sábado, 17 de agosto de 2013

Angola: KILAMBA PODERÁ CAIR – DEFEITO NAS INFRA-ESTRUTURAS

 

A lagoa pestilenta do Kilamba
 
William Tonet e Arlindo Santana – Folha 8, edição 1155 – 17 agosto 2013
 
As desventuras no (des)caminho dacomercialização das m o r a d i a s da centralidade do Kilambaforam tantas, que vale a pena fazer um rápido“flas-back” sobre os acontecimentos passados e debruçarmo-nos sobre uma denúncia que chegou à mesa da nossa Redacção a propósito do que se passa actualmente nesse aglomerado habitacional, que, com tanto atropelo por que passou, se poderia aventar que se encontra abraços com algum feitiço!
 
Depois de JES ter inaugurado pomposamente em Julho de 2011, de entremeio com muitos arrotos de lagosta, a chamada 1ª fase da Centralidade do Kilamba (as obras estavam e ainda hoje estão longe do seu previsto termo),os resultados práticosdessa empreitada redundaram num aparatoso fracasso, pois as mais de 20 mil moradias à venda apresentavam-se como praticamente invendáveis e ficaram vazias durante longos meses, denunciando um desinteresse total no que toca à aderência de compradores das mesmas. Por causa dos preços, propostos sem levar minimamente em conta o poder de compra do angolano da classe média. É evidente que das classes mais carentes seria simplesmente absurdo falar.
 
Passado mais ou menos um ano, em meados do ano passado, 2012, a prestigiosa revista National Geographic publicou uma reportagem sobre a centralidade do Kilamba com o seguinte título: «Chineses de Angola constroem cidade fantasma», desenvolvendo esta epígrafe com alguns comentários que de laudativo nada tinham e de que salientamos aquele que melhor define o fracasso do projecto presidencial, «os apartamentos do Kilamba foram propostos para venda, via publicidade on line, a preços entre 60 mil e 120 mil dólares (que depois passaram a ser de 120 a 200 mil dólares), não obstante se estime que 2/3 dos angolanos vivem com menos de 2 dólares por dia». Genial! No sentido da mediocridade a caminhar para o absurdo!
 
Naturalmente, quando o Executivo, lá do alto do seu pedestal de extra terrestre,soube da publicação desse artigo da National Geografic, difundida em quase todos os países do mundo, viu--se obrigado vir a público dar uma explicação aos angolanos e concluiu que era preciso aligeirar a burocracia e o resultado foi o aparecimento de uma espécie de inferno criado pelas empresas Sonip, ligada à Sonangol e a Delta Imobiliária, agência ligada, ela, à Sonip. Tudo em família.
 
O remendo furado de JES
 
Os geniais peritos do MPLA e do Futungo, coadjuvados pelos cientistas da Sonangol, cozinharam então um sistema de pagamento que deveria, teoricamente, resolver o problema do enchimento das casas virgens do Kilamba, baseado no princípio de pagamento de uma entrada, variável segundo o tipo de residência (para um T3, por exemplo, entrada é de 16 mil dólares), seguida de um período de tempo variável, entre 15 e 20 anos, segundo a idade do comprador, de pagamento de um aluguer levado em conta para o pagamento da residência.
 
Entusiasmadíssimas, centenas de pessoas começaram a fazer fila de madrugada em Luanda para se inscreverem como candidatos a um apartamento nos projectos do Kilamba, Kapari, 44, Cacuaco e Zango. Pois é, mas o problema é que, além do oficial esquema teórico de acesso à compra das residências, nomeadamente das do Kilamba, apareceram outros esquemas em forma de vírus, hackers e outras espécies de parasitas, logo à entrada, no arranque do processo, a vender fichas que davam acesso à compra de uma casa. A banda de parasitas chegava a passar a noite no Kilamba para poder receber as fichas e em seguida poder cobrar umas centenas de dólares por cada uma delas, revezando-se e colocando nomes de pessoas que nem sequer se encontravam no local.” A rede estendeu-se até às bombas de combustível próxima e pelo Keroa onde se ia aglomerando“ o povo faminto, por ter passado dias ao relento, sem se alimentar e a dormir no chão”. Era só vê-los!
 
Naturalmente que o pessoal de asseguramento da polícia não podia ficar de fora deste quinhão, afinal isto é Angola e todo mundo se vira como pode, para eles o preço rondava entre 200 a 400 dólares. De resto, a propósito da obtenção dessas fichas chegou a haver maka entre os homens ao serviço da Segurançado Estado, MININT de um lado, FAA do outro, perante o olhar sereno da SONIP e da DELTA, que, estando-se completamente a marimbar para o povo, estabelecia uma obrigatoriedade de presença às 16h, às 20h, às 0h, e às 4h da manhã, e caso o mwangolé faltasse a umas das chamadas o seu nome que estava nos números 50, rapidamente se transformava em 2182. O mais espantoso de tudo isto, é que esta rebaldaria sem nome, esta vergonha inqualificável, esta roubalheira generalizada, toda esta sujeira foi, como de costume, digerida nas calmas pelos agentes de autoridade do Estado, que também deviam comer no mesmo bolo. E, entretanto, não se viu um único dirigente mesmo da oposição, levantar-se para denunciar esta vergonhosa situação, dir-se-ia mesmo que muitos dirigentes, considerados por muitos populares, como os palhaços do governo acham que tudo o que se está a passar no Kilamba é normal. É próprio. Isto é Angola!
 
Depois veio o tempo das chuvas e o Kilamba transformou-se numa espécie de afluente do rio Kwanza. É que o saneamento básico, feito em cima do joelho e ao mais baixo custo possível, não deu vazão aos aluviões causados pelas intempéries e a centralidade virou rio; depois havia as casas que rapidamente começaram a apresentar fissuras inquietantes; a partir de Fevereiro, de entremeio com inundações e hesitações, o regime conseguiu encontrar um meio de comercializar as casinhas des onho… E agora, mais de dois anos depois da sua espampanante inauguração pimpas, a centralidade continua a estar longe de ter chegado ao termo da sua construção, apresentando semelhanças inquietantes com um ovo oco que se foi enchendo, mas mal, a braços com defeitos de fabrico graves, como prova a denúncia que recebemos esta semana na nossa Redacção.
 
Kilamba de Agosto de 2013 consome águas das fossas
 
A denúncia sobre mais um percalço que assola o tortuoso percurso da comercialização das moradias e apartamentos da centralidade do Kilamba foi-nos comunicada por um pacato cidadão angolano, ex-expatriado na Alemanha, que tinha regressado à pátria com a ideia fisgada de se instalar e colaborar no engrandecimento de Angola. Instalou-se na cidade do Kilamba, que ele pensava ser aquilo que a propaganda do regime fazia e faz por intermédio da TPA, o que o levou a compará-la, na sua mente, às mais belas e conseguidas cidades modernas do Mundo. O homem chegou, viu, bastante mal, e comprou um apartamento sem ter realmente a noção exacta do que estava a fazer e de onde se estava a meter. Mas era na sua terra, sua pátria grande, sua casa própria, não podia estar errado, comprou sem calcular. Só depois é que se apercebeu que a centralidade era de meio-tostão com falta de tudo e de mais alguma coisa, nomeadamente infra-estruturas importantes, tais como, Hospital, Esquadra Policial, Bombeiros, etc. Mas, como sobredito, ter um tecto é sempre uma boa coisa na vida e ele lá se foi acomodando, até que, a certa altura, deu-se conta de algo de bizarro na entrada a sul do Kilamba, onde existe uma lagoa com águas esverdeadas e cheiro nauseabundo frequentada por grande quantidade de famílias de mosquitos, que, por se ter tornado, graças à sua podridão, uma fonte de reprodução desses insectos, se foi transformando, malembe, malembe, em um verdadeiro atentado à Saúde Pública, com tendência para se ir agravando com o passar do tempo.
 
