domingo, 23 de setembro de 2012

PASSOS COELHO ESTÁ DESGRAÇADO, TENHAM DÓ DELE!

 

Helena Ricoli
 
É frequente que pessoas do círculo restrito de Passos Coelho comentem como quem não quer a coisa que o primeiro-ministro é incompreendido e está a ser injustiçado por tudo e por todos. Existem até os que consideram que é ele quem pode salvar Portugal. Desses, quando assim o dizem, nada me admira, são amigos. Os amigos são para as ocasiões mas de salvadores que encarnam perfeitamente Salazar adaptado à atualidade ficámos fartos e sabemos que são perigosos.
 
Há dias, após a enorme manifestação por todo o país em 15 de Setembro e a da passada sexta-feira, 21, foi de admirar que um desses do restrito circulo de Passos tivesse desabafado: “Passos Coelho está desgraçado, tenham dó dele!”
 
Passos desgraçado? Por quê? Por quem? Se se desgraçou foi ele próprio que tudo fez para que tal viesse a acontecer. É dele que sobressai a garotice, a impreparação, a inexperiência, a incompetência, a vil e sistemática mentira, o espírito de vende-pátria-ao-desbarato, a obsessão em conduzir Portugal e os portugueses para o empobrecimento insuportável e inadmissível, a subserviência a Merkel, a não defesa dos interesses de Portugal, o apoio cego ao comprovado intrujão Relvas, seu amigo de longa data, à sua intransigência em escutar os que sabem e preferir seguir o ministro Gaspar com a sua enorme fama de grande cérebro de economista e gestor mas que só tem comprovado ser um tecnocrata medíocre e muitas vezes incompetente… E mais será melhor nem fazer aqui constar porque a lista seria quase imparável.
 
Em Portugal a minoria dos que apoiam as políticas desastrosas deste governo quase se podem contar pelos dedos das duas mãos. Percebemos contudo que no estrangeiro Passos e Gaspar tenham muitos mais apoiantes, a começar por Merkel e pelos que nem conhecem Portugal, nada sabem de Portugal nem dos portugueses. Que melhor currículo querem eles para emigrar? E podem (devem) levar Carlos Moedas, Borges, Mota Soares, e todos os traidores que continuam a abusar da dignidade e da paciência dos portugueses.
 
A frase já citada e afirmada “Passos Coelho está desgraçado, tenham dó dele!” é um frase de amigo que afinal se preocupa por ter em memória o que aconteceu a Miguel de Vasconcelos, um traidor (em conluio com Espanha) que em 1640 foi atirado de uma das janelas do Terreiro do Paço e arrastado pelas ruas de Lisboa. Ou até memória de outros traidores que agora nem interessa nomear.
 
A atitude do lamento é mesmo de amigo e importa compreender. Amigo cego, é certo, mas dos bons… para Passos. Péssimo para todos os outros portugueses, principalmente para os que estão desempregados, têm salários em atraso, perderam as suas casas, vêem as reformas ainda mais miseráveis, passam fome… Enfim, a imensa miséria que todos sabemos que existe. Enquanto uma elite politica e económico-financeira (não esquecer os boys, as girls e os grandes amigos) vive descarada e ofensivamente à grande…
 
Mas, evidentemente – isso deve ser dito àquele grande amigo do desabafo – apesar de Passos estar desgraçado, como comprovam as evidências, ainda mais desgraçado será se teimar em continuar com as suas políticas de destruição e de traição aos portugueses. Já ninguém o respeita. O próprio Cavaco Silva, na qualidade de PR, teve de o achincalhar e demonstrar que ele não tem mínima competência para desempenhar o cargo de primeiro-ministro, por isso convocou Gaspar para se ir explicar ao Conselho da República. Por isso mesmo, por Passos ser uma grande besta e agente prejudicial a Portugal, consta no terceiro parágrafo do comunicado do Conselho de Estado o contrário daquilo que Passos sempre defendeu. Também no sétimo parágrafo desse comunicado é notório que Passos é considerado abaixo de cachorro rafeiro. E o descrédito, a inadmissível incompetência, a garotice, a traição às promessas que veio fazendo e aos portugueses, não se ficaria por aqui. Todos o sabemos. Não estão só em causa as controversas medidas de alterações na TSU. Está em causa tudo, todo o governo e o próprio presidente da República – que ilusoriamente quer agora aparecer como se tivesse resolvido a crise política quando todos sabemos que ela existe, é latente, e está prestes a agravar-se se não forem tomadas medidas adequadas e equilibradas, equitativas, realmente justas, para evitar a revolta popular que é transversal na sociedade portuguesa.
 
Porque não é só Passos Coelho o único responsável pelo descalabro a que têm vindo a conduzir o país decerto que vão ter dó de Passos Coelho e nem por sombras lhe acontecerá o mesmo que ao Miguel de Vasconcelos, não estamos em 1640. Contudo será bom recomendar a Passos e a muitos outros do clã que emigrem e não voltem. Conselho piedoso que devem seguir. Tenham dó.
 
Leia mais sobre Portugal (símbolo na barra lateral)
 

Portugal: CORTE DE SUBSÍDIO PARA TODOS E MEXIDA NO IRS SUBSTITUEM TSU

 

Ana Rita Guerra – Dinheiro Vivo
 
O mais que provável recuo do governo na alteração das contribuições para a segurança social dos trabalhadores vai obrigar a uma reformulação das medidas de austeridade. Em causa está a derrapagem de dois mil milhões de euros a que a decisão do Tribunal Constitucional obriga: se não pode cortar os subsídios à Função Pública, o governo poderá cortar num subsídio a todos os trabalhadores, com uma sobretaxa que equivale a metade do valor.
 
“É necessário encontrar essas verbas”, lembra o economista João Cantiga Esteves, sublinhando que foi “incompreensível” como é que o governo apresentou as medidas sem as discutir com os parceiros sociais.
 
É precisamente isso que vai acontecer amanhã. A concertação social engloba as entidades que assinaram o acordo tripartido – UGT, CIP (Confederação de Empresarial de Portugal), CCP (Confederação do Comércio e Serviços de Portugal), CAP (Confederação dos Agricultores de Portugal), CTP (Confederação do Turismo Português). E todas vão levar alternativas para negociar o abandono das alterações à TSU para os trabalhadores.
 
O fiscalista Rogério Fernandes Ferreira, que concordava com a alteração da TSU, não acredita que a sobretaxa num dos subsídios resolva o problema da derrapagem. “Com o nível de desemprego como está, o corte do subsídio nem vai gerar a mesma receita de 800 milhões que gerou em 2011”, alerta.
 
Cantiga Esteves, por seu lado, acredita que a alternativa à TSU “vai ser pelo IRS e confiscar um ordenado”, resultando em perdas semelhantes para os trabalhadores com outro formato.
 
