quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Banhadas à portuguesa, dívida pública, impostos, favores e banhos gelados


Bocas do Inferno

Mário Motta, Lisboa

Dívida amarinha

Em Portugal a dívida pública continua a subir. As parangonas dizem: Dívida pública sobe para os 134 por cento do PIB até junho. Não parece que alguém do governo se preocupe com este facto. Nem mesmo o primeiro-ministro, a banhos nas praias do Algarve com base em Manta Rota. Muito menos o presidente da República, igualmente de férias na sua casa da Aldeia da Coelha. Aníbal Cavaco Silva que ao assinar o passaporte de saída do governo de José Sócrates afirmou que era excessivo e preocupante aquele governo ter chegado a valores da dívida pública de pouco mais de 90 por cento. E agora já não é excessivo, pela sua conduta, pelo seu apego ao seu governo PSD-CDS. Eles, impávidos e serenos continuam a banhos, ausentes de Lisboa, mas nem por isso deixam de planear e perpetuar as banhadas aos portugueses. Com um presidente e um governo assim Portugal nem sequer precisa de mais inimigos, porque já os tem, alapados nos principais órgãos de soberania. A dívida sobe sincopadamente. Portugal está nas lonas e eles a banhos planeando efetivar mais banhadas aos portugueses. Grandes saques. Grandes vidas à custa da miserabilização do país. Os tentáculos do Polvo veraneiam-se repimpadamente. Quem não sabe, quem não vê. Quem optou e opta pelo “deixa andar”? Eles, sádicos, num lado. Os portugueses, masoquistas, no outro. Brandos costumes, novela e comportamento eterno semeado pelo salazarismo e cimentado pelo cavaquismo. A dívida vai continuar a amarinhar pela árvore da desgraça de Portugal.

Mais impostos

Quem não sabe que vêm por aí mais impostos? Só trouxas o ignoravam. E mais virão. Também é de hojeo título sobre o orçamento: Novo retificativo pode trazer (mais um) aumento de impostos. Não há que admirar mas sim reprovar que não nos disseram “alto, isto é um assalto!” É mesmo. Mais sofisticados que ladrões de estrada de antigamente. Prometeram mundos e fundos, fazem o contrário, governam-se, aos familiares e amigos, usam sem pudor milhares de milhões para acudir aos banqueiros vigaristas e o povinho, carneirinho, paga e não bufa. Ou bufa. Mas a eles isso entra a 100 e sai a 200.

Favores com favores se pagam

Volta à baila Cavaco Silva. Desta feita por centenas de milhares de euros de financiamento da sua campanha. Título: Família BES grande financiadora de campanha de Cavaco em 2006. Se fosse só de 2006. Muito bem. É o preço da "democracia". Favores, com favores se pagam. Está tudo previsto nas leis que eles fizeram à medida e com alguns “alçapões” que sempre dão para umas quantas escapatórias rumo à impunidade. Não por acaso diziam de Ricardo Salgado ser o DDT, Dono Disto Tudo. Se comprou, qual a admiração de ser dono? A fidelidade, para alguns, não tem preço. Para outros tem. Quando chega a hora urge provar isso mesmo. Cavaco em Seul declarou confiar nas “papeladas” do BES quando já se sabia que a “bomba das irregularidades” – como chamam, em vez de vigarices – estava para rebentar de um minuto para o outro. Favores com favores se pagam. E aqui o preço da fidelidade tramou alguns investidores. Dizem que dos pequenos porque os grandes já sabiam de tudo. Mas Cavaco não foi o único.

Banhos gelados

Nem de propósito a elite política portuguesa está a banhos. Vide Cavaco nos algarves de molho, como mostra a foto. Enquanto isso uns quantos “famosos” andam a procurar angariar uma pipa de massa para a campanha em curso de apoio aos doentes com Esclerose Lateral Amiotrófica. O “famoso” apresentador da TVI, Manuel Luís Goucha, recusou o banho gelado mas não a solidariedade. Doou mil euros. Outros “famosos” também doaram e levaram com o “banho gelado”. Ronaldo não contribuiu com pouco. Pode e gosta de ser solidário. E desafiou Jennifer Lopez a fazer o mesmo, ela respondeu. José Mourinho também se solidarizou e largou um “porra” no banho. Onde a porca torce o rabo, podemos futurar, é com Cavaco, Passos e Albuquerque. Por isto: Jogador do Rio Ave desafia Cavaco, Passos Coelho e Albuquerque. Não há como imaginar Cavaco a levar com um banho gelado pela cabeça. Muito menos largar o pilim. E isso de solidariedade, significa, certamente, naquela cabeça deformada, “coisa dos de esquerda”. Ele conhece e identifica-se é com a “caridade(zinha)”. Mas, o pior é que o jogador do Rio Ave pôs o dedo na ferida ao declarar “Os portugueses desafiaram-me, e eu vou desafiar estas pessoas, porque os portugueses querem que elas refresquem as suas ideias: Cavaco Silva, Passos Coelho e Maria Luís Albuquerque”. Os “pobres” desafiados de Belém, São Bento e Terreiro do Paço não disseram truz, nem mus. Preferindo as águas cálidas dos algarves, olhando as areias e os espaços, magicando o melhor modo de fazer pagar aos veraneantes o usufruto daquelas praias e restantes do país. A dez euros cada banhista, por todas as praias do país… É uma pipa de massa, diriam eles, em coro, com Durão Barroso, o “cherne” que passou a “pipas”. E não é que já há praias onde se paga por um pedaço de areia privatizada? Nos arredores de Lisboa já há. Agora é só fazer crescer o “negócio”. Falta definir se as “cabecinhas” assim tão aptas para o “negócio” pertencem a chulos, ladrões ou empreendedores. Escolhamos. Eu cá não tenho dúvidas.

*Banhada: Desilusão ou engano (ex.: tinha altas expectativas e levei uma banhada) - "banhada", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/banhada [consultado em 21-08-2014]. Na gíria pode significar que foi enganado, roubado, iludido (ex: tinha 100 euros na carteira e levei uma banhada)

Portugal: Aventuras e desventuras presentes e futuras de Marinho e Pinto



Francisco Louçã – Público, opinião, em Tudo Menos Economia

É sempre com estardalhaço que o populismo se dirige à plebe e Marinho e Pinto parece ter aprendido na escola da melhor sofisticação e elegância.

Ao Jornal de Notícias confidenciou que sairá do Parlamento Europeu para se candidatar a S. Bento dentro de um ano. Entretanto precisou que será candidato a primeiro-ministro; mas se só sair a terminação, deputado será, mas sempre disponível para ministro, talvez da Saúde, lembrou-se. E pode ser do PS ou do PSD, governos que considerará com benevolência. E, logo depois, pode ser candidato a Presidente, se a República o chamar, como decerto não deixará de acontecer.