O cheiro dessa lagoa, segundo o ex-expatriado, era tão forte que ultrapassava os limites do suportável, sobretudo ali, naquela centralidade, orgulho de Angola, pedra mestra da política governamental. Assim sendo, urgia tomar algumas iniciativas para minimizar a situação. Em conversa com várias pessoas, notou que muita gente não sabia de onde vinha toda essa imensa quantidade de água que naquele local, por assim dizer, estacionava e formava esse lago pestilento, o qual, como que para agravar a situação, já havia transbordado para a estrada, cerca de dois meses atrás, aquando de uma dessas chuvadas que a cada ano que passa fiscalizam o desempenho das autoridades, invariavelmente com nota zero, pois os problemas e situações graves de ontem, nos quais se puderam contar vítimas mortais, perduram, reaparecem e por vezes com mais forças do que antigamente, quer dizer, os Executivos, central e local, estão-se borrifando para o bem-estar duma centralidade que deveria ser um ponto fulcral da sua propaganda política, Incrível mas verdade «Deixa estar a aguinha. Isso fica para depois, temos negócios importantes a concluir», parece ser isso o que se está a passar. Sendo este o cenário, considerando que era necessário “agarrar o touro pelos cornos”, foram os próprios habitantes verificar de onde vinha essa água nauseabunda e, eis o que assevera o nosso informador a propósito da sua “descoberta”: “Posso afirmar sem medo de errar, que esta água tem sido bombeada a partir do Centro de tratamento das águas das fossa sépticas sem terem sido tratadas a 100%, no mínimo de acordo com as normas exigidas, e é isso que provoca o cheiro pestilento que se faz sentir nesta zona», e acrescentou, «o ideal, seria tratar estas águas das fossas a 100% e, depois de a tornarem potável, então sim, construir uma lagoa artificial, que até poderia ter peixes, e fazer deste sítio uma zona de lazer».
 
Pois é, quando se vem da Alemanha para Angola, a decalagem entre o que lá se faz e o que aqui não é feito, inspira omwangolé a fazer sonhos assim, bonitos, mas impossíveis de realizar por enquanto, enquanto muitos no poder considerados por muitos como fazendo parte de uma selecta e restrita camarilha que governa Angola não for posta no olho da rua.
 

Angola: AJUDA REFORÇADA ÀS VÍTIMAS DA SECA

 
 
Kumuênho da Rosa – Jornal de Angola
 
O Executivo procedeu ontem à avaliação do plano de contingência para apoiar as pessoas afectadas pela seca em Angola. A avaliação foi feita durante a sessão da Comissão Económica do Conselho de Ministros, dirigida pelo Presidente José Eduardo dos Santos.
 
O ministro da Agricultura, Afonso Pedro Canga, em declarações à imprensa após a reunião, disse que a avaliação é positiva, na medida em que foram desenvolvidas acções que permitiram fazer chegar apoio alimentar e económico às 640 mil pessoas afectadas em várias províncias da região sul.

Pedro Canga garantiu que é desejo do Executivo que a dependência alimentar termine o mais breve possível e garantiu que o programa de assistência vai continuar enquanto durar a situação de emergência, especialmente no que diz respeito aos alimentos.

“O programa aprovado está a desenvolver-se bem e vamos continuar a prestar assistência às pessoas até que elas possam ter capacidade para alimentação com bens produzidos localmente”, disse.

O ministro apresentou um relatório em que se pode avaliar o grau de execução do plano de contingência, sendo de salientar que a província do Cunene se mantém no topo da lista das províncias mais afectadas e também como detentora do maior número de pessoas que carecem de assistência. “A província do Cunene é a mais crítica porque a seca afectou todos os municípios e também é a que tem também o maior número de pessoas que precisam de assistência”, frisou.

O ministro afirmou que o plano de contingência está a ser executado, tendo em conta a campanha agrícola 2013/2014. É neste âmbito que à luz do plano estão a ser distribuídos instrumentos agrícolas e outros bens para dar início ao ano agrícola, de modo a contrapor o actual estado de dependência das famílias afectadas.

Além da distribuição de alimentos e outros bens de primeira necessidade, o plano contempla a reabilitação de furos e a entrega de meios de sobrevivência, principalmente para a nutrição das crianças no quadro da intervenção do Ministério da Saúde. O ministro Pedro Canga destacou a intervenção de organizações não governamentais, em coordenação com os governos provinciais.

Agenda de Desenvolvimento

O Executivo foi ontem informado sobre o relatório de balanço sobre as consultas a sectores governamentais e à sociedade civil com vista a reunir contribuições para a Agenda de Desenvolvimento pós-2015. O documento foi uma das notas dominantes da sétima sessão da Comissão Económica do Conselho de Ministros.

Em conferência de imprensa, após a sessão, o secretário de Estado do Planeamento, Pedro Luís da Fonseca, anunciou que foi dada ‘luz verde’ para a realização de uma conferência nacional, cujas conclusões e recomendações vão constituir a contribuição de Angola enquanto membro do painel de 50 países escolhidos pelo secretário-geral das Nações Unidas para a elaboração da Agenda de Desenvolvimento Global pós-2015.

O secretário de Estado do Planeamento disse que as consultas a diversas instituições do governo e organizações da sociedade civil, permitiram à comissão encarregada do processo concluir que existe um alinhamento expressivo das preocupações e das perspectivas de abordagem governamentais e das organizações da sociedade civil sobre temas de grande interesse nacional, cuja estratégia está consagrada no Plano Nacional de Desenvolvimento 2013/2017 e no Programa de Desenvolvimento de Longo Prazo Angola 2025.

Aumentou o crédito

O vice-governador do Banco Nacional de Angola António André Lopes informou que foi apresentado um balanço da estabilidade do sistema bancário no segundo trimestre de 2013. “Com este documento procuramos caracterizar a evolução que o sistema bancário teve ao longo do trimestre, comparando os principais indicadores com os similares de Junho de 2012”, disse. “Caracterizamos a evolução dos activos e concluímos que de uma maneira geral os activos do sistema bancário continuaram a evoluir positivamente, assinalando uma evolução de 6,19 por cento quando comparados com Junho de 2012. Isso deveu-se ao aumento significativo do crédito, que aumentou nesse mesmo período em 14, 59 por cento”, disse António André Lopes.

“Avaliamos também as componentes do passivo e concluímos que estava a evoluir significativamente, pois teve um crescimento no mesmo período de 5,87 por cento e isso teve muito a ver com o crescimento significativo dos depósitos dos clientes bancários que cresceram em 20,03 por cento”, revelou o vice-governador do BNA.

Também foi feita uma avaliação da evolução dos capitais próprios: “o sistema continua a ter um nível adequado de capitalização, resultante da política de reservas que tem sido seguida pelas instituições financeiras bancárias, mas também pela política de certo modo contida de distribuição de resultados”.

