quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

A LIBERDADE EM SUBSTÂNCIA!




Martinho Júnior, Luanda

Praticamente na mesma altura em que Barack Hussein Obama fez o discurso que marcou o início do seu IIº Mandato à frente da Presidência dos Estados Unidos, Raul de Castro, fez uma intervenção durante a Iª Cúpula da Comunidade dos Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac), em Santiago do Chile.

O contraste entre os dois discursos é evidente e pode ser resumidamente no seguinte: enquanto Obama sustentou o seu argumento apelando a um patriotismo redundante e simpático aos interesses duma aristocracia financeira mundial que poderá quando muito corresponder a 1% da humanidade, Raul de Castro identificou-se se não com os outros 99% da humanidade com as centenas de milhões de habitantes das nações latino americanas e do Caribe representadas por suas lideranças na CELAC!

A distância entre um e outro é o abismo que vai do vazio, da mentira e do embuste, para o que é substantivo, palpável e eticamente irrepreensível.

Raul de Castro transmite ao mesmo tempo sabedoria, humildade, vontade de vencer todos os obstáculos que têm sido colocados ao longo da história, identidade para com os povos, abertura para com a integração e a solidariedade, numa prova de amor transparente, lúcido, honesto e mobilizador.

Alicerça esse argumento na história de libertação da América Latina com um percurso de méis de 200 anos desde o içar das bandeiras, 200 anos pejados de opressão, de sacrifícios, de tensões e de conflitos que agora são o húmus que fortalece o caminho em direcção finalmente à Pátria Grande sonhada pelos povos da América Latina e do Caribe.

Mais que nunca nesse caminho pode-se avaliar o que divide, como divide e em nome de quem e do quê, como avaliar-se a afirmação do que integra, do que une, do que é solidário e do que é respeitador para com a Mãe Terra; por essa razão é admissível a expressão substantiva da liberdade de que a CELAC procura ser um dos exemplos institucionais a par da UNASUR, da ALBA e do MERCOSUR!

Para as instituições que como a CELAC pugnam pela unidade, integração e solidariedade, criando um outro ambiente de liberdade, é inseparável o social do político, tal como do social e do ambiente!

O caminhar da CELAC não pode esquecer a mancha de subdesenvolvimento que ainda persiste e os resgates que essa situação implica.

É a Revolução Cubana que melhor estudou (de forma dialéctica) esse subdesenvolvimento e é por essa razão que Cuba tantos esforços tem feito em prol do combate ao analfabetismo e à doença, por via do que aprofundou nos campos da educação e da saúde, ao ponto de se tornar um factor decisivo para a investigação científica em relação âs humanísticas e ao ambiente.

A situação crítica que persiste no Haiti é um repto para todos e cada um dos componentes do CELAC também pela implicação das assimetrias e dos desequilíbrios existentes.

Haiti precisa revitalizar o seu tecido humano, reconstruir-se em democracia e em paz!

No Haiti o inter-relacionamento com o governo haitiano é a principal chave, havendo abertura para a contribuição de outros Latino Americanos, numa escala maior como o Brasil ou a Venezuela, huma escala menor, correspondendo às suas potencialidades, como a Nicarágua!

A questão da droga, produção, tráfico e centros receptores dispostos para o consumo, (que não foi sequer evocada pelo Presidente dos Estados Unidos no seu discurso inaugural do IIº Mandato) mereceu uma atenção especial por parte de Raul de Castro: isso é de facto uma questão que mexe com os conceitos de liberdade, de integração e de solidariedade em toda a América Latina!

Haverá alguma vez possibilidade de liberdade sadia, de integração construtiva e de solidariedade efectiva com povos cuja juventude esteja contaminada pelo tráfico e o uso da droga?

Haverá alguma possibilidade de paz com a droga?

O México foi o centro da atenção de Raul de Castro em relação às questões que se prendem com a droga e a soberania.

Não lembrou Raul de Castro os percursos da droga que se desprendem da América Latina, do Caribe e do Afeganistão, entre outros, em direcção aos Estados Unidos e à Europa, percursos que passam também por África!

Não falou de quanto o comércio de ópio cresceu desde que os Estados Unidos colocaram forças no Afeganistão!

Raul de Castro preocupou-se acima de tudo com o repto e os sacrifícios que a droga obriga à América Latina e ao Caribe, também por tabela a Cuba, mas não deixando de ser mobilizador permaneceu numa posição humilde e cautelosa, a ponto de não se referir ao papel tão importante que Havana está a desempenhar nas conversações de paz que senta à mesma mesa o governo e as FARC da Colômbia, precisamente um dos países mais vulneráveis à produção e tráfico de droga na América Latina!

Até nas suas omissões Raul de Castro foi substantivo: no que não disse sobre os processos de educação e saúde que Cuba tão generosamente vai partilhando com a América Latina e o Caribe, bem como com muitos países subdesenvolvidos no mundo e é fonte de inspiração para em cadeia, todos se fortalecerem e fortalecerem os projectos comuns!
A liberdade para Raul de Castro é a consciência das necessidades e por isso a política surge e se inventa dentro do que é social!

A paz para Raul é substantiva, enquanto em Obama, o prémio Nobel da Paz, se limita na verdade ao carácter do actual “soft power” um dos “pilares mestres” da sua hegemonia que dá muitos lucros para os 1% e, em “democracia representativa” não admite sequer que a concorrência surja nos outros 99%!

A posição da Revolução Cubana, agora amplamente reconhecida por toda a América Latina e Caribe, em prol da paz, da democracia cidadã e participativa e em prol do equilíbrio e do respeito para com a Mãe Terra, é o verdadeiro atentado à hegemonia norte americana por que a põe em causa na sua essência, mas agora Cuba já não está só como esteve ao longo da década de 90 do século passado e tornou-se não só um exemplo de resistência saudável e esclarecida: é uma verdadeira vanguarda disposta à integração e à solidariedade, ali onde reside de facto a liberdade!...

…Da parte do império a “liberdade” só lhe dá para as tensões, os conflitos, as ingerências, as manipulações, as influências perniciosas e motivadas por interesses egoístas, as guerras…

Tudo isto é também uma questão de metabolismo: que contraste entre o vazio e a substância!

Gravura: O símbolo da CELAC.

