nós devemos respeitar a separação de poderes e confiar na justiça portuguesa", defendeu.

O chefe de Estado adiantou que foi "informado em detalhe por quem tem competência na matéria sobre essa questão" e que não tem "razões para duvidar de que os interesses nacionais estão a ser tidos em devida conta".

"Como eu disse quando estava fora do país esperava que tudo fosse esclarecido e com transparência, eu posso dizer que quem tem competência na matéria me esclareceu e eu não tenho razões para duvidar de todos os esclarecimentos que me foram dados", disse.

Questionado pelos jornalistas sobre o levantamento do segredo de Estado ao ex-diretor do SIED Jorge Silva Carvalho, o Presidente da República assinalou que essa "é uma matéria da competência exclusiva do primeiro-ministro".

Cavaco considerou no entanto "que muito mais importante que tudo isso é a resolução dos problemas de desemprego do nosso país", defendendo que "para isso é melhor atingir mais produção, trabalhar nesse sentido, exportar mais e contar com o setor agrícola para a resolução daquele que é o grande drama nacional".

VEJA COMO SE FAZ BAIXO JORNALISMO




Mário Augusto Jakobskind* – Direto da Redação

A revista Veja, pouco confiável por ser useira e vezeira em editar matérias que não se sustentam, desta vez fez alarde com uma acusaçao do Ministro Gilmar Mendes, segunda a qual o ex-Presidente Luis Inácio Lula da Silva teria lhe proposto o adiamento do julgamento do chamado mensalão.

O encontro entre Mendes e Lula, no escritório de Nelson Jobim, ocorreu há um mês e só agora o ministro revelou o suposto pedido. O adiamento proposto por Lula, ainda segundo a revista Veja, se daria em troca do silêncio da Comissão Parlamentar de Inquérito mista sobre Cachoeira em relação ao próprio ministro, que se encontrou com o senador Demóstenes Torres em Berlim.

Há denúncias de que Cachoeira de lama pagou as passagens e estadas tanto de Mendes como do senador que ditava regra sobre moralidade e por debaixo do pano fazia o jogo sujo de Carlos Cachoeira de lama. Mendes garante que ele mesmo custeou a viagem e volta e meia vai a Berlim visitar a filha, que la reside.

Se o Ministro poder provar que pagou a passagem daquela vez (ninguém pediu), afinal a denúncia é grave, encerraria de uma vez por todas com a dúvida. Por enquanto vale apenas a palavra de Mendes, considerada bastante questionável.

A notícia divulgada pela Veja, como sempre acontece, foi repercutida na Folha de S. Paulo, em O Globo e no Jornal Nacional. Lula negou que tenha feito a proposta.

A matéria da revista Veja com a denúncia de Mendes deve ser encarada com reserva e se for melhor analisada não se sustenta. Por que Lula faria o pedido quando a mídia de um modo geral está em cima dos minstros do STF exatamente para apresssar o julgamento do mensalão? Com a experiência que tem como ex-Presidente por que ele se exporia dessa forma tão grosseira?

Jobim também desmentiu a matéria da revista Veja, uma publicação sob suspeita de prática de baixo jornalismo. O esquema é conhecido. Os repórteres saem em campo já com a pauta determinada e dirigida para chegar a uma conclusão. Seja o que for falado por alguém alvo dos Civitas, a matéria conclusiva está pronta antes mesmo de ser elaborada. Os inimigos não serão poupados.

Desta vez, Gilmar Mendes se superou. Ele já esteve envolvido em outras matérias no mínimo discutíveis, uma delas a de ter concedido habeas corpus a Daniel Dantas e na tentativa de desmoralizar o então delegado Protógenes Queiroz, que conduzia o inquérito contra o referido banqueiro acima de qualquer suspeita.

Se Lula tivesse mesmo feito o pedido seria uma demonstraçao de incompetência política, algo que até seus inimigos admitem que não corresponde aos fatos. Seria até um expediente prejudicial aos próprios implicados no mensalão que está para ser julgados nas próximas semanas.

Vários Ministros do STF, entre eles Ricardo Lewandovsky, já disseram que nunca foram pressionados por Lula quando ele exercia a Presidência da República.

Seria absolutamente descabido e pouco inteligente, o que não é uma característica de Lula, reconhecido até pelos inimigos como um político hábil e inteligente, que agora sem mandato pressionasse Gilmar Mendes. E uma pressão, diga-se de passagem, prejudicial aos próprios petistas, entre os quais José Dirceu e Jose Genoino, que serão julgados antes das eleições.

Não se exclui a possiblidade de que este novo apronto da sujísima Veja com Mendes tenha se destinado a retirar dos holofotes algumas questões vinculadas à Comissão Parlamentar de Inquérito do Congresso sobre as ligações de Cachoeira de lama com o mundo político e mesmo midiático.