Como o jornalista o terá inquirido sobre se não estaria a incumprir o contrato recentíssimo com os eleitores, Marinho e Pinto terá disparado a sua desilusão com o Parlamento Europeu e, sobretudo, a sua indignação com as prebendas dos eurodeputados. À pergunta sobre se não o ofendia receber, ele próprio, tão ignominiosas prebendas, terá explicado que não gosta de “caridadezinha” e que entretanto precisa do dinheiro, que lhe dá um jeitão.

O assunto suscitou uma vaga de comentários estivais, como não podia deixar de ser. Marinho e Pinto veio logo explicar ao Expresso a sua surpresa pela polémica, esclarecendo o assunto: de facto, sairá do Parlamento Europeu para manifestar a sua “renúncia das mordomias ignóbeis que são pagas aos eurodeputados, desprezando os povos que representam” (Expresso, 15 agosto), mas só manifestará tal coragem dentro de um ano. Até lá, as ignóbeis mordomias são bem vindas e os povos sofrerão silenciosamente a provação.

Como se apresta a oferecer os seus serviços ou ao PSD ou ao PS, quis o Expresso saber como é que Marinho e Pinto aprecia o que se passa nesses redis e, nomeadamente, se não estaria a fazer o mesmo que António Costa, que deverá abandonar o cargo de presidente da Câmara de Lisboa para outros voos. A resposta foi lapidar (e um tudo nada atrevida, porque dentro de um ano pode estar a negociar com Costa), mas Marinho e Pinto não é homem para deixar dúvidas no ar: “Costa não só despreza o que prometeu aos seus eleitores como faz tábua rasa da legitimidade do mandato dos outros.(…) Representa o tipo de políticos que eu combato” (Expresso, idem). Costa sai a meio do mandato a que se candidatou, desprezível atitude do “tipo de políticos” que Marinho e Pinto quer limpar da política nacional, anunciando fazer exactamente o mesmo. Mas com boas razões, claro está, e com outra elevação.

Surgindo na cena partidária em Janeiro, quando escolheu um partido pelo qual se candidatou com grande êxito ao Parlamento Europeu, Marinho e Pinto sofreu entretanto uma derrota: os Verdes fecharam-lhe a porta, pelas suas pitorescas declarações homofóbicas, e aninhou-se nos Liberais, ou seja, na direita europeia, tendo-se sentido logo à vontade para eleger Juncker contra os candidatos do centro e da esquerda. Aventuras com pouco destaque, em todo o caso, e voltou-se portanto para dentro. Em consequência, veio anunciar desprezar o cargo a que se candidatou – e que ainda mal começou a exercer – mas não deixando de aproveitar as putativas vantagens que abomina, por não mais do que um ano. Tudo é leve, uma vertigem, nas vésperas de se candidatar sucessivamente aos sucessivos lugares electivos que estarão à consideração do país.

Os espectadores desta encenação só podem concluir que não existe ninguém tão adequado para tomar o leme de todos os cargos nacionais como Marinho e Pinto. Que afortunados que somos.

Angola: O REGRESSO À PÁTRIA



Jornal de Angola, editorial - 21 de Agosto, 2014

Milhares de ex-refugiados angolanos começaram ontem a regressar ao país, vindos da República Democrática do Congo, no âmbito de um processo de repatriamento voluntário, que fará com que compatriotas nossos voltem às suas zonas de origem situadas em diferentes províncias.

Para este repatriamento voluntário, o Executivo criou as condições necessárias para um regresso dos ex-refugiados sem quaisquer sobressaltos, salvaguardando-se uma instalação  em solo pátrio que proporcione a sua rápida reintegração.

Foi notório o envolvimento das autoridades competentes, em parceria com o Alto Comissariado da ONU para os Refugiados, na preparação cuidada  do regresso dos ex-refugiados angolanos  ao país, o que vai garantir uma recepção com níveis de assistência social satisfatórios.

O regresso à Pátria, depois de longos anos a viver em país estrangeiro, constitui para os ex-refugiados angolanos motivo de grande satisfação. Voltar à terra que os viu nascer é o começo de uma nova vida voltada para o trabalho em prol  da reconstrução do país.

Milhares de angolanos que viviam no Congo Democrático regressam à Pátria  para, voluntariamente,  juntarem os seus esforços aos de milhões de angolanos que diariamente têm de executar gigantescas tarefas, para colocar o país na rota do desenvolvimento.

As consequências do longo conflito armado em Angola não nos deixam outra alternativa senão arregaçarmos as mangas para reabilitarmos importantes infra-estruturas e equipamentos sociais destruídos, a fim de que as comunidades possam viver com dignidade.

Depois de 12 anos de paz, os ex-refugiados angolanos vão encontrar um país em que ocorrem transformações significativas, com a realização  de obras de grande vulto, e que vão gradualmente melhorando a vida das populações. 

Vão encontrar um país em crescimento acelerado e que traçou um rumo, traduzido numa marcha  irreversível  em direcção ao progresso. Estamos  nós, angolanos, apostados em fazer de Angola um lugar que proporcione prosperidade a todos, sem excepção. Como cantou um músico angolano, o país “é grande e cabe para todos nós”. Há  espaço e oportunidades para cada um de nós trabalhar para se acabar rapidamente com o subdesenvolvimento. Que cada um use o seu saber para engrandecer o país.  

Mas há ainda muita coisa para se fazer, sendo indispensável o contributo dos nossos compatriotas que se encontram na diáspora. Muitos dos nossos compatriotas no estrangeiro trazem competências  e experiências que podem ser úteis ao processo de reconstrução. Faz pois sentido que se incentive e apoie o seu regresso ao país, a fim de  poderem também ajudar a resolver muitos dos nossos problemas.

Convém recordar que poucos anos depois da conquista da nossa Independência, muitos compatriotas nossos que viveram no Congo democrático e na Zâmbia, para só citar estes países, deram uma grande contribuição em diferentes sectores da vida nacional, nomeadamente o da educação e da saúde, que registavam então uma grande falta de quadros.

Os nossos compatriotas  chegam ao país. Eles vão a diferentes províncias. Trata-se de províncias do Norte, Sul, Centro e Leste de Angola. Fez-se um bom trabalho para que  milhares de compatriotas regressassem ao país. Tem de se trabalhar agora e com o mesmo empenho, para que a sua reintegração venha a resultar em ganhos para a sociedade.

Os angolanos que regressam vêm certamente com vontade de serem também parte das acções que são levadas a cabo e que vão no sentido de desenvolvermos os vários sectores da vida nacional. O país tem capacidade para reintegrar os nossos compatriotas que querem abrir uma nova página nas suas vidas.

