sexta-feira, 1 de agosto de 2014

NIPSTERS: O NAZISMO USA MÁSCARAS NA ALEMANHA



Ao invés de rechaçar cultura pop, neonazis tentam apropriar-se dela. Consomem como “hipsters”, vestem-se de negro e… agridem violentamente um número cada vez maior de imigrantes

Cauê Seignemartin Ameni – Outras Palavras, em Blog da Redação

O atual movimento neonazista alemão vem buscando novos recrutas na subcultura dos jovens com barbas, sacolas de pano, óculos antigos e faixas com slogans nazistas. Ao se deparar com o número cada vez maior dos chamados hipster em manifestações anti-imigrantes organizadas pela extrema-direita, a mídia local apelidou-os de “nipsters”, relata longa reportagem de Thomas Rogers para revista Rolling Stones.

Assim como a propaganda foi essencial ao regime do Terceiro Reich, as redes sociais têm sido a principal plataforma do movimento. Os jovens usam intensamente o YouTube, Tumblr, Instagram e outras redes sociais para ganhar mais apoio na Alemanha, disse à revista Patrick Schroeder, um dos líderes do movimento no nordeste da Bavária, onde pretende dar um rosto social e político mais descolado à extrema-direita alemã.

Schroeder, descreve a reportagem, tem as laterais do cabelo raspado, só veste preto e usa uma bandana com as inicias H8 – que significa “Heil Hitler”. Ele ficou conhecido com seu programa no canal nazista online FSN.tv, onde apresenta, ao lado de um mapa da Alemanha de 1937, as novidades sobre o movimento nazista. Procura mostrar uma extrema-direita menos ameaçadora, dizendo que pessoas de outras subculturas, incluindo hip-hop, poderiam se juntar ao grupo sem alterar seu visual.

“Se a definição do nipster é de alguém que pode viver no mainstream”, explicou Schroeder à Rolling Stone, “então vejo isso como o futuro do movimento”. Para ele “se o Terceiro Reich fosse tão ruim, teria ruído”. Schroeder organiza um show anual de bandas nazistas conhecido como Live H8 concert, mas está furioso por ter seu evento impedido pelas autoridades ano passado. “Neste país, se você tem a opinião errada, todo mundo está contra você”, lamenta.

Para Andry Knape, 28, membro chefe da Junge Nationaldemokraten (JN), a ala jovem do Partido Nacional Democrático da Alemanha (NPD), o maior partido de extrema-direita do país, não há contradições em usar um visual americano e ter como objetivo “preservar a cultura alemã”. Fundado em 1964 por hitleristas, o NPD tem envolvido cada vez mais jovens. Como Scroedes, Kanpe quer dar ao “nacionalismo” uma cara mais palatável, conta a reportagem. Para ele, que cresceu sobre influência da cultura pop norte-americana, a ideia de policiar os hábitos culturais dos jovens é bobagem. Ele prefere manipular a cultura com o intuito de “usá-la para trazer mais jovens ao rebanho”. “Nós não queremos nos desligar”, diz Knape à revista, sobre a cultura hipster. “Eu vejo rap e hip-hop, por exemplo, como uma maneira de transportar a nossa mensagem”. 

O grupo de Knape vem obtendo grande audiência: “A internet nos permite alcançar as pessoas que não alcançamos na rua”. Seu último vídeo que viralizou na rede, apresenta pessoas dançando com máscaras, em meio a carros destroçados, com cartazes dizendo “Tenha mais relações sexuais com nazistas”. No canal também é possível  assistir homens encapuzados tagarelando como fazer diversos pratos veganos.

Michael Schaefer, 31, também membro do JN, diz que: “Nós assumimos o nipster. Quero dizer hipster nacionalista, não hipster nazista”. Segundo o livro de Mark Greif, What Was Hipster?, o termo hipster refere-se a um consumidor que “se alinhou com a rebeldia da subcultura e com a classe dominante, e assim, abriu um canal venenoso entre os dois”. Nos últimos anos, uma série de rappers de extrema-direita surgiu na Alemanha, como Makss Danos e Dee Ex. Eles exaltam as supostas virtudes da identidade alemã em suas letras. Assim como o techno neonazista, do DJ Adolf, lembra Thomas Rogers.

O jornalista alemão John Riceburg explica que os nazistas sempre tentaram copiar as subculturas juvenis, dando os exemplos dos skinheads, que são originalmente “uma espécie de subcultura proletária da juventude”. Em entrevista à RT, Weyman Bennet, secretário União Anti-Fascista, disse: “Eles estão tentando integrar as ideias nazistas e fascistas como algo aceitável. Vimos isso na década de 70 – quando parte dos primeiros punks começaram a usar suásticas”. No início dos anos 70 até os anos 90, o movimento fascista tentou se “reconectar na cultura dos jovens”, acrescentou.

As autoridades e a população tem reagido ao fenômeno. O Tribunal Superior está preparando uma audiência para tentar proibir a face pública do movimento: o Partido Nacional Democrático da Alemanha, composto por vários grupos de extrema-direita em todo país. Em 2014, com 1% dos votos, ele conseguiu pela primeira vez um assento no Parlamento Europeu. Em abril, uma marcha contra imigrantes feita pelo NPD em Berlim foi bloqueada com sucesso por milhares de manifestantes. Em Munique, está em curso o julgamento do membro do National Socialist Underground, célula de extrema-direita, acusado de matar 10 pessoas entre 2000 e 2007.

Com o vestuário neonazista mais arrumado é difícil de reconhecê-los, diz Cynthia Miller-Idriss, professora norte-americana que vem realizando pesquisas com jovens de extrema-direita nas escolas. “Se você era um professor”, diz ela, “você costumava identificar um skinhead em sua classe e poderia pensar como intervir. Mas agora é mais difícil para sociedade em geral entender quem esses jovens são para se engajar com eles”.

No último relatório de 2013 do Bundesverfassungsschutz, agência de segurança interna alemã, concluiu-se que existem cerca de 22.000 membros de extrema-direita na Alemanha, incluindo 9.600 que estão “dispostos a envolver-se em violência”. De acordo com as estatísticas, eles cometeram 473 crimes violentos contra estrangeiros ano passado, um aumento de 20% em relação ao ano anterior.

Coincidência ou não, o surgimento do nipster ocorre no mesmo tempo que a extrema direita vem ganhando apoio em toda a Europa. Muitos associam o sucesso destes partidos à sua capacidade de maquiar-se com um slogan mais amigável e menos ameaçador. O cientista político holandês Cas Mudde, argumentou que esses partidos conseguiram ligar a crise do euro “com suas características ideológicas fundamentais: nativismo, autoritarismo e populismo”, elaborando uma solução simplista, de fácil aceitação entre jovens desolados.

