quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

AS ASSOMBRAÇÕES QUE RONDAM A ORTODOXIA EUROPEIA

 


Flávio Aguiar, Berlim – Opera Mundi - foto EFE
 
Na mesma semana em que a Economist pede a cabeça de Mantega, bom aluno Monti anuncia renúncia e BC alemã diminui expectativa de crescimento
Lasciate ogni speranza voi che entrate (inscrição na porta do Inferno de Dante...)

Na semana em que a revista The Economist, num rompante intempestivo, pediu, no bom estilo colonialista, a cabeça do ministro Guido Mantega, invadindo o espaço político brasileiro, quem acabou oferecendo a sua foi o premiê italiano Mario Monti, o tecnoburocrata que os mandantes da União Européia nomearam na Itália para por a casa em ordem.

Seria trágico, se não fosse cômico.

A tragédia já está no ar. Seu pano de fundo e roteiro, no momento, são os planos de “austeridade” que vão devastando a Europa pelas bordas e pelo centro, onde ela está chegando devagarinho, mas com acenos firmes de que vem por aí.

Também ao findar a semana o poderoso Banco Central Alemão, onde reina o menino prodígio da ortodoxia, Jens Weidmann, anunciou que rebaixara drasticamente as expectativas de crescimento econômico da Alemanha para este ano que finda e para o próximo. Não vi Economist nenhuma pedindo a cabeça do ministro das Finanças Wolfgang Schäuble por conta disso, que foi o pretexto alegado para pedir a queda de Mantega. Queda, não: a expulsão do ringue. Talvez até com aquelas degradações militares. Só que no caso de um ministro civil, imagino, deva-se cortar-lhe os botões do paletó, a ponta da gravata e a cinta, algo assim.

Em verdade, em verdade, o que provocou a intervenção destrambelhada da revista na política de um país soberano – aliás, não qualquer um, mas a sexta economia do mundo (aliás, de passagem, como vai ficar a reunião do G-8 agora? O Brasil entra ou não entra?) – foi muito provavelmente o relatório recente da OCDE (Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico), já comentado aqui, bem como a reação de nossa preclara mídia velha a ele.
 
Na verdade, o relatório é elogioso ao Brasil, ainda que carregado de observações ortodoxas. Prevê ele que as medidas tomadas pelo governo brasileiro (com a liderança da presidenta Dilma e do ministro Mantega agora de cabeça posta a prêmio) frutificarão no ano que vem e em 2014, de modo muito positivo. Ao mesmo tempo aponta as fragilidades da política econômica norte-americana e da recessão europeia.

Ora, para quem defende com unhas e dentes a ortodoxia econômica, isso é insuportável, pois pode jogar suas ideias no arquivo morto da história – mais uma vez, como já aconteceu na América Latina e no Sudeste Asiático.

É óbvio – só não vê quem não quer – que a política ortodoxa está afundando a Europa em um redemoinho de longa duração e efeitos ainda imprevisíveis no seu conjunto, ameaçando transformar a União Europeia – um patrimônio da humanidade, como muito bem definiu o ex-presidente Lula na semana passada em Berlim – no palco de uma tragédia de dimensões continentais, mais uma a devastar este continente.

Portanto justifica-se o açodamento intempestivo, de índole colonial, repito, da revista: é que veio puxar-lhe os pés, de debaixo do tapete, a abantesma [assombração] de mais uma contundente derrota ideológica. Ela, que já investira recentemente com armas e bagagens contra o presidente Hollande, quis atacar agora o “perigo” que lhe vem d’além-mar, o país-besouro que, segundo seu credo, não devia voar, mas que, no entanto, avoa. E isso num momento em que, na Europa inteira, crescem as rebeldias anti-ortodoxas e anti-austeridade.

Como se isso não bastasse o paladino da ortodoxia (embora com algumas rebeldias) em Roma jogou a toalha e anunciou que assim que for votado o novo orçamento “austero”, ele renuncia. Em conseqüência disso as eleições nacionais italianas, que deveriam se realizar em abril, deverão ser antecipadas para fevereiro.

Qual a razão dessa atitude aparentemente fora do eixo? Bem, ela é muito clara: o PdL (Partido da Liberdade), de Sílvio Berlusconi, anunciou que, votado o orçamento, não apoiará mais Monti, fazendo com que a posição deste no Parlamento periclite. Ele mesmo disse que essa atitude do PdL equivalia a um voto de desconfiança.

Por que o partido de Berlusconi tomou essa atitude? Porque seu líder maior anunciou, depois de várias idas e vindas, que vai mesmo disputar o cargo de primeiro-ministro nas eleições. O PdL, que já quase teve maioria absoluta no Parlamento, hoje está com 15% das intenções de voto, e sem seu líder carismático no páreo, daí não se alevantará. Como essa palavra é comum de dois gêneros, pode-se dizer que o que derrubou Monti foi a volta... do abantesma, que saiu do armário e voltou a assombrar o castelo europeu, ele que fora desbancado pelo comando de Bruxelas e Frankfurt por desordenar a casa romana.

Tais movimentações e reações mostram o impasse em que a ortodoxia econômica está mais uma vez entrando. Não soluciona nada na Europa, só piora a situação. Ao mesmo tempo, na América Latina os não-ortodoxos, apesar do esperneio e da gritaria cada vez mais histérica das elites orotodoxas e seus porta-vozes na mídia arcaica, fazem o bem-estar da população nadar de braçada. Os fantasmas que aquela ortodoxia pensava condenar ao ostracismo voltam à cena.

Só dizendo mesmo: pobre Economist, perdida no mato e com a cachorrada latindo atrás.

Flávio Aguiar é correspondente internacional da Carta Maior em Berlim.
 
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Polícia timorense destaca mais de 1.000 efetivos para garantir segurança no Natal

 

MSE – EJ - Lusa
 
Díli, 12 dez (Lusa) - A Polícia Nacional de Timor-Leste (PNTL) anunciou hoje que vai destacar mais de mil polícias para garantir a segurança durante o período entre o Natal e a passagem de ano.
 
"Para a operação foram destacados todos os comandos distritais, quatros unidades e a direção nacional de trânsito rodoviário. Cerca de 700 elementos em Díli e pouco mais de 100 por cada distrito", afirmou o comandante da PNTL, comissário Longuinhos Monteiro.
 
