segunda-feira, 6 de agosto de 2012

A AMPLA CIDADE



Rui Peralta
I

Historicamente a greve geral foi uma das armas mais importantes do movimento operário que com essa forma de luta obteve grandes vitórias e também pesadas derrotas (quando não foi usada de forma eficaz ou não era sentida pela classe). Em alguns casos tomando um carácter insurrecional, noutros um protesto pacífico, a greve geral foi e é uma das formas de luta a que os trabalhadores recorrem para manter os seus direitos ou ampliar as suas revindicações. Através dos anos as greves gerais foram absorvidas pelo sistema e hoje são regulamentadas, consideradas um protesto legal, normalizadas pelo Estado de Direito, reduzidas a um ritual de demonstração pacífica de força, com serviços mínimos, politicamente correctas (como manda a ética dominante), muito longe dos tempos em que representavam uma efectiva arma de classe.

O Estado de Mercado do capitalismo pós-industrial, que ainda está em construção no meio da crise sistémica global, comporta alguns tiques do Estado-Nação e do seu regime politico pós-acumulação de capital, o Estado de Direito. Neste sentido é, politicamente, um regime de partido único guardado por dois polícias: a Esquerda e a Direita, cada um com um corpo de informadores, cobrindo uma área política que tem início no ponto de encontro, o centro – que é deles – espalhando-se para os pontos de divergência máxima, os extremos – a cargo dos informadores. Estes dois polícias fazem, claro está, de polícia mau e de polícia bom. Um bate e outro sussurra-nos ao ouvido palavras de alento, demonstrando o seu desacordo com o colega em deixas bem encenadas e gestos teatrais. Quando o interrogatório termina, continuamos presos e eles vão tomar um copo em sadia confraternização.

Existem depois outros agentes de controlo social, como os sindicatos. Se nos primórdios do movimento operário eram associações de classe, de defesa dos seus interesses, reivindicativas e actuantes - chegando mesmo a tornarem-se focos insurreccionais - os sindicatos estão na actualidade reduzidos a um papel de barómetros do descontentamento laboral, quanto muito fazendo umas marchas de protesto e umas lamuriosas jornadas reivindicativas, muitas vezes mais assentes em interesses corporativos do que em reais e efectivas preocupações de classe, amarrando os trabalhadores a um pacto social cuja função é passar a “mão no pelo do cão”.

É assim que algumas experiencias alternativas são sempre refrescantes, pela sua criatividade e pelos ensinamentos que proporcionaram, pequenas alternativas de práctica comunitária, com base nas pequenas coisas do quotidiano. Recordo-me, por exemplo, da assistência alternativa praticada nos bairros negros pelo Partido dos Panteras Negras, nos USA. Controlavam centros comunitários de saúde e de educação que constituíam vastas redes de saúde e educação, públicas e gratuitas. Reivindicavam também o seu direito ao uso e porte de arma e instauraram um interessante sistema de autodefesa popular. Recentemente, na Andaluzia, esta experiencia foi o ponto de partida do Socorro Vermelho Solidário, uma rede de assistência às vítimas do capitalismo, aos excluídos pelo sistema, já sem lugar na engrenagem da produção de lucros.

Ainda na Andaluzia, surgiram nos últimos meses novas experiencias de poder popular, como a Utopia, no bairro sevilhano de Macarena. Cerca de 30 famílias ocuparam um edifício residencial, propriedade de uma imobiliária que está em tribunal por incumprimento de prazos de pagamentos acumulados. As autoridades municipais cortaram a água e a luz ao edifício, mas os ocupantes, de forma criativa e apoiando-se nas prácticas e manuais de sobrevivência, contornaram os cortes de abastecimento e mantêm sistemas limpos de energia eléctrica, para alem de montarem uma rede solidária de abastecimento de água e um disciplinado sistema de autodefesa.

Também na Andaluzia, numa herdade ocupada por um grupo de jornaleiros, foi criada uma cooperativa de trabalhadores, que fizeram da herdade o seu modo de vida. Construíram as suas habitações e trabalham comunitariamente. A cooperativa contactou professores e abriu uma escola, que cobre os níveis básicos e secundários da cadeia de ensino, para além de os seus residentes terem cursos universitários de Verão, em programas conjuntos com a Universidade Nómade e com grupos universitários que desenvolvem projectos de ensino e formação alternativos. Conta ainda com um centro de saúde com maternidade e centro para a terceira idade, onde ocorrem os mais velhos das aldeias e populações vizinhas. Não ficou esquecido o fundamental sistema de autodefesa, essencial para afastar os abutres e os falcões que rondam o espaço a mando dos antigos proprietários, já para não falar na Guardia Civil, que por várias vezes tentou evadir as instalações, mas que por ordem judicial está agora impedida de qualquer acçäo até decisão das instância jurídicas sobre o futuro da Herdade Este exemplo está a estender-se a outras herdades, sendo o caso mais recente o da herdade La Turquilla.

A estes exemplos podia adicionar muitos outros, noutras partes do globo, na Venezuela, Bolívia, Equador, Brasil, Colômbia, India, Sri Lanka, Grécia, Grã-Bretanha, Canadá, Islândia, cobrindo o globo numa vasta rede solidária. “São ilhas”! Dirão os mais cautelosos. Sem dúvida que são ilhas! E depois? São também zonas libertadas, espaços de liberdade, esferas alternativas de vivências, distantes do bolor das esquerdas e do fedor das direitas. Atiram para a fogueira nocturna o pacto social e demonstram que todas as actividades humanas, sejam culturais, sociais, estrictamente produtivas ou de autodefesa são possíveis fora da logica do capital, do estado e do partido.

II

A questão da autodefesa nos tempos que correm é delicada. Nos países em que é um direito constitucional o uso e posse de arma (como os USA) decorrem grandes campanhas contra esse direito básico, individual e colectivo e um garante das liberdades individuais e sociais. Os argumentos utilizados nas campanhas são diversos de um lado e do outro, embora nos USA assista-se mais aos argumentos dos que querem eliminar esse direito. A CNN, por exemplo, colocou um dos seus produtos informativos mais influentes (um tal Piers não sei das quantas, que sempre considerei um mentecapto mal educado) e fez a questão ultrapassar as fronteiras norte-americanas.

