quarta-feira, 11 de setembro de 2013

“OS PAÍSES SEM MEMÓRIA SÃO ANÊMICOS E CONFORMISTAS” - golpe no Chile

 


Em entrevista à Carta Maior, o documentarista chileno Patrício Guzmán fala sobre o golpe contra Allende e a ditadura de Pinochet. E faz uma apaixonada defesa da memória: "Os países que praticam a memória são mais vívidos, mais criativos, fazem melhores negócios, melhor turismo, são mais distintos. Os países sem memória são anêmicos, não se movem, são conformistas, e caem numa espécie de cultura de sofá, gente que está sentada no sofá assistindo a televisão… E não se movem. Acredito que a memória é um conceito tão importante quanto a circulação do sangue".
 
Carta Maior
 
São Paulo - Em entrevista à Carta Maior, o documentarista chileno Patrício Guzmán fala sobre as relações entre a direita e a esquerda no periodo do golpe contra o presidente Salvador Allende em 1973 e as medidas tomadas pelo ditador Augusto Pinochet para tentar apagar da história a memória do presidente deposto.

Durante a exibição de seu filme “Nostalgia da Luz” que fechou o evento “Memória e Transformação”, promovido pelo Instituto Vladimir Herzog e Cinemateca Brasileira, Guzmán falou sobre a importância e necessidade da memória, como instrumento politico de identidade do país e de seus indivíduos. Sua obra, segundo ele, é permeada pela tensão entre memória e esquecimento.

Conhecido por seus filmes sobre o Chile, os anos Allende e o golpe militar de Pinochet, o documentarista, também falou sobre o movimento estudantil chileno, que em suas palavras, “quer não só melhor educação, mas uma sociedade mais humana”. Guzmán ainda falou sobre a mídia e o papel vital do documentário na história de uma nação, “um país sem documentário é como uma família sem álbum de fotografias”.

"Eu cheguei muito tarde na política, quero dizer, que quando fui para Espanha para estudar Cinema não tinha uma posição clara. Eu queria mudança, não a mudança radical. Era, se preferir, uma pessoa neutra. Eu me conscientizei estando em Madri, porque a ditadura franquista estava vivendo seus últimos momentos e a Escola del Cine estava no meio da faculdade de Ciências Políticas, de História e Filosofia para chegar até a faculdade tinha que atravessar o campus e via os policiais em confronto com os estudantes, digamos que estávamos em meio um campo de guerra urbana, portanto, foi dentro da faculdade que comecei a entender o que estava passando na América Latina.

Nesse espaço de cultura efervescente que comecei a ter uma consciência mais forte. E quando Allende saiu, eu disse a mim mesmo “tenho que voltar imediatamente, não posso ficar aqui”. Cheguei tarde, cheguei tarde. 4 meses depois que Allende já tinha tomado o poder. Então, os postos já estavam todos ocupados e como não era militante tinha menos possibilidade. Então fui até a escola de Cinema onde tinha estudado no Chile, e disse ao diretor : “O que está passando é tão bonito, tão extraordinário, há uma efervescência tão grande, uma participação massiva enorme que temos que filmar. Imediatamente”

Tratava-se que Allende tinha que renovar o parlamento e a direita queria destituí-lo. A direita pensava que ao obter 60% dos votos e com isso podiam destituir o presidente… Então saímos às ruas e filmamos imediatamente, porque não podíamos não filmá-lo. Bom, Allende conseguiu 43, 44%, ou seja, conseguiu a mais alta votação depois de dois anos de desgastes de um governo chileno. E não puderam destituí-lo, a partir daí a direita entende que precisa dar um golpe de estado, que já não se pode tirar pela via legal um governo popular. E aí eu parei, deixei de filmar e nos reunímos.

Fizemos uma semana de reunião para estabelecer um método de trabalho. Pusemos, fizemos um esquema em cartolinas com os principais problemas, divididos em políticos, ideológicos e econômicos, que é uma análise marxista elementar, então colocamos muitas chaves com tudo o que derivava dali. Se era economia, era a nacionalização das riquezas básicas, a fábrica, a produção, a batalha da produção. Se era ideologia: as rádios, as televisões, os novos partidos da direita etc. E no outro lado, outro esquema íamos colocando o que filmávamos e comparando uma coisa com a outra. O resultado foi um filme com muitos contra-pontos, digo, a uma ação da esquerda uma resposta da direita. A um contra ataque da direito outra resposta da esquerda, o qual era um documentário ideal. Digamos… que haja um diálogo de contrários, se não há diálogo de contrários não existe linha de desenvolvimento. O filme fica monótono.

Era tal a aceleração da história que Allende produziu, e tal a quantidade de acontecimentos que passava que você acreditava que estava vivendo em um caos total.

Digamos que tínhamos que filmar dois rolos (de filme) diários, essa era minha divisão, se de repente sobrava, então teríamos 3 para o próximo dia. E se no terceiro dia havia outro dia ruim, teríamos 4 para uma boa sequência. E assim fomos equilibrando a tal ponto que quando veio o Golpe de Estado só nos sobraram dois rolos, ou seja, quando se acabou o filme, acabou-se o projeto político. Isso foi muito curioso.

O Chile dos anos 70, o Chile Allende é um dos países mais cultos politicamente que existiu na América Latina, com um desenvolvimento, um amadurecimento da esquerda insólito, com um partido comunista de quase cem anos, partido socialista igualmente velho, uma social-democracia avançada,uma esquerda radical interessante e uma leitura política entre os trabalhadores e estudantes alta.

Depois da repressão de Pinochet não ficou nada.

E os dezoito anos de completa amnésia, Pinochet quis fazer tábula-rasa, apagou a história, apagou Allende da história e transformou comunismo, demonizou o comunismo a graus grotescos. Insultou Allende de todas as maneira que quis, disse tudo o que lhe passou na cabeça contra Allende. Quase tudo falso. E deixou o país, portanto, como que em uma espécie de deserto de memória, de recordações políticas até hoje. De tal maneira que a única coisa que temos é um movimento estudantil magnífico, é a quarta geração que já não tem medo, são inteligentes, querem ir adiante, são contestadores e querem não só melhor educação, mas também querem melhor saúde, melhor moradia, melhores condições de trabalho, melhor vida, uma sociedade mais humana. Não lutam só pelos seus.

Mas só dependemos deles, digamos que não há nenhum outro grupo da sociedade que esteja em plano de luta frontal contra a amnésia, contra os torturadores que andam soltos, contra uma justiça lenta, contra uma Constituição que todavia tenha inimigos internos que é um conceito que causa divisão e ódio, contra uma constituição que fala que os mapuches (etnia indígena) são terroristas. Então, há muito coisa a fazer.

A televisão nasceu como o meio mais importante e pedagógico do século XX e foi convertido em um terrorismo áudio-visual espantoso, nossa televisão latino-americana é imoral e insuportável.

Acredito que a memória não é um conceito intelectual, não é um conceito universitário, não é um conceito acadêmico. A memória é completamente dinâmica, digamos, está dentro do nosso corpo. Os países que praticam a memória são mais vívidos, mais criativos, fazem melhores negócios, melhor turismo, são mais distintos, são melhores. Os países sem memória são anêmicos, não se movem, são conformistas, e caem numa espécie de cultura de sofá, gente que está sentada no sofá assistindo a televisão… E não se movem. Acredito que a memória é um conceito tão importante quanto a circulação do sangue.

