quinta-feira, 28 de julho de 2011

Timor: PNTL E UNPOL treinam em conjunto para garantirem segurança no período eleitoral




MSO - LUSA

Díli, 28 jul (Lusa) -- Forças policiais das Nações Unidas (UNPOL) e da Polícia Nacional de Timor-Leste (PNTL) realizaram esta quarta-feira um exercício conjunto de preparação para a manutenção da segurança nas eleições de 2012, revelou hoje a Missão das Nações Unidas.

A Missão das Nações Unidas em Timor-Leste (UNMIT), que deverá retirar-se do país após as eleições de 2012, mantém no território uma presença policial de 1.280 efetivos, mas deixou de ter responsabilidade direta no policiamento.

A 28 de março, a ONU entregou as responsabilidades de policiamento à polícia timorense em todos os distritos, passando a UNPOL a dedicar-se à formação, consultoria e monitorização dos agentes da PNTL.

De acordo com fonte das Nações Unidas, participaram no treino conjunto de quarta-feira 29 polícias da PNTL e 22 oficiais da UNPOL, tendo como objetivo a preparação para as eleições em 2012 e estão previstas mais ações relativas à formação na gestão de operações eleitorais, desastres naturais e perturbações de ordem pública.

Longuinhos Monteiro, comandante-geral da PNTL, realçou que "a PNTL e a UNPOL estão treinando juntos para garantir a segurança e proteção durante o período eleitoral", enquanto o comissário Luís Carrilho, responsável pelas forças policiais da ONU, salientou a "importância para todos do sucesso das eleições" e do apoio ao processo democrático. Por isso, haverá uma concentração de esforços na segurança durante o período eleitoral, referiu.

Timor-Leste: Ramos Horta elogia universidades indonésias por facilidades aos timorenses





Díli - O Presidente de Timor-Leste, José Ramos-Horta, manifestou hoje o seu apreço pelas universidades indonésias por terem permitido a milhares de estudantes timorenses prosseguirem estudos naquele país pagando propinas como alunos nacionais, após a independência.   
 
Ramos-Horta falava na cerimónia de lançamento do programa de pós-graduação e pesquisa da Universidade Nacional de Timor-Lorosa'e, no qual vão colaborar várias universidades de diversos países, entre elas portuguesas e indonésias.
 
"As universidades indonésias, desde 2000, fizeram arranjos especiais com as sucessivas administrações de Timor-Leste, mesmo antes da independência e depois com o Governo, para facilitar o pagamento de propinas aos nossos estudantes, equiparando-os aos estudantes nacionais indonésios", afirmou o Presidente. 
 
Ramos-Horta sublinhou ainda que "teria sido impossível aos milhares de estudantes (timorenses) poderem continuar a estudar na Indonésia se, automaticamente, após 2002, passassem a pagar propinas como estudantes estrangeiros. E essa é uma contribuição que é poucas vezes falada".  
 
Entre várias referências que fez à evolução do ensino superior em Timor-Leste, o Presidente destacou igualmente o contributo de Portugal "que, a partir de 2000, deu centenas de bolsas de estudo" a alunos daquele país, e ainda "a excepcional cooperação cubana".  

"Se há programa de que é visível o seu êxito, é o da formação dos médicos nacionais, que foi iniciada em 2003 e que vai permitir, dentro de poucos anos, que Timor-Leste tenha um índice de médicos por habitante dos mais elevados na região", considerou.  

Em relação ao programa de mestrados e doutoramentos na Universidade Nacional de Timor Lorosae (UNTL), Ramos-Horta disse que "a Universidade tem de estar aberta e prosseguir a cooperação com as variadas universidades do mundo, porque essa encruzilhada de conhecimentos ao nível intelectual, científico e cultural é um grande desafio que pode contribuir para Timor-Leste se afirmar na região".   
 
O Presidente da República felicitou a Reitoria e os parceiros de desenvolvimento pelo programa, que na sua opinião, representa mais um passo na consolidação da UNTL, mas recomendou também ao Governo que tenha maior atenção à qualidade do ensino básico, cujas condições ainda não são satisfatórias ao nível da merenda escolar, do acesso à água potável e à luz eléctrica e a instalações adequadas. 

O vice-primeiro ministro, José Luís Guterres, igualmente presente na cerimónia, deu a garantia de apoio do Governo liderado por Xanana Gusmão ao salto qualitativo no ensino universitário.  

Para o representante do Governo, o ensino universitário de qualidade terá reflexo no aproveitamento da riqueza nacional e ajudará o país na desejada integração na Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN).
   

Polícia do regime colonial angolano prende dezenas de jovens na colónia de Cabinda




ORLANDO CASTRO*, jornalista – ALTO HAMA

Forças policiais do regime colonial angolano prenderam 30 activistas que pretendiam conversar com a delegação da União Europeia  que visitava a  colónia de Cabinda. Nove jovens foram detidos por, pois claro!, atentado contra segurança do Estado.

Segundo o jornal português “i”, um dos poucos meios de comunicação social que ainda faz jornalismo, a delegação da União Europeia pretendia averiguar das condições em Cabinda,  cinco anos passados sobre a assinatura do Memorando de Entendimento para a Paz entre alguns (supostos) independentistas e o governo colonial angolano.

“Aproveitando a presença da delegação - que foi recebida com água e luz, coisa que no território não existia há seis meses e foi restabelecida exactamente no dia de chegada dos representantes da UE -, 30 jovens acabaram por ser detidos pelas forças policiais”, disse ao “i“José Marcos Mavungo, activista dos direitos humanos.

Desses 30, nove acabaram por ficar detidos na 1ª Esquadra de Polícia de Cabinda e, de acordo com o advogado José Manuel Gindi, o Ministério Público remeteu ontem o processo para o tribunal da comarca.

Os nove estão, o que aliás é sempre o método e a justificação oficial do regime colonial, indiciados pela prática de crimes contra a segurança do Estado sendo – como é óbvio pelas regras do MPLA – culpados até prova em contrário.

