sexta-feira, 21 de junho de 2013

O Mali, África e o Mundo. As perspectivas de uma Nova Cultura Politica (II)



Rui Peralta, Luanda (ver parte I do texto)

V - A guerra transformou o Norte do Mali num estranho universo concentracionário, cujo cenário dantesco é composto por histórias de lapidações, amputações, violações de mulheres e crianças, fuzilamentos e enforcamentos, para além das torturas, miséria, fome e mais de oitocentos mil desalojados. As siglas da guerra, aqui, são diversas: MNLA, MUJAO, BOCORAM, AQMI, ANSARDINE, CEFAO, UA, U.E., USA, ONU…Para além das siglas a guerra, no Mali, também tem vários nomes: França, terrorismo, sharia, Ocidente…Os mercenários que são arrastados pela guerra, vêm do Paquistão, do Iémen, do Afeganistão, de Marrocos, da Argélia, da Tunísia, da Líbia, do Egipto, dos estados do golfo, da Bósnia, da Nigéria, da França…Exceptuando os franceses que são os que vêm pela comunidade internacional, os mercenários “antiterroristas”, os restantes mercenários são todos “terroristas”.

O problema é que os mercenários “antiterroristas”, que vão “implementar a paz” no Mali, são cada vez mais e começaram, também eles a ter diversas proveniências: para além dos dois mil e quinhentos franceses estão mais seis mil da CEFAO e da UA, e vão chegar por aí uns doze mil, conhecidos por capacetes azuis, colocados pela ONU. Fica, desta forma, o Mali uma terra esventrada, com os recursos expostos: uranio, petróleo, gás, diamantes, algodão, ouro e bauxite, prontos para a recolonização, que vai ter o nome de reconstrução, sob a égide paternal e do olhar atento e austero do “pére français”, já não se realiza como um colono, mas como um novo tipo de colono, um “amigo” que assumirá o “fardo” de levar a cabo mais uma árdua tarefa de exploração, fertilizando o solo mártir africano, com sangue mártir de africanos. 

A nova táctica dos neocolonialistas é o humanitarismo, que utiliza uma miríade de ONG, compostas por voluntaristas, todos “altamente especializados”, que vão colocar o seu saber ao serviço dos “desgraçados”, ensinar-lhes os princípios da “boa governação” e do “empreendedorismo”, portadores da “meritocracia” e de outras armadilhas do Ocidente a que chamam “valores ocidentais”. O novo colono já não é portador do chicote e já não reside no território. Transita, sai e entra, faz relatórios, tem o comportamento de funcionário da multinacional, mesmo que não trabalhe em nenhuma e seja um empreiteiro. Tem várias faces e diversos rostos, umas vezes veste a capa de expatriado, outras de humanitário, outras de empresário ou de investidor estrangeiro.

VI - O Mali situa-se numa zona estratégica para o Ocidente. Os franceses tentam a todo o custo estabelecer uma base militar em Tessalit, no norte do país, para aumentar o seu controlo sobre o Sahel, em coordenação com os seus parceiros da U.E e dos seus aliados dos USA, todos mancomunados na NATO. Quando atacaram a Líbia, as testas dos malianos franziram e os seus rostos demonstraram preocupação. Os laços entre a Líbia e o Mali perdem-se na Historia, são compostos por rotas comerciais, rotas de livros, rotas de culturas…Os tuaregues cruzavam as fronteiras, repetindo os mesmos trilhos durante seculos. A guarda presidencial de Kadhafi era composta, em mais de 80%, por tuaregues, berberes e árabes de origem maliana. Não foi ao acaso que a União Africana (UA) escolheu para mediador do conflito o presidente do Mali, Amadou Toumani Toure.
      
Após o assassinato de Kadhafi, a 20 de Outubro de 2011, os tuaregues malianos que apoiavam a Líbia, chegaram a um acordo com os franceses, o que lhes permitiu regressar, em segurança, ao Mali. Saíram de Trípoli, atravessaram o Níger, sem ninguém os desarmar, sob a protecção da França e retornaram ao Mali, entrando em Novembro de 2011, onde os seus representantes foram recebidos oficialmente, no palácio presidencial, recebendo apoio politico e 50 milhões de francos CFA (cerca de cem mil USD).

Os ataques ao exército maliano começaram em Janeiro de 2012 e um ano depois a revolta tuaregue era generalizada e o Movimento Nacional de Libertação de Azawad (MNLA), controlava algumas áreas a norte do país. Depois rapidamente a situação descontrola-se e o MNLA ocupa Tombuctu, Gao e Kidal. Alguns dos ministros tuaregues, que compõem o governo em Bamaco, fogem para Azawad. A aliança com os franceses, não ofereceu apenas segurança, durante a retirada dos tuaregues de Trípoli para Bamaco. Estes acordos permitiram aos tuaregues reivindicarem os seus direitos históricos, muitas vezes esquecidos em Bamaco e sempre relembrados através de revoltas acalmadas por promessas nunca cumpridas.

Com a revolta tuaregue instalada no norte do Mali, os bandos fascistoides islâmicos (activados na Líbia pela OTAN, uma velha história que provem desde os tempos da guerra no Afeganistão, quando a CIA os criou para combater os soviéticos) encontraram terreno fértil para a sua instalação. Quando o apoio da França aos tuaregues terminou, por pressão dos USA, que viam os seus interesses no Sahel ameaçados pela incógnita tuaregue, o MNLA perdeu a sua posição para os bandos fascistas, enquanto um grupo de tuaregues apoiados pelos USA, o ANSARDINE (que significa Luta pela Grandeza do Islão) ganha espaço e importância no terreno. O ANSARDINE foi criado através das células residuais da CIA na Argélia, razão pela qual muitos dos seus combatentes são de origem argelina. 
    
Também os USA, tal como a França e pelos mesmos motivos, pretendem criar uma base militar em Tessalit, uma localidade do norte do Mali, na província de Kidal.

Os governos do Mali nunca aceitaram as propostas norte-americanas e francesas para o estabelecimento de bases militares em Tessalit e Sevare. Na instabilidade politica de 1991, por exemplo - que levou á queda do presidente Moussa Traore - para além dos factores internos e da dinâmica social e politica maliana, a recusa do governo maliano em aceitar as bases militares, foi de peso, embora secundário. Levou, pelo menos, a que franceses e norte-americanos assobiassem para o ar, como se estivessem desatentos, enquanto Moussa Traore era deposto.