A consultar:
- A Celac surgiu sobre a herança de duzentos anos de luta pela independência e é baseada numa profunda comunidade de objetivos – http://www.granma.cu/portugues/nossa-america/29ener-raul-Celac.html
- 10 de Janeiro de 2013: uma vitória dos povos da Améroca Latina – http://resistir.info/brasil/ivan_12jan13.html
- Cuba assume presidência temporária do bloco de integração CELAC – http://pt.cubadebate.cu/noticias/2013/01/28/cuba-assume-presidencia-temporaria-de-bloco-de-integracao-celac/
- Lula diz que Estados Unidos perderam guerra para Cuba e pede o fim do bloqueio –
- Para Cuba e para mim é uma grande honra assumir hoje a presidência pró tempore da CELAC – http://www.granma.cu/portugues/nossa-america/29ener-raul-Celac-2.html
- Reconocidas personalidades latinoamericanas celebran la presidência de Cuba en la CELAC – http://www.cubadebate.cu/noticias/2013/01/29/reconocidas-personalidades-latinoamericanas-celebran-la-presidencia-de-cuba-en-la-celac/
- ALBA por dar mayor fortaleza a la estructura y profundizar la integración, dijo Chávez – http://www.lavozdelsandinismo.com/alba/2012-02-04/alba-por-dar-mayor-fortaleza-a-la-estructura-y-profundizar-la-integracion-dijo-chavez/
- Encontro regional de Cartagena consolidou isolamento dos Estados Unidos, dizem especialistas – http://paginaglobal.blogspot.com/2012/04/encontro-regional-em-cartagena.html
- Teoremas de la resistencia a los tiempos que corren – http://www.rebelion.org/docs/4578.pdf

Guiné-Bissau: PAIGC, maior partido, quer participar no Governo e eleições até final do ano




FP - MLL - Lusa

Bissau, 14 fev (Lusa) - O Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), maior partido da Guiné-Bissau, quer fazer parte de um Governo de transição no país e defende que as eleições devem ser ainda este ano.

"Deve de haver um esforço no sentido de não se ultrapassar 2013 para as eleições", disse hoje em conferência de imprensa o porta-voz do partido, Óscar Barbosa, que apelou à celeridade do processo.

O partido quer também, na sequência da assinatura do Pacto de Transição (instrumento de regulação do período de transição que se seguiu ao golpe de Estado de 12 de abril de 2012), participar mais ativamente nos destinos do país.

"Consideramos que a adesão do PAIGC (ao Pacto) tem de ter repercussões num Governo de base alargada e de consenso", frisou.

No entanto, o PAIGC não concorda com a criação de uma Comissão Partidária Social de Transição, como foi proposto na quarta-feira por diversos partidos e organizações da sociedade civil, por considerar que tal entidade iria assumir poderes que outros órgãos de soberania já têm, nomeadamente a Assembleia Nacional Popular (ANP).

O PAIGC quer antes "a promoção de um diálogo inclusivo, capaz de levantar consensos, reforçando o papel das instituições da República", participar ativamente "nos debates de uma agenda política nacional" sobre a transição, que haja harmonização de posições da comunidade internacional quanto à Guiné-Bissau e diálogo entre as autoridades guineenses e a comunidade internacional, disse Óscar Barbosa.

"Neste âmbito, o PAIGC está disposto a partilhar os esforços nacionais no sentido de fazermos o país sair desta situação paralisante", acrescentou.

Enumerando exaustivamente todas as ações do maior partido desde o golpe de Estado, no sentido de "facilitar iniciativas de diálogo" e "contribuir para a normalidade constitucional", Óscar Barbosa salientou que "o PAIGC recuou sempre", não por medo ou por outros interesses que não fosse o "da defesa dos superiores interesses do povo guineense".

O PAIGC, afirmou, abdicou da presidência da ANP, a "única instituição" que fez progredir o período de transição e que não foi ouvida quanto a grandes decisões do Governo de transição.

"Nenhum programa de Governo nem o orçamento geral do Estado retificativo foram submetidos para aprovação do parlamento", salientou, acrescentando que o Governo de transição também não conseguiu cumprir os principais objetivos traçados pela CEDEAO (Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental), a agenda eleitoral e a reforma do sistema político em geral, e do setor de segurança e defesa, em particular.

Apesar do apoio financeiro da CEDEAO, disse o porta-voz, nem o recenseamento eleitoral sequer começou e também a Comissão Nacional de Eleições continua sem presidente.

Por outro lado, acentuou-se a pobreza e a degradação das condições de vida das populações, afirmou.

"O atual Governo não funciona" e "não presta contas a ninguém", disse o responsável do PAIGC, que responsabiliza as autoridades de transição pelo não cumprimento da sua principal meta, as eleições no mês de abril.

Ler relacionado em TIMOR LOROSAE NAÇÃO:

ANGOLA REDUZIU A TAXA DE FOME E SUBNUTRIÇÃO EM 57 PORCENTO




Angola reduziu a taxa de fome e subnutrição em 57,1 porcento durante o período de 1990 a 2012 - disse nesta quarta-feira à noite, em Roma, o ministro da Agricultura, Afonso Pedro Canga.

Ao discursar na 36ª sessão do Conselho de Governadores do Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (FIDA), que decorre de 13 a 14 de Fevereiro na capital italiana, Roma, o governante angolano informou que “actualmente a taxa de subnutrição é de 27 porcento, quando em 1991 era de 62 porcento”.

Segundo Afonso Canga, o sucesso de Angola na ingente tarefa de combate à fome e à pobreza, deve-se fundamentalmente à paz alcançada em 2002 e à estratégia do Executivo angolano.

O Governo angolano, referiu o governante, envida esforços para que o sector não petrolífero cresça de forma mais acentuada, para uma maior diversificação da economia e um desenvolvimento sustentado, com reflexos positivos na qualidade de vida das populações, em particular as do meio rural.

A produção alimentar, com destaque a dos agricultores familiares e dos pescadores artesanais, tem conhecido crescimento, o que tem contribuído para o aumento de rendimentos dos produtores rurais - referiu.

Do mesmo modo, continuou, crescem os investimentos públicos e privados no sector agrícola e das pescas e na indústria agro-alimentar. “Fortalecem-se as Instituições e melhora a governação e incentiva-se o sector camponês, responsável pela maior parte da produção alimentar e do emprego nas áreas rurais”.