Querer atribuir os cíclicos e horrendos casos de homicídio que povoam o quotidiano dos USA ao direito constitucional que permite a qualquer cidadão o uso e posse de arma, é um acto de má-fé e um atirar de areia para os olhos, escamoteando as razões que levam á ocorrência desses actos de homicídio. É que quem comete esses crimes, continuaria a cometê-los mesmo com a eliminação desse direito, conforme é facilmente verificável nas estatísticas dos países onde as armas são monopólio do estado e o cidadão um pobre coitado que limita-se a pagar impostos, a ir votar nos dias de eleições e a aceitar as iluminadas decisões daqueles que sabem olhar por ele.

México, Rússia e Brasil, por exemplo, são países com um nível de controlo de armas superior aos USA, onde as armas não são legalmente acessíveis ao cidadão, sendo monopólio do estado e com um rácio muito superior de crimes ao dos USA. Israel e a Confederação Helvética, com um controlo de armas muito inferior ao dos USA e onde o uso e a posse de arma é um direito do cidadão, têm índices baixíssimos de crimes com utilização de armas. A Grã-Bretanha, cujos governos nas últimas décadas do seculo passado, retirara aos seus cidadãos o direito á autodefesa armada, monopolizando para o estado o uso e a posse das mesmas, assistiu a um aumento dos crimes por uso de arma. Mesmo nos USA, New York é um exemplo de que o monopólio das armas por parte do estado não resolve seja o que for e os seus índices criminais não foram reduzidos, pelo contrário, aumentaram, com a implementação da legislação anticonstitucional contra a posse de armas por parte dos seus cidadãos.

A posse de armas e a criminalidade são duas discussões diferentes, que podem ter os seus links mas implicam diferentes abordagens. Discutir a posse de armas e o seu uso para melhorar a legislação é algo que deve ser feito, de forma séria, sem perder de vista o direito básico do cidadão á autodefesa e sem perder de vista o que isso representa para a liberdade individual e colectiva. Discutir a criminalidade, as suas causas profundas e formas de a combater é um debate legítimo e necessário, mas que não é efectuado em parte alguma. Pelo contrário. Sempre que o tema é a criminalidade assistimos, seja onde for, a um acto de propaganda e a uma práctica de coercçäo que afasta o cidadão mais consciente dos seus direitos de qualquer intervenção no assunto. Os estados sentem-se mais seguros se desarmarem os cidadãos e os media necessitam do crime para vender, seja o que for, mesmo os sentimentos das vitimas e dos seus entes queridos. Depois é tudo misturado e criam enormes produtos propagandísticos, oco e vazios de sentido, recheados de patranhas moralistas.

Escamotear a realidade e arranjar um bode expiatório é um comportamento típico do totalitarismo. E a tirania justifica o tiranicídio…

III

Outra das discussões em voga e que implicam direitos, liberdade e garantias da livre informação e do conhecimento livre, é a questão do segurança no ciberespaço. Também aqui assiste-se a nível internacional a uma intensa batalha entre a liberdade de consultar, produzir e partilhar informação e as forças que pretendem colocar o ciberespaço ao serviço do estado e / ou dos interesses privados. Assume por isso especial relevo a recente decisão do Senado norte-americano em chumbar o Acto de Cibersegurança de 2012 (CSA).

Introduzido pelos senadores Joe Liberman e Susan Collins este projecto assentava na ideia de criar padrões legais de defesa dos USA contra possíveis ciberataques a partir do estrangeiro, assim como atentados contra a infraestructura critica do país. Na práctica o que aconteceria era que as companhias iriam espiar os usuários e partilhar os seus dados pessoais com os governos. Qualquer pessoa, nos USA ou em qualquer parte do mundo, seria considerada uma ameaça potencial, um terrorista suspeito e os seus dados pessoais seriam espiolhados. Por sua vez o governo delegaria a vigilância a empresas privadas, outorgando-lhes a faculdade de partilhar a informação dos usuários das redes e de bloquear, modificar e interromper a conexão às redes. Além do mais toda a informação de serviços internacionais como o Google, a Facebook e o Twitter ficariam ao alcance do governo, sem qualquer ordem ou controlo judicial. O Acto previa ainda a partilha de dados entre o governo norte-americano e os restantes governos aliados ou “amigos”.

Por agora livrámo-nos desta, mas outras vão vir e atendendo á composição do senado norte-americano da próxima a coisa pode ser diferente. Até lá, respiremos.

IV

Uma das áreas do conhecimento mais vedadas aos mortais é a Economia. Se falarem com um economista das duas uma: ou não entendem patavina do que ele está a dizer (quando tem uma sólida formação técnica ou andou em boas escolas) ou acham que o homem andou a queimar pestanas por gosto (nos 99% dos casos), pois têm as mesmas duvidas do que nós, simples mortais que não alcançamos as profundezas da teoria económica. Se experimentarem ler um manual de economia vão encontrar matéria altamente formalizada, tudo baseado em modelos abstractos, muitas suposições e raciocínios matematizados. O problema não será a linguagem do manual mas sim o facto de ficarmos com a sensação de que afinal estamos perante uma disciplina que não se coaduna com um mundo em mudança, sempre baseada em modelos estanques e que parte, em muitos casos, de pressupostos errados. A teoria económica é como colocar alguém numa sala fechada, com o objectivo de abrir a porta, utilizando um conjunto de ferramentas colocadas ao seu dispor. Ao fim de algum tempo o candidato a economista conclui que afinal as ferramentas não são as adequadas para abrir a porta e senta-se imaginando uma fechadura onde possa utilizar as sublimes e veneradas ferramentas.

A maior parte dos mortais sabe que os recursos naturais são finitos assim como a capacidade do ambiente em absorver os resíduos resultantes das actividades produtivas. Mas poucos, muito poucos, economistas têm consciência disso. Para a teoria económica burguesa, ensinada nas escolas, o capital produzido pelo homem é um substituto do capital produzido pela natureza, ou seja, não há limites ambientais finitos para um crescimento económico infinito. Perdidos num tal mundo alucinatório ignoram o custo pleno da produção e ficam impossibilitados de responder á questão sobre o custo real dos aumentos do PIB: serão maiores ou menores do que o custo pleno para produzi-lo?