Nos confrontos com o contingente das forças policiais, dois dos jovens ficaram feridos, um deles, André Vítor Gomes, está em estado grave, adiantou ainda José Marcos Mavungo, antigo vice-presidente da ilegalizada Associação Cívica Mpalabanda.

Registe-se que, segundo o Notícias Lusófonas, a vice-governadora da colónia de Cabinda, Aldina da Lomba, disse desconhecer o incidente.

"Nós não temos água nem luz em Cabinda há seis meses e as autoridades restabeleceram a luz e a água para mostrar à delegação da UE que tudo está bem", explicou Mavungo, justificando assim a atitude dos jovens que tentaram manifestar-se para fazer ouvir a sua voz.

Os incidentes aconteceram no exterior do orfanato da Obra Betânia em Cabinda, levando a que quatro crianças tivessem desmaiado com medo, adiantou Mavungo. Nessa altura, a delegação estava reunida com líderes religiosos.

A nova lei de crimes contra a segurança do Estado, que substituiu a anterior, que datava do tempo do partido único em Angola, foi aprovada pela Assembleia Nacional a 4 de Novembro do ano passado e tem sido fortemente contestada por activistas dos direitos humanos por limitar a liberdade de expressão.

Entretanto, Portugal  - a potência que assinou acordos de protectorado com Cabinda, ainda válidos à luz do direito internacional – continua em silêncio, de cócoras e a aguardar as superiores ordens que sobre o assunto serão ditadas pelo regime angolano.

Acresce que Angola tem a garantia de Lisboa (ao que tudo indica corroborada pelo ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas, na sua recente visita a Luanda) de que Portugal não vai imiscuir-se na questão de Cabinda, “até porque o próprio presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, afirma que Angola vai de Cabinda ao Cunene”.

Queiram ou não os donos de Portugal, do ponto de vista de um Estado de Direito (que Portugal é cada vez menos) é importante dizer-se que este reino lusitano não só não honrou a palavra dada ao Povo de Cabinda (também, eu sei, não honra a dada aos próprios portugueses) como aviltou a assinatura dos seus antepassados que, esses sim, com sangue, suor e lágrimas deram luz ao mundo.

Portugal não só violou o Tratado de Simulambuco de 1 de Fevereiro 1885 como, pelos Acordos de Alvor, ultrajou o povo de Cabinda, sendo por isso responsável, pelo menos moral (se é que isso tem algum significado), por tudo quanto se passa no território, seu protectorado, ocupado por Angola.

É verdade que entre o petróleo, grande parte dele produzido em Cabinda, e os direitos humanos dos angolanos e dos cabindas, Portugal (quase) sempre escolheu o lado do ouro negro.

Também é verdade que entre dois tipos de terrorismo, Portugal tem como bitola que um deles deve ser considerado de boa qualidade. E qual é ele? É sempre o que estiver no poder. De má qualidade é, claro está,  praticado por todos aqueles que apenas querem que se respeite os seus mais sublimes direitos.

Portugal, honrando a alta qualidade dos seus médicos, optou por ter uma coluna vertebral amovível. Tem coluna quando é para espezinhar os fracos, não a tem quando os outros são, ou parecem ser, mais fortes. No caso de Cabinda é isso que se passa. Mas, apesar de tudo, o problema de Cabinda existe e não é por pouco se falar dele que ele deixa de existir.

Cabinda é um território ocupado por Angola e nem o potência ocupante como a que o administrou pensaram, ou pensam, em fazer um referendo para saber o que os cabindas querem. Seja como for, o direito de escolha do povo não prescreve, não pode prescrever, mesmo quando o importante é apenas o petróleo.

Para que Cabinda deixasse se ser um problema, os sucessivos governos portugueses varreram o assunto para debaixo do tapete. E debaixo do tapete é tanta a porcaria que quando alguém coloca o país ao nível do lixo… até parece uma bênção.

*Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.

Portugal: Medidas para ultrapassar crise são ataque ao rendimento das famílias – João Duque




Económico, com Lusa

O economista João Duque disse hoje que as medidas decorrentes do acordo com a ‘troika’ para superar a crise económica vão reflectir-se num "ataque muito grande" ao rendimento das famílias durante alguns anos.

"São medidas que constituem um ataque muito grande ao rendimento das famílias nos próximos anos", disse o professor do Instituto Superior de Economia e Gestão, durante a conferência O Algarve na Economia Nacional - Impactos Regionais das Medidas da Troika, que decorreu em Portimão.

"Acredito que os portugueses, mesmo com todas as dificuldades que terão de enfrentar, conseguirão dar uma resposta eficaz aos desafios", disse o economista no encontro, organizado pelo jornal O Algarve.

"O futuro depende da atitude de cada um de nós, para que se passe a olhar para Portugal com mais confiança", observou. João Duque considerou ainda que as alterações das leis laborais decorrentes do acordo com a 'troika' aumentará a mobilidade dos portugueses, "que poderá resultar numa maior eficiência laboral".

Além de João Duque, participaram na conferência empresários e autarcas da região algarvia

Austeridade – TROIKA EM LISBOA PARA DECIDIR SE MANTÉM AJUDA FINANCEIRA




Margarida Peixoto, Bruno Proença e Catarina Duarte - Económico
 
Os peritos da ‘troika’ – BCE, Comissão Europeia e FMI – estiveram ontem no IGCP a passar as contas a pente fino.

Os peritos da ‘troika' que são responsáveis pela avaliação trimestral do desempenho português na aplicação do programa de ajustamento já estão em Portugal, apurou o Diário Económico. Agora, o teste é a sério e só se esta prova for superada é que a próxima tranche do empréstimo de 78 mil milhões de euros será enviada para os cofres portugueses.

O Banco Central Europeu adiantou ao Diário Económico que os trabalhos começam oficialmente na próxima "segunda-feira, 1 de Agosto" e que deverão demorar "duas semanas". Os resultados serão conhecidos em seguida, o que aponta para a segunda quinzena do próximo mês. Até agora Portugal já recebeu uma tranche de 12,6 mil milhões de euros. Não se sabe qual o valor da próxima fatia, nem quando chegará.