Explicou, por outro lado, que o Governo angolano concentrou a sua atenção inicial na recuperação e criação de infra-estruturas e está agora a canalizar mais recursos e esforços para os sectores produtivos e as questões sociais, face às dificuldades que ainda enfrenta uma parte da nossa população.

Na sua óptica, o FIDA pode e deve jogar um papel relevante em Angola, através do financiamento de um maior número de projectos, pela transmissão das experiências positivas de outros países, na capacitação e no apoio à promoção da cooperação sul-sul.

No que respeita à 9ª Reconstituição de Fundos, Afonso Canga considera que Angola, ao anunciar e regularizar a sua contribuição de 1,9 milhões de dólares, pensa ter cumprido com a sua responsabilidade de país receptor e ao mesmo tempo solidário com outros países.

“Angola confirma-se como o maior contribuinte da “lista C1”, e sentimo-nos satisfeitos por poder ajudar o funcionamento da nossa organização, que tem como mandato apoiar as comunidades rurais e lutar contra a fome e pobreza” - concluiu.

A presente sessão, que decorre sob o lema “O Poder das Parcerias: Forjar Alianças para a Agricultura Familiar Sustentável”, reconfirmou o nigeriano Kanayo Nwanze, no cargo de Presidente do FIDA, para mais um mandato de quatro anos. 

Durante os trabalhos os participantes do Conselho de Governadores do FIDA analisaram, entre outros assuntos, as conclusões do Comité de Emolumentos e o Programa e Orçamento para 2013.

A delegação angolana neste evento, composta pelo Representante Permanente junto do FIDA, o Embaixador Florêncio de Almeida e assessores, foi encabeçada pelo titular da Agricultura, Afonso Pedro Canga.

O FIDA é uma agência das Nações Unidas criada em Novembro de 1977, na altura para fazer frente à fome no Sahel. O seu principal objectivo é conceder financiamento directo e mobilizar recursos adicionais para programas especificamente destinados a promover o avanço económico dos pobres rurais, principalmente através do melhoramento da produtividade agrícola.

Fonte: Angop

COMPANHIA AÉREA ANGOLANA QUER TORNAR-SE REFERÊNCIA EM ÁFRICA




NME – JMR - Lusa

Luanda, 14 fev (Lusa) - O presidente do conselho de administração da companhia aérea de Angola (TAAG), Pimentel Araújo, afirmou hoje que a empresa quer tornar-se uma referência em África e líder da modernização dos transportes aéreos em Angola.

Em comunicado enviado à Agência Lusa por ocasião do seu 33.º aniversário, a TAAG sublinha o seu compromisso em continuar a fazer esforços para vincar o "reconhecimento nacional e internacional da crescente qualidade" das suas operações.

"O caminho nem sempre foi fácil, mas a posição em que nos encontramos hoje, (...) enche-nos de orgulho e deve servir de motivação a todos os trabalhadores da TAAG. Para o futuro devemos ousar ir ainda mais longe", diz no comunicado o presidente da TAAG.

A TAAG tem em curso há alguns anos um programa de modernização que incluiu a aquisição de novos aviões, que permitiram gerar poupanças na ordem dos 35 milhões de dólares.

"A preocupação com a melhoria das condições de voo dos passageiros e a criação do Programa de Passageiro Frequente, com o cartão Umbi Umbi foi importante no que concerne à fidelização e preocupação com os passageiros", salienta a nota.

A HISTÓRIA SECRETA DA RENÚNCIA DE BENTO XVI




Mais do que querelas teológicas, são o dinheiro e as contas sujas do banco do Vaticano os elementos que parecem compor a trama da inédita renúncia do papa. Um ninho de corvos pedófilos, articuladores de complôs reacionários e ladrões sedentos de poder, imunes e capazes de tudo para defender sua facção. A hierarquia católica deixou uma imagem terrível de seu processo de decomposição moral. O artigo é de Eduardo Febbro, direto de Paris.

Eduardo Febbro - Carta Maior

Paris - Os especialistas em assuntos do Vaticano afirmam que o Papa Bento XVI decidiu renunciar em março passado, depois de regressar de sua viagem ao México e a Cuba. Naquele momento, o papa, que encarna o que o diretor da École Pratique des Hautes Études de Paris (Sorbonne), Philippe Portier, chama “uma continuidade pesada” de seu predecessor, João Paulo II, descobriu em um informe elaborado por um grupo de cardeais os abismos nada espirituais nos quais a igreja havia caído: corrupção, finanças obscuras, guerras fratricidas pelo poder, roubo massivo de documentos secretos, luta entre facções, lavagem de dinheiro. O Vaticano era um ninho de hienas enlouquecidas, um pugilato sem limites nem moral alguma onde a cúria faminta de poder fomentava delações, traições, artimanhas e operações de inteligência para manter suas prerrogativas e privilégios a frente das instituições religiosas. 

Muito longe do céu e muito perto dos pecados terrestres, sob o mandato de Bento XVI o Vaticano foi um dos Estados mais obscuros do planeta. Joseph Ratzinger teve o mérito de expor o imenso buraco negro dos padres pedófilos, mas não o de modernizar a igreja ou as práticas vaticanas. Bento XVI foi, como assinala Philippe Portier, um continuador da obra de João Paulo II: “desde 1981 seguiu o reino de seu predecessor acompanhando vários textos importantes que redigiu: a condenação das teologias da libertação dos anos 1984-1986; o Evangelium vitae de 1995 a propósito da doutrina da igreja sobre os temas da vida; o Splendor veritas, um texto fundamental redigido a quatro mãos com Wojtyla”. Esses dois textos citados pelo especialista francês são um compêndio prático da visão reacionária da igreja sobre as questões políticas, sociais e científicas do mundo moderno. 

O Monsenhor Georg Gänsweins, fiel secretário pessoal do papa desde 2003, tem em sua página web um lema muito paradoxal: junto ao escudo de um dragão que simboliza a lealdade o lema diz “dar testemunho da verdade”. Mas a verdade, no Vaticano, não é uma moeda corrente. Depois do escândalo provocado pelo vazamento da correspondência secreta do papa e das obscuras finanças do Vaticano, a cúria romana agiu como faria qualquer Estado. Buscou mudar sua imagem com métodos modernos. Para isso contratou o jornalista estadunidense Greg Burke, membro da Opus Dei e ex-integrante da agência Reuters, da revista Time e da cadeia Fox. Burke tinha por missão melhorar a deteriorada imagem da igreja. “Minha ideia é trazer luz”, disse Burke ao assumir o posto. Muito tarde. Não há nada de claro na cúpula da igreja católica. 

