Google
bloqueada na China dias antes do aniversário de Tiananmen
02
de Junho de 2014, 18:32
Pequim,
02 jun (Lusa) - Os serviços da Google foram hoje completamente bloqueados na
China, poucos dias antes do 25.º aniversário do massácre de Tiananmen.
De
acordo com o portal da internet greatfire.org, "trata-se da maior censura
jamais exercida pelas autoridades" e não está claro se, desta vez, "o
bloqueio é uma medida temporal em torno do aniversário do massacre ou uma
medida permanente".
O
site sublinha que "o ataque, com mais ou menos intensidade, dura há quatro
dias, sendo provável que a Google seja gravemente afetada", tratando-se de
um bloqueio indiscriminado, já que todos os serviços da companhia, encriptados
ou não, estão inacessíveis.
Após
o bloqueio, alguns internautas chineses presumiram que os problemas com a
Google poderiam ser a consequência de uma campanha levada a cabo por Pequim
antes do polémico aniversário.
DZC
// ARA - Lusa
PC
chinês valoriza milagre económico e quer esquecer o "04 de Junho"
02
de Junho de 2014, 17:44
Pequim,
02 jun (Lusa) - Vinte e cinco anos depois de ter enviado o exército para
esmagar um movimento pacífico de contestação, o Partido Comunista Chinês
procura legitimar-se com o sucesso económico alcançado pelo país e esquecer o
que se passou em 1989.
Na
imprensa e discursos oficiais, a repressão militar do movimento pró-democracia
da Praça Tiananmen, que causou centenas de mortos, é referida apenas como
"o incidente de Tiananmen" e a data, "Liu Si" (04 de junho,
de 1989), evocada sempre em segredo, é um persistente tabu.
A
pobre e isolada China tornou-se, entretanto, a segunda economia mundial, com
crescente influência na cena política internacional, e, apesar do abrandamento
global, continua a crescer acima dos 7% ao ano.
Em
junho de 1989, tanques chineses invadiram a Praça de Tiananmen (Paz celestial,
em chinês), atacando os estudante acampados há um mês a reclamar reformas
pró-democráticas e exigindo liberdade de expressão. O protesto foi reprimido
violentamente, causando centenas de mortos.
Hoje,
om dezenas de milhões de chineses a ascenderem anualmente à classe média ou a
iniciarem-se na sociedade de consumo, a memória do "Liu Si" parece
esquecida, ou cultivada apenas por alguns ativistas e intelectuais.
"O
governo chinês tem tentado expurgar a nossa memória coletiva através do culto
de uma economia em crescimento", escreveu o romancista Murong Xuecun num
artigo publicado na semana passada no New York Times.
Na
internet, um espaço utilizado por mais de 600 milhões de chineses, as pesquisas
ou comentários sobre "4 de junho", "Tiananmen 1989" ou
outras palavras-chave parecidas são sistematicamente bloqueadas.
Para
escapar à 'firewall' da China que limita o acesso e a publicação 'online',
alguns internautas inventaram uma nova data - "35 do 5"
(acrescentando quatro dias ao 31 de maio) - e, em vez de 1989, dizem, por
exemplo, "o ultimo ano de 1990".
Oficialmente,
o movimento pró-democracia de 1989, desencadeado por estudantes após a súbita
morte de um antigo líder reformista do PCC, Hu Yaobang, foi "uma rebelião
contrarrevolucionária".
"Se
o partido e o governo não tivessem adotado medidas firmes, a situação na China
não seria menos grave do que a que alguns países que se reclamavam do
socialismo estão agora a sofrer", justificou em 1991 o então
primeiro-ministro chinês, Li Peng.
Ao
contrário do que aconteceu na vizinha Rússia e na Europa de Leste, o PCC
manteve-se no poder e, sem abdicar do seu "papel dirigente", presidiu
a um processo de crescimento económico sem precedentes na história moderna.
Há
25 anos, a bicicleta era o único meio de transporte privado acessível à
esmagadora maioria das famílias. Hoje, a China é o maior mercado automóvel do
mundo, à frente dos Estados Unidos da América.
Em
1989, apenas dois milhões de estudantes frequentavam o ensino superior. Vinte e
cinco anos depois, o número ultrapassa os 25 milhões e há mais de um milhão e
meio a estudar no estrangeiro.
No
ano passado, quase cem milhões de chineses passaram férias fora da China
Continental, concretizando outro sonho até há pouco impensável.
Em
2012, pela segunda vez em vinte anos, uma nova geração assumiu a liderança do
PCC e, em princípio, o atual presidente, Xi Jinping, deverá conduzir o país até
2022, num modelo saudado na imprensa local como "o mais importante sucesso
político da China dos últimos tempos".
A
China foi também dos países que melhor resistiu à crise global de 2008 e as
suas reservas cambiais, que em março passado somavam 3,95 biliões de dólares,
são hoje cobiçadas pelas grandes economias liberais.