Em 2012, tal como em 1991, os factores da dinâmica politica e social interna foram primordiais na queda de Moussa Traore, mas foram os factores externos que permitiram os meios necessários a que a revolta tuaregue conduzisse á queda de Amadou Toumani Toure, em 22 de Março de 2012, substituído no poder por uma Junta Militar, que se propunha organizar as Forças Armadas e restruturar o Estado, com objectivos que levariam ao reforço da soberania popular e nacional. Perante o golpe de estado militar, a CEDAO impõe o bloqueio politico e económico e a Junta Militar acaba por ceder, abandonando o seu programa inicial, patriótico, sucumbindo às pressões. Ficaram, assim, adiadas, uma vez mais, as reformas necessárias para que o Mali reforçasse a soberania popular e nacional, restruturando as instituições, o aparelho de estado e implementasse mecanismos democráticos e participativos.

A importância de uma base militar no Mali é enorme, no cenário geopolítico do Sahel. A posição do Mali é de extrema importância, a começar pelas suas fronteiras com sete países: Costa do Marfim, Burkina Faso, Argélia, Senegal, Mauritânia, Níger e Guiné-Conacri. A potência que ali instalar a sua base fica com um papel preponderante no Magreb e na África Ocidental. Se a esse factor geopolítico forem associados os factores geoeconómicos (o controlo dos recursos malianos, por exemplo) compreenderemos melhor a necessidade do Ocidente em criar instabilidade no Mali e porque é que armas da NATO andam nas mãos dos bandos fascistoides.

A ocupação do Mali inicia-se com a destruição da Líbia. A Líbia e o Mali eram países que compartilhavam uma visão da Unidade Africana e da integração do continente, até por razões e condicionantes históricas e culturais. O Mali foi uma nação que sentiu a necessidade de integração desde o início da sua independência, não só porque historicamente sempre esteve integrado, através de várias foras políticas, com os seus vizinhos, como nos primeiros anos da independência política, viveu federado com o Senegal. A ruptura dessa federação criou imensas dificuldades á nação maliana, um país interior, sem acesso ao mar e completamente dependente dos acordos com os seus vizinhos, para exportar e importar mercadorias. Cedo os malianos aprenderam o valor da integração económica e da sua importância para o desenvolvimento.

Mas tudo começa com a Primavera Árabe, uma ferramenta indispensável para redesenhar mapas. Também nas Primaveras os factores determinantes foram os factores centrífugos da dinâmica social e politica interna de cada um dos países onde ocorreram mas também aí foram os factores externos (o cumprimento dos objectivos geopolíticos e geoeconómicos do ocidente) que permitiram às forças surgidas dessa dinâmica a sua emersão e ascensão ao poder. O objectivo das Primaveras, no Magreb, atingiu a segunda fase com a destruição da Líbia. As movimentações na Tunísia e no Egipto - necessárias, porque as respectivas válvulas de pressão já não aguentavam mais - serviram perfeitamente os objectivos do Ocidente, que ficaram desta forma em posição de cercar e eliminar o principal obstáculo em África e na Liga Árabe: a Líbia.

Por isso enquanto Ben Ali, na Tunísia e Mubarak no Egipto foram aprisionados e julgados, Kadhafi foi assassinado. Esta é uma estratégia que “apaga” os países considerados “inimigos”, tal como acontece hoje com a Síria e qua já foi ensaiada e optimizada dezena de vezes. Lembram-se do Ceaucescu, o sapateiro rezingão e esclerótico de Bucareste? Foi executado com a Roménia posta a ferro e fogo. Saddam Hussein, no Iraque, a mesma situação. Estas execuções são um salto qualitativo nas estratégias de domínio.

E são as novas estratégias de domínio, que escondem á opinião pública ocidental, as realidades das sociedades e da política africana e árabe. A comunicação social europeia, por exemplo, segue a preceito o cenário do coitadinho africano, vítima de regimes corruptos e do árabe terrorista, que queima as bandeiras dos países “civilizados” e bate nas mulheres, que andam todas tapadas. Esta imagem é essencial, para que as elites europeias prossigam as suas políticas de rapina de recursos, sem que a opinião pública europeia se interrogue sobre o que andam a fazer os seus líderes em matéria de política externa.

Os cidadãos europeus desconheciam que na Líbia a educação era pública e gratuita, assim como a saúde, que a electricidade era gratuita e que o combustível era barato, para que a alimentação também o fosse. Desconheciam por completo a política social do governo Líbio e apenas conheciam os fenómenos de corrupção e as diatribes de Kadhafi, Nunca tiveram a percepção da importância que a Líbia tinha para os países vizinhos, nem estavam a par do papel da Líbia na União Africana.             
A Líbia era um exemplo de soberania, perigoso para o Ocidente. E isso as elites ocidentais não perdoam.

VII - Em 1991, Demba Diallo - pan-africanista convicto e um dos participantes na fundação da OUA, em Adis Abeba – juntou-se a outros patriotas malianos na fundação da União da Forças Democráticas (UFD), criada na clandestinidade, durante a vigência da ditadura de Moussa Traore e sobreviveu às convulsões que assolaram, entretanto o Mali. Apresenta-se às eleições do próximo dia 7 de Julho, inserida numa coligação de 12 partidos políticos, associações civis, sindicais, camponesas e culturais.

A UFD representa um projecto político assente no reforço da soberania popular e da participação cidadã e procura apoios na Venezuela, Bolívia, Equador, Cuba e Brasil, países recentemente visitados pelas suas delegações, considerados pela UFD, exemplos de transformação (A ligação da UFD á América Latina é profunda. Muitos dos seus militantes estudaram em Cuba e a UFD sempre seguiu com atenção o processo bolivariano, que inclusive é mencionado na apresentação das suas bases programáticas).

A existência de forças políticas democráticas, independentemente dos sectores que representem ou das divergências que sustentam, é de importância vital para a sociedade maliana, que apresenta os piores sintomas de destruturação e degradação. A busca de soluções, a participação dos cidadãos nos destinos do país, são os elementos fundamentais de reconstrução do país e o encetar de uma via de progresso e desenvolvimento social.