A teoria económica é absolutamente dogmática. Durante o período pós II Guerra Mundial, o dogma era Keynes e todas as suas teorias. As bíblias da ciência económica começavam e acabavam na letra K. Keynes para a esquerda, Keynes para a direita e forma construindo uma realidade absolutamente alucinogénia sobre os mecanismos económicos. Durante finais da década de 70 do seculos passado, começaram a surgir outras alucinações, Hayeks, que tinha andado esquecido nas gavetas (e que tinha realizado um excelente trabalho) começa a ser falado para lá do conhecimento esotérico. Nomes como Mises e a Escola Austríaca afirmam-se aos poucos no firmamento do saber económico, recuperados pela Escola de Chicago, embora as diferenças entre as escolas Austríaca e de Chicago sejam as inerentes á de mestres e aprendizes (senhor Friedman por muita sopa que coma nunca chegará aos calcanhares de Mises ou de Hayek ou de qualquer outro da escola Austríaca). No entanto Keynes acabou por desaparecer do firmamento como uma supernova e durante os finais do seculo passado e o inicio do nosso século a alucinação transformou-se em aldrabice, como acontece geralmente ao conhecimento metafisico.

É assim que hoje encontramos economistas, ilustres professores universitários, a confundirem a deslocalização das empresas (e dos empregos) com o livre comércio, produzindo, inclusive, estudos destinados a mostrar que uma economia interna é beneficiada ao ser transformada em PIB de outro país e outros absurdos do género, mesmo sendo óbvio que esta práctica gerou autenticas devastações nos países onde foi exercida (USA inclusive). Afirmar que a exportação de empregos é a antítese do livre comércio e apenas uma práctica depredatória é uma blasfémia e não há economista recém-licenciado que não se arrepie ao ouvir tamanha “monstruosidade” (embora com o passar dos anos aprenda ou a mentir com todos os dentes, ou a beber uns copitos para “colmatar a dor” de ter de mentir tantas vezes sem saber patavina do que se está a passar).

A crise sistémica global é também uma crise da ciência económica, ou melhor, da metafisica económica e dos dogmas por ela criados. Talvez que as universidades no seu afã de criarem apostadores financeiros tenham criados monstrinhos mentalmente débeis para servirem os 1% que subjugam a riqueza dos 99%. Talvez. Mas ao menos que tivessem criado monstrinhos pensantes com massa cinzenta e critica. É que fica mal ao saber Académico ser um aviário de papagaios…

Fontes
Jared Diamond; Colapso; Gradiva, 2005
Ralph E. Gomory / William J. Baumol; Global Trade and Conflicting National Interests; MIT Press. 2000
Manuel Navarrete; Autodefensa, resistencia y poder popular; http://www.rebelion.org
Thomas Sowell; News Versus Propaganda; http://www.lewrockwell.com
Pepe Flores; El Acta de Ciberseguridad es frenada por el Senado de Estados Unidos; http://alt1040.com
The Guardian; 02/08/2012

POLÍTICOS ANGOLANOS EXIGEM DEBATE ANTES DAS ELEIÇÕES GERAIS



Deutsche Welle

Enquanto políticos oposicionistas fazem questão do debate político e analistas acreditam numa melhor informação da população angolana, há quem defenda que o debate não elucida eleitores, devido aos inúmeros subornos.

Muitos líderes partidários concorrentes às eleições gerais angolanas, marcadas para o dia 31 de agosto, continuam a defender a realização de debates políticos durante a atual campanha eleitoral. Porém a campanha já entrou na segunda semana e até agora, nada de debates políticos.

O primeiro partido que lançou o repto foi a UNITA, quando o líder, Isaías Samakuva, convidou o candidato do MPLA, José Eduardo dos Santos – atual Presidente do país – para um debate de "ideias como contribuição política de todos para uma Angola melhor".

Um dia depois, foi a vez do líder da CASA-CE, Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral, Abel Chivukuvuku, afirmar que nas campanhas eleitorais "os cidadãos precisam conhecer os programas e a credibilidade dos candidatos, para que as opções sejam tomadas em consciência e com conhecimento de causa".

Da mesma opinião é a Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA). O coordenador e porta voz da campanha política deste partido, Fernando Pedro Gomes, disse em entrevista à DW África, que a realização de debates informa e esclarece melhor o eleitorado angolano.

"Se houver respeito, haverá debate"

Mas, até ao momento, desconhece-se qualquer tentativa para a realização desses confrontos públicos de ideias e dos programas de governação, embora tenham um papel preponderante no pleito que se aproxima como disse Jorge Eurico, editor de política do Semanário Angolense.

No continente africano, salvo raras exceções, não é muito comum para aqueles que almejam o poder divulgarem as linhas mestras do que poderá ser o seu programa de governo. Muito menos por meio de debates entre os candidatos à corrida eleitoral.

"Conforme há mais informação, a consciência crítica do ponto de vista político também cresce, principalmente com a nova geração", explica Jorge Eurico. Na opinião do editor, é evidente que se os políticos tiverem um pouco de respeito pelo eleitorado, promoverão debates para mostrar as suas idéias.

Ao ser questionado se os debates ajudam os eleitores a construir uma opinião mais sólida sobre os candidatos, Jorge Eurico destacou que não é possível conhecer um futuro dirigente do país se o candidato não dialogar com o eleitor.

"Trata-se de uma política pedagógica muito importante." No caso de Angola é ainda mais importante, ressalta ele. O editor esclarece dizendo que em Angola, "eleições são sinónimo de confusão, de guerra, assim como em 1992." Desta vez, é preciso repassar outra mensagem, acredita o profissional da imprensa: "Em Angola é importante que haja mais diálogo dos políticos com os cidadãos, direto ou indireto."

Sobre a participação ou não dos candidatos em eventuais debates, Jorge Eurico disse à DW África que cada um deles deverá ter as suas razões. É um direito que lhes assiste, sublinhou o entrevistado. Mas acrescentou que numa altura em que se fala de transparência política e da consolidação de um Estado de direito, é deplorável não tomar parte nos debates. "Não acho de bom tom fugir ao debate ou ao diálogo com os eleitores", conclui Eurico.

O receio de deixar o topo

Em Cabo Verde, outro país lusófono no continente africano, os debates políticos antes das eleições presidenciais, legislativas e autárquicas começaram a fazer parte da rotina nacional somente em 1991, com as primeiras eleições multipartidárias, como lembra Ludgero Correia, analista político cabo-verdiano.