Existe uma historiografia científica na América Latina que se pode chamar de moderna? Não. Foi a classe alta que escreveu a história a seu próprio gosto, como no Chile. Eu não acredito em nenhum herói chileno. Não acredito em nenhum deles. Tenho certeza que nos mentiram sistematicamente. Como nos mentiram sobre Allende, sobre Balmaceda, sobre tantos outros heróis que tivemos no Chile.

Tem que se começar apoiando uma nova geração de historiadores que revisem o que passou de um ponto de vista moderno… para estabelecer as bases onde nos apoiaremos e ter um plano de fundo de verdadeiros heróis para seguir adiante. Assim como a ecologia não se conhecia há 30 anos, os direitos das mulheres não eram conhecidos, ou não eram respeitados, há 70 anos… Assim como os direitos dos indígenas ou a liberdade sexual não eram reconhecidos.. Hoje em dia a memória chegou ao mundo contemporâneo para ficar. Não é passageira, já está instalada. E vai ficar até que nós mesmos a desenvolvamos. É fundamental.

O documentário é um direito do cidadão. Assim como há um dever público em prover saneamento básico, tem que haver documentários, por lei, por obrigação. É o registro de um país, é o álbum de fotos de um país.

Tradução: Caio Sarack
 
Na foto: Salvador Allende - Presidente assassinado por Pinochet
 
Leia mais em Carta Maior
 

BOLÍVIA DIZ QUE ENTREGOU A BRASIL PROVAS CONTUNDENTES CONTRA MOLINA

 


O governo brasileiro recebeu nesta sexta-feira, de uma delegação ministerial da Bolívia, uma volumosa documentação sobre os julgamentos nos quais está acusado Roger Pinto Molina, senador que saiu de forma turbulenta de seu país e, atualmente, tramita um pedido de refúgio no Brasil. A missão boliviana foi liderada pelo ministro de Governo, Carlos Romero, que chegou a Brasília acompanhado pelas titulares de Justiça, Cecilia Ayllón; de Transparência e Luta contra a Corrupção, Nardy Suxo; e pelo procurador-geral do Estado interino, Roberto Ramírez.
 
O grupo foi recebido pelo ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, com quem permaneceram reunidos durante cerca de duas horas. "É uma documentação muito grande", declarou Cardozo sobre as várias e grossas pastas recebidas dos funcionários bolivianos. Ele garantiu que, assim como fez o governo boliviano, os advogados de Pinto Molina também poderão apresentar toda a documentação que considerem necessária para justificar a alegada "perseguição política" contra o senador.
 
Pinto Molina estava asilado na embaixada do Brasil em La Paz desde o dia 28 de maio de 2012, mas no dia 23 de agosto saiu da Bolívia sem o salvo-conduto necessário de parte do governo de Evo Morales, com ajuda de diplomatas e escoltado por soldados brasileiros. O que a Bolívia classifica de "fuga" gerou um conflito entre os países, que inclusive provocou a queda do então ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota.
 
Morales deu por superadas as tensões depois de se reunir na semana passada com a presidente Dilma Rousseff durante a cúpula da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) realizada no Suriname, mas insistiu que o senador deve responder à Justiça boliviana.
 
Ao chegar ao Brasil, Pinto Molina entrou com uma solicitação de refúgio perante o Comitê Nacional para Refugiados (Conare), órgão do Ministério da Justiça que decidirá a respeito e ao qual serão remetidos os documentos entregues hoje pelo governo boliviano. Cardozo explicou que o Conare determinará o destino do senador "de forma independente", "técnica" e "sem pressões", mas esclareceu que não existe nenhum prazo legal para isso.
 
Destacou ainda que, se o pedido de refúgio for negado, ao senador boliviano restaria apelar ao Ministério da Justiça e que, se esse último recurso também for rejeitado, "ficaria no Brasil de forma ilegal e a Bolívia poderia pedir então sua extradição".
 
Segundo deu a entender o procurador Roberto Ramírez, esse é o caminho que a Bolívia espera que tomem esses trâmites, que, segundo afirmaram os membros da delegação boliviana, "não afetarão de modo algum as excelentes relações entre os países". Segundo explicou a delegação boliviana, os casos de corrupção nos quais Pinto Molina é processado são cinco, não 20 como sustenta o senador, e vão desde desvios de fundos públicos para uma universidade até desmatamento ilegal e vendas fraudulentas de terrenos do Estado a particulares.
 
Também assegurou que se trata, em todos os casos, de fatos que ocorreram entre os anos 2000 e 2004, portanto, anteriores à chegada de Evo Morales ao poder, que assumiu pela primeira vez em 2006. Romero insistiu que, com essa documentação, as autoridades brasileiras não terão nenhuma dúvida que não estão lidando com um "perseguido político", mas "um delinquente" e "foragido da Justiça".
 
Terra - Efe
 

RAMOS HORTA ELOGIA “CORAGEM” DE BRASILEIRO QUE LIDEROU FUGA DE SENADOR

 


O prémio Nobel da Paz de 1996, José Ramos-Horta, enviou uma carta ao diplomata brasileiro Eduardo Paes Saboia, e elogiou a sua "coragem" por organizar a operação de fuga do senador Roger Pinto Molina da Bolívia.
 
Na carta, Ramos-Horta considera Saboia um mártir, informou a Agência Brasil. Além disso, compara o brasileiro com o cônsul de Portugal em Bordéus, Sousa Mendes, que, nos anos 1940, salvou cerca de 30 mil judeus da perseguição nazi.
 
Saboia, que era encarregado de negócios na embaixada da Bolívia, está a ser investigado por uma comissão do Ministério das Relações Exteriores brasileiro.
 
O diplomata afirmou ser o responsável pela operação que retirou Pinto Molina da Bolívia, após o senador ter ficado 15 meses refugiado na embaixada do Brasil, mas não recebeu um salvo-conduto para poder deixar o país.
 
O episódio culminou na demissão do ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota. Pinto Molina é acusado de ter cometido crimes de corrupção e facilitação de tráfico de droga na Bolívia, mas alega que as acusações fazem parte de uma perseguição política.
 
Ramos-Horta afirmou, na carta, que acompanha os desenvolvimentos do caso e que sabe que "o Brasil não recebe ninguém na sua embaixada sem justa causa".
 
Na semana passada, uma missão de ministros bolivianos foi ao Brasil para apresentar ao Ministério da Justiça do país os documentos sobre os processos contra Molina. O senador tem um depoimento marcado para hoje perante a Justiça brasileira.
 
Lusa
 

OPORTUNIDADE PERDIDA?

 

Martinho Júnior, Luanda

1 – Com notícia de 4 de Setembro do mês corrente a Rádio Luanda deu a conhecer:

“Albina Assis lança Gestão Sustentável do Petróleo Angolano, Estudo Comparativo Angola/ Noruega.

A engenheira Albina Assis, lançou, terça-feira, 03/09/13, o livro Gestão Sustentável do Petróleo Angolano, Estudo Comparativo Angola/ Noruega, noticiou a Rádio Luanda.

De acordo com Alves da Rocha, que fez a apresentação do livro, no auditório da Universidade Católica de Angola, (UCAN) o livro de vertente científico é um contributo para garantir o futuro das próximas gerações da nossa terra.

O livro da engenheira Albina Assis equaciona o desenvolvimento sustentável, de uma maneira, que nós temos que começar a encarar, aproveitar o petróleo para garantir uma serie de coisas, no futuro, garantir boas condições às gerações futuras, portanto, é um livro que, as universidades, nas disciplinas da economia do ambiente e sustentabilidade, vão ter que incorporar”, afirmou.

