quinta-feira, 3 de maio de 2012

A LIBERDADE DE IMPRENSA EM ANGOLA



Orlando Castro*, jornalista – Alto Hama*

A CASA-CE (Convergência Ampla de Salvação de Angola – Coligação Eleitoral) analisa em comunicado que a seguir se transcreve na íntegra o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa que hoje se comemora.

“O dia 03 de Maio foi declarado Dia Mundial da Liberdade de Imprensa pela Decisão 48/432, de 20 de Dezembro de 1993, aprovada pela Assembleia-Geral das Nações Unidas.

Foi escolhido este dia (03 de Maio) por se tratar da data do aniversário da Declaração de Windhoek aprovada durante um Seminário organizado pela UNESCO sobre a "Promoção da Independência e do Pluralismo da Imprensa Africana", que se realizou em Windhoek, Namíbia, de 29 de Abril a 03 de Maio de 1991.

A CASA-CE destaca nessa declaração os dois pontos fundamentais da Declaração de Whindoek, que, de resto, estão constantemente a ser atropelados por muitos regimes, mesmo alguns que se consideram democráticos e, no caso, Angola, infelizmente, ainda não foge a essa triste regra.

1 - A liberdade, a independência e o pluralismo dos media são os princípios essenciais para a democracia e os direitos humanos.

2 - Todo o homem tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferências, ter opiniões e de procurar receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios, independentemente de fronteiras.”

Em Angola a CASA-CE está ciente de que no sector da comunicação social, e em particular nas Redacções, os jornalistas sentem cada vez mais os efeitos de uma violenta ofensiva contra os seus direitos – e sobretudo o direito a estabilidade e a segurança no emprego – , à boleia de uma crise que também afecta as empresas jornalísticas públicas mas que não pode ser desculpa para más práticas, nem pretexto para despedimentos.

Uma rápida leitura pelas fontes de informação mais acessíveis denuncia um incremento da violência contra certos jornalistas angolanos, principalmente os comprometidos com a imparcialidade, o rigor e a isenção profissional, bem como alguns técnicos dos media e pessoal associado.

A CASA – CE acredita haver especial impacto nas zonas de conflito e pós-conflito (como o Congo Democrático, a Coté D’ivoir, o Uganda, o Sudão, a Nigéria, o Sudão do Sul, o Iraque, a Líbia, a Síria, Cuba, Venezuela e a Rússia, por exemplo), onde a violência tem atingido níveis preocupantes e apresenta-se como uma das principais ameaças à liberdade de expressão.

Em Angola, onde reina a liberdade de fachada, sendo as críticas mais acerbas levadas para o campo das represálias, que sem tardar recairão sobre quem tiver a coragem de denunciar todas as violações da lei com o acordo evidente do Executivo angolano, sempre deram argumentos a autênticos assassinos que matam e sempre ficam impunes. Sempre.

A CASA-CE apoia os jornalistas (tal como todas as outras pessoas ligadas à recolha e divulgação de informação) que desenvolvem um serviço indispensável, digno de louvor, respeito e protecção, assegurando o direito de qualquer cidadão a uma informação plural e diversificada. Neste sentido, qualquer agressão a um jornalista, é uma agressão directa a este nosso direito, fundamental para um contexto sócio-político saudável e próspero.

Por fim, a CASA-CE, resumindo e concluindo, considera ser essencial o acesso aos novos progressos tecnológicos de moda a que todo o cidadão veja satisfeito o seu direito a viver informado em plena liberdade. Mas alerta para a necessidade de nos empenharmos na concretização de um mínimo de segurança para o trabalho por detrás desta liberdade.

No sector da comunicação social, e em particular nas Redacções, os jornalistas sentem cada vez mais os efeitos de uma violenta ofensiva contra os seus direitos, e sobre eles pesa cada vez mais a ameaça de morte, de esbulho de meios de trabalho, de requisições e confiscos abusivos de material informático, de interdições de acesso a fontes oficiais, de desprezo, de arrogância e de corte de publicidade por motivações políticas.

De tudo o que mais se poderia dizer, terminamos citando as palavras da UNESCO, presentes numa comunicação por ocasião do Dia da Liberdade de Imprensa (a 03 de Maio de 2007):

“A celebração do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa dá-nos oportunidade para reflectirmos sobre os meios de difusão dos valores que respeitam o papel essencial que os media desempenham na promoção de uma paz duradoura, da democracia e do desenvolvimento. Prestemos homenagem aos profissionais dos media que perderam a vida e saudemos aqueles que nos fornecem a informação apesar dos riscos e dos perigos. Estejamos, antes de mais, bem conscientes de que existe uma ligação estreita entre a garantia da segurança dos jornalistas e o exercício das nossas próprias liberdades. Para podermos agir como cidadãos do mundo informados, é necessário que os media possam trabalhar livremente e com toda a segurança”.

Esse será um objectivo a implantar por um Governo da CASA - CE.”

* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.
 
Título anterior do autor, compilado em Página Global: GOVERNO USA A MENTIRA COMO SOPORÍFERO – Leia também a entrevista a Orlando Castro em ORLANDO CASTRO, JORNALISTA, "O PODER DAS IDEIAS ACIMA DAS IDEIAS DE PODER"

Bissau: Sindicato dos Jornalistas fala de casos de perseguições por parte de militares



MB - Lusa

Bissau, 03 mai (Lusa) - O presidente do Sindicato de Jornalistas e Técnicos da Comunicação Social (Sinjotecs) da Guiné-Bissau, Mamadu Candé, afirmou hoje que há relatos de profissionais da informação que estão a ser perseguidos pelos militares autores do golpe de Estado.

O dirigente fez esta denúncia numa sessão evocativa do dia da Liberdade de Imprensa que hoje se assinala em todo mundo.

Na presença de cerca de duas dezenas de jornalistas e de elementos do gabinete integrado das Nações Unidas para a consolidação da paz na Guiné-Bissau (Uniogbis), Mamadu Candé afirmou que o golpe de Estado do passado dia 12 de abril "veio contribuir para a limitação da liberdade de expressão" no país.

"Temos informações de jornalistas como Sumba Nansil e Alfredo Maria Gomes que foram intimidados pelas notícias que veicularam logo nos primeiros dias do golpe de Estado. O Comando Militar tem-nos dito que são situações que ocorrem fora do seu controlo", disse Mamadu Candé.