As soluções não passam pelos técnicos perfumados e bem-falantes do FMI, do Banco Mundial ou das falsas intenções dos humanitaristas de ocasião. As soluções passam por projectos políticos democráticos, que assegurem a execução da soberania popular e reforcem a soberania nacional, para que o Mali possa ser integrado nos fóruns mundiais, na economia-mundo e nas instancias globais, não como um pedinte, mas como um contribuinte, não como uma nação periférica, mas como uma nação independente, consciente da sua periferia e do seu papel na sendo do desenvolvimento.

VIII - As imagens de África divulgadas pela propaganda das elites ocidentais, nas suas sociedades apresentam uma África do horror, um continente onde estão generalizados factores como a fome, a corrupção, as epidemias, o totalitarismo, a violência, etc. Gostam, particularmente, da imagem de uma África atrasada, onde reina a selvajaria bárbara e a ignorância, o fanatismo religioso e a submissão da mulher, ao mesmo tempo que é a África dos recursos, o continente rico em matérias-primas naturais, mão-de-obra barata e jovem. Nas horas vagas a predileção dos fazedores de opinião é falarem sobre uma África condenada, onde as pessoas não têm vontade de mudar e de progredir. Depois para distrais as mentes, vem a África da natureza, a África diversão, a África National Geographique, a África do Rei de Espanha, cheia de mistérios, perigos, aventuras, paisagens únicas e deslumbrantes, tribos exóticas e bichos para caçar.
      
Servem estas imagens para ignorar a África real, a África Futuro, aquela que constrói o futuro no presente inóspito, aquela que dá dois pequenos passos em frente e um bem grande para trás, mas que teima, sempre, em avançar e avança pela tenacidade dos seus cidadãos. Através destas imagens o Ocidente ignora que Africa é um continente onde coexistem cinco grandes regiões, treze ecossistemas, cinquenta e quatro países, mais de seiscentas etnias, mil e setecentas línguas, uma multiplicidade de sistemas religiosos, políticos, sociais, económicos e culturais, um mosaico…. 
 
Esta realidade africana, que os meios de comunicação ocidentais, as ONG, as instituições públicas e privadas, escondem, escamoteiam, omitem e iludem, manipulam através das imagens, não pode nunca chegar ao conhecimento dos eleitores ocidentais. Neste sentido o neocolonialismo actual segue as pisadas do colonialismo, que sempre iludiu e manipulou os europeus, através da miragem africana, de figuras como a árvore das patacas, do continente negro e outras patranhas obscuras.

Desta forma, através destas imagens deturpadas e manipuladas, justifica-se tudo: a exploração dos recursos alheios, actualmente escondida sob a capa da “necessidade de ajudar os africanos” (sempre essa do “estamos aqui para ajudar”, uma típica demonstração do etnocentrismo ocidental, que sempre carregou esse “fardo”) e a necessidade histórica de converter (seja aos desígnio de deus, seja, aos mais racionalistas desígnios da actualidade, os do mercado). A “cooperação para o desenvolvimento” assume o papel de uma “missão laica” para difusão da ciência, da civilização, da democracia, dos direitos humanos, do crescimento sustentado, etc., tudo incluído numa acção missionária e evangelizadora, cujo evangelho é baseado nos mandamentos do mercado e que nos salvará a todos - pretos, brancos e mestiços, cristãos, ateus, animistas e muçulmanos - da barbárie.  

Claro que alguns ocidentais perguntam: como vivem então os africanos? Como conseguem sobreviver no meio de toda esta miséria, corrupção e totalitarismo? E como não são dizimados pelos bichos que pululam nas selvas e nas savanas? Como sobrevivem ao avanço dos desertos? E a resposta da propaganda é simples: através da economia informal. Com este termo tudo fica resolvido. Somos, os africanos, uma cambada de indigentes, que para além da música e de uns toques na bola, temos olho para o negócio.

No actual momento histórico global, em que nas sociedades ocidentais os direitos cívicos e sociais e a liberdade individual são ameaçados, agredidos e o contracto social é rasgado, em que os cidadãos do Ocidente vêm-se espoliados da sua privacidade, colocados no desemprego, esventrados pela austeridade e erguem-se em luta pelos seus direitos conquistados em outras lutas de seculos, é altura de praticarmos - nós os cidadãos do mundo, os aldeões da utópica aldeia global em que nos querem encerrar - um acto de solidariedade activa e global: a de nos conhecermos e de nos identificarmos. Concluiremos, então, que as nossas lutas são comuns e que o mundo é de todos nós, os povos da humanidade. Descortinaremos, em conjunto, a realidade que sempre nos esconderam: que somos um só Povo e uma só Humanidade. E poderemos começar pelo Mali.   
   
Fontes
Castel, Antoni y Sendín, José Carlos (eds). Imaginar África. Los estereotipos occidentales sobre África y los africanos. Catarata. Madrid. (2009).
Latouche, Serge. La Otra África. Autogestión y apaño frente al mercado global Editorial Oozebap. Barcelona. (2007).
Rubio Rosendo, Moisés Un mosaico africano. Transforma lo que piensas y lo que sientes sobre África. Observatorio Internacional CIMAS. Madrid. (2013).

Ler desde o inicio do texto relacionado e restantes artigos de RUI PERALTA

Portugal - Subsídios: VÍTOR GASPAR É SÁDICO?



Daniel Oliveira – Expresso, opinião

Quando o governo decide que uma parte dos subsídios de férias (a que teria sido retirada caso o Tribunal Constitucional não tivesse impedido) só será paga em novembro, quando as férias acabaram há muito, só podemos concluir uma coisa: que o Estado está com problemas de tesouraria e não tem condições de pagar agora o que é devido aos funcionários públicos. Acontece que o primeiro-ministro já deixou claro que não é disso que se trata. Há dinheiro para pagar.

Não tendo qualquer efeito no único défice que conta - o do fim do ano -, resta a possibilidade de explicar este abuso, que o Presidente aceitou, como sempre, acelerando mesmo a promulgação da lei que o permite, com mais uma birra de Vítor Gaspar contra a decisão do Tribunal Constitucional. Ou então, com uma habilidade contabilística para martelar as contas trimestrais e assim passar a ideia de que as coisas estão melhores do que realmente estão. O que me parece absurdo demais para ser verdade. Até Vítor Gaspar há de saber que existe um país fora do seu computador portátil.