Maior
estado autoritário do mundo, a China tornou-se igualmente o maior credor dos
EUA: em fevereiro passado, a sua carteira de títulos do Tesouro norte-americano
valia 1,27 biliões de dólares.
Socialmente,
no entanto, as contradições agudizaram-se e, com a internet, a insatisfação
manifesta-se com mais veemência.
Além
da corrupção, um dos alvos das manifestações de 1989, a poluição e o
crescente fosso entre ricos e pobres são considerados as "principais ameaças
ao desenvolvimento" do país.
A
China está cada vez mais integrada na economia global, mas, em muitos aspetos,
ainda é um mundo à parte.
E
a "traumática memória" do 4 de junho, escreveu Murong Xuecun,
"nunca desvaneceu verdadeiramente e continua viva entre o povo apesar dos
empenhados esforços de Pequim para suprimir a sua história".
AC
// PJA - Lusa
Uma
sublevação em plena
Guerra Fria
02
de Junho de 2014, 17:44
Pequim,
02 mai (Lusa) - O exército chinês entrou pelas ruas de Pequim há 35 anos para
esmagar um movimento de contestação estudantil que durante quase dois meses
contagiou intelectuais, funcionários e outros trabalhadores e acabou por
dividir a própria liderança comunista.
O
palco dos protestos foi a Praça Tiananmen, uma das maiores do mundo, com cerca
de 40 hectares,
situado no centro físico e político de Pequim, mas o movimento alastrou às
principais cidades chinesas, de norte a sul do país.
Na
ocasião, o mundo vivia ainda sob o antagonismo da Guerra Fria: o muro de Berlim
estava de pé, a União Soviética liderava o Pacto de Varsóvia e quase toda a
Europa de Leste era governada por partidos comunistas tutelados por Moscovo.
Tudo
começou a 15 de abril de 1989, com o anúncio da morte de Hu Yaobang,
ex-secretário-geral do PCC, visto como um reformista liberal, afastado dois
anos antes pelos "conservadores" por alegado "laxismo face ao
liberalismo burguês".
"Morreu
o homem errado", dizia um dos cartazes afixados logo naquele dia na
Universidade de Pequim. Mesmo sem internet nem telemóveis, a emoção espalhou-se
depressa.
Uma
semana depois, dezenas milhares de estudantes marcharam sobre Tiananmen pedindo
a reavaliação do legado de Hu Yaobang, e no final da manifestação, decidiram
acampar na imensa Praça
No
dia 25 de abril, sem aparente conhecido do sucessor de Hu Yaobang na chefia do
PCC, Zhao Ziyang, o Diário do Povo, órgão central do PCC, publica um editorial
criticando a contestação estudantil e preconiza "uma atitude clara contra
os distúrbios", inflamando ainda mais os espíritos.
Embora
sem porem em causa o "papel dirigente" do PCC, os manifestantes
começaram a atacar também a corrupção e a pedir "mais transparência"
e "mais democracia".
No
dia 05 de maio, Mikhail Gorbachov chegou a Pequim para a primeira cimeira
pró-soviética em quase trinta anos, mas devido á ocupação da Praça Tiananmen, a
cerimónia oficial de boas vindas não pode realizar-se no local habitual.
Zhao
Ziyang, adotou uma posição conciliadora face aos protestos estudantis, mas a
maioria da direção, e em particular Deng Xiaoping, o "arquiteto-chefe
das reformas económicas" e presidente da Comissão Central Militar,
defendia "medidas firmes".
A
13 de maio, milhares de estudantes entraram em greve de fome e seis dias depois
o governo declarou a lei marcial.
A
entrada em Pequim dos primeiros veículos militares foi bloqueada pelos
manifestantes. Contudo, no topo da hierarquia, a correlação de forças pendia
para o lado dos conservadores.
Zhao
Ziyang não voltou a ser visto em público e até morrer, em 2005, viveu em regime
de prisão domiciliária, acusado de ter "apoiado a rebelião
contrarrevolucionária" e "tentado dividir o partido".
No
dia 30 de maio, alunos da Academia Central de Belas Artes ergueram na Praça
Tiananmen, mesmo em frente ao retrato de Mao, uma réplica da Estatua da
Liberdade em gesso, com 10
metros de altura, chamada a Deusa da Democracia.
Foi
o último grande ato de subversão protagonizado pelos estudantes: na noite de 03
para 04 de junho, blindados do exército irromperam pela Praça Tiananmen,
desalojando os cerca de 10.000 manifestantes que ainda se encontravam.
Centenas
de pessoas morreram, a maioria das quais nas vias de acesso a Tiananmen, e
milhares de outras foram presas ou exilaram-se.
Vinte
e cinco anos depois, o número exato de mortos continua a ser um segredo de
Estado. As Mães de Tiananmen, grupo formado por mulheres que perderam os filhos
no "Liu Si" (dia 04 de junho de 1989), já identificaram 202.
AC
- Lusa