O Sindicato responsabiliza o Comando Militar pela segurança da vida dos jornalistas, disse ainda Candé, sublinhando que a profissão de jornalista está ameaçada na Guiné-Bissau.

"Estamos a correr o risco de termos uma comunicação social amedrontada e sufocada", frisou o presidente do Sinjotecs.

O jornalista Sumba Nansil, chefe de redação da rádio Galáxia de Pindjiguity (estação privada) confirmou ter sido alvo de "tentativas de intimidações e perseguições" por parte de militares nos primeiros dias do golpe de Estado.

"Tenho dificuldades em confirmar se (os militares) foram ou não à minha procura na minha casa, mas no meu local de trabalho posso confirmar que foram à minha procura. Recebi essas informações através de pessoas que vivem ao pé da rádio. Tive que sair da minha casa", afirmou Sumba Nansil, um conhecido animador das manhãs da rádio em Bissau.

"Posso confirmar também outras iniciativas (por parte de militares) como ameaças por telefone e através de mensagens no meu telemóvel que recebo quase que diariamente", disse Nansil, sublinhando que mesmo com as ameaças decidiu continuar a "trabalhar livremente, mesmo tendo medo".

Sumba Nansil disse que não sabe ao certo que terá feito aos militares, mas suspeita que terá que ver com o programa que realiza na rádio Pindjiguity onde aborda diversos temas de cariz social, político, cultural e económico do país.

"Talvez alguém não tenha gostado de um ou outro programa que fiz e quer aproveitar-se desta situação que o país atravessa para fazer algo contra a minha pessoa", defendeu Sumba Nansil.

O dia 03 de maio é assinalado como o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa. Lewis Lukens, embaixador do Estados Unidos para o Senegal e Guiné-Bissau, considerou num comunicado divulgado em Bissau que "a liberdade dos média torna as sociedades mais saudáveis".

Ordem constitucional deve ser reposta com presidente da AR, defende ex-PM Ndafa Cabi



FP - Lusa

Bissau, 03 mai (Lusa) - O ex-primeiro-ministro guineense Martinho Ndafa Cabi defendeu hoje em Bissau o regresso à ordem constitucional na Guiné-Bissau com a Presidência da República a ser assumida pelo presidente em exercício da Assembleia Nacional, Serifo Nhamadjo.

Em conferência de imprensa, Martinho Ndafa Cabi falava em nome de um grupo de dirigentes do PAIGC (Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde) mas que a atual direção do partido não reconhece.

Participaram na conferência de imprensa, entre outros, Satú Camara (ex-ministra do Governo de Carlos Gomes Júnior) e Danilo Gomes, diretor da campanha de Serifo Nhamadjo a Presidente da República nas eleições de março passado

Ndafa Cabi disse na conferência de imprensa representar "uma sensibilidade" e não um adversário do PAIGC.

"Somos todos do PAIGC", disse, afirmando depois que já que o golpe de Estado de dia 12 de abril é um facto consumado é preciso "uma visão para projetar para o futuro" e "buscar uma solução".

"A Guiné-Bissau, como Estado soberano e independente, não pode ficar parado ao longo de muito tempo, tem de funcionar como Nação", disse, acrescentando que a solução constitucional é o presidente em exercício da Assembleia Nacional "assumir automaticamente o cargo de Presidente da República".

Serifo Nhamadjo, do PAIGC, candidatou-se a Presidente da República contra as orientações do partido, que apoiou Carlos Gomes Júnior. Recentemente, em comunicado, o partido disse que lhe tinha retirado a confiança política.

"Não somos nós a dizer isso, é a Constituição que dita isso", disse Ndafa Cabi, acrescentando que o retorno à normalidade constitucional é também o desejo da CEDEAO - Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental.

"Interessa que haja união no seio do nosso partido, que continua a ser a força política dirigente desta sociedade", disse, defendendo também um governo do PAIGC e de inclusão, com outras forças políticas e personalidades independentes.

Também hoje, o PRS (Partido da Renovação Social, segundo maior partido) pediu ao PAIGC para que não poupe esforços "na busca incessante dos caminhos da paz".

O PRS "não abdicará das suas responsabilidades e assumirá todas as iniciativas que possam conduzir ao retorno da ordem constitucional, mesmo que isso implique o afastamento por motivos ponderosos de figuras eleitas", diz o partido, em comunicado assinado por Sori Djaló, presidente em exercício daquela formação política.

No comunicado exige-se que o PAIGC "assuma com realismo perante o povo guineense a responsabilidade de não poupar esforços" no sentido da busca da paz, "o que implicará necessariamente sentar à mesma mesa com abertura e humildade todos os atores da vida política nacional para a materialização e saída do atual impasse".

O PRS refere ainda que em 2003 foi deposto militarmente por um golpe de Estado um Presidente da República eleito com 72 por cento dos votos "sem que a atual classe política e a comunidade internacional, nomeadamente o PAIGC, movessem uma palha no sentido do retorno à ordem constitucional".

O partido referia-se ao golpe de Estado que depôs o então Presidente Kumba Ialá, ainda presidente do PRS.

Na altura, diz também o comunicado, a maioria dos partidos, incluindo o PAIGC ("através de Carlos Gomes Júnior, seu presidente"), precipitaram-se voluntariamente a legitimar os insurretos.

Mundial2014 – ANGOLA PREPARA QUALIFICAÇÃO EM LUANDA E LISBOA



EL - Lusa

Luanda, 03 mai (Lusa) - A seleção de futebol de Angola defronta a Nigéria a 15 de maio, em Luanda, e a Macedónia, a 29, em Lisboa, em jogos de preparação para a qualificação do Mundial2014, a disputar no Brasil, noticiou hoje o Jornal de Angola.

O diário, que cita fonte federativa, refere que os "Palancas Negras" serão orientados pelo angolano Romeu Filemon, atual treinador do 1º de Agosto, e destaca que os dois jogos visam preparar a seleção para o primeiro jogo das eliminatórias de acesso ao Mundial 2014, perante o Uganda, a 03 de junho, na capital angolana.

Uma semana depois, em Monróvia, Angola defronta a Libéria na segunda jornada das eliminatórias.