António André Lopes disse que “finalmente também apreciamos um conjunto de indicadores que medem a estabilidade do sistema bancário e concluímos que devido à estabilidade cambial, o aumento significativo da liquidez que o sistema regista, pode ser considerado com um nível de estabilidade adequado e melhor do que aquilo que tínhamos no período anterior”.

A Comissão apreciou ainda o relatório de balanço da Programação Financeira do II trimestre do ano 2013, a proposta de limites de despesas para a elaboração do Orçamento Geral do Estado para 2014, o memorando sobre a actualização das estimativas do Produto Interno Bruto (PIB) 2012, e a programação macroeconómica do ano 2013.

Foto: Riogério Tuti
 

Alemanha: A BELA ADORMECIDA

 


Der Spiegel, Hamburgo – Presseurop – imagem AFP
 
O Governo de Angela Merkel intima os países da Europa do Sul a realizarem reformas profundas, alijando a sua responsabilidade pelas consequências das suas políticas nesta crise. Uma atitude destrutiva para a Europa, a poucas semanas das eleições alemãs, adverte o filósofo Jürgen Habermas.
 
 
Sob um título em forma de súplica – “Alemães não querem uma Europa alemã”, [o ministro alemão das Finanças] Wolfgang Schäuble desmentia recentemente, num texto de opinião publicado simultaneamente no Reino Unido, França, Polónia e Espanha, que a Alemanha aspirasse a um papel de liderança política da Europa. Wolfgang Schäuble – que, com a ministra do Trabalho, Ursula von der Leyen, é o último membro do Governo de Angela Merkel a poder ser descrito como “europeu” nos moldes da Alemanha Ocidental – fala com convicção. É o oposto de um revisionista que pretenda reverter a integração da Alemanha na Europa e, assim, destruir a base da estabilidade no pós-guerra. Ele está familiarizado com o problema cujo ressurgimento nós, alemães, devemos temer.
 
Após a fundação do Império Alemão, em 1871, a Alemanha assumiu uma posição funesta e parcialmente hegemónica na Europa. O Estado era, nas palavras muitas vezes repetidas do [falecido historiador alemão] Ludwig Dehios, “demasiado fraco para dominar o continente, mas demasiado forte para se manter na linha”. Uma situação que contribuiu para abrir caminho às catástrofes do século XX. Graças ao êxito da unificação europeia, tanto a Alemanha dividida como a Alemanha reunificada foram impedidas de voltar a cair no velho dilema. E é manifestamente do interesse da República Federal que nada mude a esse respeito. Mas o que mudou não foi a situação?
 
Um roteiro imposto
 
Wolfgang Schäuble reage a uma ameaça atual. É ele quem impõe o rumo inflexível de Angela Merkel em Bruxelas e que sente as fissuras que podem levar à dissolução do núcleo da Europa. É ele que, quando se reúne com dos ministros das Finanças da Zona Euro, enfrenta a resistência dos “países beneficiários”, quando bloqueia as tentativas insistentes de uma mudança de estratégia. A sua oposição a uma união bancária que permitisse partilhar os custos associados ao encerramento de instituições bancárias em dificuldades é apenas o exemplo mais recente.
 
Wolfgang Schäuble não se desvia nem um milímetro das instruções da chanceler, que recusa que o contribuinte alemão sejam penalizados com mais do que o montante exato dos compromissos dos empréstimos que os mercados financeiros exigem para salvar o euro – e que sempre obtiveram, devido a uma “política de recuperação financeira” abertamente favorável aos investidores.
 
Este rumo inflexível não descarta, evidentemente, um gesto de 100 milhões de euros em créditos às pequenas e médias empresas, que o tio rico de Berlim entregou recentemente aos primos de Atenas em apuros, retirados dos cofres do país. O facto é que o Governo de Angela Merkel impõe o seu programa anticrise à França e aos “países do Sul”, numa altura em que a política do Banco Central Europeu de apoio à recuperação lhe fornece um apoio inconfessado.
 
Ao mesmo tempo, porém, a Alemanha rejeita a responsabilidade a nível europeu das repercussões desastrosas dessa estratégia – embora assumindo-a tacitamente, ao assumir o papel “perfeitamente natural” de líder. Basta olhar para os alarmantes números do desemprego entre os jovens do sul da Europa, resultado da política de austeridade que atinge mais fortemente os cidadãos mais vulneráveis ​​da sociedade.
 
Vista por este prisma, a mensagem de uma Berlim que não quer uma “Europa alemã” pode ser interpretada de forma menos favorável: a Alemanha está a esquivar-se das suas responsabilidades. Formalmente, o Conselho Europeu toma as suas decisões por unanimidade. Embora seja apenas representante de um dos 28 Estados-membros, Angela Merkel pode fazer valer sem restrições os interesses nacionais alemães ou pelo menos os que ela considera como tal. O Governo alemão aproveita a preponderância económica do país, com vantagens desproporcionais, enquanto os seus parceiros não começarem a questionar a lealdade politicamente ambiciosa dos alemães para a Europa.
 
Mas como dar qualquer credibilidade a esses gestos de humildade perante uma política que utiliza descaradamente a preponderância económica e demográfica do país? Quando, por exemplo, as regras mais rigorosas sobre as emissões de carbono dos carros de luxo novo-rico – uma medida que se encaixa perfeitamente no espírito de mudança energética do Governo federal, do nuclear para as energias verdes – ameaça prejudicar a indústria automóvel alemã, a votação [em Bruxelas] é adiada sine die, após a intervenção da chanceler, até o lóbi se considerar satisfeito ou as eleições terem passado. O artigo de Wolfgang Schäuble é uma reação, parece-me, à frustração causada pelo jogo duplo de Berlim junto dos governantes dos outros países da Zona Euro.
 
Em nome de imperativos de mercado contra os quais não haveria supostamente alternativa, um Governo federal cada vez mais isolado vai impondo severas políticas de austeridade à França e outros países em crise. Ao arrepio da realidade dos factos, considera que todos os Estados-membros da Zona Euro podem decidir as suas políticas económicas e orçamentais. Pretende-se deles que “modernizem” o aparelho de Estado e a economia e relancem a sua competitividade por conta própria – se necessário, com a ajuda de créditos do fundo de resgate.
 
Sofisma e paternalismo
 
Esta soberania fictícia é muito conveniente para a República Federal Alemã, pois dispensa o parceiro mais forte de assumir possíveis repercussões negativas das suas políticas sobre os parceiros mais fracos. Uma situação que Mario Draghi [presidente do Banco Central Europeu] denunciou há já um ano, explicando que "não é legítimo nem sustentável que alguns países prossigam políticas económicas suscetíveis de afetar negativamente as economias de outros Estados-membros da Zona Euro”.
 
Nunca será de mais repetir: as condições pouco ideais em que a Zona Euro opera hoje são imputáveis à conceção defeituosa de uma união política incompleta. É por isso que a solução não está em atirar o problema para cima dos ombros dos países afetados pela crise, concedendo-lhes empréstimos. A imposição de políticas de austeridade não basta para corrigir os desequilíbrios económicos que prevalecem na Zona Euro.
 