A Veja foi pautada pelo melitante Cachoeira e nestes dias ganhou uma defensora de peso, a Senador Katia Abreu, agora no PSD de Gilberto Kassab, que escreveu artigo tomando as dores da revista que lhe dá grande acolhida. Usou os mesmos argumentos que outros defensores da publicação, como o imortal Merval Pereira, ou seja, que a convocação de Policarpo Júnior seria um atentado à liberdade de imprensa.

Quanto ao Prefeito Kassab, a revista Isto É e o Ministério Público o acusaram de estar também envolvido em falcatruas, juntamente com um funcionário que recebeu de propina 106 aparamentos ao liberar obras irregulares na capital paulista. Nenhuma linha em o Globo ou na TV do mesmo nome.

A Veja pratica um jornalismo que lhe vale a denominação de sujíssima. Para se ter uma ideia, recentemente um repórter da revista tentou invadir o quarto de um hotel em Brasília onde estava hospedado o ex-Ministro José Dirceu para possivelmente espionar alguma material que o incriminasse ou mesmo instalando algum microfone oculto. A camareira impediu que a transgressão acontecesse. Corre até uma investigaçao policial sobre o fato e o público não vem sendo informado a respeito.

Não se trata de defender José Dirceu, um dos responsáveis pela atual praxis fisiológica do PT em nome da governabilidade, mas de se repudiar uma prática que depõe verdadeiramente contra o jornalismo. E a corrida a qualquer custo para incriminar o ex-Ministro Chefe da Casa Civil é sintomática.

Policarpo Júnior, chefe da sucursal da Veja em Brasília, tem culpa no cartório no mencionado episódio. Além disso, foi pautado por Cachoeira de lama, como demonstra cristalinamente vídeo apresentado pela TV Record, no ar também no youtube. O jornalista está sendo blindado para não comparecer na CMPI.

Assim caminha a mídia de mercado. O mais recente apronto da Veja e Gilmar Mendes está realmente inserido no contexto enlameado do baixo jornalismo. E toda vez que se contesta a revista da família Civita, que para muitos forma uma gang, convoca entidades e colunistas para protestar conta o que eles alegam ser perseguição à liberdade de imprensa.

A Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) já deve estar de prontidão para qualquer emergência que porventura venha a envolver a sujíssima Veja na CMPI.

Em tempo: depois de na semana passada cancelar a reunião, o Ministro da Justiça, Jose Eduardo Cardozo, voltou a convocar familares de desaparecidos políticos citados no livro Memórias de uma guerra suja sobre o depoimento do ex-delegado Claudio Guerra revelando, entre outras coisas, a incineração de dez combatentes contra a ditadura em um forno de uma usina de açucar em Campos.

* É correspondente no Brasil do semanário uruguaio Brecha. Foi colaborador do Pasquim, repórter da Folha de São Paulo e editor internacional da Tribuna da Imprensa. Integra o Conselho Editorial do seminário Brasil de Fato. É autor, entre outros livros, de América que não está na mídia, Dossiê Tim Lopes - Fantástico/IBOPE

Brasil: Área verde por habitante cai 26% no Rio com avanço de favela




Correio do Brasil, com ABr - do Rio de Janeiro

O Rio é uma das poucas cidades no mundo que pode se orgulhar de ter uma grande floresta em sua área urbana. Mas ela pode estar com os dias contados. O avanço das favelas e da especulação imobiliária está aos poucos mudando a imagem da cobertura vegetal da cidade que tem na Floresta da Tijuca o seu símbolo maior. Nos últimos 30 anos a cidade perdeu pelo menos 6,7 mil hectares de cobertura vegetal. De 39.802 hectares, em 1984, restavam 33.008 hectares em 2001, último dado disponível, o que representou uma perda de 17% de área verde.

Os números são da própria prefeitura e podem ser acessados no endereço www.armazemdedados.rj.gov.br, no link Estatísticas. Com a diminuição de suas áreas verdes, o índice de vegetação por habitante caiu ainda mais: em 1984 o carioca dispunha de 76,11 metros quadrados de cobertura vegetal por habitante, número que despencou para 56,28 metros quadrados em 2001, uma queda de 26%.

Embora a cidade ainda disponha de um índice invejável de área verde por habitante – cinco vezes superior ao mínimo sugerido pela Organização das Nações Unidas (ONU), de 12 metros quadrados por pessoa – a vegetação não é igualmente distribuída na região urbana. Enquanto alguns bairros próximos à Floresta da Tijuca têm 78% de cobertura por vegetação, como é o caso da Tijuca, outros bairros da zona norte têm apenas 6,5% de cobertura verde, como a Penha, onde estão localizados os complexos do Alemão e da Penha. No bairro, a taxa de urbanização chega a 93%.