A operação vai começar no dia 21 e prolongar-se até depois da passagem de ano, disse Longuinhos Monteiro, em conferência de imprensa.
 
"Queremos garantir a segurança e queremos que as comunidades possam cumprir os seus deveres de apoiar as autoridades policiais", afirmou o comissário timorense, pedindo a colaboração das autoridades locais.
 
O comandante da PNTL anunciou a detenção de cinco cidadãos timorenses e duas mulheres indonésias por tráfico de estupefacientes.
 
Nos últimos meses, as forças de segurança timorenses detiveram várias pessoas, timorenses e estrangeiros, na maioria indonésios, pelo tráfico de estupefacientes.
 

Moçambique: MAIS ÁGUA PARA MAPUTO E CHICAMBA, ECONOMIA VAI CRESCER

 


Abastecimento de água em 2013: Maputo e Chicamba nas prioridades do FIPAG
 
Notícias (mz)
 
O FUNDO de Investimento e Património de Água (FIPAG) definiu como principais actividades para próximo ano, a ampliação da rede para atender a demanda no corredor do grande Maputo e o melhoramento do abastecimento de água com a conclusão da reconstrução de infra-estruturas em curso no projecto de Chicamba, província de Manica, são as principais decisões anunciadas no final da sua reunião anual, que teve lugar ontem, em Inhambane.
 
De acordo com o director executivo, Pedro Paulino, para 2013 o FIPAG conta com cerca de 50 milhões de dólares norte-americanos, dos 80 milhões mobilizados pelo Governo junto dos parceiros para operacionalizar os planos previstos.
 
Pedro Paulino explicou que a obra da construção da estação de captação de água na cidade de Cuamba, província do Niassa, bem como a conclusão da ampliação da rede de abastecimento, avaliada em pouco mais de cinco milhões de dólares, também surge no pacote das prioridades no ano que se avizinha.
 
“Mas também vamos concentrar esforços no melhoramento da distribuição do precioso líquido na capital do país, bem como nas vilas de Boane e Marracuene, incluídos no projecto do grande Maputo”, indicou o director executivo do FIPAG, Pedro Paulino.
 
Serão feitas em todo país onde opera o FIPAG cerca de 58.294 novas ligações, montados 30 fontenários públicos e o tempo médio de fornecimento de água poderá ser de 16 horas por dia, bem como perspectiva-se o aumento da eficiência no atendimento, reforçando a organização interna da instituição.
 
Actualmente, o FIPAG actua em 21 cidades e vilas autárquicas, abrangendo cerca de cinco milhões de habitantes em todo país. Foram feitas até Novembro passado cerca de 53.655 ligações e construídos 22 novos fontenários públicos.
 
Ainda este ano, foram grandes realizações da FIPAG, segundo informou Pedro Paulino, a montagem de 6.178 contadores, substituição de 2.614 metros de tubo obsoleto, reparação de 13.805 fugas nas redes ramais através de combate a fugas, colocação de quatro ventosas ao longo da linha de transporte da barragem, execução de 6.091 novas ligações domiciliárias e extensão de 39 quilómetros de rede, entre outras actividades.
 
Governo moçambicano prevê crescimento da economia nacional até 8,4 por cento
 
12 de Dezembro de 2012, 15:31
 
Maputo, 12 dez - O Governo moçambicano prevê um crescimento da economia nacional até 8,4 por cento no próximo ano e uma taxa de inflação média anual inferior a 7,5 por cento, refere o Plano Económico Social hoje apresentado ao parlamento.
 
O executivo estima que em 2012 as exportações de bens vão aumentar 14 por cento, ultrapassando 3,5 mil milhões de dólares (mais de 2,6 mil milhões de euros) e as reservas internacionais líquidas vão atingir 281 milhões de dólares (mais de 215 milhões de euros), suficientes para cobrir 4,8 meses de importações de bens e serviços não fatoriais.
 
"O Plano Económico e Social e o Orçamento do Estado para 2013 têm em vista dar continuidade à materialização das aspirações do nosso povo, no âmbito do cumprimento do Programa Quinquenal do Governo para o período 2010-2014", justificou o primeiro-ministro, Alberto Vaquina, durante a apresentação do documento.
 
O aumento da rede escolar, sanitária e elétrica, bem como a construção e reabilitação de estradas, pontes e fontes de abastecimento de água continuarão a ser prioridades da ação do Governo em 2013, acrescentou Alberto Vaquina.
 
"Continuaremos a promover a construção de habitação condigna, adquirir medicamentos para a assistência das populações nas unidades sanitárias, assegurar a promoção, progressão, mudança de carreira e o cumprimento de outros direitos dos funcionários públicos", afirmou o primeiro-ministro.
 
PMA // HB
 

Angola: ORÇAMENTO APROVADO, COOPERAÇÃO COM CABO VERDE, ACORDO DE VISTOS

 


Orçamento Geral do Estado angolano aprovado em Conselho de Ministros
 
11 de Dezembro de 2012, 17:13
 
Luanda, 11 dez (Lusa) -- A proposta do Orçamento Geral do Estado (OGE) angolano de 2013 foi aprovada hoje pelo Conselho de Ministros de Angola, anunciou a agência de notícias Angop.
 
No final da reunião, o ministro das Finanças angolano, Carlos Alberto Lopes, disse à imprensa que a proposta do orçamento foi construída sobre pressupostos que constam do Plano Nacional de Desenvolvimento 2013-2017.
 
O ministrou explicou que o plano assume uma inflação de nove por cento ao ano e uma produção petrolífera de cerca de 973,5 milhões de barris de petróleo, ao preço de 96 dólares (73,8 euros) por barril.
 
De acordo com o Plano Nacional de Desenvolvimento 2013-2017, o governo angolano prevê ainda um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 7,1 por cento, referiu o ministro.
 
Carlos Alberto Lopes afirmou que o OGE prevê, no total, receitas e despesas na ordem dos 6,6 triliões de kwanzas, referindo que 50 por cento das receitas a arrecadar serão geradas pelo setor petrolífero.
 
O setor não petrolífero vai gerar 17 por cento das receitas, os financiamentos internos 15 por cento e cerca de 11 por cento serão provenientes de financiamento externo.
 
O ministro disse que o OGE dá prioridade à ampliação das infraestruturas económicas e sociais, por serem o suporte para o aumento da produção, o que vai proporcionar medidas de crescimento do emprego e do bem-estar das populações.
 