Só uma política orçamental, económica e social comum, ou pelo menos bem coordenada, permitiria nivelar os diferentes níveis de produtividade a médio prazo. E se não quisermos transformar tudo em tecnocracia, convém perguntar aos cidadãos o que pensam de um Kerneuropa [núcleo europeu] democrático. Wolfgang Schäuble não o ignora e não diz nada de diferente nas entrevistas que deu ao [semanário alemão] Der Spiegel, apesar de isso não se traduzir minimamente no seu comportamento político.
 
Posição embaraçosa
 
A política europeia está num impasse, o que [o sociólogo alemão] Claus Offe demonstrou claramente: se não queremos abandonar a Zona Euro, impõe-se uma reforma institucional – que vai levar tempo –, por mais impopular que seja. É por isso que os políticos que disputam a continuação no poder adiam constantemente a resolução do problema. O governo alemão, em particular, encontra-se perante um dilema: há muito que assumiu, pela sua atuação, a responsabilidade pan-europeia.
 
É também o único governo capaz de lançar uma iniciativa promissora para se avançar – e deve, para tal, associar a França ao processo. Não estamos a falar de trivialidades, mas de um projeto em que os estadistas europeus mais proeminentes investiram esforços consideráveis ​​durante mais de meio século. Por outro lado, é preciso saber o que se entende por “impopular”.
 
Qualquer solução política sensível requereria a aprovação democrática dos eleitores. E quando fazê-lo, senão antes de eleições legislativas? Tudo o resto é sofisma e paternalismo. Subestimar os eleitores ou exigir muito pouco da sua parte é sempre um erro. A meu ver, continuar a fechar os olhos, como se nada tivesse acontecido, persistindo em disputas míopes sobre negociações de pormenor à porta fechada, como é a sua forma de proceder atual, é um fracasso histórico das elites políticas alemãs.
 
Em vez disso, deviam dirigir-se sem rodeios a eleitores cada vez mais inquietos, que nunca foram confrontados com questões europeias de fundo. Deviam encetar um debate, inevitavelmente produtor de clivagens, sobre as opções possíveis, cada uma com os seus custos. Edeviam acabar com o código de silêncio que reina sobre os efeitos redistributivos negativos, a que os “países doadores”, pelos seus interesses a longo prazo, se têm de acomodar a curto e médio prazo, por tratar-se da única resposta construtiva para a crise. A resposta de Angela Merkel é conhecida – gesticulações de efeito soporífero. A sua personagem pública parece desprovida de núcleo normativo.
 
Desde o início da crise grega em maio de 2010 e da derrota [dos democratas-cristãos de Merkel] nas eleições regionais da Renânia do Norte-Vestefália, ela subordina cada movimento seu ao oportunismo de permanecer no poder. Desde o início da crise, a hábil chanceler manobra com sagacidade, mas sem princípios identificáveis, ​​e priva pela segunda vez as eleições legislativas de qualquer assunto polémico, sem falar da política europeia, tema cuidadosamente alienado.
 
A Europa a afundar-se
 
Pode gizar o seu caminho à vontade, porque a oposição, se se aventurasse a pressionar na questão sensível da Europa, arriscava-se a levar com o argumento de peso da “união da dívida”. E vindo de pessoas que só poderiam dizer a mesma coisa, se abrissem a boca.
 
A Europa está a afundar-se e o poder político cabe àqueles que decidem sobre a admissão ou licenciamento de temas a serem discutidos pelo público. A Alemanha não está a cuidar dos louros colhidos, está sentada num barril de pólvora. Falência das elites? Os países democráticos têm os dirigentes políticos que merecem. E é um pouco estranho esperar dos eleitos um comportamento diferente do vulgar.
 
Estou feliz por viver, desde 1945, num país que soube dispensar heróis. Também não acredito que sejam os indivíduos que fazem a história, pelo menos não em geral. Mas constato que há circunstâncias excecionais em que a perspicácia e a imaginação, a coragem e o sentido das responsabilidades dos depositários do poder influem sobre o curso dos acontecimentos.
 
Jürgen Habermas : “Temos de desenvolver uma solidariedade comum”
 
Falando no 23º Congresso Internacional Mundial de Filosofia, realizado em Atenas de 4 a 10 agosto de 2012, o filósofo alemão Jürgen Habermas debateu o presente e o futuro da Europa. Numa conferência de imprensa, afirmou que "os governos que impuseram os programas de austeridade têm de assumir a responsabilidade pelas consequências nos países do Sul", relata o jornal grego To Vima.
 
Para evitar o surgimento de nacionalismos, observou Habermas, os "cidadãos europeus" têm de ser informados e desenvolver-se "uma solidariedade comum". "Mesmo quando votamos para o Parlamento Europeu", argumentou, "cada país vota em função do interesse nacional". Para o filósofo alemão, isso exige ser alterado. Informar corretamente o eleitorado e os cidadãos dos diversos países, requer pelo menos de cinco anos:
 
Temos a obrigação de nos familiarizarmos com as questões que dizem respeito a todos os europeus, incluindo os procedimentos legais e as instituições; temos a obrigação de ser informados sobre a complexidade das exigências europeias, e esta sensibilidade em relação à política de cooperação deve nortear o discurso público.
 

Reino Unido: INGLATERRA PRECISA PENSAR EM SI MESMA ANTES QUE SEJA TARDE

 


Os olhares escoceses estão fixos em seu próximo referendo, mas os ingleses ainda não tratam de seu futuro. Por The Observer
 
Henry Porter - The Observer - Carta Capital
 
David Cameron tornou-se incomumente disponível para a mídia na semana passada: apareceu para comentar o abatimento de texugos, os comentários de um juiz sobre um caso de pedofilia, fracking e bullying nas redes sociais. Foi surpreendente que não tivesse algo a dizer sobre a gravidez da panda no zoológico de Edimburgo, mas talvez isso se aproximasse demais da questão profundamente importante do futuro da Escócia. Tian Tian é um capital britânico ou puramente escocês, e, se nascer um filhote (as gravidezes de pandas são geralmente ilusórias), Alex Salmond, o separatista premier da Escócia, é capaz de transformar o alegre acontecimento em capital político. O panda é imprevisível – evite o tema, sem dúvida lhe advertiram os assessores.
 
Falta apenas um ano para a votação escocesa, e se na sexta-feira, 19 de setembro de 2014, despertarmos para descobrir que – depois de um surto de otimismo nacionalista que ignorou amplamente as preocupações sobre que moeda o novo Estado usará e sua relação com a União Europeia – a Escócia votou pela independência plena, o choque para a Inglaterra será tão grande quanto a alegria ao norte da fronteira. Esqueça as pesquisas, que atualmente mostram uma grande maioria contra a independência. Simplesmente pode acontecer e, nesse caso, as classes políticas inglesas não estão nada preparadas e sequer começaram a pensar no turbilhão psíquico e político que se seguirá.
 
Não se trata apenas do futuro da Escócia, mas também, de maneira mais aguda, da Inglaterra. E o debate ocupará uma parte tão grande do próximo ano que é provável que chame a atenção para o modo como os ingleses são governados; o crescimento da consciência inglesa, mais que britânica; o futuro do Parlamento de Westminster e a crescente desilusão com os políticos e os partidos ao sul da fronteira. Mas, pelo comentário do primeiro-ministro na semana passada, parece que ninguém está pensando a sério sobre o que tudo isso significa para a Inglaterra, quanto mais para a União. Como se sentirá a Menor Bretanha?
 