Por seu turno, a autora da obra, afirma que a sustentabilidade proporciona a renovação, e reutilização dos recursos provenientes do petróleo à geração futura.

A sustentabilidade é criar coisas que se renovam, e que dão possibilidades de serem utilizadas pelas gerações presentes e futuras”, salientou”.

2 – É deveras salutar os dirigentes angolanos preocuparem-se com a sustentabilidade das iniciativas, tendo em conta as estratégias que deverão nortear as acções no presente em relação aos cuidados e prevenções que devem ser equacionados a pensar nas realizações do futuro.

Uma das formas de em contradição com essa intenção a contrariar, é deixar em mãos de privados a exploração dos recursos de petróleo e de gás, mesmo que ao estado seja reservado o papel fiscalizador; nesse caso um assunto de carácter tão estratégico seria compartido com outros, que iriam contribuir ainda mais para o “reforço” de muitas das vulnerabilidades existentes.

Entregar um papel fiscalizador neste momento ao estado angolano em matéria de gás e de petróleo, proporcionando ao mesmo tempo a privados a sua exploração, será mais uma fórmula para se aumentarem os índices de corrupção e de mercenarismo, num processo descaradamente elitista!

A opinião de entregar a privados a exploração do petróleo angolano terá sido emitida pela engenheira Albina Assis, conforme o que noticiou um arauto do modelo neo liberal de globalização, o jornal Expansão!

Ainda não tive a possibilidade de ler o seu livro lançado no auditório da Universidade Católica, um livro publicado por uma entidade que já foi Ministra dos Petróleos e é profunda conhecedora de muitas questões, entre elas, as questões relacionadas com a exploração, gestão, comercialização e reserva do petróleo e do gás angolanos, todavia suspeito que a preocupação por mim apresentada na minha curta intervenção sob o título de “Colapso na estratégia do petróleo em Angola”, de acordo com uma visão estratégia nacionalista sobre o tema, tenha sequer sido abordada.

É possível que o que lá se diz, conforme a onda que atinge Angola, uma onda própria da doutrina de choque conforme ao que com tanta propriedade tem sido diagnosticado por Naomi Klein, ser bonançoso e bem agradável para os interesses das multinacionais anglo-saxónicas e do cortejo de seus seguidores, incluindo alguns angolanos que se perfilham no carácter das novas elites que começam a tutelar os destinos do país.

3 – Desse modo entre as muitas questões que ficam em aberto há duas que me parecem pertinentes:

- Como alguma vez se poderão equacionar políticas de desenvolvimento sustentável, quando falham, em relação à organização da gestão de reservas de petróleo e de gás, as políticas tão urgentes e necessárias de salvaguarda dum produto tão essencial à vida de Angola agora e durante as próximas décadas?

- Como alguma vez será possível a organização de reservas estratégicas de petróleo e de gás, sem o empenho directo do estado angolano e entregando o “serviço” a privados?

Esperemos que o livro da engenheira Albina Assis, uma nacionalista que deu a sua contribuição ao movimento de libertação em África, não seja mais um daqueles que, desta feita, seja para “chinês, americano, inglês, canadiano, ou norueguês ver”!

Por todas as razões e como sou angolano, admito a possibilidade de voltar ao tema depois daquilo que for possível ver!

Foto: A engenheira Albina Assis, nacionalista e profunda conhecedora dos assuntos relacionados com o petróleo e com o gás angolanos. Uma professora sob exame.

A consultar:
- Albina Assis diz que SONANGOL não devia explorar petróleo –
http://expansao.sapo.ao/noticias/nacional/detalhe/albina_assis_diz_que_sonangol_nao_devia_explorar_petroleo
- Albina Assis lança Gestão Sustentável do Petróleo Angolano, Estudo Comparativo Angola/ Noruega –
http://www.rna.ao/radioluanda/noticias.cgi?ID=77703
- Lançada obra sobre a gestão sustentável do petróleo angolano –
http://www.diarioangolano.com/index.php/economia/171-petroleo-e-minerais/4017-lancada-obra-sobre-gestao-sustentavel-do-petroleo-angolano
- SONANGOL Notícias –
http://www.sonangol.co.uk/wps/wcm/connect/c4e116004764dc5f9637f71aeced2400/Jun2010.pdf?MOD=AJPERES

PARLAMENTO DE BISSAU REJEITA AMNISTIA PARA AUTORES DO GOLPE

 


O Parlamento da Guiné-Bissau rejeitou hoje a proposta de lei de amnistia para os autores do golpe de estado de abril de 2012, após uma discussão de mais de quatro horas, anunciou o presidente do hemiciclo, Sori Djaló.
 
Segundo Djaló, a lei de amnistia, proposta pelo governo de transição, não passou porque não obteve maioria absoluta, tal como recomenda o regimento do parlamento - que requer que projetos como o de uma amnistia tenham maioria absoluta no universo total de 100 deputados da Assembleia Nacional Popular, para serem aprovados.
 
Ou seja, segundo explicou, dos 72 deputados na sala, 40 votaram a favor da proposta de lei, 25 contra e sete abstiveram-se, mas a lei precisava de 51 votos, tendo em conta o total de 100 deputados.
 
Florentino Mendes Pereira, secretário-geral do Partido da Renovação Social (PRS, líder da oposição) e presidente em exercício do grupo parlamentar daquela força política, referiu que este "é um processo normal em democracia".
 
"O PRS não coloca de parte a hipótese de voltar a analisar este projeto de lei", defendeu Florentino Pereira, frisando que a amnistia aos autores do golpe de estado vai ao encontro da reconciliação nacional.
 
Antes da votação, os deputados debateram durante mais de quatro horas o projeto de lei, tendo vários intervenientes questionado a pertinência da amnistia aos autores do golpe, sem que se saiba quem são.
 
Alguns deputados reclamaram mesmo a presença no parlamento desses autores para pedirem desculpas públicas ao país.
 
A maioria dos deputados que questionaram a lei é da bancada do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo (PAIGC, que estava no poder até ao golpe), tendo quase todos perguntado quem são os militares e civis a serem amnistiados.
 
O deputado Vítor Naneia afirmou que, caso fossem revelados os nomes dos autores do golpe de estado, a Guiné-Bissau e os guineenses passavam a saber "de uma vez por todas" quem são os políticos que instigam os militares a tomar o poder.
 
"Não posso aceitar que em plena democracia haja políticos e partidos políticos que apoiam golpes de Estado", observou Naneia, cuja posição foi defendida pelos deputados Djana Sane, Basílio Walu, Adja Sara e Inácio da Silva.
 
Alguns deputados da bancada do PAIGC também afirmaram que não compreendiam a lei da amnistia, dizendo que visava apenas "perdoar" os autores do golpe, sem prever qualquer tipo de medida para com aqueles que foram tirados do poder pela ação protagonizada pelos militares a 12 de abril de 2012.
 
Lusa
 

Bissau: Liga de Direitos Humanos congratula-se com rejeição de amnistia para golpistas

 


A Liga Guineense dos Direitos Humanos congratulou-se hoje com o facto de o parlamento da Guiné-Bissau ter rejeitado a lei de amnistia para os autores do golpe de Estado de 2012.
 
Em comunicado, a liga classifica a decisão como um ato "de coragem e de determinação" dos deputados, "fiel" ao sentimento da população perante "as sucessivas alterações antidemocráticas da ordem constitucional".
 
