(ou
como as eleições de Outubro ainda terão impacto nas vida política em Novembro…)
Eugénio
Costa Almeida©*
As
duas últimas semanas de Outubro foram prenhes em eleições gerais em vários
países, três dos quais e pelas variadíssimas razões, poderá ter uma maior ou
menos impacto nas nossas relações diplomáticas.
Houve
eleições no Uruguai, na Tunísia, em Moçambique, na Ucrânia e no Brasil. Estes
três últimos, por razões diversas podem servir de espelho futuro para as nossas
próximas eleições gerais onde se espera, apesar de tudo, sejam incluídas as
eleições autárquicas (mesmo que localizadas e de modo experimental).
No
Uruguai o presidente “pé-descalço” Pepe (Jose Mujica, de nome
próprio, cujo mandato termina em Março de 2015) deverá ser
substituído por um destes dois mais projectados candidatos: Tabaré Vázquez (já
foi presidente entre 2005 e 2010, que concorre pela coligação de Mujica,
a Frente Amplia); e Luis Lacalle Pou (candidato pelo Partido Nacional
(PN), também conhecido como partido Blanco). Na prática Vázquez quer imitar o
PT e a “coligação” Lula/Dilma. Há ainda a hipóteses, ainda que remota – quando
lerem este texto já se saberá em definitivo quem foi o mais votado – de haver
um possível terceiro potencial candidato, o Pedro Bordaberry, do Partido
Colorado, que governou o país durante a maior parte da sua moderna história
política; está prevista uma segunda volta que, a acontecer, será a 30 de
Novembro.
Na
Tunísia, as eleições do passado dia 26 de Outubro (excepto as de Moçambique
foram todas nesta data) trouxeram uma alteração política interessante. Os
islamitas do partido Ennahada (até agora o partido maioritário) foram
derrotados pelos moderados e laicos do partido Nidaa Toune que terá conquistado
a maioria (mas não absoluta, pelo que terá de fazer coligações) do Parlamento.
O Ennahada não só já reconheceu a derrota como admitiu – pouco normal no nosso
continente – a perda substancial dos anteriores 68 deputados que detinha. Uma
boa lição de democracia que se saúda…
Na
Ucrânia as eleições legislativas trouxeram uma enorme dor de cabeça aos
europeus e aos russos. Estes dizem que aceitam o escrutínio apurado. Aqueles,
porque a maioria dos ucranianos dispersaram-se pelos três maiores partidos, todos
pró-europeus e pró-união europeia. Mada de mais se este próximo fim-de-semana,
primeiros dias de Novembro, não fossem ocorrer eleições nas partes
auto-separadas do Leste e eleições antecipadamente reconhecidas pelos russos, o
que “minar”, como acusam as autoridades de Kiev, as expectativas de uma
bonança abertas pelo cessar-fogo acordado em Setembro.
Ora
sabendo-se que nós ganhámos um assento, ainda que não-permanente, no Conselho
de Segurança das Nações Unidas – o que se saúda – e que vamos entrar neste
grande areópago internacional em Janeiro próximo, teremos uma palavra a dizer
no “conflito” que naturalmente, irá emergir destas eleições não aprovadas nem
sancionadas pela comunidade internacional. Teremos de dirimir os interesses das
nossas ancestrais relações com os russos e os interesses da comunidade
internacional, nomeadamente, os interesses euro-ocidentais muito particulares…
Finalmente
duas eleições importantes por razões diversas.
As
eleições moçambicanas, ocorridas já há mais de duas semanas (a15 de Outubro), e
que só agora – no momento em que estou a escrever – estão a oficializar os
respectivos editais eleitorais.
O
partido do poder, Frelimo e o seu candidato presidencial, Filipe Nyusi,
conquistaram cerca de 57% dos votos válidos nas eleições gerais, muito menos do
que seriam expectável mas ainda assim, neles incluídos alguns valores que se
vieram a verificar fraudulentos (conforme fotograficamente provados pelo portal
“Macua de Moçambique” (macua.org) em momento próprio). A fraude apresentada neste
portal foi igualmente reportada pela Comissão Nacional de Eleições
(CNE) que terá demitido e expulsa uma delegada principal da Frelimo por
manipulação de dados eleitorais numa secção de voto. No caso apresentado pelo
“Macua” vê-se na foto que Nyusi teria conseguido mais votos que os eleitores
inscritos além de haver – enão poucos – nos outros dois candidatos.