Quanto aos debates ajudarem os eleitores a terem opiniões mais sólidas sobre os candidatos, ele disse à DW África que as vezes há fortes favoritismos no início da campanha, mas que depois quando sai o resultado, "vê-se que muita coisa mudou, amadureceu, um pouco por causa das campanhas." Mas o eleitor tem exigido plataformas por escrito para distribuição, para que possam ter melhor acesso às ideais dos candidatos, ressalta Correia.

De acordo com analista cabo-verdiano, os candidatos temem os debates porque é muito mais fácil trabalharem na base da propaganda. "Se reparar, quem mais foge aos debates é quem tem o bastão do poder." Correia destaca que na hora do debate, o passado tem pouco valor. "Nós queremos saber o que nos oferecem para legislatura que virá. Nos debates, as vantagens do que já fiz, da propaganda, contam muito pouco porque a geração mais nova cobra um futuro melhor."

A compra do voto

Já Eugénio Costa Almeida, do Centro de Estudos Africanos do Instituto Universitário de Lisboa, mostra-se muito cético em relação aos debates em Angola, mesmo atribuindo grande importância aos debates políticos nas campanhas eleitorais. "Num país normal, onde as eleições são vistas como um ato habitual, [o debate] serve para o eleitorado tirar suas dúvidas."

Ao ser questionado se o debate ajuda a tornar a opinião do eleitor mais sólida, foi claro: "Quando há educação política, ajuda. No caso de Angola, não. A maioria dos eleitores em Angola segue aquele [candidato] que mais lhes dão."

Autor: António Rocha - Edição: Bettina Riffel / Nádia Issufo

Eleições em Angola: rappers e blogueiros chamam os jovens para o voto consciente



Deutsche Welle

Ativistas pedem para que a juventude analise as propostas políticas dos candidatos e votem naquelas que se aproximam mais dos ideais de democracia

O rap do MCK, um ativista atento à realidade do seu país, revela o desejo de muitos angolanos. Eles não querem mais viver na favela, querem morar em casas de luxo, em Talatona, bairro nobre de Luanda, como canta na música "Eu quero morar em Talatona". A maioria da população, na verdade, quer mesmo o básico: água, energia elétrica, saúde, educação, moradia adequada, liberdade de expressão... E não há momento melhor para reivindicar por essas e outras necessidades: a campanha eleitoral para as eleições gerais do país começou no último 31 de julho, e as promessas de uma Angola melhor e mais igualitária ecoam nas ruas das cidades. O povo vai às urnas no dia 31 de agosto para escolher seus deputados, o vice-presidente e o presidente da nação. A dúvida da maioria dos jovens, agora, é se será possível pensar, depois disso, em um futuro diferente para o país.

No entanto, MC Marshall Kamba Dya Muenho, também ativista angolano, que vê seu país ser governado pelo mesmo presidente a 32 anos, faz suas ressalvas, um dia após o início da campanha, sobre o terceiro ano de eleições em Angola desde a independência do país, em 1975.

“A campanha começou oficialmente ontem (31 de julho), mas o partido no poder já vem há dois anos fazendo a sua campanha. Eu vejo que essa campanha é deturpada, porque essa é uma campanha muito mais a favor do partido no poder”, ressalta o rapper.

De olho nas promessas dos candidatos

Marshall refere-se ao partido MPLA, cujo representante maior é o atual presidente do país, José Eduardo dos Santos. MCK também é direto ao fazer críticas ao processo eleitoral, e faz observações às promessas de campanha dos candidatos à disputa pelo poder. No total, nove partidos e coligações vão constar nos boletins de voto e disputar a preferência de cerca de nove milhões de eleitores.

“A promessa do partido no poder é de continuidade. O MPLA promete produzir mais para distribuir melhor. A mim chama a atenção o fato do MPLA não ter cumprido, no meu ponto de vista, nem 50% das promessas eleitorais de 2008, apesar de sempre ter tido o privilégio de usufruir dos recursos do Estado. Pelo contrário: assistimos a um enriquecimento assustador, ilícito e injustificado de pessoas à frente do poder, pessoas ligadas à presidência da República. Assistiu-se a um conjunto de promessas como a construção de um milhão de casas, e o partido esteve muito longe de alcançar esta promessa. Temos estradas arrebentadas, edifícios de má qualidade... A oposição, como não podia deixar de ser, faz a promessa da mudança. A oposição está prometendo mudar o atual quadro, oferecer mais saúde, mais educação, mais qualidade de vida. Eu senti isso depois da exposição dos seus programas”, aponta MCK.

Nem todas as pessoas, no entanto, tem a mesma consciência sobre a proposta dos candidatos de oposição. E não é por falta de interesse. MCK ressalta que o MPLA usufrui dos serviços noticiosos públicos para fazer campanhas constantes, o que não acontece com os outros partidos.

“Temos assistido, por parte do partido no poder, a utilização de muitos meios públicos para fazer campanha, como os autocarros, o caráter obrigatório de participação dos funcionários públicos em seus atos... Há uma confusão de generais que aparecem com camisolas do partido no poder, desrespeitando a constituição e a lei... Nessa altura da campanha eleitoral, tinham que separar a publicidade, a propaganda governamental e oferecer igual tratamento aos partidos políticos: o mesmo tempo de antena, as mesmas oportunidades, para o cidadão não ficar confuso e votar de forma consciente, fazer o voto livre”, complementa MCK.

Jovens discutem propostas nas ruas e na internet

Críticas e manifestações que defendem eleições democráticas acontecem nas ruas e, principalmente, na internet. Blogueiros e rappers estão juntos nesta campanha paralela em favor do voto livre. Músicas, palavras, discursos. A esperança de mudança é forte entre os jovens, conta o ativista e colaborador de blogs, Jeremias Manuel Augusto, também conhecido como Explosivo Mental.

“Os jovens aqui estão ativos. Estão a lutar pela liberdade de expressão, pela democracia, que é uma coisa que o país há muito tempo não tinha, nem demonstrava, era tudo no papel. Os jovens agora vão para as ruas, fazem manifestação. Exigem o que querem de alguma forma, apesar de levarem cacetadas, pancadas... Apesar de alguns irem para a prisão e serem sentenciados injustamente”, conta o rapper.