A rejeição "simboliza um virar de página rumo a uma sociedade igualitária, livre, democrática, justa e solidária", já que uma hipotética aprovação da lei representaria "uma autorização formal" a eventuais sublevações no futuro, acrescenta.
 
A liga enaltece ainda o papel das organizações da sociedade civil e de todos os cidadãos e apela ao povo guineense para se manter "vigilante e coeso" contra quaisquer manobras que visem provocar divisões sociais.
 
A lei de amnistia, proposta pelo Governo de transição, não passou na votação de terça-feira na Assembleia Nacional Popular, porque não obteve maioria absoluta, tal como exigido pelo regimento parlamentar.
 
Dos 72 deputados na sala, 40 votaram a favor da proposta de lei, 25 contra e sete abstiveram-se, mas a lei precisava de 51 votos para ser aprovada, tendo em conta o total de 100 lugares na assembleia.
 
Lusa
 

PAULO TORRES É O NOVO TÉCNICO DE FUTEBOL DA SELEÇÃO DA GUINÉ-BISSAU

 


Antigo lateral-esquerdo do Sporting vai acumular a função com a de treinador do Sporting de Bissau.
 
Paulo Torres foi esta quarta-feira anunciado como novo seleccionador da Guiné-Bissau. O treinador português de 41 anos foi o escolhido para orientar a selecção dos "djurtus" e irá acumular a função com o comando técnico do Sporting de Bissau.
 
Sobre os motivos que levaram a Federação Guineense de Futebol a escolher o antigo lateral esquerdo do Sporting para ocupador o cargo, Joãozinho Mendes, porta-voz do Comité Executivo da Federação Guineense, justifica a escolha com o facto de Paulo Torres residir no país e estar ambientado à realidade do país africano.
 
Paulo Torres vai seguir as pisadas de Guilherme Farinha, Luís Norton de Matos e Carlos Manuel, treinadores portugueses que dirigiram a selecção guineense.
 
Paulo Torres, antigo jogador do Sporting e campeão do Mundo de Sub-20 em 1991, ocupou o cargo de treinador do Torreense na época passada.
 
Rádio Renascença
 

O ESTADO DA UNIÃO EUROPEIA: UM DISCURSO NO VAZIO?

 


De Standaard, Bruxelas – Presseurop – imagem Lichuan
 
O discurso anual sobre o estado da União Europeia, que o presidente da Comissão, José Manuel Durão Barroso, realiza em 11 de setembro, suscita pouco interesse nos europeus. Um paradoxo interessante, observa o politólogo holandês Hendik Vos, porque a Europa nunca ocupou tanto espaço nas suas vidas.
 
 
Há décadas que os Presidentes norte-americanos se acostumaram a apresentar o Estado da Nação no início de cada ano. Num discurso mobilizador perante o Congresso, expõem os projetos e os desafios para os meses seguintes. A cada duas ou três frases, o público levanta-se para o aclamar. Ainda nunca assistimos a uma “onda”, mas não tarda aí. Dezenas de milhões de norte-americanos seguem o discurso, que é transmitido em direto por quase todos os canais de televisão. Os observadores passam, depois, dias e dias a dissecar cada palavra, cada letra, cada vírgula. Os jornais imprimem páginas suplementares.
 
Hoje, José Manuel Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia, pronuncia igualmente o seu Estado da União. Desde 2010 que se dirige ao Parlamento Europeu, no início de cada ano político. O discurso será transmitido ao vivo na TV por cabo, mas resta saber se vai ter audiência para além dos lares de idosos e hospitais. Barroso faz o discurso de manhã, e não no horário nobre, como sucede nos Estados Unidos. E podemos prever o espaço que a maioria dos jornais vai dar ao artigo de cobertura do acontecimento: no melhor dos casos, uma pequena coluna na secção de política internacional.
 
Se Barack Obama decidir atacar a Síria, fá-lo, sem mais. Herman van Rompuy, presidente do Conselho Europeu, não tem esse poder, a começar porque não tem tropas. Mas noutros domínios, a influência de Bruxelas sobre os vinte e oito membros é maior do que a de Washington sobre os cinquenta Estados dos EUA.
 
Nos últimos anos, devido à crise do euro, a influência da Europa sobre os Estados-membros aumentou. Os debates sobre o orçamento nacional ficam agora totalmente eclipsados pelo que a Europa permite ou impede. O Governo poderá nomear, com grande teatralidade, um novo diretor dos caminhos de ferro, mas o quadro em que tem de trabalhar é determinado por um conjunto de disposições europeias sobre o transporte ferroviário. O funcionamento do mercado, seja dos correios ou da energia, é fixado pela legislação europeia. O preço das chamadas de telemóvel é decidido pelas instâncias europeias. Milhares de outros aspetos são regulamentados pela Europa, da definição do chocolate até como reparar os olhos de um ursinho de pelúcia.
 
A margem vai-se reduzindo
 
Atualmente, todos andam agitados, na Holanda, com a perspetiva das eleições flamengas e federais de 25 de maio de 2014. Mas não se ouve praticamente falar das eleições europeias, que estão agendadas para o mesmo dia. Sob muitos aspetos, os Estados Unidos da Europa são mais eficientes do que os Estados Unidos da América. No entanto, por qualquer motivo, não queremos saber disso. O porquê e como ainda nos interessam menos.
 
Claro que, em algumas áreas, a política nacional ainda tem alguma margem de manobra. Mas essas áreas são cada vez menos numerosas e a margem vai-se reduzindo. A Europa estabelece orientações e, em geral, o Parlamento Europeu dá um contributo importante. Aliás, quando se trata de legislação, tem até a última palavra. O mesmo parlamento em breve passará a eleger o presidente da Comissão Europeia e a dar também o seu parecer sobre cada um dos comissários.
 
Quando se solta o verniz da pasta dos Assuntos Europeus, apercebemo-nos rapidamente das opções ideológicas e de fundo a fazer: a relação do crescimento e contenção de custos com o interesse da diversidade cultural, dos temas sociais e liberalização, entre agricultura e desenvolvimento.
 
A política europeia pode imiscuir-se em tudo e a composição do Parlamento Europeu tem consequências decisivas. É menos fascinante do que a questão de saber se, em breve, vamos aplicar regulamentos europeus a uma federação ou confederação.
 
A Europa instala-se nas profundezas das grandes decisões políticas e nas pequenas de decisões diárias, mas conseguimos a proeza de lhe prestar muito pouca atenção. A Europa permanece no ângulo morto.
 

Espanha: Milhares de pessoas ocupam 'Via Catalana' de protesto pró-independência

 


O trânsito está fortemente condicionado em vários pontos do território da Catalunha onde, cerca das 16:00 locais dezenas de milhares de pessoas já estavam a colocar-se para a corrente humana pró-independência de hoje.
 
A uma hora do ponto alto do protesto, onde segundo os organizadores participarão mais de meio milhão de pessoas, o Serviço Catalão de Tráfico refere haver já fortes condicionamentos à circulação em vários pontos da Catalunha.
 
Entretanto, ao longo dos 400 quilómetros da “Via Catalana”, como é apelidado o protesto organizado pela entidade privada Assembleia Nacional Catalã (ANC), estavam a colocar-se dezenas de milhares de pessoas.
 
Um dos pontos de maior interesse era no troço 1, correspondente à fronteira entre a Catalunha e a Comunidade Valenciana, depois do Tribunal Superior de Justiça valenciano ter anulado a proibição da passagem do protesto pela região.
 