Contudo, o Diário Económico apurou que os peritos já estiveram ontem a trabalhar no Instituto de Gestão da Tesouraria e do Crédito Público (IGCP). As contas estão a ser passadas a pente fino e os peritos querem saber tudo ao detalhe, até mesmo procedimentos de actuação.

Como em qualquer país intervencionado, as avaliações sobre o cumprimento do programa são feitas a cada trimestre e nessa altura são visitadas todas as instituições determinantes para a avaliação e o apuramento da informação - desde logo o Ministério das Finanças e o Banco de Portugal, mas também outros serviços ou organismos. É o grupo de trabalho que está sob a alçada do secretário de Estado adjunto do primeiro-ministro, Carlos Moedas, que centraliza a marcação das visitas e facilita o contacto entre os peritos e os serviços. A missão de Carlos Moedas foi criada pelo Governo especificamente para acompanhar a execução do memorando de entendimento

RAPIDINHAS DO MARTINHO – 24




MARTINHO JÚNIOR

BENGUELA – BENGHAZI

Uma das características das “revoluções coloridas” que proliferaram primeiro pela Europa do Leste e depois pelo mundo, em função dos seus êxitos iniciais, é quase sempre a sua eclosão em cidades que não são as capitais dos países-alvo.

O que tem vindo a acontecer nos países do Médio Oriente e norte de África ao confirmar essa regra, confirma um factor de fundo de que se nutre a lógica capitalista: dividir, dividir e dividir para melhor reinar.

Ao dividir dentro dos espaços geográficos nacionais, os promotores das “revoluções coloridas” nutrem-se também das questões regionais a que dão um tratamento manipulador de sua conveniência!

Um das outras características é que esses movimentos podem até recorrer a aspectos da história longínqua mas, como se estivessem a corresponder ao “fim da história” conforme Francis Fukuyama, fazem tábua rasa dos acontecimentos de vulto das últimas décadas, para melhor abrir caminho às ideologias que vão desembocar nas “democracias representativas”, nas políticas neo liberais de “portas abertas” e na substituição duma elite por outra no poder, sem alteração da lógica capitalista que obrigatoriamente estão determinados em preservar.

Nesse sentido procuram fazer uso de sistemáticas mensagens provocatórias, apelando aos aspectos emocionais, fugindo à fria análise e à história.

As ementas de George Soros e James Baker, aproveitadas pelos serviços de inteligência norte americanos, fabricam a imagem dum líder dum determinado país-alvo: decompõem-na fazendo constar apenas as mensagens que se nutrem de aspectos negativos que configuram a presença dum “ditador”, esquecendo-se que as personalidades dos dirigentes podem ser complexas e inseridas em conjunturas históricas amplas e distintas.

Depois lançam líderes como Boris Ieltsin na Rússia, para citar um dos primeiros, cuja missão única é tratar da consolidação dos interesses da aristocracia financeira mundial e das oligarquias a que essa aristocracia recorre de forma estreita e conivente no país-alvo.

Essas ementas, em termos do leque de propagandas disponíveis, ocupam o espaço do pensamento alternativo ao pensamento dominante, na fase de arranque do “movimento basta”, tirando partido do facto da lógica capitalista se ter tornado omnipresente e não existir identidade socialista organizada para além do “rosa pálido” dum socialismo de carácter social democrata, que aliás ao não pôr em causa essa lógica, “abre as portas” conforme às políticas neo liberais.

Em Angola está por um lado muito fresco o resgate pela via da luta armada da escravatura, do colonialismo, do “apartheid” e de suas sequelas e por outro está fresca a iniciativa do “socialismo democrático”, que aliás se tornou tão vulnerável ao poder de novas elites enquistadas em sistemas de castas, à volta duma dúzia se tanto, de famílias, pelo que esse tipo de ementas tende a procurar seu próprio espaço.

O espaço dessas tendências passa também, em conformidade com as leis da própria sociedade, a ter como trampolim um ou mais grupos de famílias, que lideram o processo contraditório e se propõem à emergência de novas castas em direcção à tomada do poder, utilizando nas disputas o fermento das ideologias propostas pela “Open Society” e seus seguidores, um processo que, sob o ponto de vista económico e sociológico, também é eminentemente elitista.

As ideologias que promovem o “basta” esquecem-se no entanto de que o movimento de libertação, mesmo que a influência de famílias poderosas lutem por o descaracterizar, é formado por resistências históricas que podem estar aparentemente adormecidas, mas que são promotoras de dinamismos que há sempre que levar em consideração.

Essas correntes de resistência histórica têm uma consciência alargada da situação económica e sócio-política e têm tradições de luta que não se deixam facilmente levar por correntes indexadas às ideologias disseminadas pelo tandem George Soros – James Baker, nem sequer pelas ideologias típicas dos mercados promovidos pelas lógicas capitalistas: não é o trilho das famílias, estejam elas no poder ou na oposição, que as anima…

Há nessas resistências que integram o movimento de libertação correntes incompatíveis com aquelas propulsionadas pelas “revoluções coloridas”, como se um pouco do Che, de Amílcar Cabral, ou de Agostinho Neto se mantivessem presentes nos fenómenos políticos e sociais de nossos dias e guiassem os passos de fieis seguidores.

Essas correntes perseguem políticas com sentido de vida, assumem a mais ampla vocação de paz e respeito para com a Mãe Terra e são capazes de consciência crítica em relação aos fenómenos típicos das economias de mercado abertas, como em relação às ideologias das manipulações decorrentes.

A resistência no quadro do movimento de libertação respeita a história e sabe lançar pontes entre o passado, o presente e o futuro, compreende de forma crítica as vulnerabilidades do “socialismo democrático” e ao assumir a batalha das ideias é parte integrante da paz voltada para a cidadania responsável, com consciência e apta à participação.

Inspirados nas “revoluções coloridas” do Médio Oriente e do norte de África, algumas correntes presentes em Angola, particularmente a partir do início do ano, estão a enveredar pela procura de instauração dum “movimento basta”.

Não sendo em nada originais, absorveram as ementas que chegam de fora e têm demonstrado pouca criatividade.