E ele tem motivos pessoais para entrar nesta luta. Quando criança, perdeu o pai e a mãe e foi despejado de casa, depois que o governo destruiu sua residência para iniciar um empreendimento no local. Foi então que o rap, estilo musical usado por muitos artistas para protestar, foi apresentado a ele pelo irmão, para que não ficasse sozinho e se sentisse mais alegre, mesmo diante das dificuldades. A partir daí, surgiu a vontade de fazer reivindicações, por meio da música, em nome de todos que tinham a mesma sensação: a de que a pátria havia abandonado seu povo na miséria.

Medo ainda faz com que muitas pessoas fiquem caladas

E em uma manifestação pública, pagou o preço alto, que muitos pagam quando vão às ruas gritar por socorro. Quando pedia por água e eletricidade para as comunidades carentes, em setembro do ano passado, foi preso e maltratado.

“Alguns foram agarrados, espancados, presos. Ficamos quatro dias ou cinco na cadeia e as famílias nos procuravam... Nos atiravam de uma cadeia para outra, de uma cela para a outra, quase sem comer. Quando você reivindica o direito de todos, que é devido, te prendem, você vai para a cadeia, você recebe ameaça, alguém da família é raptada... É complicado viver em um país ditatorial, mas a gente nasceu aqui e é para morrer por uma razão, por uma causa”, desabafa Marshall.

Mesmo assim não são todos que têm coragem de ir às ruas protestar e mostrar a verdadeira cara do país. Talvez seja por conta da herança de um passado de guerras, da independência tardia ou o simples medo da repressão, como conta o ativista e colaborador do blog Central Angola, Kady Mixingue.

“As pessoas ainda vivem com medo. Isso talvez seja fruto de um período de guerra ou pelo fato de vivermos por muito tempo sob um sistema de partido único, que de alguma forma deixou marcas. São demasiadas memórias tristes, por isso as pessoas ficam com medo até de opinar", ressalta Mixingue.

"Tenham a liberdade de escolher"

E é para não ver nenhum amigo, parente ou qualquer outro cidadão angolano na prisão, injustamente, e para que o medo fique no passado, que os ativistas unem-se para fazer um pedido à população angolana, principalmente aos jovens. Mixingue pede para que as pessoas prezem pela liberdade de escolha.

“Ninguém pode obrigar que se vote em quem quer que seja. Tenham a liberdade de escolher em sã consciência como querem o destino do país. Sobretudo votem em liberdade e com consciência. Não tenham medo de mudanças. Às vezes, as mudanças maximizam as potencialidades do país do ponto de vista do desenvolvimento humano”, alerta o ativista.

E MCK também deixa a sua mensagem à juventude. “Tenham algum cuidado na apreciação de cada projeto político. Vamos acompanhar com a merecida atenção de modo a depositarmos a nossa confiança, o nosso voto naqueles que se apresentarem mais capazes e tiverem mais próximos dos ideais da democracia. Aqueles que tiverem um programa mais inclusivo, um programa onde exista o princípio da igualdade de direito, da paz e da justiça de modo a permitir que nosso país dê o salto para a fase seguinte à independência que é o desenvolvimento integral, a valorização do homem angolano, as coisas de Angola para que venhamos a ser esse país abençoado que Deus ofereceu para nós. Ou seja, os nossos recursos, em vez de servirem de maldição como acontece até agora, têm que servir de verdadeiras bênçãos e servir de alavanca para o progresso”, diz MCK.

E que, no futuro, viver em Talatona não seja apenas um sonho distante para a maioria dos angolanos, esperam os ativistas.

Autora: Melina Mantovani - Edição: António Rocha

São Tomé e Príncipe: Tribunal arquiva processo STP-Trading por falta de provas



MYB - Lusa

São Tomé, 06 ago (Lusa) - O tribunal são-tomense arquivou o processo STP Trading, no qual três empresários santomenses são acusados de corrupção e gestão danosa na utilização de crédito para o abastecimento do mercado com produtos alimentares, disse hoje à Lusa fonte judicial.

O juiz Alberto Monteiro decidiu, numa sessão em que a comunicação social não foi autorizada a estar presente, pela "não-pronúncia dos arguidos", o que significa que nenhum dos acusados vai a julgamento.

A decisão teve por base o argumento de que "não existem provas que possam sustentar as acusações" do ministério público a Armando Correia, Delfim Neves e Osvaldo Santana, respetivamente, diretor geral, comercial e financeiro da STP Trading sobre os crimes de "gestão danosa e falência fraudulenta ou insolvência".

Este foi a primeira decisão judicial sobre um caso que já conta três anos e que levou o tribunal a pedir à Assembleia Nacional o levantamento de imunidade parlamentar a um dos acusados, o deputado Delfim Neves, secretário-geral do PCD (Partido de Convergência Democrática).

Em causa esteve a concessão, em 2008, pelo governo brasileiro, de um crédito de cinco milhões de dólares (cerca de 4 milhões de euros) destinados à compra pelos comerciantes de produtos de primeira necessidade com isenção de juros e amortizável em quatro anos.

O negócio foi liderado pela sociedade STP Tradinh enquanto reembolso do crédito foi assumido pelo governo são-tomense, mas grande parte dos produtos comprados no mercado brasileiro chegaram a São Tomé deteriorados ou quase.

A decisão do tribunal anunciada hoje foi considerada pelo advogado de dois dos réus - Armando Correia e Osvaldo Santana -- como "acertada".

"Achamos que foi uma medida acertada, que corresponde àquilo que estávamos à espera porque, desde o início deste processo, dizíamos que a acusação não tinha razão de ser", disse Gabriel Costa à Lusa.

O advogado considera tratar-se de um processo "meramente comercial que, naturalmente, em alguns aspetos terá corrido mal, mas que poderia perfeitamente, no âmbito cível, encontrar uma solução".

Lembrando que um despacho de não-pronúncia significa que "é como se não tivesse havido nada", Gabriel Costa referiu que o ministério público pode não concordar e recorrer.

A Procuradoria-Geral da República são-tomense, que, em 2009, enviou para o Brasil uma equipa de três membros chefiada pelo procurador-geral Roberto Raposo à procura de provas vai recorrer da decisão, como garantiu à Lusa fonte da entidade.

Também o Ministério Publico pretende recorrer da decisão do tribunal de primeira instância, enquanto os advogados dos réus, principalmente daqueles que foram presos, ponderam interpor uma ação judicial contra o Estado são-tomense por danos morais.