“Se forem buscar a totalidade de uma subsídio aos privados a receita é mais que a da TSU”, nota o economista João Duque, referindo que “as pessoas são capazes de compreender”. O especialista diz que “o aperto não tem sido igual” e que há injustiça na forma como o Estado impõe austeridade aos trabalhadores individuais, mas negoceia e cede quando se trata de acordos coletivos de trabalho e empresa.
 
Já a redução da TSU para as empresas é outra questão, que a CIP, por exemplo, não quer ver abandonada. Nas contas apresentadas pelo próprio governo em 2011, quando se discutiu a TSU das empresas pela primeira vez, uma redução resultaria em custos prováveis de 480 milhões. O que está em cima da mesa é a redução limitada às empresas que aumentem os quadros de trabalhadores em 5%, isto é, um incentivo à contratação. O custo de 480 milhões seria então compensado pelo corte nos subsídios de desemprego e no aumento das contribuições dos novos trabalhadores.
 
“A TSU para as empresas é um exagero”, nota Cantiga Esteves, que apela ao governo que “peça ajuda e chame todas as entidades para cortarem despesa.”
 
Outra das propostas que vai ser analisada em sede de concertação social é a mexida nos escalões do IRS, medida defendida por quase todos os economistas. João Duque defende que os dividendos devem ser todos englobados no IRS. “É inevitável taxar mais o capital e os capitalistas portugueses não se importarão”, argumenta.
 
Por outro lado, o fiscalista Rogério Ferreira diz que o governo devia aproveitar para “reavaliar os benefícios fiscais”, que são “despesa fiscal líquida” e têm resultados duvidosos.
 

São Tomé e Príncipe: FMI ELOGIA MAS PAÍS TEME MAIS CARÊNCIA ALIMENTAR

 


FMI elogia governo por desempenho orçamental
 
22 de Setembro de 2012, 13:52
 
São Tomé 22 set (Lusa) - Uma missão do Fundo Monetário Internacional (FMI), que terminou uma missão de avaliação macroeconómica em São Tomé e Príncipe elogiou hoje o desempenho orçamental do governo do arquipélago.
 
Um comunicado do FMI saúda o governo são-tomense "pelo seu empenho na preservação da arduamente conquistada prudência fiscal".
 
"Um controlo rígido dos gastos não prioritários compensou o desempenho abaixo do esperado das receitas fiscais, devido ao enfraquecimento da atividade económica", explica o comunicado.
 
O comunicado indica que a missão teve encontros com o ministro das finanças e cooperação internacional, Américo Ramos, com a governadora do Banco Central de São Tomé e Príncipe e os respetivos assessores, altos funcionários do governo e representantes do setor privado.
 
"Para 2012 o crescimento real do Produto Interno Bruto (PIB) continua a ser projetado em 4,5%, embora o risco associado a esta projeção se tenha elevado, refletindo em parte os efeitos da crise na Europa e a uma execução de projetos abaixo do esperado, devido a dificuldades persistentes de financiamento", diz o comunicado.
 
A missão constatou ainda que a inflação "está numa trajetória decrescente, tendo-se situado em oito por cento em abril" deste ano, o nível mais baixo dos últimos 10 anos.
 
A missão do FMI esteve durante uma semana no arquipélago a pedido do governo para analisar a situação macroeconómica e a execução orçamental de 2012 e "dar seguimento a outras necessidades e prioridades de assistência técnica", no âmbito do Programa de Ajustamento Estrutural, assinado em 1988.
 
MYB
 
PM visita Alemanha e participa na assembleia-geral da ONU
 
22 de Setembro de 2012, 15:13
 
São Tomé, 22 Set (Lusa) - O primeiro-ministro são-tomense, Patrice Trovoada viajou hoje para Alemanha onde vai participar na reunião da Africon, seguindo para os Estados Unidos da América onde deverá participar nos trabalhos da reunião anual Assembleia-geral das Nações Unidas.
 
Patrice Trovoada em declarações no aeroporto antes de viajar, disse que a reunião do Africon (comando americano para África) decorrerá em Estugarda e vai dar a posição do seu país sobre o que pensa sobre a defesa e segurança no golfo da Guiné.
 
"Vou a convite do estado-maior das forças armadas americanas, nomeadamente o estado-maior para África para fazer uma intervenção sobre o que nós pensamos sobre o conceito de defesa e segurança no Golfo da Guiné", disse o primeiro-ministro são-tomense.
 
Patrice Trovoada que participará nesta reunião acompanhado do ministro da defesa e segurança pública, Carlos Stock, disse que vai aproveitar o evento para "falar das relações a nível militar do setor da defesa entre São Tomé e Príncipe e os Estados Unidos da América".
 
No final dos trabalhos da Assembleia-geral da ONU, o chefe do executivo são-tomense desloca-se para Washington para encontros com o Banco Mundial (BM) e o Fundo Monetário Internacional (FMI) e a sociedade financeira internacional.
 
O BM e o FMI, recorde-se, financiam um Programa de Ajustamento Estrutural (PAE) no arquipélago, desde 1988.
 
MYB
 
Governo prevê agravamento da situação alimentar no próximo ano
 
22 de Setembro de 2012, 15:34
 
São Tomé, 22 set (Lusa) - O Governo são-tomense apelou hoje à população para "cultivar cada pedaço de terra disponível" de modo a inverter os prognósticos "pessimistas" de agravamento da situação alimentar em 2013, devido à subida do preço dos bens.
 
Em comunicado, o governo afirma que em 2013 a subida de preços no mercado internacional "vai agravar-se", exortando, por isso, a população a empenhar-se "no cultivo de cada pedaço de terra".
 
"O conselho de ministros analisou a problemática da segurança alimentar, à luz dos prognósticos pessimistas para o ano de 2013, devido à seca e às intempéries em muitas regiões consideradas exportadoras de bens alimentares", provocando "uma subida dos preços no mercado internacional", refere o comunicado.
 
*O título nos Compactos de Notícias são de autoria PG
 
Leia mais sobre São Tomé e Príncipe (ligação no símbolo da barra lateral)
 

Moçambique: MAIS CEGOS SÃO OS QUE NO CONGRESSO DA FRELIMO NÃO QUEREM VER

 


Cegos procuram alternativas para sair da mendicidade
 
23 de Setembro de 2012, 10:11
 
 
André Catueira, da agência Lusa
 
Chimoio, Moçambique, 23 set (Lusa) - Debaixo de um sol matinal abrasador, Nércia Augusto encosta à parede uma bengala de pau e acomoda-se no chão, junto ao passeio da principal avenida de Chimoio, e estende a mão enquanto solta um 'gospel' para chamar a atenção.
 