Isso acontece até pelo lugar que escolheram par alçar as suas vozes.

Foram para Benguela, na expectativa de torná-la em Benghazi algures nos horizontes sócio-políticos próximos.

O argumento dum membro duma família ilustre da oposição ao movimento de libertação lidera um dos grupos e nessa imaginária Benghazi, num discurso inaugural considerou do alto de sua cátedra:

 (…)

“38. Nós recusamos o projecto daqueles que, colocados no poder, transformaram um partido com história numa espécie de empresa em que os dirigentes passaram a funcionar como o seu Conselho de Administração, para maximizar os rendimentos e distribuir os dividendos entre si (na sua parte de leão…) e algumas migalhas aos restantes accionistas. É por isso que perderam a alma e deixaram de ter respeito por todos quantos consentiram suor e lágrimas para transformar a pátria oprimida numa pátria realmente libertada.

39. Chegou a hora de dizermos basta à delapidação dos nossos recursos, ao açambarcamento, ao nepotismo, ao tráfico de influências, ao roubo descarado do património do Estado. Para nós, quem quer ser rico, que trabalhe, que se empenhe, que se esforce. Nós não pactuaremos com sanguessugas.

40. No existe outra saída senão o reforço e a consolidação da nossa organização. Ela tem que ser arejada, e dirigida por quem não tem as mãos sujas, nem as consciências pesadas”.
Nesse discurso foi caso omisso o resgate do povo angolano, pela via do movimento de libertação, do colonialismo, do “apartheid” e de suas sequelas, ou seja, a geração que forjou a independência, uma parte dela também originária de Benguela, não existiu…

Os que compõem a resistência no seio do movimento de libertação não se deixarão em qualquer caso enganar e assumem a posição coerente face aos fenómenos contemporâneos tendo como sempre perante os seus olhos todo o povo angolano e não a manipulação de grupos, por muito enquistados que eles estejam no poder e na oposição.

São eles, com consciência crítica e responsável, estudando sempre, aqueles capazes de estarem humilde e modestamente na batalha das ideias ombreando com seu povo e abrir cada vez mais espaços para a paz com amor, justiça social e cada vez mais vida, em sintonia com as rotas abertas pelo Che, por Amílcar Cabral, por Agostinho Neto, por tantos outros dos melhores filhos de África e por si próprios! 

Foto: Jacob Rothschild um dos mentores da “Open Rússia Foundation” da George Soros.

Fome e seca no Corno de África de "proporções desconhecidas" - ACNUR




EJ - LUSA

Genebra, 28 jul (Lusa) - O Alto Comissário da ONU para os Refugiados (ACNUR) considerou hoje que a seca e a fome no Corno de África representam «um drama de proporções desconhecidas», lamentando a fraca capacidade de resposta da comunidade internacional até agora.

«Estamos angustiados porque aquilo que fazemos não é suficiente quando vemos a dimensão da tragédia. Estamos perante um drama humanitário de proporções desconhecidas», disse o português António Guterres em entrevista à agência noticiosa espanhola EFE.

No campo de refugiados de Dollo Ado (Etiópia), a taxa de mortalidade ronda as 7,4 mortes diárias por cada 100.000 pessoas (uma emergência é declarada quando se chega a uma morte por cada 10.000).

No sul da Somália, a área mais afetada pela seca, a taxa de subnutrição aguda é de 82 por cento e a mortalidade entre os menores de cinco anos é de quatro por 10.000, em todas as zonas sobre as quais existem dados.

O responsável da ONU para os refugiados disse que «esta seca não é a primeira nem será a última» e o que «mais impressiona é que, sabendo isto, a comunidade internacional não desenvolveu medidas de prevenção a longo prazo para dar capacidade de resistência às comunidades».

O antigo primeiro-ministro português lembrou que, devido às alterações climáticas, é possível esperar que os desastres naturais, como a seca no Corno de África, sejam mais severos e frequentes.

Sobre a situação na Somália, Guterres assegurou que é complexa e inclui três cenários: os refugiados somalis que fogem para o Quénia, os que atravessam a Etiópia (em ambos os casos são acolhidos em campos geridos pelo ACNUR) e os que continuam no país.

A seca afeta cerca de 12 milhões de pessoas na Somália, Quénia e Etiópia e, em menor proporção, no Djibuti que formam a região conhecida como Corno de África.

Dados divulgados hoje pelo agência da ONU para os Refugiados, mais de 800.000 somalis estão fora do país, 90 por cento dos quais no Quénia (445.000), Iémen (191.000), Etiópia (156.000) e Djibuti (16.700).

Na Somália, 1,5 milhões de pessoas são agora deslocados internos, dos quais 100.000 fugiram do Sul - a zona mais castigada pela seca - para o interior, incluindo a capital, Mogadíscio.

Em relação às críticas sobre a lentidão da ajuda para as vítimas da fome, Guterres evocou «as enormes dificuldades logísticas, de acesso e de segurança», mas também a falta de fundos.

Mas, apesar de os novos fundos para a Somália chegarem a um ritmo lento, é «importante reconhecer o apoio que o ACNUR recebe, não só de governos, como da população em geral», disse.

*Foto em Lusa

Brasil: Governo anuncia doação de 53 mil toneladas de alimentos para Somália e Etiópia




FYRO - LUSA

Rio de Janeiro, 28 jul (Lusa) -- O governo brasileiro anunciou hoje que enviará 53 mil toneladas de alimentos para países do Corno de África que sofrem com situação extrema de fome e seca.

De acordo com comunicado oficial do Ministério das Relações Exteriores brasileiro, 38 mil toneladas de alimentos serão destinadas à Somália, um dos países mais afetados da região, enquanto outras 15 mil toneladas terão como destino campos de refugiados na Etiópia.

As doações foram autorizadas pela Lei 12.429 e são feitas em parceria com o Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas (PMA).

A ONU decretou estado de fome em duas áreas da Somália. O país enfrenta a sua pior seca dos últimos 60 anos.

Segundo dados das Nações Unidas, duas em cada dez mil pessoas morrem diariamente de fome no país. Pelo padrão de referência utilizado pela FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação), essa taxa representa um nível de "catástrofe alimentar".