Moçambique: MELHORAR GESTÃO DE TERRAS, AVARIA EM CAHORA BASSA




Governo tem que melhorar gestão de terra para evitar mais conflitos - ministra

06 de Agosto de 2012, 15:24

Chimoio, Moçambique, 06 ago (Lusa) - O Governo moçambicano tem que melhorar a gestão da terra, face às novas descobertas e exploração dos recursos minerais, para fortalecer a vida da população e evitar mais conflitos, defendeu hoje a ministra da Administração Estatal.

Falando no distrito de Gôndola, província de Manica, no centro de Moçambique, Carmelita Namachulua que no "momento crucial do desenvolvimento do país", caraterizado pela descoberta de recursos naturais estratégicos e um fluxo cada vez maior de investimentos para sua exploração, urge melhorar a gestão da terra.

"Se nós deixamos a população a implantar as suas infraestruturas, hoje, e, amanhã, dizermos para se retirar porque queremos colocar uma escola, aí podemos criar conflitos, e isso pode ser evitado se nos prepararmos. Há proatividade da população, mas o Governo ainda tem fragilidades nesta ação", disse à Lusa Carmelita Namachulua.

Aos órgãos locais do Estado, acrescentou, cabem ações de coordenação com as entidades de ordenamento territorial, para que prevejam espaços habitacionais e para implantação de projetos agrários ou mineiros de grandes investimentos.

"A população vai implantando as infraestruturas, de acordo com as suas necessidades, cabe ao Governo ser muito proativo, ordenando melhor o território, sobre o quê e onde implantar, com uma visão futurista, para evitar a eclosão de conflitos", disse Namachulua, admitindo choques com iniciativas que "rendem as populações".

Em Tete, centro, com uma explosão da indústria mineira, centenas de famílias, que dependiam do solo para produzir comida, tiveram que ceder a terra para a mineração. Naquele ponto do país, a população já fez greves, em protesto contra os reassentamentos e o que consideram magras recompensas por perdas.

Naquela província estima-se que 90 por cento de terra arável, dos 9.805.481 milhões de hectares do potencial agrícola de Tete, esteja concessionada às empresas envolvidas na pesquisa e exploração de vários recursos minerais.

Em várias cidades do país, a política de ordenamento urbano dos governos municipais tem custado a demolição de muitas residências e gerado conflitos com os munícipes.

AYAC.

Avaria em Cahora Bassa condiciona exportação de energia

06 de Agosto de 2012, 15:33

Maputo, 06 ago (Lusa) - A Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB) está desde junho a operar a 70 por cento da sua capacidade, devido a avaria da bobine de alisamento, de 150 toneladas, que regula o transporte de energia produzida na central elétrica.

A avaria, considerada de grande dimensão, ocorreu na subestação do Songo, na província de Tete, no centro de Moçambique, e deverá ser solucionado num máximo de 30 dias, disse o administrador para a Área Técnica da HCB, Gildo Sibumbe.

Citado pelo jornal Notícias, de Maputo, Gildo Sibumbe afirmou que o dano na rede de distribuição de energia elétrica está a afetar exportações de energia para os países vizinhos, mas a direção da empresa já solicitou um empréstimo de um equipamento com caraterísticas similares às autoridades sul-africanas.

"Contactos estão em curso com outros nossos parceiros para a aquisição da bobine o mais urgente possível", disse o administrador para a Área Técnica da HCB, estimando que a peça chegue nos próximos meses.

A HCB exporta energia para África do Sul, Zimbabué, Malaui, Botsuana e Zâmbia, países localizados na região austral do continente africano.

Segundo Gildo Sibumbe, o equipamento avariado é "muito pesado", pelo que "o seu transporte deve ser muito lento".

"Estamos já a negociar com a Administração Nacional de Estradas (ANE) de Moçambique para encontrarmos uma saída de forma a evitar a destruição de rodovias, com particular atenção para as pontes, que poderão desabar devido ao peso da bobine, que é de cerca de 150 toneladas", disse.

A HCB solicitou uma equipa de especialistas alemães que deverá chegar nos próximos dias para fazer o estudo de viabilidade visando a reposição do equipamento danificado, no entanto, contratou uma empresa especializada para fazer o estudo da melhor rota que o equipamento deverá seguir até chegar a Songo.

A companhia aconselha o transporte a partir de Pretória, passando por Zimbabué até Moçambique via região de Cuchamano, em Tete.

Caso se utilize esta via, espera-se que o camião passe apenas por uma ponte de maior caudal junto ao rio Mazoio, por isso, a HCB terá que "trabalhar com a ANE para ver como é que se pode reforçar a ponte de modo a suportar o peso do camião e do equipamento", disse.

"Noutros pontos vamos fazer desvios. A outra via seria a entrada via Porto da Beira, mas para isso teríamos que atravessar mais pontes e uma delas seria a Samora Machel, por isso, esta via está fora de hipótese", explicou.

Recentemente, o presidente da HCB, Paulo Muxanga, disse à Lusa que a hidroelétrica está no limite da sua capacidade de produção, pois cada um dos seus cinco geradores produz 415 megawatts e já não pode produzir mais que os 2.075 megawatts que gera atualmente.

MMT.

Guiné-Bissau: PAIGC NO GOVERNO, LDH SUSPENSA, CRITICAS FUTEBOLISTICAS




Partido União para Mudança propõe formação novo Governo liderado pelo PAIGC

06 de Agosto de 2012, 14:56

Bissau, 06 ago (Lusa) - O partido União para Mudança (UM) propõe que seja criado um novo Governo na Guiné-Bissau que seria liderado pelo Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) como forma de se ultrapassar a crise no país.

Formação política sem representação parlamentar mas bastante interventivo no cenário político guineense, a UM faz esta proposta num documento, a que agencia Lusa teve hoje acesso, que entregou ao Presidente de transição, Serifo Nhamadjo.

Intitulado propostas de solução para os problemas que caraterizam o atual momento político da Guiné-Bissau, o documento faz um diagnóstico do país desde o golpe de Estado de 12 de abril, alertando para os perigos que o país corre caso não sejam adotadas medidas urgentes.

Para o partido liderado por Agnelo Regala, antigo porta-voz do falecido Presidente Malam Bacai Sanhá, era melhor que o Presidente de transição, Serifo Nhmadjo, convidasse o PAIGC (partido maioritário) a formar um novo Governo, o qual seria de base alargada.

"Esta poderá constituir uma forma de atenuar a ação adversa e o isolamento da comunidade internacional e permitir o início de contactos mesmo que oficiosos com a mesma", nota a UM.

