sábado, 17 de novembro de 2012

CAVACO SILVA PARTILHA ALDEIA DA COELHA COM DESALOJADOS ALGARVIOS

 

Susana Charrua
 
O título era exatamente igual ao constante na TSF Rádio Notícias. Dizia que o PR estava solidário com algarvios. Só por ver o título disse cá para mim: “grande coisa, palavras de circunstância e de conveniência”. Foi então que ao ler em diagonal a notícia fiquei muito feliz e surpreendidissima. Um brutal, enorme, colossal, sentimento de autoreprovação me assolou. Passo a explicar:
 
Naquela tão curta peça jornalistica residia a confirmação de como milhões de portugueses e portuguesas (incluindo eu) têm sido injustos e ingratos para com o PR Cavaco Silva. Envergonhada sorvi tim-tim por tim-tim a prosa. Cavaco Silva, algarvio, estava solidário com os algarvios vítimas do temporal de ontem. Um tornado que destruiu casas, virou automóveis, fez voar auto-caravanas, feriu com gravidade cidadãos estrangeiros e algarvios, causou duas centenas de desalojados… Uma tragédia ali no fim de Portugal, no sul, no Algarve – último bastião dos mouros, das alcagoitas e das bocarras de Pinto da Costa.
 
O inimaginável ocorreu. A solidariedade de Cavaco para com os seus conterraneos, compatriotas e turistas estranjeiros foi manifestada no maior exemplo da sua bondade e entrega aos seus semelhantes, aos seus concidadãos. Perdulário, solidário com o Algarve, Cavaco disponibilizou por tempo indeterminado a sua casa na Aldeia da Coelha aos desalojados pelo malvado Tornado e levou por arrasto a que seus amigos e vizinhos fizessem o mesmo. A luxuosa Aldeia da Coelha está agora repleta de plebeus que usufruem do luxo e das mordomias a que só uns quantos privilegiados tinham acesso. Os amigos e vizinhos de Cavaco – Oliveira e Costa, Eduardo Catroga, Fernando Fantasia, Teófilo Carapeto e outros - estão igualmente solidários com os desgraçados que ficaram quase sem nada, sem carros que os possam transportar e sem casas que os possam abrigar. Tal pesadelo foi abalado pela solidariedade descomunal e imprevista de Cavaco e amigos. Temos assim parte dos desalojados com o problema resolvido e a beneficiar do luxo a que se julgaram sempre arredios por não terem as ascendências que permitissem economizar um bom pé-de-meia de milhões, como Cavaco, como os seus amigos políticos e passantes nas ilhargas.
 
Podem os detratores dizer o que mal acharem sobre Cavaco e a sua gula desvairada pelos euros, os milhares e milhões, que tal não é para acreditar. Podem os detratores mal dizer em epitetos parceiros do egoísmo, da avaresa, dos sevandijas, porque sabemos que nada disso corresponde à verdade. O que ali está naqueles bons cidadãos e cristãos é a bondade repleta de ações que certamente têm sido ocultas, não fosse agora aqui serem tornadas públicas fazendo eco da notícia. Malvados sejam os que em páginas constantes na pesquisa do Goggle se permitem lançar execráveis prosas e vídeos bem falantes que só pretendem denegrir a bondade dos supra citados. Que Deus os abençoe, a eles, tão cristãos e bondosos…
 
E foi aí que acordei. Afinal estava a sair de um sonho. Corri para a web e constatei que notícia não dizia nada disso sobre Cavaco solidário com algarvios. Nem falam da Aldeia da Coelha, dos luxos partilhados com os desalojados… Que desilusão. E eu que ia atrever-me a pensar que o casal Cavaco tinha  partido para a Cimeira Ibero-Americana, em Cádiz, muito mais feliz devido à sua boa ação… Foi só um sonho. O pesadelo, esse, é daqueles que vivem desalojados, mais pobres, mais delapidados pela natureza, pelos amigos de Cavaco e de outros sevandijas apostados no confisco aos portugueses, apostados em viverem por cima dos que espezinham e empurram para o abismo, para a pobreza, para a miséria inconsolável que bate à porta ou nas caixas de cartão dos sem-abrigo de Portugal.
 
Não. Pode ter sido um sonho, mas já não é. Afinal Cavaco não partilhou as suas riquezas, conseguidas porque os portugueses ingenuamente confiaram nele. Assim, a realidade é um pesadelo.
 

DEIXEM-NOS FALIR COMO A ISLÂNDIA

 
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Tiago Mota Saraiva – Jornal i, opinião
 
No dia da greve geral foi anunciado que a taxa de desemprego aumentou para 15,8%. A este número acresce que, entre os jovens com idades entre os 15 e os 24 anos e que fazem parte da população activa, a taxa de desemprego já atingiu uns insustentáveis 39%.
 
Precisamente no dia seguinte, Passos Coelho não conseguia disfarçar o orgulho declarando que, num ano, havia feito o que o FMI estimava que fosse realizado em seis.
 
O governo demonstra que se está a marimbar para os dados devastadores que a economia nacional vai revelando, para a expressão da greve geral ou para o significativo aumento do desespero e a radicalização de que a manifestação junto à Assembleia da República não é exemplo único.
 
A cedência a determinados sectores, como o anunciado aumento salarial às polícias ou a aparente negociação com os reitores, revelam a falta de uma ideia para o país que não passe pelo truque e pela cacicagem sectorial – como se se tratasse de um negócio entre distritais de um partido.
 
O governo ignora o tiquetaque da bomba-relógio em que transformou o país.
 
Há dois anos e meio, Eduardo Catroga e Medina Carreira divertiam-se a choramingar pela presença do FMI e não hesitavam em dar a opinião para um artigo do DN escrito por Rui Pedro Antunes sob o título: “Se o país sair do euro corre o risco de falir como a Islândia”. Hoje, tanto um como o outro estão bem na vida, mas não será prudente começar a pensar fazer exactamente o contrário do que defendem?
 
Escreve ao sábado
 

PCP diz que incidentes junto ao Parlamento deram "um jeitão" ao Governo

 

Jornal de Notícias – Lusa
 
O secretário-geral do PCP considerou, este sábdo, que os incidentes junto ao Parlamento, na passada quarta-feira, deram "um jeitão" ao Governo, à classe dominante e à "comunicação social dominante" perante "uma das maiores" greves gerais de sempre.
 
Jerónimo de Sousa falava no encerramento de um comício da Juventude Comunista Português (JCP), na Voz do Operário, em Lisboa.
 
"Ao Governo, à classe dominante e à comunicação social deram um jeitão os incidentes em frente à Assembleia da República", sustentou o líder dos comunistas, numa referência aos episódios de violência entre manifestantes e políticas já depois de ter terminado a manifestação convocada pela CGTP-IN.
 