"A predominância dessas despesas, por natureza económica, dizem respeito ao Programa de Investimento Público (PIP), fixadas em 24 por cento da verba, as despesas com o pessoal, com 19,44 por cento, e a aquisição de bens e serviços, com 17,8 por cento da despesa total", indicou o ministro, citado pela Angop.
 
Carlos Alberto Lopes disse que o OGE para 2013 prevê uma verba correspondente a 33,3 por cento do total para despesas no setor social, que corresponde a educação, saúde, ensino superior e assistência social.
 
O ministro sublinhou que, no domínio de educação, a proposta do OGE, que na sexta-feira será remetida à Assembleia Nacional angolana, reserva uma parte significativa da verba para o ensino de base.
 
CSR //JMR.
 
Angola e Cabo Verde reforçam cooperação a nível do poder local
 
11 de Dezembro de 2012, 19:46
 
Cidade da Praia, 11 dez (Lusa) -- Angola vai assinar um protocolo com Cabo Verde para conhecer a experiência cabo-verdiana em termos de poder local, tendo em vista as eleições autárquicas angolanas em 2015, anunciaram hoje os dois governos na Cidade da Praia.
 
A informação foi dada numa conferência de imprensa conjunta dos ministros do Ambiente, Habitação e Ordenamento do Território de Cabo Verde, Antero Veiga, e da Administração do Território de Angola, Bornito de Sousa.
 
O protocolo abrange a cooperação nas áreas de formação de quadros, funcionamento, relação entre o Governo e autarquias, intercâmbio entre empresários, académicos e organizações e formas de aplicar a legislação autárquica.
 
Bornito de Sousa disse que as eleições autárquicas em Angola estão marcadas para 2015 e, por isso, a necessidade de obter contributos através do conhecimento da experiência de Cabo Verde nesta matéria para instalação do poder autárquico.
 
O ministro angolano explicou ainda que no quadro desta cooperação, Angola poderá também receber quadros cabo-verdianos na Escola de Formação da Administração Local (EFAL).
 
Antero Veiga considerou que a visita do ministro angolano abre "as portas para uma nova dinâmica de relacionamento" entre os dois países.
 
"Já lançámos as sementes para relações muito mais fortes, mais profícuas e duradouras. Agora, vamos trabalhar um protocolo mais detalhado, que vai especificar a áreas e as valências em que poderemos cooperar", disse.
 
No âmbito da visita que efetua esta semana a Cabo Verde, o ministro da Administração do Território de Angola encontrou-se hoje de manhã com o primeiro-ministro, José Maria Neves, e vai ainda ter encontros de trabalho nos concelhos de Santa Cruz, Tarrafal, Praia e na Escola de Negócios de Cabo Verde.
 
CLI // PNG
 
Angola e Espanha vão analisar facilitação de vistos
 
12 de Dezembro de 2012, 16:00
 
Luanda, 12 dez (Lusa) - Os governos de Angola e Espanha, que assinaram hoje em Luanda três acordos de cooperação nos domínios dos transportes, aviação e gestão de portos, vão analisar nos próximos dias formas de facilitar a obtenção de vistos.
 
A informação foi dada à Lusa pelo ministro dos Assuntos Exteriores e Cooperação da Espanha, José Manuel García-Margallo, após a audiência com o Presidente angolano, José Eduardo dos Santos.
 
Segundo o governante espanhol, a questão da facilitação de vistos de serviço foi abordada com as autoridades angolanas e este será um dos primeiros assuntos a ser analisado, na quinta-feira, quando regressar a Madrid.
 
"O clima que temos entre os dois Governos, o trabalho que fazem os embaixadores (de Angola em Espanha e de Espanha em Angola) permite-nos dizer que em muito pouco tempo vamos ter uma resposta", disse, salientando que, dentro dos marcos legais do espaço Schengen, a Espanha vai dar "maior velocidade e agilidade à obtenção de vistos" em passaportes normais.
 
José Manuel García-Margallo disse ainda que manifestou ao Presidente angolano a disponibilidade de Espanha ajudar Angola no seu processo de reconstrução nacional, através de uma cooperação nos domínios das infraestruturas ferroviárias, energias renováveis e tratamento de águas residuais.
 
O ministro referiu ainda que as cifras de comércio de importação e exportação entre os dois países, que em 2011 atingiram os mil milhões de euros, são muito "modestas", todavia existe "muito espaço para recorrer um horizonte muito amplo".
 
Por sua vez, o ministro das Relações Exteriores de Angola, George Chicoti, considerou "extremamente importante" essa visita, que é a primeira que o seu homólogo realiza a África, e que teve como escolha Angola.
 
"Angola e a Espanha já têm relações estabelecidas há 35 anos e desde então essas relações têm vindo a crescer em vários domínios. Assinámos acordos nos domínios dos transportes, na aviação e na gestão de portos, mas também assinámos um acordo de aproximação entre os dois ministérios das relações exteriores e para os meses que vêm eventualmente haverão outras visitas importantes entre Angola e a Espanha", referiu o ministro.
 
Hoje de manhã, a ministra espanhola do Fomento, Ana Pastor, que integra juntamente com o secretário de Estado das Infraestruturas e Transporte, Rafael Catalã, a delegação espanhola assinou com o ministro angolano dos Transportes dois acordos no setor marítimo, para a gestão de portos e segurança marítima e uma nota verbal, com caráter definitivo, em matéria aeroportuária.
 
"No setor marítimo (assinámos) um acordo mediante o qual vamos realizar trocas de experiência, de conhecimento em matéria aeroportuária, em matéria de eficiência entre os nossos portos e no campo da segurança marítima", disse Ana Pastor.
 
A ministra espanhola realçou que Espanha é líder no sistema de controlo de tráfego aéreo, sublinhando que, ao nível da União Europeia, está a trabalhar com o projeto de selo único, que vai passar a cooperar com Angola no sentido de potenciar os seus aeroportos.
 
A delegação governamental espanhola, que regressa quinta-feira ao seu país, tem agendado ainda para hoje reuniões de trabalho com o ministro das Finanças, Carlos Lopes, e com o presidente do Conselho de Administração da petrolífera angolana Sonangol, Francisco de Lemos José Maria, e um encontro com a comunidade espanhola residente em Luanda.
 