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GESTÃO DO BES, BANCO DE PORTUGAL E GOVERNO ESTUDAM APOIO ESTATAL




A hipótese de o Estado apoiar o BES já foi afastada por Pedro Passos Coelho e por Maria Luís Albuquerque, que poderão ser forçados a rever as suas declarações

CRISTINA FERREIRA - Público

Há várias soluções que o Estado pode seguir para ajudar o BES a sair do impasse: emissão de uma garantia do Estado, transferência de activos tóxicos para a esfera pública ou uma recapitalização.

Perante a declaração histórica dos maiores prejuízos [apesar de semestrais] de sempre da economia portuguesa, de quase 3,6 mil milhões de euros, o Estado prepara-se para ter um papel decisivo na resolução do dossier BES, no contexto da União Bancária europeia.

Com os analistas a estimarem as necessidades de financiamento do BES entre 3000 e 4000 milhões de euros (mais de metade do seu capital), as cotações a caírem a pique e os clientes do banco a darem sinais de inquietação, aumenta a pressão para que a gestão encontre um desfecho rápido para estabilizar o banco.

O acerto final das contas referentes à actividade semestral do BES traduziu-se num prejuízo de 3577 milhões e no registo de imparidade e contingências de 4253 milhões de euros, o que levou o Banco de Portugal a neutralizar os interesses da família Espírito Santo no banco. Os valores são expressivos e atiraram o rácio de capital Core Tier 1 para 5%, abaixo dos 7% recomendados, o que impede o BES  de passar no exame dos testes de stress europeus.

Foi, aliás, esta situação que levou Vitor Bento, depois da apresentação das contas semestrais na quarta-feira, a anunciar que encomendou o novo plano de recapitalização ao Deutsche Bank, mas não informou se será por via pública, privada ou mista. O tema esteve no centro do debate nesta quinta-feira. A agência Bloomberg considerou que “o BES poderá precisar de fazer um aumento de capital até quatro mil milhões de euros” e o BPI menciona um valor entre 3 e 4 mil milhões de euros.

A hipótese de o Estado apoiar o BES já foi afastada por Pedro Passos Coelho e por Maria Luís Albuquerque, que poderão ser forçados a rever as suas declarações. O primeiro sinal surgiu nesta quinta-feira pela voz de Luís Marques Guedes, que admitiu potenciais “impactos para a economia” se a crise no Grupo Espírito Santo (GES) se acentuar. O ministro da Presidência e dos Assuntos Parlamentares não descartou uma participação do Estado na recapitalização do banco, mas defendeu que “a primeira linha” de salvamento do BES “deve passar necessariamente primeiro pelo mercado, pelos accionistas privados”.

Uma posição alinhada com Carlos Costa, governador do Banco de Portugal,  que já disse que recebeu manifestações de interesse por parte de privados, o que também afirmou o presidente executivo Vítor Bento. Um dos investidores que contactou as autoridades foi um fundo que esteve activo na resolução da crise da banca grega. Por seu turno, o Bradesco, accionista de referência do BES, avisou que não acompanhará o aumento de capital projectado.

A questão é saber se, sem o Estado a dar um sinal inequívoco de que intervém no banco, os privados aceitam “meter-se” na instituição, pois a tendência é para contornar os riscos. E são várias as questões ainda sem resposta: Qual é a verdadeira situação do BES? Quem manda? Quem são os reais detentores do capital (há posições a garantir dívida)? Qual a extensão das ilicitudes (nos primeiros seis meses do ano, o BES criou veículos especiais para  investirem em dívida emitida pelo próprio banco)? Qual a natureza das potenciais litigâncias jurídicas e policiais? Que garantias há de que as contas do próximo trimestre não trarão surpresas?

E há ainda o tema da exposição da instituição ao GES, que se tornou incontornável, pois os problemas da esfera familiar têm acabado a desaguar no BES, o que levou às sucessivas emendas das contas.

Os desafios que as autoridades têm pela frente impõem, portanto, decisões não precipitadas, mas rápidas, para travar eventuais ondas de choque resultantes de novas revelações. E impedir que a “insegurança” sobre a boa saúde do banco continue a contaminar a confiança dos clientes.

Daí que, conforme apurou o PÚBLICO, as autoridades estejam articuladas (BdP, Governo, Europa e gestão do BES) a estudar (pela primeira vez) como é que, dentro do novo quadro jurídico criado pela União Bancária, o Estado pode intervir no BES. Há várias soluções (ou uma mistura delas): emissão de uma garantia pública, apoio formal à nova gestão (Vitor Bento não foi indicado pelo Estado, mas pelos accionistas e 20% do capital, detido pela família Espírito Santo, já perdeu o poder de voto), separação dos activos tóxicos para serem geridos na esfera pública e venda da parte rentável, e ainda a injecção de fundos estatais ou a recapitalização pela linha criada pela troika, ainda em vigor.

Ao contrário de 2008, quando o BPN foi nacionalizado, em que não existia um quadro jurídico e o Estado se responsabilizou pelas perdas, hoje há instrumentos que impedem que sejam os contribuintes a assumir os prejuízos resultantes de erros de gestores imprudentes e pouco sérios. E as consequências de uma intervenção estatal no BES são “fortes” e imediatas: os accionistas “perdem” o que investiram, bem como os detentores de dívida subordinada. Se, por hipótese (o que não é provável), o Estado subscrevesse um aumento de capital de 3 mil milhões de euros, ficaria com 70% do BES. O mesmo se passará se fossem privados.

Uma das vias que tem sido, aliás, sugerida por Carlos Costa é a do recurso aos 6 mil milhões de euros do fundo estatal de recapitalização. Mas já não será nos mesmos moldes “suaves” que beneficiaram o BCP, o BPI e o Banif, dado que as regras (do regime de transição) que decorrem da entrada em vigor da União Bancária são agora mais severas. O governador do BdP garantiu já que a solvabilidade do BES não está em causa.    

Por enquanto, o problema parece estar circunscrito ao segundo maior banco privado que voltou nesta quinta-feira a sofrer na bolsa portuguesa, com os investidores a reflectirem os receios em torno de novo reforço de capital. Mas o dia foi sobretudo negro para os subscritores (muitos clientes de retalho) do último aumento de capital de Maio (reforço de 1,04 mil milhões) colocado a 65 cêntimos e que assistiram à queda a pique da cotação (42,07%) que fechou a 0,201 euros (e esteve durante a manhã 0,16 euros). Já os restantes bancos encerraram com quedas menos fortes: BCP (4,37%), BPI (0,99%), Banif (3,23%).

Portugal: RICARDO SALGADO, O ÚLTIMO BANQUEIRO?