Segundo Jerónimo de Sousa, "a questão não está tanto em condenar ou não, não está em caracterizar o que era revolta genuína e o que era provocação organizada".
 
"A questão está em ver o resultado desses incidentes que, objetivamente, serviram para tentar esconder, esbater, esse grande acontecimento social e político, esse marco na história da luta dos trabalhadores portugueses, a greve geral", disse o secretário-geral do PCP.
 
De acordo com Jerónimo de Sousa, a greve geral convocada pela CGTP-IN, na passada quarta-feira, "constituiu uma das maiores realizadas até hoje no país".
 
E deixou um conselho a todos os jovens, citando um "mestre" comunista: "Para a evolução da consciência política e social, vale mais a participação num dia num piquete do que um curso de seis meses".
 
No seu discurso, o secretário-geral do PCP manifestou apoio à ação de luta convocada pelos jovens comunistas para a próxima quinta-feira e afirmou que as políticas do Governo estão a promover "uma ofensiva contra os estudantes", cuja resposta tem de passar pela "luta".
 
Jerónimo de Sousa disse que há cada vez mais estudantes a abandonarem o Ensino Superior devido ao aumento dos custos e que se regista uma subida drástica do endividamento dos estudantes em relação à banca.
 
"Este Governo, com a sua política, estão a procurar minar o vosso futuro, o vosso direito ao trabalho, o vosso direito a constituir família", disse.
 
Antes do comício, a JCP promoveu ao longo do dia de hoje, também na Voz do Operário, conferências nacional sobre a situação nos ensinos Secundário e Superior, subordinadas ao lema "Na luta contra as troikas nem um passo atrás".
 
PMF // RJP
 

HOLLANDE E A DEBILIDADE SOCIALISTA

 


Seis meses depois de ter chegado ao poder após três derrotas sucessivas nas eleições presidenciais (1995, 2002, 2007), o mandatário socialista assumiu um ar pedagógico para explicar o como e o porquê de uma política que é só um reflexo do sonho que nasceu com a batalha presidencial. Os analistas locais dizem que, antes chegar à presidência, François Hollande não era consciente da crise que atinge o Velho Continente. O mandatário assegurou esta semana que “mais do que uma crise, estamos vivendo uma mudança do mundo”. O artigo é de Eduardo Febbro.
 
Eduardo Febbro, Paris - Carta Maior
 
Paris - Pressionado pela crise, pela incerteza suscitada pelo rumo inesperado de sua política econômica, pelos maus resultados das pesquisas de opinião e pelos ataques ferozes da Alemanha, o presidente francês François Hollande concedeu, dia 13 de novembro, a primeira coletiva de imprensa de seu mandato. A grande missa midiática serviu para restaurar a palavra presidencial em um contexto de profundas dúvidas e certa confusão derivados das renúncias a várias promessas eleitorais e da rota escolhida, em muitos casos contraria a mensagem da socialdemocracia.

Neste primeiro encontro cara-a-cara (como definiu Hollande), o chefe de Estado fez da França o primeiro país europeu a reconhecer a oposição síria, agrupada na Coalizão Nacional para as Forças da Oposição e da Revolução Síria (CNFORS), como a representante legal do povo sírio. François Hollande disse que “a França reconhece a Coalizão Nacional Síria como a única representante do povo sírio e, por conseguinte, como o futuro governo provisório da Síria democrática que permita acabar com o regime de Bachar el Asad”. O chefe de Estado seguiu assim os passos de seu predecessor, Nicolas Sarkozy, que, quando estourou o conflito na Líbia, fez da França o primeiro país do Velho Continente a reconhecer a oposição líbia como o interlocutor legítimo do povo daquele país.

Além desse capítulo, o mandatário francês protagonizou outro episódio na contramão das promessas eleitorais que colocou sobre a mesa durante a campanha para as eleições presidenciais de abril e maio passado.

Descumprir o prometido parece ser a marca que vai cunhando o Executivo. Hollande deu um passo atrás na reiterada promessa do direito de voto dos estrangeiros. Esse ponto figura entre os 60 compromissos assumidos pelo hoje presidente quando apresentou sua plataforma presidencial. François Hollande descartou a ideia de recorrer a um referendo para que essa iniciativa fosse aprovada e colocou o destino do direito de voto dos estrangeiros nas mãos do Parlamento.

Essa promessa foi um discurso constante da esquerda desde que o falecido presidente socialista François Miterrand ganhou as eleições em maio de 1981, mas a palavra virou letra morta. O fato é que o Executivo não conta neste momento com a maioria necessária para que o direito de voto dos estrangeiros nas eleições locais se torne uma realidade. A reforma impõe a modificação da Constituição e a esquerda não reúne a maioria de deputados e senadores para aprová-la. Por conseguinte, sem o referendo prometido e sem a maioria nas câmaras, o histórico compromisso virará fumaça. A direita francesa, agrupada na sarkozista UMP, já lançou uma campanha nacional contra esta reforma.

François Hollande defendeu com veemência as orientações que deu a seu mandato e negou as evidências, ou seja, a mudança de rota de sua política. Hollande defendeu uma agenda para “a reconquista do futuro” e assegurou que suas decisões se apoiavam em uma meta, “a recuperação econômica”. “Não preparo o destino da próxima eleição, mas sim o da próxima geração”, disse o presidente. Ele recusou ainda as análises que apontam uma mudança clara de orientação política. Segundo o chefe de Estado, as decisões que tomou estão “de acordo com meus compromissos e meus princípios e, sobretudo, com os interesses da França”.

Na linguagem do chefe de Estado há um antes e um depois. É atrativo ver o exercício verbal como estratégia para justificar as medidas. A anos-luz de sua mensagem pré-presidencial, Hollande disse ontem que a alternância política “muda o poder, mas não muda a realidade”. Ante as ameaças e projeções que colocam a França como a próxima vítima da crise, o presidente enfatizou: “o ocaso não é nosso destino”. Segundo afirmou, sob sua influência se conseguiu outra “orientação de Europa”.

François Hollande teve também que justificar várias das medidas adotadas até agora, como os 20 bilhões de euros em impostos suplementares e os 10 bilhões em cortes orçamentários. Hollande esclareceu que esse “esforço” seria compensado por dois princípios: “a justiça, porque se pede aos mais favorecidos que façam o sacrifício essencial (os ricos pagarão mais impostos); e o emprego, já que todos os dispositivos a favor das pequenas e médias empresas foram preservados”.