Seja uma ou outra a razão, esta decisão é um ato de prepotência e irresponsabilidade. As famílias e os contribuintes fazem, como as empresas e o Estado, planeamento financeiro. Têm despesas para pagar. Têm dívidas a saldar. Agora, mais do que nunca. E, com toda a legitimidade, contavam, desde que o TC decidiu chumbar o corte dos subsídios, com este dinheiro para cumprir os seus deveres. Esta cativação do seu salário - porque é disso que realmente se trata - complica ainda mais a situação de quem já perdeu, nos dois últimos anos, uma parte significativa dos seus rendimentos. É que para muitos o subsídio de férias é um momento de acertar contas. E, sem ganho nenhum para os cofres públicos, isso é posto em causa.

Mas ela tem também um efeito na economia. Para o hotelaria e restauração o mês de junho é, com o natal, o melhor momento de negócio. Em muitos casos, um momento que só pode acontecer no verão. E isso tem como resultado a habitual queda de desemprego - graças ao emprego sazonal - durante uns meses. Os subsídios de férias significavam, em junho, a entrada de muito dinheiro na economia. Dinheiro que se reproduz. Com a crise aguda em que vivemos, significava evitar a falência de muitas pequenas empresas e a perda de emprego de muitos trabalhadores.

Ao adiar o pagamento deste subsídio o governo piora ainda mais a situação económica de pequenos negócios - como se não tivesse bastado o aumento do IVA -, que não aguentam mais prejuízos até novembro. Acaba por levar a que alguns dos poucos que ainda podem fazer férias desistam de o fazer, com efeitos no turismo. Para mostrar ao Tribunal Constitucional que não engolem a sua decisão? Para punir os funcionários públicos? Para pequenos jogos contabilísticos a pensar na 8ª avaliação da troika sem qualquer relação com a realidade? Haverá limites para a irresponsabilidade e infantilidade de Vítor Gaspar? E haverá limites para o apoio diligente que o Presidente vai dando a todas as asneiras que faz?

Portugal: "Desemprego jovem é a morte a prazo da sociedade", diz Sampaio da Nóvoa



Liliana Coelho - Expresso

Reitor da Universidade de Lisboa considera que a austeridade não é solução e que é vital combater o desemprego nas gerações mais novas com "uma política de choque".

O reitor da Universidade de Lisboa, António Sampaio da Nóvoa, defende em entrevista à Antena 1 que o desemprego jovem é hoje um dos maiores problemas do país, sendo urgente uma "política de choque".

"Nós não iremos a lado nenhum se desperdiçarmos esta geração. O desemprego jovem  é a morte a prazo da sociedade portuguesa. Nós temos que fazer um choque, já não é uma política para o emprego jovem", afirma Sampaio da Nóvoa.

Segundo o académico, é fundamental agir já e apostar em políticas a médio e longo prazo que consigam travar este problema social, dando um horizonte de futuro aos jovens. "Temos que fazer uma política a sério, não é pequenas políticas pontuais para conseguir que estes jovens tenham uma oportunidade", acrescenta. 

Sampaio da Nóvoa sublinha ainda na mesma entrevista que a austeridade foi o caminho errado na Europa e que hoje as suas consequências saltam à vista. "Julgo que hoje começamos a perceber na Europa que chegámos a um beco sem saída. Hoje todos reconhecem o falhanço de uma política de austeridade que não está a melhorar nada e não há uma mudança de caminhos", lamentou.

"Nós, na universidade, estamos habituados a fazer o contrário: a olhar, a avaliar, a corrigir e não uma espécie de cegueira, seja tecnológica, seja tecnocrata, seja ideológica, em que parece que há uma receita que se aplica, independentemente dos resultados que ela está a ter", remata.

Tal como o Expresso noticiou no passado fim de semana, António Sampaio da Nóvoa deverá ter um papel ativo na política nacional, sendo cobiçado por vários sectores e não estando de parte uma candidatura às eleições presidenciais.

Relacionados em Expresso

Portugal: A INSUSTENTÁVEL MANUTENÇÃO DE MARIA LUÍS ALBUQUERQUE



Eduardo Oliveira Silva – Jornal i, opinião

Mesmo não tendo recomendado swaps ruinosos na Refer, a secretária de Estado não podia desconhecê-los

A razão política manda dizer que a secretária de Estado do Tesouro deveria ter sido dispensada pelo ministro das Finanças, pelo primeiro-ministro, ou então ter chegado por si própria à conclusão de que não tem condições objectivas para se manter no governo. É certo que pôs o lugar à disposição e foi confirmada, mas disso a demitir-se vai uma distância abissal.

Houve secretários de Estado que foram fulminados por ter subscrito swaps ditos tóxicos. Houve gestores e directores que levaram pela mesma medida, mas há outros que se mantêm em funções por resistência passiva ou contemporização do governo, que aparenta ter dois pesos e duas medidas.

Maria Luís Albuquerque era uma das responsáveis financeiras da Refer, empresa que subscreveu um tipo de swaps em geral apresentados como não tóxicos, seja lá isso o que for. A história recente retém até que tem sido a secretária de Estado a liderar a operação de negociação com a banca para minorar as perdas do Estado alguns milhões. Diz-se ainda que foi por sua iniciativa que houve um inquérito aos swaps.

Muito bem, mas não chega. Pelo seu perfil técnico e pelas funções na Refer, a governante Maria Luís Albuquerque não podia deixar de conhecer a existência de contratos tóxicos. Todavia, em dois anos não fez nada, até ao momento, além de pedir um inquérito tardio. Pecou em parte por omissão e ter posto o lugar à disposição não a redime. As operações constavam dos balanços das empresas e havia que analisá-los com rigor, sobretudo por quem tivesse obrigação de estar atento à situação. Essa circunstância específica da secretária de Estado fragiliza-a a ela e ao governo no seu todo.

A questão dos swaps vai durar. Em cada conta do Estado, em cada Orçamento, em cada debate parlamentar sobre economia, ela virá ao de cima gerando confusão, desconfiança e tensão política. Nessas circunstâncias melhor seria retirar também este elemento do elenco governativo, até para que o assunto possa ser discutido e tratado de uma forma mais serena, contribuindo assim para o efectivo esclarecimento dos martirizados contribuintes.