Mariana Mortágua – Expresso, opinião

Em 2007 o Millenium BCP era condecorado como "World's Best Developed Market Bank" e "Best Foreign Exchange Bank" em Portugal pela Global Finance, e ainda como o "Best Private Bank" em Portugal, pela Euromoney. Em 2008 Jardim Golçalves era julgado em praça pública e, felizmente, na justiça, por vários crimes económicos. Créditos não cobrados a clientes e accionistas, sociedades offshore que serviam para comprar acções próprias, you name it.

Jorge Jardim Gonçalves era, à data, o último banqueiro que era preciso julgar para que o sistema financeiro pudesse, finalmente, voltar ao normal. 

Em 2008 explodia o caso BPN, banco da confiança de altos quadros do PSD, entre eles Cavaco Silva. Créditos de favor, empresas e garantias fictícias, contabilidade paralela e até um banco criado à medida dos negócios de Oliveira e Costa. Grande parte do sistema funcionava, como é lógico, através de veículos offshore, entre eles a sociedade Doyle Managment, detida no BCP Cayman.

José Oliveira e Costa era, à data, o último banqueiro que era preciso julgar para que o sistema financeiro pudesse, finalmente, voltar ao normal. 

Meses depois, descobrimos o BPP. O banco de Rendeiro dedicava-se a gerir fortunas, e a fazer uso de sociedades offshore para alisar resultados, retirar do balanço riscos de clientes e para pagar exorbitâncias (não declaradas) aos seus administradores, nomeadamente através de uma conta detida no BPP Cayman. 

João Rendeiro era, à data, o último banqueiro que era preciso julgar para que o sistema financeiro pudesse, finalmente, voltar ao normal.

Em maio deste ano Joaquim Goes recebia o prémio carreira atribuido pela Universidade Católica pelo reconhecimento da "sua excecional carreira profissional na área de gestão". No discurso, o premiado recordou João Paulo II, apelou à "solidadariedade desinteressada" do Papa Francisco, e agradeceu aos seus antigos chefes e mentores, Ricardo Salgado e Goes Ferreira. Mais ou menos pela mesma altura, o BES realiza uma operação de aumento de capital, subscrita a 178%, descrita pela comunicação social como um sucesso.

Há dias, Joaquim Goes foi suspenso do cargo de administrador do BES pelo Banco de Portugal. No mesmo processo, é detido o homem que três meses antes tinha homenageado, Ricardo Salgado, acusado de burla e branqueamento de capitais. Entre outras coisas, o banco terá sido usado para financiar negócios da família Espírito Santo, em parte através de sociedades offshore. Destacam-se ainda os créditos desaparecidos do BES Angola, banco destinguido no ano passado com o "Best Bank Award", da Global Finance, o prémio para melhor banco em Angola.

A administração Salgado, ontem destacada pela academia, respeitada pela comunicação social e sempre muito bem relacionada com o Estado, tornou-se no último bode expiatório. Onde esteve então a troika, que nos últimos três anos se ingeriu em todas as decisões democráticas do país, comentou e criticou cada direito laboral, cada nível salarial, sem nunca ter reparado nas imparidades que se avolumavam no GES/BES? E onde estão agora os editorialistas e colunistas que viam em Salgado não só o óraculo da economia portuguesa, mas o herói capitalista que recusou ajuda pública? 

Ricardo Salgado é, hoje, o último banqueiro que é preciso julgar para que o sistema bancário possa, finalmente, voltar ao normal.

Jorge, José, João e Ricardo. Todos foram os últimos a cair para que tudo pudesse ficar na mesma.  

No último caso, como no primeiro, o Banco de Portugal foi incapaz de identificar os anos e anos de contabilidade criativa, a acumulação de fraudes e de operações de branquamento de capitais. Mas poderia ser de outra forma? Afinal, grande parte dos esquemas passavam por offshores, lugares construidos, precisamente, para escapar aos olhares reguladores e tributários. Em qualquer uma destas crises bancárias as práticas de investimento e especulação inundaram a atividade comercial, pondo em em causa a estabilidade e segurança dos depositantes e, de uma forma ou de outra, todas conduziram a intervenção do Estado e à injeção de dinheiros públicos. 

A sociedade deve julgar e punir cada um dos últimos maus banqueiros, mas nunca deixará de os produzir se insistir em acreditar que serão sempre os últimos.

Na academia, a teoria económica ortodoxa continua a não querer assumir que não tem poder de previsão. Está de tal forma marcada pela longínqua ideia da perfeição dos mercados, que só agora os mais sofisticados modelos  utilizados pelos bancos centrais (entre eles o BCE) começam a tentar incorporar a possibilidade de falência de um agente financeiro. Até agora, a grande maioria dos modelos acreditava, simplesmente, que os bancos não iam à falência.

Fora da academia, desde o início da crise financeira que governos, Comissão e Conselho Europeus, parlamentos, e bancos centrais foram céleres a aprovar novas regras orçamentais, novos mecanismos de austeridade e, até, novas formas de regulação. As medidas que realmente importam - o fim dos offshores e paraísos fiscais, a separação entre a banca de investimento e a banca comercial ou a erradicação de produtos altamente especulativos - ficaram na gaveta. Porquê? Não é possível que acreditem que Ricardo Salgado seja o último banqueiro. 

Portugal: … FÁ-LO POR GOSTO



José Manuel Pureza – Diário de Notícias, opinião

Ao empobrecimento, à desigualdade e ao desalento junta-se o envelhecimento como traço do País que somos neste momento. O envelhecimento acentuado da população portuguesa é o resultado da confluência de duas transformações de grande alcance registadas nos tempos mais recentes. A primeira foi a passagem de um crescimento natural positivo - mais nascimentos que óbitos - para um crescimento natural negativo. O decréscimo significativo do número de nascimentos (pouco acima dos oitenta mil em 2013) levou a uma diferença da ordem dos quase dezoito mil óbitos a mais do que os nascimentos verificados. A segunda grande transformação foi a passagem de um saldo migratório positivo para um saldo migratório negativo, em virtude quer do regresso em larga escala de imigrantes aos seus países de origem ou à sua deslocação para países terceiros quer à vaga de emigração, sobretudo de jovens, em níveis semelhantes aos dos anos sessenta. O resultado é o da transformação de Portugal de um dos países mais jovens da Europa em 1970 num dos países mais envelhecidos do mundo no presente. E esta mudança suscita perguntas decisivas: como se vai sustentar o sistema de pensões e reformas? Com quem contamos para a retoma de uma produção que nos faça sair da crise económica? Quem cuidará dos velhos que somos cada vez mais?

