quarta-feira, 12 de outubro de 2011

O SEXO DOS ANJOS OU O SEXO DOS TIMORENSES LADRÕES DE 400 MIL DÓLARES




ANA LORO METAN

Em Timor-Leste decorre mais uma novela da vida real desde há uma semana: alguém foi “apanhado” com a boca na botija e transportava consigo cerca de 400 mil dólares norte-americanos para depositar em bancos australianos. No aeroporto de Darwin detiveram o ”correio” que continha aquela avultada quantia em voo proveniente de Díli. Caricato foi que em todo este tempo a comunicação social australiana nada referiu, apesar de se julgar saber que aquela enormidade de dólares era pertença de um ministro do governo de Gusmão, o PM da espécie de república corrupta de Timor-Leste.

Por quase toda esta semana ninguém avançou com o que aconteceu e acontece na realidade, nem com os nomes dos intervenientes, pelo menos em narração editada em língua inglesa ou portuguesa, e até em tétum tudo tem aparecido muito vago e pareceu-me que a medo. As próprias fontes que na Austrália informaram o Página Global meteram os pés pelas mãos e as mãos na inconsciência. De salientar que em Darwin existe uma grande comunidade timorense, que não valeu de quase nada. Valeu. Valeu a inconsciência de não deitarem cá para fora o que sabiam com exatidão, contra o crime, em vez de gerarem confusão e mistério que só beneficia os criminosos. Se vem de quem vem, alguém tem dúvidas de que quantia tão avultada só pode ser fruto de ilegalidades?

A novela arrastou-se pretendendo discutir-se o sexo dos ladrões, não o sexo dos anjos porque isso os intervenientes não são. Que era um ministro, que era uma ministra, que era um homem, que era uma mulher… e que essa mulher é amante do ministro milagroso que possui 400 mil dólares… A confusão tem sido por demais, quase sempre retida no supérfluo e não no verdadeiro crime e com a identidade objetiva dos criminosos. O próprio parlamento em Timor-Leste – que decerto sabe a história toda – optou por discutir o sexo dos anjos em todos estes dias. Deputado houve, do CNRT, que prestou declarações vagas, classificou um suposto elemento do governo de ladrão mas não o identificou. O tabu tem sido enorme sem que se compreenda a razão. E tudo tem sido falado e escrito em tétum porque razão? Para que o mundo não saiba sobre a ladroeira que vai em Timor-Leste? Mas isso é um erro crasso. É que sobre a ladroeira que acontece em Timor-leste todo o mundo sabe. E também que há os que ganham dos seus vencimentos 200 e fazem vida de pelo menos 4 mil e muito mais. Como já tantas vezes aqui disse: quem cabritos vende e cabras não tem… de algum lado lhe vem.

Gusmão, o PM da espécie de república corrupta de Timor-Leste, chefe do governo AMP, nada esclareceu até agora, que se saiba. A comunicação social australiana nada sabe – ou faz que não sabe – sobre o caso, apesar de a ocorrência se ter registado em aeroporto australiano. A comunicação social em Portugal nada refere, igualmente. A Lusa, agência de notícias portuguesa que tem o seu correspondente e escritório em Timor-Leste, hoje atira-nos com dois pares de textos sobre o país que vêm carregados de CNRT, o partido de Gusmão, mas sobre Mariano Sabino, ministro da agricultura e alegado amante da senhora timorense detida em Darwin nada avança. Nem uma única palavra sobre o assunto ao longo de praticamente uma semana.

Na minha qualidade de timorense e de portuguesa lamento imenso o que se está a passar com mais esta triste novela da vida real timorense. Como portuguesa que paga os impostos que também proporcionam a sustentação da Lusa lamento imenso que naquela empresa seja notória a existência de auto-censura e censura institucional, porque é isso mesmo que se compreende sobre a razão de certos “ignoros” – repare-se na erradicação do português (ignorado pela Lusa) no ensino básico e na alarvidade de dispensarem a Gusmão um doutoramento honoris causa aviltante - de acontecimentos timorenses que deviam ser notícia. Ou essa já não é a função por que a Agência Lusa e os seus profissionais devem primar? Preferem então vender gato por lebre e pactuar com o obscurantismo? Que pena estes jornalistas (?) não terem exercido a profissão no tempo de Salazar e da sua comissão de censura. É que agora se aperceberiam facilmente do enorme valor da liberdade de expressão, da liberdade de imprensa, de formar e informar. Decerto que não seriam os invertebrados e quase inúteis que são agora.

Outro pormenor interessante é andarem a perder-se na senhora timorense amante do ministro Sabino, cujo nome nem recordo. Essa é a importância que dão a algo de somenos. O ministro é livre de ter amantes, as senhoras são livres de serem amantes de quem podem e querem. Esse pormenor é da área privada dos envolvidos e não devia servir para falsos moralismos dispersantes do importante: o ministro roubou aquela quantia? A quem? É pertença do estado timorense? É aí que está o crime e onde deve incidir a reprovação, a censura. Ainda mais por o suposto (ou não) criminoso vir referenciado desde há tempos com vida de fidalgo sem o ser.

Um amigo dizia-me há tempos que Timor-Leste está a perder-se por só olhar para o seu umbigo a vários níveis. Um deles é na comunicação. Quando considerou que precisava do mundo para apoiá-lo na sua luta pela independência até falava com sotaque alentejano se fosse preciso… E agora não, só fala e escreve em tétum, “coisa” que é doméstica e que o resto do mundo não sabe ou até nem conhece. Nem sequer existe um tradutor online. Mas há em português, mas há em inglês, mas há em Bahasa, por exemplo. São os timorenses que devem escolher o que querem falar e escrever como línguas nacionais, mas só o tétum não – para já e por muito tempo – porque coarta completamente a comunicação com o mundo. Se estiver a arder e pedir ajuda, se pedir beh, em vez de água ou water, pois de certeza que vai arder porque ninguém o vai entender. É isso que se pode chamar “só olhar para o seu umbigo”. Neste caso… a arder, a consumir-se, como a consumir-se está o país. Se realmente o português é a língua oficial a par do tétum, pois que seja consumado o preceito constitucional e que existam todas as notícias em português e em tétum para o país e para o exterior. É um imperativo de agora como de antes, durante a luta de libertação, quando Timor-Leste precisou de apoio na luta pela independência e olhava mais além, não somente para o seu umbigo porque sabia que sozinho não ia a parte alguma nas suas aspirações.

É perfeitamente possível que o correspondente da Lusa e a RTP (creio que também silenciou o ocorrido) em Timor-Leste nada refiram sobre mais este caso da senhora timorense que foi encontrada e detida em Darwin com 400 mil dólares e que é das relações do ministro da agricultura. Também é possível que o governo nada esclareça, nem aos deputados. Tudo é possível em Timor-Leste. Até é possível que a senhora nem seja amante do ministro, que afinal o ministro nada tenha que ver com o acontecido, que o ministro nem seja ministro, que, no final, se conclua que a senhora é um travesti, que as notas sejam de coleção de cromos. Tudo é possível naquele país, que é o nosso e de que os vilões das elites se apossaram, gerando miséria e fome para o povo enquanto roubam desbragadamente.