A área verde urbana diminuiu no sentido oposto ao do crescimento das favelas e das construções de casas e edifícios. Segundo dados da prefeitura carioca, da área total da cidade, calculada em 122.456 hectares, a área urbana passou de 33.749 hectares, em 1984, para 42.023 hectares, em 2001, representando um crescimento de 24%.

Em outra série histórica disponível, é possível constatar o explosivo crescimento populacional da cidade desde 1960, especialmente nas favelas, onde a população mais que triplicou em 40 anos. Em 1960, os residentes em favelas eram 335.063, segundo estatísticas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No ano 2000, a população favelada chegava a 1.092.476.

Na cidade regularizada, também chamada de “asfalto”, houve igualmente forte crescimento populacional nesse intervalo, passando de 1.910.145 de habitantes, em 1960, para 4.765.428, em 2000. O resultado, aliado à falta de políticas habitacionais com a extinção do Banco Nacional de Habitação (BNH), em 1986, foi a expansão descontrolada do setor habitacional, empurrando famílias morro acima e rumo às áreas verdes em bairros distantes, em locais que originalmente abrigavam matas nativas.

Para a diretora de Gestão do Conhecimento da Fundação SOS Mata Atlântica, Márcia Hirota, o que ocorreu no Rio nas últimas décadas é um retrato do que aconteceu nas demais capitais e grandes cidades do país. Segundo ela, o esforço de muitas prefeituras com políticas de reflorestamento e retirada de invasores ainda é pouco diante do tamanho do problema.

“Apesar de haver esforço de muitas prefeituras em combater esses desmatamentos, com políticas de reflorestamento e retirada de invasores, as ações ainda estão abaixo do necessário. É uma situação complicadíssima no país todo, envolvendo falta de gente e estrutura para fiscalização.”

A diretora do SOS Mata Atlântica considera que falta planejamento às prefeituras para se antecipar às invasões de áreas verdes. “O Poder Público está sempre atrasado, vai lá para multar ou combater um dano que já ocorreu. Não consegue fazer um trabalho de monitoramento para que a coisa não aconteça”, disse.

Como consequência disso, Márcia Hirota aponta as tragédias ambientais, que acometem milhares de famílias todos os anos, atingidas por enchentes e deslizamentos a cada período de chuva. “As ocupações e invasões ocorrem em áreas inadequadas, não só em capitais, mas em qualquer cidade. Aí quando acontecem deslizamentos e inundações, com perdas de vidas, a gente fica lamentando. Mas a culpa é do Poder Público, que não faz esse planejamento e não retira as pessoas em áreas impróprias, que a legislação não permite. Aí quando acontece uma tragédia, todos ficam indignados”, ressaltou.

Para a ambientalista, a saída é a participação da sociedade, pressionando as autoridades e apontando desrespeitos ao meio ambiente. “É preciso o cidadão denunciar casos de agressão à natureza, em um esforço coletivo. É mais barato evitar que as pessoas ocupem áreas inadequadas do que fazer um trabalho posterior para recuperar a natureza”, alertou.

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Brasil: Serra, diante das acusações de Pagot, entra na mira da CPMI do Cachoeira


Paulo Preto volta a assombrar o passado do candidato à prefeitura de São Paulo, José Serra

Correio do Brasil, São Paulo

Ex-diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), o engenheiro Luiz Antonio Pagot comandou a instituição desde 2007, no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, até 2011, quando foi demitido pela presidenta Dilma Rousseff, após uma série ruidosa de notícias veiculadas na mídia conservadora, capitaneada pela revista semanal de ultradireita Veja, com base em dados produzidos pela quadrilha do bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, segundo provas recolhidas por agentes da Polícia Federal (PF). Pagot conversou longamente com repórteres da revista semanal de centro IstoÉ, que está em bancas, e denunciou a existência de uma rede de corrupção, comandada por integrantes do PSDB, com objetivo de drenar os recursos das obras do Rodoanel, em São Paulo, para a campanha presidencial de José Serra, em 2010.

Nesta manhã, parlamentares da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Cachoeira disseram que pretendem convocar Pagot para depor na comissão. Segundo ele, o ex-presidente da estatal Desenvolvimento Rodoviário S/A (Dersa), Paulo Vieira de Sousa, vulgo Paulo Preto, responsável pelas obras do Rodoanel, pediu-lhe, em 2009, que aprovasse um aditivo de R$ 264 milhões para a obra viária. Pagot teria negado, alegando que o governo federal já havia pago sua parte na obra. Mas em seguida, segundo ele, os tucanos teriam conseguido a aprovação dos recursos sem a necessidade da aprovação do Dnit. Pagot diz que, na ocasião, o procurador de uma empreiteira denunciou o desvio de 8% dos recursos do trecho sul do Rodoanel.