Há na abordagem deste problema dois riscos. O primeiro é o de ele servir para abrir a porta ao conservadorismo contra os direitos das mulheres. O discurso, que a este propósito, assume como alvos o planeamento familiar ou a interrupção voluntária da gravidez em vez de colocar no centro a diferença entre o número de filhos desejados e o número de filhos de facto permitidos pelas condições de trabalho, pelos níveis salariais ou pelo patamar de expectativas de futuro não só não resolve nenhum problema como se vinga de conquistas sociais e culturais que nunca aceitou. Ou seja, acrescenta indignidade à inépcia para responder ao desafio demográfico.

O segundo risco é o de fazer das políticas de natalidade um adorno gentil para um fundo de agressão social que se mantém incólume. Bem pode o Governo criar umas exceçõezinhas no IRS e uns beneficiozinhos fiscais em IRC, bem pode o Governo organizar mais uns estagiozinhos para licenciados, bem pode o Governo alargar a licença de parentalidade e bem pode o Governo dizer ao povo que é tudo para aumentar a patriótica tarefa de procriar. O risco é que as medidas pontuais convivam com uma política de fundo que é a maior inimiga da família. E o problema é que o povo sabe e não esquece que o mesmo Governo faz da destruição de emprego e da precariedade as ferramentas para embaratecer o trabalho e o tornar um luxo para poucos, para mais mal pagos e com poucos direitos. O povo sabe e não esquece que o mesmo Governo nos olha como vivendo acima das nossas possibilidades, nas nossas zonas de conforto e à pala disso encurta os serviços à qualidade e à estabilidade das nossas vidas. O povo sabe e não esquece que o Governo e as suas políticas são os mais eficazes dos contracetivos.

Quer o Governo fomentar a natalidade em Portugal? Pois bem, assuma a estabilidade dos vínculos laborais como imprescindível, imponha os direitos de todos à saúde, à educação e ao trabalho, proteja o País contra os credores permitindo que a economia cresça, faça do futuro com todos e não do presente para alguns o seu foco. Algo que um Governo obediente aos cânones financeiros da união europeia jamais poderá fazer. E isso diz-nos muito das condições políticas de partida para que uma política de apoio à natalidade possa ser real em Portugal.

Portugal: MAIS DE 200 CLIENTES DO BES DENUNCIAM FALTA DE REEMBOLSOS




Mais de 200 clientes do BES já recorreram à Associação de Defesa de Clientes Bancários (ABESD) por se sentirem lesados e não conseguirem ser reembolsados das suas aplicações, disse à Lusa o responsável da associação.

Luís Vieira disse à Agência Lusa que cerca de metade destes "pequenos investidores" compraram papel comercial de empresas do Grupo Espírito Santo (GES), como a Espírito Santo International (ESI), a Espírito Santo Financial Group (ESFG) ou a Rioforte, desconhecendo o tipo de produto em que estavam a aplicar as suas poupanças e não conseguem ser reembolsados.

"A informação que temos tanto do Luxemburgo, como do próprio banco, é que estes produtos não são do BES e que são papel comercial da ESI, ESFG ou Rioforte", afirmou.

A ABES-D foi constituída na semana passada e apresentada oficialmente na quinta-feira depois de um grupo de clientes do BES ter começado a contactar entre si e a perceber que estavam a ser afetados pelos mesmos problemas, nomeadamente a falta de pagamento, desde junho, do papel comercial que detinham de empresas do grupo GES/BES.

Segundo Luís Vieira, que também é cliente do BES, o endereço de correio eletrónico criado pela associação já recebeu mais de mil emails de pessoas que procuram ajuda ou esclarecimentos, muitos deles por "não conseguirem resgatar fundos" ou mobilizar as suas aplicações e não conseguirem obter respostas.

Ainda segundo o responsável, muitos destes produtos foram vendidos a clientes do BES, em Portugal e no estrangeiro, como aplicações de baixo risco e de capital garantido, mas correspondem na realidade a produtos de outras empresas do GES que "estão em pré-falência" e que se vieram a revelar-se "tóxicos".

A ESI, a "holding" de topo do GES, que detém 100% da Rioforte que controla participações financeiras e não financeiras em várias áreas, a Rioforte e a ESFG, a "holding" financeira do GES, estão sob gestão controlada no Luxemburgo, depois de terem solicitado este regime de proteção de credores aos tribunais daquele país.

A ABES-D já contratou um escritório de advogados para defender os seus interesses (a sociedade Macedo Vitorino & Associados) que "tem estado a recolher os dossiês e a fazer um apanhado dos produtos" em causa e admite vir a avançar com processos ou outro tipo de medidas contra o banco.

Os problemas do BES avolumaram-se esta semana depois da divulgação de prejuízos recorde de 3,6 mil milhões de euros no primeiro semestre.

O novo presidente executivo do BES, Vítor Bento, anunciou logo após a divulgação dos resultados semestrais do banco que a instituição vai avançar imediatamente com um aumento de capital.

O Banco de Portugal disse que factos recentemente descobertos no BES apontam para a "prática de atos de gestão gravemente prejudiciais" e admite consequências contraordenacionais e até criminais para a ex-equipa de gestão liderada por Ricardo Salgado. No entanto, o banco central assegurou que o BES tem condições para manter a sua atividade e garante a "plena proteção dos interesses dos depositantes".

Lusa, em Diário de Notícias

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Cabo Verde: Elísio diz que "PAICV deixou cair a máscara e que é um partido sem ideias"




O líder parlamentar do MpD disse no seu discurso de encerramento do debate sobre o Estado da Nação que “o PAICV deixou cair a máscara”. “Apresentou-se com uma ideologia arcaica e ligada ao passado quase obsessiva em relação aos anos 90”. Para Elísio Freire, se o MpD fala aos cabo-verdianos de hoje e do futuro, “o PAICV não quer saber do futuro porque está desprovido de ideias e não tem visão”.

Para o deputado, o PAICV e o Primeiro-ministro não são adversários do MpD. “Os nossos adversários são os problemas de Cabo Verde e, principalmente dos jovens”, afirmou, salientando que o partido é e fará diferente. Freire cita o presidente do partido, Ulisses Correia e Silva, que declarou que “o destino de um governo do MpD é garantir a sustentabilidade económica e social do país, criar qualidade de vida às pessoas, através do emprego, rendimento, segurança e saúde”.

Quando o MpD for Governo, quer fazer reformas para que haja menos impostos e mais rendimentos para as empresas, levar o desenvolvimento à todas as ilhas com instituições fortes e credíveis, fazer com que as empresas criem riquezas e empregos, promovendo boas políticas de desenvolvimento regional. E ainda fazer todas as obras possíveis, desde que contribuam para aumentar riquezas do país, estimular o investimento e desenvolver Cabo Verde.