Moçambique: FORÇAS ARMADAS TÊM APENAS CINCO POR CENTO DE MULHERES



PMA - Lusa

Maputo, 03 mai (Lusa) - As Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM) têm apenas cinco por cento de mulheres nas suas fileiras, uma das cifras mais baixas na África Austral, indicou hoje o Estado Maior-General de Moçambique.

Falando hoje no encontro do Comité Inter-estatal da Defesa e Segurança da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), o chefe-adjunto do Estado Maior-General das FADM, Olímpio Cambona, afirmou que o recrutamento de mulheres no exército moçambicano aumentou apenas 0,5 por cento para os atuais cinco por cento.

A presença de mulheres nas forças armadas moçambicanas é colossalmente inferior à do país com a percentagem mais alta na África Austral, a África do Sul, cujas forças armadas têm 27 por cento de mulheres.

O chefe-adjunto das FADM afirmou que há ações em curso para aumentar a integração de mais mulheres nas forças armadas moçambicanas e desse modo promover o equilíbrio de género no setor.

Durante o encontro do Comité Inter-estatal da Defesa e Segurança da SADC, a Tanzânia e o Zimbabué anunciaram a intenção de incrementar a presença da mulher nas forças armadas nos próximos anos, para corrigir as assimetrias de género no setor.

"O encontro permitiu-nos a partilha de informação relevante sobre a promoção do equilíbrio de género nas forças armadas e a consolidação das nossas relações históricas, de solidariedade e cooperação", afirmou Olímpio Cambona.

Moçambique: Polícia promete apertar o cerco à circulação de equipamento militar no norte



LYR/PMA - Lusa

Nampula, Moçambique, 03 mai (Lusa) - A retenção, por horas, de dois dinamarqueses, surpreendidos no norte de Moçambique na posse de material militar, levou a polícia a prometer apertar o cerco a estas movimentações, grande parte delas de elementos de segurança de navios.

"Nós não estamos contra estrangeiros, mas estamos contra a forma como são manuseados os equipamentos militares", disse à Lusa o porta-voz da polícia em Nampula, Inácio Dina.

O porta-voz acrescentou que a corporação vai apertar o cerco contra a movimentação de todo o tipo de equipamento militar para salvaguardar os interesses do Estado.

Os dois homens foram neutralizados no dia 01 de maio, no Aeroporto de Nampula, na posse de duas baionetas, seis sinaléticas florescentes, dois cantis de água, um 'kit' de pronto socorro, um colete com três cartucheiras, igual número de pares de joelheiras, camisetas, bonés militares e coletes à prova de bala.

Identificaram-se como agentes de uma empresa de segurança marítima e estavam acompanhados por um cidadão moçambicano, que ficou igualmente retido e depois libertado, tal como os seus companheiros.

A província de Nampula, que detém em Nacala um dos maiores portos de águas profundas do mundo, tem sido agitada por incidentes envolvendo trabalhadores de empresas de segurança marítima, devido ao aumento da vigilância no Canal de Moçambique face ao agravamento da ameaça de piratas somalis.

A polícia moçambicana apreendeu no mês passado no comando da polícia em Nampula dezenas de armas pertencentes a empresas de segurança marítima e deteve vários polícias em conexão com o incidente.

No final do ano passado, quatro cidadãos norte-americanos e um britânico foram também detidos ao desembarcarem no aeroporto de Nampula na posse de armas de fogo, acabando por ser libertados após se apurar que se tratava de trabalhadores de uma empresa de segurança.

Ministros da CPLP reúnem-se no sábado para definir posição conjunta sobre a Guiné-Bissau



JSD - Lusa

Dacar, 03 mai (Lusa) - Os ministros dos negócios estrangeiros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) reúnem-se no sábado em Lisboa para concertar uma posição comum a apresentar encontro que a ONU fará sobre a Guiné-Bissau na segunda-feira.

Em declarações à agência Lusa, o secretário executivo da CPLP, Domingos Simões Pereira, escusou-se a adiantar mais pormenores sobre a reunião de sábado, sublinhando que muito do que for concertado em Lisboa vai depender dos resultados da cimeira da Comunidade Económico dos Estados da África Ocidental (CEDAO), a decorrer hoje em Dacar e cujos trabalhos só terminam cerca das 17:00 (18:00 em Lisboa).

A reunião de Dacar, com a presença de Domingos Simões Pereira e dos líderes guineenses depostos, vai determinar um agravamento das sanções à Guiné-Bissau, já impostas a 29 de abril em Banjul, ou outras soluções para a crise política e militar no país.

Alem das sanções políticas, económicas e diplomáticas aos membros do comando militar que tomou o poder a 12 de abril na Guiné-Bissau, a CEDEAO tem previsto enviar uma força de estabilização de cerca de 600 efetivos.

Na reunião de Dacar estão também o primeiro-ministro e o ministro dos negócios estrangeiros de Cabo Verde, José Maria Neves e Jorge Borges, e o embaixador de Portugal na capital senegalesa, Rui Tereno.

CPLP pode chegar a posição conjunta na reunião de Cabo Verde - Ministra



EA(JSD) - Lusa

Lisboa, 03 mai (Lusa) - Os ministros do Ambiente da CPLP poderão conseguir na sexta-feira, em Cabo Verde, uma posição conjunta para a conferência Rio+20, avançou hoje a titular portuguesa, Assunção Cristas, destacando o papel de Portugal na síntese de várias sensibilidades.

Assunção Cristas participa na sexta-feira, na ilha do Sal, na reunião dos ministros do Ambiente da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) sobre cooperação na área do Ambiente e desenvolvimento sustentável, um encontro a decorrer desde quarta-feira.

Depois da declaração de Luanda sobre este tema, firmada em março, agora, "no Sal, podemos já ter a posição conjunta que nos leva ao Rio+20 de uma forma mais robusta", disse à agência Lusa a ministra da Agricultura, Mar, Ambiente e Ordenamento do Território (MAMAOT).

A governante fez questão de salientar que o trabalho da CPLP é "muito importante e está a ter grande reconhecimento ao nível europeu, a ponto de a própria presidência dinamarquesa convidar Portugal para abrir o debate no conselho informal [realizado na Dinamarca] e pedir ajuda para definir e negociar a posição europeia no Rio+20".