De maneira global, Hollande afirmou que “70% do esforço está sendo exigido de 20% de nossos concidadãos”. O segundo caso controverso da intervenção presidencial foi a outorga de um crédito fiscal às empresas de aproximadamente 20 bilhões de euros financiados com o aumento do IVA (imposto sobre o consumo). Esta iniciativa, que leva toda a sociedade a pagar mais impostos, também se inscreveu em total oposição a suas bandeiras pré-eleitorais. O aumento geral do IVA era, de fato, uma proposta da direita que Hollande sempre rechaçou. O Executivo aprovou na semana passada um “pacto nacional pelo crescimento, pela competitividade e emprego”, que engloba essa concessão fiscal para as empresas.

Para o chefe de Estado, esse pacto aponta para “produzir melhor e mais na França”. Contudo, o anúncio desse pacto implicou o reconhecimento por parte do socialismo francês de que o problema da competitividade das empresas não está no não reinvestimento dos lucros, mas sim no elevado custo da mão de obra e das cotizações sociais oriundas do sistema de proteção francês. A repetida reivindicação empresarial encontrou eco nos ouvidos socialistas. Hollande justificou esse passo e disse que não se trava de “um presente” para as empresas, mas sim de uma alavanca.

Seis meses depois de ter chegado ao poder após três derrotas sucessivas nas eleições presidenciais (1995, 2002, 2007), o mandatário socialista assumiu um ar pedagógico para explicar o como e o porquê de uma política que é só um reflexo do sonho que nasceu com a batalha presidencial.

Os analistas locais dizem que, antes chegar à presidência, François Hollande não era consciente da crise que atinge o Velho Continente. O mandatário assegurou esta semana que “mais do que uma crise, estamos vivendo uma mudança do mundo”. Em todo caso, uma pesquisa realizada pela Viavoice para o jornal Libération explica os fatores da massiva impopularidade de Hollande e de seu primeiro ministro. O aumento dos impostos é o primeiro fator da impopularidade (31%). Seguem-se a crise econômica e social (27%) e a falta de soluções que estejam à altura da crise (26%).

Tradução: Katarina Peixoto
 

EXPORTAÇÕES ALEMÃS DE ARMAS DESENCANDEIAM POLÊMICA

 

 
Governo alemão emitiu mais permissões para exportação de armamentos em 2011, embora o valor global das transações tenha diminuído. Polêmicas são sobretudo vendas a países que violam sistematicamente os direitos humanos.
 
O Ministério alemão da Economia divulgou nesta quarta-feira (14/11) seu relatório atual sobre a exportação de armamentos, segundo o qual em 2011 o país vendeu menos armamento bélico, como armas de fogo e tanques, em comparação ao ano anterior. No entanto, 42% destas exportações dirigiram-se a países fora da União Europeia e da Otan, mais precisamente para os Emirados Árabes Unidos, Cingapura, Iraque e Argélia.
 
Foram também emitidas mais permissões individuais para exportação de armamentos. Concretamente, isso significou mais 660 bilhões de euros, ou cerca de 14% de aumento nas exportações. Como "armamento" classificam-se todas as mercadorias utilizáveis militarmente, como, por exemplo, caminhões camuflados.
 
Decisão das altas esferas do poder
 
Para um fabricante de armamentos sediado na Alemanha poder vender seus produtos para o exterior, é preciso primeiro requerer do Ministério da Economia permissão para exportação. O órgão examina o pedido juntamente com o Ministério da Defesa e, eventualmente, outros ministérios – por exemplo, aqueles responsáveis por averiguar a situação de direitos humanos nos países em questão.
 
"Há um grupo de 'países verdes', para os quais se pode exportar sem problemas, ou seja, todos os pertencentes à UE ou à Otan", esclarece à Deutsche Welle Christian Mölling, especialista em política armamentista do Instituto Alemão de Assuntos Internacionais e de Segurança (SWP, na sigla original).
 
"No caso de uma recusa de exportação a esses países, o governo alemão teria praticamente que justificar a decisão, por tratar-se de nações amigas ou parceiras de aliança, aptas a esperar o apoio militar da Alemanha", completa Mölling. Assim, em geral as autoridades não colocam qualquer empecilho a essas exportações.
 
Mais complexos são os procedimentos para exportação de armamento bélico aos países fora da UE ou da Otan, como, por exemplo, a venda de tanques de guerra para a Arábia Saudita, fragatas para a Argélia ou submarinos para Israel.
 
Nesses casos, a decisão fica a cargo do Conselho Federal de Segurança, do qual fazem parte a chanceler federal, o vice-chanceler, o chefe da Casa Civil, bem como os titulares das pastas de Exterior, Defesa, Interior, Justiça, Finanças e Desenvolvimento. Todas as negociações e protocolos são secretos. Pois, como explica Mölling, o fornecimento de armas é peça importante da política de segurança dos países destinatários, e também pode interessar às nações vizinhas.
 
Direitos humanos versus política externa
 
O parlamento alemão não exerce nenhuma influência direta sobre o processo de avaliação das permissões de exportação. A oposição tem apenas uma possibilidade: se assumir o poder, poderá modificar os parâmetros legais.
 
No momento, três leis são especialmente relevantes para a saída de armamentos da Alemanha. A primeira é a Lei de Controle de Armas de Guerra. Ancorada no Artigo 24 da Lei Fundamental, ela regulamenta a produção e exportação de equipamento bélico. A segunda é a Lei de Política Exterior e Economia, que também se aplica a armamentos. Em terceiro lugar está o assim chamado Estatuto de Uso Dual de Mercadorias, que regulamenta a exportação de bens que possam ser usados tanto para fins militares quanto civis, como, por exemplo, certos tipos de binóculos.
 
Além disso, a atual coalizão de governo liberal-conservadora adotou certas premissas políticas, como as diretrizes de exportação aprovadas em 2000 pelo governo anterior, social-democrata-verde. Segundo estas, é considerado tabu o fornecimento de armas a Estados que violem sistematicamente os direitos humanos, assim como a regiões politicamente instáveis. "Essas diretrizes não têm poder vinculativo do ponto de vista legal, mas sim do ponto de vista político. No entanto, ao mesmo tempo deixam um amplo campo de ação para o governo, o qual, de qualquer modo, já goza de enorme liberdade quando o assunto é exportação", analisa Mölling.
 
Armas mais caras para a Alemanha?
 
Especialmente polêmico é o fornecimento de tanques de guerra para a Arábia Saudita. Seus defensores costumam argumentar que essa transação assegura empregos na Alemanha – para Christian Mölling, uma justificativa fraca.
 
"A questão não é se temos interesse econômico em fornecer tanques de guerra alemães para um cliente ou outro. Trata-se, antes, do interesse político da Alemanha em comprar de empresas alemãs, sem que disponha dos meios financeiros para mantê-las."
 
Supostamente, como as empresas não recebem suficientes encomendas internas, elas precisam suprir apelar para o dinheiro vindo de outros países. "O governo naturalmente apoia essa situação, a fim de poder manter consigo os seus próprios fornecedores", acentua Mölling.
 