“Prometemos tornar o país competitivo para atrair e reter investimentos, fazer render o turismo na sua contribuição para o desenvolvimento e exportar bens e serviços de qualidade. Teremos atitude na governação e na Administração Pública favorável ao desenvolvimento, às empresas, às famílias e aos jovens”, assevera, perspectivando um crescimento económico inclusivo, com capacidade para lidar com as empresas.

O líder parlamentar afirma que as cidades têm grande potencial para gerar negócios e emprego. Neste sentido, diz, o compromisso do MpD é criar oportunidades para as famílias terem acesso ao emprego e rendimento: “Quero prestar uma homenagem às mulheres que labutam arduamente, por vezes não vendendo nada e passando fome para colocarem os filhos na escola. Este Governo, quando o filho termina a formação, não consegue dinamizar a economia para dar-lhes emprego. Aos jovens, uma palavra de apreço e às mães muito obrigada”.

Freire garante que o MpD não vai desistir e nem ficar conformado porque “o país tem de ser de esperança e de oportunidade para todos. A palavra-chave é confiança nos cabo-verdianos, nas instituições e na economia. Temos de reduzir o risco soberano, mas acima de tudo o risco empresarial para que os bancos confiem nas empresas”.

A Semana (cv)

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GUINÉ-BISSAU EM ALERTA MÁXIMO PARA PREVENIR ENTRADA DO VÍRUS ÉBOLA




Uma pessoa morreu infetada com ébola numa aldeia da Guiné-Conacri, próxima da Guiné-Bissau. Os guineenses temem que o surto passe a fronteira. As autoridades nacionais reforçaram o controlo fronteiriço.

O Governo, em colaboração com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), reforçou o controlo nas fronteiras, enviou mais equipas médicas para as zonas de risco e aposta fortemente numa campanha radiofónica de sensibilização sobre o vírus ébola, segundo um plano de emergência elaborado pelas autoridades sanitárias de Bissau.

As informações que chegam dos países vizinhos não são encorajadoras. Este ano, o vírus já matou 729 pessoas na África Ocidental, segundo a Organização Mundial de Saúde. Quase todos os países da região estão em alerta máximo por causa desta epidemia sem precedentes, que mata 90 por cento dos infetados.

Por a Guiné-Bissau fazer fronteira com a Guiné-Conacri, um dos países mais atingidos pelo vírus ébola, o receio de contaminação é grande, diz o moçambicano Abubacar Sultan, representante da UNICEF.

"Tendo havido aqui um caso relativamente próximo da fronteira com a Guiné-Bissau, logicamente que estamos numa zona de risco", afirma.

Até hoje, não foi detetado nenhum caso de ébola em território guineense, mas numa aldeia da Guiné-Conacri, próxima da Guiné-Bissau, registou-se um morto. Isso levou ao reforço das medidas de controlo nas fronteiras guineenses.

Regras de higiene

"É necessário que as pessoas adotem um conjunto de regras, começando pelas regras de higiene pessoal. Mas também é preciso que abandonem hábitos como o consumo de carne de certos animais", afirma Abubacar Sultan. A Organização Mundial de Saúde recomenda, por exemplo, que se evite manusear carne crua de animais selvagens.

Por outro lado, a organização internacional recomenda também que quem morrer vítima de ébola seja sepultado rapidamente e num local seguro, para prevenir a transmissão do vírus a outras pessoas. Para lidar com este assunto "extremamente sensível" é preciso ter o apoio dos líderes religiosos, refere Sultan.

De resto, o representante da UNICEF garante que, no terreno, "há sistemas de circulação da informação a postos e já foram criadas as equipas técnicas para investigar possíveis casos de ébola, inclusive para recolher amostras para despistagem."

O Governo guineense e os parceiros garantem que não é preciso recear a vinda de pessoas de outros países para a Guiné-Bissau por causa das ameaças do vírus ébola.

Esta quinta-feira (31.07), o primeiro-ministro, Domingos Simões Pereira, convocou uma reunião do Conselho de Ministros para detalhar o plano de emergência a ser implementado pelas autoridades sanitárias. Entretanto, o executivo lançou um SOS para repor o stock de medicamentos face à epidemia.

"Recebemos a confirmação do Governo português da disponibilidade de 15 toneladas de medicamentos que devem chegar ao país nos próximos dias", anunciou Domingos Simões Pereira.

Enquanto isso, nas ruas de Bissau, os guineenses preocupam-se mais com o jogo da selecção nacional deste sábado do que com as ameaças eminentes do vírus ébola. O tema continua a ser o destaque nos serviços noticiosos. Em simultâneo, nas fronteiras, segundo a organização Médicos Sem Fronteiras, os profissionais da saúde combatem agora dois inimigos: o vírus do ébola e o medo da população.

Deutsche Welle - Autoria: Braima Darame (Bissau) - Edição: Guilherme Correia da Silva / Cristina Krippahl

Angola: Cerca de 1.700 militares de elite africanos simulam Força de Paz




Forças especiais de uma dezena de países da África Austral, envolvendo 1.700 operacionais, começam hoje, em Angola, exercícios militares que se vão prolongar por seis semanas, simulando uma Força de Paz, informou fonte militar.

A quinta edição do exercício "Vale do Keve" envolverá, até 13 de setembro, tropas de elite da maioria dos países da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC, na sigla inglesa), decorrendo na localidade de Waco-Cungo, na província do Cuanza Sul.

As várias forças presentes vão simular uma situação de crise num país com degradação da situação política interna, gerando insegurança e o colapso das instituições do Estado, da liberdade de circulação de pessoas e bens.

Os militares vão igualmente simular ações enquanto Força de Paz dos quinze países da SADC - dos quais quatro não têm forças militares -, a utilizar em conflitos armados, além de assegurar a uniformidade de operações militares.

África do Sul, Botsuana, República Democrática do Congo, Malaui, Moçambique, Namíbia, Tanzânia, Zâmbia e Zimbabué asseguram, entre comandos, fuzileiros navais ou paraquedistas, forças com mais de 50 militares por país, também com meios ligeiros terrestres e aéreos.

As Forças Armadas Angolanas (FAA) garantem, além da logística do exercício que decorre a 300 quilómetros de Luanda, numa área de importantes combates durante a guerra civil em Angola, mais de 1.100 militares.

Os exercícios arrancam hoje, mas a sessão solene de abertura acontece apenas na terça-feira, 05 de agosto, presidida pelo Chefe do Estado-Maior General das FAA, general do Exército Geraldo Sachipengo Nunda.

Lusa, em Notícias ao Minuto

John Bella: "Não é verdade que Angola seja uma ditadura" – em Angola Fala Só



Voz da América, em Angola Fala

"Não é verdade que Angola seja uma ditadura", disse ao “Angola Fala Só” o escritor e sociólogo angolano John Bella, que é também  Director de Comunicação da Fundação Dr. Agostinho Neto.