A conferência das Nações Unidas sobre desenvolvimento sustentável vai decorrer a 20 de junho, no Rio de Janeiro, e tanto a União Europeia como a CPLP estão a preparar documentos com contributos para o futuro. Portugal participa em ambos os grupos.

"Conciliamos muito bem [a posição na CPLP e na União Europeia] na medida em que também trazemos para a declaração da CPLP a linguagem europeia com a qual Portugal está intimamente comprometido", disse Assunção Cristas.

Por outro lado, "a grande vantagem da CPLP é que reúne países que estão integrados regionalmente em blocos diferentes, o que leva a uma profundidade de análise e capacidade de concertação de posições que é útil e pioneira", frisou.

Portugal "tem sabido usar a capacidade de ouvir, de interpretar e fazer a síntese das várias posições, para que na CPLP possamos ter uma posição que acomode todas as sensibilidades", processo para o qual contribui a experiência na UE, apontou a governante, referindo a importância de "fazer a ponte" entre várias perspetivas.

"Não há risco de haver contrariedades ou incompatibilidade, há sempre uma lógica de complementaridade", salientou Assunção Cristas.

A reunião regular da CPLP na área do Ambiente está a decorrer em Cabo Verde, depois da reunião extraordinária de Luanda, promovida pela presidência angolana para preparar a conferência do Rio+20.

Em Durban, houve pela primeira vez uma declaração conjunta da CPLP na cimeira do clima, depois seguiu-se a declaração de Luanda.

Os responsáveis governamentais estão a analisar preocupações com o desenvolvimento sustentável, mas também com assuntos como a segurança alimentar ou acesso à água, pontos importantes para os países africanos.

Em todos estes pontos "vamos juntar o que já foi o nosso contributo para a declaração de Luanda, em particular o crescimento apoiado no mar, um crescimento azul, sustentável, matéria na qual Portugal tem trabalhado e queremos que passe para a agenda CPLP cada vez mais", segundo Assunção Cristas.

Brasil: Aliados precisam apoiar convocação de envolvidos com Cachoeira




Maria Inês Nassif e Najla Passos - de Carta Maior, em Brasília – Correio do Brasil

Se depender do PT, o jornalista Policarpo Júnior, a revista Veja, a editora Abril e quantos mais profissionais de imprensa comprovadamente tiverem atuado em conjunto com a organização do bicheiro Carlinhos Cachoeira serão chamados, a seu tempo, para depor na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que, nessa semana, começa a revirar o esquema que envolvia o contraventor, o senador Demóstenes Torres (GO-sem partido), o governador Marconi Perillo (PSDB-GO) e outros políticos, e tinha tentáculos em governos estaduais, em obras públicas federais e até no Poder Judiciário.

Não existem, contudo, garantias de que os demais partidos da base parlamentar do governo tomarão o mesmo rumo. E nem a certeza de que os integrantes da comissão resistirão aos holofotes das televisões e a embarcar na agenda que interessa à oposição e aos demais envolvidos no inquérito da PF: concentrar os trabalhos unicamente nas atividades de Cachoeira, Perillo e Torres, e eleger a construtora Delta como única algoz dos crimes cometidos.

Também não deverá ser poupado o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, que engavetou, em 2009, os autos da Operação Las Vegas, feita pela Polícia Federal, com elementos suficientes para justificar juridicamente a investigação do senador Demóstenes e as relações de Cachoeira com diversas instâncias do poder público.

– É insustentável o argumento do procurador, de que aguardava o resultado da Operação Monte Carlo, que só começou em 2011. Este é um caso de aparelhamento da estrutura do Estado pelo crime organizado – disse um membro do PT que tem uma posição de destaque na política nacional.

O partido também não tem a intenção de recuar para poupar o governador do DF, Agnelo Queiroz, se for efetivamente comprovada a sua participação no esquema: o que está em jogo vale mais do que um político vindo do PCdoB apenas para disputar a eleição do DF, sem vínculos orgânicos com o PT. E o Palácio do Planalto não pretende mover uma palha para interferir nos trabalhos dos parlamentares – isto quer dizer que qualquer pressão dos envolvidos sobre o Executivo será considerada como um “erro de endereço”.

– O que a CPMI se propõe a investigar é uma rede de negócios montada a partir de tráfico de influência. Seria justo julgar apenas um membro do Legislativo por esses crimes? – indaga o líder do PT no Senado, Walter Pinheiro (BA).

Por falta de confiança nos aliados, todavia, a ideia é não forçar depoimentos nem acusar culpas “a partir de notícias”.

– Essa comissão é diferente das outras: já existe um vasto inquérito feito pela Polícia Federal – explica Pinheiro.

Os fatos fatalmente virão a público, na medida em que os autos do inquérito forem se abrindo aos membros da comissão. As convocações serão feitas conforme surgirem, de forma a não expor antecipadamente os integrantes da CPMI à pressão dos meios de comunicação.

Teoricamente, existiriam condições objetivas para levar com êxito essa estratégia na CPMI: a base governista tem maioria e vários integrantes foram vítimas diretas do esquema de escuta montado por Cachoeira, da ofensiva raivosa do senador Demóstenes Torres, ou de ambos. Na última semana, por exemplo, o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros, não cansava de repetir o seu lado de história para os demais colegas, em plenário, e para integrantes do governo Dilma.

Em 2007, em meio a um escândalo que envolvia a sua vida pessoal, Calheiros, então presidente da Câmara, conseguiu reverter, no Senado, uma tendência contrária à sua cassação pelo plenário da Casa. Na véspera da votação, a revista Veja publicou escutas e a versão da ida de um assessor do presidente do Senado a Goiás, para levantar algumas informações de interesse partidário.

A Veja reportou e vendeu a versão de que, na viagem, o objetivo de Francisco Escórcio era colher informações sobre o senador Demóstenes Torres – Renan, segundo a revista, estaria fazendo isso com vários senadores, para chantageá-los em plenário e obrigá-los a votar contra a sua cassação. Vários senadores, que já haviam fechado com Calheiros, mudaram o voto, argumentando que não poderia parecer à opinião pública que estariam se curvando a um esquema de chantagem. Para salvar o mandato, o senador alagoano abriu mão da Presidência do Senado.