– Veio procurador de empreiteira me avisar: ‘Você tem que se prevenir, tem 8% entrando lá’. Era 60% para o Serra, 20% para o Kassab e 20% para o Alckmin – afirmou.

Em 2010, Preto foi acusado de desviar recursos de um suposto caixa dois dos tucanos. Na época, ele negou as acusações e processou os acusadores. Serra primeiro negou que o conhecesse. Paulo Preto disse então, em tom de ameaça:

– Não se larga um líder ferido na estrada a troco de nada. Não cometam esse erro.

Logo em seguida, Serra foi à imprensa para dizer que se confundiu por conta do apelido quando questionado “se conhecia algum ‘Paulo Preto“.

A reportagem da revista apurou que o comitê de Serra recebeu R$ 40 milhões em doações oficiais de empreiteiras que construíram o Rodoanel. Pagot também disse que que o senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO) teria lhe pedido ajuda a pagar as dívidas contraídas por ele com a Delta Engenharia, como se estivesse cobrando a empreiteira. Ele ainda afirmou, categoricamente, que o desvio de verbas da obra para o caixa 2 da campanha de José Serra era amplamente conhecido nos meios empresariais.

– Todos os empreiteiros do Brasil sabiam que o Rodoanel financiava a campanha do Serra – afirmou Pagot.

Ele, porém, duvida do possível convite para falar ao Congresso, na CPMI do Cachoeira e desdenha de seus participantes:

– Duvido que me chamem. Muitos ali têm medo do que posso contar – diz ele que, caso reafirme suas denúncias perante os deputados e senadores, poderá provocar a convocação de Serra para depor na CPMI, em plena campanha eleitoral.

Apoio a Dilma

Segundo Pagot. ainda na entrevista, o deputado federal José de Filippe, tesoureiro da campanha presidencial da então candidata Dilma, em 2010, também lhe pediu para arrecadar recursos junto a entidades do setor da construção civil e forneceu o número de contas bancárias da campanha. Neste caso, os recursos teriam entrado legalmente na campanha petista. O deputado federal do PT paulista, porém, respondeu à entrevista de Pagot dizendo que na campanha ele teria tido apenas um encontro com ex-diretor do Dnit quando este lhe ofereceu três aviões do então governador de Mato Grosso (atualmente senador), Blairo Maggi (PR), seu padrinho político. Mas que isso não se concretizou.

Filippe ainda disse que teve um segundo encontro com Pagot, após as eleições. Segundo ele, ”para buscar recursos para saldar as dívidas da disputa eleitoral”. Na ocasião, a campanha devia cerca de R$ 28 milhões.

Serra nega

Procurados pelo Correio do Brasil, assessores do ex-governador José Serra, hoje pré-candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo, afirmaram que tudo não passa “de uma calúnia pré-eleitoral aloprada”. “A acusação é inconsistente e a credibilidade dos envolvidos é zero”, disse o comitê de Serra, em nota distribuída à imprensa, neste sábado, na qual afirmam que o candidato tomará as “medidas judiciais” cabíveis.

Ainda na nota, o PSDB afirma que “a matéria é caluniosa. As campanhas do governador Geraldo Alckmin e de José Serra sempre contaram com doações declaradas à Justiça Eleitoral”.

Em outra nota, o prefeito Gilberto Kassab afirmou que a acusação é “improcedente e mentirosa” e que também acionará a Justiça. José Luiz de Oliveira Lima, advogado de Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, foi pelo mesmo caminho e diz que também irá processar Pagot por “calúnia e difamação”.

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ONDA DE IMIGRAÇÃO TRAZ À TONA O RACISMO EM ISRAEL



José Antonio Lima – Carta Capital

Em um mundo no qual o antissemitismo ainda é bastante forte, uma das grandes dificuldades de Israel é encontrar aliados para lidar com assuntos sensíveis, como as negociações com os palestinos e o programa nuclear do Irã. Nos últimos dias, determinados setores da sociedade israelense agiram de forma a prejudicar bastante a imagem de Israel pelo mundo. Fizeram isso recorrendo à violência, retórica e prática, para lidar com o grave problema criado pela recente onda de imigração de negros africanos para o país.