Num animado programa que versou os mais variados temas, desde a literatura à educação e política, Bella defendeu que  Angola só “começou em 2002” após os acordos de paz".

“Muita coisa não existia em Angola, mas começa agora a existir,” disse o escritor angolano que defendeu que a reconstrução precisa de tempo para poder vingar.

“Angola tem que se reorganizar e não teve tempo ainda para isso”, disse, afirmando que o país está contudo “pronto a se reorganizar”.

Durante esse processo há que escolher entre diversas áreas de governação, disse o escritor em resposta a um ouvinte que se queixou da falta de fundos para a educação.

Outras áreas como a saúde e os transportes precisam também de fundos.

“Se o problema fosse só a educação então a educação estaria a 100 por cento”, disse.

O escritor, que foi também deputado do MPLA, disse que Angola não é reconhecida publicamente pelo papel que desempenha na resolução ou tentativa de resolução de conflitos em África.

“Angola tem sido o país chamado para gerir conflitos em África”, disse Bella.

“Qualquer guerra chama-se Angola, mas quando chega a altura dos prémios  Angola já não tem direito”, acrescentou.

O sociólogo e escritor defendeu o direito à manifestação fazendo notar que “está na constituição”, mas, acrescentou, esse direito tal como muitos outros tem que ser exercido “de acordo com as regras”.

“Nós temos liberdades mas para muitos a liberdade não tem limites”, afirmando ainda não concordar que os jornais estejam repletos de “bajulação” ao Governo e seus dirigentes.

A acusação de “bajulação” chegou a um ponto  em que “tem que se mentir sobre o que se passa para não se ser acusado de bajulador”.

John Bella é o autor do livro “O regresso da Raínha Ginga” que venceu um prémio no Brasil e durante o programa teve a oportunidade de abordar essa personalidade da história angolana.

Para o sociólogo, o que mais o impressionou durante a sua investigação foi o facto de “conseguir resistir durante 40 anos a uma invasão”.

Numa altura em que o conceito de nação ou de Angola ainda não existia, John Bella fez notar a visão de Ginga em apoiar o reino do Bailundo e procurar aliados na Lunda para combater invasores estrangeiros.

“Foi uma pessoa muito adiantada em relação ao seu tempo”, afirmou Bella que disse ainda ano início do programa que para si a literatura infantil “é a mais séria” porque visa uma audiência que precisa ainda de aprender”.


Angola: TRABALHAR PARA IR LONGE



Jornal de Angola, editorial

A produção industrial e o comércio em Angola cresceram para níveis que exigem a regulação das importações 

A adopção de quotas de importação de mercadorias com excedentes na produção nacional é uma realidade que contraria as dúvidas geradas em torno da entrada em vigor da Nova Pauta Aduaneira. Como demonstra a experiência, a entrada em funcionamento das novas regras alfandegárias veio melhorar o ambiente de negócios. Tudo está a correr exactamente como planeado e numa altura em que a produção nacional conhece sinais positivos, derivados da protecção aduaneira. Os produtores nacionais têm razões para ficar satisfeitos. 

Angola prepara as condições para fazer parte da Zona de Livre Comércio da SADC, razão pela qual se justificam os procedimentos para relançar a produção nacional. Os esforços para reorganizar ou substituir tudo quanto a guerra destruiu ou fez desaparecer são bem visíveis. Nunca um país que foi devastado por uma guerra conseguiu recuperar a normalidade como Angola está a fazer em tão pouco espaço de tempo. Gestos tão simples como registar uma criança recém-nascida só são possíveis com a extensão da autoridade do Estado a todo o país. 

As dificuldades que os pais têm enfrentado vão ser removidas, porque o Executivo arranjou uma solução excelente e definitiva: vão ser criadas equipas que em todo o país garantem o registo e a emissão do Bilhete de Identidade a quem ainda não tem, porque os serviços do Estado não chegaram a todos os recantos de Angola. Mas a partir de agora vão estar lá. Todos vão ser registados e todos vão ter direito ao documento de identificação que lhes garante a cidadania e a existência legal.

Os que reclamam porque ainda há muito por fazer, esquecem que é fácil destruir, mas muito difícil construir ou refazer o que foi desfeito. A Europa devastada pela II Guerra Mundial demorou décadas a levantar a cabeça e precisou dos fundos milionários do Plano Marshal. A Alemanha, derrotada pelos Aliados, só conseguiu respirar porque lhe foram perdoadas as dívidas gigantescas que jamais conseguiria pagar.

Angola partiu para a reconstrução nacional sem perdão da dívida. Pelo contrário, alguns credores puseram a pressão ao peito do Governo e só a capacidade negocial do Presidente José Eduardo dos Santos permitiu que o país não entrasse em incumprimento. 

Para Angola não houve Plano Marshal nem consta que a comunidade internacional, através da ONU e da Troika de Observadores, constituíssem um sindicato financeiro para a reconstrução. Pior ainda: os países que apoiaram a agressão do regime de apartheid nem sequer assumiram a responsabilidade de pagar os prejuízos gigantescos causados a Angola.
 Até agora, ninguém indemnizou Angola pelos crimes de guerra cometidos pelas tropas que nos agrediram. Pelas violações do território. Pelos massacres das populações civis. Pela sabotagem da economia, com destruição de pontes, aeroportos, refinarias, vias-férreas e outras infra-estruturas. 

Os devedores tentam fugir às suas responsabilidades chamando “guerra civil" a uma agressão armada do regime do apartheid em coligação com outras forças e as grandes potências ocidentais. Como não pagam o que devem, põem os seus agentes da comunicação social a chamar corruptos aos credores. Embaciam a imagem de Angola e dos titulares dos órgãos de soberania, para escaparem à dívida que têm para com o Povo Angolano. 

Na teoria todos querem o bem-estar das comunidades, que todos os angolanos tenham acesso  à habitação, ao ensino e à saúde. Nos discursos ou nos comentários todos são capazes de criar um milhão de empregos por dia. O problema do desemprego não existe para os teóricos. Com um decreto atingem o pleno emprego e com outro elevam o salário mínimo para os níveis de Alemanha. Mas quem tem a responsabilidade de governar, experimenta mil obstáculos para criar postos de trabalho. 

O emprego com direitos é um objectivo de todos os regimes democráticos. Angola não é excepção. Mas para criar postos de trabalho é preciso dinamizar a produção na indústria, no comércio, na agricultura e nos serviços. Angola precisa muito de empresas e empresários. O sector privado da economia tem de dar emprego à maior parte dos angolanos em idade activa. O Estado apoia, investindo nas infra-estruturas, garantindo a protecção na doença e no desemprego, protegendo as famílias. Mas a iniciativa privada tem de dar o maior contributo na absorção de mão-de-obra.