Uma votação a favor da independência plena pode parecer improvável hoje, mas tal resultado colocaria em questão o assento permanente da Grã-Bretanha no Conselho de Segurança da ONU e o futuro do dissuasor nuclear independente do Reino Unido. O Estado de repente pareceria absurdamente pesado com o aparato de uma grande potência. Sem a Escócia, o país pareceria menos coeso, muito menos impressionante e de certa forma menos estável. Governos estrangeiros se perguntariam sobre a identidade e o objetivo da Menor Bretanha. Isto para não falar no que os ingleses – colonizadores expansionistas nos últimos 400 anos – pensarão de si mesmos depois da ruptura. Deixar um relacionamento é uma coisa, ser deixado é outra muito diferente.
 
Os escoceses poderiam forjar um novo futuro ousado, enquanto os ingleses poderiam facilmente se voltar para dentro e permitir o domínio do atual clima de isolacionismo barato, que despreza a Escócia, a União Europeia e praticamente todos os outros. O contrapeso da Escócia na vida inglesa faria muito mais falta do que os ingleses imaginam, e o nascimento da Menor Bretanha poderia facilmente provocar o florescimento abundante da Pequena Inglaterra. Nas últimas semanas, houve visões dessa situação desagradável – a xenofobia desavergonhada de Godfrey Bloom, do Ukip [Partido da Independência do Reino Unido], as vans que percorrem Londres pedindo aos imigrantes ilegais irem embora e Jacob Rees-Mogg, do Partido Conservador no poder, participou de um jantar de uma organização claramente racista, o Grupo Grã-Bretanha Tradicional.
 
O crescimento da consciência inglesa, identificado pelo grupo de pensadores IPPR como um dos principais fatos políticos dos últimos anos, é acompanhado de política linha-dura e intolerante. Os políticos precisam ser muito mais reagentes a essa mentalidade inglesa, especialmente diante dos números perturbadores do declínio da afiliação a partidos.
 
O problema imediato para a Inglaterra se o voto for contrário à união é o que acontecerá com nossa política. Como Westminster funciona e como serão suas relações com Gales e a Irlanda do Norte? Como poderemos acomodar um Parlamento inglês em Westminster – uma ideia muito popular que não depende do resultado da votação na Escócia? A perda de 41 deputados escoceses, em oposição a apenas um conservador, será desastrosa para o Partido Trabalhista? Isso torna muito mais difícil alcançar uma maioria absoluta, mas não impossível. Tony Blair ainda teria ganho em 1997, 2001 e 2005, mas em tempos de parlamentos divididos o trabalhismo terá grande desvantagem.
 
Os três principais partidos estão satisfeitos de que as pesquisas não possam ser invertidas em um ano, mesmo por um dos melhores políticos britânicos do último meio século. Alex Salmond parece ser um homem com uma arma secreta, mas em Westminster estão confiantes em que a união ainda não terminou.
 
O que torna essa complacência tão frustrante é que, seja qual for o resultado da votação no ano que vem – independência plena, devolução máxima ou mesmo o status quo –, a união vai mudar. A lealdade à ideia da Grã-Bretanha e da britanidade está em rápido declínio, notadamente na Inglaterra. O relatório do IPPR, "O cão que finalmente latiu", concluiu: "O eleitorado inglês deseja uma dimensão inglesa para as instituições de governo do país. Ele quer ver a Inglaterra mais claramente demarcada como uma unidade do resto do Reino Unido... o reforço e a politização da identidade inglesa estão ocorrendo na ausência de qualquer mobilização política formal. O inglesismo, em outras palavras, tem um momento próprio."
 
Essa importante percepção encontrou pouca reação séria em Westminster desde a publicação do relatório, há 18 meses. Só ouvimos falar no voto escocês – nunca na igualmente apaixonada ascensão nacionalista ao sul da fronteira. Os partidos ignoram esse clima por seu próprio risco, a menos que queiram entregar nacos de seu apoio a Godfrey Bloom do Ukip e aos assustadores integrantes do Grupo Grã-Bretanha Tradicional. E não há tentativa de abordar os problemas que surgiram depois da devolução – por exemplo, a anomalia que permite aos deputados escoceses votarem leis inglesas, enquanto os deputados ingleses não têm voz na Escócia.
 
Espero que os escoceses não votem a favor da independência. No entanto, tenho de admitir que um divórcio lento está a ocorrer há algum tempo e precisamos administrar a separação com sabedoria e dignidade. Talvez Abraão Lincoln não seja o homem certo a citar, já que ele se opunha violentamente à secessão do sul, mas o que ele disse em 1862 se aplica a nós: "Os dogmas do passado tranquilo são inadequados ao presente tempestuoso. A ocasião está cheia de dificuldades, e devemos enfrentar a ocasião. Como o nosso caso é novo, devemos ter um pensamento novo e uma ação nova. Precisamos nos libertar, e então salvaremos nosso país". É de liderança que a Grã-Bretanha precisa, e não de conversa sobre gnomos e texugos.
 

DOCUMENTOS DA CIA REVELAM “ÁREA 51” SEM REFERÊNCIA A EXTRATERRESTRES

 


Washington, 17 ago - Documentos da CIA confirmam a existência da base militar secreta "Área 51", no Nevada, Estados Unidos, nos anos 1950 mas não referem a existência de extraterrestres ou Objetos Voadores Não Identificados (OVNI).
 
Os documentos dos serviços de informações dos Estados Unidos agora desclassificados foram obtidos pela Universidade George Washington e incluem pela primeira vez uma referência oficial sobre o local criado sob as ordens do presidente Dwight Eisenhower em meados dos anos 1950, em plena Guerra Fria.
 
O secretismo sobre o local conhecido como "Área 51" deu origem a teorias que indicavam que se encontravam escondidos no local extraterrestres e restos de OVNIs, tendo sido na realidade uma base de treino para os aviões espião U-2.
 
Os documentos da CIA revelam o programa de concessão e aperfeiçoamento dos aviões espião dos Estados Unidos numa altura em que o presidente Eisenhower aprovou o uso do deserto do Nevada para as experiências e testes ao avião militar U-2 que tinha uma grande autonomia e a capacidade de voar a grandes altitudes, evitando o radar ou qualquer meio de deteção.
 
Ao longo das décadas, a existência da "Área 51" deixou de ser um segredo mas o facto da administração norte-americana nunca ter reconhecido a existência da base militar utilizada para experiências aeronáuticas com aparelhos nunca vistos à época deu origem a uma série de teorias entre as quais as que referiam o contacto com tecnologia extraterrestre.
 
Uma das mais famosas lendas relacionadas com o local -- o Caso Roswell -- defendia que os restos de uma nave extraterrestre que se tinha despenhado em Roswell, no Novo México, em julho de 1947 tinham sido transportados para a "Área 51".
 
Outro relato que faz parte da coleção de teorias da conspiração relacionadas com o local dava conta de experiências sobre tolerância à radiação efetuadas em prisioneiros de guerra japoneses, utilizados como cobaias humanas, durante a Segunda Guerra Mundial antes do lançamento das bombas atómicas sobre Hiroshima e Nagazaki, no Japão, em agosto de 1945.
 
Uma grande parte do material divulgado pela Universidade George Washington já era conhecido dos investigadores mas, segundo a universidade, o "facto mais notável" é que pela primeira vez o nome "Área 51" é utilizado em documentação oficial.
 