A tragédia é agravada pelo facto de o país ser palco também de uma intensa crise política, iniciada desde que o ditador Siad Barre foi derrubado por militares, em 1991.

Após a sua queda, os revoltosos não entraram em consenso e ainda hoje diferentes grupos rebeldes lutam pelo poder.

*Foto em Lusa

Brasil: 26 municípios em estado de emergência por causa das chuvas no Rio Grande do Sul




FYRO - LUSA

Rio de Janeiro, 28 jul (Lusa) -- A Defesa Civil do Estado do Rio Grande do Sul, no sul do Brasil, aumentou hoje para 26 o número de municípios em estado de emergência, devido às fortes chuvas que afetam a região.

Até ao momento, 123 mil pessoas foram afetadas pelos temporais. O mau tempo tem provocado vários estragos, derrocadas e inundações desde o dia 20 de julho.

De acordo com o balanço da Defesa Civil, são 13.770 os desalojados (pessoas que tiveram que sair de suas casas, mas que contam com a ajuda de parentes ou vizinhos), e 5.400 os desabrigados (pessoas que perderam as suas casas e precisam de recorrer à ajuda de abrigos do Estado).

A previsão é de que as chuvas continuem nas próximas horas em todo o Estado, atingindo também algumas regiões do oeste do Paraná.

*Foto em Lusa

Brasil: ENTREVISTA COM UM ESCRAVO


O maranhense João resolveu buscar trabalho no Pará, onde homens valem menos que bois. Por Felipe Milanez. Foto: Bernardo Loyola

Felipe Milanez – Carta Capital

Marabá, sexta-feira. O sol da manhã confirma a época da seca e anuncia o calor que virá durante a tarde. Atrás do muro alto em uma rua de terra à margem de um córrego, fica o abrigo da Comissão Pastoral da Terra chamado “cabanagem”.

Trata-se de um espaço feito para receber trabalhadores em situação de risco. O nome faz referência à revolta de negros e índios ocorrida na Amazônia no período regencial. João me aguarda para a conversa. Ele saiu do Maranhão em novembro para procurar emprego no Pará. Deixou para trás a mulher e um casal de filhos. Acabou aliciado por um “gato”. Trabalhou seis meses praticamente sem receber, por causa da dívida na cantina. Um dia sofreu um acidente. Pediu as contas, a dona da fazenda, de nome Clara, disse que não tinha o que lhe pagar. Ele ameaçou ir à Justiça. Ela retrucou: “Rapaz, se tu quiser ir, tu pode ir. Porque na minha fazenda quem manda é eu, não é a polícia”. Fugiu com 200 reais no bolso.

Pergunto qual era o trabalho dele na fazenda.

“Era cortando juquira (erva daninha que atrapalha o pasto) e ajudante de fazer cerca na fazenda.”

Fazia isso no Maranhão?

“Não, vim fazer aqui.”

O que é a cantina?

“É onde vende bota, foice, arroz, feijão, óleo, essas coisas assim de fazenda, sabe? Café, açúcar, sabão.”

Eles cobravam?

“Cobravam. Olha, lá no barraco que eu tava, nem energia não tem. O litro de óleo que a gente compra lá, tudo vai pra nota, pro caderno. A água lá onde os meninos estão é água de rio. E lá onde eu tava é um córrego, desse córrego ela botou um cano e encostou uma mangueira da grossura de um dedo nesse cano para puxar água pro pneu. Nesse pneu, o gado bebe, a gente toma banho, bebe e também tira para fazer comida.”

Quantas pessoas estão trabalhando?

“Nós tem cinco pessoas lá cortando juquira, tem dois vaqueiros e o rapaz encarregado do serviço.”

O que a fazenda produz?

“Só gado mesmo. É uma fazenda de gado.”

É grande?

“É. Praticamente só de juquira que ela queria fazer esse ano é 100 alqueires.”

O que ela tinha prometido pagar?

“Ela pagava 25 reais a diária. E pra mim, nesses oito meses, ela me pagou 500 reais: 300 pelo trabalho e 200 pela indenização da minha mão, para eu poder ir embora. Foi a primeira vez que eu vim fazer a denúncia aqui. Porque isso não é correto. Eu vim do Maranhão para trabalhar, sem carteira assinada, trabalho seis meses, o cara me aleija, por culpa dela, aí ela não me paga direito, e ainda fala que é muito caro. Ela falou pra mim que eu tô caro pra ela, ó.”

Como saiu da fazenda?

“Saí escondido.”

Como?

“Eu só falei pro seu Ronaldo (o aliciador): ó seu Ronaldo, eu vou denunciar a fazenda, porque a gente não tá recebendo nada. Ele não queria que eu viesse porque ele ficou com medo de pegar para ele, porque ele que tava devendo. Eu expliquei: olha, senhor, eu não tô indo denunciar você, eu tô indo denunciar a fazenda. Porque é a fazenda que tá devendo nós todos.”

Ele ficou com medo de quê?

“Ele ficou com medo, assim, porque ele não tinha costume. Como eu também não tenho. Mas eu sei que é errado e eu vim procurar o direito.”

Como era a cantina?

“A cantina é dentro da sede mesmo. Um dia morreu uma vaca, às 8 horas da manhã, engatada no arame. Quando o vaqueiro achou, era 6 horas da tarde, e urubu já tinha furado a vaca. Aí ela (a dona da fazenda) mandou limpar e vender a carne toda para os que pegaram serviço. A vaca tava empazinada já. Uns 15 ou 20 dias, foram pegar um gado, e aí quebrou um boi. Quebrou um boi e passaram três dias lá dentro do pasto com o boi quebrado. Com três dias o boi morreu. Ela fez o mesmo, mandou limpar e vender de novo.”

Ela vendeu por quanto?

“Cinco reais o quilo.”

Como se paga?

“Na conta. Trabalhou um rapaz lá, que ele pegou um quarto de um boi, e não teve com o que pagar. Pois ela botou na conta do seu Ronaldo para ele pagar. Sendo que não tinha nada a ver, e ela passou para ele pagar.”