"Eu só regresso a casa ao escurecer. Da doação que recebo apenas dá para comprar pão e poucas vezes algo mais consistente. É com isso que consigo sobreviver, pois não tenho outra opção", explica à Lusa Nércia Augusto, de 23 anos, filha primogénita de um casal de cegos.
 
Os factores sociais e económicos são tidos como as principais causas da mendicidade entre os deficientes em Moçambique.
 
Dependentes dos trocados que recebem nos passeios da cidade e nos semáforos quando pedem esmola, ficam expostos e vulneráveis ao VIH/Sida devido ao elevado índice de violência e abusos sexuais.
 
"Estamos a prestar apoio no aconselhamento quanto à postura e auto-estima. Também temos muitos projectos em carteira para afastar os cegos da mendicidade", disse à Lusa Francisco Tembo, presidente da Associação dos Cegos e Amblíopes de Moçambique (ACAMO), em Manica, no centro do país.
 
Uma campanha da ACAMO, de registo de deficientes, está em curso para se apurar o grau de necessidade e vulnerabilidade de cada um, para melhor direcionar as atividades da associação. Atualmente estão inscritos 639 membros em todos distritos de Manica.
 
Um projecto de geração de rendimento, assente na produção de tapetes de sisal, tem contribuído grandemente para a redução de mendigos nas ruas de Chimoio. Mas o fim de apoio alimentar, de uma organização parceira, pode deitar abaixo a iniciativa.
 
"Tínhamos apoio alimentar do governo e duas igrejas para permanência dos membros (para o fabrico dos tapetes), mas foi cancelado antes de atingirmos a sustentabilidade. Agora, recebemos, a título de doação, uma tonelada de sisal e a mão de obra está fraca, precisamos contornar este défice", precisou Miguel Quembo, membro da ACAMO.
 
A organização está a procura de financiamento para mandar à formação 12 membros na área de tecelagem, que deverão também ensinar os principiantes, como forma de envolver mais deficientes na produção.
 
"Além da tecelagem, o governo aprovou e financiou um projecto de produção de pão, que tem ajudado muitos deficientes. Agora temos em carteira um projecto para instalação de uma moagem que, além de atender os membros, iria contribuir para as suas economias", precisou Tembo, que acredita em ações coordenadas para travar a mendicidade.
 
Geralmente, os portadores de deficiência visual levam consigo os filhos, para os guiar na prática de mendicidade, mas uma campanha governamental, em coordenação com a ACAMO, recolheu as crianças em idade escolar para que estudassem.
 
Atualmente, os filhos guiam os pais no período em que estiverem livres, mas muitos abandonam a escola para se dedicar a mendicidade com os progenitores.
 
O Conselho de Ministros de Moçambique aprovou este mês o Plano da Área de Deficiência 2012-2019, com um orçamento de 890 milhões de meticais (254.2 milhões de euros), para harmonizar as intervenções, do governo e parceiros, na assistência a portadores de deficiência.
 
O Ministério da Mulher e Acção Social moçambicano é o único órgão do governo que apoia directamente os deficientes nas áreas de educação formal e psicossocial.
 
Em Chimoio, a pobreza sai à rua todas as quintas-feiras, quando os mendigos vão receber ofertas, às portas das lojas.
 
As autoridades preveem a construção de três centros para receber as ofertas e proporcionar o desenvolvimento de atividades de criação de rendimento.
 
Guebuza destaca "êxitos" do partido no poder na abertura do X Congresso
 
23 de Setembro de 2012, 11:44
 
Luís Andrade de Sá, Agência Lusa
 
Pemba, Moçambique, 23 set (Lusa) - O Presidente moçambicano e líder da Frelimo, Armando Emílio Guebuza, recordou hoje os êxitos do partido no poder em Moçambique na abertura do X Congresso, do qual disse ser a "consagração da autoestima".
 
"Hoje, como ontem, a defesa da autoestima e da unidade nacional estão no centro da agenda política da Frelimo", disse Guebuza, que se mostrou convicto na "vitória sobre a pobreza e a fome" no país.
 
Armando Guebuza falava na abertura do X Congresso do partido, que se realiza em Pemba, 2.500 quilómetros a norte de Maputo, e que será marcado pelo início da sua sucessão na chefia do Estado, em 2014, mas consagrando-o como líder da Frelimo.
 
Evitando referir-se a essa futura situação de "duplo poder" no país, Guebuza destacou as "vitórias" da Frelimo, que, disse, têm permitido um crescimento económico superior a sete por cento nos últimos anos, associando-o à recente explosão dos recursos minerais.
 
A Frelimo dá "ênfase à necessidade de que os resultados beneficiem os moçambicanos que se devem sentir donos desses recursos", disse Guebuza, referindo-se à prospeção de carvão, gás, petróleo e outros minerais que, nos últimos anos, atraíram grandes multinacionais ao país.
 
"A mensagem é: continuemos todos a construir em Moçambique um Moçambique que nos deve orgulhar", disse Guebuza, na abertura do congresso, transmitida em direto pelos canais públicos de televisão, TVM, e de rádio, RM.
 
Mais de 1.950 delegados foram eleitos pelos cerca de 3,5 milhões de membros da Frelimo para os representarem no X Congresso, que se realiza exatamente 50 anos depois do I, então na capital da Tanzânia, Dar-es-Salaam.
 
Representantes do MPLA, de Angola, PAIGC, da Guiné-Bissau, PAICV, de Cabo Verde, Fretilin, de Timor-Leste e dos portugueses PS e PSD assistem ao congresso, lado a lado com elementos dos partidos comunistas ainda no poder - China, Cuba, Vietname e Coreia do Norte - e de partidos regionais, como o sul-africano ANC e o zimbabueano ZANU-PF.
 
Preços altos e contradições sob o sol escaldante de Pemba
 
23 de Setembro de 2012, 15:09
 
Luís Andrade de Sá (texto) e António Silva (fotos), Agência Lusa
 
Pemba, 23 set (Lusa) - Por uma semana, o poder político de Moçambique mudou-se para Pemba, uma cidade no norte, habitualmente sonolenta e que ainda não despertou completamente para os efeitos da invasão: hotéis cheios, voos lotados e preços mais caros.
 
"Desde quando é que um prato de lulas custa 400 meticais?" (cerca de 12 euros), perguntava, sem sucesso, o único "paisano" num mar de camisetas, bonés e lenços da Frelimo, na praia urbana do Wimby.
 
À noite, num restaurante mais seleto, junto do porto, repleto de ministros, gestores públicos, jornalistas e assessores, os vinhos sul-africanos e portugueses eram vendidos a partir de 500 meticais mas arranjar mesa era quase tão difícil como um oponente interno de Armando Guebuza ser eleito para o comité central.
 