Nos últimos dias multiplicam-se notícias de negociações favoráveis ao Estado que minimizariam os prejuízos causados pelos swaps. A seu tempo se verá se é assim ou se é apenas a conjuntura favorável do momento que cria essa ilusão. Imagine-se que dentro de dois anos os juros sobem para valores de 2007. Bastaria isso para alterar todas as premissas de análise do assunto.

Outra coisa a esclarecer é a relação entre a contratação do JP Morgan para assessorar a privatização dos CTT e o acordo a que se chegou com esse banco precisamente sobre esses produtos financeiros a que as empresas do Estado iam recorrendo para acudir a dificuldades de tesouraria. Aguardemos, mas com poucas expectativas, que se esclareça cabalmente como foi possível passar de uma situação para outra em tempo recorde. Ele há cada uma?

Brasil: Beltrame admite que Exército pode ser convocado para reforçar segurança no Rio




Isabela Vieira - Repórter da Agência Brasil – 21.06.2013 - 13h27

Rio de Janeiro - O secretário de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, admitiu hoje (21) a necessidade de reavaliar as ações de segurança para impedir o vandalismo em protestos de rua e também de convocar o reforço de militares do Exército Brasileiro que já estão na capital fluminense.

"O Exército está no Rio de Janeiro. Não está em função desses episódios, mas da Copa das Confederações, e eles têm aqui funções específicas, mas tem, sim, um contingente a ser utilizado, se o governo do estado demandar", informou Beltrame. O secretário disse que pode convocá-los para "proteger a integridade das pessoas e o patrimônio público e privado", completou, em coletiva de imprensa.

Ao fazer um balanço dos confrontos de ontem (20) entre a população e agentes de segurança, depois da manifestação que reuniu, de acordo com o secretário, mais de 300 mil pessoas no centro da cidade, Beltrame classificou a operação policial como complexa e disse que os agentes lidaram com situações e perfis de manifestantes distintos.

Edição: Davi Oliveira

BRASIL: PELÉ É “100% A FAVOR DO MOVIMENTO”. UMA PORRA!




ESTAMOS ACORDANDO...

O “rei” Pelé fez o que é comum os políticos fazerem e dá o dito pelo não dito, procura fazer de babacas todos os brasileiros e o mundo que o viu e ouviu dizer o que disse e não tomar a opção de ser contra as enormes injustiças vigentes no Brasil. Pelé não engana os brasileiros, nem talvez o mundo. Ninguém o interpretou mal, como pretende fazer acreditar.O que ele disse foi o que pensa e o que achou bem dizer. É 100% a favor do movimento uma porra.

No que disse Pelé admite que esta Era ainda é a da fome e porrada dos coronéis sem que se conteste. Que esta Era é a da cachaça, do Carnaval  do futebol, da subjugação e alienação que Pelé aceitou e nunca mexeu um pau para contestar. Pelo contrário, fez-se assimilado e deslumbrou-se com sua sorte na arte da bola que lhe reconhecemos e agradecemos mas que não é primordial para a humanidade, para a melhoria dos direitos de cidadania que todos no mundo devem usufruir. 

Pelé está mostrando que é manco de cabeça  e cego na realidade por que se passeia diariamente indiferente. Como ele outros existem pelo Brasil e pelo mundo. Mas estamos todos globalmente acordando e o Brasil também. (Flávio Mattel, Brasília – Redação PG)

Pelé se explica sobre declaração e diz: "sou 100% a favor do movimento"


O ex-jogador Pelé usou a rede social Facebook, nesta quinta-feira, para se explicar sobre as declarações dadas na última quarta-feira. O ídolo nacional havia dito para a população "esquecer a confusão e as manifestações" para apenas torcer para a Seleção Brasileira na Copa das Confederações, sem vaias. Desta vez, o ex-atacante mudou o discurso e resolveu apoiar os protestos que ocorrem por todo o Brasil.

"Por favor, não me entendam mal. Eu sou 100% a favor deste movimento pela justiça no Brasil! Eu somente peço a todos que apoiem a nossa Seleção Brasileira e não descontem as frustrações neles (vaiando e etc)", defendeu-se o ex-atleta.

Além de pedir apoio para a Seleção Brasileira, Pelé, que foi muito criticado após as declarações da última quarta, também lembrou sua reação após marcar o milésimo gol de sua carreira.

"Eu sempre lutei contra a corrupção. No meu milésimo gol, eu falei sobre a importância da educação de nossas crianças", postou.

O ex-craque enviou a mensagem tanto em inglês quanto em português para os mais de 1,7 milhão de seguidores na rede social.

Torcida brasileira burlou Fifa e protestou no Castelão - veja as fotos no original

Relacionado com Pelé mostrando sua opção assimilada e traidora dos interesses dos brasileiros: Pelé cobra apoio à Seleção: "vamos esquecer essa confusão"

ACORDA BRASIL! ACORDA RONALDO! ACORDA PELÉ! ACORDA POVÃO!



Flávio Mattel

PAI DANDO RESPOSTA AO RONALDO

Um pai mostra ao futebolista Ronaldo sua filha e a saúde que ela não tem. Contesta palavras de Ronaldo falando “do alto e de conta bancária e barriga cheia demais” acerca do povo que está em levante por todo o Brasil contra as injustiças, contra os milhões gastos na Copa e em estádios de futebol. Ve e escute este pai e multiplique por milhões os pais e mães cansados de serem esbulhados por coroneis, por generais, por ditadores, por políticos sem escrupulos, por ladrões e assassinos de colarinho branco ou fardas a rigor, por imerecidos juízes que mereciam estar dentro de grades, na prisão… Se há quem não entenda o que se está passando no Brasil poderá agora ficar um pouco mais elucidado. E isto, este pai insurgido, é uma infima amostra.

É o que se vê e escuta no vídeo que melhor nos leva a entender o que está a acontecer no Brasil. O povo brasileiro está cansado de ser ludibriado. Os pais e mães no Brasil estão fartos de ver “os do alto” roubando, chacinando, escravizando, cometendo crimes hediondos e no final saírem impunes. O Brasil não está vivendo em democracia. Não é somente pelo facto de possibilitarem eleger certos membros de partidos políticos que a democracia acontece. Falta justiça, falta educação, falta saúde, falta punição para os que cometem crimes e estão alojados nas máquinas partidárias, no Congresso e noutros poderes que uma máfia afinada vai distribuindo em cargos que lhes permita cobrar vantagens. É isso que o Brasil não quer. Nem o Brasil nem os povos por todo o mundo. É contra este estado de criminalidades político-partidárias que vimos cada vez mais o levante das populações. Os protestos estão repletos de razão.