O ponto alto ocorre às 17:14 (16:14 em Lisboa), momento escolhido para recordar o dia 11 de setembro de 1714, altura em que Barcelona caiu sob o domínio das tropas de Felipe V de Espanha, evento recordado hoje na Diada, o dia regional da Catalunha.
 
Será nesse momento que mais de 800 fotógrafos voluntários e os seus assistentes garantirão que todos os participantes no cordão humano ficam numa "gigafoto", como foi apelidada, que será tirada ao longo de todo o percurso.
 
Uma imagem tirada a cada 500 metros será unida digitalmente para registar um cordão humano que, em algumas localidades, terá mais do que uma fila e para o qual, segundo os últimos dados facultados à Lusa pela ANC, já estão mais de meio milhão de pessoas inscritas.
 
O presidente do Governo regional da Catalunha, Artur Mas, disse que hoje que a corrente humana vai "assombrar o mundo".
 
Mas não participa no protesto, ainda que receba os organizadores no Palau da Generalitat, sede do Governo regional. Está prevista a participação de 10 dos 12 membros do executivo regional.
 
A iniciativa da Assembleia Nacional Catalã (ANC), uma entidade favorável à independência, dividiu o setor político espanhol.
 
O protesto tem entre os convocantes as forças políticas CDC (uma das que integram a coligação CiU), ERC e CUP. De fora e a contestar a iniciativa estão a UDC (o outro parceiro da CiU), a ICV, os socialistas do PSC, os conservadores do PP e os Ciutadans.
 
O PP é o partido que foi mais longe na sua contestação e nem sequer participa nos atos institucionais e oficiais do dia regional.
 
Entretanto, uma sondagem divulgada hoje pela rádio Cadena SER refere que a maioria dos catalães - 52 por cento - declara-se abertamente a favor da independência da Catalunha e apenas 24% votaria contra esse cenário num eventual referendo.
 
Segundo esta sondagem, realizada na Catalunha, 15,9% identifica-se como indeciso e 7,7% não votaria numa eventual consulta aos cidadãos.
 
Lusa
 

Portugal: PAIS QUEIXAM-SE DE QUE HÁ CRIANÇAS SEM ESCOLA

 


O dirigente da Federação Regional de Lisboa das Associações de Pais, Isidoro Roque, afirmou, esta quarta-feira, que continuam a chegar queixas de pais a dizer que há crianças que não foram aceites em qualquer escola, segundo o Público.
 
Há crianças sem escola, denuncia a Federação Regional de Lisboa das Associações de Pais (Ferlap), que responsabiliza o "corte cego" de turmas pela situação.
 
"Esta é uma situação gravíssima. Apelamos aos pais e encarregados de educação com estes ou outros problemas que contactem as associações das respectivas zonas de residência, porque só com dados concretos temos possibilidade de ajudar a resolvê-los", disse ao Público o dirigente da Ferlap. Isidoro Roque diz que os “cortes cegos do Ministério de Educação e Ciência, para poupar em professores, não permitiram a abertura do número de turmas necessário e adequado à saída de alunos do privado para o público". E acrescenta: "Agora atira as crianças de um lado para o outro".
 
O responsável lembra que em Agosto os pais já tinham sido aconselhados a recorrerem "ao livro de reclamações das escolas", mas nunca lhe passou "pela cabeça que os problemas não seriam resolvidos até Setembro".
 
"É incrível, o que se está a passar, uma estrutura não profissional é incapaz de responder às dificuldades ao mesmo ritmo que o Ministério da Educação os cria", lamentou Isidoro Roque.
 
Notícias ao Minuto
 

Portugal: INCHA, DESINCHA E DEPOIS PASSA

 

Balneário Público
 
Passos e Crato inauguram escolas já inauguradas”, é assim a notícia, no Expresso de ontem, atualizada hoje, assinada por Carlos Abreu. Vai daí o mentiroso e trafulha-mor a quem o compadre Cavaco deu posse como primeiro-ministro repete o desplante de uns quantos do governo PS (anterior) e vai inaugurar escolas que já tinham sido inauguradas. O ministro Cretino Crato, da educação (mal educado), acompanha o seu primeiro e lá inaugura também o que já fora inaugurado. Com educadores assim, trafulhas, vigaristas, imaginemos como não serão as gerações futuras se lhes seguirem o exemplo. Repare-se que as eleições autárquicas estão para breve (29 de setembro) e que urge proseguir na senda do ultraje, da mentira, que é muito mais propicia durante as campanhas eleitorais. Neste caso, da campanha eleitoral para as eleições autárquicas. Aquela mais junto das populações. Aquela em que também dá imenso prazer exercerem a arte do engano, da vigarice. Nisso, nessa arte, Passos Coelho é exímio e deve gozar que nem um rebolo e rebolar. Crato não lhe quis ficar atrás. “Vejam que lindas escolas estamos a fazer em Portugal”, hão-de propagandear com toda a força da mentira. “Vejam a Escola Pública como está moderna, fresca e viçosa, apesar de já ser cadáver e futuramente só se destinar aos privados e àqueles alunos que tiverem dinheiro”. Não dirão, mas certamente que pensam no recôndito das suas consciências e segredos. Os filibusteiros pavoneiam-se na arte do engano. O povo aplaude… se acreditar neles. Depois é a habitual desilusão. Depois chamam-lhes, com muita indignação, mentirosos. Depois esquecem. E lá voltam ao mesmo: veneram-nos e votam nos tais profissionais da crueldade que são as mentiras que proferem. Incha, desincha e depois passa. Tudo na mesma. Doentios filibusteiros.
 
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Portugal: PRIVATIZEM TAMBÉM A NUVEM QUE PASSA

 


Santana Castilho* - Bloguer Convidado em Aventar
 
O ano lectivo que agora se inicia está marcado, pobremente marcado: pelo afastamento da profissão de muitos e dedicados professores; pela redução, a régua e esquadro, sem critério, de funcionários indispensáveis; pela amputação autocrática da oferta educativa das escolas públicas, para benefício das privadas; pela generalização do chamado ensino vocacional, sem que se conheça qualquer avaliação da anterior experiência limitada a 13 escolas e agora estendida a 300, via verde de facilitismo (pode-se concluir o 3º ciclo num ano ou dois, em lugar dos três habituais) e modo expedito de limpar o sistema de repetentes problemáticos; pela imposição arbitrária de decisões conjunturais de quem não conhece a vida das escolas, de que as metas curriculares, a eliminação de disciplinas, o brutal aumento do número de alunos por turma e as alterações de programas são exemplos; pelo medo do poder sem controlo, que apaga ao dobrar de qualquer esquina contratos de décadas e compromissos de sempre; pela selva que tomou conta da convivência entre docentes; pelo utilitarismo e imediatismo que afastou a modelação do carácter e a formação cívica dos alunos; pela paranóia de tudo medir, registar e reportar, para cima, para baixo, para o lado, uma e outra vez, e cujo destino é o lixo, onde termina toda a burocracia sem sentido; pelo retrocesso inimaginável, a que só falta a recuperação do estrado e do crucifixo.
 
Providencialmente no tempo (imediatamente antes de se concretizar mais um despedimento colectivo de professores, que marca o ano lectivo) vieram a público dados estatísticos oficiais. Primeiro disseram-nos que em 2011/2012 tivemos nos ensinos básico e secundário menos 13.000 alunos que no ano anterior. Depois, projectando o futuro, prepararam-nos para perdermos 40.000 até 2017. Providencialmente, no momento, omitiram que, de Janeiro de 2011 a Junho deste ano, desapareceram 47.000 horários docentes. Políticos sérios não insinuam que esta redução de docentes se deve à quebra da natalidade. Trapaceiros, sim.
 