Ainda que outros senadores do PMDB tenham razões e ressentimentos contra o esquema Cachoeira – existe a suspeita, por exemplo, de que foi o mesmo esquema de arapongagem do contraventor que provocou o caso Lunus, que acabou com a candidatura de Roseana Sarney à Presidência da República, em 2002 -, os parceiros petistas não confiam inteiramente na disposição de seus pares de comprar uma briga com a imprensa. Existem muitos interesses envolvidos, e essa pode ser uma chance de recomposição desses setores políticos com a mídia tradicional.

De qualquer forma, para o PT a CPMI é a porta de acesso aos autos não apenas da Operação Monte Carlo, objeto dos vazamentos que implicaram Demóstenes e Perillo no esquema Cachoeira, mas na Operação Las Vegas, que foi entregue pela PF ao procurador-geral da República em 2009, e da qual pouco se sabe. Seguramente, as informações dessa operação que antecedeu a Monte Carlo trazem o tamanho da omissão do procurador-geral da República.

Ao que tudo indica, o resultado das investigações concluídas em 2009 já davam elementos suficientes para fechar o cerco em torno de Demóstenes e Perillo. Gurgel, o procurador, no mínimo beneficiou-os com a “cochilada”. Existe potencial para que os autos da primeira operação atinjam um número maior de pessoas, mas Gurgel pode ser um alvo unânime dos parlamentares.

– Tem muita gente se perguntando por que o procurador foi tão rápido em processos que os envolviam, e tão lento nos que diziam respeito a Demóstenes – disse uma fonte do PT.

Embora uma vastidão de interesses e ressentimentos seja um potencial mobilizador dessa CPI, a ação de parlamentares aliados, mesmo os da esquerda, relativizam essa possibilidade. Na semana passada, o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ) articulava às claras uma solução jurídica para impedir a convocação de jornalistas e empresas de comunicação. Invocou o artigo 207 do Código Penal, que proíbe a tomada de depoimentos das pessoas protegidas por segredo profissional.

– Não se chama um padre para depor – argumentava Teixeira.

– Os jornalistas podem alegar essas razões para não depor, mas isso não impede que sejam chamadas – contrapôs o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), também membro da comissão.

A outra forma de concentrar excessivamente as investigações da CPI na Construtora Delta, do esquema de Cachoeira, foi um acordo feito entre oposição e chamados “independentes” de “seguir o dinheiro”, também uma proposta de Teixeira. As relações do esquema Cachoeira com a Veja, na opinião de parlamentares ouvidos pela agência brasileira de notícias Carta Maior não necessariamente envolveram dinheiro, embora obrigatoriamente tenham envolvido tráfico de influência, o que configura crime da mesma forma.

Matérias Relacionadas:

Amparado em uma bengala, Lula critica os ricos durante encontro no Rio de Janeiro




Correio do Brasil - do Rio de Janeiro

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em visita ao Rio nesta quinta-feira, participou do seminário Investindo na África: Oportunidades, desafios e Instrumentos para a Cooperação Econômica, realizado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Lula chamou a atenção dos repórteres presentes ao encontro por se amparar em uma bengala. Segundo a assesoria de Lula, o uso da bengala deve-se à fraqueza provocada pelo tratamento contra o câncer na laringe, que fez o ex-presidente perder 18 quilos, parte já recuperados.

Também mais magro, o governador Sérgio Cabral – que fez questão de permanecer ao lado do padrinho político todo o tempo – voltou a manter distância da imprensa ao deixar o evento, após a divulgação de fotos dele na França, na companhia do empresário Fernando Cavendish, dono da Delta Construções, empreiteira investigada pela Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) Cachoeira, em referência à ação do bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, junto a políticos e empresários de todo o país. O governador deixou o evento por uma porta lateral. O prefeito Eduardo Paes, que estava na mesma sala com Cabral saiu pela porta da frente.

Lula deixou de lado o improviso característico de seus discursos e passou a ler a mensagem à plateia, com várias paradas para beber do copo d’água que estratégicamente o acompanhou durante todo o tempo. Lula exaltou a cooperação entre o Brasil e a África, afirmando que o continente e o Brasil crescem em um mesmo momento.

– Faz sete meses que eu não falo. Espero que eu não tenha desaprendido – disse Lula, com um sorriso, antes de começar o discurso.

Ele voltou a criticar a posição dos países ricos durante a crise econômica, acusando-os de punir as vítimas da crise (trabalhadores) e distribuir prêmios para os “reais culpados” pela situação econômica mundial que seriam o mercado financeiro e as grandes empresas.

– Os países ricos deram para o sistema financeiro todo o apoio, e para os mais pobres nenhum socorro – disse Lula.

Lula também pontuou a necessidade de um maior intercâmbio comercial do Brasil com os países africanos. As exportações brasileiras para a África saltaram de 2,4 bilhões em 2002 para 12,2 bilhões em 2011, ressaltou o ex-presidente.

Matérias Relacionadas:

Brasil: Aos 104 anos, arquiteto comunista Oscar Niemeyer se recupera de um resfriado




Correio do Brasil - do Rio de Janeiro

Oscar Niemeyer, arquiteto conhecido internacionalmente, aos 104 anos, foi internado no Hospital Samaritano, em Botafogo, Zona Sul do Rio, na noite passada. Segundo a filha dele, Ana Lucia Niemeyer, o pai está gripado e precisou ser levado ao hospital para receber medicação e ser hidratado por soro. O arquiteto passou 12 dias internado na mesma unidade hospitalar, em abril do ano passado, devido a uma forte infecção urinária.

Também no Rio, em 11 de junho de 2009, Niemeyer foi internado no Hospital Cardiotrauma, com dores nas costas. Ele realizou uma série de exames e recebeu alta pouco depois. Os exames e uma tomografia diagnosticaram que o arquiteto é portador de uma lombalgia, causada por fortes dores musculares. Ainda em setembro do mesmo ano, o intelectual comunista foi submetido a duas cirurgias, uma para a retirada da vesícula, e outra para a extinção de um tumor no intestino. As duas ooperações também foram realizadas no Samaritano.

Há três anos, Niemeyer passou 11 dias internado devido a uma queda e, na ocasião, passou por uma cirurgia. Sempre bem disposto, em abril do mesmo ano o arquiteto voltou à atividade para acompanhar a obra do Caminho Niemeyer, em Niterói, do outro lado da Baia da Guanabara. A construção de nove prédios, que vão se juntar a três que já foram erguidos, será o maior complexo arquitetônico com a assinatura do arquiteto.