NME // HB
 

Cabo Verde: AUMENTA A CORRUPÇÃO MAS A INFLAÇÃO VAI CAIR

 


Ex-Presidente Mascarenhas Monteiro alerta para aumento da corrupção em Cabo Verde
 
12 de Dezembro de 2012, 10:47
 
Cidade da Praia, 12 dez (Lusa) - O antigo Presidente cabo-verdiano António Mascarenhas Monteiro avisou que a corrupção em Cabo Verde "tende a alastrar-se" e pode atingir "níveis preocupantes".
 
Citado hoje pela agência Inforpress, Mascarenhas Monteiro falava terça-feira numa conferência sobre "Prevenção e o Combate a Corrupção", na Universidade Jean Piaget, e reconheceu que não se pode ter a "ilusória pretensão" de se proceder à erradicação total deste crime.
 
"No nosso país, a corrupção tende a alastrar-se e atingir níveis preocupantes, mas, infelizmente, há um défice no seu combate. Não tem havido um esforço consistente na luta contra a corrupção", disse.
 
Mascarenhas Monteiro, Presidente entre 1991 e 2001, indicou que há uma "certa impressão de complacência" em relação à corrupção e instou o Governo a dar um "combate sério" ao fenómeno que "tem consequências devastadoras" para a sociedade.
 
"É um flagelo que entrava o desenvolvimento e arruína os alicerces da democracia", sustentou o antigo Presidente cabo-verdiano, cujas afirmações levaram o ministro da Justiça cabo-verdiano, José Carlos Correia, a indicar que o Governo está "consciente da situação" e que está" atento a esse crime grave".
 
"Está explícito na nossa legislação penal como um crime grave e que desafia muita investigação. Temos feito investimentos muito importantes para que possamos dominar o instrumento da investigação e conseguir reduzir o nível de corrupção que existe no país", realçou.
 
Segundo José Carlos Correia, em 2013 está prevista a instalação no país do Departamento da Ação Penal, altura em que a Procuradoria-Geral da República (PGR) dará uma "atenção especial" à corrupção.
 
A conferência sobre a Prevenção e o Combate a Corrupção é uma ação conjunta entre na Universidade Jean Piaget e o Ministério da Justiça e insere-se na campanha "Agir contra a Corrupção".
 
JSD // HB
 
Inflação média de Cabo Verde em 2012 deverá cair para menos de 3% - banco central
 
12 de Dezembro de 2012, 12:09
 
Cidade da Praia, 12 dez (Lusa) - As projeções do Banco de Cabo Verde (BCV) apontam para uma descida, em 2012, da taxa de inflação média anual de 4,5 por cento para o intervalo 2,5 a 3 por cento, indica hoje a instituição.
 
No Relatório de Política Monetária, o BCV antecipa alguma pressão inflacionista, motivada pela recuperação da procura interna, aumento da tributação indireta e por uma forte procura externa, não obstante a desaceleração esperada.
 
A pressão inflacionista, lê-se no documento, deverá ser contrabalançada pela redução dos preços de produtos frescos produzidos internamente, pela moderação salarial e pela trajetória descendente da inflação importada.
 
Neste contexto, em termos médios, em 2013, os preços no consumidor deverão aproximar-se do intervalo entre os 2,5 e os 3,5 por cento.
 
O crescimento da economia deverá desacelerar de 5,1 por cento para um valor próximo da tendência central do intervalo 4 a 5 por cento em 2012. Prevê-se para 2013 uma desaceleração adicional.
 
As projeções macroeconómicas do BCV indicam ainda uma expansão da procura externa líquida, em resultado da diminuição das importações de mercadorias e do aumento das exportações de bens e serviços relacionados com o turismo.
 
No entanto, o BCV adianta que tal não será suficiente para compensar a redução da procura interna em 2012.
 
A desaceleração adicional do ritmo de crescimento do PIB prevista para 2013 estará associada a um menor contributo da procura externa líquida, numa conjuntura de recuperação moderada da procura interna, impulsionada sobretudo pela aceleração do consumo e investimento público.
 
O Produto Interno Bruto (PIB) deverá manter-se no intervalo entre os 4 e os 5 por cento e as reservas internacionais líquidas deverão atingir os 271 e 289 milhões de euros, respetivamente nos anos de 2012 e 2013.
 
JSD // HB
 

Guiné-Bissau: “TRANSACIONÁRIOS” DOS GOLPISTAS ZANGADOS, PEDIDO DE CONTAS AO PRS

 


Partidos do Pacto de Transição da Guiné-Bissau recusam ser marginalizados
 
12 de Dezembro de 2012, 17:56
 
Bissau, 12 dez (Lusa) - Os partidos que assinaram o Pacto de Transição na sequência do golpe de Estado na Guiné-Bissau, em abril, recusam ser "postos à margem" do processo de transição em curso no país e criticam a Assembleia Nacional Popular (ANP).
 
Os partidos entregaram hoje no Supremo Tribunal de Justiça uma "Adenda ao Pacto de Transição Política" na qual acordam que a ANP (cujo mandato deveria já ter terminado) veja o mandato prorrogado até novas eleições, passando a designar-se Assembleia Nacional Popular de Transição.
 
Nesta Assembleia, segundo a Adenda, as votações devem obedecer a consensos políticos e as comissões devem de ser extintas, criando-se uma "Comissão Especial Paritária", que integre um representante de cada um dos partidos políticos legais e um representante da sociedade civil.
 
Diz o documento que todas as matérias relativas à reestruturação do Estado serão previamente discutidas e aprovadas por consenso pela Comissão Paritária e só depois adotadas pela Assembleia.
 
O Pacto de Transição foi assinado após o golpe de Estado de 12 de abril por diversos pequenos partidos e pelo Partido da Renovação Social (PRS), ã segunda maior força política do país. Os militares, que fizeram o golpe, também assinaram o documento. O Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), no poder até 12 de abril, recusou.
 
Hoje, ao depositar o documento no Supremo Tribunal, Fernando Vaz, dirigente da União Patriótica Guineense (UPG, pequeno partido), disse que os partidos signatários do Pacto não aceitam ser postos à margem do processo de transição, no qual participaram desde o primeiro momento.
 
"A 'parlamentarização' da transição política é contestada por nós, uma vez que os outros partidos terão uma posição residual" e querem ter "um papel ativo" no período de transição, disse aos jornalistas.
 