Nesta quinta-feira 31, o ministro do Interior de Israel, Eli Yishai, deu declarações assustadoras. Em entrevista ao jornal Maariv, afirmou que a forma de resolver o problema da imigração é criar “mais prisões e campos de detenção para imigrantes e preparar mais bases militares onde eles possam ficar presos”. Segundo Yishai, o sul de Tel Aviv (onde muitos imigrantes se concentram) virou “a lata de lixo do país” e Israel já tem problemas suficientes de saúde e bem-estar social para “importar mais problemas da África”. Ao jornal, Yishai ainda sugeriu a seus críticos que “peguem os infiltrados e coloquem-nos em seus bairros para vê-los todos os dias e para que suas crianças brinquem com eles nas mesmas escolas”.

O comportamento de Yishai não é solitário. Na terça-feira, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, prometeu criar o “maior campo de detenção do mundo”, deportar todos os que estiverem nele e acrescentar os “infiltrados” à lista de ameaças ao estado judeu.

Chama a atenção o fato de as declarações de Yishai e Netanyahu se darem dias depois um violento episódio ocorrido na semana passada em Tel Aviv. Parte das cerca de mil pessoas que protestavam contra a imigração na quarta-feira 23 atacaram estrangeiros, depredaram veículos e uma loja cujo dono era um imigrante do Sudão. No evento, o parlamentar Danny Danon classificou os imigrantes como uma “praga”. A parlamentar Miri Regev chamou a imigração de “câncer” na sociedade israelense. Mais tarde, ela se desculpou. Netanyahu condenou a violência, mas em seguida disse que compartilhava dos sentimentos dos manifestantes e que logo começaria a deportá-los.

A recente onda de imigração pegou Israel de surpresa. Desde o início da Primavera Árabe, a Península do Sinai, que separa o país do Egito, virou uma terra de ninguém. Por ela, traficantes de pessoas levam, ilegalmente, milhares de imigrantes para Israel, o país mais estável e com a economia mais saudável da região. Segundo o governo de Israel, 60 mil pessoas, a maioria da Eritréia e do Sudão do Sul, chegaram ao país nos últimos anos. Em Israel, eles são proibidos de trabalhar. Alguns se tornaram criminosos ocasionais. A crescente presença dos negros gerou a hostilidade atual.

Felizmente, nem todos os políticos israelenses agem desta forma. Reuven Rivlin, o presidente do Parlamento de Israel, se disse “chocado” e afirmou que a onda de ataques aos imigrantes lembra “o discurso de ódio direcionado ao povo judeu”. Muitos liberais e esquerdistas também foram às ruas protestar contra as manifestações de racismo aos imigrantes. Suas vozes, entretanto, ainda falam mais baixo, até porque o primeiro-ministro de Israel e alguns de seus ministros estão empenhados na expulsão sumária dos imigrantes.

Como Israel, muitos outros países enfrentam questões éticas, morais e práticas ao lidar com grandes fluxos inesperados de imigrantes. A solução, nesses casos, nunca é simples. Mas o fato de alguns cidadãos e políticos israelenses, em vez de pedirem uma regulamentação da imigração, adotarem uma retórica racista e uma prática que beira o fascismo é especialmente chocante. Israel é um país criado por imigrantes, que chegaram àquela região fugindo da atroz perseguição antissemita e do fechamento de fronteiras para os judeus em muitos países. Nas últimas décadas, Israel conseguiu absorver grandes fluxos de imigrantes. Desde 1989, cerca de 1 milhão de russos (brancos, mas nem todos judeus) chegaram ao país e hoje possuem até grande representação parlamentar. Mais recentemente, cerca de 120 mil etíopes (judeus) também se adaptaram. Agora, quando imigrantes negros e não judeus chegam a Israel, a resposta de parte da sociedade é um comportamento semelhante ao daqueles que provocaram a tragédia do povo judeu antes e durante a Segunda Guerra Mundial. É algo que pode entrar como uma mancha para a história de Israel.


Economia da Espanha afunda, responsáveis recebem indenizações milionárias



Esquerda.net – Carta Maior

A economia de Espanha afunda-se com uma taxa de desemprego superior a 25% e com o número de desempregados a superar os 5 milhões de pessoas. O austeritarismo imposto pela UE e pelo FMI não resolve e aprofunda a crise bancária, provocada pelo estouro da bolha da especulação imobiliária. A dívida de Espanha atinge uma situação próxima da que levou aos pedidos de resgate de Grécia, Irlanda e Portugal. Porém, o país é muito grande para ser resgatado.

Na quarta feira, a bolsa de Madrid continuou a afundar caindo 2,58%, enquanto a taxa de juro dos títulos da dívida soberana chegou aos 6,703%, muito próxima dos valores que levaram aos pedidos de resgate da Grécia, da Irlanda e de Portugal. A taxa de risco de Espanha, diferencial entre a taxa da dívida de Espanha e a da Alemanha, chegou a 540 pontos, o mais elevado da história.