 O mercado de trabalho fica desequilibrado se apenas o Estado for o grande empregador. A agricultura está a absorver milhares de trabalhadores. Esse é o caminho correcto para combater o desemprego e a pobreza. Mas também para garantir a segurança alimentar.

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Escolas batem recordes

FLEC ALERTA PARA GRANDES OPERAÇÕES GOVERNAMENTAIS EM CABINDA




Estanislau Boma acusa o Governo de exercer represálias sobre a população

Voz da América

O dirigente de uma das facções da Frente de Libertação de Cabinda apelou à comunidade internacional para intervir alegando que recentes actividades militares do Governo levaram à prisão e tortura de civis inocentes.

Estanislau Miguel Boma, dirigente militar da FLEC/FAC disse terem-se registado grandes confrontos desde meados do mês passado até ao inicio de Julho mas que estes prosseguem actualmente.

Em declarações à VOA, o dirigente militar da FLEC/FAC disse que o Governo se recusa a negociar e que vê qualquer oferta de negociação como “um sinal de fraqueza” exigindo a rendição.

Boma disse que sem negociações o conflito em Cabinda continuará.

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UE: NÃO HÁ DINHEIRO?



José Maria Castro Caldas – As Minhas Leituras

«Não é exagero dizer que na Eurozona quem hoje detém os instrumentos mais poderosos da governação – quem tem o poder de dizer “não há dinheiro” – é uma entidade não eleita, não sujeita ao escrutínio democrático, na realidade dependente do sistema financeiro e dos seus interesses.»

Nada há de menos transparente do que a origem e o fluxo do dinheiro numa economia. A opacidade não resulta só dos segredos que são a alma do negócio, mas também de uma má compreensão, teórica e prática, dos mecanismos de criação monetária, que afeta tanto o comum dos mortais, como os supostos especialistas.

Parte da opacidade é deliberada. Uma frase, atribuída a Henry Ford, dá conta disso mesmo: «Ainda bem que a maior parte dos Americanos não sabe como na realidade funciona a banca, porque se soubesse havia uma revolução amanhã de manhã.» Outra parte é consequência de ideias e teorias económicas erradas.

Opacidade deliberada e ideias erradas concorrem para que a atividade financeira, incluindo a do Banco Central, decorra longe do escrutínio público. As decisões dos bancos privados e do Banco Central condicionam o destino coletivo, mas são tomadas à margem de qualquer controlo democrático porque são difíceis de entender e porque as instituições foram desenhadas para as eximir desse controlo.

Ideias erradas

Começarei pelas ideias erradas. O que se ensina e as pessoas pensam saber acerca da moeda, do crédito e do sistema bancário, na maioria das Faculdades de Economia, não corresponde pura e simplesmente à realidade. [1]

Na maior parte dos livros de economia ensina-se que os bancos atuam como simples intermediários entre os aforradores e os investidores. Os depósitos seriam criados pelas decisões de aforro das famílias. Os bancos, ao concederem crédito, emprestariam parte destes depósitos a outras famílias, a empresas e ao Estado.

Na maior parte dos livros ensina-se também que o Banco Central determina o montante global do crédito, controlando a quantidade de moeda. O Banco Central obrigaria os bancos a constituir reservas e dessa forma restringiria a sua capacidade de concessão de crédito.

Ambas as ideias são erradas.

Na realidade, as decisões de poupança não aumentam o montante de depósitos nos bancos. Os novos depósitos dos aforradores são feitos à custa de pagamentos de bens e serviços que teriam aumentado os depósitos das empresas caso a poupança não tivesse ocorrido.

Na realidade, o montante dos depósitos nos bancos aumenta quando os bancos concedem crédito, abrindo novas contas ou incrementando o montante depositado em contas existentes. Os bancos não emprestam o dinheiro que têm em depósitos. O ato de conceder crédito cria depósitos. O contrário, portanto, do que se ensina e a maior parte das pessoas acredita.

Na realidade, as reservas no Banco Central são o que se ajusta ao crédito concedido e não o contrário. Primeiro os bancos decidem quanto emprestam. Quando emprestam criam depósitos. Depois decidem a fração desses depósitos que querem manter em reserva no Banco Central para garantir os levantamentos dos clientes, fazer pagamentos a outros bancos, ou assegurar rácios de liquidez legais. As reservas são constituídas pelos bancos comerciais com empréstimos do Banco Central a uma taxa que o próprio Banco Central determina. Primeiro, o crédito criado pelos bancos comerciais, depois, as reservas constituídas com dinheiro emprestado pelo Banco Central. As reservas não limitam a capacidade de concessão de crédito dos bancos comerciais.

Os bancos comerciais criam moeda. Quando um banco concede crédito não entrega normalmente um maço de notas ao cliente. Credita a sua conta. É tudo. Desta forma cria moeda. Por outro lado, um devedor que amortiza dívidas destrói moeda.

Os bancos, incluindo o Banco Central, também criam moeda quando compram ativos ao setor privado não financeiro ou ao Estado, creditando as suas contas de depósito. Quando vendem ativos destroem moeda.

Conceder crédito é o negócio dos bancos comerciais. Por sua vontade não haveria limites para a concessão de crédito. No entanto, os limites existem: o nível das taxas de juro de que depende a rentabilidade dos bancos, os riscos de emprestar a quem pode não ser capaz de pagar e a política regulatória do Banco Central. Mas em períodos de euforia em que a concessão de crédito resulta no crescimento, aparentemente continuo, do preço dos ativos reais e financeiros em que o crédito é aplicado, os bancos tendem a levar a concessão de crédito para lá de todos os limites. Só quando a escalada do preço dos ativos atinge o cume e começa a dar sinais de inversão é que os bancos se retraem na concessão de crédito. Essa retração alimenta mais a deflação dos preços dos ativos e precipita o que tendo começado por ser uma crise financeira se transforma rapidamente numa crise económica e social.

Isso mesmo foi o que aconteceu. Perfuradas as “«bolhas», a destruição de moeda passa a predominar sobre a sua criação. É preciso então que o Banco Central intervenha.

O Banco Central pode tentar contrariar a destruição de moeda e a retração do crédito baixando a taxa de juro que cobra aos bancos comerciais pelas suas reservas. Isso permitiria aos bancos comerciais reduzir as suas próprias taxas de juro e dessa forma aumentar o crédito. Mas quando a taxa de juro do Banco Central é reduzida quase a zero, como atualmente acontece, é preciso recorrer a outros meios: compras de ativos, nomeadamente obrigações do Estado, diretamente pelo Banco Central, como tem sido feito nos EUA e em Inglaterra, ou indiretamente, através dos bancos comerciais, como tem sido feito pelo BCE. 