No último mês os dois maiores partidos entenderam-se na ANP e votaram a prorrogação do mandato até às próximas eleições, criaram uma Comissão para debater o processo de transição e elegeram um novo presidente da Comissão Nacional de Eleições (CNE).
 
Os partidos fora da esfera parlamentar não querem ser deixados à margem do processo, perante o protagonismo da ANP, e hoje mesmo entregaram no Supremo Tribunal de Justiça um pedido de suspensão da posse do novo presidente da CNE (escolhido pelo PAIGC), o juiz conselheiro Rui Nené.
 
Os partidos alegam que a lei aponta que o cargo deve de ser preenchido por "magistrados de segunda instância", que não é o caso, e para o desempenho da função seria necessário também ter o consentimento prévio do Conselho Superior de Magistratura, o que não aconteceu.
 
Para Fernando Vaz, ministro da Presidência e porta-voz do Governo de transição, tudo se trata de "uma manobra do PAIGC" para "puxar a brasa à sua sardinha".
 
A ANP, disse, não tinha o direito de prorrogar o mandato e o Pacto de Transição não foi respeitado.
 
A Adenda ao Pacto de Transição Política, hoje entregue no Supremo Tribunal, tem a assinatura de 21 dirigentes de outros tantos partidos. Na cópia do documento entregue à Lusa não aparece o PRS, que faz parte do Pacto e que agora chegou a vários consensos com o PAIGC ao nível do parlamento.
 
FP // HB
 
Militantes do PRS guineense pedem "contas" aos últimos dirigentes do partido
 
12 de Dezembro de 2012, 20:02
 
Bissau, 12 dez (Lusa) - Os militantes do Partido da Renovação Social (PRS), segunda maior força política da Guiné-Bissau, reunidos no 4.º congresso, passaram hoje grande parte dos trabalhos a pedir contas sobre o desempenho da direção nos últimos anos.
 
Quase todos os 240 delegados que usaram da palavra no dia de hoje pediram explicações à direção cessante, encabeçada formalmente pelo ex-Presidente guineense e fundador do PRS, Kumba Ialá, sobre o património financeiro do partido e as estratégias seguidas para a conquista do eleitorado.
 
O candidato à liderança do partido, Aladje Sonco, uma figura pouco conhecida nas hostes do PRS, acabou por entrar numa troca de palavras com Kumba Ialá, quando insinuou que o partido tem privilegiado pessoas pouco qualificadas para lugares de destaque, deixando para trás os quadros.
 
"Quem quiser fazer um partido de cientistas que vá formar o seu próprio partido, que saia do PRS. Um partido não se faz apenas com quadros", observou Kumba Ialá, que pediu a palavra momentos depois de Aladje Sonco ter criticado a direção.
 
Ao contrário de outros congressos do PRS, Kumba Ialá tem assistido a todos os debates, posicionando-se mesmo em frente à mesa que preside a reunião. Observadores da vida interna do PRS dizem que a sua presença visa "acalmar os ânimos".
 
"Como fundador e figura mítica do PRS, Kumba Ialá, é a reserva moral deste partido. A sua presença é para acalmar os ânimos que possam estar exaltados, afinal isto é um congresso", disse à agência Lusa um membro da comissão política, que pediu para não ser citado.
 
Uma outra figura dos renovadores que marcou a sessão de hoje foi Artur Sanhá, antigo primeiro-ministro, ex-secretário-geral do PRS e atual presidente da Câmara Municipal de Bissau.
 
Num discurso que suscitou muitas interrogações dos congressistas, Artur Sanhá disse esperar que o congresso decida sobre o seu pedido de desvinculação do partido, uma vez que em duas ocasiões já o tinha feito sem sucesso.
 
"Quero que o congresso decida sobre o meu pedido de desvinculação do PRS, pois penso que não há mais espaço para continuar", defendeu Artur Sanhá, para logo de seguida pedir unidade e coesão entre os militantes para que o partido possa vencer os próximos embates eleitorais.
 
O presidente da sessão, Certorio Biote respondeu a Artur Sanhá, para lhe dizer que à mesa do conclave não chegou nenhum pedido formal de desvinculação.
 
Militantes, conhecidos ou não, todos questionam a forma como o partido se está a preparar para as próximas eleições, todos perguntam pelo património e pela situação financeira do PRS.
 
MB // ARA.
 

Guiné-Bissau: KUMBA AMIGO A CHINA ESTÁ CONTIGO, PARLAMENTO DE FÉRIAS

 


Embaixador chinês único diplomata a falar no congresso do partido de Kumba Ialá
 
11 de Dezembro de 2012, 19:07
 
Bissau, 11 dez (Lusa) - O embaixador da China em Bissau, Li Baojun, foi o único representante de um país estrangeiro a usar da palavra na abertura do 4.º congresso do Partido da Renovação Social (PRS), do ex-presidente guineense Kumba Ialá.
 
Num discurso lido em português, Li Baojun, aplaudido de pé pelos congressistas quando subiu ao palanque, afirmou que a China, através do Partido Comunista Chinês (PCC), "mantém boas relações e de longa data com o PRS".
 
"Estamos empenhados cada vez mais em reforçar essa cooperação, mas dentro do respeito recíproco e sem ingerência nos assuntos internos dos nossos dois partidos e países", disse o diplomata chinês.
 
Depois de discursar, Li Baojun cumprimentou efusivamente Kumba Ialá, que se encontrava na mesa de honra do congresso, a decorrer em Bissau e no qual participam 801 delegados daquela que é a segunda força política da Guiné-Bissau.
 
O embaixador de Cuba também assistiu à abertura do congresso dos renovadores guineenses, mas não usou da palavra.
 
Sem o tradicional barrete vermelho, Kumba Ialá foi o principal orador na abertura do congresso e num discurso de 39 minutos falou dos motivos que o levaram a fundar o PRS, "das matanças que ocorreram no país" desde 1974, da "desgovernação" do PAIGC e da sua eleição ao cargo de chefe de Estado em 2000.
 
"Quando tentavam endireitar o país deram o golpe de Estado. Resignei ao meu mandato em nome da paz e da estabilidade", disse, explicando mais uma vez a sua versão sobre os motivos que levaram ao último golpe de Estado no país (em abril passado), que destituiu o primeiro-ministro Carlos Gomes Júnior e o Presidente interino, Raimundo Pereira.
 
Para Kumba Ialá, os dois foram derrubados pelos militares "porque governavam o país mal e sem o respeito pelos direitos humanos".
 