O partido pede ainda ao Presidente de transição que seja mais interventivo na busca de diálogo entre as principais forças políticas no Parlamento, que se inicie ações tendentes à realização de eleições gerais no prazo fixado pela Carta de Transição, mas antes que se crie uma comissão eventual para a revisão da lei eleitoral.

No entanto, a União para Mudança diz que pouco tem sido feito com vista à realização de eleições gerais dentro de 10 meses.

À comunidade internacional, a UM pede que não transforme a Guiné-Bissau "num palco de contendas diplomáticas e geoestratégicas", mas sim que faça um esforço conjugado para ajudar o país a ultrapassar "os graves e múltiplos problemas" que tem.

A Guiné-Bissau conheceu mais um golpe de Estado no dia 12 de abril passado, protagonizado pelos militares que destituíram o Governo e o Presidente eleitos, colocando nos seus lugares novas autoridades para gerir, transitoriamente, o país durante 12 meses.

Tirando a CEDEAO (Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental), a restante comunidade internacional não reconhece as novas autoridades de Bissau.

MB.

Liga Direitos Humanos suspende participação no Movimento da Sociedade Civil

06 de Agosto de 2012, 15:53

Bissau, 06 ago (Lusa) - A Liga Guineense dos Direitos Humanos suspendeu a sua participação no Movimento da Sociedade Civil por discordar do posicionamento desta organização perante o golpe de Estado de 12 de abril passado.

Em carta dirigida ao presidente do Movimento (plataforma que congrega mais de 100 organizações da sociedade civil guineense), Jorge Mendes, a Liga diz que suspende a sua participação naquela estrutura devido ao posicionamento de "claro apoio ao golpe de Estado" por parte de alguns dirigentes da organização.

"À revelia das deliberações adotadas pela Direção do Movimento após a alteração da ordem constitucional, um grupo de dirigentes tem colocado a organização numa situação extremamente comprometedora, chegando ao ponto de promover mediações e encontros com as pessoas implicadas na sublevação militar de 12 de abril, inclusive de propor figuras para conselheiros do alegado Presidente de transição", lê-se na carta assinada pelo presidente da Liga.

Luis Vaz Martins, que lembra os esforços consentidos pelos membros e dirigentes da Liga Guineense dos Direitos Humanos "às vezes pondo em risco a própria vida", para sustentar que em nenhum momento a sua organização se poderá "alhear dos valores da democracia e do Estado de direito democrático".

Para Martins, o presidente do Movimento, Jorge Mendes, acaba por caucionar as declarações feitas publicamente pelo porta-voz da organização, Mamadu Quetá, aquando do golpe de Estado, uma vez que em nenhum momento foram contrariadas.

"Estes comportamentos de alguns dirigentes, acrescidos às declarações prestadas pelo porta-voz do Movimento no passado e a passividade do presidente da organização, representam implícita e objetivamente o reconhecimento das autoridades saídas do golpe numa clara violação dos princípios da democracia interna, fundada na regra da maioria", observou Vaz Martins.

O presidente da Liga dos Direitos Humanos diz ter feito várias tentativas no sentido de chamar a atenção da direção do Movimento, mas acabou por perceber que o posicionamento dos seus principais membros tirou credibilidade interna e externa à organização.

Perante isto, lê-se ainda na carta, a Liga suspende "com efeitos imediatos" o seu estatuto de membro do Movimento da Sociedade Civil até ao próximo congresso da organização que deverá ter lugar no mês de novembro.

A Lusa tentou contactar a direção do Movimento, mas não teve resposta.

MB.

Guiné-Bissau - Federação critica agente dos jovens luso-guineenses transferidos do Sporting para o Barcelona B

06 de Agosto de 2012, 17:06

Bissau, 06 ago (Lusa) - O presidente da Federação de Futebol da Guiné-Bissau (FFGB), Manuel Nascimento Lopes, teceu hoje duras críticas ao agente dos jovens jogadores luso-guineenses Agostinho Cá e Edgar Ié, recentemente transferidos do Sporting para Barcelona B.

Para Nascimento Lopes, o clube onde os dois atletas foram formados a União Desportiva Internacional de Bissau (UDIB) devia receber 750 mil euros à luz das regras fixadas pela FIFA, no âmbito dos direitos de formação.

"A UDIB devia receber 750 mil euros por estes dois atletas, mas, ao que conta, os agentes dos jogadores não entregaram nada ao clube. Isso é um crime contra o futebol. Não podemos admitir que isso continue no nosso futebol", defendeu Manuel Lopes, quando fazia abertura oficial do campeonato do bairro Militar, subúrbios de Bissau.

Segundo Nascimento Lopes, "há empresários, ou agentes, que falam e ganham dinheiro em nome do futebol, sem dar cavaco aos clubes ou aos familiares dos atletas".

"Nós vamos lutar contra isso", declarou o presidente da federação de futebol guineense.

Jovens naturais da Guiné-Bissau, mas naturalizados portugueses, Agostinho Cá e Edgar Ié transferiram-se do Sporting para o Barcelona B, no passado mês de julho, depois de alguns meses de polémica entre o agente de ambos, o clube catalão e o Inter de Milão, de Itália.

MB.

QUEM NÃO É DO MPLA SERÁ VARRIDO




Orlando Castro*, jornalista – Alto Hama*

Discursando este fim-de-semana no Estádio Nacional de Ombaka (Benguela) o ministro dos Antigos Combatentes e Veteranos da Pátria, general Kundi Paihama, disse que os que lutarem contra o MPLA e contra José Eduardo dos Santos “vão ser varridos”.

E se Kundi Paihama o diz é porque vai mesmo fazer isso. O regime angolano, ou seja o MPLA, há muito que começou –embora de forma mais subtil - a pôr a razão da força acima da força da razão, mostrando que só é possível haver paz e democracia em Angola se tudo continuar na mesma.

Ao que parece, e ao contrário do que aconteceu em 2008, o regime tem indicações fidedignas de que, desta vez, os mortos se recusem a votar no MPLA. Isso não é, reconheço, impeditivo de uma solução alternativa, testada com êxito nas anteriores eleições, em que em alguns círculos eleitorais apareçam mais votos do que votantes.