ESCÓRIA DO FUTEBOL MILIONÁRIO

Pelé veio falar de um “deixa pra lá” dessa de contestar a péssima situação dos brasileiros na rua. “Sai da rua, te aliena com a Copa, seja miserável mas feliz” foi o que quis dizer Pelé. Parece que alguns do futebol milionário esqueceram que quase vieram do bueiro, que andavam de pé descalço por a família não ter como os calçar. Pelé era pobre, Ronaldo também não era menino rico… Passaram esses tempos e agora esqueceram sua condição de povo carenciado e vergastado pelas elites. Passaram-se para o outro lado à semelhança de prostitutas(os), de vira-casacas e traidores. Mergulharam numa abastada e bem odorosa piscina de insensibilidade e consideram um exagero que o povo brasileiro continue a sentir-se injustiçado, agora, por eventos de uma FIFA mafiosa, transbordante de corrupções e negócios opacos. Coisa comum no futebol. Os da escória do futebol milionário, os traidores, preferem gastos desmesurados no futebol em vez da implementação da justiça social, das melhorias na saúde, na educação, no pagamento justo daqueles que são a força de trabalho e do progresso do Brasil, os trabalhadores do comércio, da indústria, dos serviços. Os campesinos, os mineiros, os professores, etc., etc.

ROMÁRIO E DECO

Por esse diapasão do antes a Copa que a justiça, a democracia, a liberdade, o trabalho devidamente remunerado, a saúde, a educação, a habitação condigna não alinharam uns quantos do futebol milionário nem outros “famosos”. No caso do futebol Romário já disse sobre as palavras de Pelé e outros o que tinha a dizer e é pelos que estão sendo injustiçados. Deco, também um grande futebolista brasileiro e luso, mostrou que nem é escória nem traidor, muito pelo contrário. 

São alguns os que não esquecem sua condição de povão apesar de na atualidade viverem bem melhor. Serão esses que também contam para junto da maioria sacrificada fazerem com que o Brasil Acorde, e Ronaldo, e Pelé… Todos os que se negam a olhar de frente a injusta realidade brasileira, PÔ, ACORDEM!

ENTRE O RELÂMPAGO E O RAYO…




Como está a situação em África, as "explosões" sociais e novas guerrilhas poderão vir eclodindo um pouco por todo o lado, conforme parece estar agora a acontecer em Moçambique. Isso faz parte da geoestratégia de recolonização em curso e por isso os sentidos das potências se voltam para este quinhão sofrido da forma que aqui no PG temos (eu e Rui Peralta) vindo a sublinhar, mas sobretudo a alertar. Acredito que ao longo dos próximos tempos a situação vai deteriorar-se mais em África e na América Latina, pois "as mãos livres" dos Estados Unidos (saídos do Iraque e do Afeganistão onde deixam o caos), vão agarrar novas presas... Como sempre o fizeram desde a IIª Guerra Mundial!... Barrados de certo modo na Síria em função da posição russa, as guerras de baixo custo tenderão a "substituir" as outras e em África elas são mais possíveis que em qualquer outra parte do mundo. - Martinho Júnior

Martinho Júnior, Luanda

1 – A Armada Espanhola, tal como outras armadas da NATO, está a habituar Angola à sua presença; praticamente não há mês algum que pelo menos um navio da NATO faça rota, que seja do conhecimento público, ao longo da corrente fria de Benguela e aporte em Luanda, ou no Lobito, assinalando “viagens de cortesia”, com as habituais demonstrações “em parceria”, que são já “costumeiros rituais”!...

Desta feita Angola recebeu pela segunda vez um “Buque de Acción Marítima” da classe Meteoro: a 3 de Janeiro de 2013 o “BAM” Relâmpago deixou Luanda e a 21 de Junho o “BAM” Rayo sairá do porto do Lobito!

A classe Meteoro é das mais recentes no activo da Marinha de Guerra Espanhola e também das mais versáteis, combinando eficiência tecnológica com capacidade de patrulha de longo raio de acção, com tripulação em número menor do que o efectivo das fragatas e custos reduzidos de exploração e operação… “crise obriga”…

Por exemplo, a classe combina essas capacidades com a protecção à frota pesqueira espanhola ao mesmo tempo que faz o “combate à pirataria” enquanto um dos rótulos que cobre o sistema de patrulha de Espanha que se estendeu do Atlântico ao Índico, com uso dos navios de guerra espanhóis precisamente desde quando a NATO, com o incentivo da hegemonia poderosa dos Estados Unidos, se deslocou para o Afeganistão!

A União Europeia corrobora nessa cobertura: a missão naval serve para a protecção dos barcos fretados no âmbito do Programa Mundial de Alimentos, dos barcos da Missão da ONU para a Somália, para assegurar as rotas do Índico Norte e até para realizar exercícios navais liderados pelo Qatar, conforme o “Ferocious Falcon” (em que participou o “BAM” Relâmpago)… servem para tudo menos para garantir efectivamente à Somália um exercício eficaz de soberaniapelo menos até ao limite mínimo das 12 milhas das suas águas territoriais… talvez por que muito interessa evocar e utilizar o apelo ao combate à pirataria em cada porto africano onde atraquem os “BAM”!...

Os Meteoros têm base em Las Palmas e estão a ser destacados para as costas da Somália, contornando ciclicamente toda a costa ocidental e oriental de África, onde aliás a frota pesqueira espanhola, uma das maiores da União Europeia, se distende nas fainas de longo curso, sem que haja fiscalização africana sobre as suas actividades no âmbito da profundidade das 200 milhas!

No Índico Norte as frotas de pesca da Galiza e do País Basco recolhem principalmente o grosso do atum que colocam a Espanha no 2º lugar mundial e no 1º da União Europeia nas capturas dessa espécie!

2 – O Lobito é um porto bem conhecido dos pesqueiros espanhóis: já no tempo colonial, enquanto a frota de pesca do Almirante Henrique Tenreiro se deslocava para a Greonlândia em busca do bacalhau e a nível local se incrementavam interesses nas pescas que começavam a colidir com os interesses “da metrópole”, as frotas de Vigo e de Huelva percorriam os mares de Angola à procura, entre outras espécies, da “pescada de Vigo”!