DEPOIS DE ESCRITO

È importante que seja ressalvado e mencionado o facto de a PPN, agência de notícias, através do Jornal Digital, Timor Digital e talvez outros, ter ontem (11-10), publicado notícia sobre o ocorrido mas sem chegar a pormenores importantes como a identificação dos envolvidos. Mas foi a única, em português, a fazer a mais que necessária referência ao assunto.

Aliás, o mesmo aconteceu quanto ao facto de o governo de Gusmão ter aprovado a erradicação do ensino de português no básico, coisa que a Lusa e todos os outros orgãos de comunicação social silenciaram. Como prémio Gusmão foi galardoado doutor honoris causa na Universidade de Coimbra pelo seu "apêgo" à defesa e propagação do português. Quem entende e quem não deixa de dar importância ao tal galardão? E quem não o associa a fantochada?

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FOME “ALARMANTE” EM ANGOLA, TIMOR-LESTE E MOÇAMBIQUE




JOÃO SARAMAGO – CORREIO DA MANHÃ

Revelação do Instituto Internacional de Pesquisa sobre Alimentação

Angola, Timor-Leste e Moçambique são os países de língua portuguesa que integram a lista de Estados com uma situação de fome "alarmante", revela o último relatório do Instituto Internacional de Pesquisa sobre Alimentação.

A lista de países onde a fome atinge uma parte muito importante da população integra também a Guiné-Bissau. De acordo com o documento, a Guiné-Bissau surge como o País Africano de Língua Portuguesa (PALOP) melhor classificado no Índice Global da Fome (GHI), cotado no nível "grave" com 19,5, depois de ter abandonado o nível "alarmante" onde se encontrava em 2001 (22,8).

Angola, por seu turno, passou da situação de "extremamente alarmante" para "alarmante", tendo descido de 33,4 para 24,2, um pouco mais do que o índice atribuído a Moçambique (22,7), que em 2001 era de 28,4.

Os dois restantes PALOP -- Cabo Verde e São Tomé e Príncipe -- não figuram neste índice, aparentemente por o IFPRI não dispor da informação necessária, o que também se verificou relativamente a Portugal.

Entre os países que falam português, referência ainda para o Brasil, que figura no nível "baixo", com pontuação inferior a 5, enquanto Timor-Leste surge no nível "alarmante" com índice 27,1, quando em 2001 tinha 26,1.

UM OLHAR DE PERTO SOBRE OS ATIVISTAS DE OCUPA WALL STREET




Rebecca Ellis - Direto de Nova York – Carta Maior

Muitos dos manifestantes são jovens, estudantes de graduação subjugados pelo endividamento e inseguros quanto ao seu futuro. Spenser Williams, graduado e mestre em História Natural na Universidade Prescott no Arizona trabalha numa loja de bicicletas no Maine, enquanto paga seu crédito educativo. Ele veio a Nova York para protestar. “Estou de saco cheio do quanto a ganância e o lucro de curto prazo interferem na política”, disse Williams. O artigo é de Rebecca Ellis, direto de Nova York.

O momento foi perfeito. O primeiro ministro grego George Papandreou cancelou sua visita à Assembleia Geral das Nações Unidas para assegurar um outro empréstimo para o seu país quebrado. Desde o dia 17 de setembro, os manifestantes estão ocupando o Parque Zuccotti, próximo ao coração do mercado financeiro de Nova York, em Wall Street, para protestar contra a dominação das corporações sobre a política.

Muitos dos manifestantes são jovens, estudantes de graduação subjugados pelo endividamento e inseguros quanto ao seu futuro. Os organizadores do protesto, inspirados pelos eventos em Madri e na Praça Tahrir, chamaram milhares para descerem a Wall Street e protestarem contra a economia, impregnada da política capitalista que fracassou em entregar o que prometeu.

“Os bancos foram resgatados e nós fomos vendidos!”, cantavam os manifestantes, enchendo a Brodway em direção ao parque, passando por vários expectadores nas calçadas, alguns parecidos com turistas, outros, simples observadores curiosos.

A mensagem dos manifestantes ressoaram claramente sobre um pequeno grupo de turistas de Madri, parados ao lado do protesto, mesmo sem entender inglês. Jesus Garcia, um homem de meia idade com óculos e uma câmera no pescoço, estava acompanhado de duas mulheres. Ele disse em espanhol que tinha entendido imediatamente a mensagem o protesto como um reflexo do que tinha visto nas manifestações dos indignados, de 15 de março, na Plaza del Sol, na capital espanhola.

“É como a luta deles [em Madri] contra a pobreza e os empreendimentos bancários, que causaram esta crise, em primeiro lugar. Eu concordo com os manifestantes”, disse Garcia.

Um bombeiro que ajudou a resgatar vítimas dos ataques ao World Trade Center no 11 de setembro de 2001 falou no sábado (24/09) no protesto. De acordo com outros manifestantes, um pequeno número de ex-banqueiros mostraram seu apoio ao movimento. Isso atraiu poucos observadores e muitos simpatizaram com as demandas dos manifestantes, inclusive os trabalhadores locais, ferreiros e outros empregados. Outros transeuntes, de terno completo, disseram que não estavam a par do que se passava e não podiam comentar.

Alguns pedestres aborrecidos às vezes disparavam comentários contra os manifestantes. Um homem vestido de calça caqui e um parca amarelado disse, aos berros de tocadores de tambor que estavam cantando: “Arrumem um emprego!”.

Muitos manifestantes naquele dia indicaram que gostariam de um emprego.

Spenser Williams, graduado e mestre em História Natural na Universidade Prescott no Arizona trabalha numa loja de bicicletas no Maine, enquanto paga seu crédito educativo. Ele veio a Nova York para protestar.

“Estou de saco cheio do quanto a ganância e o lucro de curto prazo interferem na política”, disse Williams.

Um homem corpulento na casa dos seus 50 anos estava segurando um incenso de Nam Champa, que, disse ele, “uma garota bonita me deu”. Richard Nash tinha cabelo curto e vestia um boné de baseball. Ele estava enfiado numa jaqueta vermelha e parado na esquina do parque, do lado de fora, observando o que acontecia, com seu companheiro de trabalho, Nick Kaye. Ambos são corretores de seguros que trabalham no Edifício Liberty Plaza. Nash não acredita que o capitalismo desenfreado ou o socialismo puro sejam a resposta. No entanto, estava convencido que o protesto era importante.

“Os manifestantes estão expondo um substrato da realidade”, observou Nash.