A questão se a Alemanha pode exportar armas precisaria, então, levar em consideração esse aspecto: ou se aceita que os empresários do setor armamentista obtenham parte de sua renda no exterior, lucrando devidamente, ou as Forças Armadas do país terão que pagar bem mais caro por seus armamentos.
 
Autora: Christina Ruta (sv) - Revisão: Augusto Valente
 

Ibero-Americana: PR DO BRASIL CRITICA EXCESSO DE AUSTERIDADE NA EUROPA

 

TSF
 
Na Cimeira Ibero-Americana, a Presidente do Brasil, Dilma Roussef, criticou o excesso de austeridade na Europa e sublinhou que existe um «equívoco coletivo».
 
A Presidente do Brasil considera que, na Europa em crise, se pedem sacrifícios e se causa sofrimento ao povo a troco de quase nada.
 
«As políticas exclusivas que só enfatizam a austeridade têm demonstrado os seus limites em virtude do baixo crescimento e apesar do austero corte de gastos assistimos ao crescimento dos défices fiscais e não à sua redução», adianta.
 
Dilma Russef partilha com os parceiros ibero-americanos aquela que é a convicção profunda do Brasil.
 
«Que a consolidação fiscal exagerada e simultânea em todos os países não é a melhor resposta para a crise mundial e pode agravá-la levando a uma maior recessão», defende.
 
O que preocupa Dilma, quando olha para a Europa, é aquilo a que chama «equívoco coletivo».
 
«É achar que a consolidação fiscal coletiva, simultânea e acelerada seja benéfica e resulte numa solução efetiva, o que temos visto são medidas que apesar de afastarem o risco de uma quebra financeira não afastam a desconfiança dos mercados e mais importante ainda das populações. Confiança não se constrói apenas com sacrifícios», afirma.
 
É preciso mostrar um horizonte de esperança, em vez de acenar ao povo com mais anos de sacrifícios, defende a presidente do Brasil, que na estreia neste tipo de Cimeira deixa uma palavra de conforto a Portugal e Espanha (pelo momento que estão a viver), mas também um aviso: o resultado da presença do FMI no Brasil forma 20 anos de estagnação.
 
 

POR UMA OUTRA EUROPA

 


Carvalho da Silva – Jornal de Notícias, opinião
 
No passado dia 14 os trabalhadores portugueses e de mais 22 países europeus realizaram uma importante e indispensável luta laboral e social por uma outra Europa.
 
Com a divulgação, na passada quinta-feira, dos números do Produto Interno Bruto (PIB) relativos ao terceiro trimestre de 2012 a zona euro entrou oficialmente em recessão. Nesse trimestre o PIB decresceu 0,1% relativamente ao trimestre anterior. Como esta queda se segue a uma outra de 0,2% (no 2.oº trim. 2012) e se convencionou que dois trimestres seguidos de contração do PIB são uma recessão, os economistas concluem que a zona euro entrou em recessão "técnica".
 
A Grécia entrou em recessão no 1.oºtrim. 2009, seguiu-se Portugal (1.oºtrim. 2011), Chipre e Itália (4.o trim. 2011) e a Espanha (1.o trim. 2012). Outras regiões serão contaminadas, em resultado de uma ignóbil austeridade.
 
Reconhecerão os dirigentes europeus que a "experiência" fracassou, como já se ouve dizer no seio do Fundo Monetário Internacional, e procurarão alternativas favoráveis ao investimento e à criação de emprego? Não! Insistirão na tese de que a dor faz parte da cura. Que temos de esperar, pacientes, até nos esvaziarem totalmente os bolsos, e destruírem o Estado Social com a receita da economia psicológica da Sra. Merkel, que desempenha o papel do suserano dos grandes interesses financeiros a quem o Governo, o presidente da República (PR) e a Direita prestam vassalagem, obrigando o povo a pagar o tributo.
 
É nesse contexto que no passado dia 14 os sindicatos europeus organizaram uma jornada de luta sem precedentes. Estão de parabéns todos os trabalhadores que fizeram greve e todos os cidadãos que participaram nas grandes manifestações realizadas. Em Portugal está de parabéns a CGTP-IN e todos os sindicatos que as convocaram e organizaram.
 
O 1.o-ministro escolheu o dia de greve para ser "solidário" com os desempregados - que as suas políticas têm gerado - e com os que trabalharam, quando muitos deles carregam fardos de dificuldades e de desilusões de tal ordem que já só conseguem fugir da vida. Foi um desastre a declaração do PR que, com sorriso amarelo, reconheceu o direito à greve na Constituição da República para logo afirmar (ele que é tão mudo) que trabalhava.
 
Em Espanha a greve teve grande adesão. Os trabalhadores e o povo vieram para as ruas em massa dizer "Basta!" às políticas de austeridade e denunciar que o Governo cuida dos interesses dos capitalistas ignorando o trabalho. O Governo espanhol, ao mesmo tempo que afirmou ter baixado pouco o consumo de eletricidade, acusou os grevistas de causarem prejuízos de muitos milhões de euros e mentiu de forma escandalosa sobre a dimensão das manifestações. Lá, como aqui, os governantes viciaram-se na hipocrisia e na mentira.
 
O 14 de novembro não tem precedente na história do movimento sindical europeu. Significou um novo momento de esperança. Trata-se de um marco memorável pela articulação, pela abrangência, pela capacidade de integração de múltiplos sectores da população. Foi uma janela de sanidade que se abriu na "loucura" instalada na Europa pelas elites governantes. Constitui um momento de relevo num processo que, no plano nacional, derrotará o atual Governo e forçará alternativas. Os incidentes violentos, marginais às manifestações, logo mediatizados e tornados no acontecimento central, não podem apagar estes atos cívicos fundamentais.
 
A luta à escala europeia contra a austeridade e a favor de políticas de investimento e criação de emprego é o sinal da outra Europa que desperta. À Europa coerciva, irracionalmente dicotómica, hierárquica e autoritária (quase neocolonial) que vimos experimentando opôs-se o ideal de uma Europa de paz, de solidariedade, de valorização do trabalho, de combate à pobreza e à exclusão. Uma Europa fundada na cooperação entre os povos e as nações.
 
Por estes objetivos e congregando vontades, a luta social prosseguirá estimulando o surgimento de alternativas políticas. Com determinação há que chamar a democracia a resolver os impasses políticos.
 

Portugal: Ministro chama 'secretas' e polícias após violência junto ao Parlamento

 

Carlos Varela – Jornal de Notícias
 
Reunião convocada de emergência reflete preocupação do Governo com próximos protestos. PSP à procura de suspeitos nas imagens de redes sociais e televisões
 
O Governo quer evitar que atos de violência como os do passado dia 14 se repitam. Miguel Macedo chamou responsáveis pelo SIS, PSP, GNR e Sistema de Segurança Interna, tendo em conta as manifestações marcadas para o dia 27, data da votação do Orçamento do Estado. A Polícia está à procura de suspeitos no Facebook e YouTube.
 