Que o entusiasmo com que os ex-refugiados angolanos chegam a Angola seja correspondido transitoriamente com operações de assistência efectiva,  por um período suficiente para poderem reunir as condições de vida essenciais.

O regresso à Pátria é um acontecimento que mexe com todos os que, por várias razões, tiveram de abandonar o país, para se refugiarem no estrangeiro, onde nem sempre o acolhimento foi pacífico. Que recebamos  os nossos compatriotas com muito carinho e os incentivemos a contribuir para o crescimento e desenvolvimento do país, na unidade, no amor, na paz e na harmonia entre todos os cidadãos angolanos.

Brasil: EDUARDO CAMPOS E AS ELEIÇÕES, A CONVENIÊNCIA DA TRAGÉDIA



Maurício Abdalla,  Espirito Santo – Correio do Brasil, opinião

Quando um acontecimento aparentemente ao acaso modifica a história de uma maneira perfeitamente coerente com certos interesses cuja probabilidade de satisfação era dada como mínima, a tendência é atribuí-lo a uma causa planejada. Seja a mão de Deus, a força de um destino predeterminado ou uma conspiração urdida pelos beneficiários do fato, as possíveis causas desconhecidas do evento liberam várias espécies de especulação, todas concorrendo com a hipótese do simples acaso.

A morte trágica e inesperada do candidato do PSB à Presidência da República, Eduardo Campos, modifica as peças do cenário eleitoral de uma forma totalmente adequada aos interesses de quem não queria a continuidade das atuais forças que ocupam o Palácio do Planalto. Independentemente da avaliação que se tenha do Governo PT/PMDB, é fato que ele foi alvo de diversas tentativas que visavam impedir a reeleição da presidente Dilma Rousseff. A cultura sociopolítica da elite brasileira não exige muito para que um grupo social seja execrado. Mesmo propositores de mudanças sociais dentro do capitalismo são repelidos como perigosos perturbadores da ordem – que o digam os antigos abolicionistas, os defensores da CLT, os ambientalistas e ativistas dos direitos humanos.

Dentre essas tentativas, o espetáculo midiático montado sobre o julgamento do “mensalão” e a colagem do conceito de corrupção a um único partido, o PT, foram as que mais causaram estragos – até porque tinha uma base real a ser explorada. Mas não foram suficientes para reduzir o índice de aprovação do Governo e das intenções de voto em Dilma nas pesquisas.

O intento de canalizar as manifestações de junho e julho de 2013 em uma espécie de “fora Dilma” não obteve sucesso. A tragédia anunciada e não ocorrida da realização da Copa do Mundo, os problemas da Petrobrás, a polêmica da estranha modificação de perfis de jornalistas feitas por computadores do Palácio, facilmente rastreáveis, os ataques ao baixo desempenho da economia etc., só serviram para atiçar e espalhar um pouco mais o ódio já presente em setores da classe média com relação ao Governo, mas tampouco abalaram a perspectiva de reeleição.

Os boatos de baixo nível, como os que se dirigiam ao filho do ex-presidente Lula, o anúncio de um “golpe comunista” (ou de que vivemos já em uma “ditadura comunista”), a hipótese de que os médicos cubanos e os imigrantes haitianos são guerrilheiros disfarçados, ou de que o Brasil financia o governo de Cuba são tentativas despolitizadas e servem apenas para perturbar as mentes sem muito contato com o mundo real da política. Espalham-se pelas redes sociais virtuais, mas não atingem os debates políticos sérios.

Nesse movimento, que tem a mídia corporativa na vanguarda, há outros agentes atuando. O Banco Santander tentou uma chantagem financeira com seus clientes, advertindo para os riscos de um cenário de reeleição da presidente. Uma empresa de análise de investimentos chamada “Empiricus” apostou na propaganda paga na Internet e espalhou pela rede os riscos ao patrimônio em caso de reeleição de Dilma.

Somada a essas tentativas, que atuam pela negação, vinha a ação positiva pela aposta em uma candidatura de oposição, antes concentrada no candidato do PSDB, Aécio Neves. Nenhum escândalo do PSDB foi tratado como espetáculo de corrupção pelos principais meios de comunicação. “Mensalão tucano”, caso do metrô, fraudes nas privatizações, aeroporto no interior de Minas e o caso mais grave da cocaína dos Perrela (amigos de Aécio), todos esses eram temas proibidos ou tratados com cuidado cirúrgico nas editorias de política das grandes empresas de comunicação.

Nada, porém, parecia funcionar. A oposição dividia os baixos percentuais de intenção de voto entre Aécio e Eduardo Campos, deixando aberta a possibilidade de uma vitória de Dilma no primeiro turno. A oposição de esquerda não conseguiu fazer seus candidatos aparecerem como alternativas. Marina Silva, coringa das últimas eleições presidenciais e promessa de arregimentação de votos dos indignados com “tudo que está aí”, só pôde figurar como vice do candidato do PSB, pois não conseguiu registro de seu novo partido.

O maior problema era que a situação era sustentável. Nada parecia mudar o quadro. O resultado das próximas eleições, a continuar a inércia da situação, deixaria os videntes sem função. Se uma coisa bem grande não acontecesse, tudo era só uma questão de tempo.

E eis que a coisa grande aconteceu. O acidente aéreo do dia 13 de agosto, além de tirar a vida de várias pessoas, subtraiu o sono dos coordenadores da campanha de Dilma e retirou o tubo de alimentação da campanha estagnada do candidato tucano. E, de gorjeta, ainda forneceu combustível para as ilações dos boateiros de redes sociais que, sem nenhuma lógica imaginável, trataram o acidente como um atentado perpetrado por “Dilma e o PT”.

A coringa Marina Silva galga à condição que era pretendida desde o início e pra a qual estava reservada desde a última eleição presidencial. O baixo percentual de intenções de voto em uma das candidaturas de oposição, a do PSB, salta de oito para 20%, alimentado também pela comoção novelística da mídia que transformou Eduardo Campos de candidato inexpressivo no “maior político da história brasileira” em poucas horas. A candidata acreana seria, além da esperança dos desacreditados, a herdeira dos ideais sublimes do político pernambucano.

As forças socioeconômicas e midiáticas de oposição ao Governo parecem estar em revoada, abandonando a mata seca de Aécio para alimentar-se na verdejante floresta de Marina. Para elas, agora há esperança. Dilma que se cuide. Já a candidatura tucana falecerá como efeito retardado da queda do Cessna 560 XL.

Esse é mais um caso de tragédia na história que, de tão conveniente para certos grupos, faz brotar sorrisos escondidos sob as lágrimas de pêsames. Uma nova corrida presidencial, com um cenário totalmente diverso, começou no dia 13 de agosto.