Ele reiterou a percepção de incerteza imbuída com uma intuição de que as coisas possam estar mudando. “Eu acredito que estamos na ponta de um iceberg”.

Nash não tinha certeza de para onde o protesto estava indo, mas simpatizava com a garotada da universidade estava na praça expressando suas preocupações, porque muitos, acrescentou, já estão atolados em dívidas e no desemprego.

“Nós deveríamos simplesmente ter empregos decentes para as pessoas decentes...porque tem de haver futuro...”.

Animado pela proposta “taxação Buffet” de Obama, a qual propõe mais impostos sobre os ricos, a discussão rapidamente chegou na dívida nacional. Nash e seu colega Kaye propuseram o ideal americano de todos pagarem a sua parte justa.

“Todo mundo tem de ter sua parte no jogo”, ele disse, referindo-se à necessidade para todos os americanos de contribuírem. Ele acredita que os estadunidenses deveriam ser taxados à proporção de sua renda e local de moradia, porque Nova York é mais cara para viver do que o Alabama. Kaye afirmou que deveria haver um plano de taxação para todo mundo, enquanto ambos concordaram com a máxima: “eliminar as facilidades para os ricos.”

Dois homens estavam deixando um jantar indiano no Nassau/Cedar, um na casa dos trinta anos e o outro, mais velho. Ambos trabalhavam como investidores ao sul de Wall Street. O banqueiro mais jovem, com sua gravata ainda apertada depois de ter feito o que chamou de refeição apimentada, explicou que o problema é maior do que Wall Street e mais complexo do que as manchetes de jornal descrevem.

“Muitos processos se passam nos bastidores”, disse ele. Seu colega mais velho brincou que “Obama deveria taxar os pobres”.

A segurança era rígida. A legião modelo de banqueiros não estava disposta a aproveitar o dia de verão almoçando em seu lugar habitual do mercado de ações porque o caminho estava bloqueado.

Poonan e Frank, dois manifestantes no começo dos cinquenta, atravessaram as barricadas a pé para espalhar a mensagem e recrutar mais manifestantes. A respeito da solução tributária proposta por Obama, Poonan comentou: “Em vez de vender planos, o que nós de fato precisamos é de uma ajuda honesta. Simplesmente dar dinheiro ao povo, não às corporações”.

Frank, ex-marxista oriundo de um programa de doutorado no College City, disse que a economia dos EUA está sofrendo porque “parou a industrialização e agora está produzindo dívida”. Frank reconheceu que momentos de tumulto, no entanto, trazem à tona períodos de mudança.

“Este é um momento divisor de águas. Os próximos 10 anos devem se mostrar muito interessantes”, acrescentou Frank.

Tradução: Katarina Peixoto

- Veja em Carta Maior o especial OCUPANDO WALL STREET

Quem não estiver de acordo com o regime do MPLA nunca é inocente, é sempre... culpado




ORLANDO CASTRO*, jornalista – ALTO HAMA

O líder do MPLA (partido que governa Angola desde 1975), presidente da República de Angola (não eleito e há 32 anos no cargo), chefe do Governo e dono de Angola, José Eduardo dos Santos, de há muito que não brinca em serviço.

Não brinca em serviço mas, isso sim, adora brincar com os angolanos de segunda (todos aqueles que não pactuam com o regime e que, por isso, passam fome e vivem na miséria) e com todos aqueles que vai comprando por esse mundo fora.

Quando no dia 7 de Dezembro de 2009 exortou os seus súbditos a  "não pactuar com a corrupção e com a apropriação de meios do erário público ou do partido", mostrou como é fácil e barato enganar meio mundo e comprar o outro meio. As excepções, que são – embora silenciosamente – cada vez mais, que se cuidem. Vejam, por exemplo o caso de William Tonet.

O tempo vai passando e tudo continua na mesma, e até os mais optimistas e ingénuos começam a pensar que nem as moscas mudam. E, aproveitando o balanço, não falta quem se queira juntar à festa. E se os mais cépticos perguntam o que é que andaram a fazer desde 1975 os lacaios do dono do país, os mais realistas continuam a fazer contas com o dinheiro que passa por baixo da mesa.

Recordo que nesse dia, numa intervenção sistematicamente interrompida pelos aplausos dos mais de 3.000 delegados ao VI Congresso, num visível e marxista culto da personalidade do chefe, José Eduardo dos Santos deixou um lote recheado de recados para o MPLA, para o país e para o mundo ver, aplaudir e venerar.

Recorde-se, contudo, que o chefe do partido para o qual supostamente manda recados é ele próprio há dezenas de anos, tal como o é do país. Mais uma vez, a política é a de sempre: olhai para o que ele diz e não para o que ele (e os seus amigos) faz.

Tiveram, aliás, bons mestres. E se tiverem dúvidas, não quanto à corrupção mas à forma de a camuflar, basta pedirem umas lições aos velhos ou novos “professores” portugueses. Todos eles falam de cátedra e são peritos na matéria.

"Hoje é voz corrente equiparar a pessoa investida em funções políticas a um homem sem palavra, desonesto e sem escrúpulos. É necessidade absoluta assumir atitudes positivas que desfaçam essa imagem pálida e inconveniente de forma a dar credibilidade, valorizar e repor a nobreza da função dos dirigentes políticos".

Não, não foi António José Seguro, Passos Coelho, Paulo Portas, Francisco Louçã, Jerónimo de Sousa ou até Cavaco Silva quem fez esta afirmação, embora ela retrate o que também se passa no reino lusitano.

Quem o disse foi o soba de um outro reino, no caso Eduardo dos Santos. Reino que, benemérito, aceita dar a Portugal o estatuto de protectorado e que também tem o seu povo a aprender a viver sem comer.

José Eduardo dos Santos sublinha que o partido "tem dito isto por outras palavras" e adverte que "as nossas palavras e promessas devem corresponder aos actos que praticamos".

Ou seja, entre inúmeros exemplos, promete liberdade de imprensa e prende jornalistas (quando não os mata) por delito de opinião.

Uma treta semelhante ao que se passa em Portugal. Treta para enganar os cerca de 70% de angolanos que vivem na pobreza, 36 anos depois da independência e nove após a paz ter regressado ao país, tal como em Portugal é usada para enganar os para já 800 mil desempregados, os 20% que vivem (isto é...) na miséria e os outros 20% que a têm à porta de casa.

Eduardo dos Santos pede o "fim da intriga, dos boatos e a manipulação de factos na comunicação social para prejudicar os outros".

Eduardo dos Santos não explica, mas todos sabem (que o digam, entre outros, William Tonet e Rafael Marques) que a única maneira de acabar com a intriga, com os boatos e com a manipulação na comunicação social é acabar com os jornalistas, substituindo-os por funcionários do regime, mesmo que estes tenham de no lugar da assinatura colocar a impressão… digital.