Miguel Macedo convocou, na quinta-feira à tarde, uma reunião com os responsáveis pela segurança do Estado. Sentados à mesma mesa, sexta-feira de manhã, estiveram o secretário-geral do Sistema de Segurança Interna, o diretor nacional da PSP, o comandante-geral da GNR e o diretor do SIS, soube o JN junto de várias fontes.
 
Na agenda, os níveis de violência de verdadeira batalha campal que o protesto de quarta-feira atingiu. O Governo está preocupado face à possibilidade de se verificarem incidentes similares no futuro, particularmente na manifestação do próximo dia 27, com a aprovação do orçamento.
 
Em causa esteve, em particular, a ação dos grupos anarquistas e a sua identificação. Miguel Macedo quer saber quem são, se estão ou não organizados e qual o papel que os estrangeiros estão a ter, uma vez que vários grupos espanhóis se encontravam na manifestação de dia 14. Grande parte da informação foi dada pelo SIS, que tem vindo a seguir estes grupos e a identificá-los. Ainda ninguém sabe, contudo, quem são os estrangeiros. Se estudantes no âmbito do programa Erasmus ou indivíduos integrados em grupos itinerantes anarquistas.
 
Na manifestação da greve geral foram identificados novos elementos e o JN sabe que dos nove detidos, já presentes a julgamento, pelo menos um já tinha sido detido numa manifestação anterior. Um outro detido tinha uma máscara do 'Anonymous', um movimento que reclama a condição de pacifista, e o mesmo aconteceu com outros elementos apenas identificados. Outro dos detidos é sindicalista.
 
O tribunal mandou o processo para o DIAP de Lisboa, para inquérito, mas a decisão contrariou a vontade do Ministério Público e da PSP, que entendiam que os crimes em causa justificavam o julgamento sumário, uma vez que enquadravam uma moldura penal até cinco anos de cadeia.
 
Houve ainda intenção de trazer a tribunal alguns dos 21 elementos policiais feridos nos confrontos - num total de 48 feridos -, para que o tribunal verificasse a gravidade da situação, mas essa ideia foi recusada.
 
A PSP está, entretanto, a vistoriar as redes sociais, em particular o Facebook e o YouTube, e a Comunicação Social à procura de imagens de indivíduos associados a agressões e lançamento de pedras. A PSP está também a tentar encontrar novos suspeitos de integrarem estes grupos.
 
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CONSELHO MUNDIAL DA PAZ CONDENA AGRESSÃO ISRAELITA EM GAZA

 


Em nota emitida nesta sexta-feira (16) em Atenas, sede do Secretariado da organização pacifista, esta instância do Conselho Mundial da Paz condena a agressão dos sionistas israelenses ao território palestino da Faixa de Gaza e defende a criação do Estado independente da Paestina.

O Conselho Mundial da Paz dirige-se às pessoas amantes da paz no mundo para denunciar a recente agressão do regime de Israel e suas forças armadas contra o território palestino da Faixa de Gaza e sua população.

Em pouco tempo, centenas de alvos, a maioria civis, foram atingidos pelo exército israelense, causando mortes e destruição para o povo palestino.

O histórico de Israel na prática de crimes contra a humanidade está repleto de semelhantes ataques mortais. Ninguém realmente acreditava que Israel se retirou dessa parte da Palestina, especialmente agora quando a pesada máquina militar de Israel se prepara para uma nova invasão terrestre.

Lembramos que o regime israelense continua a ocupação de grande parte da Cisjordânia e de Jerusalém Oriental, a instalação de colônias e a construção do muro de separação.

O Conselho Mundial da Paz expressa sua profunda preocupação e indignação, uma vez que esta escalada agressiva de Israel tem lugar durante um período de crescente agressividade dos aliados e protetores das forças de ocupação israelenses – a Otan e os Estados Unidos.

Condenamos também o silêncio criminoso da União Europeia no seu papel de cúmplice dos crimes israelenses.

Exigimos o fim imediato dos ataques israelenses no terirótio palestino da Faixa de Gaza!

Rejeitamos a interferência política e militar nos assuntos internos da Síria!

Apoiamos plenamente a criação e o reconhecimento de um Estado independente da Palestina, dentro das fronteiras de 1967 e com Jerusalém Oriental como sua capital!

O Secretariado do Conselho Mundial da Paz
 
*Vermelho

ISRAEL BOMBARDEIA EDIFÍCIOS DO HAMAS E PREPARA-SE PARA ATAQUE TERRESTRE

 


Maria João Guimarães, Agências - Público
 
Israel bombardeou na noite passada edifícios governamentais do Hamas na Faixa de Gaza e está a mobilizar milhares de reservistas para um possível ataque terrestre ao território.
 
De acordo com o Hamas, o movimento palestiniano que controla a região, aviões israelitas bombardearam o edifício do primeiro-ministro Ismail Haniyeh, que na sexta-feira tinha ali se reunido com o primeiro-ministro egípcio. As bombas também atingiram instalações policiais.

Hoje, foi a vez do ministro tunisino dos Negócios Estrangeiros ter visitado Gaza e pedido a Israel para "parar a agressão". Rafik Abdesslem disse que "Israel tem de perceber que não está acima da lei internacional".

O vice-ministro israelita dos Negócios Estrangeiros, Danny Ayalon, disse à CNN que uma invasão poderia acontecer antes do final do fim-de-semana: "Não queremos entrar em Gaza a não ser que tenhamos de o fazer. Mas se continuarem a disparar contra nós... uma operação terrestre é uma opção", disse à estação de televisão norte-americana. "Se virmos que nas próximas 24 a 36 horas há mais rockets lançados contra nós, penso que esse seria o que provocaria a operação".

O ministro da Defesa, Ehud Barak, afirmou pelo seu lado que Israel está "determinado" a cumprir o objectivo da operação - destruir o arsenal de rockets dos palestinianos de Gaza (embora o facto de terem sido atingidos também locais ligados à liderança do Hamas possam indiciar um objectivo de atingir também o movimento).

75 mil reservistas
 
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, reuniu-se durante quatro horas na sexta-feira, em Telavive, com os seus principais ministros, para avaliar o alargamento da campanha militar. Neste encontro terá sido decidido aumentar para 75.000 o número de reservistas que poderão ser convocados para um possível ataque terrestre em Gaza.

Entre outros sinais de uma possível invasão, Israel interditou ao tráfego civil as estradas em direcção a Gaza ou que contornam o território. Tanques e armas pesadas foram vistos junto à fronte com o território palestiniano e cerca de 16.000 reservistas foram já mobilizados e estão na activa.