*Maurício Abdalla, é catedrático brasileiro. Membro do Movimento Fé e Política, professor de filosofia da Universidade Federal do Espírito Santo. Autor de “O princípio da cooperação” (Paulus) e “La crisis latente del darwinismo” (Cauac), dentre outros.

Na foto: A morte trágica e inesperada do candidato do PSB à Presidência da República, Eduardo Campos, modifica as peças do cenário eleitoral

Brasil - Eleições: Aécio perde e Marina disputa segundo turno com Dilma, prevê pesquisa



Correio do Brasil, São Paulo

O comitê de campanha do candidato tucano à Presidência da República, Aécio Neves, acordou de prontidão, nesta quarta-feira, após a divulgação dos primeiros resultados das pesquisas com o ingresso da candidata do PSB, Marina Silva, na corrida eleitoral. A ex-senadora tira votos da presidenta Dilma Rousseff, sim, mas o maior estrago acontece no eleitorado de Neves, segundo análise do tracking diário, encomendado pela campanha tucana e vazado para um diário da mídia conservadora.

A ex-senadora, com 21% das intenções de voto no Datafolha, frente aos 20% do tucano, estreou bem em Minas Gerais, reduto político tucano, além de São Paulo, maior colégio eleitoral do Brasil e joia da coroa de Neves. Apesar de ainda considerarem o cenário incipiente, analistas observam que esse movimento não se encerrou ainda e tende a se cristalizar na estreia de Marina nos programas do horário político.

Nesta manhã, o PSB estreou a chapa presidencial com a ex-senadora Marina Silva como candidata à Presidência da República e o deputado federal Beto Albuquerque (PSB-RS) como vice. Marina era vice na chapa encabeçada por Eduardo Campos, morto na semana passada durante acidente aéreo. O anúncio informal ocorreu na noite passada, em pronunciamento do presidente do PSB, Roberto Amaral, no Recife, seguido por uma nota do partido sobre a decisão oficializada na reunião da Executiva Nacional da legenda, nesta tarde.

“(O PSB) entende que a melhor opção partidária na triste circunstância imposta pela tragédia, é para o PSB e para a coligação Unidos pelo Brasil convidar os companheiros Marina Silva e Beto Albuquerque para liderar nossa chapa presidencial. Desse pensamento partilha o PSB de Pernambuco”, acrescentou o documento, ressaltando desse modo a importância da base política de Campos na escolha”, afirmou a nota assinada por Amaral.

Segundo turno

Em linha com as pesquisas diárias dos tucanos, o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, um dos coordenadores de campanha da presidenta Dilma Rousseff à reeleição, prevê que o segundo turno será mesmo contra a candidata Marina Silva.

– Minha opinião não é a mesma de alguns companheiros meus do partido e do governo. Eu acho que a Marina vai ser mais forte que o Aécio (Neves, candidato do PSDB). Acho que a tendência é se tiver segundo turno, e tudo indica que vai ter segundo turno, vai ser com ela (Marina) – disse ele à agência inglesa de notícias Reuters na noite passada.

Pesquisa do Datafolha divulgada na madrugada de segunda-feira mostrou Dilma com 36% das intenções de voto, seguida por Marina com 21% e Aécio com 20%. Apesar de projetar esse cenário de disputa entre Dilma e Marina, o ministro afirmou que é preciso esperar um pouco para ver que discurso o PSB adotará na campanha e como Marina vai se comportar nos debates.

– O (Eduardo) Giannetti, que é o candidato a ministro da Fazenda dela, está dizendo que não tem diferença na área econômica entre ela e o Aécio. Acho que isso é que vai com certeza definir o crescimento dela ou que ela míngue. Com certeza o pessoal do Aécio está achando que ela não vai ter fôlego. O importante é saber o que ela vai dizer – disse Bernardo.

Para o ministro, Marina tem a vantagem em relação ao tucano por ter o ambiente de comoção instalado por conta da morte de Campos e por representar a surpresa de última hora na eleição. Além disso, Bernardo contesta a capacidade de Aécio de apresentar propostas.

– Ela tem esse fator surpresa. O Aécio ficou quatro anos no Senado e o que ele fez nesse período? O que ele apresentou? Não mostrou nada – avalia Bernardo, que admite enfrentar, doravante, uma campanha “muito dura”.

Na foto: Dilma e Marina já se enfrentaram, na campanha presidencial de 2010

EUA: Médico que contraiu ébola recebe tratamento inédito e tem alta



Correio do Brasil, com Reuters - de Abidjan

Após ser submetido a tratamento com um medicamento experimental, um médico dos EUA que contraiu ebola de pacientes que tinham o vírus na Libéria recebeu alta de um hospital nos Estados Unidos , informou a instituição de caridade da qual ele faz parte.

Kent Brantly recebeu o medicamento ZMapp, usado em alguns poucos pacientes no surto de Ebola na África Ocidental e produzido pela Mapp Biopharmaceutical, empresa com sede nos Estados Unidos. A Mapp diz que o estoque da droga está esgotado.

- Estou maravilhado com o espírito corajoso do dr. Brantly enquanto ele lutou contra esse vírus horrível com a ajuda de uma equipe muito competente e atenciosa no hospital da Universidade Emory – disse o presidente da Samaritan’s Purse, Franklin Graham, em comunicado.

A Organização Mundial de Saúde informou na quarta-feira que 2.473 pessoas foram infectados e 1.350 morreram desde a identificação do surto de ebola em regiões remotas no sudeste da Guiné em março.

A OMS disse que nenhum caso da doença foi confirmado fora de Guiné, Serra Leoa, Libéria e Nigéria, países afetados pelo surto, apesar de suspeitas terem surgido em outros lugares.

Uma autoridade de saúde do Togo disse nesta quinta-feira que dois casos suspeitos, incluindo um velejador das Filipinas, foram examinados em busca do vírus.

Três médicos africanos, também tratados com o ZMapp na Libéria, demonstraram notáveis sinais de melhora, disse o ministro da Informação da Libéria, Lewis Brown, à agência inglesa de notíciasReuters na terça-feira.

Na foto: A Organização Mundial de Saúde informou na quarta-feira que 2.473 pessoas foram infectados

EUA: ADEUS AO DIREITO DE PROTESTAR?




Revolta negra de Ferguson reprimida com violência inédita. Polícias recebem do Pentágono armamento de guerra. Elites globais querem abolir manifestações sociais?

 Robert Bridge - Outras Palavras - Tradução: Inês Castilho

Os violentos protestos que continuam a assolar Ferguson, Missouri, onde um adolescente negro desarmado foi morto a tiros por um policial branco, levaram às ruas equipamentos de uso militar, numa demonstração de força assustadora. Como os Estados Unidos chegaram a tanto?