Os
dois candidatos em questão foram Afonso Dhlakama, da Renamo, obteve 36% e
Daviz Simango, do MDM, que não foi além dos 7%.
Já
os respectivos partidos, na sua corrida para o parlamento moçambicano, tiveram
variações substanciais face ao escrutínio anterior. A Frelimo perdeu cerca
de 49 assentos (fica com 142 deputados correspondendo a 57,06%, menos que
o seu candidato presidencial), enquanto a Renamo (com 89 assentos e 33,84%) e o
MDM (conquistou 19 deputados correspondentes a 9,1%) ganham respetivamente 38 e
11 deputados.
Sabendo-se
que houve, uma vez mais, alguns constrangimentos nas eleições de Moçambique –
denunciadas, em alguns casos até pela própria CNE –, não deixa de ser
surpreendente que, também uma vez mais, os observadores digam que tudo decorreu
lindamente e sobre carris. Isto só descredibiliza o sistema eleitoral africano.
Há a velha tendência de olhar para uma árvore como se da floresta se tratasse;
e nós temos o velho hábito de dizer sempre “sim a tudo” aos nossos amigos…
Já
o Brasil a reeleição de Dilma Rousseff apesar de renhida com Aécio Neves, do
PSDB, era previsível e esperada.
É
certo que havia a vontade de “Mudança” como ficou provado nas variações das
sondagens e nos distúrbios do pré-Mundial (e durante este). Também é verdade
que Dilma na sua primeira declaração disse que o país e o sistema político
brasileiro careciam de uma mudança e substancial.
Ora
a senhora “presidenta” Dilma, ao contrário do seu concorrente não é tão próxima
de África como foi o seu predecessor, Lula da Silva – que se prevê possa vir,
de novo, e por vontade de muitos, a ser o novo próximo inquilino do Palácio do
Planalto, dentro de 5 anos –, conforme se viu neste seu primeiro consulado. Só
a vimos próxima de áfrica quando dos BRICS. Como descendente búlgara, Dilma é,
apesar da sua reconhecida militância contra a ditadura conservadora –
chegou a ser presa e torturada – uma dirigente mais europeizada e mais próxima
dos governos latino-americanos.
Se
olharmos bem as relações com os africanos estão na dependência de terceiros.
Talvez neste turno alguma coisa mude.
E
aqui Angola poderá ter uma voz mais activa e importante nas relações entre
Brasil e África. O Brasil – e Dilma – querem ver colocado o país no Conselho de
Segurança como membro-permanente. E sem África nunca o conseguirá!
Acaba
o mês de Outubro e entra o mês de Novembro.
O
mês de muitos factos que se saúdam: o mês da cidade de Maputo (a 10); o mês dos
25 anos da queda do “Muro de Berlim” (a 9 de Novembro era derrubada a última
pedra num enlaço que teve o seu início um mês antes – era o fim da chamada
“guerra-fria”); é o mês da nossa Dipanda e, finalmente, para mim, há 58 anos,
no mesmo dia que as forças soviéticas entravam em Budapeste (Hungria) para
iniciar o abafamento da revolta húngara anti-soviética (terminaria a 11 de
Novembro de 1956, ou seja, uma semana depois), surgia este vosso amigo – espero
– na belíssima cidade do Lobito onde os flamingos voltaram a dizer: presente!
Para
Angola o meu obrigado por tudo o que já me deste e que ainda me dás.
©Artigo
de Opinião publicado no semanário angolano Novo Jornal, secção “1º Caderno” ed.
353 de 31-Outubro-2014, pág. 19
*Eugénio
Costa Almeida* – Pululu -
Página de um lusofónico angolano-português, licenciado e mestre em Relações Internacionais e
Doutorado em
Ciências Sociais - ramo Relações Internacionais -; nele
poderão aceder a ensaios académicos e artigos de opinião, relacionados com a
actividade académica, social e associativa.