Bem me parecia (e só não tinha a certeza porque, reconheço, sou ingénuo) que em Angola, como em Portugal, a comunicação social é a fonte de todos os males. Foi ela, a comunicação social independente, que forçou o MPLA a reconhecer (embora apenas como medida cosmética) a corrupção e outras grandes enfermidades, e é exactamente por isso que é a culpada de tudo.

"Devemos aperfeiçoar o modo de encarar a política, um modo pró-activo e rigoroso de mostrar o nosso empenho e dedicação que sirva para mobilizar milhões para a nossa causa", diz Eduardo dos Santos, certamente depois de ter tido num só dia o que milhões de angolanos não têm durante muitos dias: refeições.

O presidente da República e do MPLA disse também que "em cada 100 angolanos, 60 são muito pobres, não conseguem comer normalmente todos os dias, não têm acesso fácil a água potável, acesso aos cuidados de saúde nem casa normal para se abrigar".

É preciso ter lata ou, no caso são as duas coisas juntas, um povo submisso tal o estado de subnutrição. O MPLA está no poder há 36 anos, Angola está em paz há nove anos, e mesmo assim o dono do país não assume que é ele o principal, em muitos casos o único, responsável por este descalabro.

O "desemprego, o analfabetismo e a pobreza são três problemas muito graves e difíceis de resolver, que atingem especialmente as mulheres, as famílias e as crianças", disse Eduardo dos Santos (o mesmo poderia, aliás, ser dito pelo seu amigo Pedro Passos Coelho) em mais uma manifesta enciclopédia de hipocrisia que, contudo, foi aplaudida pelos súbditos de sua majestade.

Certamente anestesiado pelas ovações dos seus vassalos, José Eduardo dos Santos disse também que o MPLA pugna desde 1975 “pela defesa das liberdades direitos e garantias dos cidadãos, e considera o direito à associação como fundamental".

Foi mais um atestado de menoridade passado aos angolanos. Mas como foi dito pelo chefe... foi aplaudido. É claro que quem não aplaudir o querido líder sujeita-se – na melhor das hipóteses – a peixe podre, fuba podre e porrada se refilar.

Para os problemas que persistem no país, como a pobreza, José Eduardo dos Santos, retomou a evocação da "pesada herança do colonialismo" que foi "agravada pelo período de guerra que o país viveu" até 2002.

Nisto tem razão. Se tantos anos depois da conquista da democracia os portugueses continuam também a desculpar-se com a pesada herança do salazarismo, é legítimo que o MPLA acuse o colonialismo, um bode expiatório que aguenta ainda ser utilizado aí por mais uns trinta anos.

Acresce que, também como resquício do colonialismo, o regime angolano continua – como fazia a PIDE/DGS – a praticar a tese de que até prova em contrário todos são culpados. E mesmo quando se prova que os culpados são inocentes, os donos do país subvertem as regras e fazem deles culpados.

*Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.

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Moçambique: Comissão Política da FRELIMO debate situação do país de quinta-feira a domingo




MMT - LUSA

Maputo, 12 out (Lusa) - A Comissão Política do partido FRELIMO, no poder, vai avaliar, de quinta feira até domingo, a situação sociopolítica e económica de Moçambique, e preparar o X Congresso de 2012, que escolherá o candidato às presidenciais de 2014.

A reunião acontece depois da realização da reunião de quadros da FRELIMO na última semana, que discutiu as teses do X Congresso, agendado para setembro do próximo ano em Cabo Delgado, com objetivo de escolher o sucessor de Armando Guebuza, atual presidente de Moçambique.

O atual chefe de Estado, Armando Guebuza, está constitucionalmente impedido de concorrer às presidenciais de 2014, uma vez que termina nesse ano o limite de dois mandatos imposto pela lei fundamental do país.

O porta-voz da FRELIMO, Edson Macuácuá, disse hoje em Maputo que o encontro dos próximos quatro dias pretende discutir o desempenho do governo, as atividades do governo e do partido para o próximo ano, bem como o desempenho da bancada parlamentar da FRELIMO na Assembleia da República nos últimos dois anos.

De acordo com a agenda da reunião, o órgão mais importante da FRELIMO entre os congressos irá debater o plano de atividades e do orçamento do partido no poder em Moçambique para 2012, o relatório do gabinete central de preparação do X Congresso e irá fará uma "reflexão sobre a deslocação das células do partido dos locais de trabalho para os locais de residências".

O desmantelamento das células do partido nas instituições públicas é uma das exigências dos doadores, que, há dois anos, apresentaram este ponto como uma das condicionantes para financiar o Orçamento do Estado moçambicano.

Em 2012, o partido FRELIMO completará meio século de existência, pelo que "comemorará 50 anos da realização do primeiro congresso que ditou a fundação desta força política", assinalou Edson Macuácuá.

A Comissão Política da FRELIMO vai analisar também as propostas de diretivas sobre eleições internas e de delegados que participarão na reunião do partido, que separa os congressos.

Cabo Verde: Primeiro-ministro regressa ao país sábado depois de tratamento em Portugal




SAPO CV, com Inforpress

Cidade da Praia, 12 Out (Inforpress) - O primeiro ministro de Cabo Verde, José Maria Neves, regressa sábado ao país, depois de uma estada de duas semanas em Portugal, onde foi operado, a 4 de Outubro, a uma hérnia discal nos Hospitais da CUF, em Lisboa. 

 Fonte do Palácio do Governo avançou à Inforpress que o primeiro-ministro deverá participar na sessão parlamentar de Outubro a ter início no dia 24. José Maria Neves foi operado pela equipa do conhecido neurocirurgião português João Lobo Antunes.

José Maria Neves, de 51 anos, queixava-se de dores na cervical há mais de um ano, mas as campanhas eleitorais e respectivas eleições legislativas, realizadas em Fevereiro, e presidenciais, em Agosto, levaram ao adiamento do tratamento que acabou por exigir uma intervenção cirúrgica.

Cavaco Silva: ESTRATÉGIA DE MERKEL E SARKOZY É “ERRADA” E “PERIGOSA”




FRANCISCO TEIXEIRA - ECONÓMICO

Presidente admite revisão do Tratado de Lisboa, reforço de poderes da Comissão e garante que Portugal “honrará os seus compromissos”.

Cavaco Silva diz que é "errado" e "perigoso" a estratégia seguida pela França e Alemanha no combate à crise económica e financeira.

Sem falar directamente em Merkel e Sarkozy, o Presidente português considera que a "deriva intergovernamental está a contaminar o funcionamento da União Europeia" porque "em vez de uma mobilização convergente" temos "constatando a emergência de um directório, não reconhecido, nem mandatado, que se sobrepõe às instituições comunitárias e limita a sua margem de manobra".