Muito antes de a maioria dos norte-americanos ouvir os nomes Osama bin Laden, Al-Qaeda ou Ferguson, Washington já havia declarado guerra contra um outro tipo de mal. Este, popularmente conhecido como cocaína, veio do sul da fronteira: é a droga escolhida por todos, dos suburbanos de classe média às celebridades de Hollywood.

Em 5 de setembro de 1989, George H.W. Bush falou à nação que iria aumentar o orçamento da “guerra às drogas” para $7,9 bilhões – “o maior da história”.

No ano seguinte, a Lei de Autorização da Defesa Nacional (Seção 1033) conferiu ao Pentágono poder para “transferir a agências federais e estaduais propriedades privadas do Departamento de Defesa, incluindo armas leves e munições, que, conforme determinação do Secretário, são: (a) adequadas ao uso por tais agências, em atividades de combate às drogas; e (b) excessivas para as necessidades do Departamento de Defesa”.

Previsivelmente, contudo, esses planos ousados não conseguiram deter o fluxo de drogas para os bairros norte-americanos. Em vez disso, o mal concebido programa usou a maioria dos recursos do contribuinte para comprar armamento de uso militar e acumulou novas prisões, numa longa e cara luta contra as drogas.

Nesse confronto movido a drogas, contra os cartéis da América do Sul, o Tio Sam, como Tony Montana – chefão das drogas obcecado por poder no filme “Scarface” (1983) – vai exibir-se num momento de coragem, glória e tiroteio contra o inimigo.

Contudo, em última análise a “guerra às drogas” fracassou como um tiro com pólvora molhada – apesar de gastar mais dinheiro do que um viciado em cocaína. A ONU estima que, entre 1998 e 2008, o consumo de opiáceos aumentou 35% no mundo inteiro, sendo 27% o da cocaína e 8,5% o da maconha.

Ao mesmo tempo, comunidades locais dos EUA herdaram os despojos das guerras no estrangeiro – do Iraque ao Afeganistão – estocando muitas toneladas de equipamento militar. Uma mostra aparece hoje nas ruas de Ferguson, em meio a crescentes protestos de rua.

Não apenas as comunidades locais estão se atualizado com equipamentos de uso militar, como também estão recebendo treinamento nas técnicas militares para utilizar esses equipamentos poderosos.

“O orçamento anual do Departamento de Polícia do St. Louis é cerca de US$ 160 milhões,” relatou a Newsweek. “Ao fornecer equipamento militar excedente de graça, a agências de aplicação da lei, a Lei de Autorização da Defesa Nacional incentiva a polícia a utilizar armas e táticas militares.”

Tão perturbador quanto a violência que atingiu Ferguson nos últimos dias e noites, e o horror diante do tiro de um policial que matou um adolescente desarmado, é assistir ao espetáculo de veículos blindados circulando pelas ruas da cidade e policiais equipados para lutar numa guerra no Oriente Médio, mais do que conter um protesto no meio-oeste dos Estados Unidos.

Além de veículos blindados, a polícia de Ferguson tem à sua disposição armaduras corporais, equipamentos completos de combate e armamentos futuristas para controlar multidões, tais como armas acústicas que dispersam manifestantes emitindo um sinal eletrônico poderoso e ensurdecedor.

A morte do adolescente Michael Brown e a violência que se seguiu lançou um holofote sobre o que tem sido em grande parte ocultado do exame público: a militarização das forças policiais locais dos Estados Unidos.

Muitos observadores estão se perguntando, em primeiro lugar, como exatamente veículos blindados e outros equipamentos de combate desembarcaram nas ruas de Ferguson.

Embora a polícia de Ferguson tenha sido vista conduzindo um veículo preto que se assemelha a um MRAP (Mine-Resistant Ambush Protected vehicles, ou veículos resistentes a minas e protegidos contra emboscadas), Mike O’Connell, diretor de comunicação do Departamento de Segurança Pública do Missouri disse à Newsweekque “nenhuma agência policial de St. Louis adquiriu MRAPs através do programa 1033”.

O’Connell disse que, se o veículo é de fato um MRAP e não um dos cerca de dez “caminhões utilitários“ adquiridos pelo Condado de St. Louis, ele não sabe de onde veio.

A parafernália militar vem com um custo adicional: a imagem de uma presença paramilitar mais preparada para uma guerra contra um inimigo externo pode ter o efeito indesejado de criar uma atmosfera de medo e paranoia na população.

O ex-chefe de polícia de Seattle, Norman Stamper, alertou que, quando a polícia usa uniformes de estilo militar, isso pode agravar o nível geral de hostilidade que a multidão sente pelos policiais.

“Manter a paz numa manifestação significa essencialmente ter policiais vestidos com uniformes cotidianos, não em trajes militares”, declarou Stamper em entrevista à Vox. “No processo, eles se tornam uma força de ocupação no local onde comandam – em nome da segurança pública, tomando iniciativas que na verdade prejudicam o controle legítimo.”

Em junho, a União Americana de Liberdades Civis (ACLU, na sigla em inglês) divulgou um relatório que apontava a compra de equipamento militar pelas polícias locais, juntamente com um aumento na implantação de unidades daSWAT, como prova de que as forças policiais dos Estados Unidos estão se transformando em algo potencialmente perigoso.

O mais incrível é que essa “infiltração militar” dentro das forças policiais locais está ocorrendo sem debate público. “O policiamento nos Estados Unidos tornou-se desnecessária e perigosamente militarizado, em grande parte por meio de programas federais que têm armado agências policiais locais e estaduais com armas e táticas de guerra, com quase nenhuma supervisão e discussão pública”, diz o relatório da ACLU.

Conforme os Estados Unidos reduzem suas operações militares no Afeganistão e no Iraque, as forças policiais dos EUA estão recebendo os armamentos de segunda mão do Pentágono. “Usando esses recursos federais, as polícias estaduais e locais vêm acumulando arsenais militares, supostamente para travar a fracassada Guerra às Drogas… Mas esses arsenais têm custo para as comunidades. O uso de ferramentas e táticas hiperagressivas resulta em tragédia para os civis e policiais, aumenta o risco de violência desnecessária. Além disso, destrói propriedades e mina as liberdades individuais “, conforme o relatório.

Em abril, Pentágono elaborou uma “Publicação sobre Técnicas Militares dos EUA: Distúrbios Civis” que antecipou o tipo exato de distúrbios civis que estão agora acontecendo em Ferguson.

O manual, obtido recentemente pela organizaçãoInteligência Pública, discute situações em que “A agitação civil pode variar de protestos simples e não-violentos, que tratam de questões específicas, a eventos que se transformam em distúrbios de grandes proporções.”

“Diferenças étnicas significativas numa comunidade podem criar uma atmosfera de desconfiança, até mesmo de ódio … (e) podem causar surtos de desordem civil que podem levar a levante total”, continua.