Se se estivesse a falar de um Estado de Direito e de uma comunidade internacional honesta, seria criticável que o partido que governa Angola desde 11 de Novembro de 1975, que tem como seu líder carismático e presidente da República alguém que está no poder há 33 anos, sem ter sido eleito, sentisse necessidade de usar a intimidação violenta para ganhar eleições.

Mas como nada disso se passa, tudo vai continuar a ser feito por medida e à medida do MPLA. É para isso que o petróleo existe.

E porque o regime só reconhece a existências de um único deus, Eduardo dos Santos, não admite que existam dúvidas, não aceita que a sua liberdade termine onde começa a do Povo. Vai daí, intimida, ameaça, espanca, rapta e mata quem tiver a veleidade de contrariar o “querido líder”.

Como dizia o bispo emérito de Cabinda, Paulino Madeca, “quando um político entra em conflito com o seu próprio povo, perde a sua credibilidade, torna-se um eterno ditador”. É o caso de Eduardo dos Santos.

Por alguma razão Kundi Paihama, tal como os restantes “Bentos Bentos” do regime, continua a pedir aos militantes do seu partido para que controlem "milimetricamente" todas as acções da oposição, para não serem "surpreendidos".

Na senda do que tem feito ao longo dos anos, o MPLA acusa a Oposição de enveredar por "manifestações violentas e hostis, provocando vítimas, inventando vítimas, incentivando a desobediência civil, greves e tumultos, provocando esquadras e agentes e patrulhas da polícia com pedras, garrafas e paus".

Certamente graças ao árduo trabalho de Kundi Paihama, o MPLA diz que tem em seu poder “informações secretas que apontam que a UNITA e outros opositores estão prestes a levar a cabo um plano B".

Plano que prevê, segundo os etílicos delírios dos dirigentes da ditadura angolana, "uma insurreição a nível nacional, tipo Líbia, Egipto, Tunísia e Síria", sendo as províncias de Luanda, Huambo, Huíla, Benguela e Uíge as visadas.

Sempre que no horizonte se vislumbra, mesmo que seja uma hipótese remota, a possibilidade de alguma mudança, o regime dá logo sinais preocupantes quanto ao medo de perder as eleições e de ver a UNITA, só e ou em coligação, a governar o país.

Para além do domínio quase total dos meios mediáticos, tanto nacionais como estrangeiros, o MPLA aposta forte numa estratégia que tem dado bons resultados. Isto é, no clima de terror e de intimidação. E para esse papel, reconheça-se, não ninguém melhor do que Kundi Paihama.

Aliás, um dia destes vamos ver por aí Kundi Paihama afirmar que todos aqueles que têm, tiveram, ou pensam ter qualquer tipo de armas são terroristas da UNITA que devem “ser varridos”.

E, na ausência de melhor motivo para aniquilar os adversários que, segundo o regime, são isso sim inimigos, o MPLA poderá sempre jogar a cartada que tem na primeira linha das suas opções e que é tão do agrado das potências internacionais, e que é a de que há perigo de terrorismo, de guerra civil.

Kundi Paihama não tardará (por ele já o teria feito) a redescobrir mais uns tantos exércitos espalhados pelas terras onde a UNITA tem mais influência política, para além de já ter dito que quem falar contra o MPLA vai para a cadeia, certamente comer farelo.

Tal como mandam os manuais, o MPLA começa a subir o dramatismo para, paralelamente às enxurradas de propaganda, prevenir os angolanos de que ou ganha ou será o fim do mundo.

Além disso, nos areópagos internacionais vai deixando a mensagem de que ainda existem por todo o país bandos armados que precisam de ser neutralizados.

Aliás, como também dizem os manuais marxistas, se for preciso o MPLA até sabe como armar uns tantos dos seus “paihamas” para criar a confusão mais útil. E, como também todos sabemos, em caso de dúvida a UNITA e os seus aliados serão culpados até prova em contrário.

Numa entrevista à LAC - Luanda Antena Comercial, no dia 12 de Fevereiro de 2008, era então ministro da Defesa, Kundi Paihama, levantou a suspeita de que a UNITA mantinha armas escondidas e que alguns dos seus dirigentes tinham o objectivo de voltar à guerra.

Kundi Paihama, ao seu melhor estilo, esclareceu, contudo, que os antigos militares do MPLA, "se têm armas", não é para "fazer mal a ninguém" mas sim "para ir à caça". Ora aí está. Tudo bons rapazes.

Quanto aos antigos militares da UNITA, Kundi Paihama disse que a conversa era outra e lembrou que mais cedo ou mais tarde seria preciso falar sobre este assunto. Na entrevista à LAC disse textualmente: "Ainda hoje se está a descobrir esconderijos de armas".

Razão tinha, aliás, Kundi Paihama quando, no dia 12 de Janeiro de 2008, “botou faladura” num comício na Sede do Município da Matala e disse: “Durmo bem, como bem e o que restar no meu prato dou aos meus cães e não aos pobres”.

E por que não vai para os pobres?, perguntam vocês, eu também, tal como os milhões (ou serão só meia dúzia?) que todos os dias passam fome. Não vai porque não há pobres em Angola. E se não há pobres, mas há cães… é preciso alimentá-los bem.

E se todos fizessem como Kundi Paihama, não haveria cães com raiva. Continuaria a haver, é claro, angolanos a morrer à fome. Mas entre morrer à fome e morrer contaminado com raiva...

“Eu semanalmente mando um avião para as minhas fazendas buscar duas cabeças de gado; uma para mim e filhos e outra para os cães”, disse Paihama.

Não admira, por isso, que todos os angolanos procurem, afinal, ter a mesma sorte que os cães de Kundi Paihama. Tiveram, contudo, pouca sorte. Os cães que lhes tocaram em sorte estão cheios de raiva.

É claro que, embora reconhecendo a legitimidade que os cães do ministro do MPLA e do regime para reivindicar uma boa alimentação, não posso deixar de dar um conselho aos milhões, os tais 68%, de angolanos que são gerados com fome, nascem com fome e morrem pouco depois com fome.

Não. Não se transformem em cães para ter um prato de comida. Reivindiquem o direito tão simples de comer como os cães de Kundi Paihama.

Legenda: Kundi Paihama durante uma visita à Coreia do Norte, não se sabe se para comprar alguns cães do clã Kim Jong-il.

* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.

Título anterior do autor, compilado em Página Global: PORTUGAL ENGOLE O PRIMEIRO SAPO GUINEENSE

Mais lidas da semana