Nada justifica a desumanidade com que se trataram os professores contratados. Nada justifica o ministerial sadismo de obrigar ao ritual do Fundo do Desemprego, por escassos dias, aqueles que acabarão por ser contratados. Nada justifica o anacronismo de impor um exame de selecção a quem já é professor há uma década e mais, ao mesmo tempo que se entrega a leccionação de disciplinas curriculares a quem nem sequer tem habilitação científica na área.
 
Na Educação acabaram as subtilezas e perdeu-se a vergonha. Se Fernando Negrão, juiz de carreira e deputado de circunstância, expressou vincado desacordo pelo ensino da Constituição nas escolas, se Passos Coelho clamou pela “União Nacional” e, raivoso com o quinto chumbo constitucional (que impediu o despedimento sem justa casa dos funcionários públicos e foi significativamente decidido por unanimidade) recorreu à boçalidade de linguagem para referir explicitamente os respectivos juízes e, implicitamente, o Presidente da República, por que razão seria Crato recatado e decente? Na mesma altura em que a falácia da “liberdade de escolha” foi o argumento para um passo determinante na privatização do ensino e para a ampliação sem peias das parcerias público-privadas na Educação, (outra coisa não são os contratos de associação já vigentes) o preclaro ministro cerceou a liberdade de escolha relativamente às escolas públicas, quando não autorizou o funcionamento de turmas constituídas em função das decisões dos alunos e das famílias. A engenharia social e económica que o Governo acaba de consumar com a aprovação do novo estatuto do ensino particular, a consumar-se com a regulamentação sucessiva que se espera, não se afastará daquela que protege as rendas escandalosas dos sectores energéticos, bancários, das rodovias e outros. Eis o Estado do futuro, o Estado escravo, cujo poder deixou de ser delimitado pela lei. Uma vez mais, a Constituição da República acaba de ser revista por decreto do Governo, que derrogou o carácter supletivo do ensino privado nela contido.
 
A agenda escondida com o objectivo de fora deste Governo é a substituição do Estado social possível, laboriosamente construído em 39 anos de democracia, por um Estado neoliberal, redutoramente classista. Para o conseguir, e a coberto do fantasma da falência, o Governo tem-se encarniçado em reduzir o Estado a funções mínimas de obediência aos titereiros do regime, privatizando o resto. Como fixou Saramago naquele belo naco de prosa que nos deixou desde Lanzarote, não escapará “a nuvem que passa” nem o sonho, “sobretudo se for diurno e de olhos abertos”. Pela mão de Passos e de Crato, abriu o assalto final à Educação. Não lhe declararam a privatização, como fizeram com a água. Mas, sorrateiramente, com melífluas justificações, querem consumá-la.
 
* Professor do ensino superior (s.castilho@netcabo.pt)
 
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11 DE SETEMBRO: TERRORISMO DE ESTADO? TERRORISMO DA ALCAEDA?

 

 
Foi há 12 anos. Acontecimentos horrorosos de uma manhã nos EUA que fizeram mudar o mundo e proporcionaram pretextos aos governos para invadir a privacidade e dignidade dos cidadãos em nome da defesa a atos terroristas. Ainda na atualidade a questão se coloca: o 11 de setembro de 2001 foi uma operação interna encomendada pelo governo dos EUA para se embrenhar na  invasão e guerra contra outros países pretextando estar a lutar contra o terrorismo ou aconteceu, como afirma a versão oficial, fruto de um ato planeado e concretizado pela Alcaeda de Bin Laden? Talvez um dia saibamos a verdade mas o que é condenável e indubitável é que o ato foi mesmo altamente terrorista e ceifou vidas inocentes aos milhares na capital dos EUA. Terrorismo de Estado? Terrorismo da Alcaeda? Um grande crime contra a humanidade.
 
Repassamos um texto da Agência Lusa, publicado no Expresso, de 8 setembro 2011. Homenagem às vítimas, seus familiares e amigos, e solidariedade com o povo dos EUA - é o nosso propósito. (Redação PG)
 
11 de Setembro: teorias da conspiração ou realidade?
 
Expresso - Lusa
 
Explosivos colocados nas torres, a encenação do voo 93 e os supostos quatro mil judeus que não foram trabalhar no dia do ataque são algumas das teorias da conspiração existentes.
 
Quando a realidade ultrapassa a ficção, como nos atentados de 11 de Setembro de 2001 em Nova Iorque, as explicações nunca são simples e as teorias da conspiração encontram terreno fértil.

A mão da administração de George W. Bush nos atentados, para justificar restrições draconianas às liberdades individuais e intervenções em países islâmicos, os atentados terem sido obra dos serviços secretos israelitas, ou o colapso das torres do World Trade Center ter sido provocado por explosivos e não pelo impacto de aviões sequestrados, estão entre as teorias da conspiração mais difundidas e persistentes sobre os ataques de há 10 anos.

A magnitude da catástrofe e o sentimento de vulnerabilidade que provocou parecem ter exigido outras explicações, mais obscuras e sinistras, para além de que uma organização terrorista, criada por um milionário saudita radical empenhado numa "guerra santa" contra o ocidente, tenha conseguido um golpe sem precedentes no coração da maior potência mundial parece não ser suficiente.

Drama do voo 93 seria encenado
 
Os factos apurados sobre os atentados indicam que a 11 de setembro de 2001 dois aviões pilotados por membros da Al-Qaida embateram nas torres gémeas, fazendo ruir os edifícios e matando 2753 pessoas. Um terceiro aparelho chocou com o Pentágono, em Washington, causando 184 mortes, e um quarto avião despenhou-se na Pensilvânia, matando mais 40 pessoas.

Uma das teorias da conspiração mais elaboradas defende que o drama do voo 93 - o quarto avião sequestrado, que se despenhou num campo depois de os passageiros terem lutado com os sequestradores - foi encenado.

A teoria da conspiração alega que o avião aterrou em segurança e que um outro avião, vazio, foi propositadamente despenhado. Os passageiros do voo 93 terão sido assassinados ou receberam novas identidades e foram enviados para outros países.

Factos oficiais vs "truthers" pela verdade
 
A exposição da vulnerabilidade dos Estados Unidos e da incapacidade de reação de alguns serviços foi dolorosa para uma população habituada à supremacia e as teorias da conspiração proliferaram e nasceram os grupos que se tornaram conhecidos como "truthers" ("pela verdade").

Grupos como o "Texanos do Norte pela Verdade de 9/11" - que reclama 50 membros oficiais e uma lista de pelo menos 200 pessoas que recebem um boletim informativo - continuam a realizar reuniões regulares para discutirem o colapso das torres gémeas.

Outros grupos ativos de "truthers" incluem o "Arquitetos pela Verdade de 9/11" e o "Académicos pela Verdade de 9/11".

Os valores da liberdade individual e do ceticismo e desconfiança em relação ao aparelho do Estado, fazem parte da genética dos Estados Unidos e em 2009 uma petição apelando para um inquérito independente às "verdadeiras causas" do colapso das torres do World Trade Center recolheu 80 mil assinaturas.

Apesar de refutadas, teorias da conspiração persistem.
 
Ao contrário das teses da morte de Kennedy, que se desenvolveram ao longo de anos, as teorias sobre os atentados de 11 de setembro disseminaram-se quase instantaneamente através da Internet, alimentadas pela repetição das imagens traumáticas das torres a desmoronarem-se. E parecem ter longevidade garantida, apesar de terem sido desmanteladas por factos verificáveis.