Em abril de 1955, os militares que planeavam a construção de um avião espião sobrevoaram o deserto do Nevada em busca de um local para os ensaios secretos e escolheram uma zona do deserto de sal que segundo os documentos agora tornados públicos tinha o nome Groom Lake.
 
A mesma zona tinha sido utilizada durante a Segunda Guerra Mundial como área de armazéns da artilharia aérea e foi então escolhida como local de provas dos aviões espião U-2 e para o treino dos respetivos pilotos e tripulações.
 
Os primeiros testes com os U-2 aconteceram em agosto de 1955 e no mesmo local realizaram-se ensaios com outros aparelhos como o A-12 e o D-21.
 
Os aviões espião U-2 tinham como objetivo vigiar a União Soviética e os países satélites de Moscovo.
 
Apesar da passagem dos anos, a área no deserto do Nevada continua vedada e o espaço aéreo fechado a aeronaves civis.
 
Os documentos da CIA agora divulgados incluem numerosas referências à "Área 51", um mapa e os nomes de todos os pilotos das missões U-2, com datas e rotas dos voos sobre a ex-União Soviética.
 
Os documentos fazem também referência a operações U-2 sobre a Índia entre 1962 e 1967 e a missões de sobrevoo da China em 1962.
 
PSP // SMA - Noticias Ao Minuto/Lusa
 

Moçambique: INCAPACIDADE

 

Verdade (mz) - Editorial  
 
O clima do medo já está mais do que instalado. E enquanto a retórica oficial prega a oração segundo a qual tudo não passa de boatos, os residentes dos bairros não dormem para não acordarem sobressaltados durante a vigília. Estamos, enquanto país, naquele ponto da casa sem comida. Ou seja, todos ralham e ninguém tem razão.
 
Populistas que somos, evocamos a capacidade da Polícia da República (PRM) de Moçambique quando se trata de uma manifestação desencadeada pelos enteados da pátria. Esquecemos, no meio da euforia, que os enteados da pátria não se escondem e circulam na via pública onde a possibilidade de repressão é extremamente fácil. Trata-se, portanto, de duas situações diferentes e que exigem, por isso, respostas igualmente diferentes. Reprimir indivíduos que queiram expressar a sua cidadania e gozar do seu direito de discordar dos métodos do Governo não é o mesmo que lutar contra o rosto invisível do crime.
 
Aliás, o contexto do surgimento da nossa periferia é, em si, um campo fértil para a expansão do crime. Se acrescentarmos aos problemas estruturais dos nossos bairros a tão certa possibilidade de a PRM não ter, de forma alguma, vocação para combater qualquer espécie de crime não é preciso muito para colocar uma província à beira de um ataque de nervos. A fotografia de um artigo que retrata um caso de violência doméstica, que teve lugar no Brasil, reflecte a expressão máxima do clima do medo que vivemos. A dita imagem circulou pelas redes sociais como a prova da malvadez do propalado grupo “G20”.
 
Com excepção de um indivíduo que se aproximou do @Verdade para partilhar os castigos que sofreu nas mãos de 11 malfeitores há muitos poucos casos dados como certos. A PRM confirma que 15 elementos assaltaram, violaram e “engomaram” uma das suas vítimas em São Dâmaso. Em T3 foram reportados dois casos de assalto e posterior violação. Não se trata, diga-se, de um número de ocorrências para colocar cidadãos sem dormir. Contudo, é mais do que suficiente para a PRM mostrar que é capaz de garantir a segurança dos cidadãos deste país que trabalham de sol a sol e pagam religiosamente os seus impostos.
 
Sem vítimas reais não é, para qualquer pessoa sensata, possível acreditar no “G20”. Mesmo por uma questão de lógica. E mesmo pela lógica continua impossível crer na capacidade da PRM para combater o crime. Aliás, as justificações segundo as quais os populares não colaboram resultam de uma manifestação de incapacidade gritante de a PRM cumprir o papel de garante da tranquilidade pública. Portanto, o que ficou demonstrado de forma categórica é que somos um país sem segurança. E isso acontece depois de sairmos do perímetro do cimento. Isso para os pobres. Porque os ricos são raptados em qualquer ponto deste país inseguro....
 

Moçambique: RENAMO e Governo ainda podem ultrapassar impasse, admite analista

 

Deutsche Welle
 
A RENAMO e o executivo moçambicano não chegam a consenso nas rondas negociais. O Parlamento encerrou uma sessão extraordinária sem rever a lei eleitoral. Mas um entendimento é fundamental, diz analista.
 
O Parlamento moçambicano encerrou na quinta-feira (16.08) a sessão extraordinária em que se previa debater uma proposta de revisão da lei eleitoral exigida pela RENAMO. Mas a proposta não chegou a ser submetida.
 
"O Parlamento criou espaço para que a proposta de revisão da lei fosse apresentada, mas, infelizmente, tal não aconteceu", disse Verónica Macamo, presidente da Assembleia da República moçambicana.
 
A RENAMO rejeita a atual representação proporcional nos órgãos eleitorais e defende a paridade. A intenção do partido era apresentar uma proposta de revisão da lei eleitoral em conjunto com o Governo, depois de alcançado um acordo no diálogo entre as duas partes.
 
Mas o impasse político já dura 16 rondas negociais. O executivo recusa a intenção da RENAMO e disse ao partido para apresentar sozinho a proposta de revisão. Na semana passada, o Governo moçambicano deu mesmo por terminado o diálogo com a RENAMO sobre o pacote eleitoral.
 
Consenso ainda é possível
 
Apesar de não haver uma solução à vista, o analista moçambicano Silvério Ronguana acredita que ainda não estão esgotadas todas as possibilidades para rever a legislação. Até porque, se não se ultrapassar o impasse político, as eleições não poderão ser livres e justas, diz.
 
"Poderá haver eleições, mas nesse caso já podemos adivinhar os resultados. Será como na Guiné-Equatorial, em Angola ou no Zimbabué", refere Ronguana. "Mas se queremos efetivamente um processo eleitoral minimamente aceitável é preciso reforçar a participação dos outros atores nos órgãos de gestão eleitoral, nomeadamente na Comissão Nacional de Eleições (CNE) e no Secretariado Técnico da Administração Eleitoral (STAE)."
 
O desentendimento sobre o pacote eleitoral entre o executivo de Maputo e a RENAMO deixará o partido da oposição fora das eleições em 53 autarquias, para as quais decidiu não se inscrever. Ronguana admite que, se um partido está fora do pleito, isso não põe em perigo a realização do mesmo. Mas agora será mais difícil que o Governo e a RENAMO cheguem a um consenso.
 
"Perdemos mais uma oportunidade soberana para ultrapassar os impasses, para celebrar eleições consensuais. Porque, aliás, um objetivo das eleições é a resolução de conflitos e diferendos", diz o analista. "Creio que as eleições podem até realizar-se, mas provavelmente já não naquele clima de festa, de concórdia, que era de esperar."
 
Braço de ferro
 
Ronguana acredita que tanto o Governo como a RENAMO têm vontade de ultrapassar o impasse político. Mas essa vontade não é tudo, refere. Cada um quer sair como vencedor e ninguém tem estado disponível para ceder.
 
Segundo o analista, tanto na RENAMO, como no partido no poder, a FRELIMO, ainda persiste a lógica de vitória dos tempos da guerra: "ambos foram construindo o seu temperamento político, foram conquistando o que conquistaram, pela via das armas e das vitórias", diz Silvério Ronguana.
 