Mas a “infiltração militar” que parece estar acontecendo em Ferguson é indicativa de uma tendência nacional que envolve a transformação completa dos departamentos de polícia locais em aparatos paramilitares, e a despeito (ou por causa) do fato de que a “guerra às drogas” saiu do radar nacional.

Enquanto isso, esse investimento exorbitante em equipamentos e técnicas militares parece estar atiçando os departamentos de polícia a agir com fogo muito maior do que o normal, tanto contra culpados como contra inocentes.

Peter Kraska, professor na Escola de Estudos sobre Justiça da Universidade do Leste de Kentucky, declarou à Economist que equipes da SWAT foram mobilizadas cerca de 3 mil vezes em 1980. Hoje aquele número explodiu para “cerca de 50 mil vezes por ano”.

Kraska forneceu uma série de estatísticas preocupantes que atestam a crescente militarização nas comunidades norte-americanas, muitas delas com baixos índices de criminalidade: 89% dos departamentos de polícia em cidades norte-americanas com mais de 50 mil habitantes tinham equipes da SWAT no final dos anos 1990 – quase o dobro do que havia em meados dos anos 80. Em 2007, estas mesmas equipes já estavam presentes também em mais de 80% das cidades com população entre 25 mil e 50 mil habitantes.

Não é surpresa que um número crescente de norte-americanos não confie na polícia para protegê-los. Como afirmava a ACLU em seu relatório, “É tempo de a polícia norte-americana lembrar que supostamente deve proteger e servir nossas comunidades, e não travar uma guerra contra a população que vive nelas.”

Robert Bridge trabalha como jornalista na Rússia desde 1998. É autor do livro Midnight in the American Empire, que traz uma visão além da cortina de ferro do poder corporativo, e como esse fenômeno econômico está destruindo o Sonho Americano.

INTERNET TRANSFORMA-SE EM "PAÍS COLONIAL"




“Chegaram ao fim os direitos civis, a Internet foi tomada pelos serviços secretos do mundo”. Este é o título dramático do jornal de negócios alemão Deutsche Wirtschafts Nachrichten, que publicou os resultados de um estudo recentemente realizado por um grupo de cientistas e jornalistas da Alemanha.

A conclusão a que chegam pode chocar. No fundo, a Internet tornou-se um espaço ocupado. Segundo eles, docorreu uma “colonização” da WEB pelos grandes serviços secretos do planeta.

Os peritos, que se especializam na esfera dos problemas da segurança informática e da atividade dos serviços secretos, fundamentam as suas conclusões na análise das ações dos mestres de operações secretas americanos, canadianos e britânicos, que utilizam a Internet para os seus objetivos. Os autores do estudo constatam, com base no exemplo da atividade dos serviços secretos desses países, que dispõem das possibilidades técnicas mais modernas, a ampla e ilimitada infiltração das estruturas de espionagem em todos os segmentos da troca de dados eletrônicos, incluindo a vigilância de praticamente cada um dos utilizadores particulares da Internet.

Por exemplo, o Centro de Comunicações Governamental (GCHQ), serviço britânico de espionagem e de defesa da informação do estado, tem como seu objetivo, escrevem os autores do estudo, conseguir o controle total da “rede mundial”. Graças, nomeadamente, à realização do programa “Hacienda”, os funcionários do GCHQ podem hoje, como afirmam os peritos do grupo, realizar a cópia total de redes em 27 países do mundo.

Além disso, o objetivo dos britânicos não é, digamos, a monitorização de qualquer um segmento separado da Internet ou a detecção de contatos deste ou daquele usuário concreto. A sua tarefa principal é detecção de sistemas vulneráveis em todo o mundo e reuní-los todos num ficheiro.

Por isso, segundo as palavras dos autores do relatório, são “vítimas” das infiltrações ilegítimas na Internet tanto serviços inteiros da Rede, como utilizadores separados, mesmo que os códigos ou passwords “pescados” pelos agentes secretos tenham apenas relação indireta com eles. Os serviços de espionagem, lê-se no relatório, violam os mais diversos segmentos da Internet, esperando conseguir encontrar neles brechas para entrar nos sistemas que mais lhes interessam em primeiro lugar.

Além disso, sublinham os autores do relatório, tanto os métodos de espionagem eletrônica, como os objetivos finais dessa atividade têm, no fundo, um caráter global. Neste sentido, a prática do trabalho dos serviços secretos em nada difere das ações dos ciber-criminosos que violam códigos e passwords à procura de vítimas.

Só neste caso os servidores de estados inteiros se tornam alvos e a tarefa consiste em procurar lugares vulneráveis na infraestrutura da rede.

O resultado prático consiste em que toda a “pesca” que os serviços secretos conseguem fazer na Internet torna-se patrimônio do super-secreto Clube dos Cinco Olhos, união informal dos serviços de espionagem dos EUA, Grã-Bretanha, Canadá, Austrália e Nova Zelândia. Com base em diferentes informações forma-se um único banco de dados e o objetivo global é o domínio completo dos serviços secretos na rede.

Segundo denúncias de Edward Snowden, ex-agente da CIA e da NSA, o “velho” parceiro atlântico domina no espaço da espionagem eletrônica. Os aliados também não escapam ao seu campo de visão.

As queixas dos políticos europeus do mais alto nível, por exemplo, de Angela Merkel, chanceler federal da Alemanha, que foi vítima de escutas pelos americanos, não são tidas em conta. O mais que pode fazer a senhora chanceler é considerar a espionagem dos aliados “gasto de forças sem sentido” perante as ameaças do século XXI. Mas ela ressalvou imediatamente e disse que, não obstante isso, a parceria com os EUA “não é posta em causa”. A hegemonia dos EUA na esfera da espionagem eletrônica não levanta dúvidas entre peritos, como, por exemplo, Alexander Khramchikhin, vice-diretor do Instituto de Análise Política e Militar:

"Tem lugar uma guerra informativa mundial com a ajuda da Internet e é difícil imaginar que os estados renunciarão ao controle dela. Claro que os americanos foram e continuam a ser hegemônicos. A Europa não pode de forma alguma superar a dependência em relação aos Estados Unidos, em primeiro lugar, psicológica”.

A propósito, os europeus aceitam cada vez menos serem aliados de “segunda categoria”. Recentemente, por exemplo, a página da Internet Volkszorn (“Ira do Povo”) pronunciou-se duramente a este propósito. No comentário com o título “Agentes dos EUA na Alemanha mentem, deturpam os fatos e fazem espionagem”, o portal critica os políticos e jornalistas alemães que, seguindo os EUA, se envolveram no atiçamento da histeria antirrussa. A página escreve que agentes dos serviços secretos dos EUA, tentando desviar a atenção da opinião pública das suas ações porcas no planeta, iniciam nos mídia alemães uma campanha caluniosa contra a Rússia. Eles não apresentam provas, simples acusam gratuitamente.