Um dos "factos" que justificaria a tese de uma conspiração israelita seria o de que os 4000 judeus que trabalhavam nas torres gémeas tiraram folga no dia dos atentados.

Mas entre as vítimas mortais contaram-se 300 judeus e 100 muçulmanos. O número de 4000 judeus constava de uma lista do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Israel sobre o paradeiro de cidadãos israelitas que se encontravam na área na altura dos atentados.

Apesar de a realidade poder ultrapassar a ficção e de as teorias da conspiração serem sistematicamente invalidadas, estas perduram e perpetuam-se. Como todos os teóricos da conspiração insistirão sempre, "a completa falta de provas é a prova mais segura de que a conspiração existe e está a funcionar".

 

Xeque ao rei da Guerra: COMO GAFE HISTÓRICA AJUDOU A DESARMAR ATAQUE À SÍRIA

 

Antônio Martins, São Paulo – Opera Mundi
 
O que o episódio revela sobre poder internacional no século XXI e como Putin se tornou protagonista da crise
 
Um olhar superficial poderia atribuir ao secretário de Estado dos EUA, John Kerry, o gesto desengonçado que tornou difíceis e arriscados os planos da Casa Branca para uma guerra contra a Síria. Na manhã desta segunda-feira (09/09), ao falar de improviso em Londres, Kerry sugeriu que o ataque anunciado por Obama poderia ser cancelado, caso o presidente sírio, Bashar al Assad, entregasse “todas as suas armas químicas, sem demora” e permitisse “a verificação completa” do ato pela comunidade internacional. No instante seguinte, tentou neutralizar o efeito de sua própria frase, talvez por perceber o risco que implicava. “Ele [Assad] não o fará, isso não pode ser feito”, disse. Minutos depois, a porta-voz do Departamento de Estado correu em seu socorro, afirmando que ele fizera apenas “uma argumentação retórica”, sobre a “impossibilidade de Assad abrir mão das armas”. Mas era tarde.

Muito rápido, o chanceler da Rússia, Sergei Lavrov, que se opõe à guerra, aproveitou a brecha. Assegurou que seu país recomendaria à Síria colocar os arsenais sob supervisão de inspetores internacionais. O círculo fechou-se quando o próprio chanceler sírio, Walid al Moulen, que estava em Moscou, acolheu a proposta e saudou “a sabedoria da liderança russa, que tenta prevenir uma agressão norte-americana contra nosso país”… Nos instantes seguintes, e na velocidade da internet, a ideia receberia o aval do secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, do primeiro-ministro britânico, David Cameron, e de diversos parlamentares em Washington. À noite, um Obama relutante foi obrigado a ceder, parcialmente. Em cinco entrevistas à TV, que haviam sido agendadas para defender o ataque à Síria, ele disse desconfiar do compromisso sírio, mas declarou-se disposto a testá-lo. Outras reviravoltas poderão surgir, mas atacar Damasco, nas novas circunstâncias, havia se tornado insustentável. A questão é: tudo terá sido, mesmo, resultado de um escorregão de John Kerry?
 
Uma série de acontecimentos aconselha a dizer que não. Desde meados da semana passada, os planos de um ataque à Síria sofriam desgaste crescente. A aprovação, no Congresso norte-americano, da resolução de guerra proposta por Obama tornara-se, no mínimo, duvidosa. No plano internacional, aprofundava-se o desgaste do presidente dos EUA, dos governantes e da mídia dispostos a segui-lo.

Por trás destas dificuldades, há três hipóteses que merecem ser analisadas com atenção – e comemoradas. Dez anos após mentir intencionalmente ao mundo, no Iraque, Washington não reúne, hoje, condições políticas para desafiar a ONU – e iniciar um conflito cujo real objetivo é a afirmação de seu poder geopolítico. Permanece temerário, para governos que se afirmam democráticos, contrariar de modo frontal e aberto a opinião majoritária das respectivas sociedades. Não será aceita, sem contestação, a ideia de que os Estados têm o direito de agir movidos por “informações” que dizem possuir – mas se recusam a compartilhar com os cidadãos.

Todas estas hipóteses foram reforçadas por fatos concretos, nos últimos dias – inclusive no cenário interno dos Estados Unidos. Lá, uma opinião pública cansada de guerras e manipulações, e um establishment político profundamente dividido, corroeram uma estratégia esdrúxula da Casa Branca. Consistia em afirmar que existem “provas conclusivas” sobre a responsabilidade do governo sírio pelo ataque químico a um subúrbio de Damasco, em 21/8; mas em evitar a apresentação pública de tais comprovações – que seriam sigilosas e, portanto, exibidas apenas em comitês de senadores e deputados.

Já no sábado, um balanço do The New York Times revelava que Obama enfrentaria uma “batalha tensa e em contracorrente” para aprovar no Congresso seu pedido de autorização para a guerra. Havia três fatores para isso. Uma parcela importante do Partido Democrata opunha-se por convicção ao conflito – da mesma maneira que o próprio presidente condenou a guerra contra o Iraque quando senador, fora da Casa Branca e, portanto, menos submisso às pressões da máquina de Estado. Um outro setor, que incluía democratas e republicanos, tendia a votar contra o Executivo por pressão direta dos eleitores.

Todas as sondagens de opinião pública realizadas nas últimas duas semanas, desde que o presidente anunciou a disposição de atacar a Síria, revelam que uma sólida maioria de cidadãos opõe-se a esta atitude. O jornal estimava que são especialmente sensíveis a tal posicionamento os parlamentares que não têm sua reeleição assegurada – e terão de enfrentar as urnas, em pouco mais de um ano. Esta previsão foi confirmada em 9 de setembro, de modo enfático, por Justin Amash, deputado do estado de Michigan pelo Partido Republicano. Nos encontros públicos, disse ele, “percebo que não há apenas desaprovação à guerra, mas esmagadora desaprovação – seja de eleitores democratas ou republicanos”…

A arrogância da Casa Branca, que se julgou desobrigada a oferecer sinais efetivos do suposto envolvimento de Assad no ataque contra civis, ajudou a cimentar a rejeição popular à guerra. No domingo, um texto da agência Associated Press, insuspeita de favorecer o governo sírio, frisava a lacuna. “O público – dizia a matéria – ainda não viu uma única peça de evidência concreta capaz de conectar o governo do presidente Assad aos ataques com armas químicas. Nenhuma imagem de satélite, nenhuma transcrição das comunicações militares sírias: nada”.