O X Congresso da Frelimo, partido no poder em Moçambique desde a independência, em 1975, é o congresso de Armando Guebuza, da sua re-consagração partidária, apesar de dentro de meses abandonar a chefia de Estado. Ou, talvez, por isso mesmo.
 
Hoje, no dia do arranque do congresso, o semanário Domingo não poupava nas palavras para descrever o candidato, sem adversário, à sua sucessão na Frelimo: "Homem de negócios brilhante, líder político pragmático, para gáudio das bases do partido que nunca se sentiram esquecidas", lia-se no editorial do jornal detido pelo Banco de Moçambique.
 
E Guebuza voltou, hoje, a sorrir às bases quando assegurou que os militantes não eleitos para o congresso são tão bons ou melhores do que os delegados ali presentes e, depois, teve um momento inolvidável de propaganda do tipo comunista asiático, quando garantiu que "até há machambas (hortas) que levam o nome do X Congresso".
 
Se o estilo poderá recordar a Coreia do Norte, a realidade é, porém, outra. O Blackberry é o telemóvel preferido dos delegados e a entrada no recinto dos continuadores (como a Frelimo chama aos pioneiros) foi filmada por dezenas de gadgets, tablets e outros acessórios que custam mais de 10 ordenados mínimos nacionais.
 
Frente de libertação, partido marxista-leninista, organização empresarial, por quase tudo já passou a Frelimo, num processo de contradições visível nos convidados estrangeiros que torram sob o sol de Pemba.
 
Na cidade está presente o núcleo duro do comunismo internacional, com os partidos no poder na China, Coreia do Norte, Cuba e Vietname, assim como o Partido Comunista do Brasil, mas que, como disse à Lusa o seu dirigente Ronaldo Carmona, está no governo, não no poder.
 
No entanto, foi para Mari Alkatiri, da Fretilin e que viveu em Moçambique durante a invasão indonésia de Timor-Leste, a ovação da manhã, e isto depois de dois conservadores, o representante do PLD japonês e do PSD português, terem sido nomeados como "camaradas" pelo presidente da Frelimo.
 
Um epíteto a que Nuno Morais Sarmento (o representante do PS é Jorge Fão) está habituado, porque, disse à Lusa, este é o terceiro congresso da Frelimo a que assiste, a que se soma, quatro do MPLA.
 
*O título nos Compactos de Notícias são de autoria PG
 
Leia mais sobre Moçambique (símbolo na barra lateral)
 

Guiné-Bissau: E UMA MANHÃ A CASA VEIO ABAIXO

 

FP - Lusa
 
Bissau, 23 set (Lusa) - Joãozinho Gomes tinha uma casa mas ela caiu e 15 pessoas ficaram sem teto. Sem emprego, Joãozinho está "a andar" desde então à procura de ajuda e à espera que pare a chuva: "havendo material temos vontade de trabalhar".
 
O drama de Joãozinho Gomes, 57 anos, não é único em Bissau ou no resto da Guiné-Bissau, onde a maior parte das casas são de construção precária, feitas de terra e cobertas de colmo, às vezes de zinco. Em anos de muita chuva os blocos de terra voltam a ser lama e as casas desmoronam-se.
 
Este ano, depois de um 2011 anormalmente seco, a época das chuvas (de maio a outubro) tem sido especialmente pródiga e a queda de casas também. Na última semana em Bissau, quase meia dúzia ruiu, segundo a televisão nacional, em Cacheu, a norte, caíram pelo menos 11, e em Bula, leste, foram abaixo mais algumas e até o pavilhão de uma escola.
 
Tudo isso pouco diz a Joãozinho Gomes, que olha com tristeza as paredes meio desfeitas da casa que o abrigava a ele e a sete filhos e respetivas famílias, 15 pessoas ao todo. Caiu tudo numa manhã de chuva, quando felizmente ninguém estava no interior.
 
Valeu-lhe a solidariedade do vizinho, que numa primeira fase acolheu parte da família e que agora ele mesmo se foi embora, porque uma parte da sua casa também caiu. Joãozinho dorme agora numa casa que ameaça cair, ao lado da sua casa caída. Alguns dos filhos espalharam-se pelas camas dos amigos.
 
Joãozinho nasceu na região de Mansoa e trabalhou na antiga empresa Ultramarina, no tempo colonial. A empresa fechou em 1980 e desde então nunca mais teve emprego. Nem nenhum dos seus filhos trabalha.
 
A casa tinha cobertura de colmo, que para ser impermeável tem de ser mudado todos os anos. Este ano Joãozinho teve um AVC e o colmo não foi mudado. Com tanta chuva a casa começou a meter água e ele, confessa, já andava desconfiado de que o pior podia acontecer. E uma manhã a casa veio mesmo abaixo.
 
"Tínhamos cama, espumas, coisas do fogão, caçarolas, algumas coisas estragaram-se outras não", conta à Lusa, explicando que desde que a casa caiu está a pedir ajuda.
 
"Estou a pedir ao senhor Presidente e ao primeiro-ministro se podem ajudar, estou aí a andar desde o outro dia mas até agora nada", diz.
 
Joãozinho também já pediu ajuda ao presidente da Câmara, que prometeu que passaria no local, mas sabe que enquanto não terminar a época das chuvas nada poderá ser feito. "O que nós queremos é que quando a chuva parar começarmos a arranjar. O problema é só o material, porque se vem o material temos vontade de trabalhar".
 
"É a força da chuva que obrigou a casa a cair. Faltam os alicerces. Não há meios para fazer casas melhores", diz, repetindo com voz baixa, entre os escombros, "meios ka tem" (meios não há).
 
Ainda assim, do mal, o menos. A solidariedade dos vizinhos deu-lhe um teto, ainda que também ele demasiado vulnerável. E os filhos ajeitam-se por ali. "Durmo em casa de colegas, a parte da casa onde eu dormia não caiu mas agora tenho medo de ficar aqui", diz um deles, 24 anos, estudante.
 
Só dormir. Porque durante o dia tomam-se as refeições e fica-se por ali. À volta da casa. Dos escombros de paredes erguidas há anos por eles e da sepultura de um outro filho que morreu aos 28 anos. Só com a vontade de trabalhar, enquanto a chuva não vai e as ajudas não vêm.
 

AUMENTA DIFERENÇA DE PATRIMÓNIO ENTRE RICOS E POBRES NA ALEMANHA

 

 
Enquanto o Estado alemão tem cada vez mais dívidas, sua população é cada vez mais rica. Porém, essa riqueza não é distribuída igualmente entre população, como atesta um relatório do Ministério alemão do Trabalho.
 
A diferença de patrimônio entre os ricos e os pobres na Alemanha está aumentando. Dez por cento das famílias do país detêm mais da metade do patrimônio no país. Essas conclusões são uma prévia do Relatório da Pobreza e da Riqueza, organizado pelo governo alemão. A oposição quer, por isso, a reintrodução da taxa sobre grandes fortunas e o aumento do imposto de renda para os mais ricos.
 