Segundo a página, os jornalistas que com a sua russofobia prejudicam os interesses nacionais da Alemanha são suspeitos: não são agentes pagos da CIA? “Ou talvez mintam gratuitamente? - interroga-se a Volkszorn. – O que é duvidoso”. Talvez não valha a pena acrescentar mais alguma coisa a isso.

Oleg Severguin - Voz da Rússia - Foto: Flickr.com/Marcela Palma/cc-by-nc-sa 3.0

PRESIDENTE DA INDONÉSIA DIZ QUE ESTADO ISLÂMICO “ENVERGONHA” MUÇULMANOS




Sydney, Austrália, 21 ago (Lusa) -- O Presidente da Indonésia, o maior país de maioria muçulmana do mundo, defendeu que as ações dos militantes do Estado Islâmico "envergonham" a religião e instou os líderes islâmicos a unirem-se na luta contra o extremismo.

"É chocante e está a ficar fora de controlo", disse Susilo Bambang Yudhoyono, numa entrevista ao jornal The Australian, um dia depois de o Estado Islâmico (EI) ter divulgado um vídeo que mostra a alegada decapitação do jornalista norte-americano James Foley, num ato que revoltou a comunidade internacional.

"Nós não toleramos de forma alguma. Proibimos o EI na Indonésia", afirmou, instando os líderes internacionais a unirem-se para combater o radicalismo.

Para o chefe de Estado indonésio, que considera que os recentes acontecimentos constituem uma "nova chamada de atenção" para os líderes internacionais em todo o mundo, incluindo os islâmicos, as ações do EI, além de "embaraçarem" o Islão, "humilham-no".

"Todos os líderes devem repensar a forma como combatem o extremismo. É preciso uma mudança de paradigma em ambos os sentidos: na forma como o Ocidente perceciona o Islão e como o Islão vê o Ocidente", frisou.

A Indonésia conta com a maior população de muçulmanos do mundo -- cerca de 225 milhões -- e abriu a sua própria 'guerra ao terrorismo' na sequência dos atentados de Bali, em 2002, e não tem sido alvo de ataques terroristas de grande dimensão desde o de julho de 2009 contra um hotel de luxo da capital que fez nove mortos.

Jacarta estima que dezenas de indonésios tenham viajado para a Síria e para o Iraque para lutar. Susilo Bambang Yudhoyono manifestou-se preocupado com o seu regresso, tendo pedido a agências que evitem que a ideologia radical se alastre à nação.

"Os nossos cidadãos na Indonésia estão a receber mensagens de recrutamento do EI, as quais contêm ideias extremistas", afirmou o Presidente que, em outubro, conclui dez anos no poder.

"A filosofia do EI apresenta-se contra os valores fundamentais que abraçamos na Indonésia. Na passada sexta-feira, no meu discurso à nação, apelei a todos os indonésios para que rejeitem o EI e parem de espalhar a sua ideologia extremista", realçou.

"O meu governo e as agências de segurança tomaram medidas decisivas no sentido de reduzir a propagação do EI na Indonésia, incluindo proibir os indonésios de se juntarem ao EI ou lutarem" nas suas fileiras, disse o Presidente, acrescentando que foi também bloqueado o acesso a 'sites' na Internet que promovem esta ideia.

DM // DM - Lusa

POLÍCIA DISPERSA APOIANTES DE CANDIDATO DERROTADO NAS ELEIÇÕES INDONÉSIAS




Jacarta, 21 ago (Lusa) - A polícia indonésia dispersou hoje, com gás lacrimogéneo, centenas de apoiantes de um antigo general, derrotado nas eleições presidenciais do mês passado, quando o Tribunal Constitucional confirmava a vitória do seu opositor.

Os agentes policiais dispararam várias granadas de gás lacrimogéneo e canhões de água para dispersar os manifestantes, que atiraram pedras e tentaram romper os cordões das forças antimotim, nos acessos ao tribunal, que estavam cortados.

A polícia perseguiu alguns apoiantes com bastões. Os confrontos duraram poucos minutos e a multidão dispersou logo a seguir.

Os juízes do Tribunal Constitucional indonésio começaram já a leitura, que poderá demorar várias horas, do veredito da contestação do general Prabowo Subianto aos resultados eleitorais que deram a vitória a Joko Widodo.

Analistas independentes afirmaram que o painel de nove juízes deverá rejeitar a contestação de Prabowo. O veredito não permite recurso.

O empresário e antigo general Prabowo, proeminente durante a ditadura de Suharto, com múltiplas acusações de violações dos direitos humanos, nomeadamente em Timor-Leste, e Joko Widodo, governador de Jacarta, declararam vitória nas eleições de 09 de julho.

Os resultados oficiais, divulgados após duas semanas de contagem dos votos no vasto arquipélago, confirmaram a vitória de Widodo, conhecido como Jokowi, com 53% dos votos, no escrutínio mais renhido desde o fim da ditadura, em 1998.

Jokowi é o primeiro líder eleito na Indonésia que não é oriundo das elites políticas e militares.

Prabowo, a tentar há uma década chegar à presidência do país, recusou aceitar os resultados, denunciou alegadas fraudes e contestou o trabalho da comissão eleitoral junto do Tribunal Constitucional.

As forças de segurança destacaram quatro mil agentes para a zona do Tribunal, onde os apoiantes de Prabowo têm realizado manifestações pacíficas nos últimos 15 dias e depois do candidato derrotado ter garantido que, caso perca no Constitucional, "vai continuar a lutar".

Para garantir a segurança na capital, as autoridades destacaram 30.000 polícias e um total de 250.000 estão de prevenção em todo o arquipélago.

EJ // JMR - Lusa

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Moçambique: ANTÓNIO MUCHANGA QUER REPOSIÇÃO DA SUA IMUNIDADE




Um dia depois de ter sido restituido à liberdade, o porta-voz do líder da Renamo, António Muchanga, o apresentou a sua guia de soltura à Presidência da República na esperança de ver reposta a imunidade que lhe foi retirada aquando da sua detenção. Ele foi solto na passada terça-feira (19), na sequência da entrada em vigor da Lei de Amnistia, no entanto, até esta quarta-feira (20), nem todos os abrangidos por esta legislação haviam tido a mesma sorte.

Muchanga, solto na tarde da passada terça-feira, 19, Agosto, foi-lhe retirado a imunudade numa reunião do Conselho de Estado que supostamente havia sido convocada para se discutir a tensão política do país. Foi depois dessa medida que o mesmo foi detido, ainda no recinto da Presidência da República, no dia 7 de Julho, e conduzido à esquadra localizada no porto de Maputo, acusado de incitação à violência por proferir publicamente “discursos incendiaries”.