Ora, este tem sido o modelo seguido pela França e Alemanha que têm concertado de forma bilateral as propostas que, mais tarde, colocam perante todos os estados membro da UE. É um caminho "errado por que ineficaz" e "perigoso por que gerador de desconfianças e incertezas que minam o espírito da união".

Mas as críticas de Cavaco Silva, no discurso que proferiu no Instituto Universitário Europeu, não se ficam por aqui. "É inadmissível o ‘happenning' quotidiano de discursos divergentes por parte de líderes europeus" porque o "tempo exige, mais do que nunca, convergência, solidariedade e responsabilidade sem falhas".

Cavaco Silva abre ainda a porta a um revisão do Tratado de Lisboa tendo em conta que é "expectável e desejável que, prazo, união monetária seja acompanhada por uma verdadeira União Económica e Financeira, de modo a garantir não só a estabilidade monetária, mas também a estabilidade financeira e o crescimento económico".

Quanto ao caso português, o Presidente assume que "Portugal honrará plenamente os seus compromissos, restabelecerá o equilíbrio das finanças públicas e levará por diante as reformas estruturais indispensáveis ao reforço da competitividade da sua economia".

QUAL É O PREÇO DE SALVAÇÃO COBRADO PELA ALEMANHA?




Petros Panayotídis, no Monitor Mercantil – Correio do Brasil

O desafio para a Alemanha – a atual, mas também para os próximos governos – é dupla e de dimensões estratégicas: Primeiro, que não serão alteradas as condições de participação do país na União Monetária, com ponto principal de referência a disciplina fiscal, o controle da inflação e a responsabilidade de qualquer país-membro por sua credibilidade creditícia.

O mecanismo provisório EFSF é uma ferramenta de administração de circunstâncias emergenciais, com o permanente ESM interpretando mais claramente o approach alemão. Não é, aliás, casual e sequer coincidente que em Berlim já falam abertamente sobre o funcionamento do ESM desde os primeiros meses do ano que vem, e não em janeiro de 2013, como era previsto inicialmente.

Segundo, que o governo de Berlim aproveitará do gerenciamento da crise atual para sedimentar sua total hegemonia sobre a Europa, um alvo que torna proibitivo o custo de uma incessante oposição ou, na melhor das hipóteses, uma desaceleração da blindagem da Zona do Euro que impõe na Alemanha para assumir suas responsabilidades em uma blindagem preventiva e dissuasiva da Zona do Euro contra um incontrolável dominó.

É óbvio que os aspectos do desafio estratégico que a Alemanha enfrenta impõem opções contraditórias e que se anulam. Dentro do cenário acima o gerenciamento da crise grega surge como catalisador que anula os riscos e revela as oportunidades, usando como ferramenta um segundo corte da dívida pública da Grécia em percentuais oscilando entre 50% e 60%, uma receita que, certamente, será seguida, primeiro por Portugal, depois pela Irlanda:

França se submete

Primeiro, a Alemanha transfere o apoio à Grécia das costas de seus contribuintes para o setor privado, que, para início de conversa, encontra-se fora de suas fronteiras e, principalmente, na França, cujo sistema bancário encontra-se extremamente exposto à dívida pública grega e, em grau multiplicado, às dívidas públicas da Itália e da Espanha.

Segundo, está sendo concluída a submissão da França à Alemanha, que foi iniciada como opção de Sarkozy, em junho do ano passado, após uma bienal oposição frontal com a primeria-ministra Merkel: o governo de Paris já está com margem zero de diferenciação do Governo de Berlim, considerando que depende do apoio alemão para salvação dos bancos franceses de uma falência coletiva, assim como depende do governo de Berlim evitar a perda da classificação AAA pelas agências de rating.

A ajuda da Alemanha à França será caríssima, considerando que Sarkozy, ou melhor, seu sucessor, será convocado por Merkel para que aumente o limite de idade para concessão de aposentadoria de 60 para 67 anos, sem levar em consideração o custo social e político, seja qual for.

No que diz respeito a uma crise de endividamento da Itália até o final deste ano, que derrubaria os planejamentos acima, felizmente para Merkel existe como tábua de salvação a permanência de Berlusconi no poder. O premiê italiano está decidido a continuar tomando empréstimos caríssimos – ignora-se o percentual de juro que pagará aos mercados, ou ficará esperando uma reviravolta na Zona do Euro ou, simplesmente, a bomba explodira nas mãos de seu sucessor. Semelhante política havia seguido, sem sucesso, também, o ex-primeiro-ministro José Sócrates, em Portugal.

Em 1940, a França arrastou-se ao armistício para evitar que a derrota se tornasse pulverização. Ano passado, Sarkozy assinou primeiro o armistício para em seguida cobrar a derrota.

Manifestantes marcham pela segunda vez em Brasília para protestar contra a corrupção




Kelly Oliveira - Repórter da Agência Brasil – Correio do Brasil

Brasília – A 2ª Marcha Contra a Corrupção e a Impunidade tomou a Esplanada dos Ministérios hoje (12) em Brasília. Segundo a Polícia Militar, mais de 5 mil pessoas participaram do evento em defesa do fim do voto secreto no Poder Legislativo, da constitucionalidade da Lei da Ficha Limpa e da manutenção das atribuições do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

A caminhada teve a participação de pessoas de todas as idades, que à pé, de bicicleta e alguns até levando seu animal de estimação, se manifestavam contra a corrupção, por meio de vassouras e faixas com frases contra a corrupção. Carregando a bandeira do Brasil e um grande desenho de uma pizza, os manifestantes saíram da Praça da Repúblico e foram até a Praça dos Três Poderes, onde estão localizados o Palácio do Planalto, sede do Poder Executivo; o Supremo Tribunal Federal (STF), sede do Poder Judiciário; e o Congresso Nacional, sede do Poder Legislativo.

Segundo a idealizadora do evento, Lucianna Kalil, a ideia de ir às ruas contra a corrupção ganhou força, inicialmente, por meio de redes sociais na internet. “O povo se movimenta para tanta coisa, consegue se juntar para tomar cerveja, para ver uma partida de futebol, para fazer outros tipos de marchas. E por que não se juntar contra a corrupção que é um mal que afeta todo mundo, ricos e pobres?”, indagou.

De acordo com Luciana Kalil, o movimento é apartidário e o dinheiro necessário para a sua realização veio da venda de camisetas para organizar a marcha. “A primeira macha, no dia 7 de setembro, foi um assunto bem genérico [defendido pelos manifestantes] e, hoje, a gente está focando o nosso apoio ao CNJ, à constitucionalidade da lei da ficha limpa e ao fim do voto secreto parlamentar”, disse.

Além do Movimento Contra a Corrupção Eleitoral, a marcha contou com o apoio da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Essas organizações defendem que o CNJ seja mantido como órgão competente para examinar processos e punir magistrados.