Com base em dados de 2008, o estudo elaborado pelo Ministério do Trabalho diz que 10% dos domicílios alemães detêm 53% do total da riqueza do país. Em 1998, essa proporção era de 45%.
 
Por outro lado, 50% dos domicílios alemães detêm apenas 1% da riqueza – há dez anos, eram 4%. De 2007 a 2012, mesmo com a crise financeira, o patrimônio privado aumentou em 1,4 trilhão de euros.
 
"Em geral, a situação da Alemanha melhorou", disse a ministra alemã do Trabalho, Ursula von der Leyen. Segundo ela, "o desemprego diminuiu, há menos crianças recebendo ajuda social do Estado e o desemprego entre os jovens é o mais baixo da Europa".
 
Ela admite, porém, que pessoas com remuneração mais alta têm se beneficiado mais do aumento da riqueza do que os de média remuneração. Ao mesmo tempo, ela defende que pessoas com baixos salários deveriam ter uma chance de ascensão através, por exemplo, de "salários justos".
 
Os principais partidos de oposição exigem a reintrodução de uma taxação sobre a propriedade privada e impostos mais altos para quem ganha mais. A riqueza é medida pelos ativos líquidos, como bens imobiliários, investimentos em dinheiro, terrenos ou aposentadoria.
 
A secretária-geral do partido Social Democrata, Andrea Nahles, critica o que chama de "gigante redistribuição" a favor dos ricos e dos super-ricos.
 
Estado pobre, população rica
 
"Os orçamentos públicos perderam nas últimas duas décadas mais de 800 bilhões de euros em patrimônio", diz o relatório do Ministério do Trabalho. Em entrevista à Deutsche Welle, Ralph Brügelmann, do Instituto da Economia Alemã, não se disse surpreso. "Os motivos são bem óbvios: o forte crescimento da dívida pública. Os ativos vinham crescendo até 2009, mas as dívidas também subiram rapidamente. Por isso houve perda de patrimônio."
 
Já o contrário aconteceu no caso da propriedade privada. De acordo com o relatório, o patrimônio líquido dos alemães cresceu de 4,6 trilhões de euros em 1992 para cerca de 10 trilhões de euros até o início de 2012. Mesmo nos anos de crise, entre 2007 e 2012, ele cresceu em 1,4 trilhão de euros.
 
Brügelmann explica por que a alta dívida do governo e a riqueza privada não são contraditórias. "A atividade econômica na Alemanha está, basicamente, nas mãos de investidores privados. E os investimentos privados tendem a trazer o maior retorno".
 
O professor de Sociologia da Universidade Técnica de Darmstadt, Michael Hartmann, frisa que a desigualdade traz riscos, também, para a economia. "Uma das razões para o desencadeamento das crises financeiras é sempre a extrema desigualdade, pois no alto da pirâmide há muito dinheiro, que não entra na cadeia de consumo, mas sim em investimentos especulativos".
 
Intervenção do governo ou economia livre?
 
Na opinião de Hartmann, o Estado deveria, portanto, combater a desigualdade com impostos mais altos para as pessoas com maiores salários e com mais bens. "Se hoje tivéssemos as mesmas taxas de impostos que tínhamos em meados da década de 1990, isso significaria 40 a 50 bilhões de euros em impostos a mais no ano."
 
Porém, isso não convence Christoph Brügelmann, do Instituto da Economia Alemã. "A conjuntura se aquece, mas não há crescimento. O que em curto prazo é bom para a conjuntura, é, em longo prazo, tóxico para novos investimentos."
 
Essa é uma tese da qual Michael Hartmann discorda: "Esse é o mantra da política econômica: rendimentos mais elevados das camadas mais ricas garantem os investimentos, e investimentos garantem empregos. Este é o efeito trickle-down (teoria do fluxo contínuo), de que se fala há vários anos, mas não aconteceu até hoje".
 
Ricos ficam mais ricos, pobres continuam pobres
 
De fato, o estudo do governo, publicado a cada quatro anos, confirma uma tendência: a diferença de patrimônio entre pobres e ricos no país, ao longo dos anos, cresce. Em 1998, os mais ricos possuíam 45% do total de bens no país. Já em 2008, esse mesmo grupo detinha mais de 53%.
 
O Ministério do Trabalho constatou, também, que houve uma desigualdade no crescimento salarial: enquanto os vencimentos nos cargos mais altos aumentaram, nas categorias mais baixas, 40% dos trabalhadores em tempo integral sofreram cortes salariais.
 
Onde está a justiça?
 
Michael Hartmann chama a atenção para outros efeitos resultantes dessa desigualdade. "Isso mudou tão drasticamente em um período tão curto que a massa da população percebe e acha injusto".
 
Uma avaliação aparentemente compartilhada pelo Ministério alemão do Trabalho, que a respeito da evolução dos vencimentos observou: "Esse desenvolvimento salarial fere o senso de justiça da população."
 
FC/dw/dpa - Revisão: Roselaine Wandscheer
 

Jimmy Carter surpreende: ‘Venezuela tem melhor processo eleitoral do mundo’

 

Pragmatismo Político
 
“Processo eleitoral na Venezuela é o melhor do mundo”, diz Jimmy Carter. Ex-presidente dos EUA coordena centro de monitoramento de eleições ao redor do mundo há mais de uma década
 
O processo eleitoral na Venezuela é considerado o melhor do mundo pelo ex-presidente dos Estados Unidos Jimmy Carter, que coordena uma instituição de monitoramento de eleições ao redor do mundo há mais de uma década. Em conferência anual do Carter Center, o norte-americano também garantiu que Hugo Chávez venceu de forma “justa” o último pleito presidencial, em 2006.
 
Carter elogiou o sistema de votação venezuelano por incluir duas formas de contagem, o que dificulta qualquer tipo de tentativa de fraude. No país, os eleitores escolhem o seu candidato em uma urna eletrônica e ainda recebem um comprovante, que é depositado em uma caixa vedada, aberta para confirmar os resultados eleitorais. Além disso, um dos dedos é manchado com tinta indelével.
 
O democrata disse que enquanto os sistemas de financiamento de campanha nos países latino-americanos melhorou significativamente, nos EUA se consolidou uma “corrupção financeira” alimentada por “resoluções que facilitaram o fluxo de dinheiro privado para as contas dos candidatos”.
 
Suas declarações vieram no mesmo dia em que jornalistas se reuniram no Carter Center para um workshop sobre a cobertura midiática das eleições venezuelanas. A instituição quer preparar os profissionais para escreverem retratos profissionais e não partidários do próximo pleito no país, que ocorre no dia 7 de outubro deste ano.
 