A divulgação dos documentos secretos do Vaticano orquestrada pelo mordomo do papa, Paolo Gabriele, e muitas outras mãos invisíveis, foi uma operação sabiamente montada cujos detalhes seguem sendo misteriosos: operação contra o poderoso secretário de Estado, Tarcisio Bertone, conspiração para empurrar Bento XVI à renúncia e colocar em seu lugar um italiano na tentativa de frear a luta interna em curso e a avalanche de segredos, os vatileaks fizeram afundar a tarefa de limpeza confiada a Greg Burke. Um inferno de paredes pintadas com anjos não é fácil de redesenhar. 

Bento XVI acabou enrolado pelas contradições que ele mesmo suscitou. Estas são tais que, uma vez tornada pública sua renúncia, os tradicionalistas da Fraternidade de São Pio X, fundada pelo Monsenhor Lefebvre, saudaram a figura do Papa. Não é para menos: uma das primeiras missões que Ratzinger empreendeu consistiu em suprimir as sanções canônicas adotadas contra os partidários fascistóides e ultrarreacionários do Mosenhor Levebvre e, por conseguinte, legitimar no seio da igreja essa corrente retrógada que, de Pinochet a Videla, apoiou quase todas as ditaduras de ultradireita do mundo. 

Bento XVI não foi o sumo pontífice da luz que seus retratistas se empenham em pintar, mas sim o contrário. Philippe Portier assinala a respeito que o papa “se deixou engolir pela opacidade que se instalou sob seu reinado”. E a primeira delas não é doutrinária, mas sim financeira. O Vaticano é um tenebroso gestor de dinheiro e muitas das querelas que surgiram no último ano têm a ver com as finanças, as contas maquiadas e o dinheiro dissimulado. Esta é a herança financeira deixada por João Paulo II, que, para muitos especialistas, explica a crise atual. 

Em setembro de 2009, Ratzinger nomeou o banqueiro Ettore Gotti Tedeschi para o posto de presidente do Instituto para as Obras de Religião (IOR), o banco do Vaticano. Próximo à Opus Deis, representante do Banco Santander na Itália desde 1992, Gotti Tedeschi participou da preparação da encíclica social e econômica Caritas in veritate, publicada pelo papa Bento XVI em julho passado. A encíclica exige mais justiça social e propõe regras mais transparentes para o sistema financeiro mundial. Tedeschi teve como objetivo ordenar as turvas águas das finanças do Vaticano. As contas da Santa Sé são um labirinto de corrupção e lavagem de dinheiro cujas origens mais conhecidas remontam ao final dos anos 80, quando a justiça italiana emitiu uma ordem de prisão contra o arcebispo norteamericano Paul Marcinkus, o chamado “banqueiro de Deus”, presidente do IOR e máximo responsável pelos investimentos do Vaticano na época. 

João Paulo II usou o argumento da soberania territorial do Vaticano para evitar a prisão e salvá-lo da cadeia. Não é de se estranhar, pois devia muito a ele. Nos anos 70, Marcinkus havia passado dinheiro “não contabilizado” do IOR para as contas do sindicato polonês Solidariedade, algo que Karol Wojtyla não esqueceu jamais. Marcinkus terminou seus dias jogando golfe em Phoenix, em meio a um gigantesco buraco negro de perdas e investimentos mafiosos, além de vários cadáveres. No dia 18 de junho de 1982 apareceu um cadáver enforcado na ponte de Blackfriars, em Londres. O corpo era de Roberto Calvi, presidente do Banco Ambrosiano. Seu aparente suicídio expôs uma imensa trama de corrupção que incluía, além do Banco Ambrosiano, a loja maçônica Propaganda 2 (mais conhecida como P-2), dirigida por Licio Gelli e o próprio IOR de Marcinkus. 

Ettore Gotti Tedeschi recebeu uma missão quase impossível e só permaneceu três anos a frente do IOR. Ele foi demitido de forma fulminante em 2012 por supostas “irregularidades” em sua gestão. Tedeschi saiu do banco poucas horas depois da detenção do mordomo do Papa, justamente no momento em que o Vaticano estava sendo investigado por suposta violação das normas contra a lavagem de dinheiro. Na verdade, a expulsão de Tedeschi constitui outro episódio da guerra entre facções no Vaticano. Quando assumiu seu posto, Tedeschi começou a elaborar um informe secreto onde registrou o que foi descobrindo: contas secretas onde se escondia dinheiro sujo de “políticos, intermediários, construtores e altos funcionários do Estado”. Até Matteo Messina Dernaro, o novo chefe da Cosa Nostra, tinha seu dinheiro depositado no IOR por meio de laranjas. 

Aí começou o infortúnio de Tedeschi. Quem conhece bem o Vaticano diz que o banqueiro amigo do papa foi vítima de um complô armado por conselheiros do banco com o respaldo do secretário de Estado, Monsenhor Bertone, um inimigo pessoal de Tedeschi e responsável pela comissão de cardeais que fiscaliza o funcionamento do banco. Sua destituição veio acompanhada pela difusão de um “documento” que o vinculava ao vazamento de documentos roubados do papa. 

Mais do que querelas teológicas, são o dinheiro e as contas sujas do banco do Vaticano os elementos que parecem compor a trama da inédita renúncia do papa. Um ninho de corvos pedófilos, articuladores de complôs reacionários e ladrões sedentos de poder, imunes e capazes de tudo para defender sua facção. A hierarquia católica deixou uma imagem terrível de seu processo de decomposição moral. Nada muito diferente do mundo no qual vivemos: corrupção, capitalismo suicida, proteção de privilegiados, circuitos de poder que se autoalimentam, o Vaticano não é mais do que um reflexo pontual e decadente da própria decadência do sistema. 