Na operação de 2008-2009, depois de 1400 mortos palestinianos e 13 israelitas, o objectivo de parar o disparo de rockets (na altura uns bem menos perigosos tanto em alcance como em carga explosiva) não foi atingido, e quando não havia acordos de cessar-fogo os combatentes de Gaza continuaram a lançar projécteis em direcção ao Sul de Israel.

38 palestinianos e 3 israelitas mortos

Segundo as autoridades em Gaza, nestes dias do início da operação israelita actual morreram 38 palestinianos. Metade eram civis, incluindo oito crianças e uma mulher grávida.

Os palestinianos de Gaza aumentaram os disparos de rockets em resposta aos ataques israelitas. Alguns rockets chegaram mesmo a atingir Jerusalém e Telavive, sem vítimas. Três civis israelitas morreram na quinta-feira, no Sul, vítimas de um rocket de menor alcance.

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UE – AUSTERIDADE: NÃO AOS SACRIFÍCIOS SEM ESPERANÇA!

 


Project Syndicate, Praga – Presseurop – imagem Michael kountouris
 
Se a legitimidade da União Europeia estivesse intacta, os europeus consentiriam mais facilmente os esforços que lhes são pedidos. Nesse caso, poderiam ver os seus próprios interesses recompensados.
 
 
Numa entrevista recente, o Presidente francês François Hollande referiu a crucial, mas muitas vezes esquecida, questão de que há limites para o nível de sacrifício que pode ser exigido aos cidadãos dos países do Sul da Europa, com dificuldades financeiras. Para evitar transformar a Grécia, Portugal e Espanha em “prisões” coletivas, Hollande concluiu que as pessoas precisam de ver esperança para lá do horizonte repleto de cortes orçamentais e de medidas de austeridade, que se afasta cada vez mais. Até mesmo o conhecimento mais rudimentar de psicologia apoia a opinião de Hollande. Um reforço negativo e uma gratificação atrasada têm poucas probabilidades de alcançarem os seus objetivos, a menos que haja uma luz visível ao fundo do túnel – uma recompensa no futuro pelos sacrifícios do presente.
 
O pessimismo geral no Sul da Europa é atribuído principalmente à ausência de tal recompensa. Enquanto a falta de confiança do consumidor e a perda de poder de compra das famílias se intensificam com a recessão, as projeções do fim da crise são repetidamente repelidas e aqueles que suportam a austeridade estão a perder a esperança.
 
Oferendas sangrentas
 
Ao longo da história, o conceito de sacrifício fundiu-se entre a teologia e a economia. No mundo antigo, as pessoas faziam oferendas, muitas vezes sangrentas aos deuses, nos quais acreditavam que iriam recompensá-los com, digamos, boas colheitas ou proteção contra o mal. O cristianismo, com a sua crença de que Deus (ou o Filho de Deus) se sacrificou para remir os pecados da humanidade, inverteu a economia tradicional do sacrifício. Neste caso, o sofrimento divino serve como um exemplo da humildade altruísta com a qual os infortúnios terrenos deveriam ser suportados.
 
Apesar da secularização, a crença de que as recompensas, ou as realizações, exigem sacrifícios tornou-se parte integrante da consciência cultural europeia. A ideia de um “contrato social” – que surgiu durante o Iluminismo, a fim de tratar, sem recurso ao direito divino, a legitimidade da autoridade do Estado sobre os seus cidadãos – firma-se na premissa de que os indivíduos renunciam a um certo grau de liberdade pessoal, a fim de assegurarem a paz e a prosperidade para todos.
 
Como resultado, os líderes políticos têm pedido frequentemente aos cidadãos para sacrificarem as liberdades e os confortos pessoais em nome de entidades espirituais secularizadas, como a nação ou o Estado – e os cidadãos têm avidamente feito a vontade. No seu primeiro discurso para a Câmara dos Comuns, na qualidade de primeiro-ministro do Reino Unido, Winston Churchill incutiu a esperança numa nação ameaçada, quando famosamente declarou que ele – e, portanto, a Grã-Bretanha – “só tinha para oferecer sangue, labuta, lágrimas e suor”.
 
Sacrifícios sem sentido
 
Tendo em conta tais inúmeros precedentes, pode ser surpreendente que a retórica do sacrifício sob a bandeira da austeridade se tenha revelado tão ineficaz na atual crise europeia. Alguns observadores atribuem a culpa, pela redução dos níveis de empenhamento, a algo que transcende o indivíduo, incluindo o sistema político.
 
Mas a resistência à austeridade no Sul da Europa não está enraizada na hostilidade geral ao sacrifício condescendente. Certamente, os europeus começaram a acreditar que os seus líderes estão a exigir sacrifícios que não promovem os seus interesses. Churchill deu aos britânicos um motivo para pensarem no futuro: a vitória. Sem um fim claro que o justifique, o sacrifício perde o significado.
 
A prosperidade deveria legitimar a União Europeia. Findo o período de rápido crescimento económico, os líderes europeus confiaram, afinal, na ameaça de um mal maior do que a austeridade: a desestabilização adicional dos países devedores, levando ao não cumprimento, à expulsão da zona euro e ao colapso económico, social e político.
 
Mas a retórica do medo está a perder influência, porque o “New Deal”, que está a ganhar forma no Sul da Europa, oferece mais repressão e menos proteção, violando assim os princípios fundamentais do contrato social. Na verdade, enquanto os cidadãos europeus estão a ser convidados a sacrificarem os seus padrões de vida – e até mesmo os seus meios de subsistência – para salvarem a “economia nacional”, as corporações transnacionais estão a prosperar.
 
Injustiça exacerbada
 
As condições impostas pela “troika” – a Comissão Europeia, o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional – equivalem a um atraso, por tempo indeterminado, na supressão das necessidades daqueles a quem foi pedido que se sacrificassem e na reparação das redes esfarrapadas da segurança social. Contudo, os governos nacionais continuam a implementar políticas que exacerbam a injustiça. Por exemplo, em Portugal, o Orçamento do Estado para 2013 reduz o número de escalões fiscais de oito para cinco – uma medida que irá devastar a classe média.
 
Um sacrifício que implica o resgate do corpo – os seus prazeres, as necessidades básicas e até mesmo a vitalidade – para salvar o espírito. Embora o discurso do sacrifício persista, a lógica que o consolidou durante milénios, foi abandonada. Os líderes europeus devem imbuir nos seus cidadãos, uma esperança renovada. A legitimidade de uma Europa “pós-nacional” – com base na obrigação da UE, consagrada no Tratado de Lisboa, para promover “o bem-estar do seu povo” – está em causa.
 