"Penso que não existe um clima de cedência mínima, mas acho que provavelmente o Governo tem mais hipóteses de ceder do que a RENAMO, porque o que este partido realmente exige é um equilíbrio dos órgãos de gestão eleitoral e é manifesto que esse equilíbrio não existe. Esse consenso faltou antes de se encerrar a lei", conclui.
 
Perigo de novos conflitos
 
O impasse político em Moçambique e a ausência da RENAMO nas eleições autárquicas, marcadas para 20 de novembro, tem levado alguns observadores a dizer que a democracia de Moçambique está em perigo. Silvério Ronguana concorda e vai mais longe: se não se fizer nada, o país pode resvalar, de novo, para o conflito armado.
 
"Porque, desta vez, a RENAMO não está apenas a boicotar a sua participação nas eleições. Ela está decidida e tem mostrado que tem uma capacidade militar no terreno para inviabilizar o processo político no seu todo", diz. "O que está em causa não é a participação ou não da RENAMO, mas sim a realização ou não das eleições com todas as forças políticas."
 
Segundo Ronguana, não havendo um consenso, "a questão é saber qual a solução que o Governo tem. Porque há um perigo real de regressar a um conflito."
 
Autoria: António Rocha / Lusa - Edição: Guilherme Correia da Silva / Marcio Pessôa
 

Angola: ISABEL DOS SANTOS FEZ FORTUNA PELO NEPOTISMO – Revista Forbes

 


João Santa Rita – Voz da América
 
Revista detalha negócios da filha do presidente angolano e como beneficiou do poder. "Sem fundamento", diz porta voz
 
É a primeira bilionária Africana. Chama-se Isabel dos Santos e a conceituada revista económica Forbes chama-lhe na sua última edição de “Menina do Papá”.

Isto porque num artigo escrito por Kerry Dolan e Rafael Marques a revista afirma que a fortuna de 3.000 milhões de dólares de Isabel dos Santos se deve ao nepotismo do seu, o presidente José Eduardo dos Santos.

No artigo que investiga a fundo as empresas de Isabel dos Santos o antigo primeiro ministro Marcolino Moco disse que não pode haver duvidas que foi o presidente dos Santos quem gerou a fortuna da filha.

O artigo -titulado " A Menina do Papá: Como uma ´princesa´ africana pôs no banco $3 biliões numa país que vive com $2 por dia - afirma que a fortuna de Isabel dos Santos advém de ficar com uma fatia de uma empresa que queira estabelecer-se em Angola ou de uma assinatura presidencial do pai.

Um dos exemplo dados é como Isabel dos Santos aparece subitamente com 24,5% por cento da companhia de diamantes Ascorp através de uma companha baseada em Gibraltar a Transafrica Investiment Services, TAI,. A ASCORP foi formada para fazer parceria com a ENDIAMA na venda de diamantes.

Mais tarde a TAI foi transferida para controlo da mãe de Isabel dos santos.

O conselho de ministros, presidido pelo presidente aprovou a parceria.

Isabel dos Santos controla também 25% da UNITEL a primeira operadora de telecomunicações privada em Angola. Isso, diz a FORBES, partiu de um decreto presidencial garantindo licenças sem concurso publico.

A entrada d interesses privados estrangeiros em Angola terá sido feita tambem de forma “escura” com 25% controlado por um “veiculo de investimento controlado por Isabel dos Santos”.

Rafael Marques disse á Voz da America que tudo o que se encontra no artigo está bem fundamentado e disse não temer qualquer acção de difamação.

A salientar que um representante de Isabel dos Santos disse que todos os investimentos de Isabel dos Santos são transparentes e têm sido conduzidos com “reputadas firmas de advogados e bancos”.

Um porta voz acusou por outro lado Rafael Marques de ser “um activista com uma agenda política”.

Todas as alegações de transferências ilegais de fundos do governo para Isabel dos Santos, disse um representante, são “absurdas e sem fundamento”.
 
 
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JORNALISTAS ANGOLANOS OPÕEM-SE À PROPOSTA DE LEI DO TRABALHO

 

Arão Ndipa – Voz da América
 
O executivo quer rever a lei vigente para torna-la mais eficaz, um argumento que não convence as organizações sindicais angolanas.
 
A classe de jornalistas angolanos não está de acordo com a proposta do ante projecto da futura lei geral do trabalho que as autoridades pretendem aprovar.
 
O sindicato de jornalistas considera esta proposta como sendo um retrocesso para actividade sindical.

A onda de contestação contra a actual proposta de lei está a mobilizar as organizações sindicais angolanas dos diversos ramos que identificam no referido documento disposições que, segundo elas, ferem a estabilidade do emprego e ameaçam mesmo a sobrevivência da actividade sindical no país.

No entanto o executivo angolano sustenta que que é imprescindível rever a lei vigente para torna-la mais eficaz nas circunstâncias actuais, um argumento que não convence as organizações sindicais.

Esta semana o sindicato dos jornalistas angolanos juntou-se a essa onde de contestação.

Para nos falar sobre o assunto, ouvimos Luísa Rogério, secretária geral do sindicato dos jornalistas angolanos e Marcia Nigiolela, especialista em direito laboral.

Brasil: PROVAVEL FIM DA ALIANÇA COM PT NO RIO ENCERRA CICLO PARA CABRAL

 


Há seis anos e meio, logo após assumir o governo, Cabral foi protagonista de uma decisiva reviravolta política ao romper com o ex-governador Anthony Garotinho e tomar deste o controle do PMDB no Estado, pondo fim a anos de divórcio entre o Rio e o governo federal. A relação com Lula se estreitou. Mas, agora, afastou-se de Dilma e do PT, que deverá ter no senador Lindbergh Farias um competitivo candidato próprio ao governo estadual em 2014. Por Maurício Thuswohl, do Rio de Janeiro
 
Maurício Thuswohl - Carta Maior
 
Rio de Janeiro – As inúmeras dificuldades políticas e a acentuada queda de popularidade enfrentadas nesta reta final de mandato à frente do Governo do Rio de Janeiro podem colocar para Sérgio Cabral o ponto final em um vitorioso ciclo, iniciado em 2007 com sua chegada ao Palácio Guanabara. Há seis anos e meio, logo após assumir o governo, Cabral foi protagonista de uma decisiva reviravolta política ao romper com o ex-governador Anthony Garotinho e tomar deste o controle do PMDB no estado, pondo fim a anos de divórcio entre o Rio de Janeiro e o governo federal. Ao expelir Garotinho do partido e estreitar laços com o PT e o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o governador do Rio consolidou aquela que por inúmeras vezes qualificou como “a aliança que mais deu certo no Brasil” e colheu frutos em forma de parcerias e investimentos federais que durante sua gestão ultrapassaram as centenas de bilhões de reais.

Cabral apoiou a eleição de Dilma Rousseff em 2010, teve sua reeleição apoiada pelo PT e a aliança, oficialmente, continua. Mas, agora, ao mesmo tempo em que é alvo de manifestações quase diárias nas ruas do Rio, o governador vê aumentar sua distância política para a presidenta da República e o PT, que deverá ter no senador Lindbergh Farias um competitivo candidato próprio ao governo estadual em 2014. A candidatura petista contraria os planos políticos de Cabral, já que o PMDB deverá lançar a candidatura do vice-governador, Luiz Fernando Pezão, e esperava ter o apoio do principal aliado.