“O espaço que o treinamento do Centro fornece para reunir jornalistas de mídia divergentes é uma contribuição importante para diminuir a polarização e fortalecer a democracia venezuelana”, afirmou Andres D’Alessandro que coordenou atividades em junhos deste ano.
 
“As oficinas me ensinaram que tenho de fazer jornalismo – não jornalismo de oposição ou jornalismo oficial”, disse David Ludovic da ONG Instituto Prensa y Sociedad, que monitora o direito à liberdade de expressão na Venezuela. “Eu devo trazer apenas dados e explicações para o meu público”, acrescentou.
 
Por mais de uma década, o Carter Center conduziu observações eleitorais e treinamento para jornalistas na Venezuela. A organização norte-americana vai realizar estudo autônomo e independente sobre as eleições presidências deste ano no país, incluindo percepções da população sobre o processo eleitoral.
 
Marina Mattar, Opera Mundi
 
Leia também
 

Brasil: Ao reduzir conta de luz, Dilma colhe o que foi plantado em 2002

 


Uma década após o apagão, governo aproveita renovação das concessões para reduzir conta de luz e desindexar as tarifas. Ainda que não se possa dizer que o modelo pró-mercado tenha ficado para trás, as novas conquistas são garantidas pelo retorno do planejamento estratégico público, uma proposta gestada por técnicos progressistas no Instituto Cidadania, antes das eleições presidenciais de 2002.
 
Marcel Gomes – Carta Maior
 
São Paulo – A partir de cinco de fevereiro de 2013, a conta de luz dos domicílios brasileiros será reduzida em 16,2% em média. Isso significa que quem gasta R$ 200 por mês passará a pagar em torno de R$ 168. O corte será ainda maior para os consumidores industriais, e poderá atingir 28%.

A medida, anunciada dez anos após o apagão no governo Fernando Henrique e a explosão tarifária, ajuda a recolocar o preço da energia do país dentro dos padrões internacionais. O resultado é positivo. As famílias podem consumir mais com o aumento da renda disponível, as empresas têm sua competitividade elevada e, de quebra, a inflação sofre um baque.

A presidenta Dilma Rousseff está finalmente colhendo o que fora plantado em 2002. Naquele ano, um grupo de técnicos progressistas reunidos no Instituto Cidadania, base do programa de governo que elegeu Lula, lançou o documento “Diretrizes e Linhas de Ação para o Setor Elétrico Brasileiro”.

A coordenação coube ao professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Luis Pinguelli Rosa. Entre os técnicos participantes, além da própria Dilma, estavam Ildo Sauer, Roberto Pereira d´Araujo, Mauricio Tolmasquim, Roberto Schaeffer, Ivo Pugnaloni, Carlos Augusto Kirchner e Joaquim de Carvalho.

Diante da crise provocada pelo racionamento de energia elétrica desde 2001, o documento criticava o modelo pró-mercado lançado na era privatista da década de noventa, que aniquilou o planejamento estratégico público. O trabalho serviu de base para o programa de governo de Lula e guiou, ainda que parcialmente, as reformas do marco regulatório iniciadas em 2003.

Dizia um trecho do programa de Lula, escrito sob administração tucana: “Ao longo da década de 1990, o atual governo concluiu que os problemas existentes resumiam-se, simplesmente, à presença do Estado no setor elétrico. O modelo de mercado que se procurou impor desestruturou o planejamento e, mesmo sem fazer as alterações cabíveis, privatizou empresas e modificou as regras do setor abruptamente. Como resultado tem-se um setor elétrico profundamente desajustado, necessitando ser ‘revitalizado’”.

Novo projeto

Com a vitória petista, Dilma foi alçada ao Ministério de Minas e Energia. Entre 2003 e 2004, uma nova legislação lançou novas bases para o modelo elétrico, com o fortalecimento do planejamento estratégico pelo Estado. Foi criada a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), justamente com a função de avaliar permanentemente a segurança do suprimento de eletricidade.

Não se desejava, porém, uma volta ao passado e a estatização das empresas, como apontava o próprio programa de Lula. “Nosso governo vai estimular a ampliação dos investimentos de empresas privadas na expansão do setor”, afirma o texto. Para isso, estimulou-se um novo modelo de financiamento chamado “project finance”, com a meta de atrair tanto recursos privados quanto públicos.

Esse mecanismo ajuda a diluir os riscos de implantação e operação de um novo projeto entre todos os atores envolvidos no setor energético. Isso ocorre pois o fluxo de caixa do projeto é a principal fonte de pagamento do serviço e da amortização do capital de terceiros, enquanto no financiamento corporativo tradicional as garantias são calcadas principalmente nos ativos dos investidores.

Novas hidrelétricas em construção, como Belo Monte, utilizam o mecanismo do “project finance”. Segundo o diretor do Sindicato dos Engenheiros de São Paulo, Carlos Augusto Kirchner, que estava entre os técnicos mobilizados no Instituto Cidadania, os investidores passaram a ter mais segurança, inclusive o BNDES, que financia boa parte dos projetos do setor.

Isso não significa, porém, que Kirchner esteja de acordo com todas as bases do novo modelo. O engenheiro defende, por exemplo, a ampliação do tempo de contrato do consumidor livre, que em média tem pagado um preço muito mais baixo pela energia em relação ao consumidor cativo. Isso traria mais equilíbrio ao modelo, defende ele.

Novo modelo?

Mais contestações vêm do Instituto Ilumina, outro polo do pensamento progressista sobre as questões da energia. Em uma análise em que responde um documento divulgado pela Fiesp em agosto criticando o preço da eletricidade no país, o Ilumina aponta as relações da entidade com o modelo privatista e faz críticas ao atual marco regulatório – que, para o instituto, é o mesmo modelo de mercado anterior, e que apenas sofreu “correções imprescindíveis para permitir o seu funcionamento”.

“Por acaso se pode falar em sucesso para um modelo que em pouco mais de dez anos provocou a subida das tarifas para patamares tão elevados? Que provoca apagões sucessivos de todo tipo, além de constantes explosões de bueiros na cidade de maior projeção do país, as quais até já feriram gravemente turistas estrangeiros?”, diz a análise do Ilumina.

Ao menos à primeira crítica o governo tenta dar uma resposta. Além do corte no custo da energia a partir de fevereiro, o ministro Guido Mantega (Fazenda) anunciou que está em estudo a redução da influência do IGPM e do IPCA na determinação dos preços da energia. A ideia é desindexar os contratos a partir da renovação das concessões.

Mais uma preocupação vem dos trabalhadores do setor elétrico. Eles querem evitar que a conta da redução das tarifas seja paga pela categoria. De acordo com o advogado do Sindicato dos Eletricitários do Sul de Minas e da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias Urbanas de Minas Gerais Maximiliano Nagl Garcez, a representação sindical dos eletricitários é, nacionalmente, favorável à diminuição da conta de luz e à renovação de concessões.