Desde então para cá que os modernos pesqueiros espanhóis circulam também nas rotas da corrente fria de Benguela, das mais ricas em pescado do mundo e, se na África do Sul, na Namíbia e em Angola há alguma fiscalização efectiva nas águas territoriais, ao contrário do que acontece na Somália, o mesmo não se poderá dizer na profundidade das 200 milhas.

Isso quer dizer que muitos navios das mais variadas proveniências, inclusive a espanhola, na ausência de suficiente poder naval e de fiscalização dos estados africanos, assumem quotas de pesca que tendem a fugir ao controlo dos interesses locais, com um resultado que redunda em claro prejuízo para África, no que se pode considerar de uma autêntica pirataria subtilmente escondida, organizada e impune que dura em alguns casos de há várias décadas!

Evoca-se com todos os alarmes dos media a pirataria africana para esconder a outra pirataria proveniente de outros continentes a que muito poucos ousam fazer referência!
O rótulo de “combate à pirataria” serve pois às mil-maravilhas e esconde todo o tipo de actividades das frotas de pesca e de outras, entre elas o depósito criminoso de resíduos tóxicos.

No seu conjunto a pesca industrial da potências põe em causa uma das maiores riquezas em relação às quais África tem direitos inalienáveis mas um limitado acesso, no momento em que pelo menos alguns, como Angola, promovem ingentes esforços de combate à pobreza e à fome!

Quando evoco as implicações caóticas da globalização neo liberal ao sabor das corporações e do poder exercido no âmbito da hegemonia, urge entre as muitas questões que se identificam em prejuízo de África, avaliar o impacto em múltiplos sectores de actividade dessas políticas que também se espelham no estado irracional do controlo e da fiscalização sobre as pescas ao redor de África em resultado da fragilidade naval dos estados e interesses legítimos africanos!

3 – Como corolário desta minha intervenção “entre o Relâmpago e o Rayo” que contraria muitos dos argumentos a que recorrem aqueles que alinham na hegemonia “ocidental”, ilustro com a seguinte pérola sobre o uso do “BAM” Rayo no decurso da Missão Atalanta ao largo das costas da Somália, precisamente uma das costas africanas onde menos se faz sentir a capacidade africana de exercício de soberania, controlo e fiscalização:

“Piratería Marítima

El BAM Rayo aborda una embarcación sospechosa en la operación Atalanta.

El esquife sospechoso, con seis hombres a bordo, fue detectado por el pesquero español Txoro Toki mientras faenaba en la cuenca de Somalia. Los hechos se produjeron días atrás; el pesquero español Txoro Toki que se encontraba faenando en la cuenca de Somalia, avistó un esquife a la deriva con 6 hombres a bordo a 4 millas de su posición (a unas 240 millas al sur este de HOBYO).

Siguiendo el protocolo establecido para estos casos, el pesquero no se aproximó y comunicó los hechos al Centro de operaciones y vigilancia de acción marítima de la Armada (COVAM), desde donde se iniciaron los avisos en los medios habituales para la comunicación de estos acontecimientos.

El Buque de Acción Marítima (BAM) Rayo, desplegado en la operación Atalanta y que en el momento del avistamiento se encontraba a 150 millas, fue designado por el Mando de la Operación para investigar.

A las 22 h el Rayo llegó a las inmediaciones del esquife sospechoso e inició un seguimiento encubierto, iniciando el abordaje por medio de su trozo de visita y registro unas horas más tarde.

Tras el abordaje e inspección no se encontraron evidencias relacionadas con la piratería aunque tampoco ningún arte de pesca, si bien el esquife estaba equipado con dos potentes motores fuera borda (averiados) y los tripulantes llevaban un equipo GPS y varios teléfonos móviles sin tarjetas.

A 250 millas al Este de Mogadiscio y debido al mal estado de la mar, de la falta de víveres e de la inoperatividad de los motores, el comandante del Rayo ordenó embarcar a los seis tripulantes a bordo, siendo identificados y pasando reconocimiento médico.

En la mañana del día 9 de mayo, siguiendo instrucciones del Mando de la Task Force 465, de la que depende el BAM Rayo, han sido desembarcados en una playa segura ubicada en las inmediaciones del campamento Red Baron en Somalia”…

Nota:
A consultar ainda:
- Rapidinhas do Martinho – 26 – Ainda a Somália – http://paginaglobal.blogspot.com/2011/07/rapidinhas-do-martinho-26.html
- Globalização, neoliberalismo e petróleo – Thatcher e as Malvinas –
- Los verdaderos piratas en Somalia: Washington, Paris y Oslo – http://africaneando.org/2011/01/24/hfd1294592558/
- Pirateria en Somalia – Escusa u oportunidad geo política – http://www.rebelion.org/docs/160820.pdf
- THE REAL HUMAN, ECONOMIC, POLITICAL and STRUCTURAL CAUSES BEHIND THE FAMINE IN THE HORN OF AFRICA – http://yajnacentre.blogspot.com/2011/07/root-human-cause-behind-famine-in-horn.html
- No es la sequia, es el imperialism – http://www.rebelion.org/noticia.php?id=134149

Angola: Feitiçaria e diamantes são a razão das mortes de mulheres na Lunda



Coque Mukuta – Voz da América

Garimpeiros acreditam que orgãos genitais femininos lhes trarão diamantes

Feitiçaria e diamantes são as razões dos assassinatos e mutilações genitais de mulheres na Lunda Norte, disse à Voz da America Dom José Manuel Imbamba-Bispo da Arquidiocese de Saurimo

O bispo disse que  mais de 35 mulheres já foram mortas por razões de feitiçaria naquela zona e que ele próprio já  havia denunciado o facto há mais de três anos.

“As práticas estão ligadas aos garimpeiros que segundo se diz extraiem esses órgãos genitais para poderem no acto do garimpo encontrarem diamantes,” disse o bispo.

“Em vez de se politizar este facto o melhor seria andar ao encalço dos criminosos,” disse.

“Já vão 36 mulheres mortas nesse sentido,” acrescentou.

Dom José Manuel Imbamba disse que população “conhece” alguns dos responsáveis.

Para ele é uma questão da policia “ trabalhar com a população para os indivíduos que alimentam essas crendices sejam presos e os factos esclarecidos”.