Vocês pagavam?

“Não, a gente não pagava. A gente só trabalha mesmo para comer. Lá -realmente é uma escravidão muito séria, igual aquelas das antigas. Sabe como é? A gente trabalha para pagar o que come lá.”

Você não conseguia juntar dinheiro?

“Não, nunca consegui nada. Tá fazendo cinco meses que eu não boto nenhum centavo para a minha família. Seis meses que eu trabalhei e dois meses que eu fiquei parado sem poder trabalhar, até agora. Para você ver, a diferença desse braço aqui, que ele tá secando, comparando com esse aqui.”

O que aconteceu?

“É por causa do indivíduo que torou o tendão e os ossos aqui. Eu não tenho esse nervo aqui não. Foi o rapaz que torou, por causa da minha foice. Quando eu cheguei pro serviço, disse: ‘Seu Zé, me dá a minha foice, que tu pegou’. Ele disse: ‘Não, essa foice é minha. Rapaz, essa é minha, tu não conhece o que é teu?’ Aí ele, louco, né, fez ar de rir e disse: ‘Então pega a tua foice’. Na hora que eu levei a mão para pegar a foice, ele levou a foice de força assim. Até acredito que ele botou para torar foi o meu braço. Mas eu puxei, pegou esses três dedos aqui, mas só aleijou esses dois. Esses dois dedos aqui praticamente estão mortos, não tem como movimentar eles.”

A foice era de alguém ou da fazenda?

“Era minha, porque a fazenda não dá nada. Tudo é a gente que compra.”

Quanto pagou?

“Quinze reais.”

O saldo seria como?

“A gente trabalha numa diária, descontando 15, ai fica 10, né, porque é 25 a diária. Mas aí ficou por isso mesmo, porque nunca peguei dinheiro.”

E o resto dos 10 ia pra você ou tinha de pagar alguma coisa a mais?

“Qualquer coisa que pegava era descontado na diária, o gato acertava se a gente tivesse saldo. Como a gente nunca teve, ficou assim mesmo.”

E depois?

“Fui ao hospital. A dona da fazenda disse que pagava o que tinha de ser pagado. E se os dedos não voltassem ao normal, ela pagava os dedos. Mas ela não pagou nem os dias que eu tinha trabalho nem os que eu fiquei parado. A indenização dos dedos foi 200 reais. E ainda falou que era muito, que tava caro pra ela.”

“Notava-se um pouco de raiva, alguns gritavam 'Traidor'”, conta brasileiro em Oslo




Aline Scarso – Brasil de Fato

A ação de Anders Behring Breivik, que matou 76 pessoas em dois ataques na sexta-feira (22) na Noruega, mostrou até onde pode chegar o xenofobismo da extrema-direita europeia. Breivik, que assumiu a autoria dos ataques em Oslo e na ilha de Utoya, disse em juízo que tentou defender o seu país e a Europa do islamismo e do marxismo e que os atentados deram “um sinal claro às pessoas”.

À justiça, o atirador afirmou que o Partido Trabalhista, do primeiro-ministro Jens Stoltenberg, pagou o preço ao trair o país com a abertura de suas fronteiras aos muçulmanos. Breivik teve a prisão preventiva declarada por oito semana, sendo quatro delas em forma de isolamento, sem receber cartas, visitas ou jornais.

Apresentado pelas autoridades como "fundamentalista cristão", Breivik é ex-militante da juventude do Partido do Progresso (FrP), segundo maior partido da Noruega e que defende políticas duras contra a imigração e a islamização da sociedade norueguesa. O crescimento do neo-nazismo por todo o continente tem sido denunciado por movimentos sociais e cientistas políticos, que indicam a existência de uma organização internacional com atuação na Europa e nos Estados Unidos.

Nessa segunda-feira (25), o dia foi de luto e de tristeza em toda a Noruega, especialmente na capital Oslo, onde os noruegueses prestaram homenagens às vítimas do massacre em vários pontos da cidade.

Conversamos por email com o programador de informática e imigrante brasileiro, Vinícius Assis, que mora a 500 metros da rua Grubegata, onde fica o prédio do governo alvo de um dos ataques. Assis falou sobre o atentado e o clima na capital.

Brasil de Fato: Vinícius, como você ficou sabendo sobre o atentado? Você chegou a ouvir a bomba explodir?

Vinícius Assis: Eu estava no quarto do apartamento onde eu vivo, que está localizado a mais ou menos a 500 metros de onde foi o atentado. Estava buscando emprego pela internet, era um dia meio chuvoso. Do nada, tudo tremeu muito rápido e quase todas as janelas dos vizinhos se abriram, foi estranho, parecia um terremoto, mas pequeno. Alguns minutos depois, chega um amigo norueguês do quarto ao lado e bate na porta. Começa a contar que o estrondo era de um atentado contra o gabinete do primeiro-ministro, na mesma hora eu sai para tirar fotos (veja imagens).

Logo depois do atentado, a imprensa internacional, como o New York Times, chegou a anunciar que a ação fora cometida por grupos extremistas islâmicos. Como isso repercutiu entre a população?

Exatamente, inclusive os próprios noruegueses estavam falando que era a Al Qaeda. Inclusive vi alguns brigando com a polícia, colocavam a culpa na política e no fascismo europeu e na participação da Noruega na Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte). Eu inclusive achei que também fosse isso, mas depois foi desenrolando a história e descobrimos que o ataque foi de um fascista/nazista ou o que quiserem chamar.

O atirador Breivik disse seu objetivo ao cometer a ação era apontar um caminho para uma Noruega sem islamismo e marxismo. Como brasileiro, como você vê a ascensão da xenofobia neste país?

Aqui você sai e vê muito indiano, iraquiano, iraniano, chileno, chinês. Eu vivi sete meses na Espanha, e o que pude notar é que lá existe mais preconceito com os imigrantes do que aqui na Noruega. Na Espanha, por exemplo, eles não se misturam, aqui eu já vi muito norueguês namorando chinesa, aqui já existe mais mistura, e pelo o que eu vejo as pessoas consideram isso normal, diferente do que ocorre no país espanhol, onde eu via muito mais preconceito.