O receio, entretanto, exige garantias para que estas medidas não sejam usadas pelas empresas como desculpa para demitir trabalhadores, precarizar direitos e terceirizar ainda mais a atividade. “Isso não prejudica só os eletricitários, mas os próprios consumidores com a queda de qualidade do serviço. Basta ver no que deu os ataques aos direitos dos trabalhadores ocasionados pela privatização. Apagões, problemas de atendimento e até explosões de bueiros, comprovadamente reflexo da terceirização”, disse.

O secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, refuta esta possibilidade. “As mudanças não impõe ao setor nenhuma dificuldade adicional. Estamos tratando de um capital que já foi depreciado ou que está sendo pago, então não há nenhum motivo para demissão ou precarização”, diz.

* Colaborou Vinicius Mansur

Fotos: Arquivo
 

Brasil: O MORIBUNDO CRBE

 


Estado do Emigrante – Direto da Redação
 
O Conselho de representantes de emigrantes não deu certo, todo mundo sabe. E por que não deu certo ? Porque o MRE, Ministério das Relações Exteriores, traiu os emigrantes na I Conferência Brasileiros no Mundo, para adotar um formato de política de emigração que lhe garantia uma importante verba como tutor dos emigrantes.
 
Antes de escrever esta coluna, fui ao sítio Brasileiros no Mundo e vi como foi resumido e deturpado o vídeo do final da I Conferência. Quem ouvir o final do vídeo compreenderá também que o objetivo simplista do MRE, em 2008, era o de criar apenas a Conferência anual Brasileiros no Mundo, no qual os emigrantes seriam representados por um pequeno grupo de privilegiados, encarregado de apresentar as reivindicações dos brasileiros do exterior.
 
Essas reivindicações seriam compiladas num documento chamado Ata Consolidada. A seguir, a recém-criada Subsecretaria das Comunidades Brasileiras no Exterior levaria tais demandas à direção do MRE, que, por sua vez, deveria levá-las ao governo. Os diplomatas da época, Oto Maia, Moscardo, Gradilone e o próprio Celso Amorim deviam pensar ser fácil tapear as lideranças emigrantes com esse projeto primário e chinfrim, revelador do nível de consideração em que são tidos os emigrantes pelos diplomatas.
 
Mas armada a ratoeira, o rato não entrou. E aqui começou uma história de conscientização política e revolta, jamais esperada pelo Itamaraty, mas que vem lhe valendo um desprestígio crescente. Os emigrantes não são trouxas e hoje a Subsecretaria SGEB virou um rabo de foguete, que pode custar um péssimo fim de carreira para diplomata. Pode ser também um péssimo começo de carreira.
 
Porque o rato não entrou na ratoeira ? Porque ficou evidente, naquela I Conferência Brasileiros no Mundo, o mínimo e o ridículo oferecido aos emigrantes. A política brasileira de emigração oferecida pelo Itamaraty era de provocar gargalhadas em países com experiência na matéria, como Portugal, Itália e até a França.
 
Diante das migalhas oferecidas, redigimos um abaixo-assinado no qual rejeitávamos como insuficiente a Ata Consolidada e pedíamos uma Comissão de Transição para se criar um órgão institucional emigrante. Houve 135 assinaturas para 170 presentes. Era maioria mais que absoluta. Porém, acabou sendo rejeitada pelo presidente da mesa, Oto Maia, por não haver consenso, como se no Parlamento os projetos fossem aprovados por consenso e não pela maioria.
 
Embora o tal abaixo-assinado tivesse sido discutido e filmado durante 45 minutos, no final da I Conferência Brasileiros no Mundo, acabou sendo ignorado na Ata Consolidada pelo relator da Europa e só foi mencionado diante de nossos protestos. Protestos inúteis, porque na última versão da Ata Consolidada desapareceu por completo, num ato de prestidigitação do Itamaraty, que eu considero como fraude vergonhosa.
 
Por que ? Porque nessa altura era importante a verba do governo para o Itamaraty tutelar os emigrantes. Qualquer tentativa de se desviar essa verba para um órgão institucional emigrante, uma Secretaria dos Emigrantes, independente, se tornou tabú e sacrilégio.
 
Em lugar de uma Comissão de Transição, pedida pela maioria, o Itamaraty ofereceu um Conselho de Representantes, CRBE, mas previamente emasculado, uma espécie de órgão eunuco, sem qualquer autonomia e sob tutela, cujos membros funcionariam como uma espécie de entregadores de café para os diplomatas – voluntários e sem verba nem para viagens fariam o trabalho de campo e entregariam ao seus tutores, bem pagos, que lhes afagariam a cabeça como agradecimento.
 
O CRBE foi eleito por 0,02 % dos emigrantes e houve fraudes. Embora para os emigrantes nada representasse, foi para alguns eleitos a chance de terem um cartão de visita com brasão da República, prestígio e alguns holofotes do show Focus Brasil, financiado também pelo Itamaraty. Entre o mito, engodo e enganação, o CRBE veio se arrastando até aqui.
 
Diante de minhas denúncias, tentaram me expulsar de um cargo de suplente. O tiro saiu pela culatra. Quem acabou saindo foi o autor da proposta de minha expulsão. Ao me titularizar, descobri um CRBE inerte. Embora considerado órgão de interlocução, tinha sido desconectado do Itamaraty. Os diplomatas perceberam que, na tentativa de criarem um conselho dócil e submisso, tinham formatado um órgão inócuo e inútil.
 
Continuamos denunciando esse CRBE cheio de astros apagados, nas nossas conferências em Zurique, Berna, Genebra, Bienne, Boston, Nova Iorque, Newark e nos nossos textos pela mídia alternativa. Mas já não estávamos tão sós como no início. Hoje somos milhares no Facebook e o projeto de uma verdadeira política de emigração circula mesmo entre parlamentares e políticos.
 
Ao mesmo tempo, a presidente Dilma também foi informada do fiasco da política brasileira de emigração. E fechou a torneira das verbas – nem reunião presencial do CRBE e nem Conferência Brasileiros no Mundo, mesmo se isso é exigência de Decreto.
 
Depois de abandonado alguns meses pelo Itamaraty, que rejeita o filho mal formatado, nos chegou, enfim, uma carta do novo diretor da Subsecretaria das Comunidades Brasileiras no Exterior, o embaixador Sérgio França Danese, cuja experiência anterior era parlamentar.
 
Veio em linguagem diplomática, mas quem entende itamaratês, pode ler, segue em anexo. Com a experiência de jornalista, acostumado a ler nas entrelinhas dos discursos e comunicados oficiais, tenho uma péssima informação.
 