Na terça feira, o governador do Banco de Espanha Miguel Ángel Fernández Ordóñez (MAFO), destacado quadro do PSOE, pediu a antecipação do fim do seu mandato de 12 de julho para 10 de junho, depois do PP se ter oposto à sua ida ao Congresso de Madrid, que tinha sido proposta por ele, para dar explicações sobre o Bankia e a crise bancária.

Também na terça feira, foi noticiado pelo Financial Times que o Banco Central Europeu (BCE) recusara o plano do governo PP para o Bankia, de injeção de 19 bilhões de euros para salvar a entidade, através de novos títulos de dívida pública, que podiam ser usados como garantia em operações interbancárias ou no BCE.

De acordo com o Financial Times, o BCE teria respondido ao governo de Rajoy que é necessária uma injeção de capital adicional no Bankia, mas que o seu plano está próximo da violação da norma da UE sobre o financiamento monetário dos Estados. O jornal conclui que “a recusa do BCE torna as coisas difíceis à insistência de Madrid de que a única solução para esta crise que está a fazer aumentar os seus custos de financiamento é que o BCE se converta num prestamista de último recurso para os Governos”.

Na quarta feira, o governo de Espanha disse que não apresentou nenhum plano e o BCE declarou que não analisou nenhum plano e não tem posição sobre o plano do governo de Espanha para recapitalizar um grande banco. De acordo com o site do jornal “El Pais” desta quarta feira, “a comissão europeia defende uma união bancária e o uso direto do fundo de resgate para salvar a banca” e “dará mais um ano a Espanha para cumprir o déficit previsto em troca de mais sacrifícios”.

Entretanto, o governo e o PP opõem-se tenazmente e tentam tudo por tudo para impedir o debate do caso Bankia no Congresso de Madrid, perante o silêncio do PSOE e do seu secretário-geral Alfredo Rubalcaba. A Izquierda Unida propôs a criação de uma comissão de inquérito ao escândalo Bankia, mas o PP opõe-se. Os maiores responsáveis do caso são destacados quadros do partido governamental.

Enquanto governo e UE parecem preparar novas medidas de austeridade, são conhecidos vários casos de indenizações milionárias a diretores de entidades resgatadas pelo governo e, portanto, com dinheiros públicos. Segundo o El Pais, “são responsáveis diretos, com a conivência das camarilhas políticas regionais, das maiores falências da história do sistema financeiro espanhol. Financiaram projetos urbanísticos especulativos, obras públicas ruinosas como aeroportos vazios, alimentaram esquemas de corrupção e até chegaram a falsear as contas”.

O jornal cita diversos casos, entre os quais: Aurélio Izquierda, diretor-geral do Banco de Valência, filial da Bancaja, que recebeu 14 milhões de euros em pensões e indenização de pré-aposentadoria. Miguel Blesa, ex-presidente da Caja Madrid, que recebeu uma indenização de 2,8 milhões de euros, Rodrigo Rato 1,2 milhões de euros, José Luis Pego, diretor da Novacaixagalicia durante nove meses, 18,5 milhões.

A economia de Espanha afunda-se com uma taxa de desemprego superior a 25% e com o número de desempregados a superar os 5 milhões de pessoas. O austeritarismo imposto pela UE e pelo FMI não resolve e aprofunda a crise bancária, provocada pelo estouro da bolha da especulação imobiliária. A dívida de Espanha atinge uma situação próxima da que levou aos pedidos de resgate de Grécia, Irlanda e Portugal. Porém, o país é muito grande para ser resgatado.

POBREZA ESTRUTURAL


Fernanda Câncio – Diário de Notícias, opinião

Dia sim dia sim, ouvimos um membro do Governo perorar sobre as reformas estruturais que o mesmo estará a levar a cabo. Já era talvez altura, uma vez que estamos quase a celebrar-lhe o primeiro aniversário, de tentar perceber de que fala o Executivo quando fala de reformas estruturais.

Comecemos pelo princípio: o Governo encolhido. Era o mais pequeno de sempre, não era? Era. Também é o primeiro de sempre a ter ministros "à solta" para tomar conta de dossiês tão fundamentais e delicados como o das privatizações, ministros cujo salário ninguém conhece e que podem até, com a bênção do PM, integrar conselhos de administração de empresas privadas, eximindo-se a todas as incompatibilidades, obrigações de transparência e de sindicância que se exigem a membros formais do Governo. Inovador, sem dúvida. Talvez a palavra mais adequada seja escandaloso, porém.