Antes das manifestações de rua que em junho sacudiram o país – e o Rio em particular –os peemedebistas estavam em plena ofensiva contra a candidatura de Lindbergh. Dirigentes de peso como o presidente regional do partido, Jorge Picciani, chegaram a acenar com a possibilidade de não apoio à reeleição de Dilma. Em nota divulgada logo após o carnaval, o PMDB afirmava que “dois palanque para Dilma no Rio é uma equação cujo resultado não será a soma, mas a subtração”. Após as manifestações e a conseqüente fragilização de Cabral, no entanto, a orientação no partido até segunda ordem é evitar acirramentos que possam acentuar o desgaste político do governador e prejudicar a candidatura de Pezão.

Embora haja nos dois partidos quem trabalhe para superar a crise, o fato é que algo se quebrou na relação entre Cabral e Dilma desde que o governador, em uma das ameaças de rompimento provocadas pela pré-candidatura de Lindbergh, lembrou à presidenta, por intermédio de jornalistas, que um de seus filhos “também se chama Neves”, em alusão ao provável candidato do PSDB à Presidência, o senador mineiro Aécio Neves. Segundo fontes do Planalto, Dilma não gostou do tom, considerado ameaçador, desta e de outras declarações públicas de Cabral – como, por exemplo: “O Lula teve nosso apoio para lançar sua sucessora. Será que eu não posso lançar o meu?”. Coincidência ou não, desde então a presidenta tornou mais raras suas idas ao Rio e, após o início das manifestações e a queda da popularidade do governador, seria bom se essa ausência se prolongasse, pelo menos segundo a opinião de uma parte da direção do PT que já enxerga na proximidade com Cabral um fator de risco eleitoral para Dilma no ano que vem.

No que depender do PT do Rio, essa distância será logo demarcada. A Executiva regional do partido chegou a marcar, para 5 de agosto, a reunião na qual decidiria oficialmente romper com o governo Cabral, no qual ocupa duas pastas (Meio Ambiente com Carlos Minc e Assistência Social e Direitos Humanos com Zaqueu Teixeira). Catorze dirigentes, em um total de 21, já haviam manifestado sua decisão de votar pelo rompimento, mas a reunião foi adiada por tempo indeterminado a pedido da direção nacional do PT e do ex-presidente Lula, contrários a um gesto que pode ser interpretado pelo PMDB como um abandono de um de seus principais quadros em um momento de grande dificuldade política. O rompimento com Cabral, no entanto, vem sendo pedido por Lindbergh desde outubro do ano passado, e a intenção dos petistas cariocas é lançar a candidatura própria até outubro deste ano. Lula e o presidente do PT, Rui Falcão, pedem que o partido espere até o fim de 2013.

Fortalecer Pezão

O PMDB, por sua vez, sabe que a volta da pressão pela retirada da candidatura de Lindbergh só será possível se Cabral diminuir seu elevado índice de rejeição atual e Pezão passar a se mostrar mais competitivo nas pesquisas de opinião. Na mais recente sondagem, realizada pelo Instituto Ideia na primeira semana de agosto, Lindbergh lidera a acirrada disputa pelo Governo do Rio de Janeiro com 18% das intenções de voto, seguido pelo ministro da Pesca, Marcelo Crivella (PRB), cotado para ser vice na chapa do petista, que aparece com 17,5%. O terceiro lugar na pesquisa é de Marcelo Freixo (PSOL), com 16% das intenções de voto, e Garotinho (PR) aparece em quarto com 13,5%. Pezão, com 11,5%, surge somente em quinto lugar, seguido pelo ex-prefeito Cesar Maia (DEM), com 8,5%, e pelo deputado federal Miro Teixeira (PDT), com 4,3%.

A aposta peemedebista a partir de agora é construir um conjunto de estratégias para fortalecer Pezão e reverter o momento negativo. A partir do fim de agosto, o vice-governador irá se dedicar a visitar os municípios que estão recebendo o maior volume de investimentos estaduais em saneamento e infraestrura industrial. Pezão será também a principal estrela do Programa Bairro Novo, que tem orçamento previsto de R$ 800 milhões para obras de pavimentação em 20 municípios da Região Metropolitana e da Baixada Fluminense que receberão 750 quilômetros de asfalto.

No plano político, a objetivo é evitar debandadas e consolidar os apoios de prefeitos e deputados estaduais. Pezão irá visitar cada uma das 36 prefeituras onde o PMDB está presente (24 como prefeito e doze como vice), além de prefeitos de partidos aliados como PP e PDT, entre outros. A pressão sobre os prefeitos inclui o PT. Em junho, dias antes das grandes manifestações de rua, dez dos onze prefeitos petistas se reuniram com Pezão e Picciani para manifestar apoio ao candidato peemedebista. O movimento dos petistas, liderado pelo prefeito de Niterói, Rodrigo Neves, que foi secretário do governo Cabral, arrefeceu após a queda de popularidade do governador, mas este é um trunfo contra Lindbergh que ainda pode ser usado pelo PMDB se o partido recuperar sua imagem junto ao eleitorado.

Nas duas últimas semanas, Cabral se encarregou pessoalmente de reafirmar apoios na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). O primeiro efeito prático foi a volta à base governista de um grupo de doze deputados dissidentes do PMDB, liderados por Domingos Brazão que, após o novo acordo com o governador, assumiu a presidência da Comissão de Constituição e Justiça da casa. A ofensiva de Cabral incluiu ainda uma conversa com quatro dos seis deputados do PT que, segundo o governador, não tratou da sucessão estadual, mas sim de garantir a governabilidade nos últimos meses de gestão.

PMDB e Paes

Ainda há tempo até as eleições de outubro de 2014, e o governador do Rio tem experiência e cacife políticos suficientes para reverter sua queda de popularidade, voltar ao Senado e até mesmo eleger Pezão. Mas, a reconstrução de Cabral não será tarefa fácil, e terá que começar pela própria direção nacional do PMDB, que tem sido comedida nas manifestações de apoio público ao governador. A exceção é o vice-presidente da República, Michel Temer, que tem aconselhado Cabral a ter paciência e esperar a poeira baixar: “Ele tem todas as condições de se recuperar”, diz o ministro da Secretaria de Aviação Civil e ex-governador do Rio, Moreira Franco, interlocutor de Cabral e Temer e experiente quando o assunto é rejeição no Palácio Guanabara.

No plano regional, uma preocupação do PMDB é evitar que o dano causado a imagem de Cabral contamine definitivamente aquele que agora passa a ser o seu maior quadro político no estado: o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, que tem mais três anos e meio de gestão e é desde já favorito para ser o candidato do partido ao governo do estado em 2018, embora alguns peemedebistas defendam que o seja já em 2014. Por ora, a preocupação dos peemedebistas mais próximos ao prefeito é evitar que Paes e Cabral sejam vistos juntos até que as manifestações de rua esfriem, em uma curiosa demonstração das voltas que a política (e a vida) dá. Após se eleger governador do segundo estado mais rico do país, iniciar um ciclo político que viabilizou uma fortíssima aliança com o governo federal e se credenciar para, no futuro, almejar até mesmo a Presidência da República pelo PMDB, Cabral vislumbra no fim de seu governo o pesadelo de se tornar um político indesejado e abandonado por seus pares.

Fotos: EBC

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