Convidados de honra, vários dirigentes de partidos guineenses usaram da palavra, com destaque para António Óscar Barbosa, membro do 'bureau' político do PAIGC (Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde, maior partido) que desejou "um bom congresso ao PRS".
 
"Nós do PAIGC queremos a unidade nos partidos, naturalmente queremos e desejamos que o PRS saia deste seu congresso mais unido e coeso, que é o que também estamos a fazer no nosso partido", afirmou Óscar Barbosa.
 
Antigo ministro dos Negócios Estrangeiros e atual presidente do PND (Partido da Nova Democracia), Mamadu Iaia Djaló, ex-dirigente do PRS, disse esperar que do congresso hoje iniciado não haja rutura do partido de Kumba Ialá.
 
"Desejo que não haja turbulências como no passado ao ponto de o partido acabar no tribunal devido às disputas pela liderança", sublinhou Djaló, atual diretor geral do Instituto da Previdência Social.
 
Quem também usou da palavra e para ser bastante aplaudido pelos congressistas foi Fernando Delfim da Silva, antigo ministro e atual analista político, que afirmou que "a democracia guineense sai a ganhar com um PRS forte", estando este partido no poder ou na oposição.
 
Os trabalhos do congresso arrancaram na tarde de hoje com a eleição da mesa do conclave. Para quinta-feira, está prevista a eleição do novo presidente e novo secretário-geral do PRS.
 
MB // PNG
 
Parlamento da Guiné-Bissau vai de férias em clima de elogios e concórdia
 
12 de Dezembro de 2012, 16:58
 
Bissau, 12 dez (Lusa) - A última sessão legislativa deste ano da Assembleia Nacional Popular (ANP) da Guiné-Bissau terminou hoje com rasgados elogios de todas as bancadas ao trabalho dos deputados e em clima de grande concórdia.
 
A próxima sessão ficou marcada para fevereiro de 2013, tendo na sessão que hoje terminou sido prorrogada a legislatura (até novas eleições) e sido preenchidos os lugares vagos na mesa da ANP.
 
Durante o último mês os deputados também elegeram um presidente para a Comissão Nacional de Eleições (CNE), reviram a lei de recenseamento eleitoral e aprovaram (em votação final global) um projeto de lei sobre a carreira docente universitária e o estatuto da carreira do pessoal efetivo da ANP.
 
São "resultados tão palpáveis, tão evidentes, que dispensam qualquer comentário", disse Rui Diã de Sousa, líder da bancada parlamentar do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), o maior partido da Guiné-Bissau.
 
O responsável lembrou que a ANP esteve muito tempo parada, na sequência do golpe de Estado de 12 de abril passado que afastou os dirigentes eleitos, e disse que os deputados saem "com o sentimento do dever cumprido".
 
"Este é o caminho certo para levar o período de transição até às eleições. Todos os deputados estão de parabéns", disse Rui Diã de Sousa, no que foi secundado pelo líder do Partido da Renovação Social (PRS, segundo maior partido), Serifo Djaló.
 
No último mês os deputados mostraram "que o país é superior a qualquer interesse partidário", disse Serifo Djaló, acrescentando que demonstraram também "ao povo guineense e à comunidade internacional que os guineenses, podem reconciliar-se".
 
Alberto Silva, falando em nome do Partido Republicano da Independência e Desenvolvimento (PRID), aproveitou para dizer que a eleição do presidente da CNE seguiu todas as leis e que se alguém não o entendeu que procure informar-se, em resposta aos pequenos partidos, que hoje mesmo entregaram no Supremo Tribunal de Justiça um pedido de impugnação da eleição do juiz Rui Nené como presidente da CNE.
 
Recados deixou também o presidente da ANP, Ibraima Sory Djaló, que na hora de desejar bom Natal e bom 2013, e de felicitar a união de todos os deputados, disse não estar preocupado com críticas, porque a ANP está a trabalhar, que foi o que povo lhe pediu para fazer.
 
"Estamos unidos, continuamos unidos, e não nos vamos preocupar com ameaças", disse, acrescentando que os deputados não estão a tratar de assuntos partidários mas de assuntos para a Guiné-Bissau.
 
Sory Djaló disse também não entender porque é que há pessoas irritadas com a criação de uma Comissão Parlamentar sobre o processo de transição, visto que a mesma não foi criada para excluir ninguém, e disse ainda que há pessoas que não entendem "o valor da ANP".
 
Uma hora depois das palavras de Sory Djaló um porta-voz dos pequenos partidos garantia que os mesmos não iam aceitar "a parlamentarização da transição política".
 
FP //JMR.
 

Portugal - Mário Soares: “NUNCA UM GOVERNO FOI TÃO ODIADO. NEM O DE SALAZAR”

 

Diário de Notícias
 
Para Mário Soares o Governo tem de mudar de política ou deve demitir-se. Diz ainda que Orçamento de Estado para 2013 "não devia ser Constitucional", porque é "péssimo" para o país e que Cavaco "tem estado demasiado calado".
 
Em entrevista à TVI24, o ex-Presidente da República assegura que "nunca um Governo foi tão humilhado e odiado pelas pessoas como o atual, nem no tempo de Salazar, porque esse sabia manejar as coisas de outra maneira". Soares considera que este Executivo tem a habilidade de pôr tudo contra eles", mesmo os "mais ricos e poderosos", "as Forças Armadas, as forças de segurança e até a Igreja". E vai mais longe ao comparar o desempenho de Passos Coelho com o de José Sócrates: "As pessoas já estão a pensar que afinal foram um bocado injustas com Sócrates."
 
Na entrevista deixa bem claro que "se tivesse um pouco de bom-senso, o Governo demitia-se, mas infelizmente não tem. Eu, se não pudesse sair à rua, se tivesse tudo o que conta na sociedade contra mim, há muito tempo que me tinha demitido. Demiti-me duas vezes por menos do que isso", lembrou.
 
Soares admitiu que há "perigo" na contestação dos militares ao Governo e voltou a avisar Passos Coelho que este "corre riscos". "Quando digo que ele corre riscos não é para o amedrontar, que ele não é um homem covarde. É para o avisar, no melhor sentido da palavra. Dizer-lhe para ter cuidado não é para o insultar ou criar medo, estou convencido é que devia cuidar da vida dele. O primeiro-ministro corre riscos efetivos e eu gostava que ele não corresse, que ele não saísse de forma violenta", afirmou.
 