Depois, a famosa lei do arrendamento, que vinha de uma vez por todas acabar com o estrangulamento do mercado de aluguer, facilitando os despejos por incumprimento e atualizando rendas antigas. Passados meses sobre a apresentação da dita, continua sem se perceber em que é que altera o existente. Qualquer situação em que não haja acordo entre proprietário e inquilino vai para os tribunais, como antes; e aparentemente os aumentos das rendas, além de limitados pelos proventos dos inquilinos e respetiva idade, só podem ocorrer ao fim de um período alargado. Ou seja: como antes, o Estado continua a impor aos senhorios com alugueres anteriores a 1990 regras que são na prática uma expropriação soft e os obrigam a fazer de segurança social. Onde está a reforma?

O licenciamento zero, então. Do qual o ministro Álvaro adora falar. Incrível, então não é que é uma medida do Governo que tanto execra? A lei que o criou é de abril de 2011. Mas espera, temos a grande reforma na educação: acabar com a avaliação dos professores, essa medida tão socialista, de "Estado gordo" (liberal é não avaliar, claro) e reintroduzir os saudosos exames de 4.ª classe, com os quais todo o mundo civilizado acabou. E desmantelar o programa Novas Oportunidades (NO) antes mesmo de estar pronta a avaliação que deveria concluir se presta ou não, enquanto, à cautela, se retira o País do estudo da OCDE que avalia a aquisição de competências por adultos (estranho, não é? Se afinal se tem a certeza de que o NO não serviu para nada, deveria haver todo o interesse em deixar a OCDE concluir isso mesmo. A não ser que...).

Empobrecimento. Ora bem: aqui temos a grande reforma estrutural, a da redução dos salários, do consumo e do ânimo. Conseguimos já uma belíssima recessão e um fabuloso nível de desemprego, que, aliados à sempre crescentemente admirável (Passos, por lapso, chamou-lhe insuportável) carga fiscal, constituem a soberba obra deste Executivo. Tão soberba que só a modéstia pode explicar que PSD e CDS não tenham baseado a campanha na promessa dela.

Portugal arrisca pôr-se a caminho do Terceiro Mundo, diz Teodora Cardoso




A presidente do Conselho de Finanças Públicas, Teodora Cardoso, considera que a política de cortes salariais aconselhada pela troika e seguida pelo Governo pode pôr Portugal a caminho do Terceiro Mundo.

“Hoje em dia é praticamente impossível um país desenvolvido, como, apesar de tudo, nós somos, andar a competir com os países muito mais pobres do que nós, com níveis de rendimento e, portanto, de salários muitíssimo baixos”, sustentou numa entrevista à Antena 1. “Se o nosso nível de competitividade quer ir para esse lado, isso significa que, então, nós nos estamos a candidatar a passar para o Terceiro Mundo, se não para o quarto.”

“Acho que a troika comete um erro em considerar” que é o problema “dos salários altos” na área das empresas exportadoras “que nos impede a competitividade”, especificou Teodora Cardoso, dizendo que “haverá casos em que, de facto, nós podemos ter necessidade de reduzir salários, mas, mais uma vez, o problema fundamental é o da estrutura da nossa produção e, mais uma vez, o da qualificação”.

Numa entrevista à TSF, defendeu por outro lado que o Governo deve empenhar-se mais na explicação das medidas que toma em matéria de política económica.

“É preciso tornar muito claro que nós não estamos a tentar unicamente corrigir algumas coisas para voltar ao passado, mas estamos, efectivamente, a propor-nos mudar mesmo de vida. E isso requer um programa claro. Não é listas de medidas. Isso é daquelas coisas que não vale a pena fazer”, disse a esta rádio.

Pensa também que “temos possibilidade de recuperar, se fizermos as coisas bem feitas”, e que “dentro de cinco anos poderíamos ter impostos claramente mais baixos”.

ATÉ O TRATO POR TU!




Hoje todos se dizem amigos próximos - políticos, empresários, jornalistas. E isso não é nada saudável

João Adelino Faria – Dinheiro Vivo, opinião

É uma espécie de medalha dos deslumbrados. Em Portugal, quando alguém quer mostrar que é importante porque conhece gente poderosa, diz: "Até o trato por tu!". Ou: "Até tenho o telefone pessoal e almoço com ele." E pronto. Como se esta proximidade e tratamento de igual para igual fosse uma espécie de livre conduto de entrada direta para o poder.

Nos últimos anos foi-se esboroando a separação, por interesse mútuo, entre quem tem poder e quem é contrapoder. Entre políticos, jornalistas, advogados, empresários, juízes e muitos outros cargos institucionais deixou de existir uma espécie de distância saudável. De repente conhecemo-nos todos muito bem, tratamo-nos quase todos por tu, vamos aos mesmos restaurantes, partilhamos amigos e alguns até cama, comida e roupa lavada. Como borboletas em volta da luz, as relações entre quem tem poder, quem fiscaliza, quem tem negócios e quem faz jornalismo tornaram-se demasiado próximas. Nos últimos anos, em Portugal, cresceu uma atração fatal entre política, justiça, forças de segurança, banca, negócios e comunicação social. E como todas as relações fatais... também estas não acabam bem.

