ANA LORO METAN
Em Timor-Leste decorre mais uma novela da vida real desde há uma semana: alguém foi “apanhado” com a boca na botija e transportava consigo cerca de 400 mil dólares norte-americanos para depositar em bancos australianos. No aeroporto de Darwin detiveram o ”correio” que continha aquela avultada quantia em voo proveniente de Díli. Caricato foi que em todo este tempo a comunicação social australiana nada referiu, apesar de se julgar saber que aquela enormidade de dólares era pertença de um ministro do governo de Gusmão, o PM da espécie de república corrupta de Timor-Leste.
Por quase toda esta semana ninguém avançou com o que aconteceu e acontece na realidade, nem com os nomes dos intervenientes, pelo menos em narração editada em língua inglesa ou portuguesa, e até em tétum tudo tem aparecido muito vago e pareceu-me que a medo. As próprias fontes que na Austrália informaram o Página Global meteram os pés pelas mãos e as mãos na inconsciência. De salientar que em Darwin existe uma grande comunidade timorense, que não valeu de quase nada. Valeu. Valeu a inconsciência de não deitarem cá para fora o que sabiam com exatidão, contra o crime, em vez de gerarem confusão e mistério que só beneficia os criminosos. Se vem de quem vem, alguém tem dúvidas de que quantia tão avultada só pode ser fruto de ilegalidades?
A novela arrastou-se pretendendo discutir-se o sexo dos ladrões, não o sexo dos anjos porque isso os intervenientes não são. Que era um ministro, que era uma ministra, que era um homem, que era uma mulher… e que essa mulher é amante do ministro milagroso que possui 400 mil dólares… A confusão tem sido por demais, quase sempre retida no supérfluo e não no verdadeiro crime e com a identidade objetiva dos criminosos. O próprio parlamento em Timor-Leste – que decerto sabe a história toda – optou por discutir o sexo dos anjos em todos estes dias. Deputado houve, do CNRT, que prestou declarações vagas, classificou um suposto elemento do governo de ladrão mas não o identificou. O tabu tem sido enorme sem que se compreenda a razão. E tudo tem sido falado e escrito em tétum porque razão? Para que o mundo não saiba sobre a ladroeira que vai em Timor-Leste? Mas isso é um erro crasso. É que sobre a ladroeira que acontece em Timor-leste todo o mundo sabe. E também que há os que ganham dos seus vencimentos 200 e fazem vida de pelo menos 4 mil e muito mais. Como já tantas vezes aqui disse: quem cabritos vende e cabras não tem… de algum lado lhe vem.
Gusmão, o PM da espécie de república corrupta de Timor-Leste, chefe do governo AMP, nada esclareceu até agora, que se saiba. A comunicação social australiana nada sabe – ou faz que não sabe – sobre o caso, apesar de a ocorrência se ter registado em aeroporto australiano. A comunicação social em Portugal nada refere, igualmente. A Lusa, agência de notícias portuguesa que tem o seu correspondente e escritório em Timor-Leste, hoje atira-nos com dois pares de textos sobre o país que vêm carregados de CNRT, o partido de Gusmão, mas sobre Mariano Sabino, ministro da agricultura e alegado amante da senhora timorense detida em Darwin nada avança. Nem uma única palavra sobre o assunto ao longo de praticamente uma semana.
Na minha qualidade de timorense e de portuguesa lamento imenso o que se está a passar com mais esta triste novela da vida real timorense. Como portuguesa que paga os impostos que também proporcionam a sustentação da Lusa lamento imenso que naquela empresa seja notória a existência de auto-censura e censura institucional, porque é isso mesmo que se compreende sobre a razão de certos “ignoros” – repare-se na erradicação do português (ignorado pela Lusa) no ensino básico e na alarvidade de dispensarem a Gusmão um doutoramento honoris causa aviltante - de acontecimentos timorenses que deviam ser notícia. Ou essa já não é a função por que a Agência Lusa e os seus profissionais devem primar? Preferem então vender gato por lebre e pactuar com o obscurantismo? Que pena estes jornalistas (?) não terem exercido a profissão no tempo de Salazar e da sua comissão de censura. É que agora se aperceberiam facilmente do enorme valor da liberdade de expressão, da liberdade de imprensa, de formar e informar. Decerto que não seriam os invertebrados e quase inúteis que são agora.