Portugal: Pingo Doce vendeu produtos abaixo do preço de custo, diz ASAE




A Autoridade para a Segurança Alimentar e Económica (ASAE) concluiu que o Pingo Doce praticou dumping com a promoção realizada no feriado do 1º de Maio – dia em que vendeu todos os produtos com 50% de desconto.

De acordo com as conclusões da investigação, que estão a ser avançadas pela Antena 1, a Jerónimo Martins vendeu pelo menos três produtos abaixo do preço de custo: arroz, óleo e whisky.

O caso vai ser enviado já nesta sexta-feira para a Autoridade da Concorrência, podendo o grupo alimentar arriscar-se ao pagamento de uma multa que pode chegar aos 30 mil euros. Para a lei da concorrência é indiferente o número de produtos que são vendidos abaixo do preço de custo, importando apenas averiguar se existiu ou não tal acto.

Na quarta-feira a Jerónimo Martins, dona das quase 400 lojas do Pingo Doce abertas em todo o país, garantiu que não tinha incorrido em dumping na campanha lançada no último feriado e que provocou o caos em vários supermercados.

A venda de produtos abaixo do preço de custo é proibida em Portugal. Segundo a Antena 1, os inspectores da ASAE estão a ultimar um processo contra a Jerónimo Martins, num auto que deverá seguir já amanhã para a Autoridade da Concorrência, a quem cabe a instrução do processo e a aplicação das multas. Mas o grupo garantiu ao Jornal de Negócios que não recebeu qualquer notificação das conclusões da ASAE.

A cadeia de retalho ofereceu um desconto de 50% no custo final de compras acima de 100 euros a todos os clientes durante o feriado do 1.º de Maio. Apenas combustível, têxteis e electrodomésticos e medicamentos não estavam incluídos.

A promoção do Pingo Doce não foi precedida de uma campanha de comunicação pública, mas acabou, mesmo assim, por gerar uma verdadeira corrida às lojas do grupo. Em dia de feriado gerou-se o pandemónio nos supermercados de maior dimensão, que foram varridos por multidões de compradores. Conflitos entre clientes a tentar passar à frente de outros nas filas para pagar obrigaram em Almada e na Quinta do Mocho, em Loures, mas também na Rua Carlos Mardel, em Lisboa, à intervenção da polícia.

Portugal: UM VISLUMBRE DE ESPERANÇA




Manuel Maria Carrilho – Diário de Notícias, opinião

Desde 1974 que a semana entre o 25 de Abril e o 1.º de Maio se tornou particularmente reveladora do estado da Nação. Como se concentrassem nela expetativas e dificuldades, tensões e esperanças que andam dispersas durante o ano, e sobretudo como se se esperasse sempre dela uma qualquer palavra mais decisiva, uma qualquer ideia mais inspiradora.

No 25 de Abril é o Presidente que costuma suscitar maior atenção, no 1.º de Maio ela dispersa-se pela esquerda, com destaque para o PCP e a CGTP. Mas o que desta vez marcou a semana foi, contudo, a confirmação do carregado horizonte de chumbo que se abate sobre o País. Trinta e oito anos depois da consagração dos três "d" - a democracia, a descolonização e o desenvolvimento -, o que caracteriza hoje a situação do País são três "d" muito diferentes: a descredibilização dos partidos políticos, a desvitalização da democracia e a desqualificação dos portugueses.

Descredibilização dos partidos que se concentram na reprodução do seu poder e dos seus eleitos, desvitalização da democracia reduzida aos seus mínimos formais, desqualificação dos portugueses que continuam na cauda da Europa com níveis de educação que continuam a ser a nossa maior condenação: em 2010, só quatro em cada dez trabalhadores, e dois em cada dez empresários, tinham o secundário completo, quando a média europeia é de oito e sete, respetivamente.

E os protagonistas mostraram não estar à altura das circunstâncias. Os "militares de Abril" deram o sinal, com um manifesto inepto e um comportamento impróprio, a revelarem inesperadas dificuldades de compreensão do que é a legitimidade democrática. Em vez de funcionar, como certamente esperavam os seus promotores, como um incentivo à mobilização dos cidadãos, o "manifesto" foi apenas mais um sintoma de perturbação, que se veio juntar à multidão dos que já conhecemos.

Por sua vez, na habitual sessão parlamentar evocativa do 25 de Abril, os partidos políticos revelaram-se incapazes de se libertarem da lengalenga dos rituais há muito desagastados, enquanto o Presidente da República confirmou o seu perfil cada vez mais ziguezagueante, incapaz de recuperar o registo de uma magistratura mobilizadora.

Assim, no ano em que o País vive a maior e a mais intensa crise desde 1974, na verdade acabou por não haver qualquer "discurso de 25 de Abril", porque ninguém foi capaz de o fazer. Foi esta a novidade do ano: o silêncio mais ou menos embatucado da nossa elite política.

O Presidente optou por fazer, ao contrário do que o País sente, e sobretudo precisa, um inesperado discurso de deslumbramento otimista sobre o estado da Nação, a revelar não só um preocupante desajuste da realidade, mas também uma evidente incoerência relativamente a outros diagnósticos seus, feitos há não muito tempo e que - até pelas consequências que tiveram! - os Portugueses ainda têm bem presentes. Sem falar da incómoda mescla de provincianismo e de oportunismo com que destacou muitos dos exemplos escolhidos.

Esperança foi pois portanto um tópico que nestes dias só se ouviu a quem tenha os olhos postos em França e nos resultados das eleições presidenciais do próximo domingo. Mas a haver - como tudo indica - mudança, essa esperança vai exigir uma talentosa combinação de utopia e de realismo, de audácia e de competência.

Só assim será possível enfrentar os desafios tremendos que aguardam o novo Presidente e a sua equipa. Destaco apenas dois: em primeiro lugar, o do esgotamento do modelo "ocidental" de crescimento a crédito que marcou as últimas décadas. Modelo para o qual, contudo, não se dispõe de momento de nenhuma alternativa estruturada e credível. Basta olhar com um mínimo de lucidez para a súbita - "et pour cause!"- conversa dos últimos dias sobre crescimento euro- peu, para se perceber que tudo não passa de tagarelice à procura de mais crédito!...