O STF vai analisar ação direta de inconstitucionalidade proposta pela Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB). A entidade questiona uma resolução editada este ano pelo CNJ que regulamenta seu poder correicional. A AMB pede que o conselho só atue depois que o processo for esgotado nas corregedorias locais.

Outro tema ressaltado na marcaha foi o envio de recursos para paraísos fiscais. Em meio aos manifestantes, cinco pessoas vestidas de piratas levavam faixas pedindo que sejam adotadas medidas para evitar o uso da artifícios para sonegar impostos. Edélcio Vigna, assessor do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), fantasiado de pirata, defende a criação de uma lei para acabar com o envio de dinheiro para os paraísos fiscais. “Tem que ter lei e fiscalização”, disse.

Edição: Aécio Amado

DILMA VIAJA PARA A ÁFRICA NA PRÓXIMA SEMANA




CORREIO DO BRASIL, com ABr - de Brasília

Em menos de uma semana, a presidenta Dilma Rousseff desembarcará em Durban, na África do Sul. Ela vai participa da 5ª Cúpula do Ibas – que reúne Índia, Brasil e África do Sul. Dilma, que deve desembarcar no país no dia 18, deve ir também a Pretória, a capital política da África do Sul. Na visita, a presidenta destacará o interesse brasileiro em ampliar as parcerias na região.

Há, ainda, a possibilidade de a presidenta estender a viagem para Moçambique e Angola. A ideia é que Dilma visite Maputo, capital moçambicana, e Luanda, a angolana. O ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, disse segunda-feira que o governo quer incrementar as relações comerciais e econômicas com os países em desenvolvimento.

Em Moçambique, empresas brasileiras mantêm uma série de investimentos em vários setores, sendo que a exploração de carvão é um dos principais. Porém, o país também é alvo das atenções da China. Para enfrentar a competição com os chineses, o governo brasileiro oferece investimento em território moçambicano usando a mão de obra local.

Para Angola e Moçambique, as exportações brasileiras se concentram em produtos industrializados, carne de frango (congelada, fresca ou refrigerada), açúcar refinado, veículos de carga e chassis com motor e carrocerias para veículos automóveis.

Ao retornar da viagem à África, a presidenta irá se preparar para a Cúpula do G20 (o grupo que reúne as 20 maiores economias do mundo), em Cannes, na França, nos dias 3 e 4 de novembro. Em pauta, os impactos da crise econômica mundial e o fracasso da Rodada de Doha. Nas reuniões, Dilma deverá lembrar os esforços feitos pelo governo brasileiro para diminuir os efeitos da crise, como ocorreu durante a participação dela nas discussões da União Europeia, na Bélgica.

Assessores da Presidência da República examinam ainda a possibilidade de a presidenta ir à Rússia em novembro, antes das eleições no país. Dilma recebeu um convite do atual presidente russo, Dmitri Medvedev. De dezembro deste ano a março de 2012, os russos estarão em processo eleitoral para a escolha de parlamentares e do futuro presidente da República.

O primeiro-ministro e ex-presidente russo, Wladimir Putin, é um dos candidatos à Presidência da República. Ele lidera a lista de candidatos do partido Rússia Unida, o maior do país. Putin conta ainda com o apoio integral de Medvedev.

Em dezembro, Dilma quer visitar o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que se recupera de um câncer. Na ocasião estão previstas reuniões da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac). Há, ainda, a possibilidade de ela visitar, antes do final do ano, o Uruguai. A presidenta retornou da Europa – onde foi à Bélgica, Bulgária e Turquia –  no último domingo.

COM ABSTENÇÕES NO CONSELHO DE SEGURANÇA, BRASIL TENTA AGRADAR A TODOS




DEUTSCHE WELLE

O Brasil busca há anos ocupar uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU, mas se abstém em votações cruciais, como nos casos da Síria e da Líbia. Afinal, quais são as ambições da política externa brasileira?

A diplomacia brasileira intriga a comunidade internacional. O país ganha importância no cenário econômico global e se afirma como potência emergente disposta a reequilibrar as forças da política mundial. Nesse sentido, pleiteia há anos um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Mas quando chega a hora de votar resoluções de primeira importância, como as sanções contra o regime sírio, no início de outubro, ou a intervenção militar na Líbia, em março, a resposta é a mesma: abstenção.

Por trás da aparente falta de decisão, no entanto, está uma posição muito clara, analisa o sociólogo Thomas Fatheuer, ex-diretor da fundação alemã Heinrich Böll no Rio de Janeiro. "A mensagem do Brasil é: 'nós não temos nenhum inimigo'". A estratégia da diplomacia brasileira, segundo ele, é assumir a posição de intermediador para encontrar soluções negociadas e, com isso, também proteger-se de todos os lados.

"O Brasil é muito cauteloso quando se trata de condenar outros países, principalmente do [hemisfério] sul. Os brasileiros sempre acusaram os Estados Unidos de terem uma política externa ambígua, por condenar alguns países e outros não", argumenta Fatheuer.

O zelo vale especialmente para o mundo árabe, onde a diplomacia brasileira cuida para não construir uma imagem de inimigo. "O Brasil se mostra conciliador e com isso também envia aos povos árabes um sinal de que tem uma posição independente e não quer ficar à sombra dos Estados Unidos", diz Fatheuer.

As boas relações diplomáticas garantem também bons negócios: em 2010 as exportações brasileiras para o Oriente Médio cresceram quase 40%, somando mais de 10,5 bilhões de dólares, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio.

Aliada à política de cultivo de amizades está a tradição brasileira de rejeitar instrumentos de intervenção, baseada no próprio passado do país. "O histórico de intervenções militares na América Latina é muito negativo, então o Brasil se recusa a ir por esse caminho por acreditar que isso vá agravar ainda mais os conflitos", diz Amâncio Jorge de Oliveira, presidente da comissão de pesquisa do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (USP).

Mais pelos direitos humanos

O papel de mediador moderado desaponta, porém, aqueles que esperavam uma postura mais ativa em relação à defesa dos direitos humanos durante o governo da presidente Dilma Rousseff. Para Oliveira, a abstenção do Brasil no caso da Síria foi uma reação errada e tardia.

"Foi um erro estratégico do Brasil nesse momento. Não só pela questão de se posicionar a favor do respeito aos direitos humanos, mas também por uma questão tática, de mostrar ao mundo que, em situações como essa, o Brasil consegue tomar decisões rápidas e na direção certa", avalia o pesquisador.

As expectativas de que o governo Dilma Rousseff atuaria de forma mais firme na defesa dos direitos humanos aumentaram quando, em março, o Brasil votou a favor da investigação da situação dos direitos humanos no Irã. A decisão marcou uma ruptura com a política externa do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, no qual o Brasil se abstivera, por exemplo, de votar uma proposta que condenava violações de direitos humanos no Irã, poucos meses antes.