O histórico socialista considera ainda que Cavaco Silva "tem estado demasiado calado", "vai ter um grande problema com o Orçamento de Estado" e espera que este não vá em frente. E justifica: "seja ou não inconstitucional, é péssimo para o país, por isso não devia ser constitucional. Se for inconstitucional, vai haver muitos problemas", alertou Mário Soares.
 

Portugal: QUE PARLAMENTO É ESTE?

 

Baptista-Bastos – Diário de Notícias, opinião
 
Há dias, na TVI 24, o prof. Paulo Morais fez um requisitório violento sobre a corrupção, e os interesses que se entrelaçam nos deputados do "arco do poder." Segundo disse, de manhã encontram-se, jovialmente, nos escritórios de advogados e, à tarde, vão ao Parlamento representar aqueles que lhes pagam.
 
Paulo Morais ferrou-lhes o nome a fim de marcar a ignomínia do procedimento. A corrupção só acabará quando eles forem varridos. Tarefa acaso difícil, mas não impossível e ao alcance da nossa cidadania. A urgente necessidade dessa empresa corresponde ao facto de "a nossa democracia estar moribunda". Paulo Morais, professor universitário no Porto, raramente é chamado pelas tv's; no entanto, o que diz, pelas verdades que comporta, atroa os ouvidos.
 
É mau para a democracia atacar o Parlamento, asseveram cândidas almas. Que fazer, então? Deixar que os vendilhões se assenhoreiem do templo, e dar cobertura à bandalheira indicada pelo prof. Paulo Morais? Aceitar, de ânimo leve, que gente honrada, como outro que se não cala, o prof. Medina Carreira, seja enxovalhada por uma Justiça escabrosa e por jornalistas de baixo jaez e duvidoso estilo? As cumplicidades estabelecidas possuem ramificações tenebrosas. Medina Carreira foi, obviamente, vítima de uma perversidade sórdida, mas não fica imune da infâmia quem, sem curar de saber a veracidade dos factos, tratou de transformar uma insídia numa aparente verdade.
 
Este jornalismo de faca na liga talvez não prolifere; mas anda por aí, e os seus mosqueteiros (e mosqueteiras) são aplaudidos com desenvolta leviandade. A sociedade portuguesa sofre do mal do tempo, dizem. Contudo, a brutalidade das transformações, por muito aceleradas que sejam, não justificam as cedências e as baixezas a que assistimos. Quando Luís Marques Mendes, em outra barricada, condena Vítor Gaspar, por este nos tratar como "atrasados mentais", essa desordem e essa perturbação têm muito a ver com a consciência do descaso e com a admissão do imoral como norma.
 
Criticar o Parlamento e os que tripudiam sobre a nobre função de deputado, para sobrepor as suas conveniências aos imperativos sagrados do bem comum, não só amolga a democracia: também vilipendia aqueles que a traem. Andamos excessivamente preocupados com tratar delicadamente os que vão para a Assembleia apenas para tratar da vidinha. É tempo de dizer, com o prof. Paulo Morais, que (entre os demais) os drs. António Vitorino e Paulo Rangel já estiveram juntos, de manhã, no mesmo escritório de advogados, a defender causas e proveitos comuns; e, "separados", à tarde, na Assembleia, a pleitear questões aparentemente opostas. Talvez não haja conflito de interesses, mas o assunto causa engu- lhos, e atiça, certamente, suspeitas de ordem moral. Naquele extremo cume da extrema consciência [Camus] manifesta-se uma razão superior.
 
Por decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico
 

Portugal – Despedimentos: CGTP NÃO ACEITA REDUZIR INDEMNIZAÇÕES PARA 12 DIAS

 


Diário de Notícias - Lusa, publicado por Luís Manuel Cabral
 
A CGTP considerou hoje "inaceitável" a proposta do Governo de redução do pagamento das indemnizações por despedimento dos atuais 20 para 12 dias por ano de trabalho, o que pode representar perdas para os trabalhadores na ordem dos 60%.
 
"Isto pode levar a que os trabalhadores tenham reduções no valor do pagamento das indemnizações na ordem dos 30%, 40% e em alguns casos até de 60%. Isto não vai dinamizar a economia. Um trabalhador que receba uma indemnização tem que fazer os respetivos descontos para a Segurança Social e pagar os respetivos impostos ao Estado. Quanto menos receber, menos paga", criticou o secretário-geral da intersindical CGTP, Arménio Carlos, em declarações à Lusa.
 
"Isto vai ter implicações sobre as receitas fiscais e sobre a Segurança Social, que vai ter menos dinheiro", acrescentou.
 
Para o líder da CGTP, esta proposta é "inaceitável e digna do século XVIII ou XIX" porque promove a recessão e a precariedade em vez de promover o crescimento económico, e porque assenta numa lógica de "transferência direta dos rendimentos do trabalho para os rendimentos do capital", sem que isso se traduza em mais investimento.
 
"Isto não tem nada a ver com a competitividade do país, tem a ver com uma visão neoliberal de acentuação das desigualdades do país, que corresponderá a mais pobreza e exclusão social. É contra isso que nós estamos e não deixaremos de o dizer quando a proposta for apresentada formalmente", afirmou Arménio Carlos, que acusou o Governo de se ter transformado no "coveiro da economia".
 
A CGTP entende que esta proposta está associada a uma linha de intervenção do Governo "que visa reduzir os salários", lembrando a este propósito a redução do valor do pagamento das horas extraordinárias e o aumento dos impostos "com consequências no rendimento das famílias".
 
O secretário-geral da CGTP acusou ainda o executivo de Pedro Passos Coelho de preparar uma "proposta fraudulenta", ao procurar dar a ideia de que as empresas em Portugal pagam indemnizações em valores superiores aos da média europeia, o que, diz, "não é verdade".
 
"A CGTP já demonstrou que o cálculo para as indemnizações é feito sobre o salário base e as diuturnidades. Noutros países o cálculo é feito com base na retribuição, em que entram todas as matérias pecuniárias. Nós já desafiámos o Governo. Se quer modular o pagamento das indemnizações em Portugal pela média europeia, então que faça a média com base no pagamento em euros. Vai confirmar que as indemnizações que se pagam em Portugal são as mais baixas que se pagam em toda a zona euro", referiu.
 