Tradução: Katarina Peixoto

Fotos: TV Vaticano 

AS ELEIÇÕES EM ISRAEL – 2013



Rui Peralta, Luanda

As intenções de voto apontam para a maioria absoluta das forças ultranacionalista e ultraortodoxas sionistas. É a radicalização de há muito pressentida, na sociedade israelita, um aglomerado de sete milhões e quinhentos mil habitantes, um mosaico étnico, um labirinto de guetos, abençoados pelo Estado Bíblico do Senhor dos Exércitos, protector dos órfãos da diáspora e do holocausto.
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A estas eleições de 2013 concorrem: o LIKUD, partido do actual governo (em desespero pela conquista dos votos das comunidades ultraortodoxas), que no seu discurso eleitoral opõem-se a qualquer tratado de paz e ao desmantelamento dos colonatos; os ultranacionalistas do Habait Hayehudi, defensor da opção bélica; o Beitenud Israel, aliado do LIKUD e que conta com as simpatias das comunidades judaicas provenientes da Rússia (consta do programa deste partido o corte do fornecimento de água e de electricidade aos Palestinianos, assim como o seu transporte para a Jordânia); o Partido Ultraortodoxo Sefardi; o Judaísmo Unido da Torá; o Yahadut Hatora, apoiado pelos judeus ortodoxos provenientes da Lituânia; o KADIMA; o Hatnuah, partido centrista, dissidente do KADIMA; o Avodá, trabalhista; o Atzmaut, uma dissidência trabalhista, dirigida por Ehud Barak; o Meretz, da esquerda democrática, defensor da paz; o Zehava Galon, outra força de esquerda, pacifista; o HADASH, comunista; o Shinuhi, um partido laico; a coligação Al Balad / Raam Taal, apoiada pela comunidade árabe de Israel e uma miríade de pequenos partidos sem qualquer hipótese de obterem representação parlamentar.
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Os temas dominantes desta campanha têm sido: o programa nuclear iraniano; o apoio iraniano ao Hamas, na faixa de Gaza e todos os temas relacionados com a ocupação (colonatos, deslocação de populações, etc.)
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Como as forças politicas defensoras de posições pacíficas säo minoritárias e sem grande expressão eleitoral, o grande objectivo destas eleições será a legitimação da violência, dos bombardeamentos, dos assassínios selectivos, das detenções ilegais e da continuidade do genocídio provocado pela ocupação.
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OS votos depositados nas urnas representarão novos muros, fossos, cercas electrificadas, mais checkpoints, mais exclusão, mais apartheid…É a barbárie do Povo Eleito.
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O proletariado israelita sofre com os efeitos das políticas neoliberais dos governos de direita. Marginalização social, precariedade laboral, o altíssimo custo de vida…
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Em 2012 foram realizadas, nas principais cidades israelitas, enormes manifestações, exigindo a redução das despesas militares, dos impostos sobre os assalariados, por melhores condições de habitação, educação e saúde públicas. Milhares de famílias subsistem com ajuda de subsídios, sujeitos a cortes orçamentais.
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Israel é uma sociedade mergulhada numa profunda crise social e cultural. O triunfo político da extrema-direita sionista é uma hecatombe para todo o Médio Oriente. Aos Palestinianos näo resta outra alternativa senão a luta armada. O discurso e as políticas postas em práctica pela elite sionista (e pelos sues cúmplices norte-americanos, sejam obamistas ou conservadores), sempre indisponível para a paz e sempre preparada para a guerra, a isso obrigam.

OS PERIGOS DA REDUÇÃO DE CUSTOS NOS SUPERMERCADOS




FINANCIAL TIMES, LONDRES – Presseurop – imagem Alex Ballaman

A troca de carne de bovino por cavalo é um sinal aparatoso de que foi atingido o limite em matéria de esforços para reduzir os preços. Embora uma maior certificação de origem dos produtos implique custos, os danos à reputação de cadeias de supermercados que não a fazem podem sair ainda mais caros. Excertos.


Desde Sweeney Todd que não havia tanta incerteza sobre o que exatamente contém a carne processada para alimentação humana. Desta vez, não são os clientes do diabólico barbeiro de Fleet Street, mas cavalos romenos.

Uma vez que a carne de cavalo é mais magra do que a de bovino de baixa qualidade e contém mais ácidos gordos ómega 3, pode tratar-se de um caso raro de adulteração que faz com que a comida seja mais saudável. Ainda assim, não é abonatório para a cadeia de abastecimentos em que supermercados e restaurantes obtêm os seus alimentos processados. Se não conseguem detetar cavalo, o que mais deixam passar?

No segmento mais alto do mercado, em que fornecedores de carne orgânica propagandeiam a origem dos seus produtos e uma pessoa quase sabe o nome próprio do animal que está a comer, a troca de vaca por cavalo é inconcebível. Mas no patamar mais barato, apertado por preços tremendos e pela crescente procura de carne por parte da China e das economias em desenvolvimento, acabam por ir dar à panela algumas coisas inesperadas.

Fabricantes na falência

Isto não pode continuar. A indústria automóvel dos EUA debateu-se, em tempos, com uma situação semelhante com os fornecedores – espremeu-os tanto que o produto deteriorou-se e os fabricantes foram à falência. Por mais complicado que seja forjar relações com os fornecedores, num mundo em que os clientes exigem preços baixos, a indústria de alimentos não tem grandes alternativas.

Sob alguns aspetos, a concentração da produção e distribuição das últimas décadas, com o comércio tradicional a ser substituído por supermercados fornecidos por empresas transformadoras de alimentos, foi um bom negócio para o consumidor médio. Elevou o nível básico de qualidade – o conteúdo das salsichas e tortas de carne britânicas na década de 1970 não deixam dúvidas – e deu uma bitola aos preços.

O preço dos alimentos no comércio tradicional caiu em termos reais em duas décadas, até 2007. Não só os preços dos bens de consumo eram baixos, como os supermercados ainda baixaram os custos através das compras a redes de fornecedores – produtores, processadores de alimentos e comerciantes – que têm de competir por cada encomenda.

Isto mudou em 2007-2008, com o primeiro de vários choques de preços de bens de consumo. O uso de produtos agrícolas norte-americanos para biodiesel fez subir os preços do milho e dos óleos de palma e de canola, e os mercados sentiram a pressão da crescente procura de carne pelos países em desenvolvimento. O consumo de carne per capita na China quadruplicou desde 1960.