Com estas compras os vendedores dos ativos verão os seus depósitos nos bancos comerciais aumentar. Tenderão então a procurar aplicações mais vantajosas do que um depósito, por exemplo, obrigações e ações. Essa procura de obrigações e de ações contrariará a tendência de deflação destes ativos e disponibilizará às empresas uma fonte de financiamento mais barato. Supõe-se deste modo que o investimento voltará a crescer, criando emprego, e que os negócios voltarão progressivamente aos velhos hábitos.

Que intervenções deste tipo do Banco Central tendem a suster a queda do preço dos ativos reais e financeiros não há qualquer dúvida. Nesta crise, passado o choque inicial, ao mesmo tempo que os índices de preços no consumidor indiciam deflação, as cotações dos ativos nos mercados financeiros não têm parado de subir.

A dúvida reside na transmissão desse efeito ao conjunto da economia. A razão é simples: o investimento financeiro só propicia o investimento «real» – o que cria emprego – se existir procura para os bens e serviços gerados por esse investimento. Mas como a moeda criada pelas intervenções do Banco Central está a afluir para as contas dos agentes que detinham ativos financeiros, e não para as dos trabalhadores ou dos consumidores em geral, a procura continua insolvente e o dinheiro criado permanece em circulação no setor financeiro, inflacionando o preço dos ativos sem gerar investimento capaz de criar emprego.

A quem serve esta política do Banco Central?

Compreender melhor como na realidade os bancos criam moeda ajuda a ver para lá das aparências. Conhecendo os mecanismos da criação monetária, quando ouvimos dizer que «não há dinheiro» devemos pelo menos sorrir. Na realidade, dinheiro é o que não falta. E quando falta, faz-se. E assim como se faz encaminha-se. Quando não são os bancos comerciais a fazê-lo pode ser o Banco Central.

A política dos Bancos Centrais ao longo desta crise tem servido principalmente os detentores de ativos financeiros [2]. Impede que a sua riqueza se evapore. O encaminhamento do dinheiro criado pelo Banco Central para a compra de ativos financeiros conserva ou aumenta o valor de mercado dos ativos que constituem a riqueza financeira de quem os detém.

É certo que este dinheiro podia ser encaminhado de outra forma. Podia financiar o Tesouro e propiciar investimento público e criação de emprego, em momentos em que poucos privados querem correr esses riscos. No entanto, este tipo de encaminhamento não é o que predomina. O Banco Central Europeu está mesmo impedido de o fazer pelos tratados.

Se as pessoas soubessem que o dinheiro criado pelos bancos, incluindo o Banco Central, podia financiar a criação de emprego, e não os detentores de ativos financeiros, haveria uma revolução amanhã de manhã? Não sabemos. O que sabemos é que o sistema bancário moderno, provavelmente ainda mais do que no tempo de Henry Ford, tende a sobrepor os interesses dos donos do capital financeiro ao interesse público.

Os Bancos Centrais foram transformados nos últimos anos em entes muito estranhos. Dizia-se que não podiam ser controlados pelo poder político democrático porque governos democraticamente eleitos não resistiriam à tentação de financiar despesa pública com criação monetária pelo Banco Central, gerando deste modo tensões inflacionistas e dívidas públicas incontroláveis.

Os Bancos Centrais foram então tornados «independentes». As suas administrações deixaram de ter de seguir orientações ou prestar contas aos poderes democraticamente constituídos. No caso do BCE, foi determinado que não financiassem a despesa pública, nem se preocupassem com o desemprego. O seu mandato incluía apenas o controlo da inflação.

Acontece, no entanto, que a prática dos Bancos Centrais, a sua obsessão com resgates bancários e intervenções orientadas para a sustentação do preço dos ativos financeiros, a própria origem e circulação do seu pessoal dirigente, sugerem que longe de se terem tornados independentes, os Bancos Centrais se tornaram num conselho de administração de um poder financeiro dotado do poder de criar, destruir e encaminhar dinheiro.

Isento de qualquer forma de controlo democrático este poder financeiro constitui-se hoje numa ameaça à democracia.

Finança e democracia

Longe de serem instrumentos de controlo da sociedade sobre a atividade bancária, os Bancos Centrais transformaram-se em instrumentos de controlo da sociedade pelo sistema financeiro.

Em parte alguma, como na Europa, o Banco Central, e o sistema bancário a ele associado, assumiu tantos poderes. Além dos poderes de criar, destruir e encaminhar dinheiro, o Banco Central Europeu assumiu poderes diretamente políticos. Quem não se lembra das cartas do seu governador aos primeiros-ministros de Espanha e da Itália (e outras pressões dirigidas à Irlanda e Chipre) impondo-lhes políticas de «ajustamento estrutural» e «consolidação orçamental» que nada têm a ver com o seu mandato, sob pela de deixar de intervir nos mercados secundários de títulos de dívida pública e deixar as taxas de juro da dívida dispararem?[3] Nenhum destes primeiros-ministros ficou muito tempo no seu posto depois disso. Em Espanha perdeu as eleições, em Itália foi substituído, sem eleições, por um banqueiro de confiança, como já tinha sucedido na Grécia.

Não é exagero dizer que na Eurozona quem hoje detém os instrumentos mais poderosos da governação – quem tem o poder de dizer «não há dinheiro» – é uma entidade não eleita, não sujeita ao escrutínio democrático, na realidade dependente do sistema financeiro e dos seus interesses.

Devemos admirar-nos com o crescente divórcio entre sistema político e os cidadãos? Votar ou não votar nos que se apresentam para fazer «o que é possível» parece fazer pouca diferença. No quadro do que parece ser possível, quem manda, independentemente dos governos de turno, não chega sequer a ser uma senhora Merkel qualquer. Quem manda é o sistema financeiro.

Passados mais de cinco anos do início da crise provocada pelo negócio bancário levado para lá de todos os limites, desviados biliões públicos para resgates bancários, há um resgate que ficou por fazer – o resgate da democracia do cativeiro do poder financeiro. Isso é o «impossível» que é preciso fazer.  
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[1] Isso mesmo é o que nos vem agora dizer o Banco de Inglaterra num boletim que pode ser facilmente encontrado na internet emhttp://www.bankofengland.co.uk/publications/Documents/quarterlybulletin/2014/qb14q102.pdf. O boletim é acompanhado por um vídeo que pode ser encontrado em http://www.bankofengland.co.uk/publications/Documents/quarterlybulletin/....
[2] 4,5 biliões de ‘ajuda’ entre Outubro de 2008 e Outubro de 2011, istp é 36,7% do PIB da UE (Relatório do High-level Expert Group on reforming the structure of the EU banking sector, Presido por Erkki Liikanen , Bruxelas, 2 outubro 2012.http://ec.europa.eu/internal_market/bank/docs/high-level_expert_group/re...

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