A terceira razão para os percalços internos de Obama é o acirramento das disputas entre as elites políticas norte-americanas e a consequente dificuldade de Washington para exercer poder global. Ao invocar a parceria do Congresso para a guerra, em 31 de agosto, o presidente imaginou que teria amplo amparo do Partido Republicano – conservador, implicado nos conflitos contra Iraque e Afeganistão, saudoso dos tempos em que os EUA enxergavam-se como potência única. Uma parte dos republicanos de fato o apoiou. Reivindicou, inclusive, que os ataques não se limitassem a “punir” Assad, mas procurassem derrubar ou, ao menos, enfraquecer seu regime. Mas outro setor, ainda mais primitivo, radicalizou-se de modo irreconciliável contra o presidente, nos últimos anos – a ponto de considerá-lo um “socialista” que não merece apoio em circunstância alguma…

Na arena internacional, Obama e seus aliados foram pegos num contrapé similar. Confiante no poder bélico incomparável dos Estados Unidos, o presidente agiu como George W. Bush em 2003 e julgou-se com legitimidade para lançar unilateralmente, e sem aval da ONU, uma guerra de pretexto “humanitário”. Num editorial de rara sinceridade publicado em 5 de setembro, a revista Economist apoiou o presidente, mas expôs a verdadeira razão por trás de sua iniciativa. “Os argumentos para a intervenção na Síria são mais estreitos e menos utópicos que no Iraque. Primeiro, está o cálculo dos interesses norte-americanos. A arena internacional é, por natureza, anárquica. (…) Como polícia do mundo, os EUA podem definir as regras de acordo com seus interesses e preferências. Se recuarem, outras potências avançarão (…) A China já provoca a América; Vladimir Putin começou a confrontá-la – e não apenas sobre a Síria. É questionável que a Síria fosse de interesse vital para os EUA, antes deste ataque; mas não depois do desafio direto de Assad à autoridade de Obama”.

Em poucos dias, ficaria claro que Washington mantém supremacia militar global, mas arrisca-se a perder, de forma acelerada, algo mais decisivo: o poder político para impor “seus interesses e preferências”. Em 29 de agosto, o Reino Unido, um aliado histórico nas campanhas militares norte-americanas, já havia se recusado a atacar a Síria, após surpreendente voto contrário de seu parlamento. Três dias depois, o papa Francisco anunciou – em fala aos católicos, no Vaticano, e também pelo Twitter – sua oposição à guerra. Exortou: “guerra nunca mais. Nunca mais guerra”. Argumentou: “Quanto sofrimento, quanta dor, quanta devastação, traz o uso das armas, em seu rastro”.

Por algum tempo, Obama e Kerry contaram com uma compensação parcial: o presidente francês, François Hollande, ofereceu, em 30 de outubro, apoio à intervenção na Síria. Mas suas condições de mantê-lo começaram a evaporar, logo em seguida. Também na França, apenas 25% da população apoia o ataque. Embora a Constituição permita a Hollande ir à guerra sem apoio do parlamento, cresceram os sinais de que o presidente não conseguiria fugir a este teste. Por isso, já na reunião do G-20, em São Petersburgo (5 e 6 de setembro), ele vacilava. Sugeria que talvez fosse melhor adiar o ataque para depois de um parecer dos inspetores da ONU sobre as armas químicas. Não se sabe quando ele sairá e é muito improvável que implique o regime sírio…

Em tais circunstâncias, era natural que John Kerry, impulsivo e falastrão, acabasse cometendo alguma gafe. Obama tencionava submeter rapidamente, ao Congresso, a moção em favor da guerra. Quanto maior a demora, mais riscos de o apoio interno e internacional ser corroído pelos fatos. A entrevista do secretário de Estado, em Londres, foi um autêntico festival de absurdos. Talvez para aliviar as pressões sobre Hollande, ele afirmou, por exemplo, que os EUA planejavam, contra a Síria, um ataque “incrivelmente pequeno” [incredibly small]. Desconcertou todos os que conhecem as incertezas dos conflitos bélicos – mas em especial os conservadores norte-americanos, que exigem “firmeza” contra Assad. Desse ponto até o blefe infantil e comprometedor, pronunciado a seguir, foi um passo. Ágil, empenhado em recuperar ao menos parte da antiga influência geopolítica, o governo Putin não deixou a oportunidade escapar. Que virá agora?

Os riscos de um ataque à Síria não podem ser, ainda, descartados. Como admite o editorial do Economist, não é de armas químicas que se trata – mas de poder geopolítico. Por isso, a caça a pretextos prosseguirá: agora, provavelmente na forma de condições para a inspeção dos arsenais que o governo Assad não tenha condições de cumprir. Outra possibilidade é um novo ato provocativo. As imagens das vítimas de Damasco, em 21 de agosto, sugerem de fato que foram atingidas por armas químicas; porém, quem as lançou? Um depoimento de Carla Negroponte, da comissão da ONU que investigou atentados aos direitos humanos na Síria, é eloquente: “com o que sabemos até agora, são os opositores do regime os que utilizaram gás sarin”. Conhecidos por seus laços com a Al Qaeda, os “rebeldes” não poderiam animar-se a novas aventuras, capazes de instigar o envolvimento direto dos EUA?

Mas o tempo agora corre contra Washington: a lógica das guerras é a ação irrefletida, as “urgências” reais ou produzidas. Além disso, há fatores mais profundos em movimento. Nesta terça-feira (10/9), veio à luz uma nova e impactante sondagem sobre a opinião pública norte-americana. Comprovou a rejeição à guerra – seis de cada dez entrevistados opõem-se até mesmo aos ataques aéreos “limitados” a que se refere Obama. Indicou que, segundo 80%, os objetivos da guerra contra a Síria “não estão claros”. Mas revelou, também, um nítido desconforto da própria população com o papel imperial que os governantes querem preservar para os EUA. A ideia de que seu país deve exercer “liderança na resolução de conflitos externos” é rechaçada por 62% dos norte-americanos e apoiada por apenas 34%. A desaprovação é 19 pontos percentuais mais alta que à época da guerra contra o Iraque (43%), há dez anos.

Obama assumiu a Casa Branca, em 2009, prometendo virar a página de intervencionismo e arrogância, que marcou a era Bush, e resgatar os valores positivos que os EUA imaginavam ter projetado, em décadas passadas. Chegou até mesmo a receber o Prêmio Nobel da Paz. Porém, concessão depois de concessão, curvou-se de tal modo ao establishment político – particularmente ao chamado “complexo industrial-militar” – que se reduziu a uma peça muito funcional à engrenagem. Um presidente negro, neto de africanos e de passado progressista, mostrou-se afinal mais útil que seu antecessor para comandar tarefas como o assassinato extra-judicial de milhares de pessoas por drones; a ampliação ilimitada das redes globais de espionagem; a perseguição aos que a denunciam.

É possível que a aventura síria dispare um forte alerta contra este processo. Talvez, em vez de Bashar al Assad, tenha sido Barack Obama quem “cruzou a linha vermelha”, no episódio. Se for assim, é possível esperar, daqui em diante, maior resistência internacional aos planos de um governante que já não pode usar máscaras.

E salta aos olhos, neste ponto, um último aspecto, preocupante: a desarticulação da chamada “sociedade civil global”. Há dez anos, às vésperas de George W. Bush iniciar a guerra contra o Iraque, ela promoveu manifestações nos cinco continentes. Segundo certas estimativas, reuniram 13 milhões de pessoas. Não frearam a ofensiva militar, mas foram essenciais para deslegitimá-la. Foram articuladas em Porto Alegre, no FSM (Fórum Social Mundial) de 2003. Levaram o próprio The New York Times, a falar na emergência de uma segunda superpotência mundial.

Na crise síria, esta “superpotência” esteve ausente. O papel mais destacado na oposição a Washington coube a… Vladimir Putin, presidente da Rússia. A mesma ausência tem se repetido em uma série de acontecimentos globais de grande relevância – da crise financeira à defesa dos perseguidos por denunciarem a espionagem de Washington. O esvaziamento dos FSMs, a partir de 2005, não foi corrigido nem substituído por outro espaço ou mecanismo de articulação. Fazê-lo será, cada vez mais, um desafio estratégico.

Texto originial do Blog Outras Palavras.
 
Na foto: O presidente dos EUA, Barack Obama, está mais isolado externamente do que seu criticado antecessor - Agência Efe
 
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