Em segundo lugar, o da exaustão do modelo político da "fuga em frente", que conduziu a Europa ao atual estado de inação e de impasse face à crise. E, também aqui, não se dispõe de alternativas que pareçam viáveis, uma vez que todas as "saídas" de que se vai falando relevam, justamente, do mesmo mal. A começar pelo federalismo, de que todos falam mas que ninguém define, como era vital que se fizesse, enquanto a generalidade dos povos o rejeita cada vez mais, preferindo-lhe soluções nacionais.

Tudo isto permite um vislumbre de esperança, não mais. Pode parecer cético, mas não é - e vamos todos perceber melhor porquê, a partir da próxima 2.ª-feira.

NOVO! – Leia em Separatas Temporárias (barra lateral) COMO MATARAM SÁ CARNEIRO E AMARO DA COSTA

O ROSTO SOB A MÁSCARA




Manuel António Pina – Jornal de Notícias, opinião

Gostaria de não voltar à provocação congeminada pelo grupo Jerónimo Martins contra o feriado do 1.º de Maio e a luta dos trabalhadores portugueses pelos seus direitos, mas a culpabilização que por aí tenho visto dos consumidores, na sua maioria pobres (e é desses que falo), que literalmente assaltaram as lojas Pingo Doce para conseguir géneros alimentares a metade do preço é, para mim, incompreensível.

É certo que nem só de pão vive o homem, mas dizer isso a quem tem fome (fome de pão tanto como de justiça) parece-me uma crueldade inaceitável.

Como inaceitável é a condenação dos trabalhadores do Pingo Doce - em geral precários e com salários brutos inferiores a 500 euros - por terem cedido à chantagem da empresa, furando a greve para, mesmo humilhados e ofendidos, poderem manter o emprego. Por um humilhante e extenuante dia de trabalho terão recebido um salário/dia a triplicar, cerca de mais 30 euros; e, sobretudo (quem os culpará?), a possibilidade de obterem também alimentos com 50% de desconto.

Alexandre Soares dos Santos tem uma agenda política e, com total insensibilidade social e moral, pôs as suas lojas, os seus trabalhadores e os seus clientes ao serviço dessa agenda. Alguma coisa, além de comida a metade do preço por um dia, os portugueses ganharam com isso: viram o rosto que está por detrás da máscara.


UNIÃO EUROPEIA: MERKEL POSTA À PROVA NAS URNAS?




Bernd Ulrich - Die Zeit, Hamburgo – Presseurop

França, Grécia, Holanda, Alemanha: os cinco escrutínios que vão realizar-se na Europa são muito diferentes. Mas todos eles poderão implicar um veredicto sobre a política de Angela Merkel face à crise. E a chanceler alemã talvez venha a ficar em má posição.

Os cinco próximos atos eleitorais vão transformar profundamente o país. Para começar, as duas eleições regionais no Norte e no Oeste da República Federal [no Schleswig-Holstein, dia 6, e na Renânia do Norte-Vestfália, dia 13] irão dizer se Angela Merkel, que hoje é o dirigente alemão mais apreciado e o dirigente europeu mais poderoso, tem hipóteses de conservar as rédeas do poder.

As eleições de domingo na Grécia têm, pelo menos, igual importância para a Alemanha. Houve um grande investimento de energia política e um investimento ainda maior de dinheiro para que a Grécia pudesse pegar, por si mesma, o touro pelos cornos. Se os gregos elegerem um parlamento que se oponha à cura de austeridade e ao saneamento das finanças do país, o acordo concluído entre a Europa e a Grécia poderá ir por água abaixo. Um tal fracasso talvez fosse superável, no plano económico, mas prejudicaria consideravelmente a legitimidade dos futuros planos de salvamento de outros países europeus.

Crítica à política de austeridade alemã

Mas não é apenas na Grécia que a política europeia de Angela Merkel será sujeita ao veredicto das urnas. Sê-lo-á também em França. Ao longo da sua campanha eleitoral, Nicolas Sarkozy afastou-se bastante daquilo que tinha sido combinado com a chanceler, nos tempos áureos da osmose franco-alemã (há alguns meses). A menos que se trate apenas de meros efeitos de prestidigitação. É preciso esperar.

Do lado de François Hollande, adversário de Sarkozy nas presidenciais e favorito no escrutínio, o truque de ilusionismo é menos provável, em especial porque Hollande foi muito mais longe na sua crítica à política de austeridade alemã. Mesmo que este não se tenha apercebido de que metade daquilo que admitiu, em promessas onerosas, bastaria para desencadear algumas ondas capazes de abalar fortemente a frágil armadura europeia. Acontece que alguns intervenientes nos mercados só estão à espera dessas vagas.

O quinto escrutínio que terá grande incidência sobre a política alemã e a política europeia decorrerá igualmente naquilo a que se chama "estrangeiro" – na Holanda, onde a coligação cristã-liberal, durante algum tempo tolerada pelo populista Geert Wilders, acabou por cair sob a pressão dos imperativos de redução da dívida. As próximas eleições, que se realizarão no fim das férias de verão, decidirão também o destino político do chefe do Governo, Mark Rutte, o homem que se revelou um dos parceiros mais fiáveis e mais eficazes da chanceler alemã nas questões da política europeia.

Localmente, o que está em jogo tem ainda maior amplitude. Até agora, Geert Wilders tem orientado a sua política de ódio contra os muçulmanos. Mas, neste momento, está a reorientá-la para uma linha antieuropeia. Se a manobra resultar, essa mudança de rumo poderá favorecer a progressão dos populistas eurofóbicos em todo o continente. Tanto mais que, estabelecendo a ligação com a França, Marine Le Pen parece ter um objetivo preciso, em caso de derrota de Nicolas Sarkozy: dividir a UMP e absorver a sua ala direita. O que envolve o risco de colocar a dinâmica antieuropeia no centro do xadrez político.

Repercussões para além das fronteiras

É difícil saber se as eleições em França e na Holanda acabarão igualmente por conduzir à criação de um novo partido de direita na Alemanha. Até agora, este país tem conseguido com algum sucesso sufocar à nascença quaisquer veleidades dessa ordem. Resta saber o que irá acontecer, se a direita sair vitoriosa nas eleições nos nossos vizinhos ocidentais.