E em relação ao ódio dos direitistas à grupos de esquerda, você acredita que tem aumentado de uns tempos para cá?

Eu, como esquerdista, vejo que na Europa ainda existe muitas pessoas de direita, mas que isso está diminuindo cada vez mais. Mas os poucos que sobram, claro, ficam com raiva, pois são minoria. Sem dúvida, ainda existem riscos, e isso é bem evidenciado. Um colombiano disse assim: "Aqui na Europa existe um monstro gigantesco adormecido, e o nome dele é Nazismo". E claro, o conservadorismo e direitismo é muito vinculado à educação religiosa, principalmente cristã. No momento eu vejo que o cristianismo na Europa está em decadência, então o conservadorismo também está em queda.

Como está o clima nas ruas de Oslo após o atentado?

Na sexta-feira, após o atentado era um clima de curiosidade, algumas pessoas [estavam] assustadas e notava-se a dúvida na cara das pessoas, inclusive a minha dúvida. Nos dias seguintes, inclusive hoje, segunda-feira, todos estavam nas ruas, de luto, mas todos estavam como se demonstrassem que não tinham medo. Tive oportunidade de ir até o Fórum onde estava sendo julgado o atirador, estava cheio de gente, as pessoas estavam sérias, mas notava-se um pouco de raiva, alguns gritavam "Traidor". Depois fui até à Catedral protestante, onde estavam colocando a maioria das flores para os mortos, tinha muita gente, um silêncio fúnebre e uma sensação de oração.


NÃO AO ARBÍTRIO DO CONSELHO




RUI MARTINS* - DIRETO DA REDAÇÃO

Berna (Suiça) - Vou lhes confessar uma coisa – foi realmente uma surpresa para mim, saber que dezesseis pessoas, reunidas pelo Itamaraty para discutirem políticas destinadas aos emigrantes, tinham utilizado do seu tempo, da sua criatividade e do tempo dos emigrantes para me expulsar do Conselho de emigrantes, CRBE.

Porque acho grotesco, indecente e mesmo imoral se mandar alguém calar a boca numa mesa, numa reunião ou numa simples conversa. Trata-se de uma enorme falta de respeito, inadmissível nas famílias de hoje, nas reuniões democráticas e entre pessoas civilizadas.

E foi mais ou menos isso que me mandaram fazer. Calar a boca, ou, em outras palavras, parar de escrever, acabar com minhas opiniões sobre o CRBE. Se vivessemos ainda no tempo da ditadura, eu trataria de mudar de casa, reforçar a fechadura da porta, mas não deixaria de falar, nem de escrever e nem de criticar, desde que houvesse razão para isso.

Não sei se em minhas colunas anteriores comparei esse gesto inqualificável dos membros do CRBE a um tiro no pé. Se assim o fiz, corrijo. Não foi um tiro no pé, foi um tiro no peito. Porque ao afastarem, cassarem ou me expulsarem destruíram a própria credibilidade do que deveria ser um órgão representante dos emigrantes.

Até ali, o CRBE, como sempre afirmei, era um simples órgão sem qualquer autonomia, independência, criado para viver sob a tutela de diplomatas do Itamaraty, desconhecedores do cotidiano da vida dos emigrantes. Mas poderia evoluir, se revoltar, encontrar seu caminho. Foi assim que pensei quando aceitei apoiar a proposta de Álvaro Lima, colega de Boston, no Conselho Provisório, para a institucionalização de um conselho de emigrantes.

Seria um etapa, curta, para se chegar ao órgão institucional emigrante independente, dotado de poder para decidir normas, decretos, acordos, regulamentos para os emigrantes e de enviar ao parlamento as leis necessárias. Ou seja, o Conselho não seria um fim em si mesmo, mas uma simples fase em busca de sua autodeterminação.

Porém, nada foi nesse sentido e, por vaidades pessoais, o Conselho aceitou o papel de marionete do Itamaraty, deixando de lado a esperada ambição de lutar pela sua independência. E, como se não bastasse, a fim de que seus membros pudessem cultivar e reforçar a posição de simples interventores, assessores, consultores com suas mordomias e prestígio, decidiram desligar ou expulsar a voz discordante mais incômoda, num gesto conspiratório que acabou por vazar e se tornar público, como vazam todas as indecências.

E o que aconteceu com a esperada política brasileira de emigração ? Por falta de luta e de reivindicação dos representantes emigrantes, o território, dentro do governo federal devido aos emigrantes, foi sequestrado pelo Itamaraty, que criou uma Subsecretaria, uma Divisão e lotou com embaixador, conselheiro, secretários, mais o pessoal burocrático. Num custo equivalente ao de uma Secretaria de Estado.

E já que os membros do CRBE ganham a vida com o mercado emigrante, decidiu-se a seguinte partilha – os funcionários do Itamaraty que administram a emigração, sem serem emigrantes, têm vencimentos ou salários e os que se satisfazem com a vaidade do posto e com a inocuidade do órgão, fazem cena de graça.

E a moda pegou, os membros dos chamados Conselhos de Cidadania, em fase de recriação pois reeditam com pequenas variantes os Conselhos de Cidadãos da época FHC, não terão sequer indenização das viagens para participar das reuniões.

Desde o começo dessa ópera bufa ou pantomima dizemos e vamos repetir – os três milhões de emigrantes que mandam 7 bilhões de dólares ao Brasil têm direito a um órgão emigrante independente, um centro decisório da política da emigração em contato com o governo federal (não em posição de sujeição ao Itamaraty como agora).

Esse órgão, uma Secretaria de Estado, deverá se apoiar em parlamentares emigrantes eleitos por emigrantes, e um Conselho de emigrantes será o terceiro elemento, fiscalizador, reivindicatório e de assessoria. Um tripé emigrante independente e responsável pela política da emigração. Não um simples Conselho mal eleito, pouco representativo e mal preparado que sequer sabe respeitar uma regra elementar democrática – o da liberdade de expressão e de idéias de seus membros.