Mas com as novas abstenções nos casos da Líbia e da Síria, a diplomacia brasileira deu sinais de voltar à linha branda seguida durante a era Lula. Na perspectiva do governo, entretanto, abstenção não significa indecisão. Para o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Tovar Nunes, ela significa uma posição clara de descontentamento com a proposta apresentada, mas, diferentemente do voto contra, permite que o tema continue em discussão.

"Nós entendemos que, em relação à Síria, por se tratar de um país estratégico, onde a escalada da violência ou a instabilidade podem se alastrar para outros países da região, a cautela tem que ser maior. Nosso desejo era ter um pouco mais de tempo no Conselho de Segurança para extrair uma manifestação consensual", explica Nunes.

O Brasil tinha reservas especialmente em relação ao artigo 41 da resolução sobre a Síria, que previa a imposição de medidas não militares contra o país árabe, como sanções econômicas e diplomáticas. O artigo acabou levando ao veto da resolução por parte de China e Rússia no dia 4 de outubro.

Aliados do Sul

A tendência do Brasil de votar alinhado com seus parceiros no Brics ou no Ibas (Rússia, Índia, China e África do Sul) no âmbito das Nações Unidas leva a crer que o país busca aproximação com seus parceiros do Sul, ao mesmo tempo em que se afasta dos Estados Unidos e da União Europeia.

O governo brasileiro reconhece que busca parceiros junto à força alternativa representada pelos países emergentes, mas nega haver qualquer intenção de se afastar das potências tradicionais. "Nós temos, sim, procurado nos coordenar com Índia e África do Sul, primeiro por uma razão muito objetiva: são três democracias multiétnicas de três continentes diferentes e que não são membros permanentes do Conselho de Segurança. Então essas credenciais levam esses parceiros a procurar fórmulas consensuais que ofereçam soluções em situações de conflito", diz Nunes.

O porta-voz destaca o peso dos parceiros europeus nos setores comercial e de defesa, como, por exemplo, a França, país com o qual o Brasil intensificou a cooperação no setor de defesa a partir de 2009. "Você não faz isso com um país de quem queira se afastar", ponderou Nunes.

Líbia: sem arrependimentos

Outra controversa abstenção do Brasil no Conselho de Segurança da ONU foi na votação da Resolução 1973 sobre a intervenção militar na Líbia, em março. O Brasil se recusou a votar, conforme justificativa oficial, por entender que a força só deveria ser empregada em último caso. O país não se opôs à ação da Otan, mas "lavou as mãos".

Hoje, mesmo com o ditador Muammar Kadafi deposto e o Conselho Nacional de Transição rebelde reconhecido em quase todo o mundo como autoridade legítima na Líbia, o Brasil não se arrepende da decisão. Segundo o embaixador, se houvesse nova votação hoje, o país se absteria novamente.

"A resolução 1973 não era para promover a queda de nenhum regime. O objetivo era a proteção de civis, e nós não estamos seguros de que a força tenha sido utilizada somente para isso. Acreditamos que o uso da força não é recomendável quando extrapola o mandato do Conselho de Segurança. Além disso, o uso da força para proteção de civis muitas vezes redunda em morte de civis. Os casos do Afeganistão e do Iraque são bastante eloquentes a esse respeito", diz Nunes.

Por uma vaga permanente

O Brasil já foi eleito dez vezes para mandatos de dois anos como membro não permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas, e desde o governo Fernando Henrique Cardoso pleiteia assento permanente no fórum. Os membros permanentes são Estados Unidos, Reino Unido, França, Rússia e China, que têm direito de veto em qualquer medida votada pelo órgão.

Críticos no meio diplomático chegaram a sugerir que as abstenções brasileiras em votações para condenar violação de direitos humanos no Irã, Mianmar, Cuba, Líbia e, mais recentemente, Síria poderiam prejudicar as ambições do país.

Para Fatheuer, porém, a entrada do Brasil como membro permanente do Conselho de Segurança não pode ser uma "recompensa por bom comportamento" aos olhos de alguns países. "É preciso observar que houve um reequilíbrio nas forças internacionais. Os países do Sul, especialmente os países do Brics, têm hoje simplesmente uma grande influência na política internacional e isso precisa se refletir no Conselho de Segurança."

O fato de o Brasil ter bom relacionamento com Estados Unidos e União Europeia, além de não ter inimigos em nenhuma parte do mundo, poderia dar ao país o papel low profile que ele tanto busca no cenário internacional: o de mediador para soluções negociadas em situações de conflito.

Autora: Francis França - Revisão: Alexandre Schossler

BLOGUEIRO DETIDO PELOS MILITARES VIRA SÍMBOLO DA LUTA PELA DEMOCRACIA NO EGITO





O blogueiro egípcio Maikel Nabil Sanad está na cadeia porque criticou os militares do país. Em sinal de protesto, ele iniciou, há 50 dias, uma greve de fome.

A última vez em que Nabil Sanad viu seu filho Maikel foi num sábado, há cerca de duas semanas. Era o aniversário de 26 anos dele, mas não havia motivos para celebrar. Acompanhado de outro filho, Mark, o pai de Maikel foi até a penitenciária de Al Marg, no Cairo.

Desde o final de março o blogueiro Maikel Nabil Sanad está na prisão. Há alguns dias, ele escreveu "como é triste passar o aniversário na prisão. Mas o que me faz mais triste ainda é ver meu país reagindo sem visão, sem ética e sem humanismo".

Maikel está em greve de fome há cerca de 50 dias e perdeu mais de 15 quilos neste período. Desde a quarta-feira passada, ele parou também de ingerir líquidos, em sinal de protesto pelo adiamento, por mais uma semana, da reabertura de seu processo.

Nesta terça-feira, o tribunal militar aceitou um recurso apresentado pelos advogados do blogueiro e ordenou que o processo vá de novo a julgamento. A decisão trouxe esperanças para os defensores de Maikel, mas ele permanece detido.

O pai de Maikel declarou que o estado de saúde do filho é crítico. Ele já apresenta um quadro de falência renal e deficiência em outros órgãos. Maikel não consegue mais se levantar e tem dificuldades para falar. Tudo indica que ele pode morrer a qualquer momento.

Três anos de prisão por criticar os militares

Maikel está detido há mais de seis meses, tendo sido condenado a três anos de prisão em função de um post no seu blog. No comentário, ele acusa as Forças Armadas de não terem se posicionado do lado do povo durante a Revolução, atacando um fundamento da ordem pós-Mubarak no país.

Para o Conselho Militar, as Forças Armadas mantiveram-se o tempo todo do lado do povo. Na sentença, o tribunal acusa o blogueiro de ter "ofendido as Forças Armadas" e "disseminado informações errôneas".

No post em questão, Maikel também denuncia que os militares torturaram mulheres ativistas com testes de virgindade. Um fato real, mas que só foi assumido pelos militares semanas depois do julgamento do blogueiro.