Abastecimento sob extrema tensão

O ramo agroalimentar ficou com uma longa e complexa cadeia de abastecimento transnacional sob extrema tensão. É aí que entram os cavalos. Neste caso, os cavalos romenos parecem ter acabado em lasanha de “vaca” e outros produtos, nos supermercados franceses e do Reino Unido, por via de um comerciante cipriota e uma distribuidora francesa.

Os supermercados deitam as mãos à cabeça, insistindo que não fazem ideia de como isso aconteceu. Mas fizeram-se deliberadamente cegos às suas cadeias de abastecimentos – não sabiam nada dos cavalos, porque também não sabem nada das vacas. Delegam isso nos fornecedores de primeira linha, que delegam nos fornecedores de segunda linha, etc.

"Os retalhistas não têm grande informação e as relações limitam-se a transações", diz Sion Roberts, membro da empresa de consultoria European Food and Farming Partnerships. "Qualquer dos seus fornecedores pode estar sob grave pressão financeira sem que o retalhista tenha disso conhecimento."

E nem querem saber, visto que os supermercados – tal como as empresas de genética que produzem sementes e fertilizantes – foram os únicos a salvaguardar as suas margens de lucro nos últimos anos. O aperto dá-se a meio da cadeia, entre os responsáveis pelo processamento de alimentos e os agricultores.

Volatilidade dos preços

"O agricultor sujeita-se aos preços, sem grande poder no mercado", diz Justin Sherrard, um estratega global do grupo financeiro cooperativo Rabobank, que considera que os fornecedores de alimentos precisam de criar laços mais fortes. "Há um limite para o que se consegue obter ao espremer repetidamente os fornecedores."

A troca de carne de bovino por cavalo é um sinal aparatoso de que se atingiu o limite. Embora poucas pessoas pareçam estar preocupadas por terem comido carne de cavalo – nem têm razões para isso –, os devotos judeus ou muçulmanos têm todo o direito de ficar indignados se carne de vaca for substituída por porco.

O comércio local de produtos agrícolas – muitas vezes através de concurso em plataformas digitais – é uma maneira altamente eficiente de reduzir custos. Mas não promove em nada a qualidade, nem melhora o rendimento, e torna difícil aos fornecedores e produtores investirem no longo prazo. Estão constantemente sujeitos à volatilidade dos preços, disputando encomendas uma a uma.

A indústria automobilística dos Estados Unidos foi apanhada nessa armadilha antes da crise de 2008 e isso levou à falência da Chrysler e da General Motors. Os fabricantes pressionavam constantemente os fornecedores a baixar os preços, a fim de reduzir custos; e acabaram a vender barato carros de baixa qualidade.

Tónica na inovação e na qualidade

Pelo contrário, os fabricantes japoneses, como a Toyota e a Honda mantêm um relacionamento mais cooperante, de longo prazo, com os fornecedores, pondo a tónica na inovação e na qualidade e não numa ditadura de preços baixos. As empresas norte-americanas acabaram por ter que seguir o seu exemplo.

É difícil passar de um ciclo vicioso de redução de custos e diluição da qualidade para um círculo virtuoso de cooperação e inovação, especialmente quando o dinheiro não abunda. Alguns clientes pagam pela certificação de origem e abastecimento direto de produtores selecionados; para a maioria, isso é um luxo.

No entanto, é possível uma mudança, mesmo no mercado mais vasto. A imagem da cadeia McDonalds foi manchada por revelações de baixa qualidade de processamento de carne no Fast Food Nation de Eric Schlosser, em 2003. Agora, abastece-se de toda a carne de vaca dos seus restaurantes britânicos diretamente em 17 500 produtores de gado da Irlanda e do Reino Unido, com contratos de longo prazo. Muitas outras empresas do ramo alimentar estão a adotar medidas semelhantes.

Dados os riscos em termos de reputação que os supermercados e cadeias de restaurantes enfrentam ao deixar tais assuntos nas mãos do acaso – ou de fornecedores de carne anónima –, parece tratar-se de um bom investimento.

OPINIÃO

A lasanha de cavalo é igual aos créditos tóxicos

O que é que a crise dos “subprimes” [créditos tóxicos do setor imobiliário] e o caso da carne de cavalo têm em comum? São ambos uma consequência nefasta, mas lógica, da globalização" e da falta de regulamentação a nível internacional. O jornal NRC Handelsbladconstata que, nos dois setores, a autorregulação falhou e levou a "excessos":

Dos 55 mil regulamentos agrícolas da UE, 30 mil dizem respeito à segurança alimentar [...], mas são difíceis de aplicar. Os políticos querem que agricultores, fabricantes e distribuidores atuem por iniciativa própria, de modo a que tudo respeite a lei, porque podem receber uma visita da inspeção a qualquer momento. É, portanto, no seu próprio interesse. Esta autorregulação era também desejável no setor bancário. Os políticos responsáveis pela desregulamentação e internacionalização das finanças, em 1980 e 1990, também pretendiam que o setor se autorregulasse. Quando se aperceberam que a situação levou a excessos, era tarde de mais [...], o sistema não foi bem pensado, os riscos foram subestimados.

Portugal - Relvas: “TEMOS SIDO PERSISTENTES E COMEÇAMOS A TER RESULTADOS”




Introdução PG

Perante esta política de biltres, acompanhada por um suposto presidente da República chamado Cavaco Silva que é todos os dias mimoseado com toda espécie de "dixotes" - ganancioso, verme, oportunista, trafulha, BPN, e o que mais dizem aí pela rua - temos o algo prosápio Relvas a declarar que o pior já passou e que "começamos a ter resultados". Bons resultados têm sido os dele, pessoalmente, e dos que compõem a manada de biltres que o rodeiam com o par chamado Passos. Estão sempre os dois juntos - já lhes chamam os testículos - neste percurso em que todos os dias aumentam os que perdem empregos, casas, famílias e a si próprios. Os resultados para os portugueses que se vêem miserabilizar todos os dias por esta cambada de malvados, de hora a hora, não são bons resultados mas sim resultados de merda por via de políticas de biltres deste (des)governo do país e governo de banqueiros e de outros bandidos da mesma laia. Declarações deste jaez, como as do biltre Relvas (um trafulha de primeira-apanha) revoltam quando mal se sobrevive na miserável realidade. Eis o resultado nestas curtas linhas. (AV-PG)

Miguel Relvas disse hoje que o País atravessou já a fase mais difícil

Económico com Lusa

"A verdade é esta: os objectivos que foram definidos pelo Governo para 2012, no que se refere ao défice, no que se refere à execução orçamental foram alcançados. Portugal regressou aos mercados meses antes da data que estava previsto", sublinhou Miguel Relvas, durante a conferência de imprensa após a reunião semanal do Conselho de Ministros.