Em vésperas destes cinco atos eleitorais, uma coisa é certa: os escrutínios que se realizam na Europa, e mais especialmente nos países vizinhos mais próximos, são hoje pelo menos tão importantes como as eleições num Land alemão – mesmo que seja o maior deles. Tendo em conta a amplitude das repercussões desses escrutínios para além das fronteiras, poder-se-ia, teoricamente, perguntar por que motivo os eleitores alemães não estariam autorizados a participar – nem que fosse em pequena escala, à razão um voto em cada cinco, por exemplo – nos atos eleitorais holandês e francês. E vice-versa, evidentemente.

Há ainda outra anomalia que salta aos olhos: apesar de parecer ser a mulher forte da Europa, é indiscutível que Angela Merkel não seria eleita presidente da UE pelos europeus. Se fosse eleita diretamente pelo povo alemão, obteria a maioria dos sufrágios. Por causa dos imperativos específicos que prevalecem na Alemanha em resultado da coligação existente, Angela Merkel poderia, apesar da sua popularidade e dos acasos da vida política, ver-se despojada do poder que detém. Por outras palavras: Angela Merkel pilota uma Europa que não pode votar contra ela e poderia ser involuntariamente afastada do poder por alemães que, no fundo, não desejam vê-la partir.

Do ponto de vista da legitimidade democrática, tudo isto é, no mínimo, insólito, para já não dizer completamente absurdo. Mas nem por isso deixa de ser apaixonante.

NO ÚNICO DEBATE DO SEGUNDO TURNO HOLLANDE ATACA POLÍTICA ECONÓMICA…




SARKOSY COMBATE A IMIGRAÇÃO

João Novaes – Opera Mundi

Segundo turno será disputado neste domingo; socialista é favorito nas pesquisas

Após quase três horas, os candidatos à Presidência da França, Nicolas Sarkozy e François Hollande, terminaram nesta quarta-feira (02/05) um debate áspero, marcado por acusações dos dois lados e assistido por mais de vinte milhões de pessoas. Por um lado, Sarkozy, que tenta a reeleição, atacou as propostas do adversário, classificando-as como irreais e o chamando-o de mentiroso. Já Hollande, em um tom mais ameno, a cobrou a responsabilidade do atual chefe de Estado pela crise e não cansou de associá-lo à imagem do "candidato dos ricos". Este foi o único duelo eleitoral direto transmitido ao vivo pelos principais canais de televisão do país. O segundo turno da eleição presidencial será disputado neste domingo (06/05).

Os principais temas abordados foram a crise econômica nacional e europeia, o desemprego e a imigração - tema caro à Sarkozy, que radicalizou seu discurso para tentar atrair eleitores da extrema-direita. Hollande, por sua vez, apresentou um recuo ao propor medidas para restingir a imigração em tempos de crise. Mas também defendeu os estrangeiros em outros pontos, como no direito ao voto de imigrantes não-comunitários.

Economia

As grandes diferenças entre os dois candidatos ficaram expostas no campo econômico. Hollande, do PS (Partido Socialista, centro-esquerda), propôs alternativas às medidas recessivas de austeridade fiscal, através de ações que estimulem o crescimento e o emprego. O candidato propõe a taxação de transações financeiras, a criação de títulos europeus, o financiamento de infraestrutura pela União Europeia e o incentivo à pesquisa pelos bancos de investimentos.

Sarkozy, da UMP (União por um Movimento Popular, direita), afirmou que vai usar verbas públicas para gerar empregos e tentou colocar nos socialistas a imagem de maus gerentes no aspecto fiscal - culpou novamente os governos socialistas da Espanha e da Grécia pela crise no Euroe e das dívidas soberanas. Lembrou até mesmo o governo de François Mitterrand (1980-1993), a quem acusa de exagerar nos gastos públicos e "destruir a economia do país".

Acusações

"Quando me compararam a (Francisco) Franco (ditador espanhol), (Pierre) Laval (colaboracionista francês no regime de Vichy), (Phillippe) Pétain (militar e ex-presidente colaboracionista), e até com (Adolf) Hitler, você não disse uma só palavra", disse Sarkozy, sob acusações dos socialistas. "Você faz mal em se passar por vítima", disse o rival, antes de dizer que condena "todos os excessos".

Energia

Sarkozy acusou Hollande de tentar eliminar a energia nuclear. "Por quê sacrificar a energia nuclear em troca de um acordo político miserável (entre socialistas e verdes)? Se nunca ocorreu qualquer acidente? (...) Não temos petróleo, nem gás, nem energias fósseis e a energia nuclear não impede o desenvolvimento de energia renovável. Os 2,5% dos votos que conseguiu Eva Joly [candidata verde] não pode mudar isso". Ele também defendeu a redução de impostos e a flexibilidade do mercado de trabalho, defendendo a livre negociação de contratos de trabalho entre patrões e funcionários.
O socialista, por sua vez, o desmentiu, lembrando que propôs utilizar o grande reator nuclear que está sendo construído na cidade de Flamanville até 2025 com 50% de sua capacidade (contra os 75% de hoje). Sua intenção é diversificar a matriz energética do país. "Pare de caricaturar minha posição!", advertiu.

Imigração

Influenciados pelo sucesso do partido ultradireitista Frente Nacional (que obteve a votação recorde de 17,9% dos votos franceses), os dois candidatos apresentaram propostas restritivas à imigração estrangeira fora dos limites da União Europeia. Hollande propôs a redução em momentos de alto desemprego.

Também defendeu o direito de voto aos estrangeiros para eleições locais, desde que eles tenham residência fixa no território nacional."Precisamos de um Islã francês, não do Islã na França. Se você der o direito ao voto aos imigrantes, teremos reivindicações sectaristas nas próximas disputas eleitorais. Horários diferentes nas piscinas, menus diferentes nas cantinas, (...) É irresponsável propor isso quando enfrentamos crescentes tensões comunitárias", rechaçou Sarkozy.

O socialista rebateu em seguida: "O que lhe permite dizer que os estrangeiros não comunitários são muçulmanos? Como você se atreve a dizer isso?".

O debate foi transmitido pelos principais canais franceses, o privado TF1 e o público France 2, e em canais de notícias 24 horas. Segundo as pesquisas de opinião, Hollande seria eleito hoje, mas sua vantagem tem diminuído no decorrer desta semana.

Leia mais

Mais lidas da semana