Não digo que um bom relacionamento entre todos estes poderes não é saudável - e até desejável. Claro que o é, e recomenda-se. Mas os problemas surgem quando a proximidade começa a colidir com as obrigações e interesses de cada um. Nessa altura, como em qualquer relação de verdadeiros amantes, começam os ajustes de contas. E o resultado final é quase sempre uma separação dolorosa com recriminações mútuas.

AGIOTAGEM E CONTO DO VIGÁRIO


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Carvalho da Silva – Jornal de Notícias, opinião

O povo português, como outros povos europeus, vive submetido a processos de agiotagem cada vez mais refinados e, em Portugal, o conto do vigário tornou-se prática da governação económica e política. Os portugueses foram convidados a fazerem de conta que eram ricos e embalados em falsas festas de modernidade, autênticas cortinas de fumo que escondiam negociatas e fraudes monumentais. Depois, passaram a ser acusados de irresponsáveis e de terem andado a viver acima das suas possibilidades.

Mas quem foram ao longo dos anos os "irresponsáveis", ou seja, os verdadeiros responsáveis pelas dificuldades em que vivemos e pelas limitações em que hoje se nos apresenta o futuro?

O relatório do Tribunal de Contas sobre as parcerias público-privadas é mais uma peça que confirma os negócios ruinosos feitos por vários governos. Trata-se de um processo prenhe de ilegalidades, de enganos, de fraudes e vigarices feitas sobre a riqueza e o interesse de todo um povo.

As promessas do primeiro-ministro de repor a legalidade nesses negócios não têm concretização possível, por duas razões: primeiro, o problema fundamental é a génese subversiva desse tipo de parceria; segundo, o Governo está de corpo e alma nos pressupostos políticos e nos objetivos económicos que sustentam essas parcerias. O problema só será resolvido quando tivermos um Governo identificado com os interesses do povo e não com os interesses egoístas dos grandes acionistas da banca e dos grupos económicos.

A trapalhada em que está envolvido o ministro Relvas é outra expressão das manipulações e atuações antidemocráticas. A insistência no distanciamento do ministro em relação a um dos "operários" das jogadas chantagistas com que estes processos se desenvolvem e os argumentos "legalistas" e formais que o primeiro-ministro, o Governo, os partidos do poder e outra gente do centrão político vão repetir, só agravarão a situação. O povo ficará mais descrente no Governo e nas instituições. Acumulam-se assim graves riscos para a democracia.

Entretanto, os mandantes da União Europeia, do FMI e os agiotas internacionais prosseguem a imposição de brutais políticas de austeridade a Portugal e a outros países. O processo de destruição dos direitos dos trabalhadores e do Estado Social, e o empobrecimento da generalidade dos povos intensifica-se.

A agência Bloomberg, em nota recente, afirma não poder haver um devedor irresponsável sem que exista um outro irresponsável que tenha pensado fazer um bom negócio à conta de emprestar a juros ao primeiro. Foi isso mesmo o que começou por se concluir em 2007 quando o castelo de cartas da finança desregulada começou a cair nos EUA.

Quando a bolha imobiliária, alimentada pela avalanche de crédito rebentou, muita gente pensou (justamente desejou) que tinha acabado a festa da finança desregulada, mas isso foi um brutal engano.

As juras dos governantes dizendo aos povos que os especuladores iam ser castigados e todo o roubo reposto, foi outro conto do vigário.

Na Europa, ao longo da década do euro, parte das economias que utilizaram esta moeda, a começar pela alemã, tornaram-se extraordinariamente excedentárias, ao mesmo tempo que outra parte, incluindo a Grécia, Portugal, a Espanha e a Itália, se tornaram extraordinariamente deficitárias. Isso aconteceu porque as economias excedentárias desenharam a integração europeia e as suas políticas internas com esse objetivo: abriram a Europa às importações asiáticas, garantindo para aí exportações de alta tecnologia, alargaram a União Europeia a Leste, criando bases manufatureiras de trabalho qualificado e barato. No plano interno, comprimiram os salários e, por fim, criaram o euro. Como resultado, as periferias ficaram cada vez mais desindustrializadas e improdutivas. Estas políticas destruíram e destruirão muita coisa e, seguramente, o Estado Social. Há que derrotá-las!

Na realidade, vistas as voltas que o dinheiro dá, os "resgates" das periferias mais não são do que um saque organizado dos acionistas dos bancos alemães e outros, isto é, dos tais verdadeiros "irresponsáveis" que não se cansam em apontar o dedo para a irresponsabilidade alheia.


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