Espanha e Portugal enxergam na América Latina uma saída para a crise

 


A XXII Cúpula Ibero-americana de Chefes de Estado e de Governo, iniciada nesta sexta-feira na cidade de Cádis, se anuncia como uma grande mesa de negócios, na qual as duas “pátrias-mãe” latino-americanas pedem a suas ex-colônias para “arrimar el hombro” e ajudá-las a superar as dificuldades econômicas. A presidente Dilma Rousseff, na foto com o presidente do Haiti, é uma das estrelas do encontro. A reportagem é de Naira Hofmeister, direto de Madri.
 
Naira Hofmeister, Madri – Carta Maior
 
Madri - O esforço feito pela família real espanhola para convencer os mandatários latino-americanos a participar da XXII Cúpula Ibero-americana de Chefes de Estado e de Governo em Cádis deu resultado. Desde a quinta-feira, 18 líderes de nações latinas desembarcaram na Espanha para participar de um encontro “pouco efetivo”, como admitiu o presidente do Equador, Rafael Correa, em uma entrevista ao diário El País.

“Qualquer cúpula que inclua a mais de dois já perde eficiência e esta inclui a muitíssimos. É, aliás, algo sobre o que devemos pensar: talvez nossos povos estejam cansados de que frequentemos tantas cúpulas e eles, tantos abismos”, criticou Correa.

No caso de Espanha e Portugal, a reunião é considerada justamente uma oportunidade para sair do abismo – uma saída que, se pactada, será mais dirigida às empresas que aos cidadãos que seguem padecendo com cortes nos gastos públicos (embora seja também verdade que a aposta é por facilitar a entrada de negócios estrangeiros de pequeno e médio porte, já que as grandes marcas – principalmente as espanholas – estão na América Latina há anos).

As matérias do El País, principal jornal espanhol, não deixam dúvidas sobre o caráter da Cúpula. “O que há do outro lado do Atlântico é um mercado de uns 550 milhões de pessoas e a Espanha tem uma posição interessante para tentar tirar alguma vantagem”, publica o jornal, fazendo referência ao número de investimentos que o país ibérico possui no continente das “ex-colônias”.

Em outro texto, o correspondente de Buenos Aires, Francisco Perejil, se ressente de que não haja eco do encontro nos mais importantes diários latino-americanos. Por fim, o correspondente no Brasil assina um texto com um rasgado elogio ao “republicanismo” da presidente do Brasil, Dilma Rousseff, uma das estrelas do encontro. “Dilma tem consciência de que é em primeiro lugar presidenta de todos os brasileiros. Dos que votaram nela e também dos mais de 40 milhões que se opuseram nas urnas e que hoje estão oferecendo-lhe seu apoio nas pesquisas, facilitando um segundo mandato”.

Dilma Rousseff é uma das estrelas

É inegável que a mandatária brasileira é uma das grandes estrelas da Cúpula de Cádis - sua presença, diz o El País, “minimiza outras previsíveis ausências”. O jornal se refere possivelmente à chefe de Estado argentina, Cristina Kirchner, que conquistou a inimizade da mídia e do povo espanhol depois de nacionalizar a subsidiária da Repsol no país, a YPF (mas que garante seguir sendo merecedora de um trato “carinhoso” por parte do rei da Espanha, don Juan Carlos); e também a Hugo Chávez, da Venezuela, que em uma reunião como a que se celebra agora em Cádis, no ano 2007, foi alvo da já anedótica repreensão do monarca espanhol: “¿porqué no te callas?”

Além dos dois presidentes, não compareceram o mandatário uruguaio, José Mujica – por problemas de saúde –, o guatemalteco Otto Pérez Molina, o cubano Raúl Castro e o paraguaio Federico Franco, cuja ausência foi solicitada pela Espanha para evitar polêmicas e boicotes de outros chefes de Estado, críticos a destituição do ex-presidente Fernando Lugo.

Para garantir a presença de Dilma Rousseff, a Espanha empenhou toda a sua artilharia: estiveram em Brasília em um intervalo de 32 dias o ministro de Relações Exteriores, José Manuel García Margallo, o próprio presidente do governo, Mariano Rajoy, e o rei em pessoa - na época, junho, ele ainda estava ainda chamuscado pelo escândalo de uma caça a elefantes que realizou na África enquanto o país se afundava na crise econômica.

O Brasil é o país da moda na Espanha. Não são poucos os cidadãos que querem emigrar para o gigante latino-americano, que ocupa quase diariamente manchetes econômicas que falam de crescimento, consumo, lucros, empregos.

São tantos os pedidos de informação sobre emigração que a embaixada em Madri recebe e o Itamaraty organiza no dia 23 deste mês um evento com o título “Trabalhar em Brasil”, no qual o conferencista será o cônsul honorário do país.

Algo que será muito bem vindo pelo país em áreas carentes de mão de obra qualificada, conforme antecipou em entrevista exclusiva à Carta Maior o ministro de Assuntos Estratégicos, Moreira Franco.

Depois de Cádis, presidente vai a Madri

Embora os resultados da XXII Cúpula Ibero-americana de Chefes de Estado e de Governo não sejam tão fundamentais para o Brasil como podem ser para Portugal e Espanha , o fato é que o país pode ganhar muito com o interesse dos europeus. Segundo a Agência Brasil, a Espanha é o segundo maior investidor externo no Brasil, com estoque acumulado de US$ 85,3 bilhões, e o 10º maior comprador das exportações nacionais, com volume superior a US$ 4 bilhões (2011), à frente de países como França, Rússia e Índia. A balança comercial entre os dois países tem crescido em valores nos últimos dez anos.

Há também grandes expectativas de assinaturas de acordos na área de ciência e tecnologia, principalmente no setor militar, já que a crise tem levado os países europeus a abrir mão de determinados segredos de estado para poder sair do buraco.

Outro tema que será pautado – mais pela imprensa brasileira do que pelos governos – será o dos brasileiros inadmitidos em Barajas, o já temido aeroporto de Madri. O Planalto considera que o problema está praticamente solucionado, com um número de entradas negadas bem reduzido nos últimos meses.

Na área política, Dilma, que é uma crítica das medidas de austeridade e desde que iniciou seu mandato pressiona o Fundo Monetário Internacional (FMI) – do qual o Brasil é um dos financiadores – para que modifique os critérios para o empréstimo ou o resgate de países em dificuldades econômicas, pode se transformar inclusive em uma aliada do conservador Mariano Rajoy. O governo espanhol vem a tempos pedindo à União Europeia para que reduza a pressão por ajustes e redução do déficit de forma tão imediata.

Para dar conta da agenda de interesses bilaterais, a presidente Dilma vai estender a sua permanência no país ibérico – depois dos dois dias de conferências em Cádis, 16 e 17 de novembro, e um domingo para descansar, a chefe do executivo brasileiro passará toda a segunda-feira na capital espanhola.