O ministério da Economia confirmou à Lusa que vai apresentar aos parceiros sociais a proposta de reduzir o número de dias de indemnização por despedimento para 12 por ano, lembrando que o Governo já tinha falado em fazer convergir a medida com o que se pratica na Europa, passando para os 8 a 12 dias.
 
A meta indicativa é agora de 12 dias/ano, disse fonte oficial do ministério de Álvaro Santos Pereira, sublinhando que "a medida tem de ser acertada com os parceiros sociais" e que "os direitos adquiridos das pessoas estão garantidos".
 
O Diário Económico avançou, na edição de hoje, que a descida da indemnização por despedimento para 12 dias/ano é uma exigência da troika e tem como objetivo alinhar com a média europeia, citando um documento interno do Governo relativo à sexta avaliação da troika.
 
*Fotografia © Gustavo Bom - Global Imagens
 
Ler em Jornal de Notícias:
 

Portugal: André, filho de Miguel Portas, organiza manifestações estudantis

 
Miguel, o pai – André, o filho
Pedro Rainho – Jornal i
 
É um entre os muitos activistas que nos últimos meses tomaram a rua. Mas tem passado único, cujas pisadas faz questão de seguir
 
De megafone em punho, palavras de ordem ensaiadas, aos 19 anos André Portas preparava-se para ocupar a Cantina Nova da Universidade de Lisboa (UL), esta terça-feira, juntamente com outros elementos do Movimento Artigo 74. Um grupo de 50 alunos passou a noite no local em protesto contra o encerramento do serviço, anunciado há dias pela UL. Quatro décadas antes, o pai, o eurodeputado e fundador do Bloco de Esquerda Miguel Portas, era preso pela polícia política do Estado Novo por participar numa Assembleia Universitária na faculdade de Medicina de Lisboa. Era então estudante do Liceu Camões, em Lisboa.
 
Da semana na prisão – a que sempre preferiu chamar “detenção” –, Miguel Portas saiu de cabeça rapada, marca que o regime impunha aos estudantes desordeiros. André mantém o cabelo claro e comprido que quase lhe esconde os olhos, e não esteve nem perto de ser detido pela polícia. Mas do pai recebeu essa “influência decisiva” que o levou a integrar o activismo social. “São pisadas que quero seguir – não que tenho de seguir – e são influências decisivas, quanto mais não seja pelos valores morais que me foram transmitidos”. Sobretudo pela mãe, Ana Isabel Entrudo, com quem passou a infância e a maior parte da juventude. O pai, habituou-se a vê-lo sob os holofotes mediáticos, e através dessa janela foi absovendo a inspiração para o caminho que veio a seguir. “Quando uma pessoa liga a televisão e vê o pai, quando muda de canal e vê uma intervenção no parlamento, percebe os frutos que a vida política pode dar”.
 
Mas não para si. Pelo menos para já. “Ideologicamente próximo do comunismo”, André admite sentir “simpatia” pelo Bloco de Esquerda, mas o tempo não é de responder a apelas partidários. É o tempo de “desempenhar um papel político de activismo social, até por uma questão de coerência. A mudança tem de ser feita pelas pessoas, elas têm de ter um papel activo para que essa mudança ocorra, por isso, eu próprio tenho de desempenhar o meu papel”, justifica.
 
Chegou a Portugal há menos de seis meses, regressado de um temporada de dois anos em Bruxelas para terminar o ensino secundário, na Escola Europeia, e para passar algum tempo mais próximo do pai. Foi nessa altura que Miguel Portas viu ser-lhe diagnosticado um tumor no pulmão. Acompanhou a doença de perto – apesar de Portas ter sempre protegido o filho das notícias mais duras – e dele guardou uma máxima que diz que “é preciso encontrar um equilíbrio, também na forma como vivemos, entre tudo o que se faz. Não fazer nada de forma obsessiva, não ser extremista, porque os extremos fazem mal”.
 
Entrar em acção É com essa ideia em mente que André Portas regressa a um país afundado num lamaçal chamado crise, e é nesse momento que se dá o verdadeiro clique. A greve de 14 de Novembro serviu de mote para que se juntasse a outros jovens e formasse o grupo “Estudantes pela Greve Geral”, que teve continuidade no recém-baptizado Movimento Artigo 74. Nos últimos meses, ao mesmo tempo que se apresentava na licenciatura em História Moderna e Contemporânea do ISCTE-IUL, conheceu outros activistas, organizou manifestações e foi para a rua gritar contra os cortes que o Orçamento do Estado consagra para o Ensino Superior no próximo ano. Com a experiência, foi também ganhando forma uma consciência política que de alguma forma tinha nascido dois anos antes mas que se mantivera adormecida durante esse tempo. “Há uma grande influência do meu pai que me leva a participar no activismo, mas creio que é também uma questão moral, porque quando olhas à volta e vês pobreza, quando vês certas medidas a serem tomadas e um governo que apoia a austeridade – ao ser confrontado com estas situações, senti necessidade de intervir”.
 
Na cantina da UL passa agora um filme sobre o Maio de 68. Na plateia da sala de projecção improvisada estão perto de 40 estudantes universitários. André olha à volta, mas pensa sobretudo na realidade que fica para lá das paredes do edifício quando diz que entre os jovens “não há uma grande politização, não há grande consciência política nem vontade de intervir”. A culpa, garante, é da qualidade do ensino em Portugal, em particular do secundário, que promove “um incentivo à imbecilidade” dos adolescentes, ainda que a tendência seja a de que cada vez mais os jovens estejam atentos e queiram participar.
 
Decidido a dar o seu contributo, o discurso político revela-se na plenitude quando André vaticina que “já temos a assinatura no testamento, o caminho está praticamente marcado e não é um caminho bom”. Numa palavra, o país ainda não bateu no fundo. “Vamos ter níveis de desemprego brutais, fome e se neste momento já estamos muito, muito mal, vamos ficar pior”. Depois, espera, virá a reviravolta, rumo a “um futuro mais consistente, mais equilibrado, menos destrutivo, menos consumista e que seja mais sustentável”.
 
Da História, para a qual olha com a certeza de que se repetem os grandes momentos, André Portas destaca um ponto central: “Mudámos muito ao longo dos séculos, mas a questão estrutural é sempre a mesma: temos muita distância entre as classes – esta palavra já está cristalizada. O grande problema é sempre a desigualdade”.
 
*Foto com André: José Fernandes, em Jornal i
 

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