Outro pormenor interessante é andarem a perder-se na senhora timorense amante do ministro Sabino, cujo nome nem recordo. Essa é a importância que dão a algo de somenos. O ministro é livre de ter amantes, as senhoras são livres de serem amantes de quem podem e querem. Esse pormenor é da área privada dos envolvidos e não devia servir para falsos moralismos dispersantes do importante: o ministro roubou aquela quantia? A quem? É pertença do estado timorense? É aí que está o crime e onde deve incidir a reprovação, a censura. Ainda mais por o suposto (ou não) criminoso vir referenciado desde há tempos com vida de fidalgo sem o ser.
Um amigo dizia-me há tempos que Timor-Leste está a perder-se por só olhar para o seu umbigo a vários níveis. Um deles é na comunicação. Quando considerou que precisava do mundo para apoiá-lo na sua luta pela independência até falava com sotaque alentejano se fosse preciso… E agora não, só fala e escreve em tétum, “coisa” que é doméstica e que o resto do mundo não sabe ou até nem conhece. Nem sequer existe um tradutor online. Mas há em português, mas há em inglês, mas há em Bahasa, por exemplo. São os timorenses que devem escolher o que querem falar e escrever como línguas nacionais, mas só o tétum não – para já e por muito tempo – porque coarta completamente a comunicação com o mundo. Se estiver a arder e pedir ajuda, se pedir beh, em vez de água ou water, pois de certeza que vai arder porque ninguém o vai entender. É isso que se pode chamar “só olhar para o seu umbigo”. Neste caso… a arder, a consumir-se, como a consumir-se está o país. Se realmente o português é a língua oficial a par do tétum, pois que seja consumado o preceito constitucional e que existam todas as notícias em português e em tétum para o país e para o exterior. É um imperativo de agora como de antes, durante a luta de libertação, quando Timor-Leste precisou de apoio na luta pela independência e olhava mais além, não somente para o seu umbigo porque sabia que sozinho não ia a parte alguma nas suas aspirações.
É perfeitamente possível que o correspondente da Lusa e a RTP (creio que também silenciou o ocorrido) em Timor-Leste nada refiram sobre mais este caso da senhora timorense que foi encontrada e detida em Darwin com 400 mil dólares e que é das relações do ministro da agricultura. Também é possível que o governo nada esclareça, nem aos deputados. Tudo é possível em Timor-Leste. Até é possível que a senhora nem seja amante do ministro, que afinal o ministro nada tenha que ver com o acontecido, que o ministro nem seja ministro, que, no final, se conclua que a senhora é um travesti, que as notas sejam de coleção de cromos. Tudo é possível naquele país, que é o nosso e de que os vilões das elites se apossaram, gerando miséria e fome para o povo enquanto roubam desbragadamente.
DEPOIS DE ESCRITO
È importante que seja ressalvado e mencionado o facto de a PPN, agência de notícias, através do Jornal Digital, Timor Digital e talvez outros, ter ontem (11-10), publicado notícia sobre o ocorrido mas sem chegar a pormenores importantes como a identificação dos envolvidos. Mas foi a única, em português, a fazer a mais que necessária referência ao assunto.
Aliás, o mesmo aconteceu quanto ao facto de o governo de Gusmão ter aprovado a erradicação do ensino de português no básico, coisa que a Lusa e todos os outros orgãos de comunicação social silenciaram. Como prémio Gusmão foi galardoado doutor honoris causa na Universidade de Coimbra pelo seu "apêgo" à defesa e propagação do português. Quem entende e quem não deixa de dar importância ao tal galardão? E quem não o associa a fantochada?
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