“As mortes estão a suceder-se ano após ano pelo que há um trabalho sério que tem que ser feito,” disse o Bispo

“Há indivíduos que segundo as suas crenças tendo esses órgãos pode-se fazer um trabalho para obter facilmente os diamantes,” acrescentou.

A Voz da América sabe que um cidadão de nome José Kauele foi condenado pelo Tribunal local a 22 anos de prisão efectiva em 2010, alegadamente, por ter sido encontrado em flagrante com órgãos genitais feminino.

Na altura, José Kauele, havia acusado o empresário Carlos Joy Fernando Paixão, mais conhecido por “Joy”, de ter lhe orientado a execução física para compra dos referidos órgãos.

A nossa reportagem ouviu o empresário Carlos Joy Fernando Paixão, que diz conhecer José Kauele, mais nega ter sido o mandante e por isso não terá sido condenado pelo mesmo tribunal após 22 dias detido.

Na foto: Saurimo, arcebispo José Manuel Imbamba

Angola: UNITA QUER ESCLARECIMENTOS SOBRE AS MORTES NO CAFUNFO




A UNITA diz-se preocupada com o clima de violência  reinante na região diamantífera de Cafunfo e Kuango bem como  com     o não esclarecimento de assassinatos  de mulheres camponesas.

O secretário geral da UNITA, Victorino Nhany disse  á Voz da América  não dispor de informações  sobre o envolvimento nos tumultos de militantes do seu partido mas defendeu que as autoridades devem tomar mediadas no sentido do retorno  à tranquilidade  no seio das populações da região.

Entretanto o PRS anunciou em Luanda o envio para o Cuango de uma missão partidária para  se informar da gravidade dos  tumultos do passado fim de semana que resultaram na prisão de mais de 20 militantes incluindo adolescentes, que foram  já libertados.

Na foto: Victorino Nhan

DESTRUIÇÃO, MORTOS E FERIDOS NA GUERRA QUE COMEÇA EM MOÇAMBIQUE




Quatro ataques, dois mortos e cinco feridos esta manhã na EN1, trânsito condicionado no centro de Moçambique

Verdade (mz) - hoje

Dois mortos e cinco feridos é o balanço preliminar de pelo menos quatro ataques de homens armados a um autocarro e a três camiões que transitavam durante a manhã desta sexta-feira (21) na estrada nacional nº 1, entre o rio Save e o distrito de Muxúnguè.

Na sequência deste ataque o trânsito rodoviário está condicionado à escolta militar a partir da ponte sobre o rio Save até Muxúnguè, no centro de Moçambique, e no sentido inverso.

Há informação não confirmada que a ponte sobre o rio Ripembe foi danificada pelos ataques de hoje.

Segundo uma testemunha no local dezenas de viaturas ligeiras e camiões aglomeram-se nas proximidades da ponte sobre o rio Save com receio de prosseguir viagem.

Ataques

O primeiro ataque que conseguimos confirmar aconteceu pouco depois das 6 horas na ponte sobre o rio Ripembe, no distrito de Machanga, e atingiu um autocarro de passageiros, da empresa privada Etrago, que fazia o trajecto Maputo para Quelimane. O autocarro foi atingido por três tiros, segundo o Administrador do distrito de Chibabava, em declarações ao nosso jornalista, e só a perícia do motorista garantiu a continuidade da viagem quando os homens armados abriram fogo.

No mesmo local um camião da empresa privada TCO foi atacado tendo-se despistado em direcção a mata onde pegou fogo. Duas pessoas foram baleadas mortalmente, uma delas, o motorista, ficou mesmo carbonizado, e um outra ficou ferida.

Há indicação de terem ocorrido outros dois ataques a camiões, esta manhã no troço entre o Save e o Muxúnguè, onde terão ficado feridos pelo menos mais três cidadãos moçambicanos.

Até este momento, não houve nenhuma reacção oficial das autoridades governamentais sobre estes acontecimentos.

O Presidente da República e Comandante em Chefe das Forças Armadas de Defesa e Segurança, Armando Guebuza, continua na província nortenha do Niassa em presidência aberta.

Porta-voz da Renamo detido

Nas primeiras horas desta sexta-feira o brigadeiro Jerónimo Malagueta, chefe do Departamento de Informação da Renamo, o maior partido da oposição em Moçambique, foi detido em circunstâncias ainda não esclarecidas. Rahil Khan, Coordenador político da Renamo na região sul, classificou a detenção de "rapto político" pois não há indicação sobre que autoridades procederam a detenção nem se havia mandato de captura.

Khan acrescentou que esta detenção "vem prejudicar todo o processo das negociações em curso".

Jerónimo Malagueta foi o porta-voz da declaração de "guerra" nesta quarta-feira (19) quando anunciou que as forças armadas do seu partido iriam impedir o trânsito rodoviário nesta Estrada que liga o Sul ao Centro e ao Norte do país, no troço entre o Save e Muxúnguè, como forma de impedir os movimentos de militares governamentais em direcção à Satungira, onde o seu líder, Afonso Dhlakama, reside desde os finais do ano passado.

“As forças da Renamo vão-se posicionar para impedir a circulação de viaturas transportando pessoas e bens, porque o Governo usa essas viaturas para transportar armamento e militares à paisana, para se concentrarem nas proximidades de Satungira para o ataque ao presidente da Renamo”, disse na altura Jerónimo Malagueta.

Sobre os ataques desta manhã Rahil Khan não confirmou ter sido perpetrado por homens da Renamo contudo afirmou que "a Renamo informou que a via seria interdita".

Khan acrescentou que o seu partido continua disponível para prosseguir as negociações com o Governo de Moçambique já na próxima segunda-feira (24).

O porta voz da Polícia da República de Moçambique (PRM), Pedro Cossa, confirmou que a corporação deteve o Jerónimo Malagueta à saída da sua residência em Maputo devido à declaração de "guerra" desta semana. Segundo Cossa o brigadeiro da Renamo está detido numa das Unidades prisionais da capital moçambicana.

Falando no final da manhã, em conferência de imprensa, Pedro Cossa afirmou que os ataques foram protagonizados por homens armados da Renamo e confirmou a morte de dois cidadãos moçambicanos, um camionista e o seu ajudante, e cinco feridos na sequência dos ataques a dois camiões e um autocarro de passageiros.


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*Título PG

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