O Decreto-lei, assinado por um presidente Lula mal assessorado, previa a participação dos membros do CRBE, titulares e suplentes, nas conferências anuais. Ora, o Itamaraty a pretexto da falta de verbas cortou a participação dos suplentes. E qual foi a atitude dos titulares ?

Lutaram pelos suplentes, exigiram o cumprimento do texto do Decreto-lei ? Não, se submeteram, acharam até bom, porque os suplentes poderiam criar caso. E porque de tão submissos já não se sentem mais emigrantes, identificam-se agora com os diplomatas do Itamaraty, aos quais não querem decepcionar e nem desobedecer ao lhes prestar seus relevantes e gratuitos serviços.

É por defender sem medo a independencia, autonomia e autodeterminação dos emigrantes, por defender uma outra política brasileira de emigração, que pedem minha expulsão do CRBE, onde perturbo, atrapalho e incomodo por não aceitar nem tutela do Itamaraty e nem sujeição.

Meu amigo, jurista Carlos Lungarzo, lutador por direitos humanos pela Anistia Internacional colocou na Internet um abaixo-assinado contra minha expulsão. Sua assinatura não irá influenciar os diplomatas do Itamaraty mas poderá ser vista por parlamentares, ministros e membros do governo federal. Este é um momento importante, porque é um momento de denúncia de um autoritarismo fora de época e de um desrespeito à democracia.

Outros amigos também participam como Celso Lungaretti, George Bourdokan, Laerte Braga, Amyra El-Elkalili, Cesare Battisti que vive agora no Brasil como homem livre, o meu colega de profissão Eliakim Araújo, o arquiteto Sérgio Antunes de Freitas, grande apoio na luta pelos brasileirinhos apátridas, o meu colega suplente Keitti Hayashida, companheiros de emigração Ras Adauto, Edinéia da Silva Cabioch, Edison Pereira de Almeida, a jovem jornalista Ana Helena Tavares, o combativo José Comessu, o vibrante Marcos Romão de Hamburgo, minha querida Magdala Cavalcanti de Mello avó de brasileiro com pátria, Leila Cordeiro e tantos outros.

Obrigado a todos. Para os que quiserem participar do abaixo-assinado basta clicar em Clique aqui

 Para ler minha expulsão, clicar em Clique aqui

*Jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura, é líder emigrante, ex-membro eleito no primeiro conselho de emigrantes junto ao Itamaraty. Criou os movimentos Brasileirinhos Apátridas e Estado dos Emigrantes, vive em Berna, na Suíça. Escreve para o Expresso, de Lisboa, Correio do Brasil e agência BrPress

Moçambique: DHLAKAMA RECEBIDO ÀS ESCURAS EM QUELIMANE




ÚLTIMA HORA

Tudo porque o local onde os apoiantes aguardavam o líder ficou sem iluminação pública

Quelimane (DZ) – Até parece mentira quando algumas coisas são contadas ou vem escritas na comunicação social. Uma autêntica vergonha. O líder da Renamo Afonso Dhlakama foi recebido na cidade de Quelimane às escuras.

Como se sabia que o líder da Renamo chegaria a cidade de Quelimane onde orienta a partir desta quarta-feira a Conferência nacional das Ligas da Juventude e da mulher, viuse uma cidade agitada. Por um lado, os membros da “perdiz” procuravam organizar-se para receberem o seu líder, assim, também a Polícia da República de Moçambique, sobretudo a Força de Intervenção Rápida (FIR), fez-se a rua empunhada de armas e outro material de uso corrente para fazer o quê isso ninguém sabe.

Até aqui era de menos, como não havia incidente, então cada um procurava mostrar a musculatura que ostenta. Cantos e gritos de alegria nas sedes do partido Renamo e dooutro lado, era a polícia que não se cansava de gastar os poucos recursos que tem.

Por volta das 15horas, por sinal, período em que se previa que o líder da Renamo estivesse a entrar na cidade de Quelimane, seus membros, simpatizantes e até a imprensa (interessada), fez se ao jardim da Sagrada Família, local onde estiveram concentradas as pessoas a espera do líder do maior partido da oposição em Moçambique.

O dia foi-se “queimando” e a noite já vinha. E veio mesmo. As luzes artificiais, estas, da “nossa” Cahora Bassa, acenderam.Incrível que pareça é que naquele local onde os membros e simpatizantes da Renamo esperavam o seu líder, não acenderam luzes nenhumas. Quer dizer, para os leitores que conhecem a cidade de Quelimane, importa explicar que não houve iluminação pública da empresa Electricidade de Moçambique (EDM), desde a 2ª Esquadra até a extinta empresa da MECANAGRO. Tudo ficou as escuras, o movimento naquela rua reduziu e os membros da Renamo amainaram os ânimos, arrumaram os batuques e prontos… Mas mesmo assim, já que também o líder não chegava na hora marcada os nervos iam subindo nos simpatizantes e os mosquitos também aproveitando-se desta falta de iluminação pública foram tomando conta dos presentes.

Foram longas horas de espera, finalmente ouvia-se dizer que o líder da Renamo, estava entrando na cidade. Ai sim, mesmo sem energia, os batuques voltaram a soar e as vozes das pessoas voltaram a serem ouvidas.Quando chegou ao local, de facto Afonso Dhlakama foi recebido às escuras, porque até a nossa retirada não houve iluminação pública pelo menos aos nossos olhos.

Indignação das pessoas

Não sabendo de facto o porque do corte de energia só naquela zona, muitas pessoas que por ali passavam questionavam se era obra de alguém ou avaria técnica.A resposta não vinha, porque nem sequer a equipa do Piquete da empresa EDM não se fez presente (até a hora que o Diário da Zambézia) saiu do local.

As más-línguas já avançam com especulações. Dizem estas pessoas que os que desligaram a iluminação pública naquele local especificamente tiveram medo de ver o líder da Renamo a ser recebido pela multidão. Dizem ainda que esta situação não é nova, das vezes que o líder da Renamo chega a cidade de Quelimane, se não é luz, então não consegue espaço para realizar seus encontros, incluindo até comícios populares. (DZ)

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