Ao apresentar a guia de soltura, o quadro senior da Renamo e candidato a deputado na próxima legislatura pretende que o Chefe do Estado, António Muchanga, convoque um encontro dos seus conselheiros de modo a se repor a sua imunidade quebrada, uma vez que o processo que fez que o tivesse retirado já encontra-se extinto.

Muchanga disse também que é necessário que haja um Conselho de Estado de sábios e não de ímpios, à semelhança do que aconteceu no dia 07 de Julho.

42 dias de reclusão

Desde a detinção até à soltura de Muchanga passaram 42 dias. No seu primeiro contacto com a imprensa depois de sair da Cadeia de Máxima Segurança, o porta-voz do líder da Renamo, ligeiramente abatido disse que não estava arrependido do que falou pois com suas palavras pretendia alertar o povo para se precaver.

Durante o tempo em que esteve preso, ele disse ter tido dois tipos de tratamento, o primeiro foi um “mau tratamento” protagonizado pela polícia que o deteve no espaço da Presidência da República.

“Lamentavelmente o porta-voz do Governo mentiu para o povo moçambicano ao dizer que eu fui preso no Xenon. Depois da minha prisão não passei do Xénon. Fui pela avenida Marginal”, explicou.

Já o segundo tratamento foi na cadeia. “Na esquadra, tive o tratamento de qualquer réu que entra na esquadra: fiquei proibido de ver televisão, notícias e tudo, mas quando passei para a cadeia a situação mudou. Estive na sela do Carlitos Rachide, pavilhão 6 lateral 2, onde também esteve o meu colega Jerónimo Malagueta”, disse para depois acrescentar que “suportei as consequências de uma prisão, fiquei 30 dias fechado e com direito de banho solar durante 1 hora por dia, alegadamente porque o regulamento que anda na BO é esse”.

À imprensa Muchanga disse estar preparado para assumir nas consequências de tudo, desde que isso seja em nome do povo moçambicano. “As comunicações que eu fiz aqui, no dia 02 de Maio e dois de Junho, visavam fundamentalmente alertar o povo para se precaver”, recordou.

“Aqueles que queriam ver o presidente Dhlakama isolado, segundo o que andavam a gritar, criaram condições para eu ficar preso, mas continuo o mesmo António Muchanga, e preferi fazer esta conferência de imprensa para dizer que continuo o porta-voz do presidente da Renamo e, sempre que houver necessidade de me comunicar com o povo poderei me comunicar”, frisou.

Regulamento da BO é desumano

Num outro plano, Muchanga disse almejar ser deputado para alterar o regulamento vigente na Cadeia de Máxima Segurança, porque o actual é desumano. “Espero ser eleito deputado para em colaboração com os meus colegas revermos o regulamento que anda na BO, porque é desumano”, disse.

Muchanga disse haver muita gente presa e sem culpa, dando exemplos do “Danger Man” que ficou 7 anos sem culpa e mais tarde solto sem culpa.

“Já imaginou um homem ficar trinta dias sem ver o sol para depois dizerem ‘você não tem culpa, depois o Estado não paga nada por isso. Vamos trabalhar muito porque há pessoas que não deviam estar na prisão”, sublinhou Muchanga dizendo que também fez comícios, amigos e também foi saudado por alguns polícias.

António Muchanga sublinhou que o seu líder, Afonso Dhlakama, “não pode sair das matas porque ainda não há cessar-fogo, e pode ser morto e o Presidente da República vai lavar as mãos de um pecado que é seu, como fez no meu caso”.

A Renamo sempre o contestou a detenção do seu quadro considerando que a mesma era ilegal, supostamente, ter ocorrido sem um mandado judicial, tal como prevê a lei. No entanto, dois dias depois de ter sido recolhido ao calabouços, a detenção foi legalizada num acto considerado anormal, em que o despacho foi lido pelo escrivão. A suposta violação da lei deu azo a ideia de que a prisão tinha motivações políticas. À saída dos calabouços, Muchanga que estava na companhia da sua advogada, Alice Mabota, não teceu declarações à imprensa.

Ainda não foram todos amnistiados

António Muchanga foi solto na sequência da entrada em vigor da lei de amnistia. No entanto, até esta quarta-feira (20) ainda não haviam sido soltos outros cidadãos abrangidos por esta legislação. Os 21 membros da Renamo presos nas celas do Comando Provincial da Polícia da República de Moçambique (PRM) em Nampula, indiciados de promoverem desmandos na localidade de Napome, distrito de Nampula-Rapale. Dentre os detidos, figuram José Cadeira, delegado político da Renamo, em Namaita, e um antigo comandante daquele movimento político, radicado em Mutivaze.

Lei de Amnistia foi aprovada pela Assembleia da República, no dia 12 do mês, como resultado dos consenso alcançados na mesa de diálogo político entre o Governo e a Renamo. A mesma concede perdão aos cidadãos que tenham cometido crimes contra pessoas, propriedade ou contra a segurança do Estado durante a recente Guerra em Moçambique e que estejam previstos e punidos pela lei.

A lei abrange o período que vai desde Março de 2012 até à data da promulgação. A Lei de Amnistia aplica-se também autores de crimes previsto nesta lei ocorridos no distrito de Dondo, posto administrativo de Savane, em 2002, no distrito de Cheringoma em 2004 e no distrito de Marínguè em 2011. Esta lei foi promulgada na semana passada e publicada esta segunda-feira no Boletim da República.

Verdade (mz)

Moçambique: JORGE KHÁLAU GARANTE RIGOR DA POLÍCIA DURANTE AS ELEIÇÕES




O comandante-geral da Polícia, Jorge Khálau, prometeu formar todos os agentes da corporação em matérias ligadas à lei eleitoral, para que não se envolvam em irregularidades no pleito eleitoral, agendado para 15 de Outubro.

Falando à imprensa no final da sua visita de uma semana à província de Maputo, Jorge Khálau disse estar em curso um programa de educação cívica e patriótica aos agentes da lei e ordem, para que se familiarizem com o processo que se avizinha, tudo com vista a evitar possíveis atropelos à lei.

Para o número um da Polícia da República de Moçambique (PRM), o fundamental é que cada agente esteja devidamente documentado, de modo a que possa cumprir a sua missão, sem se envolver em anormalidades.

“Estamos a orientar a força para que trabalhe e actue exemplarmente durante as eleições. Priorizamos a educação cívica, desde a base até ao topo, bem como a educação patriótica. Por outro lado, é importante que o nosso agente perceba a génese da PRM. Temos que evitar irregularidades, que muitas vezes são cometidas por mera ignorância dos nossos polícias”, disse.

nNo balanço da sua digressão, Khálau disse ter encontrado um efectivo com elevada moral combativa em todas as unidades por onde passou.

O País (mz)

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