Dito isto, o Governo mantém a cautela sobre qualquer anúncio de uma nova emissão de dívida de médio ou longo prazo. Luís Marques Guedes, secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros, reiterou o que tem vindo a ser o discurso do Executivo: "Não há uma previsão certa" de regresso aos mercados, mas, uma vez que o país não enfrenta problemas de liquidez e, "fruto da credibilidade e confiança que Portugal tem vindo a granjear junto dos investidores internacionais", pode "gerir esse regresso" numa "lógica de oportunidade".

Em relação ao desemprego, o governante argumentou que o Executivo tem "sido capaz" de apresentar "iniciativas", que - reconheceu ainda assim - "não resolvem, na totalidade, o problema". A título de exemplo, o ministro apontou o programa de apoio ao emprego jovem, o Impulso Jovem, recordando que "ainda ontem [quarta-feira]" foi 
tornado público o alargamento deste programa na área de Lisboa e Vale do Tejo".

"Desde que tomou posse o Governo definiu uma estratégia, um caminho. Temos sido persistentes nesse rumo e começamos a ter resultados. Sabemos que as dificuldades existiriam permanentemente ao longo deste mandato, mas continuamos com o grau de exigência com que temos olhado para o corte na despesa pública, para adelicada confiança que queremos que retorne ao sector económico, num contexto particularmente difícil do espaço europeu em que estamos integrados", afirmou Miguel Relvas.

O ministro sublinhou também que "todos os dados apontam" para o país comece a ter indicadores de crescimento económico em 2014.

"Sabemos que o caminho é de dificuldade, mas sabemos que quem tem rumos e convicções das políticas que estão a ser seguidas alcançará os resultados que persegue".

Sobre se a "convicção" do Governo se traduzia pela noção de que o país atravessou já a fase mais difícil no sentido da recuperação da trajectória ascendente da economia, o governante deixou claro que "continuaremos a ter um quadro delicado".

"Estamos conscientes do caminho que está a ser seguido", reiterou, aproveitando para apontar para as medidas de corte da despesa pública operadas em 2012 na administração central e local e regional, estendidas nas duas propostas de Lei, ontem [quarta-feira] apresentadas pelo Executivo sobre as finanças locais e regionais, que - disse Relvas - vão no sentido que de "criar condições para que estes dois sectores possam ser também contribuintes líquidos para esta estratégia que está a ser seguida".

TAXA DE POBREZA EM PORTUGAL É MAIS ELEVADA DO QUE A MÉDIA EUROPEIA




Económico com Lusa 

A taxa de pobreza em Portugal é superior à média da União Europeia a 27 (UE27), atingindo o 20.º lugar, sendo ultrapassada apenas pelos valores de Itália, Grécia, Lituânia, Bulgária, Espanha, Roménia e Letónia.

De acordo com o relatório "O impacto da crise europeia", da Cáritas Europa, a taxa de risco de pobreza em Portugal situava-se nos 17,9%, em 2010, quando a média europeia da UE27 era de 16,4%.

A taxa de risco de pobreza em Portugal caiu entre 2004 e 2009, ano em que se situava nos 17,9%, valor que se manteve até 2010. Em 2011 subiu para 18%, o que representa mais de 1,9 milhões de pessoas.

"Este aumento acontece não obstante o facto de o limiar da pobreza ter baixado, entre 2010 e 2011, em linha com uma quebra generalizada dos rendimentos", explica o documento.

Ao mesmo tempo, a taxa de pobreza em Portugal para as pessoas que trabalham, mas que ainda não ganham o suficiente para estar acima do limiar da pobreza, era de 10,3% em 2011, situando-se acima da média europeia (8,4% em 2010), segundos os dados de 2012 do Eurostat, citados pela Cáritas.

Na população das pessoas com 65 ou mais anos, o risco era de 21%, em 2010, e os dados mais recentes sugerem uma taxa de 20%, em 2011, semelhante à taxa de 2009 e superior à média da UE27 (16% em 2010).

"Mesmo que a taxa tenha diminuído, ainda permanece consideravelmente superior à taxa para a população em idade ativa (18-64 anos), fixando-se nos 15,7%", adianta o documento.

Houve também uma diferença de 3,4 pontos percentuais entre o risco de pobreza em homens mais velhos (18%), em 2010, e para as mulheres mais velhas (21,4%), segundo o Eurostat.

Da mesma forma, em 2010, as mulheres mais velhas eram mais propensas a sofrerem privação material grave (10,8%), contra os 7,9%, nos homens mais velhos.

O relatório analisa o impacto da crise económica e das medidas políticas tomadas para a enfrentar, em particular nos cinco países "mais severamente afetados": Grécia, Irlanda, Itália, Portugal e Espanha.

O documento aponta para o cenário de uma Europa onde os riscos sociais estão a aumentar, os sistemas sociais estão a ser pressionados e os indivíduos e as famílias estão colocados numa situação de enorme tensão. Conclui ainda que "a prioridade das políticas de austeridade não está a funcionar e será necessário procurar alternativas".

Portugal: EX-SECRETÁRIO DE ESTADO DE PASSOS MANDA O FISCO “IR TOMAR NO CU”





Francisco José Viegas, ex-secretário de Estado da Cultura do governo de Pedro Passos Coelho, criticou, esta quinta-feira, a intenção de multar quem não pedir fatura, dizendo no seu blogue que terá de pedir ao fiscal "para ir tomar no cu".

Em reação a este comentário, o ministro dos Assuntos Parlamentares disse, esta quinta-feira, respeitar as opiniões de todos os portugueses, mas escusou-se a comentar as críticas do ex-secretário de Estado da Cultura.