Em Madri, conversará com alunos brasileiros na Casa Brasil, que completa 50 anos de existência na cidade, e com empresários em um evento promovido pelo El País. Mas também se encontrará a portas fechadas com os anfitriões Mariano Rajoy e o rei Juan Carlos.

Fotos: Ichiro Guerra/PR

Escaladas de violência em diferentes estados do Brasil estão ligadas – especialistas

 

FYB - HB – Lusa, com foto Vladimir Platonow
 
São Paulo, 17 nov (Lusa) - As escaladas de violência em São Paulo, que iniciou no mês de outubro, e em Santa Catarina, que ocorre há quase uma semana, estão ligadas e podem influenciar a eclosão de ataques noutras localidades, afirmaram especialistas à Lusa.
 
O cientista social José dos Reis Santos Filho atribui a relação entre os ataques a uma suposta ramificação em 17 estados da fação criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), de São Paulo, que nasceu dentro de presídios e atua com o tráfico de droga.
 
"Certamente essa aparição de assassinatos no interior e em outros estados está inscrita no contexto de luta entre o estado e a criminalidade organizada, que se comunica", disse Santos Filho, coordenador do Núcleo de Estudos de Situações de Violência e da Universidade Estadual Paulista, em Araraquara (interior de São Paulo).
 
Já o coronel da reserva da Polícia Militar José Vicente da Silva Filho, ex-secretário Nacional de Segurança Pública, descartou a ligação entre fações criminosas dos estados, mas acredita na formação de uma "onda de adesão", através da imitação de comportamentos e da crença na impunidade.
 
"Não tenho a menor dúvida de que em Santa Catarina tem acontecido a mesma coisa do que em São Paulo. E a polícia no Rio de Janeiro já emitiu um alerta aos agentes de que os ataques podem ocorrer lá também", disse o coronel aposentado.
 
O aumento da violência que atinge São Paulo provocou 140 mortes só em outubro. Desde o início do ano 90 polícias foram assassinados, quase o dobro da cifra do ano passado.
 
O cientista social apontou que ainda não há uma conclusão sobre o motivo dos ataques, mas sim hipóteses a serem consideradas. Uma delas é o fim de um acordo tácito entre Governo e fações criminosas, rompido "certamente dentro dos presídios, onde se encontram os chefes de quadrilhas".
 
"Se houve algo que mexeu com o interesse deles [criminosos], eles ordenaram os crimes, e começou uma guerra entre polícia e criminalidade, na qual a população fica no meio", disse.
 
Na última semana, foram divulgadas pela imprensa cartas de reclusos, intercetadas por autoridades, que pediam a morte de agentes militares.
 
Suspeitos detidos após ataques afirmaram à polícia que foram convocados para executar assassinatos por líderes criminosos, para saudar dívidas de drogas.
 
O advogado Martim de Almeida Sampaio, coordenador da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil em São Paulo, afirma que a violência tem causas estruturais, como falta de trabalho, de estudo e uma má política de segurança pública, e causas conjunturais, como o crime organizado.
 
"O Governo teima em não admitir a existência da fação criminosa e o que vemos é um uso abusivo da violência pela polícia. Esperamos que o estado aja com mais inteligência e com menos truculência", afirmou.
 
Já o coronel José Vicente da Silva Filho aponta que o aumento dos crimes é uma reação à repressão que tem sido feita pela polícia ao tráfico de droga, a mesma visão divulgada pelo Governo de São Paulo.
 
Segundo o militar, não há o comando de uma fação organizada nessas ações, mas sim a atuação de vários pequenos grupos.
 

ANGOLA ATINGE 20 MILHÕES DE HABITANTES

 
Casimiro Pedro, em Jornal de Angola
Manuela Gomes – Jornal de Angola
 
Angola vai contar, em 2013, com cerca de 20 milhões de habitantes, de acordo com as estimativas do Instituto Nacional de Estatística (INE). A informação foi apresentada na quinta-feira, em Luanda, pelo director daquela instituição, Camilo Ceita.

O responsável do INE dissertava sobre o tema “Os caminhos do censo populacional e habitacional 2013 de Angola”, numa palestra promovida pela Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Agostinho Neto.

Para a realização do censo em 2013, a instituição trabalha na actualização cartográfica, com o envolvimento de cerca de mil agentes em todo o país.

Os agentes cartográficos fazem a contagem das moradias existentes em cada município, bairro e aldeia de cada província, um trabalho que está a registar dificuldades no acesso a algumas zonas devido à época chuvosa, disse Camilo Ceita.

O processo de actualização cartográfica, que arrancou há nove meses, já está concluído nas províncias do Kwanza-Norte e Bengo, ao passo que, nas províncias do Huambo, Cabinda e Zaire, está em vias de finalizar.

Questionado sobre o censo piloto que estava marcado para o passado mês de Setembro, Camilo Ceita referiu que ainda não existem condições para a sua realização por causa das chuvas.

“Esta é uma actividade muito séria, pelo que não pode ser feito com riscos bastante elevados, daí que estejamos a estudar algumas medidas de mitigação para ver se, dentro em breve, damos início ao censo piloto”. O director do Instituto Nacional de Estatística anunciou na palestra a ocorrência de um acidente que “vitimou a vida de um dos nossos agentes”.

Camilo Ceita manifestou a crença de ver Angola fora da lista dos países que nunca realizaram um censo populacional e também habitacional. O último censo em Angola foi realizado no período anterior à Independência.

Devido à guerra, Angola nunca realizou um censo populacional, embora tivesse feito, nos anos 80, um censo piloto, que abrangeu algumas províncias do país e mesmo assim não foi conclusivo.

A representante em Angola do Fundo das Nações Unidas para a População (FNUAP), Kourtoum Nacro, declarou em Luanda que as mulheres pobres nos países em desenvolvimento arcam com os custos das alterações climáticas.

Kourtoum Nacro, que foi um dos oradores da palestra organizada pela Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Agostinho Neto, disse serem importantes os relatórios anuais do FNUAP, por contribuírem para o desenvolvimento das políticas populacionais e para a produção de dados de qualidade sobre a saúde reprodutiva e a igualdade de género. A alta funcionária da agência das Nações Unidas sublinhou que os relatórios são feitos também para chamarem a atenção dos governos e parceiros sobre os problemas relacionados com a população. Citando o último relatório do Fundo das Nações Unidas para a População, a representante da agência em Angola informou que, no dia 31 de Outubro de 2011, a população do Mundo atingiu sete biliões de pessoas.

Kourtoum Nacro assegurou que a FNUAP trabalha para que toda a gravidez seja desejada, que cada nascimento seja seguro e cada jovem possa desenvolver o seu potencial humano.

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