Com medo dos protestos e sem verba, o Itamaraty não fará outra Conferência Brasileiros no Mundo. Poderia aproveitar o mês de novembro, mês de eleições no Brasil, para eleger novo CRBE, porém esse conselho, suspenso e em moratória, deverá ser revisto e ter outro formato. Em outras palavras, o Itamaraty decidiu aplicar a eutanásia ativa no CRBE.
 
A opção do embaixador Danese é a de deixar vencer os mandatos dos membros do CRBE. Assim, o Itamaraty poderá imaginar, quem sabe, outra solução menos minimalista para tutelar os emigrantes sem tanta confusão e falta de resultados. Como bom diplomata, em respeito aos antecessores, fala em não abrir mão do patrimônio construído (!).
 
Seria melhor não só ignorar tudo feito até agora, não vejo nenhum patrimônio construído a lamentar, e entregar a nós emigrantes a sequência. Aceitar o fracasso e o erro de se imaginar que um órgão sem verba, sem autonomia, sem independência, de emigrantes tutelados por diplomatas, pudesse funcionar e dar certo.
 
Seria bom se a presidenta tivesse cinco minutos para os emigrantes e, diante do fracasso do CRBE que é também do Itamaraty, criasse uma Comissão de Transição para uma Secretaria dos Emigrantes ou, para ganhar tempo, já criasse a Secretaria dos Emigrantes, mas, é claro, com emigrantes que defendem esse projeto.
 
Rui Martins
 

Portugal é "um país com muitas cigarras e poucas formigas" - Miguel Macedo

 

RB, Lusa - RTP
 
O ministro da Administração Interna (MAI), Miguel Macedo, disse hoje em Campia, Vouzela, que Portugal "não pode continuar um país de muitas cigarras e poucas formigas". Ao mesmo tempo que enaltecia o "esforço do povo" para ultrapassar a crise.
 
Miguel Macedo chegou hoje a Campia, Vouzela, onde inaugurou o novo edifício do destacamento local dos bombeiros, debaixo de assobios e protestos de um grupo de elementos da comissão de luta contra as portagens nas auto-estradas A24, A25 e A23.
 
O ministro desvalorizou a presença dos manifestantes, cerca de duas dezenas, considerando que o protesto constitui "um direito das pessoas".
 
O recado, no entanto, mais forte foi a referência à fábula da formiga, a trabalhadora, e da cigarra, a preguiçosa, que contextualizou no cenário de crise que o país atravessa, um cenário que para Miguel Macedo "é muito, muito difícil".
 
Alegou com os "constrangimentos de soberania financeira", numa alusão ao memorando da troika, e sublinhou que a alusão à fábula consistia em "pedagogia para os tempos difíceis".
 
Miguel Macedo admitiu, perante uma plateia constituída essencialmente por bombeiros, que uma grande parte das corporações de voluntários "atravessam dificuldades", adiantou que no próximo ano estas já vão ter o seu modelo de financiamento revisto, de forma a dar "mais eficácia" ao seu desempenho.
 
No entanto, o ministro, que se mostrou feliz pela chegada da chuva, por causa dos fogos florestais, elogiou fortemente o desempenho de todo o sistema de proteção civil "num ano particularmente difícil", onde, lembrou, vários bombeiros perderam a vida.
 
Ainda sobre o novo modelo de financiamento para o sistema de proteção civil, Miguel Macedo, informou que esta já está em fase de reflexão para aplicação em 2013, apontando algumas novidades num contexto em que admite a necessidade de "mais meios e estruturas".
 
Mas estes podem vir a ter uma dimensão supra-municipal, de forma a potenciar "melhor" o investimento, dando como exemplo a possibilidade de um conjunto de municípios poderem ver os seus corpos de bombeiros serem serviços por uma mesma autoescada.
 
O novo quartel do destacamento dos bombeiros de Vouzela em Campia, onde estão colocados cerca de 30 operacionais, custou 380 mil euros.
 
AO CONTRÁRIO: AS FORMIGAS ESTÃO A SUSTENTAR EXAGERADAMENTE IMENSOS CHULOS
 
Página Global só pode considerar altamente ofensiva a frase de Miguel Macedo, ministro do governo moribundo, quando afirma que Portugal é “um país com muitas cigarras e poucas formigas” e se está a referir às famílias e trabalhadores portugueses que têm vindo a contestar as políticas do governo que estão a miserabilizar o país ainda mais do que quando tomaram posse há cerca de 15 meses. Não é por acaso que Macedo faz parte de um Bando de Vaiados, incluindo o PR Cavaco Silva.
 
Sendo verdade que na fábula que ele visou “A Cigarra e a Formiga” os que trabalham têm verdadeiras possibilidades de aprovisionar alimentos e melhores condições de vida, não pode Macedo esquecer-se que é exatamente o governo de que faz parte o principal responsável pelo aumento de desempregados, pelo aumento da miséria, pela queda da produtividade. Sendo ele e os seus congéneres do governo moribundo de Passos responsáveis pelo descalabro a que vêm conduzindo o país obviamente que terão sempre descontentes a vaiá-los nas deslocações que fizerem perto do povo. Será útil para Macedo que compreenda isso de uma vez e que se demitam – já que não capazes de corrigir as políticas erradas que têm vindo a implementar.
 
Portugal tem formigas suficientes para produzir riqueza bastante se acaso não se verificar uma percentagem tão elevada de desemprego e se os portugueses não tiverem de sustentar com tanto exagero (reformas e mordomias milionárias) tantos chulos, tantos gananciosos do estilo dos deputados que se reformam com pouco mais de uma dezena de anos de serviço, de ex-ministros e primeiros-ministros verdadeiramente adeptos do cambalacho e da corrupção, de Presidentes da República que pesam nos Orçamentos do Estado valores inadmissíveis, etc., etc. A isso, vulgarmente, chama-se chulos. Esses são as cigarras ociosas que vivem repimpadamente à custa das formigas. Formigas que até trabalham mesmo passando fome para que ao menos a comida não falte aos seus filhos.
 
Evidentemente que o descaramento de Miguel Macedo foi reflexo daquilo que ele pensa por via da sua má formação de cidadão e de democrata, uma ideia desrespeitosa do povo português. Sem justiça não há democracia e o facto é que em Portugal a justiça pouco ou raramente existe. É assim mesmo que convém aos Macedos deste país… Até um dia. Tudo indica que esse dia está para muito breve e que a verdadeira democracia irá ser restaurada. Será aí que os Macedos, os Cavacos, os Passos, os Relvas, os Borges e tantos outros, passarão ao capítulo da história triste e negra de Portugal.
 
Em tudo isto Macedo leva-nos a lembrar que o disse acontece exatamente ao contrário: Portugal tem muitas formigas a sustentar exageradamente muitos chulos. (PG)
 

Mais lidas da semana