Questionado na conferência de imprensa realizada no final do conselho de ministros sobre as palavras do antigo secretário de Estado da Cultura, o ministro adjunto e dos Assuntos Parlamentares, Miguel Relvas, disse não ter tido oportunidade de ler as críticas de Francisco José Viegas, mas sublinhou que respeita "qualquer e todas as opiniões que são assumidas".

"Respeito e respeitamos a opinião de todos os portugueses, tenham ou não feito parte de Governos ou deste Governo em particular, sabemos que muitas medidas são medidas difíceis, delicadas, mas compete a quem tem responsabilidades de governar saber assumi-las e estar à altura das responsabilidades", afirmou Miguel Relvas.

O ex-secretário de Estado da Cultura Francisco José Viegas recorreu esta quinta-feira a uma expressão considerada insultuosa para criticar, no seu blogue, "A Origem das Espécies", a intenção do Governo de multar quem não pedir faturas, num "post' intitulado "No Estado, o absurdo não paga imposto?".

Sob a forma de carta aberta ao secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, o jornalista e escritor escreveu: "Caro Paulo Núncio: queria apenas avisar que, se por acaso, algum senhor da Autoridade Tributária e Aduaneira tentar «fiscalizar-me» à saída de uma loja, um café, um restaurante ou um bordel (quando forem legalizados) com o simpático objetivo de ver se eu pedi fatura das despesas realizadas, lhe responderei que, com pena minha pela evidente má criação, terei de lhe pedir para ir tomar no cu, ou, em alternativa, que peça a minha detenção por desobediência".

No mesmo "post' acrescentou: "Ele, pobre funcionário, não tem culpa nenhuma; mas se a Autoridade Tributária e Aduaneira quiser cruzar informações sobre a vida dos cidadãos, primeiro que verifique se a C. N. de Proteção de Dados já deu o aval, depois que pague pela informação a quem quiser dá-la".

A Lusa tentou contactar Francisco José Viegas, até ao momento sem sucesso.

Timor-Leste quer mais cooperação com CPLP e mais investimento dos seus membros




MSE – ARA - Lusa

Díli, 14 fev (Lusa) - O chefe da diplomacia timorense, José Luís Guterres, disse hoje que Timor-Leste quer mais cooperação com a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e mais investimento económico dos seus Estados-membros no país.

José Luis Guterres falava antes da visita do secretário-executivo da CPLP, o embaixador moçambicano Murade Murargy, que sábado chega a Timor-Leste, onde ficará uma semana.

"Esta visita é para dar mais impulso à cooperação e à presença da CPLP em Timor-Leste", afirmou o ministro dos Negócios Estrangeiros timorense.

Segundo José Luís Guterres, a visita vai servir também para assinar o acordo de concessão do terreno para a construção da representação da CPLP em Díli, que será financiada pelo Governo timorense.

"Também vai ser uma oportunidade para o secretariado da CPLP e o Governo de Timor-Leste analisarem as áreas de cooperação que devemos explorar mais, para que as relações que temos sejam também estendidas ao setor económico", disse, salientando que gostava de ver mais investimento dos países da CPLP em Timor-Leste.

O secretário-executivo da CPLP vai estar em Timor-Leste entre sábado e o dia 23 de fevereiro e será a sua primeira visita oficial a um Estado-membro desde que assumiu o cargo, em setembro.

Durante a sua estada em Díli, Murade Murargy vai reunir-se com membros do Governo e do parlamento nacional e com o Presidente da República.

Em julho, em Moçambique, na última cimeira de chefes de Estado e de Governo da CPLP, Timor-Leste formalizou a intenção de assumir a presidência rotativa da organização, o que deverá acontecer em julho de 2014.

A CPLP é composta por Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Portugal, Moçambique, Timor-Leste e São Tomé e Príncipe.

Os únicos países da CPLP com embaixadas em Timor-Leste são Portugal e o Brasil.

*Também publicado em TIMOR LOROSAE NAÇÃO – ver títulos mais recentes:

Moçambique: CHUVAS INTENSAS NA ZONA CENTRO




Notícias (mz)

As províncias de Sofala, Tete e Zambézia estarão sob chuvas intensas com trovoadas no sábado e no domingo como resultado da formação, no Canal de Moçambique, de uma área de convergência, que poderá evoluir para um sistema de baixas pressões. 

O Instituto Nacional de Meteorologia (INAM) intensificou a vigilância sobre a zona, uma vez que o sistema de baixas pressões, que se terá formado ao fim do dia de ontem ou madrugada de hoje, é susceptível de evoluir para tempestade tropical, que, a ocorrer, teria efeitos nefastos na região, uma vez que vem sendo fustigada por chuvas desde Janeiro.

Sérgio Buque, do Departamento de Análise e Previsão de Tempo no INAM, disse ontem ao nosso Jornal que há um ciclone tropical na parte leste do Oceano Indico, mas a sua trajectória indica que não há perigo de atingir a nossa região, nem influenciar, de alguma forma, as condições meteorológicas.
    
Designado “Gino”, o ciclone está entre a Ilha da Madagáscar e Austrália e a nossa fonte assegurou que não há como atingir o Canal de Moçambique e consequentemente o litoral do país. 

Dados do INAM indicam que fora daquele sistema, a região centro continua a ser fustigada por chuvas, prevendo-se para hoje, por exemplo, precipitação intensa, que poderá ultrapassar 75 milímetros em 24 horas, no vale do Zambeze.

Regista-se igualmente precipitação considerável no Malawi, Zâmbia e norte do Zimbabwe, cenário que tem se reflecte ou que poderá reflectir no escoamento de água ao longo da bacia do Zambeze.

Aliás, quase todas as bacias hidrográficas nacionais estão acima dos seus níveis de alerta.

Informações da Direcção Nacional de Águas (DNA) prestadas ontem no Conselho Técnico de Gestão de Calamidades referem que Maputo, Incomáti e Limpopo continuavam em alerta nas estações de Madubula, Magude e Sicacate, respectivamente.

Igualmente, a bacia do Zambeze estava em alerta em Caia e em Marromeu, na mesma altura em que a de Licungo apresentava emitiu cenário idêntico em Mocuba.

Contudo, a DNA previa que hoje as bacias do sul, nomeadamente Limpopo, Incomáti e Maputo, começassem a baixar de níveis, embora se mantenham acima dos pontos de alerta.

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