Maikel sente-se injustiçado e por isso iniciou em agosto último uma greve de fome. "Muitas vítimas já morreram em outros países até que os direitos humanos fossem reconhecidos. A liberdade tem o seu preço e devemos pagá-lo", escreve Maikel.

O blogueiro está disposto a morrer pela liberdade do Egito. Com sua greve de fome, ele quer acima de tudo chamar a atenção para a arbitrariedade da justiça militar. Pois, segundo dados divulgados pela organização Human Rights Watch, somente neste ano, desde fevereiro, cerca de 12 mil civis já foram julgados por tribunais militares – mais gente do que nos 30 anos do regime de Mubarak.

Os processos são sumários: juízes, promotores e testemunhas são todos militares. Um advogado de defesa para os réus não há. Somente 800 dos acusados foram absolvidos, a maioria policiais ou pessoas que se mantiveram fiéis aos regime militar.

Pouco apoio a Maikel no Egito

No Egito, também outros ativistas e blogueiros lutam pela liberdade individual e pela do país. Desde que o Conselho Militar tomou o poder, alguns deles foram interrogados e detidos. A condenação de Maikel Nabil Sanad é também simbólica: com isso, o Conselho Militar quer mostrar que criticar os militares é tabu.

A maioria dos blogueiros, contudo, não se deixa intimidar, como é o caso de Ali Rigel. "Resistimos a uma violência maciça por parte de Mubarak e seu regime. Se tivéssemos medo agora, não faria o menor sentido", diz ele, que quer continuar lutando até que o Egito se transforme num país democrático.

Fato é que os blogueiros continuam em atividade e Maikel prossegue com sua greve de fome. Para o Conselho Militar, ele é uma vítima fácil. Outros blogueiros foram libertados rapidamente, pois uma detenção mais longa poderia mobilizar as massas. Maikel conta apenas com um pequeno círculo de apoio no Egito. Ele semrpre foi um outsider com suas posições políticas, tendo criado, com isso, inimigos dentro da sociedade egípcia.

Maikel é ateu num país no qual a religião determina a vida cotidiana da maioria da população. E defende uma postura pró-Israel, prezando especialmente a liberdade de opinião e os valores democráticos do Estado. Além disso, costuma expressar seu pesar por vítimas israelenses de atentados terroristas. Como se não bastasse, desertou oficialmente do serviço militar.

São palavras e atos que a grande maioria dos egípcios detesta, o que impede as pessoas de irem às ruas protestar contra sua detenção. Eles simplesmente deixam a questão nas mãos do Conselho Militar.

Nabil Sanad, o pai de Maikel, está desesperado. Ele já perdeu as esperanças e teme ter visto seu filho pela última vez no dia do aniversário. "Espero a todo momento o telefonema de alguém me dizendo que Maikel está morto e que devo ir até lá buscar seu cadáver", desabafa.

Autora: Viktoria Kleber (sv) - Revisão: Alexandre Schossler

Angola: Juventude da FNLA convoca manifestação contra má governação em todo o país




NME - LUSA

Luanda, 12 Out (Lusa) - O braço juvenil do partido histórico Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA) vai realizar no sábado, uma manifestação pacífica de âmbito nacional, em protesto contra a má governação e uma decisão tomada pelo Tribunal Constitucional afetando a liderança do partido.

Em conferência de imprensa, o secretário-geral da JFNLA, Daniel António Afonso, anunciou uma "mega-manifestação da JFNLA contra a má governação em Angola e a decisão do Tribunal Constitucional", que deverá acontecer em simultâneo em 15 das 18 províncias do país.

O Tribunal Constitucional reconheceu como presidente legítimo da FNLA, Lucas Ngonda, lugar retirado a Ngola Kabangu. O líder da juventude do partido disse que os jovens vão clamar igualmente para que se reponha a justiça.

Segundo Daniel António Afonso, nesta manifestação, que terá o seu ato central em Mbanza Congo, capital da província do Zaire, no norte de Angola, a JFNLA pensa reunir o maior número de jovens angolanos para reclamarem por mais democracia, mais emprego para a juventude, melhor esperança de vida e uma reconciliação nacional.

O secretário-geral da JFNLA disse ainda que no quadro da reconciliação nacional vão pedir que os ex-militares da ELNA, braço armado da FNLA, sejam compensados, recebendo a sua pensão de reforma.

Desta "mega-manifestação", já dada a conhecer a todos os governos provinciais, ficarão de fora as províncias de Luanda, capital do país, do Bengo e de Benguela.

A manifestação para Luanda está programada para o próximo dia 5 de novembro, depois de um balanço deste ato de sábado, que ocorrerá no dia 29 de outubro.

Daniel António Afonso referiu que o principal objetivo desta manifestação é levar a juventude a angolana a manifestar-se nas zonas mais recônditas do país, onde a população "nunca ouviu falar deste ato cívico".

"Não importa o número de pessoas reunidas, se são meia ou uma centena de pessoas. O importante é que se realize um marchar nos municípios e comunas do país, para que tomem contacto com esse ato", disse o secretário-geral da JFNLA.

A capital da província do Zaire para o ato central foi escolhida por ser o local onde está sepultado líder fundador do partido, Holden Roberto, começando a manifestação com uma marcha até ao seu túmulo, para "um pedido de bênção".

ISRAEL PRETENDE DIÁLOGO POLÍTICO COM ANGOLA PARA FORTALECIMENTO DA COOPERAÇÃO


Paulo Kassoma (à dir.) durante a conversa com a diploma israelita

ANGOLA PRESS

Luanda - Israel pretende incrementar o diálogo político com Angola, sobretudo a nível parlamentar, para o reforço da cooperação socioeconómica.

Este desejo foi manifestado hoje, terça-feira, pela embaixadora de Israel em Angola, Irit Savion Waidergorn, em declarações à imprensa, à saída de uma audiência com o presidente da Assembleia Nacional, António Paulo Kassoma, na qual abordaram a cooperação entre ambos os países.

Para o efeito, a diplomata disse que o seu país trabalhará para que haja troca de visitas de altas individualidades dos dois estados no sentido do estabelecimento de um diálogo cada vez mais forte.

A nível parlamentar, Irit Savion Waidergorn disse ter convidado Paulo Kassoma a visitar o seu país, no quadro do lançamento da parceria neste sector.

Informou que um outro encontro será realizado com a Comissão das Relações Exteriores do parlamento angolano para a identificação das áreas de contacto entre os órgãos legislativos.

Quanto à parceria já existente, a embaixadora considerou-a excelente, verificando-se no país a implantação de várias empresas israelitas que têm ajudado a responder as solicitações do Executivo angolano.

Por outro lado, revelou que está a trabalhar na elaboração de um programa de apoio às crianças desfavorecidas em Angola.

Angola e Israel cooperam no domínio das telecomunicações, agricultura, da Indústria, saúde, entre outros, sectores.

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